Sabedoria do Evangelho - Volume 2

Versão para cópia
CAPÍTULO 36

O ADULTÉRIO

MT 5:27-32


27. Ouvistes o que foi dito: "não adulterarás"


28. Eu porém vos digo, que todo o que olha uma mulher casada, cobiçando-a, já adulterou com ela em seu coração.


29. Se pois teu olho direito te faz tropeçar, arrancao e lança-o de ti; pois te convém mais que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no vale dos gemidos.


30. Se tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém mais que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no vale dos gemidos.


31. Também foi dito: "quem repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio".


32. Eu porém vos digo, que todo o que repudia sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, a faz ser adúltera; e qualquer que se casar com a repudiada, comete adultério.


LC 16:18


18. Todo aquele que repudia sua mulher e casa Com outra, comete adultério; e quem casa com a mulher repudiada pelo marido, comete adultério.

Neste passo, Jesus esclarece as relações entre os dois sexos, tocando em dois pontos essenciais: o adultério e o divórcio.

Quanto ao primeiro, é ele tratado claramente no decálogo de Moisés (EX 20:14 e DT 5:18), constituindo o sétimo mandamento. Já a tradição rabínica ensinava que o simples olhar de desejo (o movimento do corpo de emoções) constituía de per si o adultério (cfr. Strack-Billerbeck, o. c. , página 299).

Jesus confirma essa opinião, dando a entender que não é o contato dos corpos densos que provoca liga ções cármicas entre duas pessoas (como ainda o julga a humanidade de hoje, convicta de que o "homem é o corpo físico"), Se assim fora, os homens que, em seu estado de solteiro, frequentam criaturas livres, por vezes com várias dezenas ou centenas de variações, arcariam com responsabilidades cármicas intermináveis com todas elas, o que não se dá. Com efeito, sendo o corpo denso uma "casca" externa, o veículo visível básico para movimentação na crosta terrestre, ou seja, o suporte pesado do "esp írito", não são seus contatos físicos que ocasionam carmas. Só as ações espirituais, no domínio espiritual, é que provocam ligações reais, e por isso o pensamento é que realmente produz vibrações capazes de "marcar" o intelecto e o corpo emocional de tal forma, que só resgates futuros possam cancelar.

Dai o aviso sério e oportuno do Mestre a seus discípulos e seguidores, com respeito ao pensamento. De fato, o ato material, de que só participam os veículos inferiores, sem coparticipação espiritual, só traria consequências cármicas se produzisse prejuízos de ordem material ou moral aos atores da peça. Não havendo prejuízo, nada acarretará de nocivo, pois não deixa marcas. O mesmo, todavia, não pode dizerse do pensamento.

Todavia, est modus in rebus: não é qualquer pensamento que cria carma, como não é qualquer semente que cai ao solo que produz árvore. O simples olhar que admira a beleza, julgando-a uma criatura vistosa, bonita, etc., não criará carmas; o que causará vínculos fortes, e portanto carecentes de resgate, é o olhar insistente, que provoca movimentos internos emocionais intensos, chegando por vezes até às sensações, o que demonstra ter atingido a ligação fluídica entre os dois seres (mesmo que um deles o ignore, e por isso fique isento de culpa). Essa força mental em ação tem seu ponto de partida no Espírito, e por isso nele impregna suas consequências, que se imprimem para futuro cancelamento pelo resgate.

Analisemos, agora, o que se entendia por "adultério" na lei mosaica: era a infidelidade da esposa ou da noiva ao seu senhor.

Perante a lei, portanto, só a mulher casada e a noiva podiam cometer adultério. O homem tinha plena liberdade de ação: se tivesse relações sexuais com moças solteiras, nada de mal havia; no máximo, se fosse colhido em flagrante, pagava uma multa de 500 ciclos de prata ao pai da moça e a levava como uma esposa mais (DT 22:28-29), podendo assim ampliar à vontade o seu harém, desde que pudesse sustentá-las todas. Simplesmente, pois, "comprava mais uma propriedade, ao pai, antigo "dono" da donzela.

