O Caminho do Reino

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CAPÍTULO 25

A LIÇÃO DE ZAQUEU - PARTE II

Originariamente, todos somos dotados da Luz de Deus, filhos de Sua providência, herdeiros de Seu poder sem fim. Ao toque salutar da bondade, da misericórdia, da caridade, todo e qualquer coração desviado ou assolado por desgosto se converte, reassumindo sua identidade essencial. Todo o trabalho de Jesus na Terra tem esse escopo, daí suas lições tornarem-se roteiro de iluminação e de santificação para as almas em trânsito entre a animalidade e a angelitude, que o Mestre expressa com inconcebível pureza.

O texto de Lucas, no capítulo 19, discorre sobre um publicano, apresentando notas dignas de análise espiritual, cientes que estamos de que nada se perde quando nos reportamos a Jesus e sua obra...

O relato do médico amigo de Paulo noticia a entrada de Jesus em Jericó, e esta cidade, por si, simboliza os interesses materiais, se a comparamos com Jerusalém, onde se buscava o Templo, ou seja, os interesses espirituais. No báratro dos interesses pessoais, criaturas incontáveis desenvolvem suas percepções intelectuais, para, de algum modo, atingirem as percepções morais. Competições, ambições, desejos e cobiças se mesclam, com propósitos ainda primários, e a resultante é sempre a violência e os embates próprios dos interesses pessoais, até que haja um amanho dos sentimentos e os valores morais definam, para as criaturas, posturas mais éticas, e assim estabeleçam regras para a convivência, buscando harmonização de interesses gerais, coletivos.

Note-se que Zaqueu é qualificado de "varão", ou seja, não é um elemento "passivo", porque é senhor de si e faz o que lhe convém. Era rico, não obstante as críticas e reservas dos circunstantes (os irmãos de raça consideravam-no "pecador"). Nesse passo, temos a observar que mesmo um elemento vicioso, desviado pode apresentar riqueza e muitas habilidades, onde e como está. E a Providência Divina sabe identificá-lo, para incremento de sua evolução em bases espirituais legítimas, como ocorrera a Saulo, que se converteu e, como Paulo, descreveu uma órbita sublime, em prol do Evangelho.

A "multidão" dos interesses (domínio materialista em seu campo mental) não lhe permitia "ver" Jesus - e essa dificuldade prevalece no Mundo para ricos e pobres, letrados e ignorantes, quando os interesses primários da matéria e seus sistemas (labirintos) absorvem as forças do indivíduo, que "se enterra" nos processos existenciais e fica cego por muito tempo: "Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá" (Efésios 5:14).

Outro item da descrição, muito importante, revela a "pouca estatura" de Zaqueu: "Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam" (Hebreus 10:1). Se, como judeu, seguidor da Lei, era "pequeno" (a Lei corrige, mas não santifica - Hebreus 7:19), observemos que ele, Zaqueu, tinha vínculos com os romanos, dentro das trocas materiais, complicando ainda mais sua expressão espiritual (consideravam-no "pecador"). Mas, tocado de algum modo em seus anseios espirituais, "corre adiante", numa atitude de quem sai da acomodação, sai da posição passiva, da posição de menos-valia, lutando por alcançar posição melhor de autopromoção (ele fazia por si mesmo). Usa sua capacidade de cálculo e "sobe num sicômoro", que é uma figueira brava. Esta árvore é a imagem da Lei antiga, e como Zaqueu não tinha altura para a mensagem do Evangelho que, em relação à Lei interpretada pelos judeus, era transcendente, ele "sobe", ou seja, busca se elevar, usando a Lei, ou pelo menos os rudimentos da Lei, segundo ele aprendera e já sabia: "Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção" (Hebreus 9:11-12).

Toda vez que oramos com fervor ou que buscamos o estudo de uma obra recamada de verdades espirituais, subimos nos sicômoros ou nos montes... São momentos em que deixamos Jericó e vamos para Jerusalém: "E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar, à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só" (MT 14:23). Sem vencer a multidão, ou seja, sem aquietar, por dentro de nós, os interesses e preocupações existenciais, não logramos nos elevar para ver e ouvir a mensagem do Pai, através de Jesus.

Por efeito desse movimento, desse esforço de Zaqueu (considerado um homem do mundo), Jesus o "vê" e o orienta: "Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos" (MT 22:14). Precisamos entender que o Criador cuida de todos, mas nem todos desejam estar com o Pai, competindo ao tempo amadurecer os corações, para que se esforcem e façam a sua parte, na busca, na conquista de sua redenção. "Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa".

Com esta determinação de Jesus ao publicano, temos todo um tratado do processo evolutivo a compreender. Ao conversar com Nicodemos, Jesus assinala a reencarnação como condição sine qua non para se alcançar o progresso, a evolução, e define isso, ao dizer: "Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu" (JO 3:13). Zaqueu subiu, mas, para ter mérito, após "ver" Jesus e "ouvir-lhe" a palavra, tem que descer "depressa" dos planos conceptivos e de ideação (superconsciente), a fim de "operar" objetivamente no plano onde a Providência Divina o situara pela reencarnação (consciente). Resumindo: tem que trabalhar na horizontalidade existencial, mas dentro das percepções que alcançou ao lançar mão do conhecimento que tinha da Lei e se elevar ao plano da moral mais pura que a Terra já recebera - o Evangelho. Tem que trazer o "céu" para a "terra", do contrário não há progresso efetivo, não há redenção.

É assim que Jesus "entra" na casa de um pecador, de alguém que estava perdido, pois o Evangelho "entra" no nosso campo mental, que é a nossa "casa mental", e irriga-a com valores divinos, para que, no dia a dia, possamos operar a evolução consciente, refletindo a sabedoria e o amor que o Cristo nos ensinou.

A resultante desse processo de elevação moral, definido na passagem de Zaqueu, é o que se lê a seguir, pois o publicano fez por vontade própria, por retomada de consciência, já que Jesus nada lhe pediu, a não ser "pousar" em sua casa (em seu íntimo): "E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado" (LC 19:8).

A "salvação" é o processo de retorno à casa do Pai, com todas as aquisições adquiridas pelo uso do livre-arbítrio nos domínios da ilusão e dos desvios de toda ordem, porque, ao "se levantar", Zaqueu se posicionou vigorosamente, deixando os "rudimentos" em que se submergia, levando a "essência" de seu aprendizado por onde andou.



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Hebreus 10:1

PORQUE, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam.

hb 10:1
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Hebreus 9:11

Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação,

hb 9:11
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Hebreus 9:12

Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção.

hb 9:12
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João 3:13

Ora ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.

jo 3:13
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Lucas 19:8

E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.

lc 19:8
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Hebreus 7:19

(Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus.

hb 7:19
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Mateus 22:14

Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.

mt 22:14
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