Evangelho por Emmanuel, O – Comentários às Cartas Universais e ao Apocalipse
Versão para cópiaAgradecimentos
Ao chegarmos ao sétimo e último volume da coleção O Evangelho por Emmanuel, é preciso reconhecer que grandes e pequenas contribuições se somaram neste que é o resultado de muitas mãos e corações. Por isso, queremos deixar grafados aqui nossos agradecimentos.
Em primeiro lugar, queremos registrar nossa gratidão a Federação Espírita Brasileira, particularmente à diretoria da instituição, pelo apoio e incentivo com que nos acolheram; às pessoas responsáveis pela biblioteca e arquivos, que literalmente abriram todas as portas para que tivéssemos acesso aos originais de livros, revistas e materiais de pesquisa, e à equipe de editoração, pelo carinho, zelo e competência demonstrados durante o projeto.
Aos nossos companheiros e companheiras da Federação Espírita do Distrito Federal, que nos ofereceram o ambiente propício ao desenvolvimento do estudo e reflexão sobre o Novo Testamento à luz da Doutrina Espírita. Muito do que consta nas introduções aos livros e identificação dos comentários tiveram origem nas reuniões de estudo ali realizadas.
Aos nossos familiares, que souberam compreender-nos as ausências constantes, em especial aos nossos filhos Ana Clara, João 5itor e Arthur que nasceu enquanto trabalhávamos neste último volume. Por mais de uma vez eles tiveram a paciência de aguardar nossas longas reuniões de pesquisa, compilação, conferência e preparação de textos. Muito do nosso esforço teve origem no desejo sincero de que os ensinos aqui compilados representem uma oportunidade para que nos mantenhamos cada vez mais unidos em torno do Evangelho.
A Francisco Cândido Xavier, pela vida de abnegação e doação que serviu de estrada luminosa por meio da qual foram vertidas do alto milhares de páginas de esclarecimento e conforto que permanecerão como luzes eternas a apontar-nos o caminho da redenção.
A Emmanuel, cujas palavras e ensinos representam o contributo de uma alma profundamente comprometida com a essência do Evangelho.
A Jesus, que, na qualidade de Mestre e Irmão Maior, soube ajustar-se a nós, trazendo-nos o Seu sublime exemplo de vida e fazendo reverberar em nosso íntimo a sinfonia imortal do amor. Que a semente plantada por esse Excelso Semeador cresça e se converta na árvore frondosa da fraternidade, sob cujos galhos possa toda a humanidade se reunir um dia.
A Deus, Inteligência Suprema, causa primeira de todas as coisas e Pai misericordioso e bom de todos nós.
Apresentação
O constitui uma resposta sublime de Deus aos apelos aflitos das criaturas humanas.
Constituído por 27 livros, que são: os 4 , 1 , 1 carta do apóstolo Paulo , 2 , 1 , 1 , 1 , 1 , 2 , 2 , 1 , 1 , 1 , 1 , 2 , 3 , 1 e o .
A obra, inspirada pelo Senhor Jesus, que vem atravessando os dois primeiros milênios sob acirradas lutas históricas e teológicas, pode ser considerada como um escrínio de gemas preciosas que rutilam sempre quando observadas.
Negada a sua autenticidade por uns pesquisadores e confirmada por outros, certamente que muitas apresentam-se com lapidação muito especial defluente da época e das circunstâncias em que foram grafadas em definitivo, consideradas algumas como de natureza canônica e outras deuterocanônicas, são definidas como alguns dos mais lindos e profundos livros que jamais foram escritos. Entre esses, o , portador de beleza incomum, sem qualquer demérito para os demais.
Por diversas décadas, o nobre Espírito Emmanuel, através do mediumato do abnegado discípulo de Jesus, Francisco Cândido Xavier, analisou incontáveis e preciosos versículos que constituem o Novo Testamento, dando-lhe a dimensão merecida e o seu significado na atualidade para o comportamento correto de todos aqueles que amam o Mestre ou o não conhecem, sensibilizando os leitores que se permitiram penetrar pelas luminosas considerações.
Sucederam-se centenas de estudos, de pesquisas preciosas e profundas, culminando em livros que foram sendo publicados à medida que eram concluídos.
Nos desdobramentos dos conteúdos de cada frase analisada, são oferecidos lições psicológicas modernas e psicoterapias extraordinárias, diretrizes de segurança para o comportamento feliz, exames e soluções para as questões sociológicas, econômicas, étnicas, referente aos homens e às mulheres, aos grupos humanos e às Nações, ao desenvolvimento tecnológico e científico, às conquistas gloriosas do conhecimento, tendo como foco essencial e transcendente o amor conforme Jesus ensinara e vivera.
Cada página reflete a claridade solar na escuridão do entendimento humano, contribuindo para que o indivíduo não mais retorne à caverna em sombras de onde veio.
Na condição de hermeneuta sábio, o nobre Mentor soube retirar a ganga que envolve o diamante estelar da revelação divina, apresentando-o em todo o seu esplendor e atualidade, porque os ensinamentos de Jesus estão dirigidos a todas as épocas da humanidade.
Inegavelmente, é o mais precioso conjunto de estudos do evangelho de que se tem conhecimento através dos tempos, atualizado pelas sublimes informações dos Guias da sociedade, conforme a Revelação Espírita.
Dispondo dos originais que se encontram na Espiritualidade superior, Emmanuel legou à posteridade este inimaginável contributo de luz e de sabedoria.
Agora enfeixados em novos livros, para uma síntese final, sob a denominação O Evangelho por Emmanuel, podem ser apresentados como o melhor roteiro de segurança para os viandantes terrestres que buscam a autoiluminação e a conquista do reino dos Céus a expandir-se do próprio coração.
Que as claridades miríficas destas páginas que se encontram ao alcance de todos que as desejem ler, possam incendiar os sentimentos com as chamas do amor e da caridade, iluminando o pensamento para agir com discernimento e alegria na conquista da plenitude!
