Somente Amor
Versão para cópiaO socorro imprevisto
Vendo a amizade estreita Da filha que ele amava, ardentemente, Com a jovem artista, Comediante e equilibrista, Sempre atirada sob a espreita Da crítica feroz de muita gente, O pai chamou-a e disse em palavras severas: — “Filha, não tens ainda vinte primaveras Estudas num colégio austero e nobre, Dize: qual a razão Que te leva a escolher a companhia Dessa jovem mulher, Reles mulher sem consideração?” E, ante a muda surpresa da menina, O pai continuou na censura ferina: — “Proíbo-te qualquer intimidade Com essa moça envilecida, Que procura arruinar a própria vida, E que na condição de atriz, quer no palco ou na rua, Anda de trama em trama, Sempre despudorada e seminua Numa trilha de lama…” “Mas, meu pai,” — disse a filha humildemente, “Ela trabalha assim, Para tratar do pai cego e doente…” — “Minha ordem é o fim” — Grita o progenitor, derramando azedume, “Essa atriz para mim É uma pessoa deprimente, Que só por si resume Calamidade, astúcia, meretrício. Não mais te quero ver, onde estiver Essa infeliz mulher, Hoje dama do vício”. A menina chorou e obedeceu. Não mais buscou a antiga companheira E fez mais do que isso, Negou-se a recebê-la quando procurada, Alegando trabalho e compromisso. Mas os dias na Terra vêm e vão… Numa clara manhã de tórrido verão A família fidalga está na praia, Pai, mãe e filha, em meio dos banhistas… A multidão descansa, olhando o mar, Toda gente partilha o mesmo ar, Os filhos da cidade e os grupos dos turistas. O mar naquele dia Estava diferente… Parecia Um gigante que se alteia Para depois cair aos estrondos na areia… Eis que, em certo momento, uma onda mais alta Chega de escantilhão E arrasta para longe a menina fidalga Que desce às profundezas de roldão. A pobre vem à tona E grita por socorro, Aprestam-se a salvá-la os guardas de vigia; Há confusão, desordem, gritaria… No entanto, de um grupinho, à parte dos demais, Certa jovem que estava em gargalhadas, Avança, mar adentro, em valentes braçadas, Mergulha, em certo ponto, e num momento, Volta trazendo a jovem desmaiada. Mas ao depô-la salva, em terreno seguro, Um vagalhão enorme, um monstro escuro Arranca a salvadora para trás, A moça não resiste ao assalto voraz E, a debater-se, em vão, é atirada à distância e vai ao fundo… Esforça-se debalde… Está presa entre plantas, Que procura vencer, contudo elas são tantas!… Na luta que mantém, de segundo a segundo, Perde as forças… Por fim, se desanima, Não consegue voltar ao ar leve de cima… Em torno, a multidão, grita por ela, Agitam-se homens-rã, correm os nadadores, Depois de esforços desesperadores, A moça vem à tona… Posta num barco à vela A menina está morta e, em breve, junto dela, Une-se toda gente, a lastimar-lhe o fim… Aflito, chega o pai da jovem salva, Põe-se a rogar: “Acordem a heroína Essa moça merece a Proteção Divina, Ela salvou-me a filha, A filha que é meu sonho e a luz que me conforta, Quero entregar-lhe um prêmio e senti-la feliz…” Mas fitando no barco a pobre moça morta, Retrocedeu chorando… Era a famosa atriz. |
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