Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

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Capítulo X

Fevereiro - Cumprimentos de ano novo

Fevereiro
Várias centenas de cartas nos foram dirigidas pelo ano-novo, de modo que nos é materialmente impossível responder uma a uma. Pedimos, pois, aos nossos dignos correspondentes aqui recebam a expressão de nosso agradecimento sincero pelo testemunho de simpatia que tiveram a bondade de nos dar. Uma entre elas, entretanto, por sua natureza, exige uma resposta especial. É a dos espíritas de Lyon, subscrita por cerca de duzentas assinaturas.

Aproveitamos a circunstância para transmitir, a seu pedido, alguns conselhos gerais. A Sociedade Espírita de Paris, fundada por nós, julgando que podia ser útil a todo o mundo, não só nos sugeriu que a publicássemos na Revista, como também votou a sua impressão separada para ser distribuída a todos os seus sócios.

Todos aqueles que tiveram a gentileza de nos escrever participaram dos sentimentos de reciprocidade que aí exprimimos e que se dirigem, sem exceção, a todos os espíritas franceses e estrangeiros, que nos honram com o título de seu chefe e de seu guia na nova via que se lhes abre.

Não nos dirigimos apenas aos que nos escreveram, pela passagem do ano-novo, mas a todos os que, a cada momento, nos dão tocantes provas de seu reconhecimento pela felicidade e pelas consolações que encontram na doutrina e que nos relatam as suas penas e os seus esforços para ajudar a sua propagação. A todos, enfim, aos quais nossos trabalhos servem para algo na marcha progressiva do Espiritismo.


Outubro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Novembro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Novembro

O Sr. Émile, que obteve a comunicação acima e muitas outras igualmente notáveis, é muito jovem. Além de excelente médium escrevente é, também, médium pintor, embora não tenha aprendido desenho nem pintura. Pinta a óleo paisagens e temas diversos, para o que é levado a escolher, misturar e combinar as cores necessárias. Do ponto de vista da arte, seus quadros não são perfeitos, conquanto se veja, em certas exposições, algumas telas que não valem mais que as suas. Falta-lhes principalmente acabamento e suavidade, os tons são vigorosos e muito acentuados. Mas quando se pensa nas condições em que são feitos, não são menos admiráveis. Quem sabe se, com o exercício, não adquirirá ele a habilidade que lhe falta e não se tornará um verdadeiro pintor, como aquele operário bordelês que, mal sabendo assinar o nome, escreve como médium e acabou por ter uma linda letra para uso pessoal, sem outros mestres além dos Espíritos?

Quando vimos o Sr. Émile V…, estava ele concluindo um quadro alegórico, onde se vê uma urna funerária sobre a qual estava escrito: Aqui jaz dezoito séculos de luzes. Permitimo-nos criticar tal inscrição, do ponto de vista gramatical e, para começar, não compreendemos o sentido dessa alegoria, colocando dezoito séculos de luzes num caixão, considerando-se que, como dizíamos, graças sobretudo ao Cristianismo, a Humanidade está hoje mais esclarecida do que outrora. A comunicação acima foi por ele recebida na sessão do dia 16. O Espírito respondeu às nossas observações, acrescentando o que se segue.

“Aqui jaz é posto de propósito. O assunto não é expresso pelo número dezoito, representando séculos; é um total de séculos, uma ideia coletiva, como se houvesse um lapso de tempo de dezoito séculos. Podeis dizer aos vossos gramáticos que não confundam uma ideia coletiva com uma ideia de separação. Eles próprios não dizem da multidão, que pode ser composta de um número incalculável de pessoas, que ela pode mover-se? É o bastante sobre o assunto, porque é a própria ideia.

“Agora abordemos a alegoria. Dezoito séculos de luzes num caixão! Esta ideia representa todos os esforços feitos pela verdade durante esse tempo, esforços que foram sempre destruídos pelo espírito de partido e pelo egoísmo. Dezoito séculos de luzes em pleno dia, seriam dezoito séculos de felicidade para a Humanidade, dezoito séculos que apenas começam a germinar na terra e que teriam tido seu desenvolvimento. O Cristo trouxe a verdade à Terra e a colocou ao alcance de todos. O que lhe aconteceu? As paixões terrestres dela se apoderaram e a encerraram num caixão, donde vem tirá-la o Espiritismo. Eis a alegoria.”


Léon de Muriane.




Março ENSINOS E DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Março

1. — “Acha-se em perigo de morte um homem; para o salvar tem um outro que expor a vida. Sabe-se, porém, que aquele é um malfeitor e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Deve, não obstante, o segundo arriscar-se para o salvar?”

