Palavras Sublimes
Versão para cópiaA Terra é o santuário do Senhor
Meus amigos, muita paz.
Inútil dramatizar a situação angustiosa do mundo. A retórica não expressaria o necessário. Exprimem-nos o quadro aflitivo as próprias lutas que vos caracterizam a época de transição apressada.
Durante séculos, o Plano Superior aguardou a deliberação do homem nos setores da edificação espiritual. Missionários e arautos de todos os matizes se fizeram sentir em todos os climas, entretanto, a ambição insaciável e a vaidade escura, aliadas ao orgulho e à discórdia, abafaram-lhes os apelos. O sacerdócio, disputando o principado terrestre, não conseguiu preservar os valores do templo, e vemos que a ignorância e a ociosidade atrasaram o relógio do planeta. Hoje, porém, novo movimento transformador abala os alicerces da civilização. É o pensamento do Cristo, através de servidores decididos, que se devotam à luta edificante, inspirados em novo programa de serviço.
Não consagramos o princípio revolucionário elegendo-o por diretriz absoluta, a não ser aprovando a renovação interior, base de toda a edificação legítima em matéria de felicidade humana. Não contamos, pois, com a turba indisciplinada ou indiferente, senão por oficina benemérita de serviço, em que nos compete expressar a capacidade de realização cristianizante de que somos portadores. Buscamos despertar companheiros para que se convertam em núcleos positivos de ação restauradora, de modo a estendermos além as atividades de salvação substancial. Necessário, pois, não nos percamos numa atitude cristalizante de adoração excessiva, a fim de não nos ausentarmos da gloriosa oportunidade atual de cooperação com Jesus.
Em tempo algum da Terra, talvez, houve tão imenso afluxo de bênçãos em favor da regeneração do homem pelas portas benditas que o trabalho do Senhor nos descerra em todas as direções. Mas também forçoso é reconhecer que, em outras eras, o perigo de eclipse total da razão e as ameaças de queda não foram tão iminentes. O serviço desdobra-se infinito, desafiando-nos, não somente a nossa capacidade de crer e confiar, mas, acima de tudo, as nossas possibilidades de agir, ajudar e fazer. Guardamo-nos no sacrário da fé inoperante, sem qualquer decisão de contribuir seriamente na ordem de ação com que somos agora defrontados. Seria quase um crime se não constituísse semelhante atitude deplorável paralisia da alma.
Oremos, assim, trabalhando e amando: trabalhando na direção do bem de todos, com a renúncia pessoal, porque agir sensatamente demanda ascensão e luz, melhoria e poder; amando, segundo os padrões do Mestre divino, atentos ao sacrifício educativo de nós mesmos, compreendendo que o mundo está repleto de egoísmo e de ódio, que representam fórmulas lastimáveis de amor desequilibrado e contraproducente. A hora, em vista disso, é decisiva, porque ou afeiçoaremos o magnetismo de nossa vontade aos desígnios divinos, transformando-nos, voluntariamente, em satélites do Cristo, ou gravitaremos em derredor dos gênios da sombra, com a perda de vários séculos do porvir, senão de milênios incontáveis. Apelamos, na atualidade, em razão disso, para todos os irmãos que se ligaram conosco, para que a obra do Mestre de Nazaré se aperfeiçoe nos corações e nas consciências. Estimulemos a sementeira do bem, nas leiras de todos os campos, e facilitemos a retirada do pensamento renovador em Jesus dos templos de pedra para que o Evangelho atue na administração e na orientação, na vida pública e na particular, nos problemas do corpo e do Espírito, nos ângulos do homem e da natureza, atentos à sublime verdade de que .
Reunidos, dessa forma, em torno do ideal consolador do Espiritismo cristão, estabeleçamos compromissos de trabalho na Terra, antes de endereçar olhos suplicantes ao Céu, convictos de que o nosso mundo será igualmente mundo feliz pela nossa própria felicidade em conservá-lo, embelezá-lo, redimi-lo e santificá-lo. Os apóstolos divinos permanecem a postos, entretanto, não poderão influenciar no campo da matéria que vos diz respeito, sem vossos braços.
Não acreditemos em paz ambiencial sem paz dentro de nós mesmos! Não admitamos direitos sem deveres, liberdade sem responsabilidade! Não aceitemos bem-estar que se não multiplique ao redor de nossos passos, compreendendo a impropriedade de qualquer exigência em favor da reforma do vizinho, se não nos reformarmos para irradiar o bem que nós mesmos buscamos! Não prestemos crédito ao repouso falso que busca tranquilidade à distância do trabalho intensivo, orientado na felicidade comum, porque, à presente altura de nossos conhecimentos evangélicos, é impossível estejamos à espera de afastamento das cruzes benéficas com que seguimos ao encontro do Senhor quando devemos saber que a cruz é uma honra para aqueles que já não devem, nem mais podem, improvisar madeiros de tormento aos próprios irmãos de círculo evolutivo.
Não temos, portanto, meus amigos, outros votos, por agora, senão os de nos reunirmos cada vez mais intensamente em torno do Cristo, buscando-lhe a inspiração amorosa e sábia para as lides da Terra, nos vários setores em que nos situamos. E esperando que o Evangelho permaneça dentro de nós, vivo e atuante, para que nos convertamos em apelos sinceros e santificantes ao mundo, sou o vosso amigo e servo humilde,
Pedro Leopoldo, 31.10.48.
Reformador — Dezembro de 1948.
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