Salvador (BA), 15 de agosto de 2013.
N. E.: Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na Mansão do Caminho, em Salvador, Bahia.
Prefácio
O é a base de uma das maiores religiões de nosso tempo. Ele traz a vida e os ensinos de Jesus da forma como foram registrados por aqueles que, direta ou indiretamente, tiveram contato com o Mestre de Nazaré e sua mensagem de amor que reverbera pelos corredores da história.
Ao longo dos séculos, esses textos são estudados por indivíduos e comunidades, com o propósito de melhor compreender o seu conteúdo. Religiosos, cientistas, linguistas e devotos, de variados credos, lançaram e lançam mão de suas páginas, ressaltando aspectos diversos, que vão desde a história e confiabilidade das informações nelas contidas, até padrões desejáveis de conduta e crença.
Muitas foram as contribuições, que ao longo de quase dois mil anos, surgiram para o entendimento do Novo Testamento. Essa, que agora temos a alegria de entregar ao leitor amigo, é mais uma delas, que merece especial consideração. Isso porque representa o trabalho amoroso de dois benfeitores, que, durante mais de sessenta anos, se dedicaram ao trabalho iluminativo da senda da criatura humana. Emmanuel e Francisco Cândido Xavier foram responsáveis por uma monumental obra de inestimável valor para nossos dias, particularmente no que se refere ao estudo e interpretação da mensagem de Jesus.
Os comentários de Emmanuel sobre o Evangelho encontram-se espalhados em 138 livros e 441 artigos publicados ao longo de trinta e nove anos nos periódicos Reformador e Brasil Espírita. Por essa razão, talvez poucos tenham a exata noção da amplitude desse trabalho, que totaliza 1.616 mensagens sobre mais de mil versículos. Além dos comentários aos versículos, os relatos presentes no livro Paulo e Estêvão, que fazem paralelo ao texto de At, constituem um inestimável material de estudo sobre o Evangelho.
Todo esse material foi agora compilado e organizado em uma coleção, cujo 7º e último volume é o que ora apresentamos ao público. Foram incluídos todos os comentários que indicavam os versículos de maneira destacada ou que a eles faziam referência no título ou no corpo da mensagem.
Essa coletânea proporciona uma visão ampliada e nova do que representa a contribuição de Emmanuel, para o entendimento e resgate do Novo Testamento. Em primeiro lugar, porque possibilita uma abordagem diferente da que encontramos nos livros e artigos, que trazem, em sua maioria, um versículo e um comentário em cada capítulo. Neste trabalho, os comentários foram agrupados pelos versículos a que se referem, possibilitando o estudo e a reflexão sobre os diferentes aspectos abordados pelo autor. Encontraremos, por exemplo: 8 comentários sobre Rm
Volume 1 - Comentários ao Evangelho segundo Mateus.
Volume 2 - Comentários ao Evangelho segundo Marcos.
Volume 3 - Comentários ao Evangelho segundo Lucas.
Volume 4 - Comentários ao Evangelho segundo João.
Volume 5 - Comentários ao At.
Volume 6 - Comentários às cartas de Paulo.
Volume 7 - Comentários às cartas universais e ao Apocalipse.
Em cada volume foram incluídas introduções específicas, com o objetivo de familiarizar o leitor com a natureza e características dos escritos do Novo Testamento, acrescentando, sempre que possível, a perspectiva espírita. Neste volume essas introduções foram feitas agrupando-se os escritos pela autoria, uma vez que, pela característica destes textos, uma visão panorâmica seria mais adequada aos objetivos do projeto. Dessa forma, incluímos uma introdução à carta de Tiago; uma às duas cartas de Pedro; uma à carta de Judas e por último uma que trata das três cartas e do Apocalipse, atribuídos ao Apóstolo João.
Metodologia
O conjunto das fontes pesquisadas envolveu toda a obra em livros de Francisco Cândido Xavier, publicada durante a sua vida; todos os fascículos de Reformador, de 1927 até 2002, e todas as edições da revista Brasil Espírita.
A equipe organizadora optou por atualizar os versículos comentados de acordo com as traduções mais recentes. Isso se justifica porque, a partir da década de 60, os progressos, na área da crítica textual, possibilitaram um avanço significativo no estabelecimento de um texto grego do Novo Testamento, que estivesse o mais próximo possível do original. Esses avanços deram origem a novas traduções, como a Bíblia de Jerusalém, Bíblia do Peregrino, Bíblia Sagrada — Nova Versão Internacional (NVI), bem como correções e atualizações de outras já existentes, como a João Ferreira de Almeida Revista Corrigida (Conhecida pela sigla ARC - Almeida Revista Corrigida). Todo esse esforço tem por objetivo resgatar o sentido original dos textos bíblicos. Os comentários de Emmanuel apontam na mesma direção, razão pela qual essa atualização foi considerada adequada. Das várias opções existentes, escolhemos a Bíblia de Jerusalém, em sua edição revista e ampliada em 2002. Duas razões levaram a essa escolha. A primeira é que ela é o resultado do trabalho de uma comissão de tradutores e estudiosos. A segunda é que se trata da tradução mais atualizada nos meios acadêmicos. Nas poucas ocorrências em que essa opção pode suscitar questões mais complexas, as notas auxiliarão o entendimento.
Os textos transcritos tiveram como fonte primária os livros e artigos publicados pela FEB. Nos casos em que um mesmo texto foi publicado em outros livros, a referência desses está indicada em nota.
A história do projeto O Evangelho por Emmanuel
Esse trabalho teve duas fases distintas. A primeira iniciou em 2010, quando surgiu a ideia de estudarmos o Novo Testamento nas reuniões do culto no lar. Com o propósito de facilitar a localização dos comentários de Emmanuel, foi elaborada uma primeira relação ainda parcial. Ao longo do tempo, essa relação foi ampliada e compartilhada com amigos e trabalhadores do Movimento Espírita.
No dia 2 de março de 2013, iniciou-se a segunda e mais importante fase. Terezinha de Jesus, que já conhecia a relação por meio de palestras e estudos que desenvolvemos no Grupo Espírita Operários da Espiritualidade em Brasília, comentou com o então e atual vice-presidente da FEB, Geraldo Campetti Sobrinho, que havia um trabalho sobre os comentários de Emmanuel que merecia ser conhecido. Geraldo nos procurou e marcamos uma reunião para o dia seguinte, na sede da FEB, às nove horas da manhã. Nessa reunião, o que era apenas uma relação de 29 páginas tornou-se um projeto de resgate, compilação e organização do que é um dos maiores acervos de comentários sobre o Evangelho. A realização dessa empreitada seria impensável para uma só pessoa, por isso uma equipe foi reunida e um intenso cronograma de atividades foi elaborado. As reuniões para acompanhamento, definições de padrões, escolhas de metodologias e análise de situações ocorreram praticamente todas as semanas desde o início do projeto até a conclusão da fase de pesquisa dos comentários.
No final de 2015, uma terceira fase teve início com a pesquisa dos textos paralelos aos At presentes no livro Paulo e Estêvão, também de autoria de Emmanuel. Esse projeto de pesquisa teve características distintas, pois não se tratava agora de identificar, catalogar e revisar comentários, mas de analisar passagens, comparar textos e reunir relatos semelhantes. Isso resultou em um material que esperamos seja útil para estudiosos e simpatizantes do texto bíblico, particularmente de At. Destacamos o inestimável trabalho de Larissa Meirelles Barbalho Silva nessa pesquisa. Sem seu esforço, dedicação e paciência, ele não teria sido concluído no tempo necessário pra a inclusão no 5º volume da coleção.
O que surgiu inicialmente em uma reunião familiar composta por algumas pessoas em torno do Evangelho, hoje está colocado à disposição do grande público, com o desejo sincero de que a imensa família humana se congregue cada vez mais em torno desse que é e será o farol imortal a iluminar o caminho de nossas vidas. Relembrando o Mestre inesquecível em sua confortadora promessa: “Pois onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt
Barueri (SP), julho 2019.
Coordenador
Introdução geral às Cartas universais e ao Apocalipse
O possui um conjunto de cartas normalmente referenciadas como cartas católicas ou universais. Originalmente o sentido da palavra católica era universal. Só com o desenvolvimento do Cristianismo é que esse termo passou a designar uma corrente específica. O significado desse termo reflete o propósito e a natureza desses escritos.
Atribuídas a quatro figuras do início do Cristianismo, Tiago, Pedro, Judas e João, são cartas cujo conteúdo destina-se ao conjunto dos que buscam na Boa-Nova os parâmetros para orientarem-se durante a vida. Não há, nesse conjunto, grandes argumentos teológicos e cristológicos como encontramos nas Cartas de Paulo, tampouco fatos históricos ou narrativas da vida de Jesus como nos trazem o livro de Atos dos apóstolos ou os Evangelhos. Nem por isso, o seu conteúdo é menos interessante ou importante.
Fruto do esforço dos primeiros movimentos do Cristianismo, elas nos trazem relatos da dinâmica dessa fase inicial, seus desafios, preocupações e foco. O livro conhecido como Apocalipse enquadra-se também dentro desse contexto, à medida que aborda as expectativas salvacionistas e as intervenções de Deus em um ambiente muitas vezes caótico, complexo e repleto de acontecimentos que fragilizavam a fé e a esperança de muitos os que viveram nesse período.
Isso poderia levar a uma apressada conclusão de que esses textos teriam sua aplicação mais adequada aos seus contemporâneos e que o mundo atual, dadas as suas marcantes diferenças com a Palestina do primeiro século, teria pouco a aproveitar desses escritos. Isso, contudo, deriva de um superficial entendimento do que caracterizam os textos do Novo Testamento. Muito embora os ensinos ali contidos estejam revestidos da roupagem linguística, cultura e temporal, o que não poderia ser de outra forma, sua mensagem dirige-se ao espirito humano em seus incontáveis périplos evolutivos. As recomendações de Tiago sobre o uso da linguagem são hoje mais do que antes importantes, devido ao impacto das tecnologias de comunicação e das redes sociais, que amplificam enormemente os efeitos de tudo o que dizemos e escrevemos. As recomendações de Pedro aos peregrinos aplicam-se tanto aos de ontem quanto aos de hoje. As lembranças que Judas nos traz de que o passado é repositório dos registros das consequências de nossas ações, despertam, ontem e hoje, o ensejo de olhar para o presente, sem desconsiderar as lições do pretérito, a fim de que os mesmos equívocos não sejam cometidos e que as mesmas consequências não ocorram no futuro. As Cartas de João trazem um registro da importância das relações e das pequenas coisas, e o Apocalipse permanece um cântico de fé e esperança para todos os que conseguem desbravar o conjunto de símbolos dos quais se utiliza e que permanecem mais herméticos aos leitores atuais pela ausência do arcabouço cultural que demarcou o surgimento da literatura apocalíptica. Esses são apenas alguns exemplos de como tais textos podem e devem ser objeto de leitura e reflexão.
Embora essa importância, as dificuldades permanecem, porque muitas vezes é difícil ultrapassar a camada cultural e simbólica que os reveste e chegar ao âmago de sua mensagem. Mais difícil ainda é, de posse dessa mensagem, convertê-la em guia para as ações do cotidiano. Esse é o contributo de Emmanuel, em cujos comentários encontramos a essência desses ensinos e sua aplicação às mais diversas situações do nosso presente.
As Cartas universais e o Apocalipse são um convite a todos os que buscam construir um mundo melhor, oferecendo-lhes as inestimáveis ferramentas da fé e da ação correta, possibilitando converterem-se na luz à qual Jesus se referia quando proferiu a imortal recomendação. “Brilhe a vossa luz diante dos homens para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt
Raio X do volume 7
Versículos mais comentados: Tiago
Relação dos versículos com mais de um comentário: Tiago
Introdução à Carta de Tiago
A Carta de Tiago constitui um texto de características únicas no Novo Testamento. Nela são enfatizados os aspectos éticos e morais do Cristianismo, apresentando, neste sentido, fortes vínculos com o Sermão do Monte. Destaca-se, também, à exceção dos versículos Tg
Além desses aspectos oriundos do próprio texto, outros, que derivam das leituras feitas pelas correntes cristãs ao longo da história, são igualmente dignos de nota. O exemplo mais famoso, talvez, seja a desconsideração pela qual essa carta foi tratada por Lutero, que a definia como “epístola de palha”, pela sua aparente contradição em relação às Cartas de Paulo, no que se refere ao papel da fé no processo da salvação. Como a fé, na concepção de Lutero, possuía papel preponderante, senão exclusivo, no processo de salvação, compreende-se sua rejeição a um escrito, cuja natureza básica repousa no estabelecer uma conduta que se sobreponha, em importância, à profissão de fé, e que chega a afirmar que “[…] a fé, se não tiver obras, por si só está morta” (Tg
É importante destacar que, muitas vezes, os extremos exclusivistas, que opõem fé e obras, surgem pela ênfase dada pelo leitor ou intérprete, mais do que pela própria intenção dos autores dos textos do Novo Testamento. Tanto em Paulo como em Tiago, as ações e a crença são elementos importantes no processo de redenção do ser humano, embora cada um lance luz sobre determinados aspectos da realidade, de acordo com o propósito, contexto e situação em que estão inseridos. Acrescente-se a isso que as obras, cujo valor Paulo questionava, possuíam, no primeiro século, uma definição mais específica, dentro do contexto judaico-cristão, ao qual ele se dirigia. Nesse contexto, a definição de obras estava intimamente ligada às obras prescritas pelos grupos judaicos, dos quais se destacam os fariseus. O justo é certamente aquele que conjuga os dois elementos, já que a fé necessariamente influencia as ações e estas legitimam e fortalecem a primeira.
Estrutura e temas
Temas e versículos:
Saudação e destinatários, Tg
A perseverança leva à perfeição, Tg
Como obter sabedoria, Tg
Dignidade e coisas passageiras, Tg
Feliz o que suporta a provação, Tg
A tentação não vem de Deus, Tg
Todo dom e dádiva vem de Deus, Tg
Fomos gerados por Deus, Tg
Conduta para falar, agir e irar-se Tg
O verbo (logos) em nós, Tg
A conduta do verdadeiro religioso, Tg
A fé verdadeira não faz acepção de pessoas, Tg
A Lei deve ser integralmente cumprida, Tg
Coerência, juízo e misericórdia, Tg
A fé sem obras é morta, Tg
Relação entre fé e obras, Tg
Os mestres receberão mais duro juízo, Tg
A importância do uso correto da palavra, Tg
O sábio verdadeiro se mostra pelas boas obras, Tg
A amizade do mundo é inimizade contra Deus, Tg
Não julgar o outro, Tg
Deus governa todos os projetos humanos, Tg
Obrigação de fazer o bem, Tg
Lamentação dos maus ricos, Tg
Exortação à paciência, Tg
Não jurar, Tg
O poder da oração e do louvor, Tg
Conversão dos desviados da verdade, Tg
Autoria, origem e datação
A questão da autoria tem sido motivo de debates ao longo dos séculos e, entre os estudiosos, está longe de ser resolvida. Isso porque existem quatro ou cinco (a depender da leitura que se faça de determinadas passagens) indivíduos chamados Tiago no Novo Testamento. Os principais são:
A aceitação tardia desse escrito como cânone do Novo Testamento pode estar igualmente relacionada com as dúvidas em relação de quem seria a sua autoria, não se excluindo, inclusive, a hipótese de pseudografia. Eusébio, no século IV, ainda fala das controvérsias envolvendo esta carta; e o cânone de Muratori não a incluiu. Caso se tivesse certeza de que a carta foi da lavra de alguém ligado ao círculo apostólico ou familiar de Jesus, muito provavelmente a carta seria mais facilmente aceita.
Soma-se a isso a ausência de elementos internos que possam ajudar a identificar o local de origem e temos um quadro de possiblidades bastante amplo. Para os que defendem uma autoria do círculo mais íntimo de Jesus, seja dos apóstolos, seja de sua família, a data de redação estaria entre os anos
Perspectiva espírita
Emmanuel, na obra Paulo e Estêvão, informa que o Tiago que permanece em Jerusalém e que possui um importante papel naquela comunidade trata-se do filho de Alfeu. A depreender dos traços de personalidade destacados pelo benfeitor espiritual e da tendência que o apóstolo tinha de evitar conflitos com o sacerdócio judaico e com o sinédrio, um escrito que privilegiasse o impacto ético do Cristianismo e que se esquivasse de colocar em evidência a superioridade do Cristo se ajustaria bem ao teor de uma carta de sua lavra.
Existe outra importante referência a essa carta feita pelo Espírito Irmão X no livro Pontos e contos, , intitulado Nas palavras do caminho. Ali, o autor espiritual traz o pano de fundo que levou à redação do Tg
A discussão pormenorizada das implicações dessas informações, para o entendimento do processo histórico de produção e redação da Carta de Tiago, exigiria trazer um número muito grande de elementos e um tempo que fugiriam aos propósitos das introduções que humildemente ofertamos ao leitor, a título de panorâmica. Deixamos aqui a nossa recomendação de que os que se interessarem mais por esses aspectos recorram às duas referências acima mencionadas, bem como a outras referências presentes na monumental obra psicografada por Francisco Cândido Xavier.
A palavra grega διασπορά (diasporá), aqui utilizada refere-se ao processo de dispersão das 12 tribos de Israel pelo mundo conhecido. (Nota da Editora.)
Vem do grego χάπαξ λεγόμενα e significa “algo dito apenas uma única vez”. Muito comum em textos bíblicos e, obviamente, em escritas que ainda não foram inteiramente decifradas. (Nota da Editora.)
