Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861

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Capítulo XXXII

Maio - Ensinamentos e dissertações espiritas

Maio


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SRA. DE GIRARDIN

(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, MÉDIUM, SRA. COSTEL)

NOTA: Tendo sido feitas algumas críticas sobre a comunicação ditada numa sessão anterior pela Sra. de Girardin, esta as respondeu espontaneamente. Ela faz alusão às circunstâncias que acompanharam aquela comunicação.

“Venho agradecer ao associado que teve a bondade de apresentar minha defesa e minha reabilitação moral perante vós. Com efeito, em vida eu amava e respeitava as leis do bom gosto, que são as da delicadeza, diria mais, do coração, para o sexo a que eu pertencia. Depois de minha morte, permitiu Deus que eu fosse bastante elevada para praticar com facilidade e simplicidade os deveres da caridade que nos ligam todos, Espíritos e homens. Dada esta explicação, não insistirei sobre a comunicação assinada com meu nome, pois a crítica e a censura não convêm a meu médium nem a mim. Assim, crede que virei quando for evocada, mas que jamais me interporei nos incidentes fúteis. Eu vos falei das crianças. Deixai-me retomar este assunto, que foi a chaga dolorosa de minha vida. A mulher necessita da dupla coroa do amor e da maternidade para preencher o mandato de abnegação que Deus lhe confiou, ao lançá-la na Terra. Ah! Eu jamais conheci essa doce e suave preocupação que na alma imprimem esses frágeis depósitos. Quantas vezes segui com os olhos rasos de lágrimas amargas as crianças que, brincando, vinham roçar meu vestido. Eu sentia a angústia e a humilhação de minha derrota. Eu tremia, esperava, escutava, e minha vida, cheia dos sucessos do mundo, frutos cheios de cinzas, não me deixou senão um gosto amargo e decepcionante.”

DELPHINE DE GIRARDIN

OBSERVAÇÃO: Há neste trecho uma lição que não pode passar despercebida. Fazendo alusão a certas passagens de sua comunicação precedente, que tinha suscitado algumas objeções, disse a Sra. de Girardin que em vida amava e respeitava as leis do bom gosto, que são as da delicadeza, e que conservou esse sentimento depois da morte. Consequentemente, repudia tudo o que, nas comunicações que levam o seu nome, se afaste do bom gosto. Depois da morte, a alma reflete as qualidades e defeitos que tinha na vida corporal, salvo os progressos que possa ter feito no bem, porque pode ter-se melhorado, mas não se mostra nunca inferior ao que era. Na apreciação das comunicações de um Espírito, pois, há muitas vezes nuanças de extrema delicadeza a observar, para distinguir o que realmente é dele do que poderia ser uma substituição. Os Espíritos realmente elevados não se contradizem nunca e se pode sem temor rejeitar tudo quanto desmentisse o seu caráter. Esta apreciação é tanto mais difícil quanto a uma comunicação perfeitamente autêntica pode misturar-se um reflexo, seja do próprio Espírito do médium, que não expressa exatamente o pensamento, seja de um Espírito estranho, que se interpõe, insinuando seu próprio pensamento no do médium. Assim, deve-se considerar como apócrifas as comunicações que, em todos os pontos, e pelo fundo das ideias, desmintam o caráter do Espírito cujo nome levam. Mas seria injusto condenar-lhes o conjunto por causa de algumas manchas parciais devidas à causa que acabamos de assinalar.

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A PINTURA E A MÚSICA

(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS

MÉDIUM, SR. ALFRED DIDIER)

