Colheita do Bem
Versão para cópiaMaterialização e desmaterialização
23/11/1949
Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, concedendo-lhes muita paz, saúde e alegria.
Acompanho-lhes as referências sobre a matéria e, como não podia deixar de ser, mais vale tomar o assunto por tema central da noite para seguirmos com nosso intercâmbio de experiências.
O problema da , meu caro Rômulo, não pode ser colocado por mim em termos técnicos. Esperemos que outros amigos mais voltados para esse campo de observações se expressem, mais tarde, com respeito aos “enigmas científicos” que naturalmente preocupam o Espírito encarnado, mesmo porque em nossa Esfera de ação os “labirintos” não são menores. O que lhe adianta, meu filho, é que se a vida deve ser considerada por um todo ascendente em seus característicos de aprimoramento e eternidade, o Universo, englobando o infinito dos mundos, deve ser interpretado por organismo vivo, sem solução de continuidade, isto é, sem vácuos, nas suas manifestações diversas, em múltiplos ângulos da Criação.
A matéria e o Espírito são duas realidades, a nosso ver, sem fronteiras absolutas. Não sabemos, ainda, onde começa uma e termina o outro. Na crosta da Terra, as descobertas permanecem incipientes. Somente agora é que a mente honesta e indagadora enceta o labor da perquirição justa. A matéria, para vocês, é por enquanto tão “nebulosa” quanto o Espírito em si mesmo e, em “nosso lado” o avanço das inteligências de minha condição não vai muito além das linhas em que os seus próprios conhecimentos permanecem situados. De modo geral, chegamos ao “plano imediato ao dos encarnados” em dilacerante posição mental. O fenômeno “dor”, sob variados matizes, não dá largos ensejos à penetração nos domínios da sabedoria e quando o desequilíbrio dessa ordem não predomina, quando é possível estabelecer relativa tranquilidade no coração, as exigências do amor nem sempre nos permitem a atenção concentrada com tais assuntos.
Para a maioria dos habitantes do meu círculo de ação o tempo é escasso para organizar o “recomeço”, tanto quanto para vocês aí as horas são demasiadamente exíguas para o trato com todas as questões concernentes à “partida para cá”. E nesses imperativos de reforma íntima, objetivando-se maior aproveitamento da oportunidade futura, não há ensanchas para trabalhos analíticos. Afirmo, porém, a você que a eletricidade e o magnetismo estão por agora apenas levemente vislumbrados entre os homens e que a matéria que lhes serve de base à luta evolutiva ainda é grande desconhecida. Leis de vibração presidem a integração e a desintegração dos átomos em todos os ângulos da vida e em nos referindo ao assunto estimaria poder transmitir-lhes certas lições que vamos estudando sobre os poderes do pensamento. Esses poderes são tão grandes e de tamanha importância sobre a vida material em todos os reinos da natureza — a visível e a invisível — que não nos é dado expressar algumas de nossas experiências em terminologia terrestre, porque não só nos faltam recursos analógicos para o cometimento, como também as ordenações superiores acreditam que a revelação perturbaria o clima do progresso humano, por prematura e suscetível de favorecer a ignorância e a maldade. Creia, porém, que os fenômenos de “conversão”, como denominamos as trocas entre os dois Planos, se verificam incessantemente. Pelo crivo da química orgânica, milhões de vidas surgem aqui por morrerem aí, e vice-versa. O movimento é constante. Não há paradas na ação, tanto quanto não há hiatos no espaço. Mas, em me reportando aos problemas dessa natureza, desejo somente destacar o poder de intervenção da nossa inteligência onde estivermos.
A vontade é poderoso fator de prosperidade e decadências. Através do pensamento próprio, cada espírito cria, destrói e recompõe no presente e no futuro. Nossas ideias são sinais, nossos ideais, turbilhões de força atrativa. Em torno de cada criatura jazem os materiais invisíveis que ela própria deseja e que torna visíveis na Esfera de vocês através da assimilação mental, perispirítica e física.
A alma, onde quer que se encontre, está desejando e por isso mesmo criando, em processos de cooperação com o sumo Poder que rege a vida eterna.
Todos os dias materializamos e desmaterializamos coisas diversas. Essa faculdade do ser que já alcançou a zona da razão é exercida com tanta naturalidade quanto o ato de respirar. Daí a necessidade de nos inclinarmos à renovação com o bem. Nesse sentido, o aprendiz do Evangelho nada mais faz, quando é sincero e operoso, que levar aos padrões vivos do divino Mestre os materiais de que dispõe, dentro de si mesmo, reestruturando-o gradativamente, até que possa sintonizar-se com o Senhor de maneira integral.