A resposta que se segue foi obtida na Sociedade Espírita de Paris, no dia 7 de fevereiro de 1862, pelo médium Sr. A. Didier:


Questão muito grave é esta e que naturalmente se pode apresentar ao espírito. Responderei, na conformidade do meu adiantamento moral, pois o de que se trata é de saber se se deve expor a vida, mesmo por um malfeitor. O devotamento é cego; socorre-se um inimigo; deve-se, portanto, socorrer o inimigo da sociedade, a um malfeitor, em suma. Julgais que será somente à morte que, em tal caso, se corre a arrancar o desgraçado? É, talvez, a toda a sua vida passada. Imaginai, com efeito, que, nos rápidos instantes que lhe arrebatam os derradeiros alentos de vida, o homem perdido volve ao seu passado, ou que, antes, este se ergue diante dele. A morte, quiçá, lhe chega cedo demais; a reencarnação poderá vir e ser-lhe terrível. Lançai-vos, então, ó homens; lançai-vos todos vós a quem a ciência espírita esclareceu; lançai-vos, arrancai-o à sua condenação e, talvez, esse homem, que teria morrido a blasfemar, se atirará nos vossos braços. Todavia, não tendes que indagar se o fará, ou não; socorrei-o, porquanto, salvando-o, obedeceis a essa voz do coração, que vos diz: “Podes salvá-lo, salva-o!”


Lamennais.


Observação. – Por uma singular coincidência recebemos, alguns dias mais tarde, a seguinte comunicação, obtida no grupo espírita do Havre, tratando mais ou menos do mesmo assunto.

Escrevem-nos que, em consequência de uma conversa a propósito do assassino Dumollard, o Espírito da Sra. Elisabeth de França, que já havia dado várias comunicações, apresentou-se espontaneamente e ditou o que se segue:


2. [A VERDADEIRA CARIDADE.]


A verdadeira caridade constitui um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu ao mundo. Completa fraternidade deve existir entre os verdadeiros seguidores da sua doutrina. Deveis amar os desgraçados, os criminosos, como criaturas, que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negardes perdão e comiseração, pois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis, e muito menos lhes será pedido do que a vós.

Não julgueis, oh! não julgueis absolutamente, meus caros amigos, porquanto o juízo que proferirdes ainda mais severamente vos será aplicado e precisais de indulgência para os pecados em que sem cessar incorreis. Ignorais que há muitas ações, que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?

A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo.

Estão próximos os tempos, repito-o, em que nesse planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio e esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas. Amai-vos, pois, como filhos do mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os outros infelizes, porquanto quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém desprezeis. Permite Deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamentos. Em breve, quando os homens se encontrarem submetidos às verdadeiras leis de Deus, já não haverá necessidade desses ensinos: todos os Espíritos impuros e revoltados serão relegados para mundos inferiores, de acordo com as suas inclinações.

Deveis, àqueles de quem falo, o socorro das vossas preces: é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um criminoso: “É um miserável; deve-se expurgar da sua presença a Terra; muito branda é, para um ser de tal espécie, a morte que lhe infligem.” Não, não é assim que vos compete falar. Observai o vosso modelo: Jesus. Que diria ele, se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podeis fazer o mesmo; mas, pelo menos, podeis orar por ele, assistir-lhe o Espírito durante o tempo que ainda haja de passar na Terra. Pode ele ser tocado de arrependimento, se orardes com fé. É tanto vosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, à imagem do Deus perfeito. Assim, orai por ele; não o julgueis: não tendes esse direito. Só Deus o julgará.


Elisabeth de França.


Allan Kardec.








Outubro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Março ENSINOS E DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Março

1. — “Acha-se em perigo de morte um homem; para o salvar tem um outro que expor a vida. Sabe-se, porém, que aquele é um malfeitor e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Deve, não obstante, o segundo arriscar-se para o salvar?”

A resposta que se segue foi obtida na Sociedade Espírita de Paris, no dia 7 de fevereiro de 1862, pelo médium Sr. A. Didier:


Questão muito grave é esta e que naturalmente se pode apresentar ao espírito. Responderei, na conformidade do meu adiantamento moral, pois o de que se trata é de saber se se deve expor a vida, mesmo por um malfeitor. O devotamento é cego; socorre-se um inimigo; deve-se, portanto, socorrer o inimigo da sociedade, a um malfeitor, em suma. Julgais que será somente à morte que, em tal caso, se corre a arrancar o desgraçado? É, talvez, a toda a sua vida passada. Imaginai, com efeito, que, nos rápidos instantes que lhe arrebatam os derradeiros alentos de vida, o homem perdido volve ao seu passado, ou que, antes, este se ergue diante dele. A morte, quiçá, lhe chega cedo demais; a reencarnação poderá vir e ser-lhe terrível. Lançai-vos, então, ó homens; lançai-vos todos vós a quem a ciência espírita esclareceu; lançai-vos, arrancai-o à sua condenação e, talvez, esse homem, que teria morrido a blasfemar, se atirará nos vossos braços. Todavia, não tendes que indagar se o fará, ou não; socorrei-o, porquanto, salvando-o, obedeceis a essa voz do coração, que vos diz: “Podes salvá-lo, salva-o!”