A Arte foi definida cem mil vezes: é o belo, o verdadeiro, o bem. A música, que é um dos ramos da Arte, está inteiramente no domínio da sensação. Entendamo-nos e procuremos não ser obscuro. A sensação se produz no homem quando este compreende a Arte de duas maneiras distintas, mas estreitamente ligadas: A sensação do pensamento, que tem por conclusão a melancolia ou a filosofia, e depois a sensação que pertence toda ao coração. A música, a meu ver, é a arte que vai mais diretamente ao coração. A sensação ─ compreendei-me ─ está toda no coração. A pintura, a arquitetura, a escultura, a pintura antes de tudo, atingem muito mais a sensação cerebral. Numa palavra, a música vai do coração ao espírito, a pintura do pensamento ao coração. A exaltação religiosa criou o órgão. Na Terra, quando a poesia toca o órgão, os anjos do Céu lhe respondem. Assim, a música séria, religiosa, eleva a alma e os pensamentos. A música leve faz vibrar os nervos, nada mais. Eu bem que gostaria de citar algumas personalidades, mas não tenho o direito: não estou mais na Terra. Amai o Réquiem de Mozart, que o matou. Não desejo, mais do que os Espíritos, a vossa morte pela música, mas a morte viva; aí está o esquecimento de tudo quanto é terreno, pela elevação moral.

LAMENNAIS

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FESTA DOS BONS ESPÍRITOS

À CHEGADA DE UM IRMÃO

(ENVIADA PELA SRA. CAZEMAJOUX, MÉDIUM DE BORDÉUS)

Também temos nossas festas, e isto acontece com frequência, porque os bons Espíritos da Terra, nossos bem-amados irmãos, despojando-se de seu envoltório material, nos estendem os braços e nós vamos, em grupo inumerável, recebê-los à entrada da estância que daí em diante vão habitar conosco. Nessas festas, não se agitam, como nas vossas, as paixões humanas que sob rostos graciosos e frontes coroadas de flores ocultam a inveja, o orgulho, o ciúme, a vaidade, o desejo de agradar e de primar sobre rivais nesses prazeres fictícios. Aqui reinam a alegria, a paz, a concórdia; cada um está contente com a posição que lhe é designada e feliz com a felicidade de seus irmãos. Então, meus amigos! Com esse acordo perfeito que reina entre nós, nossas festas têm um encanto indescritível. Milhões de músicos cantam acompanhados por liras harmoniosas as maravilhas de Deus e da Criação, com timbres mais deslumbrantes que vossas mais suaves melodias. Longas procissões aéreas de Espíritos volitam como zéfiros, lançando sobre os recém-chegados nuvens de flores cujo perfume e variadas nuanças não podeis compreender. Depois vem o banquete fraterno a que são convidados os que com felicidade terminaram suas provas, e que vêm receber a recompensa de seus trabalhos. Oh! meu amigo, tu desejarias saber mais, mas a vossa linguagem é incapaz de descrever essas magnificências. Eu vos disse bastante, a vós que sois meus bem-amados, para vos dar o desejo de aspirá-las, e então, caro Émile, livre da missão que realizo junto a ti, na Terra, eu a continuarei para te conduzir através do espaço, e te fazer desfrutar de todas essas felicidades.

FELÍCIA

(Esposa do evocador e há um ano seu guia protetor)

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VINDE A NÓS

(ENVIADA PELA SRA. CAZEMAJOUX, MÉDIUM DE BORDÉUS)

O Espiritismo é a aplicação da moral evangélica pregada pelo Cristo em toda a sua pureza; e os homens que o condenam sem conhecê-lo são pouco prudentes. Com efeito, por que qualificar de superstição, de charlatanice, de sortilégio, de demonomania as coisas que o vulgar bom senso faria aceitar se quisessem estudá-lo? A alma é imortal: é o espírito. A matéria inerte é o corpo perecível a despojar-se de suas formas para se transformar, quando abandonada pelo Espírito, num monte de podridão sem nome. E vós achais lógico, vós que não acreditais no Espiritismo, que esta vida, que para a maioria dentre vós é de amargura, de dores, de decepções, um verdadeiro purgatório, não tenha outro objetivo senão o túmulo! Desenganai-vos. Vinde a nós, pobres deserdados dos bens, das grandezas e dos prazeres terrenos. Vinde a nós e sereis consolados, vendo que vossas dores, vossas privações, vossos sofrimentos devem abrir-vos as portas de mundos felizes e que Deus, justo e bom para todas as criaturas, só nos provou para nosso bem, segundo estas palavras do Cristo: Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. ─ Vinde, pois, incrédulos e materialistas. Colocai-vos sob a bandeira na qual, em letras de ouro, estão escritas estas palavras: Amor e caridade para os homens, que são todos irmãos; bondade e justiça, indulgência de um pai grande e generoso para os Espíritos que criou, e que eleva a si por caminhos seguros, embora vos sejam desconhecidos. A caridade, o progresso moral e o desenvolvimento intelectual vos conduzirão ao autor e senhor de todas as coisas.

