Evangelho por Emmanuel, O – Comentários aos Atos dos Apóstolos

Versão para cópia
Capítulo CXXXVI

Viagem para Roma - Passagem por Siracusa

11 Três meses depois, embarcamos em um navio alexandrino, com a insígnia Dióscuros, que invernara na ilha. 12 Aportando em Siracusa, permanecemos [ali] três dias; 13 donde, lançando [as âncoras], chegamos a Régio. Depois de um dia, surgiu o vento sul; no segundo dia, chegamos a Putéoli, 14 onde encontramos irmãos que nos rogaram permanecer com eles durante sete dias; e foi assim que nos dirigimos a Roma. — (At 28:11)


[…] O navio demandou a costa italiana debaixo de ventos favoráveis.

Chegados a Siracusa, na Sicília, amparado pelo generoso centurião, agora devotado amigo, Paulo de Tarso aproveitou os três dias de permanência na cidade, em pregações do Reino de Deus, atraindo numerosas criaturas ao Evangelho.

Em seguida, a embarcação penetrou o estreito, tocou em Régio, aproando daí a Pouzzoles (Putéoli), não longe de Vesúvio.


Antes do desembarque, o centurião aproximou-se do Apóstolo, respeitosamente, e falou:

— Meu amigo, até agora estiveste sob o amparo da minha amizade pessoal, direta; daqui por diante, porém, temos de viajar sob os olhares indagadores de quantos habitam nas proximidades da metrópole e há que considerar vossa condição de prisioneiro…

Notando-lhe o natural constrangimento, mescla de humildade e respeito, Paulo exclamou:

— Ora esta, Júlio, não te incomodes! Sei que tens necessidade de algemar-me os pulsos para a exata execução de teus deveres. Apressa-te a faze-lo, pois não me seria lícito comprometer uma afeição tão pura, qual a nossa.

O chefe da coorte tinha os olhos molhados, mas, retirando as algemas da pequena bolsa, acentuou:

— Disputo a alegria de ficar convosco. Quisera ser, como vós, um prisioneiro do Cristo!…


Paulo estendeu a mão, extremamente comovido, permanecendo ligado ao centurião, sob o olhar carinhoso dos três companheiros.

Júlio determinou que os prisioneiros comuns fossem instalados em prisões gradeadas e que Paulo, Timóteo, Aristarco e Lucas ficassem em sua companhia, numa pensão modesta. Em face da humildade do Apóstolo e de seus colaboradores, o chefe da coorte parecia mais generoso e fraternal. Desejoso de agradar ao velho discípulo de Jesus, mandou sindicar, imediatamente, se em Pouzzoles havia cristãos e, em caso afirmativo, que fossem à sua presença, para conhecerem os trabalhadores da semeadura santa. O soldado incumbido da missão, daí a poucas horas, trazia consigo um generoso velhinho de nome Sexto Flácus, cuja fisionomia transbordava a mais viva alegria. Logo à entrada, aproximou-se do velho Apóstolo e osculou-lhe as mãos, regou-as de lágrimas, em transportes de espontâneo carinho. Estabeleceu-se, imediatamente, consoladora palestra de que Paulo de Tarso participava comovido. Flácus informou que a cidade tinha há muito a sua igreja; que o Evangelho ganhava terreno nos corações; que as cartas do ex-rabino eram tema de meditação e estudo em todos os lares cristãos, que reconheciam em suas atividades a missão de um mensageiro do Messias salvador. Tomando a velha bolsa arrancou, ali mesmo, a cópia da epístola aos romanos, guardada pelos confrades de Pouzzoles com especial carinho.


Paulo tudo ouvia gratamente impressionado, parecendo-lhe que chegava a um mundo novo.

Júlio, por sua vez, não cabia em si de contente. E, dando largas ao seu entusiasmo natural, Sexto Flácus expediu recados aos companheiros. Aos poucos, a modesta estalagem enchia-se de caras novas. Eram padeiros, negociantes e artífices que vinham, ansiosos, apertar a mão do amigo da gentilidade. Todos queriam beber os conceitos do Apóstolo, vê-lo de perto, beijar-lhe as mãos. Paulo e companheiros foram convidados a falar na igreja aquela mesma noite e, cientes de que o centurião pretendia partir para Roma no dia imediato, os sinceros discípulos do Evangelho, em Pouzzoles, rogaram a Júlio permitisse a demora de Paulo entre eles, ao menos por sete dias, ao que o chefe da coorte atendeu de bom grado.

A comunidade viveu horas de júbilo imenso. Sexto Flácus e os companheiros expediram dois emissários a Roma, para que os amigos da cidade imperial tivessem conhecimento da vinda do Apóstolo dos gentios. E, cantando louvores no coração, os crentes passaram dias de ilimitada ventura.


Decorrida a semana de trabalhos frutuosos, felizes, o centurião fez ver a necessidade de partir.

A distância a vencer excedia de duzentos quilômetros, com sete dias de marcha consecutiva e fatigante. […]




(Paulo e Estêvão, FEB Editora., pp. 447 e 448. Indicadores 16 a 20)



Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

Este texto está incorreto?

Veja mais em...

Atos 28:11

E três meses depois partimos num navio de Alexandria que invernara na ilha, o qual tinha por insígnia Castor e Pólux.

at 28:11
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa