Estudos Espíritas

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CAPÍTULO 16

CARIDADE

CONCEITO - Virtude por excelência constitui a mais alta expressão do sentimento humano, sobre cuja base as construções elevadas do espírito encontram firmeza para desdobrarem atividades enobrecidas em prol de todas as criaturas.

Vulgarmente confundida com a esmola - essa dádiva humilhante do que sobeja e representa inutilidade - a caridade excede, sobre qualquer aspecto considerada, as doações externas com que supõe em tal atividade encerrá-la.

Sem dúvida, valioso é todo gesto de generosidade, quando consubstanciado em dádiva oportuna ao que padece tal ou qual aflição, lenindo nele as exulcerações físicas ou renovando-lhe o ânimo, com que o fortalece para as atividades redentoras.

Entretanto, a caridade que se restringe às oferendas transitórias, não poucas vezes pode ser confundida com filantropia, esse ato de amor fraterno e humano que identifica certos homens ao destinarem altas somas que se aplicam em obras de incontestável valor, financiando múltiplos setores da Ciência, da Arte, da Higiene, do Humanismo.


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Henry Ford, John Rockefeller e inúmeros outros homens de bem foram filantropos eméritos a cuja contribuição a Humanidade deve serviços de inapreciável qualidade, que se converteram em lenitivo para multidões, espraiando dadivosas oportunidades para países e povos de diversas regiões da Terra.

Vicente de Paulo, Damien de Veuster, João Bosco e tantos outros, todavia, se transformaram em apóstolos da caridade, pois que nada possuindo entre os valores transitórios do dinheiro ou do poder, ofertaram tesouros de amor e fecundaram, em milhões de vidas, o pólen da esperança, da saúde, da alegria de viver, lecionando exemplo rutilante com o qual convocaram multidões de Espíritos ao prosseguimento do seu ministério que nem a morte conseguiu interromper...

A caridade para ser praticada nada exige, e, no entanto, tudo oferece. Pode ser caridoso o homem que nada detém e é capaz de amar até ao sacrifício da própria vida.

Enquanto que o filantropo se exalça, mediante o excedente de que salutarmente se utiliza, na preservação do bem, na edificação da beleza, na manutenção da saúde. Para a legítima caridade é imprescindível a fé, sem o que não lobriga a transcendente finalidade. Sem embargo, para a aplicação filantrópica basta um arroubo momentâneo, uma motivação estimulante, uma explosão idealista.

A caridade é sobretudo cristã e esteve sempre presente em toda a vida de Jesus, seu insuperável divulgador e expoente, porque repassava todas as suas doações com o inefável amor, mesmo quando visitado pelo impositivo da energia.

A filantropia, não obstante o valioso tributo de que se reveste, independe da fé, não se caracteriza pelo sentimento cristão, é irreligiosa, brotando em qualquer indivíduo, mesmo entre déspotas ou estroinas, vaidosos ou usurpadores, o que significa já avançado passo de elevação moral.

Enquanto uma é humilde e se apaga, ocultando as mãos do socorro e reconhecendo não haver feito tudo quanto deveria, a outra pode medrar arbitrariamente, recebendo o prémio da gratidão e o aplauso popular, engalanada na recompensa da referência bajulatória ou imortalizada na estatuária e nos monumentos, igualmente transitórios...

Inegavelmente, é melhor para o homem promover, fazer, estimular o bem e desenvolver a felicidade geral, do que, disfarçando-se para fugir do dever de ajudar, através de falsos escrúpulos nada produzir, coisa alguma realizar.

Ideal, porém, seria o filantropo atingir a mais alta expressão do seu investimento, culminando na caridade que transforma o próprio doador como alguns hão logrado.


DESENVOLVIMENTO - O apóstolo Paulo, o incomparável pregoeiro das verdades eternas, melhor do que ninguém, escrevendo aos Coríntios a sua Primeira Carta, nos versículos l a 7 e 13 do capítulo XIII, definiu a caridade na sua máxima significação:
"Mesmo quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade serei como o bronze que soa ou um címbalo que retine; -

ainda quando tivesse o dom da profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. - E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria.


"A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não cuida de

seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.


"Agora, estas três virtudes: a Fé, a Esperança e a Caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a Caridade. ""
E determinou com incomparável sabedoria, sob superior inspiração alguns dentre os diversos Carismas, mediante cuja prática o cristão alcança plenitude de paz, na convulsão envolvente do caminho por onde evolute, no corpo somático: o de pregar e ensinar a verdade cristã - caridade do ensino; o dos auxílios a pobres e enfermos

—caridade do socorro; o de curar - caridade para com a saúde...

CARIDADE E ESPIRITISMO - Escudando na caridade o recurso único, sem o qual o homem não consegue salvar-se, Allan Kardec penetrou as inesgotáveis fontes da Espiritualidade fazendo que a Doutrina Espírita tivesse como objetivo precípuo a salvação do Espírito, arrancando-o em definitivo da constrição das reencarnações inferiores, em cujos vaivéns se compromete para logo expungir e se desequilibra para depois se reorganizar.


Através dos complexos meandros da Ciência Espírita o investigador consciente e devotado culmina na certeza indubitável da indestrutibilidade da vida e da imortalidade; mediante as demoradas lucubrações pelas trilhas variadas da Filosofia Espírita compreende a lógica irretorquível da vida, mesmo diante dos aparentes disparates e aberrações da Lei como em face das mil incógnitas dos destinos, defrontando a justiça equânime, imparcial para com todos, a todos facultando os mesmos recursos de autoburilamento com a recuperação dos valiosos tesouros da harmonia interior; pelo inter-relacionamento com a Divindade de Quem se aproxima e a Quem se revincula, pela Religião com que se afervora, acima das exterioridades frui o benefício da perfeita comunhão, com que se refaz e

capacita para a felicidade real, indestrutível e plena.

Embora estabelecendo a necessidade de o homem promover e praticar a caridade material, necessária e de subida significação, propugna o Espiritismo, também e especialmente, pela caridade moral, a que exige melhores condições ao Espírito, portanto, mais importante, quando conclama aquele que a pratica à própria elevação com que se sublima e edifica interiormente.

Na sua execução não se cansa, não se exaure, não reclama, não se considera, tudo dá, mais do que dá: dá-se!

Jesus, culminando o Seu ministério entre os homens da Terra, após as incontáveis doações pela estrada da compaixão e da misericórdia, com que a todos socorreu e leniu, doou-Se, deu a vida na cruz como sublime legado de amor, inapagável luz de Caridade que passou a clarear os milénios porvindouros em fora, desde aquele momento.


"Por que indícios se pode reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o Espirito na hierarquia espírita "O Espírito prova a sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus e quando antecipadamente compreende a vida espiritual. "

Verdadeiramente, homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem.


Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça. 918.) (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão
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"Meus filhos, na sentença: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai.


Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si. " (O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. XV, item 10.)

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Mateus 25:34

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;

mt 25:34
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