Não vos instruímos senão para que, por vossa vez, trabalheis para espalhar essa instrução, mas sobretudo fazei-o sem azedume. Sede pacientes e esperai. Lançai a semente. A reflexão e a ajuda de Deus fá-la-ão frutificar, a princípio para um pequeno número que fará como vós, e aumentando pouco a pouco o número dos trabalhadores, vos fará esperar, após as semeaduras, uma boa e abundante colheita.

FERDINAND,

Filho do médium.

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PROGRESSO INTELECTUAL E MORAL



(ENVIADA PELO SR. SABÒ, DE BORDÉUS)

Venho dizer-vos que o progresso moral é o de mais útil aquisição, porque nos corrige as más inclinações e nos torna bons, caridosos e devotados aos nossos irmãos. Contudo, o progresso intelectual é também útil ao nosso adiantamento, porque eleva a alma e faz-nos julgar mais corretamente as nossas ações, assim facilitando o progresso moral. Inicia-nos aos ensinos que Deus nos proporciona há séculos por intermédio de tantos homens de méritos diversos, que vieram sob todas as formas e em todas as línguas para nos dar a conhecer a verdade, e que não eram senão Espíritos já adiantados, enviados por Deus para o desenvolvimento do entendimento humano. Mas, na época em que viveis, a luz que iluminava apenas um pequeno número vai brilhar para todos. Trabalhai, pois, para compreenderdes a grandeza, o poder, a majestade, a justiça de Deus; para compreenderdes a sublime beleza de suas obras; para compreenderdes as magníficas recompensas concedidas aos bons e os castigos infligidos aos maus; para compreenderdes, enfim, que o único objetivo que deveis aspirar é o de vos aproximardes dele.

GEORGES

(Bispo de Périgueux e de Sarlat, feliz por ser um dos guias do médium)

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A INUNDAÇÃO

(ENVIADA PELO SR. CASIMIR H., DE INSBRUCK)

(TRADUZIDO DO ALEMÃO)

Numa região outrora estéril, um dia surgiu uma fonte. A princípio era um simples filete d’água que correu na planície, e a que deram pouca importância. Pouco a pouco a linfa engrossou, tornando-se ribeirão; alargou-se e cobriu as terras vizinhas, mas as que ficaram descobertas foram fertilizadas e produziram cem por um. Contudo, um proprietário ribeirinho, descontente por ver seu terreno recuado, tentou barrar a torrente para reconquistar a porção coberta pelas águas, julgando aumentar sua riqueza. Ora, aconteceu que o ribeirão desviado submergiu tudo, terreno e proprietário.

Eis a imagem do progresso: como rio impetuoso, rompe os diques que se lhe opõem e arrasta com ele os imprudentes que ao invés de seguir-lhe o curso, procuram travá-lo. Será o mesmo com o Espiritismo. Deus o envia para fertilizar o terreno moral da Humanidade. Bem-aventurados os que souberem aproveitá-lo e infelizes os que tentarem opor-se aos desígnios de Deus! Não o vedes avançar a passos de gigante pelos quatro pontos cardeais? Por toda parte sua voz se faz ouvir e em breve cobrirá de tal modo a dos inimigos, que estes serão forçados ao silêncio e constrangidos a curvar-se ante a evidência. Homens! Aqueles que tentam deter a marcha irresistível do progresso vos preparam rudes provas. Deus permite que assim seja para castigo de uns e glorificação de outros, mas vos dá no Espiritismo o piloto que deverá conduzir-vos ao porto, levando em suas mãos a bandeira da esperança.

WILHELM

Avô do médium


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