Quando Voltar a Primavera

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CAPÍTULO 9

A IGREJA DA VERDADE

Aquele momento, já não há razões para dúvidas ou incertezas.

A Natureza fez-se esplêndida pauta musical onde se gravam as notas sublimes do seu Messianato.

Cada palavra é um acorde feito em luz.

Todo gesto, um alegríssimo de paz.

As onomatopeias da paisagem sucedem-se e logo se misturam às profundas mensagens do Seu amor.

Os amigos já O viram desatar homens das amarras que inibem, imobilizam ou dificultam o acesso à luta, ao bem operante.

Ao contato da Sua presença ímpar, modificam-se as situações, alteram-se os contornos dos problemas, diminuem os complicados óbices, quando colocados à frente. Ninguém O perturba ou confunde.

Uma expressão do Seu olhar, um movimento da Sua face e os astuciosos se revelam, rendidos.

Qualquer ardil se faz de fácil transposição. As ciladas não O alcançam.

A Sua sombra, em caindo sobre alguém enfermo, restitui-lhe a saúde, e através das Suas roupas se distendem as mercês.

Não O contraditam nem O atemorizam.

Suave, dulcifica a alma, ameniza a aspereza dos fatores externos violentos, e acalma os tumultos interiores persistentes.

Vigoroso, invectiva contra o erro, arrosta as consequências das atitudes, verbera contra o crime e a simonia diante dos acumpliciados com a usurpação e a hedionda hipocrisia.

São aqueles os dias da esperança, das festas da alma.

Refertam-se os Espíritos humildes com as fortunas do bem.

Os amigos já O conhecem, pelo menos dispõem de todo os dados para O identificarem.

Eram, porém, homens algo confusos, subitamente arrancados das pequenezas materiais para as excelsitudes do espírito.

Içados, de súbito, das covas sombrias e sem perspectivas para os altiplanos de perene claridade, sentiam-se aturdidos.

Amavam a luz e temiam-na.

Comiam o pão da verdade, mas o não digeriam.

Sorviam a linfa do conforto libertador e não se contentavam, fugindo para as torpes querelas, as mesquinhas disputas, os debates infantis.

O tempo, todavia, fortalecia-os, a pouco e pouco, para os cometimentos, e aqueles temores infundados se transformavam em força invencível, em estoicismos arrebatadores de fé.


* * *

Possuindo todas as seguras informações, careciam da revelação que Ele deveria dispensar-lhes.

Começariam as dores, as antífonas da amargura e os prólogos da ventura superior.


* * *

A manhã esplendente de sol é moldura para a intervenção do Alto, e o ar balsâmico do dia, o hálito da vida em música de fundo.

— Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? —, inquire Jesus aos discípulos, num transporte sublime.

Não mais haverá silêncios a partir daquela hora, abafando as vozes do amanhecer para a vida nova.

— Uns, que tu és João Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. — Redarguem em uníssono, na mesma voz.

É uma eloquência coral, harmônica, sincronizada.

Sim, eles criam na reencarnação e aguardavam, em febre de expectativa, que retornasse algum dos mortos queridos, a fim de este atestar a chegada do Rei.

Os embaixadores, no entanto, passaram, apresentaram-se e foram recusados.

Elias ali estava renascido em João, com as credenciais do reino, e, sem embargo, não o queriam compreender.

Fazia-se indispensável, portanto, desvelar-se-lhes de uma vez, a fim de que não mais se surpreendessem ante os sucessos futuros.

— E vós, quem dizeis que sou? —, interrogou diretamente a Simão.

A dúlcida voz embala.

A pergunta frontal, sem rebuços, não dá margem a opções nem a disfarces.

— Es o Cristo, Filho de Deus vivo — desata o venerando amigo, penetrado pela luz da verdade.

Há uma orquestração no ar e um súbito acalanto morrendo em planíssimo para que ocorra um profundo "staccato".

Ali está o Rei diante deles, atônitos e deslumbrados.

— Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue, quem te revelou, mas meu Pai, que está nos Céus — arremata Jesus.

Soa o instante em que os segredos cedem lugar às notícias alvissareiras, os mistérios desaparecem ante as claras enunciações, e as bases, os fundamentos da era nova são fixados em definitivo nos corações e nas mentes.

Nasce a Igreja da Revelação Espiritual. Estão autorizados os intercâmbios. Os dois mundos confraternizam em abundância.

Cesareia de Filipe fez-se o santuário para a comunhão com o Mundo Maior.

A cidade opulenta dos homens cede os seus arredores em flor para a convivência com os ministros imponderáveis do Senhor da Terra.

Desvelou-se Jesus aos companheiros, em definitivo.

A grande luz do Alto jorra em abundância, e a plenitude da vida estua.

A alvorada da verdade, no entanto, é também o amanhecer das dores.

No mundo não haverá lugar para ela, por enquanto.