O Cânone Muratori, também conhecido por fragmento muratoriano, é uma cópia da lista mais antiga que se conhece dos livros do Novo Testamento. Escrito por volta do ano 150, indica o nome de Pio, bispo de Roma de 143 a 155, irmão de Hermas, autor de O pastor. É um manuscrito do século VIII, cópia do original, descoberta na Biblioteca Ambrosiana de Milão por Ludovico Antonio Muratori (1672-1
750) e publicada em 1740. Na lista figuram os nomes dos livros que o autor desconhecido da lista considerava admissíveis, com alguns comentários. (Nota da Editora.)
Introdução às Cartas de Pedro
Pedro é um dos mais importantes personagens do Novo Testamento. Sendo um dos primeiros apóstolos a receber o convite de Jesus, desde o princípio ele aparece normalmente com algum grau de distinção. Jesus o convida com a proposta de fazê-lo “pescador de homens” (Lc
Apesar das deferências a ele concedidas, Pedro é uma figura que carrega também os seus desafios e idiossincrasias. Normalmente, aparece como alguém rígido, não só nos costumes, mas também nas ideias. Determinado e às vezes impulsivo na defesa do que considera correto, haja vista o episódio em que ele corta a orelha de Malcos, o soldado que vinha prender Jesus no Getsêmani. (Jo
É natural, portanto, que algum legado direto dessa figura tão importante figurasse entre os escritos do Novo Testamento. Temos, assim, as duas cartas a ele atribuídas. Isso, contudo, não é algo isento de controvérsias, uma vez que a autoria dessas duas cartas é motivo de controvérsia entre os estudiosos.
Estrutura e temas
Destaca-se, em ambos os escritos, as orientações que abrangem um espectro amplo da conduta cristã, e abarcam dos anciões aos jovens, dos esposos aos servos e senhores. Estão presentes também as advertências contra os falsos mestres e a exortação à esperança e à fé, diante das tribulações e dores.
Estão presentes também a exaltação do Cristo e uma conexão importante com algumas narrativas do Antigo Testamento, como a história de Noé sendo a prefiguração do rito do batismo (mergulhar) em 1Pe
O autor das duas epístolas conhece e reverencia os textos do Antigo Testamento (2Pe
Temas e versículos:
Saudação e destinatários, 1Pe
Louvor a Deus e exaltação de Jesus, 1Pe
Alegria na fidelidade a Jesus, 1Pe
Os profetas revelaram a salvação presente, 1Pe
Recomendação de conduta, 1Pe
A conduta entre os gentios, 1Pe
A conduta entre as autoridades, 1Pe
A conduta com os superiores, 1Pe
A conduta entre os conjugues, 1Pe
A conduta entre os irmãos, 1Pe
A conduta nas perseguições, 1Pe
Sentido da morte de Jesus, 1Pe
Pregação aos Espíritos em prisão, 1Pe
O batismo prefigurado na história de Noé, 1Pe
Necessidade de romper com o pecado 1Pe
Manter a esperança — o fim está próximo, 1Pe
Hospitalidade, 1Pe
Consagração ao serviço, 1Pe
Felizes os que sofrem pelo Cristo, 1Pe
Exortações aos anciães, 1Pe
Exortação aos jovens, 1Pe
Saudações finais, 1Pe
Temas e versículos:
Saudação e destinatários, 2Pe
Nos foram dadas todas as condições para a vida e a fé, 2Pe
Necessidade de esforço para a aquisição das virtudes, 2Pe
Depoimento pessoal e testemunho, 2Pe
A importância das escrituras, 2Pe
Existiram e existirão falsos doutores e profetas, 2Pe
Ação Divina no passado, presente e futuro, 2Pe
Ações e consequências, 2Pe
Equívocos dos descrentes e escarnecedores, 2Pe
O tempo do Senhor e o dia do Senhor, 2Pe
Apelo à conduta correta, 2Pe
Ensinos das cartas de Paulo, 2Pe
Admoestação e saudação final, 2Pe
Destinatários
As duas cartas atribuídas a Pedro possuem uma destinação genérica. A primeira é endereçada aos “peregrinos da diáspora” e a segunda aos “que conosco adquiram a fé”. Há uma conexão entre as duas cartas em 2Pe
Autoria
Embora os atestados internos e a praticamente unânime aceitação da autoria por parte dos Pais da Igreja, a crítica moderna frequentemente contesta a autoria de Pedro para as duas epístolas. A dúvida normalmente surge tendo por base o excelente uso do grego koiné nas cartas, a citação do Antigo Testamento a partir da septuaginta e uma exegese muito aprimorada da Torá, particularmente nos casos de Noé e Moisés. Isso seria, segundo os que defendem outro autor que não Pedro, incompatível com os dados biográficos presentes em Atos, que classificam Pedro como simples pescador da região de Cafarnaum e Betsaida. Isso, contudo, não é um argumento definitivo. Além disso, a menção ao nome de Silvano, no final de I Pedro, levanta a questão do porquê alguém escrevendo em nome de Pedro, anos mais tarde, utilizaria um nome conhecido dos primeiros cristãos, atribuindo-lhe o papel de responsável por meio do qual a epístola seria escrita e talvez entregue aos destinatários.
Origem e datação
Em termos de local de origem, pesa a utilização do termo Babilônia (1Pe
O problema da datação é um pouco mais complexo, visto estar intimamente ligado à questão da autoria, e oferece em II Pedro desafios adicionais.
Os dados internos das cartas são insuficientes para uma datação inequívoca. Sabemos que Pedro conhece as cartas de Paulo e a sua importância (2Pe
Perspectiva espírita
Pedro é uma figura que personifica o ser humano em suas virtudes e idiossincrasias, desafios e conquistas. Ele nos mostra que as nossas concepções de verdade e de bem devem se afastar cada vez mais do egocentrismo e do preconceito, dando espaço estabeleceu no apóstolo de súbito, demandou tempo e é na perspectiva do tempo que transforma que entendemos mais profundamente a personalidade e a importância de Pedro, já que, em regra geral, a nossa própria transformação demanda também um considerável espaço de tempo e experiências.