Eu sei que com essas observações não trouxe à superfície qualquer definição técnica ou particularizada com respeito à matéria, mas o “modus operandi” das agregações e desagregações atômicas não pode mesmo, agora, ainda que lhes guardássemos todas as chaves, ser oferecido à apreciação geral. Urge preparar, estudar e aperfeiçoar muitos aspectos da experiência em que marchamos. Baste-nos, por enquanto, a consoladora certeza de que cada Espírito é pai e filho das próprias obras e que sendo livre para fazer é constrangido a suportar os efeitos ou obrigado a recolher os frutos de suas ações infelizes, compreendendo-se, pois, que nós todos somos independentes na sementeira e escravos na colheita. Essa é a grande lição que estou aprendendo e que desejo sempre progressiva. Não podemos trair a natureza, ainda mesmo quando se cogite de obras beneficiárias do campo coletivo. Noto, assim, que o nosso amigo tende a inclinar-se por uma reclusão benéfica em instituição de caridade evangélica, na hipótese de surgir-lhe imperioso o período de reajustamento, que nenhum de nós poderá prever e, embora não saibamos quando semelhante decisão poderia ocorrer, mesmo porque todos pedimos ao Alto para que a “moratória” seja mais longa e mais valiosa, creio que tal deliberação só poderá merecer a nossa simpatia e entendimento.
Aqueles que não puderam encontrar nas linhas do sangue o que o sangue lhe deve, por direito a obrigações assumidas, naturalmente precisará procurar com os afins as bases da sustentação natural. Nesse sentido, pois, meu filho, estamos diante de um problema justo e compreensível, porquanto, no capítulo da medicação, quem poderá deter um corredor em pleno prado, na hora psicológica do pódio, para dar-lhe uma injeção ou uma pílula? O nosso companheiro, em matéria de mediunidade, permanece nessa posição. Só Jesus, o grande Juiz, pode fazer algo e para ele apelamos.
Os obstáculos não são singelos, porque a persistência gera confiança e o médium é hoje depositário dos créditos espirituais de muitos, mas também o arquivo de um sem número de aflições de milhares de pessoas. Quanto à sua posição à frente do centro de Pedro Leopoldo, consideramo-la justa e louvável. É necessário congelar a idolatria, fugir aos pedestais e convocar todos ao trabalho, que realmente é de todos. As nossas impressões à carta de 14 de setembro deste ano não particularizam. O santuário é obra coletiva e como tal deve ser considerado, crendo mesmo que, na expressão material do instituto, deve ser o médium absolutamente alheio a qualquer detalhe que poderia induzir a um cativeiro incessante e destruidor de reconhecimentos pessoais, quando, na essência, “quem dá deve fazê-lo com espontaneidade e alegria”.
Esse o caso em questão, sobre o qual vocês vêm refletindo, sem talvez considerar todos os antecedentes da luta em que uma organização psíquica foi demasiadamente forçada a ceder de si mesma, aliás, com muito proveito e alegria para si própria e para nós todos que a estimamos. Quanto a remédios, não descreia o nosso amigo de nossa colaboração. Diariamente, recebe o nosso concurso, serviço natural a pretexto de garantir-se. Ajude a si mesmo, trabalhe, ampare-se e distraia-se quanto possível para desintoxicar o sistema nervoso, cujo congestionamento de fluidos estranhos e pesados lhe oferece mais alta quota de sacrifício à força visual, e esperemos pela manifestação do Senhor. Não desejamos que entre vocês se estabeleçam pontos desarmônicos. Haja o que houver, aprendamos a sentir que a vontade de Jesus permanece conosco e cada vez que encontrarem um dos livros aqui recebidos rendamos graças a Deus por havermos convertido o presente numa lavoura em que o coração e a mente de todas as criaturas foram lembrados, sem ideia de recompensa e sem homenagens à fadiga e à doença.
Realmente, não ocultamos. As suas possibilidades visuais estão ameaçadas e a sua jornada de refazimento pode ser longa e laboriosa. Mas preferimos tratar esse assunto com franqueza e amizade, porque no santuário é útil que o bom aviso ajude sempre. E entre nós todas as questões têm sido debatidas com espírito de compreensão, respeito mútuo e fraternidade. Que Jesus nos abençoe.
A carta vai longa e devo terminar. Se preciso, voltaremos mais tarde ao assunto [v. ]. Assim será necessário, porque se muita gente recebe os frutos e consome-os, acreditando haver adquirido a utilidade a preço de metal efêmero, há no Alto quem se compadeça da árvore e lhe renove a seiva e lhe garanta as escoras em silêncio.
Guardem o coração e o abraço muito afetuoso do papai que não os esquece,
Essa mensagem foi publicada também em 1972 pela editora LAKE e é a 17ª lição do livro: “”.
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