Sabedoria do Evangelho - Volume 7
Versão para cópiaO LAVA-PÉS
JO 13:1-20
Depois da motivação da lição, apresentada por Lucas, João dá-nos por extenso a parte prática exemplificativa e o resto dos avisos para a vida cotidiana: "Não é maior o que se reclina à mesa? Pois eis o que faço".
A introdução do evangelista, neste passo, é de maravilhosa sublimidade. Começa dizendo que a ação se passou "antes da festa da páscoa"; realmente, no princípio, quando já estava Jesus reclinado no tapete, e bem assim os discípulos, que acabavam de acomodar-se após as hesitações provocadas pel "emulação".
João prossegue, afirmando que o Mestre sabia que chegara "sua hora", tantas vezes anunciada (cfr. JO 2;4; 7:30; 8:20; 12:23, 27 e
32) de regressar ao Pai. Ia deixá-los fisicamente, porque terminara Sua tarefa e eles já deveriam estar "amadurecidos". Mas a vaidade ainda os atormentava, julgando-se cada um maior e melhor que os outros. Não obstante, não os repreende: sempre os amara e seu amor não diminui: ao contrário, aqui Seu amor chega "ao fim" (eis télos), ou seja, até as últimas consequências, embora, segundo o narrador, já um deles, Judas, tivesse firmado o propósito de "entregar" seu Mestre aos judeus.
Mas Jesus sabia que "o Pai lhe dera tudo nas mãos" (expressão que Lucas traduz: "o Pai me conferiu o reino", ou domínio total) e também sabia "que saíra de Deus, e estava para voltar para Deus".
Então, "durante a ceia", isto é, depois de achar-se recostado no tapete, após haver observado as hesitações dos discípulos em tomarem seus lugares, toma a levantar-se, despe seu manto (tà imatía, que é a sobreveste "de sair"), e apanha uma toalha, cingindo-a à cintura, à maneira dos empregados que servem à mesa e dos que lavam os pés quando seus senhores regressavam da rua (cfr. Suetônio, Calígula,
26) e como ainda hoje costumam fazer os garçons nos bares mais modestos.
Apanhando uma bacia, enche-a de água e começa a circular em torno do triclínio. Estando os discípulos deitados no tapete, com as cabeças voltadas para a mesa, seus pés ficavam do lado de fora, facilitando a operação do "lava-pés" enquanto eles comiam. Embora todos deviam ter parado de comer para observar o que o Mestre estava fazendo.
Ao chegar a Pedro (o primeiro à sua esquerda) este - temperamental como sempre - dá um salto recolhendo os pés; só então percebera o que Jesus pretendia ao levantar-se, cingir-se com a toalha e preparar a bacia com água: e quase gritando protesta; "TU, lavar-me os pés"?!
Pacientemente Jesus elucida que, se bem naquele momento não entenda o que está a fazer, dali a pouco compreenderá. Mas Pedro resiste: "Não me lavarás os pés de modo algum"!. Agostinho (Pat. Lat. vol. 35, col. 1
788) comenta com muita graça; cogitanda sunt potius quam dicenda; ne forte quod ex his verbís aliquátenus dignum cóncipít ánima, non éxplicet língua: numquam hoc feram, numquam pátiar, numquam sínam: hoc quippe in aeternum non fít, quod numquam fit, isto é: "suas palavras são mais para sentir que para dizer: a não ser que, dessas palavras a alma conceba até certo ponto algo digno, mas a língua não exprima; jamais o permitirei, jamais o suportarei, jamais o deixarei; porque o que nunca se fez, nunca se fará".
Mas, à violenta resistência amorosa de Pedro, Jesus responde com o intransigente amor que quer servir;
"se não deixares, não poderás ficar comigo"! Caindo em si, Pedro oferece mãos e cabeça, além dos pés. E o Mestre retruca: "Quem tomou banho (verbo loúesthai, "banhar o corpo inteiro") só precisa lavar os pés" (verbo nípsesthai, "lavar uma parte do corpo"). A distinção dos sentidos dos verbos é precisa.
Terminado o giro por todo o triclínio, Jesus tira a toalha e torna a vestir o manto, a fim de manter pelo menos essa tradição, de comer com a roupa de sair. E então pergunta: "Entendestes a lição prática?" E explica: "Vós diz eis que sou O MESTRE e O SENHOR", e a excelência do título é salientada de duas formas: pelo emprego do artigo e pelo caso nominativo, em lugar do vocativo, que seria o natural. E conclui: "E dizeis com acerto, pois EU SOU. Sendo eu, pois, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés; então deveis fazê-lo também assim entre vós". Os servos (os discípulos) não são maiores que seu senhor (o Mestre) nem os emissários ("apóstolos") maiores que quem os envia (o Cristo). Conhecendo a regra, felizes sereis se a puserdes em prática".
