Poetas Redivivos

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Capítulo CXV

Novo conto de Natal


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Natal! À beira da estrada,

Na touceira de capim,

Maria Joana, cansada,

Treme, chora e chega ao fim.


Tem sede com febre alta,

Dói-lhe o peito exposto ao vento

Oitenta anos já somaram

Seus dias de sofrimento.


Os grupos passam cantando,

Do mais rico ao mais plebeu:

— “Glória ao Senhor nas Alturas!

Hosanas!… Jesus nasceu!…”


Ninguém para, a fim de vê-la,

Todos anseiam chegar,

Quanto mais cedo possível,

À mesa do próprio lar!…


A pobrezinha relembra

A época da saúde,

As alegrias do campo,

Os sonhos da juventude…


Viúva na mocidade,

Vivera escrava ao dever!…

Onde os filhos que tivera?

Quem poderia saber?…


A quantos patrões servira,

De atenção cativa e alerta?

A quanta gente ajudara?

Só Deus tinha a conta certa…


Recorda o arado, a peneira,

As plantações da fazenda,

O milho para o paiol,

A cana para a moenda…


Crianças a tiracolo,

Serviço de casa cheia,

Cozinha laboriosa,

Previsão da fome alheia!…


A roupa suja no rio,

A enxada que não descansa!…

Trabalho!… apenas trabalho

O que lhe vai na lembrança!…


Agora que mais precisa

Colher na leira do bem,

Ninguém lhe estende um lençol,

Não aparece ninguém!…


A pobre desamparada

Às vascas da provação,

Morre, sozinha e humilhada,

Sem lume, sem lar, sem pão…


Nisso, um jovem surge à vista,

Qual um filho que a buscasse,

Afaga-lhe a fronte humilde,

Acaricia-lhe a face.


Joana vê-se melhorada,

Está contente, mais forte,

A fala volta de novo,

Não mais reflete na morte.


— Maria Joana! — esclarece

O moço atraente e amigo

Venho buscar-te e saber

Se queres servir comigo!…


Ela responde: — Ah! meu filho,

Já não sei como viver,

Estou velha, desprezada,

Que posso agora fazer?…


Ele pondera: — Serás

Na minha estrada, que é tua,

Mãe das crianças jogadas

Aos sofrimentos da rua.


Serás a irmã dos que choram,

Nas pedras da trilha escura,

Aos sopros do desengano,

Aos golpes da desventura!…


Serás tutora bendita

Dos pobrezinhos ao léu,

Obreira da caridade,

Na Terra como no Céu!…


“Quem és?” — ela indaga aflita,

Ao ver-lhe o manto de luz!

Ele diz: — Não me conheces?

Sou teu amigo: Jesus!


Joana agarra-se-lhe aos braços,

Peito opresso, olhos no Além.

Ele se inclina, bondoso,

E abraça Joana também.


O leito andrajoso e triste,

De tanta luz que irradia,

Lembra a furna de Belém

E a palha da estrebaria!…


Os dois partem sempre juntos

Para as estrelas serenas,

Num carro todo enfeitado

De rosas e de açucenas!…


Milhões de vozes no Espaço

— Regozijos no apogeu

Proclamam de canto a canto:

— “Hosanas!… Jesus nasceu!…”


No outro dia, um caminhante

Procura acordá-la em vão,

Joana morta parecia

Dormir tranquila no chão…


O corpo frio, mostrando

A paz que o verbo não diz,

Era um retrato de Joana

Sorrindo calma e feliz!…




Francisca Clotilde
Francisco Cândido Xavier


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