Lamennais.


Observação. – Por uma singular coincidência recebemos, alguns dias mais tarde, a seguinte comunicação, obtida no grupo espírita do Havre, tratando mais ou menos do mesmo assunto.

Escrevem-nos que, em consequência de uma conversa a propósito do assassino Dumollard, o Espírito da Sra. Elisabeth de França, que já havia dado várias comunicações, apresentou-se espontaneamente e ditou o que se segue:


2. [A VERDADEIRA CARIDADE.]


A verdadeira caridade constitui um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu ao mundo. Completa fraternidade deve existir entre os verdadeiros seguidores da sua doutrina. Deveis amar os desgraçados, os criminosos, como criaturas, que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negardes perdão e comiseração, pois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis, e muito menos lhes será pedido do que a vós.

Não julgueis, oh! não julgueis absolutamente, meus caros amigos, porquanto o juízo que proferirdes ainda mais severamente vos será aplicado e precisais de indulgência para os pecados em que sem cessar incorreis. Ignorais que há muitas ações, que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?

A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo.

Estão próximos os tempos, repito-o, em que nesse planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio e esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas. Amai-vos, pois, como filhos do mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os outros infelizes, porquanto quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém desprezeis. Permite Deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamentos. Em breve, quando os homens se encontrarem submetidos às verdadeiras leis de Deus, já não haverá necessidade desses ensinos: todos os Espíritos impuros e revoltados serão relegados para mundos inferiores, de acordo com as suas inclinações.

Deveis, àqueles de quem falo, o socorro das vossas preces: é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um criminoso: “É um miserável; deve-se expurgar da sua presença a Terra; muito branda é, para um ser de tal espécie, a morte que lhe infligem.” Não, não é assim que vos compete falar. Observai o vosso modelo: Jesus. Que diria ele, se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podeis fazer o mesmo; mas, pelo menos, podeis orar por ele, assistir-lhe o Espírito durante o tempo que ainda haja de passar na Terra. Pode ele ser tocado de arrependimento, se orardes com fé. É tanto vosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, à imagem do Deus perfeito. Assim, orai por ele; não o julgueis: não tendes esse direito. Só Deus o julgará.


Elisabeth de França.


Allan Kardec.








Outubro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








Abril DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Abril

Muito bem, meus filhos! Bravo! Sinto-me feliz por vos ver reunidos, lutando com zelo e persistência. Coragem! trabalhai arduamente no campo do Senhor, porque chegará o momento em que não será apenas a portas fechadas que se pregará a doutrina santa do Espiritismo.

Flagelaram a carne; terão de flagelar o Espírito. Ora, em verdade vos digo: quando isto acontecer, estareis prestes a entoar, juntos, o cântico de ação de graças, e todos estaremos prontos a ouvir um só e mesmo grito de alegria sobre a Terra. Mas — eu vo-lo digo — antes da idade de ouro e do reinado do Espírito, é preciso que haja grande sofrimento, choro e ranger de dentes.

As perseguições já começaram. Espíritas! sede firmes e mantende-vos de pé: estais marcados pela unção do Senhor. Sereis chamados de insensatos, de loucos e de visionários. Não mais ferverão o óleo, nem erguerão cadafalsos e fogueiras; o fogo de que se servirão para vos fazer renunciar às vossas crenças será mais ardente e ainda mais vivo. Espíritas! Despojai-vos do homem velho, pois é a este que farão sofrer. Que vossas novas túnicas sejam brancas; cingi vossas frontes com coroas e preparai-vos para entrar na liça. Sereis amaldiçoados; deixai que vossos irmãos vos digam raca; orai por eles e afastai de suas cabeças o castigo que o Cristo disse reservar aos que disserem raca aos seus irmãos.