Além do tempo, o fator mais importante na transformação de Pedro, que se reflete na nossa própria autotransformação, é a presença do Cristo. Jesus acompanhou Pedro de perto, não faltando com as orientações e advertências, mas sempre confiante na vitória sobre si mesmo daquele que marcaria de maneira indelével o conjunto das comunidades dedicadas à vivência do Cristianismo. Essa permanência deriva do fato de que o olhar de Jesus para Pedro, e, por extensão, para cada um de nós, não é o do superior que desconsidera o inferior, mas o do Mestre que reconhece no discípulo aquilo que ele possui de virtudes em seu íntimo, trabalhando para dilapidar e libertar o que há de bom dos emaranhados transitórios dos equívocos. Por isso Emmanuel nos diz que:
“Aos olhos de muita gente, Simão Pedro era fraco e inconstante; para ele [Jesus], contudo, representava o brilhante entranhado nas sombras do preconceito que fulgiria à luz do Pentecostes para veicular-lhe o Evangelho.”
E prossegue afirmando:
“Em Pedro, no dia da negação, não repara o cooperador enfraquecido, mas sim o aprendiz invigilante, a exigir-lhe compreensão e carinho, e, por isso, transforma-o, com o tempo, no baluarte seguro do Evangelho nascente, operoso e fiel até o martírio e a crucificação.”
Ver em Comentários às Cartas de Pedro - I Pedro
Trecho retirado de Palavras de vida eterna. FEB Editora; CEC. Capítulo 35. — . In. O Evangelho por Emmanuel — Comentários ao Evangelho segundo Mateus. (Nota da Editora.)
Trecho da mensagem . Reformador, janeiro de 1956, p. 6. In. O Evangelho por Emmanuel — Comentários ao Evangelho segundo Mateus. (Nota da Editora.)
Introdução à Carta de Judas
Embora esteja repleto de aspectos interessantes, intrigantes e controversos, a carta de Judas é o escrito mais negligenciado do Novo Testamento. Isso ocorre talvez pela dificuldade que certas passagens oferecem e pelo tamanho relativamente pequeno do escrito. Ela só não é menor do que as duas Cartas de João e equipara-se, em número de versículos, a Filêmon, embora seja muito mais complexa e aborde temas mais amplos e profundos do que a menor das Cartas de Paulo.
Como essa carta já fazia parte do cânone de Muratori, sabe-se que sua aceitação como texto inspirado ocorreu muito cedo. Orígenes conhece e cita Judas; Eusébio, Clemente e Tertuliano também mencionam a carta. Mais tarde, Santo Agostinho fará referências a este escrito.
A estrutura da carta chama atenção pelo cuidado com que é construída. Nela, o passado emerge como modelo das consequências futuras em relação aos atos do presente. A cada referência literária, segue-se um comentário atualizando o seu sentido para o momento presente a fim de fortalecer a fé e a confiança na Justiça e na Misericórdia Divinas.
Estrutura e temas
Temas e versículos:
Saudação e destinatários, Jd
Objetivo da carta, Jd
Recordação do que ocorre aos iníquos, Jd
A conduta dos equivocados, Jd
Fragilidade dos iníquos, Jd
Lembrança dos ensinos dos apóstolos, Jd
Exortação ao amor de Deus, Jd
Conduta com os que estão na dúvida, Jd
Exaltação final de Deus e de Jesus, Jd
Destinatários
Ela é endereçada a uma comunidade, embora não saibamos exatamente qual, uma vez que seus membros são referenciados como “em Deus Pai amados e em Jesus Cristo guardados”.
A comunidade é formada por integrantes versados no entendimento do Antigo Testamento, uma vez que o autor se vale dessas referências como base para seus argumentos principais, o que é esperado de uma comunidade constituída principalmente, mas não exclusivamente, de judeus convertidos ao Cristianismo.
Autoria
As diversas hipóteses levantadas sobre quem seria o autor do escrito variam enormemente, passando desde um autor desconhecido do segundo século até um dos supostos irmãos consanguíneos de Jesus. O autor identifica-se como sendo “Judas, servo do senhor e irmão (ἀδελφός - adelfós) de Tiago”. A questão aqui é quem seria esse Tiago. Poderia ser Tiago Maior, Tiago Menor, ou outra figura de menor relevância, o que levantaria a questão do porquê mencioná-la. Alguns estudiosos propuseram que se trata do Apóstolo Judas (não o Iscariotes), mencionado em At
O que se depreende do autor, a partir da carta, é que se trata de alguém culto e extremamente versado na exegese e interpretação do Antigo Testamento, ao qual se refere mais de uma vez. Além disso, parece conhecer textos atribuídos aos apóstolos que não chegaram aos nossos dias, pelo menos não na forma em que são mencionados (versículos Jd
Para o autor, existe uma conexão entre passado, presente e futuro, e mesmo as adversidades do agora não estão alheias ao controle e atenção divinos, tanto quanto no passado os atos de iniquidade não passaram ao largo da atuação de Deus. A comunidade deve ter isso em mente, e não deve ater-se exclusivamente ao presente, mas esperar e ter confiança em um futuro de recompensas, pelo qual deve se esforçar no agora. Esse parece ser um dos equívocos mais graves dos adversários mencionados. excessiva preocupação com o presente em detrimento do futuro.
Origem e datação
As propostas em relação à data variam de acordo com a origem, sendo a Palestina o local mais frequentemente mencionado entre os que se arriscam a sugerir um local, uma vez que não há nada explicitamente presente na carta que possibilite uma identificação, ainda que vaga, do local de sua redação.
Diante do quadro exposto, não é de se admirar que as possíveis datas tenham também uma ampla faixa de possibilidades, sendo os extremos posicionados entre os anos de 54 e 180 e as mais comumente mencionadas compreendidas entre 67 e 96.