A mulher é que, se casada, não podia entregar-se a outro homem, pois esse fato constituía um roubo ao marido dela, já que ela era propriedade dele. Por isso o adultério era uma infidelidade ao seu senhor. A lei mosaica mandava que, se eles fossem surpreendidos em flagrante, fossem mortos a pedradas ambos caso a mulher tivesse marido ou noivo (LV 20:10 e DT 22:23); a ela, porque fora infiel a seu dono; a ele, porque lesara uma propriedade alheia.

Jesus não aprova essa barbaridade: prefere o perdão, como vemos em JO 8:1-11.

A seguir vêm dois exemplos, em belas hipérboles literárias. A determinação de olho direito e mão direita é uma concessão à maioria da humanidade, constituída de destros e, além disso, uma minúcia que agrada ao povo.

Lógico que o ato de arrancar o olho e cortar a mão são atitudes morais, e não físicas. Quando comentarmos a segunda vez em que Mateus cita essas palavras do Mestre 18:8-3, reproduzindo-as com maior fidelidade, teremos ocasião de estabelecer o sentido preciso que por Ele foi atribuído a essas afirmativas: veremos que o sentido hiperbólico desce a uma realidade palpável e lógica.

Depois, ligado ainda a esse assunto, vem a questão do repúdio da esposa (jamais o inverso se podia dar!) permitido por lei (DT 24:1), mesmo que o motivo fosse unicamente "não achar graça em seus olhos ou encontrar nela alguma coisa que fosse feia" ...

Jesus continua a autorizar o repúdio da mulher (ou divórcio) e o repete em MT 19:9-10, mas restringe essa atitude ao único caso em que a esposa tenha tido relações sexuais com outro homem (infidelidade).

Nesse caso, o libelo de repúdio a deixaria livre, podendo unir-se ao outro.

Entretanto, se o repúdio não for por causa de infidelidade da esposa, então o marido, pondo-a para fora de casa, a empurraria para o adultério; e quem a acolhesse também cometeria adultério porque, de fato, ela não estaria divorciada, isto é, os vínculos matrimoniais não estariam dissolvidos. Assim também o entende a igreja grega ortodoxa, que afirma: a infidelidade conjugal, por parte da esposa, dissolve os vínculos matrimoniais.

Lucas não cita a exceção: reproduz apenas a regra geral, que proíbe o repúdio.

Nada se fala, entretanto, do caso de uma separação espontânea e voluntária dos dois cônjuges, quando agissem de comum acordo. A prescrição é clara e taxativa: que o homem não cometa a injustiça de repudiar a esposa, depois que viveu com ela; dando quase a entender tratar-se do caso em que ela não quer, e ele a põe pela porta afora. A própria exceção apontada como lícita (quando ela mesma, a esposa, prefere sair de casa para unir-se a outro homem) parece confirmar que, quando o afastamento é voluntário de ambos os lados, nada existe que os impeça de reconquistar a liberdade.

Vamos entrar em considerações mais profundas, como sempre ocorre. No entanto, logo no pórtico, queremos dar um aviso que nos parece de suma importância. Leiam com atenção.

Somos forçados a apresentar o que nos é ditado, mas CUIDADO: não nos responsabilizamos pelos erros de interpretação que cada um faça por sua conta, julgando estar movido pelo Espírito, quando na realidade são apenas as emoções que o movem. Pedimos encarecidamente muito cuidado e prud ência, pois é facílimo o equívoco nestes casos, e não queremos que ninguém adquira carmas, pretendendo posteriormente desculpar-se com o que aqui tiver lido. Cuidado, pois, muito cuidado e nada de ilusões!

Subamos inicialmente a planos mais elevados: Paulo maiora canamus.

A individualidade (Jesus) avisa à nossa personalidade que não podemos tornar-nos adúlteros, isto é, infiéis ao nosso único dono e senhor, que é o Eu Profundo, o Cristo Interno, o Deus Abscónditus; não podemos abandonar a REALIDADE, para idolatrar as formas exteriores de nosso eu pequenino e vaidoso.

Com efeito, no Velho Testamento já YHWH (Jesus) dizia, por intermédio dos profetas (médiuns) essas verdades e empregava o termo "adultério" no sentido preciso de abandonar o culto a YHWH para seguir outros espíritos. Pela boca de Jeremias (Jeremias 9:2) diz YHWH: "oxalá tivesse eu no deserto um albergue de viandantes, para poder deixar meu povo, e afastar-me deles, porque todos eles são adúlteros, uma assembleia de prevaricadores". Com o mesmo sentido vemos a palavra usada por Isaías 57:3-3 e por Ezequiel (16:3-5-38).