Logicamente, Jesus não se referia ao ato físico, mormente se solenemente realizado uma vez por ano com toda a pompa, para demonstrar uma coisa que na realidade não existe; mas ensinou a humildade no serviço prestado diariamente com amor, uns aos outros, sobretudo os maiores aos menores, para dar o exemplo vivo que Jesus nos deu.
A seguir, acena à escolha: "Conheço quais homens escolhi e sei quem levantou o calcanhar contra mim" (frase do SL
As últimas palavras repetem velho ensinamento já dado: "Quem vos recebe, me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou".
A lição prossegue, neste passo, em toda a sua amplitude e profundidade, com um gesto vivo do Mestre, que precisa e quer fixá-la no coração dos discípulos.
Analisemos os diversos tópicos.
Jesus conhecia de antemão "sua hora" de fazer a "passagem" (páscoa) deste mundo para o Pai; conhecendoa, de muito aumentou Seu amor pela humanidade, mas sobretudo por aquele pugilo que O acompanhou amorosamente durante tanto tempo em convivência diária. Nesse momento, preocupado com a vaidade deles, ainda não dominada, cresce seu amor e verifica que falar apenas não adiantaria: era mister um exemplo que chocasse, para que nunca mais fosse olvidada a lição.
E na vida o maior inspirador, o mais eficaz, é sempre o amor: onde existe AMOR, as lições são ensinadas com eficiência absoluta, não tanto pelas palavras, quanto pelos exemplos vividos.
Jesus conhecia "sua hora". Os minutos eram contados. Tendo partido da presença do Pai, da presença do Deus-Da-Terra ou Ancião dos Dias (Melquisedec), sabia que terminara Sua trajetória entre os homens visivelmente na Palestina, e teria que regressar ao Reino do Pai, após Sua passagem pela porta estreita de mais um grau iniciático. Quis ensinar, portanto, ao pequenino grupo dos mais fiéis discípulos, o modo de comportar-se em relação uns com os outros.
Nessa hora, porém, as emoções (Pedro, vol.
1) gritam, sendo reduzidas ao silêncio com argumentação segura: como participar da VIA espiritual, se se apresenta com rebeldia?
A lição é magistral, é divina. Quando ameaçada de não participar da vida espiritual, transformada em sentimento, a emoção sugere ser toda levada. Mas o Mestre anota que os veículos todos já sofreram a catarse essencial (tomaram banho), só sendo mister lavar os pés, ou seja, purificar o veículo mais denso (mais baixo), o corpo físico, que agrega a si a poeira das estradas percorridas na viagem evolutiva, pelos contatos com os companheiros de jornada. A criatura está toda limpa, purificada, mas o físico precisa ainda de rápida purificação externa.
Nesse ponto o Mestre salienta que estão limpos "mas não todos": há entre eles alguém que sofre de terríveis impactos emocionais, lutas homéricas em sua consciência. Estava ele ali, ao lado de seu Mestre, comendo com Ele no mesmo nível de todos os outros, tratado com o mesmo amor. No entanto, sua tarefa dificílima, sua perigosa missão, impunha-lhe o afastamento durante séculos daquele convívio amoroso, pois tinha que entregar seu Amigo para o sacrifício, dando todas as características de uma traição vergonhosa e infamante.
No vale dos espinheiros, tumultuado interiormente, cumprindo sua obrigação com todo o rigor requerido, carregando sua cruz até o fim, não conseguia, entretanto, paz interior: vulcões queimavam-lhe o cérebro e alimentavam a fogueira da dúvida... Deveria mesmo entregar o querido Mestre, ou seria melhor fugir a tudo? Mas, se fugisse, como se daria o indispensável passo iniciático necessário? O
"antagonista" insuflara em seu coração essa hesitação perigosíssima: sua obrigação era cumprir a tarefa de entregar o Mestre; mas suportaria ele, durante séculos, a pecha de "traidor"? E conseguiria ele olhar para seus companheiros que não estavam a par dos meandros da cerimônia? E como o povo beneficiado por Jesus iria tratá-lo?