Fontes extra Bíblia
A carta referência não somente a literatura que chegou até nós como cânone da Primeira Revelação, mas também em outras que não foram incluídas na Balia. Em especial temos uma referência ao livro de Enoque, provavelmente 1 Enoque, 1.9 e uma história acerca da disputa do corpo de Moisés travada entre o Arcanjo Miguel e o diabo. Orígenes atribuía essa narrativa a uma obra denominada Ascenção de Moisés, que não chegou aos nossos dias a não ser em versões apócrifas e possivelmente tardias. Curiosamente, Emmanuel faz um comentário exatamente sobre o versículo de Judas que menciona essa história demonstrando que o coração puro encontrará a verdade em muitos lugares.
Conteúdo e perspectiva espírita
Em termos de conteúdo, trata ao mesmo tempo da salvação e dos adversários que estão dentro da comunidade, exortando aos que pretendem uma conduta verdadeiramente cristã a identificá-los, mas a não proferir “juízo infamatório” (Jd
Emmanuel assim se expressa sobre esse aspecto:
“ Ninguém fuja ao esclarecimento fraternal, à verdade generosa, mas quando se trate de pronunciar palavras definitivas de rompimento ou condenação, recorda o ensinamento de Judas em sua epístola mundial. — Quando discutia com o adversário da Luz de Deus, o Arcanjo Miguel não ousou proferir juízo de maldição e preferiu aguardar a Pronúncia divina.”
“Observando isso, não podemos esquecer que ele era Arcanjo e nós simples discípulos em aprendizado.”
Trecho do livro Harmonização. Ed. GEEM. Capítulo . Ver Judas
Introdução à literatura joanina
Além de um dos Evangelhos, existem três cartas e um apocalipse, cuja tradição atribui a autoria ao Apóstolo João.
Embora a maioria dos chamados Pais da Igreja, como Policarpo, Ireneu, Tertuliano, Orígenes, não tivessem qualquer dúvida em relação à autoria desses textos, a partir do século XVIII, alguns autores levantaram questionamentos que levaram à formulação de uma hipótese de que eles seriam o fruto de uma escola de pensamento joanino e não do apóstolo em si. Os fundamentos principais para essa hipótese são as aparentes divergências de conceitos existentes entre o Evangelho de João e os demais textos. Um exemplo disso é o tratamento dado ao παράκλητοv (paracleto) que, no Evangelho de João, Jo
Quando analisamos principalmente II João e III João, é de se estranhar, à primeira vista, que textos tão pequenos e de um conteúdo geral tão pessoal poderiam compor o cânone do Novo Testamento. Isso se explicaria mais facilmente se a autoria fosse realmente de um dos apóstolos, em especial de alguém tão próximo a Jesus, como João Evangelista. Isso, contudo, não implica que esses textos não receberam nenhuma alteração e que chegaram até nós integralmente como foram concebidos. Existe pelo menos uma bem conhecida evidência de que a primeira Carta de João recebeu um adendo, conhecido entre os estudiosos como comma johanneum ou “parêntese joanino”. Trata-se de uma inserção feita entre os 1Jo
Essas considerações colocam em evidência as dificuldades e desafios em lidar com aspectos pontuais de textos tão antigos, cuja história às vezes conserva lances controversos e que, apesar disso, tiveram e têm um papel tão importante na formação dos valores da nossa sociedade. Serve também de alerta, não só para o estudioso, mas para o adepto sincero, de que é preciso ter um conhecimento amplo do texto e evitar estabelecer formulações definitivas e categóricas, a partir de elementos esparsos. Em geral, predominam a coerência e a base fundamental de valores e orientações que representam uma luz a guiar a criatura humana nos caminhos da vida.
Estrutura e temas das Cartas e do Apocalipse de João
A encarnação do verbo da vida, 1Jo
Mensagem da luz, 1Jo
Sobre o pecado, 1Jo
Guardar os mandamentos, 1Jo
O amor ao(s) irmão(s), 1Jo
Virtudes dos destinatários, 1Jo
Preservar-se do amor ao mundo, 1Jo
A última hora e os adversários do Cristo (anticristos), 1Jo
Fidelidade e perseverança, 1Jo
Amor de Deus para com os filhos, 1Jo
Pecado e transgressão à lei, 1Jo
Coerência de conduta, 1Jo
A mensagem do amor, 1Jo
Analisai o que vem dos Espíritos, 1Jo
Os falsos profetas, 1Jo
Exortação ao amor - Deus é amor, 1Jo
No amor não existe medo ou ódio, 1Jo
O mandamento do amor, 1Jo
Testemunhos sobre o Cristo, 1Jo
O motivo da carta e poder da intercessão, 1Jo
O entendimento dado por Jesus, 1Jo
Recomendação finai sobre os ídolos, 1Jo
Saudação inicial, 2Jo
Alegria pelo comportamento dos filhos, 2Jo
Exortação ao amor, 2Jo
Cautela em relação aos enganadores, 2Jo
Desejo de ir visitá-la, 2Jo
Saudação final, 2Jo
Saudação inicial, 3Jo
Exortação a que Gaio continue agindo corretamente, 3Jo
A rejeição de Diótrefes, 3Jo
A boa conduta de Demétrio, 3Jo
Desejo de ir visitá-lo, 3Jo
Saudação final, 3Jo
O tema do livro, Ap
Destinatários, Ap
Exaltação do Cristo, Ap
Preâmbulo, Ap
Primeira visão e ordenação Ap
Carta às sete comunidades, Ap
A visão do trono e do que está por vir, Ap
A visão do livro e dos sete selos, Ap
A abertura dos seis primeiros selos, Ap
Os quatro anjos e o que marca os eleitos, Ap
Louvor, salvação e recompensas, Ap
A abertura do sétimo selo, os sete anjos e as sete trombetas, Ap
O toque das seis primeiras trombetas, Ap
O livrinho devorado, Ap
As duas testemunhas, Ap
O toque da sétima trombeta, Ap
A mulher e o dragão, Ap
O conflito celestial, Ap
O conflito na terra, Ap
O conflito com os descendentes, Ap
A besta, Ap
O falso profeta, Ap
As sete taças, Ap
O julgamento da prostituta, Ap
Símbolos e visões explicadas, Ap
O anúncio da queda da Babilônia, Ap
Aviso aos povos, Ap
Lamentação sobre a Babilônia, Ap
Louvor de vitória e adoração, Ap
As sete visões, Ap
Visão do novo céu e da nova terra, Ap
Epílogo, Ap
Pós-escrito, Ap
Datação e origem
As três cartas de João e o Apocalipse são textos, quase certamente, posteriores ao Evangelho de João. A se atribuir a autoria ao apóstolo ou não é que o período de composição pode se estender mais ou menos. Considerando-se tais textos como de João Evangelista, é preciso colocá-los entre o ano 95 e os primeiros anos do século II. Aqueles que rejeitam a autoria do apóstolo, estabelecem o começo do século II até o ano 145, aproximadamente, como o período de composição.