O duelo das ilusões, na disputa do palco da dominação das consciências, recebe a adesão das forças ignóbeis da Treva que pretende permanência.

Afirma-se a chegada do amor, enquanto se juncam de expressões de ódios e dores os corações.

Jesus não esconde as aflições que desabarão sobre os pioneiros da renovação.

Ele próprio não escapará à sanha das tenebrosas artimanhas dos homens pigmeus, que tentarão defrontar o homem Filho de Deus.

Numa antevisão dos padecimentos futuros, adverte aqueles Espíritos em repentino crescimento e lhes informa sobre o pesado tributo de dor e abnegação que Ele deve dar, a fim de romper os turvos compromissos da Humanidade com a mentira e facilitar a sua religação com Deus.

Reporta-se às supremas doações que Lhe serão exigidas, para as quais veio.

Está decidido.

Ninguém se surpreenda.

Os amigos se atemorizam, e Pedro, receoso, em perfeita sintonia com as entidades irresponsáveis que teimam por sitiá-los e fazê-los recuar, chama o Senhor à parte e admoesta-O.

A batalha é sutil e perigosa.

Indispensável enfrentá-la com decisão, sob qualquer que seja o disfarce que se insinue.


Vendo o que ocorre além das zonas físicas que envolvem o discípulo atônito, Jesus profere a severa frase com que expulsa a insinuação e desarticula o programa de perturbações nefastas:

— Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo;

porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.

Não se compadece a verdade em relação à fantasia.

Nenhuma concessão se lhe faz.

Ele veio para o momento culminante, que um dia chega para todos, e de que ninguém consegue eximir-se.

Testificar pelo exemplo o conteúdo da palavra - eis a meta.

A entidade satânica que urde na alma de Pedro a debilidade e apresenta a visão da vida, conforme a tecedura da limitação humana, vai rechaçada.

A delicada mediunidade do Apóstolo que recebeu a inspiração do Céu, há pouco, num instante de invigilância sintoniza com a representação do mal de que se nutrem os Espíritos empedernidos na perversidade.

Pela ponte mediúnica transitam anjos e demônios, conforme a concessão mental e emocional do seu detentor, a cada momento.

Pedro dá-se conta do equívoco, desperta e se eleva outra vez.

Inunda-se de esperanças, liberta-se.

O Mestre, integérrimo, com os olhos postos na glória do sacrifício, exalta a dor por amor e culmina o ensino, definindo, perenemente, os rumos e as balizas do seu messianato.

— Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.

Abrem-se de par em par as portas da Imortalidade, e a Igreja da Revelação Espiritual está construída nas almas.

O "Senhor dos Espíritos" decifra um dos enigmas do mundo além das sombras - a inspiração e projeta claridade nos abismos da sepultura ignorada.

A vida supera a morte; o Espírito triunfa.

E dia de perene amanhecer!

O ar começa a pesar, carreado pelo calor das horas.

A sinfonia atinge os acordes últimos.

O grande final se apaga em sons que se misturam às vozes da paisagem.

Jamais silenciarão.

O concerto melódico invadirá os ouvidos do mundo e das gerações.

Chega o Sol vitorioso.

A luz está no mundo. (Marcos 8:27-34)



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Mateus 16:13

E, chegando Jesus às partes de Cesareia de Filipo, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?

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Mateus 16:14

E eles disseram: Uns João Batista, outros Elias, e outros Jeremias ou um dos profetas.

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Marcos 8:27

E saiu Jesus e os seus discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe; e no caminho perguntou aos seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou?

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Marcos 8:28

E eles responderam: João Batista; e outros, Elias; mas outros, Um dos profetas.

mc 8:28
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Marcos 8:29

E ele lhes disse: Mas vós quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo.

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Marcos 8:30

E admoestou-os, para que a ninguém dissessem aquilo dele.

mc 8:30
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Marcos 8:31

E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do homem padecesse muito, e fosse rejeitado pelos anciãos e príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias ressuscitaria.

mc 8:31
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Marcos 8:32

E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte, e começou a repreendê-lo.

mc 8:32
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Marcos 8:33

Mas ele, virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens.

mc 8:33
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Marcos 8:34

E, chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.

mc 8:34
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Lucas 9:20

E disse-lhes: E vós quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, disse: O Cristo de Deus.

lc 9:20
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Lucas 9:23

E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.

lc 9:23
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Mateus 16:24

Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me;

mt 16:24
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Mateus 16:23

Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.

mt 16:23
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Mateus 16:17

E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.

mt 16:17
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Mateus 16:16

E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.

mt 16:16
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Mateus 16:15

Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou?

mt 16:15
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Mateus 1:14

E Azor gerou a Sadoque; e Sadoque gerou a Aquim; e Aquim gerou a Eliúde;

mt 1:14
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Mateus 1:13

E Zorobabel gerou a Abiúde; e Abiúde gerou a Eliaquim; e Eliaquim gerou a Azor;

mt 1:13
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