Aí se compreende a afirmativa de Jesus: "o que Deus uniu, (a individualidade à personalidade) o homem não separe" (MT 19:6), para prender-se a outros amores, como o dinheiro, a fama. a glória, a política, o intelectualismo, etc. Una-se o homem ao Cristo Interno, que é o verdadeiro esposo da alma, que é UM conosco "formando um só espírito e uma só carne" (MT 19:6). E termina essa lição com a frase enigmática: "e há outros que se fizeram eunucos por causa do reino dos céus: quem puder compreender, que compreenda" (MT 19:12). E mais adiante: "todo o que deixar casas, irmãos, irmãs, pai, mãe e terras por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais (?) e herdará a vida imanente (MT 19:29). Perguntamos: não fosse o sentido que atribuímos a essas palavras, que adiantaria abandonar tudo, para tornar a receber tudo de volta e multiplicado? Trata-se, evidentemente, de frases simbólicas, confirmadas pela outra frase: "procurai em primeiro lugar o reino de Deus e sua perfei ção, e tudo o mais vos será acrescentado" (MT 6:33).


* * *

No entanto, não é só nesse plano - mais real porque espiritual - que vige a lei do adultério. Também a infidelidade pode repercutir no plano da personalidade, pois através dela é que se manifesta a individualidade, isto é, o Espírito.

Precisamos, então, considerar, sob das uniões amorosas.

Logo de início assinalemos que a individualidade condena in totum os movimentos provenientes da pura concupiscência animal, motivada pela atração das formas físicas exteriores e expressa no texto evangélico como o desejo carnal. Para quem já vive na individualidade, no reino do Espírito, ou reino dos céus (e são pouquíssimos!), essa parte foi, de há muito, superada.

De modo geral a humanidade não sabe e não pode ainda fazê-lo: mas há que distinguir entre o Amor que nasce do Eu Profundo e o desejo emocional, que provém das sintomas animais do corpo astral. E a confusão é fácil, porque o Amor que vem do Eu Interno (geralmente com raízes milenares) também se manifesta através dos outros veículos, que lhe são a expressão única possível neste plano terráqueo. Mas o Amor do Espírito é sempre puro, induzindo à união dos Espíritos, independendo das emoções animalizadas.

Também neste plano se aplica o ensino de Jesus (MT 19:6): "o que Deus uniu, o homem não separe".

Com efeito, o Pai, que em cada um se manifesta na Centelha Divina, tende a unir-se pelo amor a todas as demais Centelhas Divinas ("que eles sejam aperfeiçoados na unificação", JO 17:23); mas, ao encontrar sintonia vibratória mais harmônica com outra Centelha que vibra através de outra personalidade (mormente se já vêm as duas há séculos ou milênios numa só caminhada, acompanhando a evolução do Espírito), pode dar-se uma atração irresistível, uma nota uníssona que ressoa num só tom. Quando isto se dá, a unificação das duas Centelhas, mesmo através das personalidades e de seus veículos, é fatal, sobretudo se as vibrações se manifestam em pólos opostos (que se atraem).

Neste caso, embora raríssimo, todos os empeços humanos são superados, pois o homem, seja juiz ou sacerdote, não pode nem deve separar (com suas leis, seus contratos, suas convenções ou preconceitos) o que Deus uniu. A união divina é superior a todos e a tudo, nem está sujeita a quaisquer leis criadas pelos homens.

O grande perigo reside em não saber distinguir-se se o movimento provém do Eu Profundo ou se é ocasionado por uma atração do físico. E como a maioria da humanidade ainda vibra no plano emocional (animal) há necessidade de regras e freios que contenham os abusos.