Dentro dessa tese, perguntam-nos, por vezes, se Jesus conhecia essa missão terrível que fora confiada a Judas; e se, conhecendo-a, não poderia tê-la explicado a seus companheiros do Colégio Iniciático, a fim de aliviar a tensão do discípulo que mais se sacrificaria no Drama do Calvário. Por que, ao contrário, Jesus o acusaria de "levantar contra ele seu calcanhar", fazendo carga junto aos colegas para que alimentassem o maior desprezo por Judas.
Acreditamos que Jesus secretamente deve ter revelado a verdade a Seus discípulos. No entanto, era mister que essa atitude fosse mantida secreta, que a realidade permanecesse oculta, até que soasse a hora de tudo ser revelado. Não teria sido possível justificar a atitude de Judas, senão manifestando aos profanos os segredos iniciáticos. E isso jamais poderia ter ocorrido antes do minuto estabelecido para isso. As aparências tinham que ser salvas. O mistério devia ser guardado a sete chaves. O segredo precisava manter-se oculto. E o foi.
Externamente, para o grande vulgo, Judas sempre apareceu como "o traidor". As palavras de Jesus pareceram duras. A condenação pública dos companheiros foi violenta, foi atroz. Tudo isso fazia parte da missão difícil de Judas, e todo esse sofrimento foi de antemão aceito por seu espírito. Mas tudo tinha que permanecer escondido no cofre sigiloso da "letra" que mata, para que não "fossem dadas pérolas aos porcos nem coisas santas aos cães", isto é, aos profanos que, não podendo alcançar a sublimidade divina das ocorrências, das causas e efeitos, teriam levado sua interpretação para o pólo oposto.
E que o teriam feito, não resta dúvida: com toda a externa e severa condenação da letra escriturística do gesto de Judas, a massa popular e até muitas elites intelectuais e religiosas imitaram e imitam até hoje o papel do "Judas-traidor"! Que não teria havido se seu gesto houvesse recebido pública justificação por parte de Jesus, dos discípulos e dos comentaristas durante esses séculos que nos precederam?
Inegavelmente, o Mestre SABIA, como sempre soube e saberá, a melhor maneira de agir, e nada temos a criticar; antes pelo contrário, ficamos deslumbrados com a sabedoria revelada no modo de apresentar as coisas mais difíceis.
Agora, à distância de quase dois milênios, prestes a soar a hora aprazada para que tudo seja revelado aos que PODEM LER - pois quem "não pode", também "não lê" - compreendemos e admiramos o tato extraordinário e a prudência Daquele que humildemente se ajoelhou diante de Seus discípulos, lavandolhes os pés. Não esqueçamos que os Evangelhos constituem apenas o resumo (cfr. vol.
6) dos ensinos reais de Jesus, escritos para que pudessem ser lidos pelos profanos sem que fossem revelados os" segredos do Reino, que só a vós é revelado" (MC
Hoje, às vésperas das grandes modificações que a Terra e os homens viverão, mister se torna que tudo seja dito, a fim de preparar os fiéis para os passos difíceis que estão chegando.
A frase final revela-nos a veracidade desta interpretação, na frase "digo-vos antes que aconteça para que, quando ocorrer, acrediteis que EU SOU": trata-se da mesma expressão que, em hebraico, se lê YHWH; trata-se do EU PROFUNDO que fala.
Deste passo em diante, a cada novo ensino, sempre mais claro se torna o ensino do EU, manifestação da Divindade em cada um de nós. A conclusão é um exemplo. Mas falaremos mais tarde sobre isso.
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João 13:1
ORA, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim.
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João 13:2
E, acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse,
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João 13:3
Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus,
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João 13:4
Levantou-se da ceia, tirou os vestidos, e, tomando uma toalha, cingiu-se.
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João 13:5
Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
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João 13:6
Aproximou-se pois de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?
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João 13:7
Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.
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João 13:8
Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.
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João 13:9
Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
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João 13:10
Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.
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João 13:11
Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.
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João 13:12
Depois que lhes levou os pés, e tomou os seus vestidos, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
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João 13:13
Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.
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João 13:14
Ora se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.
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João 13:15
Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
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João 13:16
Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
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João 13:17
Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.
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João 13:18
Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar.
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João 13:19
Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou.
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João 13:20
Na verdade, na verdade vos digo: se alguém receber o que eu enviar, me recebe a mim, e quem me recebe a mim recebe aquele que me enviou.
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Salmos 40:10
Não escondi a tua justiça dentro do meu coração; apregoei a tua fidelidade e a tua salvação: não escondi da grande congregação a tua benignidade e a tua verdade.
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Marcos 4:11
E ele disse-lhes: A vós vos é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas.
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Lucas 8:10
E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que, vendo, não vejam, e, ouvindo, não entendam.
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Colossenses 1:26
O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos;
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