Vozes do Grande Além

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Capítulo XLV

Caridade na boca


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Reunião da noite de 19 de abril de 1956.

O encerramento de nossas tarefas trouxe-nos a presença do amigo José Xavier, que, com a sua maneira peculiar de dizer, pronunciou a interessante alocução poética que vamos ler.


Amigos, embora seja

A minha frase mal posta,

Recordemos a palavra

De Pedro da Rocha Costa.


Inda agora o nosso Ênio

Releu com toda a atenção

O ensinamento do Mestre,

Referente à compaixão.


Contra a guerra persistente

Da maldade estranha e louca,

Adotemos a campanha

Da caridade na boca.


O Espiritismo é doutrina

De bênçãos do amor cristão,

Que nos pede cada dia

Mais ampla renovação.


Renovação, entretanto,

Quer dizer em toda idade

Constante esforço no bem,

Perdão e boa vontade.


Mas muitos de nós mantemos

O vício gritante e feio

De comentar com volúpia

Os infortúnios alheios.


Onde a desculpa escasseia,

De luz a paz morre à míngua.

Usemos, pois, com cuidado

A força de nossa língua.


“Palavras o vento leva”

— Exclama velho rifão.

Mas há palavras que esmagam

A vida do coração.


Ditamos afirmativas,

Em tom carinhoso e ameno,

Que valem por temporais

De lodo, lama e veneno.


De outras vezes, nosso verbo

Parece robusto e forte,

Mas reduz-se a sabre firme,

Abrindo chagas de morte.


Há línguas de acento nobre

Em que a eloquência não falha,

Que vergastam como açoite

E cortam mais que navalha.


Há muita boca elegante,

Aveludada de arminho,

Que cospe na caminhada

Corda e pedra, fogo e espinho.


É que na Terra esquecemos,

Na sombra de nosso trato,

Que, além da morte, encontramos

O nosso próprio retrato.


Caridade!… Caridade!…

Quanta fala escura e inversa!.

Quem deseja auxiliar

Principia na conversa.


Não olvidemos na vida,

Na sede de luz total,

Que a boca maledicente

É uma oficina infernal.


Toda frase escura e torpe,

De que o torvo mal se ceva,

É uma força vigorosa

Que estende o poder da treva.


Quanto ao mais, Deus nos ajude

A guardar a Lei de cor,

Procurando em Jesus-Cristo

A nossa vida maior.


E, ao despedir-me, repito

Para o que der e vier:

Guardai convosco a amizade

Do irmão José Xavier.




JOSÉ XAVIER — Devotado companheiro da Seara Espírita, no Centro Espírita “Luiz Gonzaga”, em Pedro Leopoldo, desencarnado em 1939.


De Pedro da Rocha Costa — Refere-se nosso amigo ao comunicante da reunião precedente. [v. “”]


Nosso Ênio — Reporta-se o companheiro ao nosso amigo Ennio Santos, da equipe do Grupo Meimei, que, no início das tarefas, havia lido um trecho do Evangelho, acerca do perdão.



José Xavier
Francisco Cândido Xavier

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