Eis, pois, alguns sinais que, se existirem todos concomitantemente, podem fazer conhecer se, na realidade, o Amor é Espiritual, isto é, se nasce do Eu Profundo:

1. º - não requer retribuição de espécie alguma, continuando irresistível, firme e sólido mesmo se desprezado e ferido;

2. º - não alimenta qualquer paixão (não é "apaixonado") mas, ao contrário, é equilibrado, e não visa a ligações sexuais físicas, embora estas possam ocorrer como consequência desse amor, mas não como seu objetivo; qualquer fanatismo, porém, é anti-natural;

3. º - embora não seja o primeiro numa existência carnal (pois, de modo geral, o homem evoluído passa por três fases: o amor vital, o amor artístico e o amor místico; já nas mulheres é mais difícil encontrar essas variantes, pois cada uma pertence a um tipo definido: ou é vital, visando à procriação de filhos; ou é artístico, inspirando o homem; ou é místico, elevando-o a Deus, E nele permanece durante toda a existência terrena), é na realidade o único verdadeiro, que prescinde das formas físicas belas ou feias, da idade, da condição social, etc. ;


4. ºmesmo que apareçam outras atrações físicas por outras criaturas encarnadas (em geral mais moças e mais belas), o amor Espiritual permanece com a mesma intensidade, vibrando no plano do espírito:

5. º - não há absolutamente nenhum movimento íntimo de ciúme pois se sabe que só o Espírito vale, nada valendo as formas físicas. E o Amor Espiritual quer a felicidade do ser amado, e não, egoisticamente, a própria felicidade;

6. º - O Amor Espiritual supera todos os defeitos (físicos e morais) do ser personalístico, não os levando jamais em consideração: é como se não existissem, pois ama-se o espírito, a individualidade, e a personalidade é apenas uma casca exterior que hoje existe e amanhã termina;

7. º - jamais se leva em conta qualquer sacrifício que seja necessário fazer para o benefício espiritual da criatura amada, não se aceitando qualquer retribuição, nem se magoando se não houver gratidão: a alegria da doação é pela doação em si, não pelo resultado que daí possa advir;

8. º - nenhum outro ser poderá ocupar, no Espírito que ama, o lugar do Espírito amado, embora a personalidade possa ligar-se, temporariamente, a outras personalidades. Mas o ser amado é insubstituível e indispensável à vida espiritual;

9. º - para a felicidade espiritual do ser amado, o Espírito que ama sabe usar, se necessário, de rigor, energia e até rudeza, a fim de corrigir-lhe os defeitos da personalidade que lhe prejudicam a evolução do Espírito;

10. º - a franqueza e lealdade entre os dois é absoluta e não há jamais segredos entre ambos, pois a vida de um é um livro aberto diante do outro, mesmo quando se trate dos movimentos mais íntimos e ocultos. Por isso, onde um procura ocultar do outro qualquer coisa que seja, o amor não é espiritual.

Isso vale para o campo espiritual (experiências íntimas), para o intelectual (conhecimentos), para o emocional (amores), para o etérico (sensações) e para o físico: em nenhum plano há segredos e coisas escondidas: tudo é encarado com a maior naturalidade, porque, na realidade, os dois constituem um só Espírito é um só corpo.

Numa palavra, em síntese: o Amor Espiritual é o que sempre dá e se doa, sem jamais pretender receber e sem magoar-se nem diminuir seu amor, se deixar de receber em qualquer campo.


* * *

Outro passo adiante devemos dar. Quando o amor é realmente do Espírito, proveniente das Centelhas Divinas, muito mais fácil se torna o Encontro Supremo na união das duas Centelhas, através dos veículos manifestantes. Esse é o verdadeiro e real Esponsalício Místico, e a união é realizada em prece, que circunda o Espírito de celestial aura, e durante a qual os corpos são esquecidos e quase não sentidos, percebendo-se apenas a fusão mística do eu pequeno com o Eu Profundo. A personalidade experimenta a sensação de haver mergulhado num vácuo de luz, produzindo-se um relâmpago que supera quaisquer emoções e sensações etéricas; o Espírito expande-se fora do tempo e do espaço, perdendo totalmente a noção da matéria, e entra em êxtase, consumido pelo Fogo do Amor Divino, como que perdido na vastidão do infinito.

Daí ter escrito Paul Brunton: "A união permanente com outrem só existe quando se descobriu o Eu Permanente" ("La Sagesse du Moi Supreme", página 143).

A fim de comprovar que essa teoria não é nossa, apresentamos uma transcrição, embora algo longa, do jesuíta Padre Pierre Teilhard de Chardin - O Padre Teilhard de Chardin, Jesuíta, foi um dos maiores cientistas de nosso século, no domínio da geologia e da antropologia, tendo descoberto o "homo pekinensis" em suas pesquisas. Portanto, profundo teólogo "doublé" de abalisado homem de ciência, justamente no ramo específico do estudo da evolução humana na terra - extraída de sua obra "L’énergie humaine". Vejamos suas palavras textuais: " Que a sexualidade teve primeiramente a função dominante de assegurar a conservação da espécie, não há dúvida... Mas desde o instante crítico da Hominização, outra função, mais essencial, foi atribu ída ao amor - função de que apenas começamos a ver a importância: quero dizer a síntese necessária dos dois princípios masculino e feminino na edificação da personalidade (segundo nosso modo de classificação, deve ler-se: na edificação da INDIVIDUALIDADE) humana. Nenhum moralista nem psicólogo jamais duvidou que os dois encontrassem uma complementação mútua no jogo da função reprodutora. Mas esse término era considerado até agora como efeito secundário, acessoriamente ligado ao fenômeno principal da geração. Agora, se me não engano, a importância dos fatores, de acordo com as Leis do universo pessoal, tem que inverter-se: O homem e a mulher para o filho - ainda, e por muito tempo, enquanto a vida terrestre não tiver chegado à maturidade. Mas o homem e a mulher um para o outro, cada vez mais e para sempre... Se o homem e a mulher existem são principalmente uma para o outro, então compreendemos que, quanto mais se humanizarem, tanto mais sentem, só por isso, uma necessidade major de aproximar-se... No indivíduo humano a Evolução não se fecha: continua mais longe, para uma concentração mais perfeita, ligada à diferenciação ulterior, ela mesma conseguida pela união. Pois bem, diríamos, a mulher é, precisamente, para o homem, o termo susceptível de produzir esse movimento para o alto. Pela mulher, e só pela mulher, pode o homem escapar ao isolamento, em que sua perfeição arriscaria prendê-lo. Então é mais rigorosamente exato dizer que a malha do Universo é, para nossa experiência, a Mônada pensante. A molécula humana completa já é, agora, um elemento mais sintético, e portanto mais espiritualizado do que a pessoaindiv íduo - ela é uma dualidade, composta ao mesmo tempo do masculino e do feminino. E aqui aparece em sua amplitude, a função cósmica da sexualidade. Ao mesmo tempo vemos aqui as regras que nos guiarão na conquista dessa energia terrível em que passa, através, de nós, em linha direta, a pot ência que faz convergir sobre si mesmo o Universo. A primeira dessas regras é que o amor, conforme as leis gerais da união criadora, serve à diferenciação dos dois seres que ele aproxima. Portanto, nem um deve absorver o outro nem, menos ainda, perderem-se os dois nos gozos da posse corporal, que significaria queda no plural e volta ao nada. É a experiência corrente. Mas só se compreende bem isso nas perspectivas do Espírito-Matéria. O amor é uma conquista aventurosa: só se mantém e desenvolve, como o próprio Universo, por uma perpétua descoberta. Então só se amam legitimamente aqueles cuja paixão os conduz, a ambos, e um através do outro, a uma posse maior de seu ser. Assim, a gravidade das faltas contra o amor não é ofender não sei que pudor ou que virtude: mas desperdiçar, por negligência ou volúpia, as reserva da personalização do Universo. Esse desperdício é que explica as desordens da "impureza". E ele ainda, em grau mais elevado nos desenvolvimentos da união, conduz a uma alteração mais sutil do amor: quero dizer o "egoísmo a dois" ... Em virtude do mesmo princípio que obriga os elementos "simples" a completar-se no par, deve também o par continuar além de si os acréscimos que seu crescimento requer. E isto de duas maneiras: de um lado procurando, fora, outros grupamentos da mesma ordem aos quais associar-se; de outro lado, o CENTRO para os quais os dois amantes convergem, ao unir-se, deve manifestar sua personalidade no coração mesmo do círculo em que buscaria isolar-se sua união. Sem sair de si, o casal só acha seu equilíbrio num terceiro acima dele. Que nome daríamos a esse "intruso" misterioso? Enquanto os elementos sexuados do Mundo não haviam atingido o estado da personalidade, a progenitura podia representar a única realidade em que, de qualquer modo, se prolongavam os autores da geração. Mas logo que o amor começou a aparecer, não só entre os pais, mas entre duas pessoas, então teve que descobrir-se, mais ou menos confusamente, acima dos amantes, o TERMO final em que seriam, ao mesmo tempo salvas e consumidas, não só a raça como sua personalidade... E então aparece como necessário à consolidação do amor, muito mais que o filho, o CENTRO TOTAL em si mesmo. O amor é uma função a três termos: o homem, a mulher e Deus. Toda sua perfeição e seu êxito estão ligados ao balanceamento harmonioso desses três elementos".