Preparai-vos para as perseguições pelo estudo, pela prece, pela caridade. Os servos serão expulsos das casas de seus senhores e tratados como loucos. Mas encontrarão o Samaritano à porta da casa e, não obstante pobres e nus, ainda partilharão entre si as vestes e o último naco de pão. Ante tal espetáculo, os patrões perguntarão: Mas, quem são esses homens que expulsamos de nossas casas? Não dispõem senão de um pedaço de pão para esta noite e o dão!; só possuem um manto para se cobrirem e o dividem com um estranho! Então suas portas se abrirão novamente, pois vós é que sois os servidores do Mestre. Mas desta vez eles vos acolherão e vos abraçarão; suplicarão com insistência que os abençoem e os ensinem a amar. Não mais vos chamarão servos ou escravos, mas vos dirão: Meu irmão, vem assentar-te à minha mesa. Há uma só e mesma família na Terra, como há um só e mesmo pai no Céu.

Ide, ide, meus irmãos! Pregai e, sobretudo, sede unidos: o céu vos está preparado.


Santo Agostinho.




Outubro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Outubro

De todos os trabalhos a que se entrega a Humanidade os preferíveis são os que mais aproximam a criatura de seu Criador, que a põem diariamente e a cada instante em condições de admirar a obra divina, que saiu e sai incessantemente de suas mãos onipotentes. É dever do homem prosternar-se e adorar continuamente Aquele que lhe deu os meios de se melhorar como Espírito e alcançar, assim, a felicidade suprema, que é o objetivo final para o qual deve tender.

Se há profissões que, quase exclusivamente intelectuais, dão ao homem os meios de elevar o seu nível de inteligência, um perigo, um grande perigo se acha ao lado dessa vantagem. Prova a história de todos os tempos em que consiste esse perigo e quantos males pode engendrar. Sois dotados de uma inteligência superior: a tal respeito estais mais próximos da Divindade que os vossos irmãos e chegais a negar a própria Divindade, ou dela fazer uma outra, inteiramente contrária do que é em realidade! Nunca seria demais repetir, nem jamais se cansar de dizer: o orgulho é o mais obstinado inimigo do gênero humano. Tivésseis mil bocas e todas deveriam repetir a mesma coisa incessantemente.

Deus vos criou a todos simples e ignorantes; tratai de avançar em passo tão seguro quanto possível. Isto depende de vós: jamais Deus recusa graça a quem lha pede de boa-fé. Todos os estados podem igualmente vos conduzir à meta desejada, se vos conduzirdes conforme o caminho da justiça e se não dobrardes a consciência à vontade dos vossos caprichos. No entanto há estados nos quais é mais difícil progredir que em outros; assim, Deus levará em conta aqueles que, tendo aceitado como prova uma posição ambígua, tiverem percorrido sem reagir esse caminho perigoso ou, pelo menos, tiverem feito todos os esforços humanamente possíveis para se reerguerem.

É aí que se torna necessária uma fé sincera, uma força pouco comum para resistir aos arrastamentos para fora do caminho da justiça. Mas é aí, também, que se pode fazer um bem imenso aos irmãos infelizes. Ah! quanto mérito tem aquele que resvala no lamaçal, sem que nem suas vestes, nem ele próprio; se maculem! É preciso que uma chama muito pura brilhe em si. Mas, também, que recompensa não lhe é reservada ao deixar a vida terrestre!

Que aqueles que se acham em semelhante posição meditem bem estas palavras; que bem se impregnem do espírito que elas encerram e neles se operará uma revolução salutar, que substituirá as opressões do egoísmo pelas suaves expansões do coração.

Quem transformará esses homens, como diz o Evangelho, em homens novos?

O que é necessário para realizar esse grande milagre? É preciso que eles queiram reportar seu pensamento àquilo a que estão destinados depois da morte. Estão todos convencidos de que o amanhã poderá não existir para eles; mas, assustados pelo quadro sombrio e desolador das penas eternas, nas quais, por intuição, se recusam acreditar, abandonam-se ao caudal da vida presente; deixam-se arrastar por essa cupidez febril, que os leva a juntar sempre, por todos os meios permitidos ou não; arruínam sem piedade um pobre pai de família e prodigalizam ao vício somas que bastariam para uma cidade inteira viver durante vários dias. Desviam os olhos do momento fatal. Ah! se pudessem encará-lo firmemente e com sangue-frio, como mudariam depressa de conduta! como os veríamos apressados em devolver ao legítimo proprietário o pedaço de pão negro, que tiveram a crueldade de roubar para, ao preço de uma injustiça, aumentarem uma fortuna feita de injustiças acumuladas! O que é preciso para isto? Que brilhe a luz espírita. É preciso se possa dizer, como um general dizia de uma grande nação: O Espiritismo é como o Sol, cega quem não o vê! Os homens que se dizem e se julgam cristãos, mas repelem o Espiritismo, são bem cegos!