Enquanto o Apocalipse traz, no próprio texto, o seu local de redação, qual seja a ilha de Patmos, localizada no mar Egeu, as cartas não apresentam a mesma facilidade. Sabemos que João Evangelista viveu a maior parte do tempo, após o ministério de Jesus, na cidade de Éfeso. É, assim, provável que tais cartas tenham a sua origem nesta localidade e mesmo que se considerem que elas sejam obras de seguidores de João, também é igualmente plausível que esses seguidores vivessem nesta cidade, onde a influência do apóstolo teria sido maior.
Conteúdo e propósito das cartas
Enquanto a primeira carta de João, não só em extensão, mas também em temática, é muito mais ampla do que as duas demais, podemos encontrar nesses textos uma coerência, se não na totalidade conceitual, nas orientações que oferecem aos seguidores do Cristianismo, que não podem dissociar a reflexão da ação, o amor a Deus do amor ao próximo, a esfera espiritual da esfera material. Elas são um atestado de que, tanto nas grandes, como nas pequenas coisas do cotidiano, é possível agir de acordo com os preceitos de Jesus, encontrando o equilíbrio e praticando a caridade nas suas diversas expressões. Também indicam que, nas nossas relações, a preocupação com o outro, em suas características próprias, não pode ser ignorada. Cada qual possui um papel e uma posição, cabendo ao discípulo do Evangelho cooperar e servir, ajudar e amparar.
O Apocalipse
A palavra apocalipse adquiriu um conjunto de significados que se afastam enormemente do seu sentido original e conferem uma percepção atual que era desconhecida dos autores do primeiro século. A palavra grega αποκάλυψεις é normalmente transliteradas para o português como apocalipse, sem que se estabeleça o seu sentido, que seria mais adequadamente expresso por meio da palavra revelação, sem o seu conteúdo místico. Apocalipse, no seu sentido original, significa retirar o véu que encobria algo, revelando, assim, o que antes estava oculto aos olhos do observador.
O período compreendido entre o segundo século antes de Jesus até o primeiro século da nossa era deu origem a uma forma literária que ficou conhecida como literatura apocalíptica, da qual o Apocalipse de João é o representante mais conhecido, embora esteja longe de ser o único. As suas raízes são encontradas principalmente no livro de Daniel no Antigo Testamento, em que a base argumentativa formal e simbólica dessa literatura são estabelecidas. É nesse livro que encontramos os sonhos e visões como fontes de revelação, a linguagem simbólica que precisa ser decifrada e o significado de diversos símbolos, que serão mais tarde utilizados nos textos apocalípticos, incluindo o Apocalipse de João. A linguagem, aparentemente hermética desse texto, começa a se revelar a partir do momento em que conhecemos o livro de Daniel, Ezequiel e o Antigo Testamento. Não é de se estranhar que as interpretações feitas por aqueles familiarizados com esse pano de fundo divergem tão profundamente daqueles que tomam o livro do Apocalipse sem conhecer essa origem.
A literatura apocalíptica tem, além de uma forma e uma base simbólica, um propósito muito claro. É uma literatura de esperança. Surgida em um período de opressão e domínio da Palestina, ela nasce com o propósito de demonstrar o absoluto controle de Deus sobre os eventos que se passam no mundo, incluindo-se os mais catastróficos e incompreensíveis e demonstrar que todos esses eventos estão compreendidos no Plano Divino que não se olvidou de sua promessa de estabelecer um Reino de Justiça e Amor. Tem, assim, o objetivo de fortalecer a fé e a esperança daqueles que passam por tribulações, revelando-lhes, por mais dolorosas que sejam as vicissitudes que lhes pesam sobre os ombros, Deus, que reserva um futuro glorioso para os que souberem cultivar o bem e manter-se firmes diante das tribulações. O medo é, assim, afastado e a criatura retoma o seu caráter de liberdade, confiante de que o futuro é construído não pela transitoriedade do mal, mas pela fé ativa e transformadora. Como nos diz Emmanuel, em Comentários ao Apocalipse, capítulo 2, versículo 10, mensagem .
“Seja qual for a provação que te assinale o caminho, jamais esmoreças.
“Mantém-te na confiança em Deus e espera por Deus, trabalhando e servindo na edificação do bem de todos, tanto quanto isso se te faça possível, porque Deus também confia, esperando por ti.”
Transliteração é o processo de representação dos caracteres de um idioma em outro, possibilitando em alguns casos a transferência da fonética de uma palavra do idioma de origem para o de destino, sem que com isso se tenha realizado uma tradução. (Nota da Editora.)
Índice dos CAPÍTULOS do Testamento Xavieriano
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As lições psicografadas em parceria com Francisco Cândido Xavier pelos médiuns , e devem ser procuradas em suas respectivas biografias. Coletânea de mensagens do . |
Estudos Sistematizado e Aprofundado da Doutrina Espírita.
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