A citação está longa, mas explica bem nosso pensamento. Continuemos lendo Teilhard de Chardin: "Manifesta-se aqui uma grande diferença entre os resultados aos quais leva nossa análise de um Universo pessoal, e as regras admitidas pelas antiga moral. Para esta, pureza era geralmente sinônimo de separação dos sexos. Para amar, era indispensável renunciar. Um termo expelia o outro. O "binômio" homem-mulher era substituído pelo binômio homem-Deus (ou mulher-Deus): essa era a lei da suprema virtude. Muito mais gera! e satisfatória parece-nos ser a fórmula que respeita a associação dos três termos em conjunto. A pureza, diremos nós, exprime simplesmente a maneira mais ou menos distinta em que se manifesta, acima dos seres que se amam, o Centro Último de sua coincidência. Não é mais questão de renunciar, mas apenas de unir-se a um maior do que si mesmo. O mundo não se diviniza por supressões, mas por sublimação. Sua santidade não é feita por eliminação mas por concentra ção das seivas da Terra. Assim se realiza, uma nova ascese - muito mais laboriosa, mas mais compreensível e operante que a antiga - a noção do Espírito-Matéria. Sublimação: então conservação; mas também, e mais ainda, transformação. Se é verdade que o homem e a mulher se unirão tanto mais a Deus, quanto mais se amarem um ao outro - não é menos certo que quanto mais se unirem a Deus, mais se verão conduzidos a amar-se de maneira mais sublime. Em que direção imaginaremos que se efetuará essa evolução ulterior do amor? Sem dúvida para uma diminuição gradual do que ainda representa (e necessariamente) o lado admirável, mas transitório, da reprodução. A Vida nós o admitimos, não se propaga apenas por propagar-se, mas para acumular elementos necessários à sua personalização. Então, quando se aproximar para a Terra a maturação de sua Personalidade, os Homens terão que reconhecer que para eles não haverá simplesmente a questão de controlar os nascimentos; mas que importa sobretudo dar plena expansão à quantidade de amor, liberto do dever da reprodução. Sob a pressão dessa nova necessidade, a função essencialmente personalizante do amor se desligará mais ou menos totalmente do que foi, em certo tempo, o órgão da propagação, a "carne".

Sem cessar de ser físico, para ficar no físico, se fará mais espiritual. O sexo, para o homem, se expandir á no puro feminino. Não é este, na realidade, o sonho mesmo da castidade? Pelo amor do homem e da mulher, liga-se um fio que se prolonga diretamente ao coração do Mundo", (página 91:97): (todos os grifos são nossos).

Mas reproduzamos mais algumas linhas, da mesma obra: "O Amor é a mais universal, a mais formid ável e a mais misteriosa das energias cósmicas" (pág. 40). E ainda: "É o universo que realmente caminha para o homem através da mulher: toda a questão (questão vital para a Terra...) é que eles o saibam" (pág. 41). E mais: "Que o homem perceba a Realidade Universal que brilha espiritualmente através da carne, e descobrirá a razão do que, até então, o decepcionava e atrapalhava seu poder de amar. Diante dele está a mulher como a atração e o Símbolo do Mundo: ele só poderá abraçá-la, enSABEDORIA DO EVANGELHO grandecendo-se por sua vez até a medida do Mundo" (pág. 194). E: "a lei geral e suprema da moralidade é: limitar a força (o amor), eis o pecado" (pág. 134).

