Ponto de Encontro [Geem]

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Capítulo IX

Lição na vida


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Nos estudos do Evangelho,

Estava Joaquim Sarmento,

Que falava à grande turma

Em torno ao desprendimento.


— “Dinheiro — dizia ele —

É a causa de muitas provas,

Somos almas devedoras

E quando o dinheiro é muito,

Fazemos dívidas novas.


“Estamos em paz, às vezes,

Contentes na obrigação,

Mas se há moeda de sobra,

Lá vem atrapalhação…


“Conservemos nossas almas

Humildes e desprendidas,

A fortuna é mais trabalho

E um perigo em nossas vidas.”


Nisso, um telefone toca…

Chamado para Joaquim.

Ele fala, gesticula,

E depois do entendimento

Regressa para a cadeira

Em que se senta por fim…


Encerrada a reunião,

Anuncia, calmamente,

A morte do avô materno,

Antônio Joaquim Sarmento.


Mas Joaquim estava outro,

Tinha a cabeça aprumada,

Parecia até mais moço,

Iria para o velório,

Sorrindo e falando grosso.


Explicou aos companheiros:

— “A notícia está no rádio

Contou-me antigo vizinho,

Agora, sim, vejo claro

A mudança em meu caminho…


“De lutas, ando cansado,

A vida não é moleza,

Adeus; oficina velha!…

Renasci!… Adeus, pobreza!…”


“Meu avô deixa-me, inteira,

A Fazenda dos Pilões

E depósitos bancários

No valor de cem milhões!


“Após o sétimo dia

De enterro do falecido,

Quero comprar a mansão

Do Coronel João Garrido…


“Tenho vizinhos gatunos,

Muita gente de má fé;

Não merecem tolerância,

Mas desprezo e pontapé…


“Tenho um tio detestável,

Inimigo de meu lar,

Agora, com meu dinheiro

Saberá me respeitar;


“Os colegas que me tratam

A coices e palavrões,

Agora, vão conhecer

Minha terra de Pilões…


“Repreensões em trabalho,

Não mais quero nada disso,

Não mais aceito conselhos

Dos meus chefes de serviço…


“Quero várias governantas,

Tomarei um jardineiro,

Terei minha indústria própria,

Ganharei muito dinheiro…”


E disse, num gesto largo:

— “Por qualquer um não me tomem!…

O homem faz o dinheiro,

O dinheiro faz o homem!…”


O grupo ficou pasmado

Com a mudança do orador

Que, antes, pregara a bondade,

Vida simples, paz e amor…


Joaquim, muito envergonhado,

Voltou na noite seguinte;

A morte do rico avô

Não passara de boato.


Falecera outro Sarmento,

De outro bairro e de outra gente

Homem rico e respeitado

Que tombara de repente.


Naquela assembleia amiga,

Dada ao respeito comum,

Ninguém lhe pediu notícias

Nem fez comentário algum.


Quando o Guia veio às falas

Ao fim da reunião,

Joaquim perguntou a ele:

— “Que desengano o que eu tive…

Que prova foi essa, irmão?”


Mas o Guia esclareceu:

— “Joaquim, eleva ao Senhor

A luz do seu pensamento,

Há muita vida esperando

O rico vovô Sarmento.


“Na sua prosa de ontem,

Notamos o seu progresso,

A sua contradição

Foi um primor de insucesso!


“Enquanto você pensar

Na importância do dinheiro,

Seja em papel ou metal,

Por instrumento de dor

Ou por agente do mal,


“Qual se você fosse louco,

Do dinheiro necessário,

Você terá muito pouco…”




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier


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