Revelação

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Capítulo VI

Carnaval


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Procurando distração,

Fui, contente, ao carnaval!

Muito ouvia em torno dele

E quis vê-lo ao natural.


Apelei para João Panca,

Um prestimoso vizinho,

Que não me deixasse a sós,

Não queria estar sozinho.


João concordou comigo,

Era sempre o companheiro…

E lá nós fomos, os dois,

Ao passeio, dia inteiro.


João falava na caridade,

Mas a festa estava à espera;

Era preciso seguir,

Beneficência “já era”.


Já que falava em virtude

Chamei-o a ver Dona Bela,

Que nos atirou um vaso,

Pingando água amarela.


Conquanto desapontado,

Visitamos Dona Aninha,

Que nos jogou sobre o peito,

Duas “joias” de galinha.


João mostrava-se amargurado,

E como alguém que se poupa,

Regressou à própria casa,

A fim de trocar de roupa.


Encontrei um grande praça,

Léo, filho de Dona Esther;

Ele pediu-me, alterado,

Uma saia de mulher.


Todo amigo dava gritos,

Nessa festa sem sentido,

Afirmava Dona Clara,

Ter a calça do marido.


Vi flautas e violões,

Passando, em busca ao sem-fim,

Muita gente me chamava,

Ao lado dos tamborins.


Um homem que carregava,

Dois chocalhos, uma vara,

Não sei se foi por querer,

Esmurrou-me a própria cara.


Carnaval representava,

A festa do meu País,

Por isso segui em frente,

Tão forte quanto feliz.


Era justo conhecer

Uma festa semelhante,

Por isso aceitei sem mágoa,

A agressão extravagante.


Fui buscar, querendo um grupo,

O amigo Simão Veloz,

Ele queria cantar,

Mas “rugia” junto a nós.


Meus amigos sempre muitos,

Pareciam-me doentes,

No entanto, não quis deixá-los,

Ao vê-los irreverentes.


Venci diversos empeços

E fui ao Tino da Chalaça,

Ele, porém, nem me viu,

Estirado na cachaça.


O povo todo dançava,

E eu olhava sem remoque,

Achava muito esquisita,

A orquestra chamada Roque.


Um homem sério abriu alas,

Era o melhor dos Nicolas,

Lembrava antigo palhaço,

Exibindo Cabriolas.


Perguntei a um guarda amigo,

Que a ninguém queria mal,

Só desejava saber,

Se estava no carnaval.


Ele disse:

Olhe as crianças,

Todas dançam recordando

Nossas futuras mudanças.


Vi um par, a longos beijos,

Na sombra de velho muro,

Como a dizer que o amor,

Só se revela no escuro.


Disse o amigo:

— Se o senhor quer demorar-se,

Procurando amigos maus,

Dê-me logo oitenta paus.


Dentre os quadros que anotei,

Vi o mestre Manassés,

Que dançava e requebrava,

Da cabeça até os pés.


Um conflito sucedeu,

Vendo a filha de Nereu

Nos braços de outra pessoa,

Genuíno enlouqueceu.


Achei-me desencantado.

Eu que entrara reverente.

A fim de largar o grupo

Precisava ser valente.


Retornei a nossa casa

Meditando, por sinal,

Se o carnaval que assistira,

Que seria? bem ou mal?


Pensei em meu pai distante,

Minha mãe falou: — Na vida,

O carnaval é loucura,

Doença desconhecida.




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier


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