No Limiar do Infinito

Versão para cópia
CAPÍTULO 13

VIDA NO ALÉM-TÚMULO.

Perturbação Espiritual De primordial importância para o homem é o conhecimento do Espiritismo, considerando a contribuição de valiosos informes que haure nas suas lições, preparando-se para os cometimentos no além-túmulo, tanto quanto armando-se para as vicissitudes e sucessos da experiência evolutiva no corpo.

Nenhuma veleidade de caráter sectarista em tal informação, antes defluente na resposta dos fatos observados no dia a dia das atividades humanas num como noutro estado vibratório, no corpo ou fora dele.

Conferindo responsabilidade à criatura, no que diz respeito às suas ações, de cujos resultados responderá perante a sua e a Consciência Universal, o conhecimento espírita a ilustra, igualmente, quanto à continuação da vida, não obstante a morte, predispondo-a a considerar a inevitabilidade do processo imortalista irrefragável.

O Espiritismo não possui os complementos utopistas nem os adornos das fantasias com que muitos homens se pretendem engodar, graças ao que transferem, para mais tarde, e às vezes para tarde demais, as reflexões a respeito da sobrevivência, sendo surpreendidos pelo fenômeno da desencarnação enquanto estão emaranhados nas absorventes quimeras a que dão valor prioritário em detrimento da vida em sua totalidade, que relegam a plano secundário.

Conforme assevera antigo brocardo popular: "Tal vida, qual morte", a questão não se restringe apenas às inquietações ou suavidades do momento grave do traspasse, mas, especialmente, à sucessão do tempo, na continuidade do fenômeno post-mortem.

Não estando à vida sujeita às engrenagens do maravilhoso nem do milagre, de forma alguma ocorrem transformações de profundidade naqueles que atravessam, não raro a contra gosto, a faixa divisória, que limita o trânsito no corpo carnal, no rumo da vivência espiritual.


Em decorrência, o processo de desprendimento espiritual é lento ou demorado, conforme a constituição do temperamento, a formação do caráter moral e as aquisições

espirituais de cada ser.

Não ocorrem duas desencarnações que sejam semelhantes.

Cada um desperta ou se demora na perturbação, consoante às características próprias de sua personalidade.

Nesse particular, o comportamento religioso exerce uma fundamental importância. Aqueles que se fixaram às ideias "niilistas", materialistas hibernam-se, não raro, como a fugir da realidade num bloqueio inconsciente de longo porte que os atormenta em forma de pesadelos infelizes, de que se não conseguem facilmente libertar. Tendo agasalhado a ideia do nada, deperecem e se exaurem em agonia superlativa, sem que se permitam alívio nas regiões frias e temerosas a que são arrastados por natural processo de sintonia mental, quando não acompanham, estarrecidos, a decomposição do corpo a que se agarram, tentando restabelecer-lhe os movimentos, em luta inglória, avassaladora...

Os que cultivaram as religiões simplistas, que prometiam os céus a golpes de facilidade e oportunismo, são surpreendidos por uma realidade bem diversa com que não contavam...

Os que agasalham ideias esdrúxulas, fazem-se vítimas de horrores e alucinações lamentáveis que os desnorteiam por tempo indeterminado.

Os suicidas, graças aos atenuantes ou agravantes que os selecionam automaticamente, descobrem em inditoso despertar a não existência da morte, incorporando as dores de que se desejavam furtar às inimagináveis agonias que lograram com a violência contra o corpo, e que, agora, invadido pela vérmina, transmite as cruas sensações da desorganização celular adicionadas à dor decorrente do processo utilizado para o autocídio...

Os que se converteram em destruidores da vida alheia, experimentam as aflições que infligiram e expungem, em intérmina angústia, o acordar da consciência e a sobrecarga dos crimes perpetrados.

As mentalizações acalentadas durante a vida física se corporificam em processos ideoplásticos de alucinação, que se convertem em fantasmas de pavor, criando cenários e sucessos hediondos, macabros e incessantes que amesquinham e enlouquecem aqueles que os vitalizaram.


As desencarnações violentas, arbitrárias, com raras exceções, impõem demorado processo de perturbação e dor naqueles que se viram colhidos pela invigilância, pela

insensatez, pelo desrespeito à vida...

Invariavelmente é duradouro o período de perturbação espiritual após a morte, excetuando-se a ocorrência para quantos se exercitaram nos cometimentos da sobrevivência, se prepararam interiormente para o tentame, se evangelizaram, se moralizaram, conseguiram librar-se acima das vicissitudes mediante a prática enobrecida do bem e da caridade, tomando conhecimento das leis que vigem em torno da imortalidade...

Não faltam socorros espirituais aos recém-libertos, através de Benfeitores devotados, técnicos no processo de separação dos despojos carnais. No entanto, os condicionamentos do engano, a teimosa fixação das ideias falsas, impedem o desencarnado de beneficiar-se com a ajuda oportuna e providencial que lhe trazem as afeições sobreviventes que o aguardavam, obrigando-o à atitude paciente e à espera confiante, até que se consuma a diluição da névoa mental em que se envolve, e de que se acabem os vestígios de vitalidade orgânica e viciações psíquicas em que se refugia, nas vãs tentativas de fugir à realidade inelutável...

Das dores que os surpreendem, passam os recém-desencarnados a estranheza da situação nova, que não compreendem, enlouquecendo, ao constatarem a consumação do fenômeno morte, ou por defrontarem outros sobrevivos que os aparecem em deploráveis condições espirituais.

Da mesma forma que o mergulho do Espírito na carne pelos mecanismos poderosos da reencarnação se dá em demorado processo de interpenetração molecular, o desembaraçar-se dos implementos celulares e das suas sensações exige tempo, habilidade, destreza mental e moral de quem se liberta.

Ê evidente que as vidas santificadas e os comportamentos equilibrados, a ausência ou a escassez das sensações grosseiras que prendem o Espírito ao corpo constituem facilidade para o desprendimento sem saudades, receios nem ansiedades.

Disse Jesus com ênfase: "Aquele que crê em mim, já passou da morte para a vida". Isto, porque, a crença conscientiza das responsabilidades quanto ao futuro espiritual, armando o homem para entender e preparar-se para a viagem inexorável que o futuro lhe imporá.

Conforme os hábitos salutares ou não, cultivados pelo desencarnado, a perturbação espiritual pode durar minutos e até mesmo séculos...


Como ocorre, no despertamento após a anestesia geral para tratamentos cirúrgicos

de gravidade, cada paciente recobra a consciência de acordo com as reações de equilíbrio que lhe são peculiares. No profundo tratamento cirúrgico que separa o corpo da alma, em proporções muito mais expressivas, o despertar é relativo ao estado mental e moral que for habitual no viajor agora em outra condição.

Em razão das implicações éticas, filosóficas e profundamente cristãs defluentes do conhecimento da vida no além-túmulo, que o Espiritismo apresenta, é que sua contribuição se faz de relevância para uma identificação mais rápida e uma conscientização mais lúcida por parte daquele que for tragado pela fatalidade da morte.



Este texto está incorreto?