Qual a missão da doutrina, que a mão onipotente do Criador semeia atualmente no mundo? É a de conduzir os incrédulos à fé, os desesperados à esperança, os egoístas à caridade. Eles se dizem cristãos e lançam anátema à doutrina de Jesus-Cristo! É verdade que pretendem seja o Espírito maligno que, para melhor se disfarçar, vem pregar tal doutrina neste mundo. Infelizes cegos! pobres doentes! Que Deus, em sua bondade inesgotável, se digne fazer cessar a vossa cegueira e pôr um termo aos males que vos obsidiam!

Quem vos disse que era o Espírito do mal? Quem? Nada sabeis disto. Pedistes a Deus que vos esclarecesse a respeito? Não; ou se o fizestes, tínheis uma ideia preconcebida. O Espírito do mal! Sabeis quem vos disse que era o Espírito do mal? Foi o orgulho, foi o próprio Espírito do mal que vos leva a condenar – coisa revoltante! – o Espírito de Deus, representado pelos bons Espíritos que Ele envia ao mundo para o regenerar!

Ao menos examinai a coisa e, conforme as regras estabelecidas, condenai ou absolvei. Ah! se ao menos quisésseis lançar um golpe de vista sobre os resultados inevitáveis que o triunfo do Espiritismo deve produzir! Se quisésseis ver os homens finalmente se considerando como irmãos, convencidos todos de que, de um momento para outro, Deus lhes pedirá contas da maneira pela qual desempenharam a missão que lhes havia sido confiada! Se quisésseis ver em toda parte a caridade tomando o lugar do egoísmo e o trabalho tomando o lugar da preguiça! Porque, bem o sabeis, o homem nasceu para o trabalho: Deus o transformou numa obrigação, à qual não pode subtrair-se sem transgredir as leis divinas. Se quisésseis ver de um lado esses infelizes que dizem: Danados neste mundo, danados no outro, sejamos criminosos e gozemos; e do outro, esses homens endurecidos, esses açambarcadores da fortuna de todos, que dizem: A alma é uma palavra; Deus não existe; se nada resta de nós depois da morte, gozemos a vida; o mundo se compõe de exploradores e explorados; prefiro fazer parte dos primeiros a estar com os segundos; depois de mim, o dilúvio! Se lançásseis o olhar sobre esses dois homens que personificam a pilhagem, a pilhagem bem-educada e que conduz às galés; se os vísseis transformados pela crença na imortalidade, que lhes dá o Espiritismo, ousaríeis dizer que é pelo Espírito do mal?

Vejo o desdém em vossos lábios e vos ouço dizer: Nós é que pregamos a imortalidade e temos crédito por isto. Terão sempre mais confiança em nós do que nesses vãos sonhadores que, se não são trapaceiros, sonharam que os mortos saíam do túmulo para se comunicarem com eles. A isto sempre a mesma resposta: Examinai e, se convencidos de boa-fé, o que não faltará se fordes sinceros, ao invés de maldizer, bendireis o que deve estar muito mais nas vossas atribuições, conforme a lei de Deus.

A lei de Deus! em vossa opinião sois os únicos depositários e vos surpreendeis que outros tomem uma iniciativa que, conforme pensais, vos pertence com exclusividade. Pois bem! escutai o que os Espíritos enviados por Deus estão encarregados de vos dizer:

“Vós que levais a sério o vosso ministério, sereis abençoados, porquanto tereis realizado todas as obras, não só prescritas, mas aconselhadas pelo divino Mestre. E vós que considerastes o sacerdócio como meio para ascender materialmente não sereis malditos, embora tenhais amaldiçoado os outros; Deus, porém, vos reserva uma punição mais justa.

“Dia virá em que sereis obrigados a vos explicardes publicamente sobre os fenômenos espíritas, e esse dia não está longe. Então vos encontrareis na necessidade de julgar, porque vos constituístes em tribunal. Julgar a quem? O próprio Deus, pois nada acontece sem a sua permissão.

“Vedes onde vos conduziu o Espírito do mal, isto é, o orgulho! Em vez de vos inclinardes e orar, obstinai-vos contra a vontade do único que tem o direito de dizer: Eu quero. E dizeis que é o demônio quem o diz.

“E agora, se persistirdes em não crer senão nas manifestações dos maus Espíritos, recordai-vos das palavras do Mestre, acusado de expulsar os demônios em nome de Belzebu: Todo reino dividido contra si mesmo perecerá.”

Hippolyte Fortoul.








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