No momento supremo da união das Centelhas, há um átimo em que as criaturas se sentem "morrer", desaparecendo a consciência da personalidade; nesse átimo sublime o centro da existência se fixa no coração e "a personalidade se transforma em impersonalidade", sentindo, a seguir, a sensação de" haver nascido de novo". Estas últimas expressões aspeadas são de outro autor, Paul Brunton (em sua obra "À la Recherche du Soi Suprême"). Aí ainda lemos (pág. 239): "Se o Ser Supremo não fosse a mais alta forma de felicidade possível para o homem, este nada aproveitaria de seus prazeres; com efeito, no instante em que o prazer atinge o clímax, esse é o instante em que ele abandona, ao mesmo tempo, seu desejo que está satisfeito e o ego, que está na raiz do desejo: então, involuntariamente, no espaço de um relâmpago, ele faz a experiência da Supraconsciência. Nesse instante experimenta o mais alto grau de prazer que lhe possa dar a realização de um desejo particular". Mais adiante escreve esclarecendo sua ideia: "O ponto essencial a fixar, é que num relâmpago repentino de desapego (depois que o prazer sensual ou o desejo está satisfeito), numa fração infinitesimal de segundo, surge docemente essa suprema felicidade que a alma do homem irradia. A sensação de desaparecimento do eu pessoal produz um estado extraordinário e único de libertação. No momento em que o desejo é satisfeito o eu se sente livre de um fardo e por certo tempo, o mental volta realmente à sua fonte secreta, e experimenta a felicidade da Supraconsciência" (pág. 240).

Ora, se isso ocorre com os homens comuns, sem que eles o saibam, que não ocorrerá com aqueles que já experimentaram o Encontro Sublime?

De tudo isso se conclui, finalmente, que Jesus sabia o que dizia, quando afirmou: "0 que Deus uniu, o homem não separe".



Este texto está incorreto?

Veja mais em...

Mateus 5:27

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.

mt 5:27
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:28

Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.

mt 5:28
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:29

Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.

mt 5:29
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:30

E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.

mt 5:30
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:31

Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, dê-lhe carta de desquite.

mt 5:31
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:32

Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.

mt 5:32
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa



Deuteronômio 22:28

Quando um homem achar uma moça virgem, que não for desposada, e pegar nela, e se deitar com ela, e forem apanhados,

dt 22:28
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Deuteronômio 22:29

Então o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta siclos de prata: e porquanto a humilhou, lhe será por mulher: não a poderá despedir em todos os seus dias.

dt 22:29
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Levítico 20:10

Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera.

lv 20:10
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Deuteronômio 22:23

Quando houver moça virgem, desposada com algum homem, e um homem a achar na cidade, e se deitar com ela,

dt 22:23
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:1

PORÉM Jesus foi para o monte das Oliveiras;

jo 8:1
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:2

E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava.

jo 8:2
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:3

E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério;

jo 8:3
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:4

E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando,

jo 8:4
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:5

E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu pois que dizes?

jo 8:5
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:6

Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.

jo 8:6
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:7

E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.

jo 8:7
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:8

E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.

jo 8:8
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:9

Quando ouviram isto, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.

jo 8:9
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:10

E, endireitando-se Jesus e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?

jo 8:10
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 8:11

E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno: vai-te, e não peques mais.

jo 8:11
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 19:9

Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.

mt 19:9
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 19:10

Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.

mt 19:10
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Deuteronômio 24:1

QUANDO um homem tomar uma mulher, e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela achar cousa feia, ele lhe fará escrito de repúdio, e lho dará na sua mão, e a despedirá da sua casa.

dt 24:1
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Jeremias 9:2

Oxalá tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! então deixaria o meu povo, e me apartaria dele porque todos eles são adúlteros, e um bando de aleivosos.

jr 9:2
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Isaías 57:3

Mas chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira, semente adulterina e de prostituição.

is 57:3
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 19:6

Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto o que Deus ajuntou não o separe o homem.

mt 19:6
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 19:12

Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.

mt 19:12
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 19:29

E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna.

mt 19:29
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 6:33

Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

mt 6:33
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 17:23

Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.

jo 17:23
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa