Enciclopédia de Rute 1:16-16

Tradução (ARC) - 2009 - Almeida Revisada e Corrigida

Índice

Perícope

rt 1: 16

Versão Versículo
ARA Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.
ARC Disse porém Rute: Não me instes para que te deixe, e me afaste de ao pé de ti: porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares à noite ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;
TB Respondeu Rute: Não me instes que te abandone e deixe de te seguir: pois para onde quer que tu fores, irei eu; e onde quer que tu pousares, pousarei eu: o teu povo será o meu povo, e o teu Deus o meu Deus.
HSB וַתֹּ֤אמֶר רוּת֙ אַל־ תִּפְגְּעִי־ בִ֔י לְעָזְבֵ֖ךְ לָשׁ֣וּב מֵאַחֲרָ֑יִךְ כִּ֠י אֶל־ אֲשֶׁ֨ר תֵּלְכִ֜י אֵלֵ֗ךְ וּבַאֲשֶׁ֤ר תָּלִ֙ינִי֙ אָלִ֔ין עַמֵּ֣ךְ עַמִּ֔י וֵאלֹהַ֖יִךְ אֱלֹהָֽי׃
BKJ E Rute disse: Não me supliques para te deixar, ou para deixar de te seguir; pois para onde fores, eu irei; e onde te alojares, eu me alojarei; o teu povo será o meu povo, e o teu Deus, o meu Deus;
LTT Disse, porém, Rute: Não me rogues- com- insistência para que te abandone, e volte de seguir atrás de ti; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;
BJ2 Respondeu Rute: "Não insistas comigo para que te deixe, pois para onde fores, irei também, onde for tua moradia, será também a minha; teu povo será o meu povo e teu Deus será o meu Deus.[e]
VULG Quæ respondit : Ne adverseris mihi ut relinquam te et abeam : quocumque enim perrexeris, pergam, et ubi morata fueris, et ego pariter morabor. Populus tuus populus meus, et Deus tuus Deus meus.

Referências Cruzadas

As referências cruzadas da Bíblia são uma ferramenta de estudo que ajuda a conectar diferentes partes da Bíblia que compartilham temas, palavras-chave, histórias ou ideias semelhantes. Elas são compostas por um conjunto de referências bíblicas que apontam para outros versículos ou capítulos da Bíblia que têm relação com o texto que está sendo estudado. Essa ferramenta é usada para aprofundar a compreensão do significado da Escritura e para ajudar na interpretação e aplicação dos ensinamentos bíblicos na vida diária. Abaixo, temos as referências cruzadas do texto bíblico de Rute 1:16

Josué 24:18 E o Senhor expeliu de diante de nós a todas estas gentes, até ao amorreu, morador da terra; também nós serviremos ao Senhor, porquanto é nosso Deus.
Rute 2:11 E respondeu Boaz e disse-lhe: Bem se me contou quanto fizeste à tua sogra, depois da morte de teu marido, e deixaste a teu pai, e a tua mãe, e a terra onde nasceste, e vieste para um povo que, dantes, não conheceste.
II Samuel 15:21 Respondeu, porém, Itai ao rei e disse: Vive o Senhor, e vive o rei, meu senhor, que no lugar em que estiver o rei, meu senhor, seja para morte seja para vida, aí certamente estará também o teu servidor.
II Reis 2:2 E disse Elias a Eliseu: Fica-te aqui, porque o Senhor me enviou a Betel. Porém Eliseu disse: Vive o Senhor, e vive a tua alma, que te não deixarei. E assim foram a Betel.
Salmos 45:10 Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa de teu pai.
Isaías 14:1 Porque o Senhor se compadecerá de Jacó, e ainda elegerá a Israel, e o porá na sua própria terra; e ajuntar-se-ão com ele os estranhos e se achegarão à casa de Jacó.
Daniel 2:47 Respondeu o rei a Daniel e disse: Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos segredos, pois pudeste revelar este segredo.
Daniel 3:29 Por mim, pois, é feito um decreto, pelo qual todo povo, nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas um monturo; porquanto não há outro deus que possa livrar como este.
Daniel 4:37 Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, e exalço, e glorifico ao Rei dos céus; porque todas as suas obras são verdades; e os seus caminhos, juízo, e pode humilhar aos que andam na soberba.
Oséias 13:4 Todavia, eu sou o Senhor, teu Deus, desde a terra do Egito; portanto, não reconhecerás outro deus além de mim, porque não há Salvador, senão eu.
Mateus 8:19 E, aproximando-se dele um escriba, disse: Mestre, aonde quer que fores, eu te seguirei.
Lucas 24:28 E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe.
João 13:37 Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a minha vida.
Atos 21:13 Mas Paulo respondeu: Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.
II Coríntios 6:16 E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
I Tessalonicenses 1:9 porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro
Apocalipse 14:4 Estes são os que não estão contaminados com mulheres, porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro.

Livros

Livros citados como referências bíblicas, que citam versículos bíblicos, são obras que se baseiam na Bíblia para apresentar um argumento ou discutir um tema específico. Esses livros geralmente contêm referências bíblicas que são usadas para apoiar as afirmações feitas pelo autor. Eles podem incluir explicações adicionais e insights sobre os versículos bíblicos citados, fornecendo uma compreensão mais profunda do texto sagrado.

Referências em Livro Espírita


Wanda Amorim Joviano

rt 1:16
Sementeira de Luz

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 110
Francisco Cândido Xavier
Neio Lúcio
Wanda Amorim Joviano

19|05|1943


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, auxiliando-os como sempre, no caminho de elevação. Primeiramente, boas-vindas depois da ausência mais ou menos longa do nosso ambiente de ler e, em segunda, a visita de todo dia, onde quer que vocês estejam.

Hoje, meus filhos, a palestra não pode fugir aos capítulos da luta em curso. É mais que natural. Não se sinta em conflito íntimo, meu caro Rômulo. Você fez o que deveria, no quadro das obrigações comuns. Uma questão de direito aos que trabalham. Ainda que a voz da justiça se perca no deserto, é razoável que voe para se gravar na paisagem de serviço e realização. Infelizmente, o plano vulgar não compreende o espírito de justa distribuição.

Confidencialmente, na página recôndita do coração, em que os pais falam aos filhos, e vice-versa, os seus colegas, na maioria, não conseguem administrações sem códigos da letra e nem entendem os que lhes não copiam atitudes fáceis. A criação de trabalho, a valorização de possibilidades recebidas, a dilatação das bênçãos da natureza, a extensão dos valores, o espírito de coletivismo não os interessam. Não sabem organizar um documento sem referência à letra quase sempre indecifrável ou morta, porque é preciso que a lei deva ser um corpo com espírito e não um monumento de pedra insensível. Mas que fazer, meu filho? Grande parte desses irmãos nossos , consequentemente, residem à distância da atividade criadora. Casos dolorosos, mas fatais, numa organização habituada a premiar os mais ociosos e artificialistas. Você tem feito do seu trabalho um sacerdócio e eles não compreendem isto. Esta a razão do fenômeno.

Sei que, no fundo, sua m ente anda muito despreocupada do problema de remuneração pura e simples, mas as razões de ordem moral interessam sempre e, por isto, você fez muito bem lavrando suas afirmativas, relativamente ao caso em foco. Não cuidemos de saber se há possibilidade de ganho na pendência natural, mas regozijemo-nos por haver cumprido um dever.

Quanto ao mais, a luta é quadro para ensinamento a nós todos e qualquer que ela seja deve encontrá-lo de pé para o trabalho útil. Talvez iremos um pouco mais longe na movimentação iniciada, talvez não. Aliás, a sua questão da Lagoa serve agora como preparação de espírito. Lutamos pela defesa do patrimônio pequenino em terra, mas tão grande na expressão idealística e tornamos a lutar, na defesa do patrimônio moral, aparentemente por uma questão de de vencimentos, mas, no fundo, por motivos muito sagrados de quem há consagrado a existência ao serviço que lhe foi confiado. As sortes estão lançadas. Estamos prontos. Receberemos as obrigações como vierem, vocês e eu. Para que estaríamos assim tão unidos? A harmonia no instante de luta é mais inquebrantável.

Continue, pois, os seus serviços, tais quais são e aguardemos os dias, em sua marcha. Quem coopera adquire direitos de falar da obra e, às vezes, os gestos mal interpretados por alguns são justamente os que solucionam problemas referentes à paz espiritual de todos.

Façam o possível por não darem abrigo, no coração de vocês, ao assunto, mais do que ele merece, e prossigamos no caminho de serenidade pelas obrigações atendidas.

Às vezes, meu filho, a taça da experiência cotidiana apresenta um fundo muito amargo. A desilusão é justamente um travo desses. Entretanto, qualquer que seja a realidade, ela conforta sempre. Em vista disto, consideremos a parte útil, olvidando a zona desinteressante. Não quero dizer com isto que você deva menosprezar sua tarefa, no entanto, creio razoável dizer para não se sacrificar tanto, não só com referência a serviço, como na tabela dos amigos.

Rômulo, meu filho, você deve estar satisfeito com a paz íntima e relativamente ao mais esteja tranquilo, preserve sua saúde física, que é muito importante, e a sua harmonia de espírito, que é essencial. A árvore, meu filho, está cheia de aves estranhas. Raríssimos pássaros úteis que sirvam à sementeira. A maioria dos galhos está povoada de grandes expressões, posso mesmo dizer, de rapina. Cuidado, meu filho, para que não perturbem seus voos rumo à Espiritualidade. Há muito poucos colaboradores do serviço interessados em contribuir e servir. O movimento mais forte é de oferta e procura. É melhor caminhar sozinho, ou quase sozinho, mas sem ilusões.

Creio não haver falado em demasia, mesmo porque nossa palestra aqui é ultra-íntima: é de espíritos a espíritos, de coração a coração.

E guardem intactos a paz com Jesus. Não se desanimem, nem se entristeçam. Otimismo e bom humor, esperança e confiança sincera. E para terminar, contem com a minha pobre amizade, mas tão velha que deixa de ser pobre para ser muito rica em experiências diversas. Estaremos juntos sempre, porque a união real e permanente é de almas.

Finalizando, peço a vocês dois façam comigo um culto íntimo, em silêncio. Diante de nós, a Bíblia. Neste instante, não abriremos ao acaso. Abrirei o livro de mão firme. É o Rt 1:16.    A parte final do versículo repito eu a vocês, em voz também firme e pausada, para que fique muito bem gravada entre nós e não se esqueçam de tomar as pequenas sentenças no plural, porque já não é a voz de alguém para alguém, mas a voz de um pai para dois filhos.

Deus abençoe a nós todos, e guardem o abraço de sempre do papai que não os esquece,




Nota da organizadora: “Porque para onde tu fores, irei também eu, e onde quer que morares, morarei também eu.” “O teu povo será o meu povo, e o teu Deus, o meu Deus.”



Referências em Outras Obras

Não foram encontradas referências em Outras Obras.

Comentários Bíblicos

Este capítulo é uma coletânea de interpretações abrangentes da Bíblia por diversos teólogos renomados. Cada um deles apresenta sua perspectiva única sobre a interpretação do texto sagrado, abordando diferentes aspectos como a história, a cultura, a teologia e a espiritualidade. O capítulo oferece uma visão panorâmica da diversidade de abordagens teológicas para a interpretação da Bíblia, permitindo que o leitor compreenda melhor a complexidade do texto sagrado e suas implicações em diferentes contextos e tradições religiosas. Além disso, o capítulo fornece uma oportunidade para reflexão e debate sobre a natureza da interpretação bíblica e sua relevância para a vida religiosa e espiritual.

Beacon

Comentário Bíblico de Beacon - Interpretação abrangente da Bíblia por 40 teólogos evangélicos conservadores
Beacon - Comentários de Rute Capítulo 1 do versículo 1 até o 22
SEÇÃO 1

A TRAGÉDIA ATINGE UMA FAMÍLIA HEBRÉIA

Rute 1:1-22

  1. UM VIÚVA SOLITÁRIA, 1:1-5

O pano de fundo dos eventos relatados no livro de Rute é uma fome em Israel nos dias em que os juízes julgavam (1), o que forçou a emigração de uma pequena família de Belém, em Judá, para a terra de Moabe, a sudeste da Palestina (veja mapa). A expressão peregrinar significa viver na situação de estrangeiro residente. O nome do pai da famí-lia era Elimeleque (2), que significa "Deus é [o seu] rei". Noemi ("deleite, prazer") e dois filhos, Malom ("doente, fraco") e Quiliom ("definhando" ou "decaindo"), completa-vam a família. Eles eram efrateus, um termo que normalmente se refere à tribo de Efraim. Contudo, como Boaz, o remidor, era claramente da tribo de Judá (4:18-21; Mt 1:3-5), neste caso efrateus é provavelmente derivado de Efrata, um termo do Antigo Testa-mento intimamente relacionado com Belém (Gn 35:19-48.7; Rt 4:11-1 Cr 4.4; Mq 5:2).

Tanto Malom como Quiliom se casaram com moças moabitas: Orfa (4) e Rute ("ami-zade" ou "amiga") : Os três homens da família morreram durante os dez anos de residên-cia em Moabe e Noemi ficou sozinha com suas duas noras.

  1. UMA DECISÃO DIFÍCIL, 1:6-14

Quando Noemi ouviu que a fome em Israel havia acabado, resolveu voltar para casa acompanhada de suas duas noras. Noemi pediu às duas mulheres mais novas que vol-tassem para suas casas em Moabe, na esperança de que ambas pudessem se casar nova-mente e, assim, acharem descanso (9), ou seja, que formassem um lar com um marido de seu próprio povo. O versículo 11 é uma referência à lei do levirato (Dt 25:5-6), que exigia que um homem se casasse com a viúva de seu irmão se este morresse e não deixas-se filhos. Esta lei é mencionada pela primeira vez em relação a Judá e Tamar (Gn 38:8-11) e foi o tema principal da argumentação contra a imortalidade proposta pelos saduceus em Marcos 12:19. A mão do Senhor se descarregou contra mim (13) — A atitude submissa de Noemi faz paralelo com a história de Jó (1:21). Neste momento de deci-são, Orfa beijou a sua sogra e afastou-se; porém Rute se apegou a ela (14).

  1. A DEVOÇÃO DE RUTE 1:15-18

Noemi pediu mais uma vez para que Rute voltasse, mas a jovem permaneceu firme. Sua resposta é uma das mais memoráveis promessas de devoção e amor encontradas em toda a literatura: Não me instes para que te deixe e me afaste de ti; porque, aon-de quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei sepultada; me faça assim o Senhor e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti (16,17). Esta terna amizade humana é similar à de Davi e Jônatas (1 Sm 20.17,41) e à de Cristo e os apóstolos (Jo 15:9-15). Além disso, é o reflexo de uma firme decisão religiosa. 'Rute estava determina-da a abandonar os deuses de Moabe e tornar-se seguidora do Deus de Israel juntamente com Noemi. Ela viu alguma coisa nas vidas e na fé daqueles israelitas que fez com que ela se aproximasse não apenas deles, mas também do Senhor Jeová.

O fato de Rute ser recebida na situação em que estava pode indicar que as restrições divinas contra os descendentes de Moabe haviam sido removidas (Dt 23:3) ou que tais restrições se aplicavam apenas aos moabitas do sexo masculino.

"A grande escolha de Rute" é resumida nos versículos 14:18 num retrato preciso da opção que uma pessoa faz quando se torna um cristão. Ela foi (1) uma escolha de convic-ção, e não de emoção, conforme se vê no contraste com Orfa (v. 14) ; (2) uma escolha feita apesar de todas as dificuldades (veja vv. 11-13) ; (3) a escolha em favor de um povo (v. 16) ; (4) a escolha de um objeto supremo de devoção (v. 16) ; (5) uma escolha sem opção de voltar atrás (vv. 17,18).

  1. DUAS ESTRANHAS EM BELÉM, 1:19-22

Noemi — em torno de quem gira a história — e Rute chegaram a Belém no começo da colheita da cevada. Toda a vila se agitou com sua chegada e as mulheres perguntavam: "É realmente Noemi?". Tal como muitos antes e milhões desde então, Noemi ficou tenta-da a colocar em Deus a culpa por seu infortúnio. Não me chameis Noemi (20), respon-deu ela; chamai-me Mara, um nome que significa "amargura" ou "tristeza". Pois o Senhor testifica contra mim (21), "o Senhor me humilhou", na LXX. O Todo-pode-roso me tem afligido tanto significa que Deus a "quebrou em pedaços".


Champlin

Antigo e Novo Testamento interpretado versículo por versículo por Russell Norman Champlin é cristão de cunho protestante
Champlin - Comentários de Rute Capítulo 1 do versículo 6 até o 18

Noemi Volta a Judá (Rt 1.6-22)

Rute Apega-se a Noemi (Rt 1.6-18)

Espalharam-se as notícias de que a fome terminara em Belém de Judá. E assim, nada tendo em Moabe, não havia razão para Noemi não retornar à sua terra natal. Suas raízes a estavam chamando. São necessárias razões muito poderosas para vma pessoa não dar ouvidos a esse tipo de chamado. Noemi estava ouvindo e obedeceu. Outrossim, ela não gostava muito de Moabe e de sua crassa idolatria. Acresça-se que Moabe se tinha tornado para ela um lugar de retrocesso e tragédia, ao passo que Belém representava memórias muito agradáveis e gratas.

Rt 1:6,Rt 1:7

Então. A introdução havia terminado. E agora a narrativa propriamente dita começava. E isso com outra viagem de Noemi, de volta a Belém de Judá. Voltar para casa estava em seu coração, e logo ela passaria a agir nesse sentido. Deus tinha “visitado” Belém com um período de fome, que os antigos geralmente tomavam como prova de que havia em andamento um juízo divino; mas agora Ele também havia “visitado" o Seu povo com abundância de víveres, um ato benévolo da Providência divina. Ver em Ex 20:5 e Am 3:2 a fome como uma expressão de julgamento divino; e ver em Ex 4:31; Jr 29:10 e Sal 84 a abundância de alimentos como uma expressão de bênção divina.

Diante de nós temos uma narrativa. De fato, trata-se de uma das mais belas histórias breves de todos os tempos. Cinqüenta e nove dos oitenta e quatro versículos do livro contêm diálogos, a começar pelo oitavo versículo. A narrativa na terceira pessoa muda para conversação. As chuvas tinham preparado o caminho para a abundância, e Noemi agora se encaminhava para a abundância, em todos os sentidos da palavra.

De volta para a terra de Judá. “Retornar" é a idéia-chave aqui. Deus sempre abre diante de nós boas reversões, por meio das quais podemos prosperar. Falamos em reversões da sorte. Na realidade, porém, a vontade divina manifesta-se nas boas reversões. Nada acontece por mero acaso. Ver no Dicionário os artigos chamados Providência de Deus e Teismo.

Parecia que o retorno aplicar-se-ia somente a Noemi, mas a vontade de Deus promoveu um plano mais amplo. Na verdade, o que estava prestes a ocorrer era a viagem de Rute para Belém, que teria repercussões históricas e proféticas. Algumas vezes, o arrependimento é um retorno; mas nesse caso o retorno consistiu em seguir ativamente a vontade de Deus. Vamos e voltamos, sempre de acordo com a vontade de Deus. Parece que tanto Orfa quanto Rute acompanharam Noemi por alguma distância. Mas parecia que a acompanhariam somente por uma parle do caminho. Rute, entretanto, continuou a acompanhá-la, o que constituiu uma surpresa para Noemi, uma reversão da decisão inicial. Oh, Senhor, concede-nos tal graça! Orfa só foi até a fronteira que separava os territórios de Moabe e Judá. Mas o destino de Rute ficava para além daquela fronteira.
Noemi, uma boa sogra, tinha obtido o afeto leal de suas duas noras. Como é óbvio (ver o décimo versículo), até mesmo Orfa tencionava ir para Judá; mas Noemi convenceu-a a ficar em Moabe, juntamente com seu povo. Por sua parte, Rute não conseguiu ser convencida a voltar para seu povo. Seu coração já lhe estava falando sobre um Novo Dia, que esperava por ela na estrangeira terra de Judá.

Rt 1:8

Voltai cada uma à casa de sua mãe. Seria apenas natural pensar que uma “mãe" estava esperando por Orfa, e outra “mãe” estava esperando por Rute. Ambas, sem dúvida, seriam bem acolhidas na casa de seus pais. Ali teriam um suprimento natural de tudo o que poderíam precisar, e não sofreriam necessidade alguma. O Senhor (Yahweh) sem dúvida abençoaria a ambas, cada qual na casa de seu pai; e Noemi seria abençoada em Belém. As localizações geográficas não podem impedir as Bênçãos de Deus, embora, algumas vezes, possam facilitá-las. Noemi estava pensando “racionalmente”. No caso de Orfa, Noemi estava certa. No caso de Rute, porém, a vontade de Deus tinha algo diferente em vista, que as racionalizações de Noemi não poderíam perscrutar. O trecho de Rt 2:11 mos-tra-nos que pelo menos ainda vivia o pai de Rute. Sem dúvida ele gostaria muito de acolher em sua casa a filha viúva. Por outro lado, Deus é o Pai Supremo, que cuida das pessoas melhor do que os mortais. Rute, pois, dirigiu-se com passos firmes ao seu destino.

“O amor de Noemi não era egoísta. A companhia de Rute e de Orfa, sem dúvida alguma, teria sido um grande consolo para ela. Contudo, não queria que elas se sacrificassem por sua causa. Ambas tinham Mãe e um lar. Talvez Noemi não conseguisse garantir um lar para elas em Belém” (Ellicott, in loc.). Noemi estava pensando em termos de um novo casamento para as duas mulheres moabitas; e, naturalmente, as duas mulheres moabitas teriam melhores chances de casarem-se de novo em Moabe, e não em Israel, onde esse casamento misto seria desencorajado, se não mesmo abertamente condenado.

O Senhor use convosco de benevolência. A vontade de Deus, segundo se esperava, era benévola (no hebraico, hesed), porquanto “Deus amou o mundo de tal maneira" (Jo 3:16). As duas noras de Noemi sem dúvida eram merecedoras da benevolência divina. E, assim sendo, Noemi garantiu que ELAS deveríam procurar essa benevolência entre a sua própria gente. A bondade de Deus não .se limita a fronteiras nacionais. O Pacto Abraâmico envolve todos os povos, especialmente depois que foi universalizado em Cristo. Quanto ao Pacto Abraâmico, ver as notas expositivas em Gn 15:18.

Rt 1:9

Cada uma em casa de seu marido. Os homens da família já haviam sido arrebatados pela morte; e agora a separação haveria de causar uma divisão até entre as mulheres. Tudo agora era só esperança: “Algum dia, vocês, meninas, terão novos maridos e novos lares”, Temos aqui exibida graficamente a triste situação das viúvas, nos dias antigos. Os pais das jovens teriam de renovar suas responsabilidades, até que surgissem novos maridos para elas. A “dependência" feminina fica assim ilustrada. A condição das mulheres, desde então, tem mudado radicalmente para melhor em muitas (embora não em todas as) sociedades modernas. Mas a viuvez, seja como for, é uma prova difícil para uma mulher. Ver no Dicionário o verbete chamado Viúva.

E beijou-as. O ato de beijar era um sinal de afeto. O chamado óscufo santo, entre pessoas de sexo diferente, era usualmente dado na mão. Naquele tempo, tal como hoje em dia, o “beijo” era uma maneira de dizer “adeus” ou de saudar a alguém. Ver no Dicionário o artigo chamado Beijo. Dizer “adeus” é uma espécie de “pequena morte". Contudo, mesmo nos casos de “morte grande”, a separação não é definitiva, Arthur John Gossip, eloqüente pregador e autor, dedicou dois de seus livros à sua esposa, e o segundo após a morte dela. A dedicatória dizia: “• minha esposa, até hoje minha companheira, com gratidão, amor e esperança”. E também: “• minha casa, que agora faz muito tempo está na casa do Pai". Esses fatos ficaram registrados no livro intitulado Experience Works Hope, havendo algo de consolador na observação de que a experiência durante a vida, longe de deixar-nos desconsolados, na verdade acende a esperança, mesmo quando essa experiência traz a morte.

Rt 1:10
Não, iremos contigo ao teu povo.
A determinação das duas jovens, de ficarem com sua sogra, o que incluía a recusa de voltarem às suas respectivas casas paternas, ao que poderia parecer, na ocasião, importava em desistirem elas de se casarem de novo. Isso serve de ilustração da profunda amizade e do afeto que se tinha desenvolvido entre aquelas três mulheres. O espírito de sacrifício pessoal era o conceito que governou aquele momento. Os Targuns procuram lançar uma “luz” desnecessária sobre o texto, ao suporem que as duas jovens estavam resolvidas a converter-se à fé dos hebreus, o que abriría para ambas a possibilidade de um novo casamento. Naquele momento, entretanto, não houve nenhum “cálculo teológico” dessa natureza.

Rt 1:11

Voltai, minhas filhas. Noemi já era mulher muito idosa para produzir filhos com os quais as duas jovens pudessem casar-se; e elas também não haveríam de querer esperar o tempo necessário para que os meninos se tornassem adultos e casassem com elas. Novos casamentos, pois, eram a única grande esperança para que aquele desastre fosse revertido, conforme acontece com a vasta maioria das mulheres que enviuvam. Naqueles dias, uma mulher viúva era forçada a depender ou de seu pai, ou da prostituição, se quisesse sobreviver, a menos que viesse a casar-se de novo. Noemi, pois, afirmou enfaticamente que ela era incapaz de resolver o problema que suas duas noras estavam enfrentando.

Rt 1:12

Tornai, filhas minhas, ide-vos embora. Noemi prosseguiu em suas racionalizações, transbordante de condições impossíveis. Ela estava idosa demais para casar-se de novo e ter filhos que pudessem casar-se com suas duas noras. Não fora isso, e não fosse verdade que as próprias mulheres já estava idosas bastante para esperar que novos filhos de Noemi nascessem e crescessem, então ela estaria ansiosa para produzir outros filhos para elas. O caso, entretanto, simplesmente não tinha solução. Portanto, a recomendação que voltassem ao povo delas era a única orientação que lhes podia dar. Em outras palavras, a utilidade de Noemi para suas duas noras era uma perda de tempo. Elas teriam de buscar socorro em algum outro lugar.

A lei do levirato (ver Dt 25:5,Dt 25:6) provavelmente estava por trás de toda a argumentação de Noemi. Ver no Dicionário o artigo detalhado chamado Lei do Levirato. Não havia irmãos vivos que pudessem assumir a responsabilidade de casar-se com as jovens, como seus cunhados. E não haveria mais filhos. Esse aspecto da vida de Noemi tinha terminado. Ver a história, no capítulo 38 de Gênesis, quanto a uma aplicação dessa lei. Os códigos legais dos hititas e dos assírios continham provisões similares. A lei do levirato não pesava sobre um filho não-nascido. Além disso, um irmão que se casasse com a esposa de um seu irmão falecido tinha de ser alguém gerado pelo mesmo pai que o falecido. Assim sendo, essas condições eliminavam toda esperança de que Noemi pudesse ajudar suas duas noras, com filhos, para se casarem com elas.

Rt 1:13
Até que viessem a ser grandes?
A triste argumentação de Noemi prossegue aqui. Era uma argumentação fútíl, pois não levava a coisa nenhuma. Ainda que Noemi tivesse novos filhos, eles não serviriam para casar com as duas mulheres moabitas. Mas então, em uma explosão de amargura, Noemi lançou a culpa de toda a sua sorte cruel sobre Yahweh. A “mão" Dele tinha-se voltado contra ela; e ela só poderia mesmo esperar infortúnio e reversões. Ela não podia oferecer nenhuma esperança para as duas mulheres moabitas, pelo que elas tinham de procurar socorro em outro lugar.

Fraca quanto a Causas Secundárias. Ver também as notas sobre o versículo 20 deste capítulo. A teologia dos hebreus era deficiente quanto a causas secundárias; e, por isso mesmo, todas as coisas eram lançadas na conta de Deus. Para ilustrar, apelemos para a terrível história do homem que já nascera aleijado. Aproximou-se outro hebreu e, vendo o coitado e feio homem, começou a rir-se.

De fato, aquele homem aleijado era uma piada pespegada pela natureza. Mas o homem que tanto ria de súbito parou, pois lembrou a sua teologia hebréia: “Deus fez ele ser assim!”. A mente dele volveu-se para a “causa única” de todas as coisas. Pontos de vista exagerados sobre a predestinação repousam sobre essa antiga e insuficiente teologia dos hebreus, na qual há espaço somente para Uma Causa de tudo, ou seja, não há causas secundárias. Ora, se há apenas uma única causa, então todas as coisas derivam-se dessa causa única — todas as coisas, tanto as boas quanto as m s. Foi com base nessa idéia que os homens inventaram a terrível doutrina da reprovação ativa. E até mesmo a reprovação passiva é uma teologia inadequada. Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia os verbetes intitulados Reprovação e Predestinação.

O Senhor. No original hebraico, essa palavra é Yahweh. Ver no Dicionário os artigos intitulados Yahweh e Deus, Nomes Bíblicos de.

Rt 1:14
Orfa com um beijo se despediu de sua sogra.
A vigorosa e convincente argumentação de Noemi levou Orfa a voltar à casa de seu pai. Mas Rute continuou com a sua sogra, encaminhando-se assim para o seu verdadeiro destino, pois nenhuma discussão convenceu-a a abandonar sua sogra. O original hebraico é aqui muito compacto e vigoroso. Somente seis palavras foram usadas. Mas os tradutores são forçados a expandir a frase, a fim de transmitir um sentido compreensível.

É ridículo criticar Orfa quanto a esse particular. Ela simplesmente estava seguindo o destino dela, ao passo que Rute também estava seguindo o seu próprio destino. A dedicação dela a Noemi não era menor que a de Rute. Um novo período tinha começado para Orfa; e um novo período tinha começado para Rute. Elas simplesmente eram pessoas diferentes, pelo que não se deve falar em termos de censura para uma e de elogios para outra. Podemos falar em termos de algum afeto superior existente em Rute, mas nem mesmo isso detrata Orfa em coisa alguma. Viva e deixe viver, dando-se a Deus o crédito por Ele tê-las guiado de maneiras diferentes. Oria fez o que Noemi mesma insistira que ela fizesse; e o que ela fez foi correto para ela. Mas Rute não atendeu à insistência de Noemi, porque havia uma voz, a voz de Yahweh, que a impelia a continuar até Belém. Rute escolheu um caminho mais excelente, mas isso para ela. O outro caminho foi o caminho mais excelente, para Orfa. O caminho mais excelente é sempre aquele que é governado pelo amor (ver 1Co 12:31); e foi quanto a isso que Rute se destacou, e devemos dar-lhe o crédito por essa excelência. Noemi, por sua vez, apreciou a determinação e o amor de Rute, e assim permitiu-lhe acompanhá-la até Belém (ver o versículo 18 deste capítulo).

Rt 1:15
Eis que tua cunhada voltou ao seu povo. O argumento final de Noemi tencionava convencer Rute a voltar à casa de seu pai, em Moabe, seguindo o exemplo de Orfa, que acabou retornando a Moabe (vs. Rt 1:14). Mas esse argumento também falhou, tal como tinha acontecido com todos os demais. Os Targuns capitalizam demasiadamente este versículo, dizendo que Orfa tinha abandonado a idolatria dos moabitas, mas agora, ao voltar à casa de seu pai, reiniciava suas antigas práticas idólatras. Mas é uma tolice pintar de preto os textos bíblicos, quando não há nenhum indício nos próprios textos bíblicos. Não houve, no caso de Orfa, nenhuma apostasia, mas tão-somente o pressuposto de que a volta aos moabitas seria o retorno às formas e práticas religiosas anteriores. Entretanto, é correto supor que Rute, por ter ido para Belém, converteu-se deveras à fé dos hebreus. Isso é até mesmo enfatizado no versículo seguinte. Alguns estudiosos têm visto na declaração de Noemi um laivo de henoteísmo. Essa é a crença que diz que “há um Deus que se aplica a nós”, mas sem negar que existem deuses que se aplicam a outros povos. O henoteísmo foi uma espécie de introdução ao monoteísmo. Era um monoteísmo prático, embora ainda não organizado como uma teoria. Ver no Dicionário o artigo chamado Monoteísmo.

“Não há que duvidar que Noemi via os ídolos moabitas como realidades cujo poder, entretanto, estava confinado ao território de Moabe. Ela não estava suficientemente iluminada, quanto à sua religião, para perceber que o Senhor (Yahweh) era mais do que meramente o Deus de Israel" (Ellicott, in loc., que dessa maneira nos oferece a essência do henoteísmo).

Rt 1:16,Rt 1:17

Não me instes para que te deixe. É provável que esses dois versículos sejam a passagem mais conhecida do livro de Rute, pois têm sido citados incessantemente por todos os séculos. Têm sido usados nas cerimônias de casamento e fazem parte dos votos tomados. Têm até mesmo sido usados na bibliomancia, sobre o que discuti na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Uma forma dessa adivinhação consiste em prender uma tesoura dentro de uma Bíblia, de modo que fiquem de fora, pelo lado de cima da Bíblia, as orelhas da tesoura, de forma a poderem ser usadas como pontos de apoio onde a pessoa põe seus dedos indicadores. A Bíblia, assim elevada, serve de eixo em torno do qual a tesoura gira. Perguntas são feitas. As respostas “sim" ou “não” são dadas de acordo com o giro da Bíblia para a direita ou para a esquerda. É fácil, porém, demonstrar que qualquer livro assim preso por um fio, com a tesoura estendendo-se acima, dará respostas pelo mesmo método. As experiências com essa estranha forma de adivinhação mostram que o que está em operação é a psicocinese, ou seja, o poder da mente para mover objetos. As experiências também Têm demonstrado que a Bíblia ou outros livros que girem assim não dão respostas desconhecidas para as pessoas presentes, ou que estejam experimentando o jogo, pois tudo não passa de uma brincadeira, sem mais nem menos. Não é algo nem divino nem diabólico. É algo humano, dependendo do poder da mente para mover objetos, sem que haja contato físico. Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia o artigo intitulado Psicocinésia.

A Dedicação Total: Rute não conseguia separar-se de Noemi. Esse impulso vinha de dentro dela, de sua própria alma, visto que o destino dela estava em jogo, e esse destino dependia de sua ida para Belém de Judá. Ela estava destinada a tornar-se a bisavó do rei Davi, e uma das antepassadas de Jesus, o Cristo. Isso não poderia tornar-se uma realidade se ela voltasse, juntamente com Orfa, para a terra dos moabitas.

Elementos da Dedicação:

1. Insistências contrárias ao destino que começava a descortinar-se tinham de parar imediatamente, antes que impedissem Rute de cumprir o propósito que a estava chamando desde o fundo do coração. Algumas vezes é melhor confiar no coração do que na mente.

2. Rute tinha de seguir Noemi, a qual estava avançando na direção em que o destino dela a guiava. Continuamos a avançar quando não parece haver outra saída senão continuar avançando.

3. Similaridade de localização geográfica precisava ser conseguida, para que o propósito tivesse cumprimento. Havia um “lugar certo” para que o drama futuro começasse a acontecer.

4. O povo de Noemi teria de ser o povo de Rute. Como Rute poderia vir a ser a bisavó de Davi, o rei, se não fosse viver em Belém? Somente ali ela poderia participar da comunidade que haveria de produzir, finalmente, o rei, e então, o Rei Messias.

5. Embora a morte haveria de separar as duas, chegado o tempo de Noemi morrer, o propósito já teria operado na vida de Rute, quando isso acontecesse. Não fica claro se Rute já tinha recebido ou não a noção da imortalidade. Esse conceito, de modo geral, só começou a ser aceito em Israel quando do período intermediário entre o Antigo e o Novo Testamento. Mas figura com clareza nos Salmos e nos Profetas, pois foi então que o conceito passou a crescer em Israel. O trecho de Ezequiel 32:21-30 dá a entender que cada nação tem o seu próprio lugar no sheol, e, nesse caso, mesmo naquele lugar espiritual continuaria a identificação de Rute com Israel. Porém, é duvidoso que a declaração feita aqui por Rute queira dar a entender qualquer coisa dessa natureza.

6. Invocação de alguma espécie de juizo se o intuito divino não se cumprisse. “A decisão de Rute era tão definitiva que incluía referência à morte e ao sepultamento. Ela ficaria com Noemi até a morle e mais além. A fim de selar a qualidade de sua decisão, Rute invocou o julgamento, da parte do Deus de Israel, se ela viesse a trair seu compromisso de lealdade para com a sua sogra” (John W. Reed, in loc.).

7. Uma nova fé religiosa, com o conseqüente abandono dos antigos caminhos e sua idolatria, tornaria possível o cumprimento de todas as provisões do compromisso assumido.

“Nunca antes se fizera uma tão perfeita rendição de sentimentos amigáveis para com um amigo” (Adam Clarke, in loc.). Rute não abandonou Noemi; antes, continuou a segui-la; alegremente abandonou seu próprio país e seu próprio povo, e com idêntico júbilo adotou um novo povo. A resolução dela foi mais forte do que a própria morte.

Uma Lição Inesquecível. Um elemento conspícuo desses dois versículos não deveria jamais ser negligenciado. Rute sabia, lá em sua própria alma, o que o seu destino requeria dela. Essa convicção interior e esse conhecimento foram capazes de derrotar os argumentos de sua sogra, que insistia em que ela seguisse um curso “lógico”, o qual, contudo, lhe era prejudicial.


Oh, mundo, não escolheste a melhor parte;
Não é sábio ser apenas sábio,
E fechar os olhos para a visão interior,
Mas é sabedoria acreditar no coração.
Colombo achou um mundo, e não tinha mapa,
Salvo o da fé, decifrado nas estrelas:
Confiar na empresa invencivel da alma Era toda a sua esperança, toda a sua arte.
Nosso conhecimento é uma tocha fumegante Que ilumina o caminho um passo de cada vez,
Através de um vazio de mistério e espanto.
Ordena, pois. que brilhe a luz terna da fé,
A única capaz de dirigir nosso coração mortal Aos pensamentos sobre as coisas divinas.

(George Santayana)

Rt 1:18
Deixou de insistir com ela.
A percepção interior de Rute, quanto à vontade Deus, venceu todas as racionalizações de Noemi. Isso posto, estava superado o primeiro obstáculo para a concretização do plano de Deus, embora muitos outros ainda tivessem de ser vencidos. A tragédia haveria de ceder espaço para um Novo Dia. Mediante a fé, Rute tinha sido capaz de saltar por cima das barreiras que haviam sido postas à sua frente. Um propósito constante tinha removido a primeira barreira.


Genebra

Comentários da Bíblia de Estudos de Genebra pela Sociedade Bíblica do Brasil para versão Almeida Revista e Atualizada (ARA)
Genebra - Comentários de Rute Capítulo 1 do versículo 1 até o 22
*

1.1-5 Esse prefácio avança rapidamente através do fundo histórico necessário (tempo, lugar, e motivo do conflito), armando o palco para as cenas que se seguirão.

* 1.1 Nos dias em que... Essa expressão traduz a fórmula hebraica padronizada para a abertura de um livro histórico. O período dos juízes em Israel gozava de má fama como tempo de instabilidade e apostasia.

fome. Os eventos no livro de Rute giram em torno da maldição da fome, e da sua correspondente conversão em bênçãos. A fome era, às vezes, um sinal da desaprovação divina (1Rs 17:1). Noemi (1,21) reconhece amargamente a mão soberana de Deus nas suas circunstâncias que, de qualquer maneira, os acontecimentos nunca acontecem à parte dos seus decretos.

terra de Moabe. Lit. “campinas de Moabe.” Os moabitas, que tinham parentesco com Israel através de Ló (Gn 19:37), ocuparam partes da Transjordânia central em várias ocasiões. Embora Deus inicialmente os protegesse dos invasores isaelitas (Dt 2:9), os moabitas foram subjugados por Saul (1Sm 14:47) e depois, por Davi (2Sm 8:2). Ver também Dt 23:3. Houve alguns períodos de relacionamentos amistosos, com consideráveis intercâmbios culturais e econômicos, conforme revela o fato de Davi, enquanto era fugitivo, ter colocado seus pais aos cuidados do rei de Moabe (1Sm 22:3). A estadia de Elimeleque em Moabe ocorre durante um período desses.

* 1.2 Elimeleque. Embora a história tenha tido seu clímax quando Deus forneceu um herdeiro imediato para o falecido Elimeleque, o drama enfatiza o papel das mulheres na família (4.14,
16) e a relevância passageira de Elimeleque como ancestral remoto de Davi (4.17-22).

Noemi. Lit. “agradável” (v. 20-21). A história de Noemi é contada primeiro.

* 1:4

mulheres moabitas. Essa ação não era proibida, embora Dt 23:3-6 proibisse aos descendentes masculinos o acesso ao templo. A ironia é que um herdeiro, e um ancestral do rei Davi, nasceria de alguma dessas estrangeiras.

* 1:5

ficando, assim, a mulher. Noemi era uma mulher velha e estéril, num país estrangeiro, com duas noras estrangeiras que não tinham filhos. Parece uma candidata improvável para desempenhar algum papel na história da redenção segundo a aliança com o Senhor.

* 1.6, 7 Esses versículos armam o palco para os vs. 8-18. As mulheres terão que resolver quais fatores determinarão os seus caminhos: achar um marido e ter filhos, viver no seu próprio país, ficar perto dos parentes, ou finalmente, para Rute, confiar no Senhor como Deus soberano. O amor de Noemi pelas suas noras, e a sua reação diante de experiências amargas nas mãos de Deus, dominam a cena. A decisão de Rute, e seu voto irrevogável de fidelidade ao povo de Noemi e ao Deus dela, demonstra claramente o impacto que o caráter e fé que Noemi possuia tiveram sobre sua nora.

* 1.6 o SENHOR se lembrara do seu povo. É soada uma nota de esperança. A história de Rute nunca perde Deus de vista, cujo amor fiel domina toda a História.

* 1.9, 10 iremos contigo. Essa declaração inicial das duas noras ressalta a tensão dramática.

*

1.11 Tenho ainda... filhos. Noemi, ao falar em criar mais filhos para substituírem os maridos falecidos, só serviu para aumentar seu senso de perda. A própria idéia talvez se refira à lei do casamento por levirato. Segundo essa lei, se um homem morresse, deixando uma viúva, o irmão dele tinha a obrigação de casar-se com a viúva, tomando seu lugar e preservando a linhagem da família (Dt 25:5, 6). Também existia um costume que quando alguém morresse, um parente chegado (ou “resgatador”) tinha o dever de comprar (ou “redimir”) a herança do falecido. Exatamente como esses costumes funcionaram na história de Rute e Boaz é assunto de contínuos debates (2.20, nota).

* 1.15 seus deuses. Um elemento novo é introduzido. Até a essas alturas, podia ter sido pressuposto que as noras tinham se tornado adoradoras do Senhor. Agora fica claro que a escolha de uma pátria é uma escolha em favor do Deus verdadeiro, ou contra ele. No contexto da escolha de Orfa, a coragem e beleza da declaração de Rute (vs. 16-17) fica tanto mais óbvia.

* 1.19-21 Noemi... pobre. A pergunta das mulheres (v. 19) expressa como ficaram atônitas porque essa mulher, cujas circunstâncias antes refletiam o seu nome (“agradável”), tivesse agora caído em tempos tão adversos. Noemi não hesita em dizer que isto veio do Senhor. Não oferece uma razão, e o narrador não sugere nada a respeito da razão dos sofrimentos dela.

* 1:22

Rute... a moabita. Ela não é uma Rute qualquer. Para a história, é crucial que ela seja lembrada como estrangeira (1.4; 2.2, 6, 21; 4.5, 10; especialmente 2.10). Além disso, o leitor pode ser levado a pensar na antepassada de Rute, a filha de Ló, e dos começos incestuosos da nação moabita (Gn 19:30-38). Nos dois casos o problema é não ter filhos, ou a falta de um herdeiro masculino.

sega da cevada. Calendários antigos, tais como o Calendário de Gézer, do século X a.C., associavam os meses com o ciclo agricultural. A cevada era o primeiro dos cereais a serem colhidos, em abril; o trigo era o último. Na tradição posterior, as colheitas de cevada e de trigo vieram a ser identificadas com as festas da Páscoa e do Pentecostes. A ocasião da colheita era num momento de celebração, de se regozijar juntamente diante de Deus, e de se lembrar dos pobres. O desenvolvimento da narrativa está vinculado a esse esquema. As mulheres voltam para casa na ocasião da colheita da cevada, um tempo de favor divino, e o início da restauração frutífera para Noemi.


Matthew Henry

Comentário Bíblico de Matthew Henry, um pastor presbiteriano e comentarista bíblico inglês.
Matthew Henry - Comentários de Rute Capítulo 1 do versículo 1 até o 22
1:1 A história do Rut transcorre em algum momento durante o período dos juizes. Aqueles eram dias negros para o Israel, quando "cada um fazia o que bem lhe parecia" (Jz 17:6; Jz 21:25). Mas em meio desses tempos escuros e maus, até havia quem seguia a Deus. Noemí e Rut são exemplos formosos de lealdade, amizade e entrega a Deus e ao um pelo outro.

1:1, 2 Moab era a terra ao leste do Mar Morto. Era uma das nações que oprimiram ao Israel durante o período dos juizes (Jz 3:12ss), assim é que havia hostilidade entre as duas nações. A fome deveu ter sido bastante severo no Israel para que Elimelec decidisse ir-se daí com sua família. Lhes chamava efrateos porque Efrata era o nome antigo de Presépio. Até se o Israel derrotasse ao Moab, seguiriam as tensões entre eles.

1:4, 5 As relações amistosas com os moabitas não se passavam (Dt 23:3-6) embora possivelmente não se proibiram, já que os moabitas viviam fora da terra prometida. Casar-se com um cananeo (e com qualquer que vivesse dentro das fronteiras da terra prometida), estava, entretanto, contra a Lei de Deus (Dt 7:1-4). Aos moabitas não lhes permitia adorar no tabernáculo porque durante o êxodo do Egito não permitiram aos israelitas passar através de sua terra.

Como nação escolhida de Deus, Israel deveu ter estabelecido as normas de uma vida de alta moral para as outras nações. É irônico, mas foi Rut, uma moabita, a quem Deus usou como exemplo de caráter espiritual genuíno. Isto mostra quão estéril era a vida do Israel nesses dias.

RUT E NOEMI

As histórias de algumas pessoas na Bíblia se encontram tão entrelaçadas que quase são inseparáveis. Sabemos mais a respeito de sua relação que delas como indivíduos. E em uma era que rende culto à personalidade, suas histórias são modelos úteis que ajudam às boas relações. Noemí e Rut são exemplos formosos desta fusão de vidas. Suas culturas, seus antecedentes familiares e sua idade eram muito diferentes. Como sogra e nora, talvez tiveram tantas oportunidades de tensão como de ternura. E assim se mantiveram unidas a uma à outra.

Passaram por profunda tristeza, quiseram-se muito e entregaram por completo ao Deus do Israel. E apesar de sua interdependência, tinham liberdade quanto a seu compromisso da uma pela outra. Noemí estava disposta a permitir que Rut retornasse a sua família. Rut estava disposta a deixar sua terra natal e ir ao Israel. Noemí incluso ajudou nos acertos matrimoniais do Rut e Booz mesmo que isto podia trocar sua relação com ela.

Deus estava no centro de sua comunicação íntima. Rut chegou a conhecer deus do Israel através do Noemí. A anciã permitiu que Rut visse, escutasse e sentisse todo o gozo e a angústia de sua relação com Deus. Quão freqüentemente sente você que seus pensamentos e perguntas a respeito de Deus devem ficar fora de uma amizade íntima? Quão freqüentemente expressa seus desordenados pensamentos a respeito de Deus com sua esposa ou com seus amigos? Expressar abertamente a respeito de nossa relação com Deus pode brindar profundidade e intimidade a nossa relação com outros.

Pontos fortes e lucros:

-- Uma relação onde o vínculo maior era a fé em Deus

-- Uma relação de um sólido compromisso mútuo

-- Uma relação em que cada pessoa tratou de fazer o melhor para a outra

Lições de sua vida:

-- A presença viva de Deus em uma relação supera as diferenças que de outro modo criam divisão e desarmonia

Dados gerais:

-- Onde: Moab, Presépio

-- Ocupações: Algemas, viúvas

-- Familiares: Elimelec, Mahlón, Quelión, Orfa, Booz

Versículo chave:

"Respondeu Rut: Não me rogue que te deixe, e me além de ti; porque a em qualquer lugar que você for, irei eu, e em qualquer lugar que viver, viverei. Seu povo será meu povo, e seu Deus meu Deus" (Rt 1:16).

Sua história se relata no livro do Rut. Mt 1:5 também menciona ao Rut.

1.8, 9 No mundo antigo quase não havia nada pior que ser viúva. Maltratavam-nas ou as passavam por cima. Quase sempre eram pessoas golpeadas pela pobreza. A Lei de Deus, entretanto, estabelecia que o parente mais próximo do marido falecido devia cuidar da viúva; mas Noemí não tinha parentes no Moab e não sabia se existia algum vivo no Israel.

Até nessa situação se desesperada, Noemí teve uma atitude desinteressada. Embora decidiu retornar ao Israel, animou ao Rut e a Orfa para que ficassem no Moab e começassem uma nova vida, embora isso significasse mais dor para ela. Como Noemí, devemos considerar as necessidades de outros e não só as nossas. Conforme descobriu Noemí, quando você atua desinteresadamente, outros se sentirão animados a seguir seu exemplo.

1:11 O comentário do Noemí aqui ("eu tenho mais filhos no ventre que possam ser seus maridos?") refere-se ao levirato, a obrigação do irmão do finado de cuidar sua viúva (Dt 25:5-10). Esta lei evitava que a viúva ficasse na miséria e proporcionava uma forma para que continuasse o nome do finado algemo.

Noemí, entretanto, não tinha outros filhos que se casassem com o Rut nem com a Orfa, assim que as animou para que ficassem em sua terra natal e se voltassem a casar. Orfa esteve de acordo, o qual era seu direito. Mas Rut esteve disposta a renunciar à possibilidade de segurança e filhos para cuidar do Noemí.

1:16 Rut era uma moabita, mas isso não lhe impediu de adorar ao Deus verdadeiro, nem tampouco impediu a Deus aceitar sua adoração e encher a de grandes bênções. Deus não amava unicamente aos judeus. Deus escolheu aos judeus como instrumento para que o resto do mundo o conhecesse. Isto se cumpriu quando Jesus nasceu como judeu. Através do, todo mundo pode conhecer deus. At 10:34-35 diz que "Deus não faz acepção de pessoas, mas sim em toda nação se agrada do que lhe teme e faz justiça". Deus aceita a todos os que o adoram; atua através das pessoas sem importar raça, sexo ou nacionalidade. O livro do Rut é um exemplo perfeito da imparcialidade de Deus. Embora Rut provinha de uma raça freqüentemente desprezada pelos israelitas, foi benta por sua fidelidade. Chegou a ser a bisavó do rei Davi e um antepassado direto do Jesus.

1.20, 21 Noemí experimentou várias penúrias. Abandonou o Israel casada e segura; retornou viúva e pobre. trocou-se o nome para expressar sua amargura e a dor que sentia. Noemí não rechaçava a Deus ao manifestar abertamente sua dor. Entretanto, tal parece que perdeu a visão dos tremendos recursos que tinha em sua relação com o Rut e com Deus. Quando em frente momentos amargos, Deus receberá com agrado suas orações sinceras, mas cuide-se de não passar por cima o amor, a força e os recursos que O provê nas pressente relações. E não permita que a amargura e a desilusão o ceguem ante as oportunidades.

1:22 Presépio estava a uns oito quilômetros ao sul de Jerusalém. O povo estava rodeado por exuberantes campos e arvoredos de olivos. Suas colheitas eram abundantes.

A volta do Rut e Noemí a Presépio foi sem dúvida parte do plano de Deus porque nesta aldeia nasceria Davi (1Sm 16:1) e como o predisse o profeta Miqueas (Mq 5:2), também Jesus nasceria ali. Esta ação, foi mais que uma simples conveniência para o Rut e Noemí. Conduzia ao cumprimento da Escritura.

1:22 devido a que o clima do Israel é muito moderado, há duas colheitas cada ano, na primavera e no outono. A colheita de cevada se levava a cabo na primavera e foi nesse tempo de esperança e de plenitude que Rut e Noemí retornaram a Presépio. Presépio era uma comunidade agrícola e devido a que era época de colheita, havia muito grão restante nos campos. Este grão podia compilar-se ou espigar-se e logo convertê-lo em alimento. (se desejar mais informação sobre espigar, veja-a nota a 2.2.)


Wesley

Comentário bíblico John Wesley - Metodista - Clérigo Anglicano
Wesley - Comentários de Rute Capítulo 1 do versículo 1 até o 22

MIGRAÇÃO I. Elimeleque TO MOAB (Rt 1:1)

6 Então se levantou ela com as filhas-de-lei, que ela poderia voltar a partir do país de Moab.: por que tinha ouvido no país de Moab como o Senhor havia visitado o seu povo, dando-lhes pão 7 E ela saiu do o lugar onde ela estava, e suas duas filhas-de-lei com ela; e eles iam a caminho de volta para a terra de Jd 1:8 E Naomi disse a suas duas filhas-de-lei, Vai, volta cada um de vocês para a casa de sua mãe: negócio Jeová bondosamente com você, como vós o fizestes com o morto, e comigo. 9 Jeová conceder-lhe que acheis descanso cada uma em casa de seu marido. Em seguida, ela beijou-os, e eles levantaram a sua voz, e chorou. 10 E disseram-lhe: Não, mas nós voltaremos contigo ao teu Pv 11:1 E Naomi disse: Voltai, minhas filhas; porque ireis com me? Tenho eu ainda filhos no meu ventre, para que possam ser seus maridos? 12 Voltai, minhas filhas, seguir o seu caminho; pois eu sou velho demais para ter um marido. Se eu devo dizer, eu tenho esperança, se eu deveria mesmo ter uma noite marido, e ainda tivesse filhos, 13 seria, pois, vós fique até que eles foram cultivadas? portanto, seria a vós de ter maridos? Não, filhas minhas; para entristece-me muito por amor de vós, para a mão do Senhor vem saindo contra mim. 14 e levantaram a sua voz, e chorou novamente: e Orfa beijou a sua mãe-de-lei; mas Rute se apegou a ela.

Naomi se esforçou para convencer as filhas-de-lei para permanecer em Moab. Vai, volta cada um de vocês para a casa de sua mãe (v.


Wiersbe

Comentário bíblico expositivo por Warren Wendel Wiersbe, pastor Calvinista
Wiersbe - Comentários de Rute Capítulo 1 do versículo 1 até o 22
Esse é o oitavo livro do Antigo Tes-tamento, e oito é o número do novo início. Os eventos de Rute acontecem na época de Juizes, mas que diferença há entre esses dois li-vros! Em Rute, encontramos bran- dura, amor e sacrifício, em vez de violência e desobediência à Lei. É bom saber que mesmo em épocas ruins ainda há pessoas boas, e que Deus continua a operar nos "qua-tro cantos da terra", embora a vio-lência ocupe os noticiários. Rute e Ester são os únicos livros do Antigo Testamento que recebem nome de mulheres. Rute era uma gentia que se casou com um judeu. Ester era uma judia que se casou com um gentio. Contudo, Deus usou as duas para salvar a nação. O livro de Rute localiza-se entre Juizes e Samuel por um motivo claro. Juizes apre-senta o declínio da nação judaica; Samuel, o estabelecimento do rei-no judaico; e Rute retrata Cristo e sua noiva. Na presente era, em que Israel é posta de lado, Cristo cha-ma sua noiva dentre os gentios e os judeus. Como veremos, esse livro conciso tem um sentido simbólico magnífico. É uma história de amor e de colheita, e é isso que Deus faz em nosso mundo hoje.

  • A decisão errada (vv. 1-5)
  • Não sabemos por que havia fome em Belém ("casa de pão"). Prova-velmente isso acontecia por causa dos pecados do povo. Elimeleque ("Deus é Rei") e Noemi ("agradá-vel") levaram os dois filhos para a terra de Moabe, em vez de confiar em Deus na terra deles mesmos. Abraão cometeu um erro seme-lhante quando foi para o Egito (Gn 12:10ss). É melhor passar fome em conformidade com a vontade de Deus que comer o pão do inimigo! Eles planejavam "habitar" por pou-co tempo em Moabe, mas "ficaram" até morrerem o pai e os dois filhos. O nome dos filhos reflete a prova-ção da estada deles em Moabe: Ma- lom significa "doentio", e Quiliom significa "desperdício". "O pendor da carne dá para a morte" (Rm 8:6). Os judeus não deviam se misturar com os moabitas (Dt 23:3). Assim, a decisão errada deles trouxe-lhes a disciplina de Deus.

  • A orientação errada (vv. 6-18)
  • A apóstata Noemi deseja voltar para Judá, mas não é sábia em convidar suas noras para acompanhá-lalTome cuidado com a advertência sobre os cristãos carnais. Imagine, Noemi manda essas mulheres de volta a seus ídolos pagãos! Ela pensava que os únicos interesses delas (como os

    que ela mesma nutria) eram carnais, irias Rute tinha anseios mais altos que pão e casamento. Orfa retornou a sua vida antiga, mas Rute "se ape-gou a ela". Ela queria seguir o Deus verdadeiro, Jeová, e abandonar a antiga vida pagã. Ela tomou uma decisão firme: "Aonde quer que fo-res, irei eu", apesar da orientação mais materialista, não espiritual, de Noemi.

  • O estado de espírito errado (w. 19-22)
  • O retorno delas comoveu a cidade, pois Noemi mudara muito. Nota-mos aqui um espírito amargo em relação ao Senhor? Ela culpa Deus por suas provações? Com certeza, esses versículos advertem o apóstata do alto custo que acarreta contrariar a vontade de Deus. "Chamai-me Mara" — "amargura"! Veremos que Deus usa Rute para mudar as atitu-des de sua sogra em relação à vida e a Deus.


    Russell Shedd

    Comentários da Bíblia por Russell Shedd, teólogo evangélico e missionário da Missão Batista Conservadora.
    Russell Shedd - Comentários de Rute Capítulo 1 do versículo 1 até o 22
    1.1 Nos dias... juízes. Ainda que sem precisão cronológica, esta história se enquadra nos tempos caóticos dos juízes. Fome na terra. Várias vezes, no AT, encontramos os habitantes da Palestina deslocando-se para outras terras, em busca de melhores condições de vida. Neste caso, sugere-se que não foi especificamente a falta de chuva que incentivou Elimeleque e sua família a fixarem residência em Moabe. Motivos suficientes se ofereceram nas invasões e no terrorismo reinantes na Palestina.

    1.2 Elimeleque. "Deus é Rei”. Associar uma criança com o nome de Deus denotava uma relação mais estreita com a Divindade. Noemi. "Agradável". Malom sugere "fraqueza". Talvez fosse criança fraca e doentia. Quiliom significa "falho" ou "aniquilação". Efrateus. Belém (onde Cristo nasceu), .anteriormente, chamava-se Efrata (Gn 35:19; 48:7; Rt 4:11; Mq 5:2).

    1.4 Moabitas. Estes eram proibidos de tomar parte do culto ou participarem da congregação de Israel, até à décima geração (Dt 23:2); a lei não condenava o casamento com aqueles vizinhos pagãos. Rute. "Amizade", nome que corresponde perfeitamente com o tema deste livro.

    1.6 Lembrara. Heb "visitara", que é, termo usado para designar a atividade divina em relação ao Seu povo, tanto no abençoar como no irar-se (conforme Jr 25:12). Dando-lhe pão. Os israelitas sentiram-se interiormente dependentes da generosidade de Deus, Dano da terra e Controlador dos tempos.

    1.8 O Senhor. Em heb, "yahweh", o nome pessoal de Deus em Israel. Nota-se a fé monoteísta dos moabitas. Benevolência traduz a hesed, que muitas vezes revela o amor de Deus manifestado na Aliança. Combinam as idéias de fidelidade e as de benignidade. 1.11 Filhos. Noemi refere-se à lei do levirato, em que se estabelece que um homem, sobrevivendo ao seu irmão que morrera sem ter deixado filhos, era obrigado a casar-se com a cunhada, a viúva, para suscitar descendência ao que falecera (Dt 25:5-5).

    1.13 Descarregado... sua mão. Revela a profunda convicção de que não é por mero acaso ou por má sorte que os acontecimentos da vida transcorrem. O sofrimento é semelhante aos fios escuros, da tecelagem, criado por Deus para sua maior glória.

    1.14 Com um beijo, se despediu. Conforme Gn 31:28; 1Rs 19:20. Orfa obedeceu; Rute se apegou a Noemi e ficou com ela. • N. Hom. 1.16 "A Fidelidade e a devoção":
    1) Não se limitam às vantagens pessoais;
    2) Não se limitam ao tempo;
    3) Não se limitam aos costumes ou à velha religião;
    4) Não se limitam, outrossim, ao povo, ou à terra. Conclusão: Deus valoriza esse tipo de fidelidade e devoção (Rm 8:38-45).

    1.16,17 A resposta de Rute é uma expressão clássica de lealdade até a morte. Lembra-nos das palavras de Cristo, "Todo aquele que dentre vos não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo" (Lc 14:33; conforme Jo 11:16). Serei sepultada. Rute revela sua intenção de continuar morando na casa e na terra de Noemi, sua sogra, que era bem mais velha, mesmo após a morte desta.

    1.18 Estava resolvida. Depois do juramento solene de Rute (v. 17), não seria nem aconselhável, nem mesmo piedoso, insistir mais.

    1.19 Não é esta Noemi? Passados já muitos anos, as mais duras fases da vida, as quais Noemi atravessara, ficaram marcadas.

    1.20 Mara. Quer dizer "amargura" (cf. Êx 15:23; 13:26).

    1.21 O Todo-poderoso. Heb, shaddai, 48 vezes na AT (31 vezes no livro de Jó). Há mais de uma dúzia de opiniões eruditas sobre seu significado, todas elas baseadas numa possível etimologia de shaddai (conforme Gn 17.1n). Do emprego desta palavra não se pode

    tirar uma conclusão definitiva. De passagens como Sl 68:14; Sl 91:1; Is 13:6; Êx 1:2-4; etc., admite-se a conclusão que a maior ênfase está sobre a idéia do poder de Deus. A tradução "Todo-poderoso" vem da Septuaginta, e deve ser bem fundamentada.

    1.22 Sega da cevada. Deu-se na primavera, em março e abril. Encontra-se, a mesma frase, no calendário de Gezer, considerado por arqueólogos como a mais antiga inscrição (século X a.C.) até agora descoberta na Palestina (conforme NDB, p 235).


    NVI F. F. Bruce

    Comentário Bíblico da versão NVI por Frederick Fyvie Bruce, um dos fundadores da moderna compreensão evangélica da Bíblia
    NVI F. F. Bruce - Comentários de Rute Capítulo 1 do versículo 1 até o 22
    I. RUTE 5EM PARA BELÉM (1:1-22)


    1) Uma família israelita em Moabe (1:1-5)

    Uma época de fome na terra de Judá faz Elimeleque (“Deus é rei”), sua esposa Noemi (“minha agradável”) e os seus filhos Malom (“doente”) e Quiliom (“debilitado”) deixarem a sua casa em Belém (“casa de pão”) para se estabelecer em Moabe, um planalto a leste do mar Morto. É irônico que tivessem de deixar a “casa de pão” na terra prometida para ir a Moabe, mas na época dos juízes houve apostasia religiosa e o Senhor veio com julgamento contra o seu povo. Que o propósito deles era retomar fica claro no uso da palavra gür, que expressa residência temporária. Efrata tinha sido o nome antigo de Belém (Gn 35:19; 48:7; Mq 5:2 e v. o paralelismo em 4.11); por isso eram chamados efrateus. Depois da morte de Elimeleque, Malom se casou com Rute, e Quiliom, com Orfa; as duas noivas eram moabitas. A lei não proibia o casamento com moabitas, mas havia algumas restrições para a aceitação dos moabitas na congregação (Dt 23:3; conforme Ne 13:23-16). Rute e Orfa não são nomes hebreus, e o significado é incerto, v. 4. por quase dez anos: isso provavelmente cobre todo o tempo em Moabe, e o casamento dos dois irmãos pode ter ocorrido mais próximo do final desse período. Malom e Quiliom morreram. O narrador aqui concentra a atenção em Noemi, enviuvada, sofrendo com a perda dos filhos e numa terra estranha, todas essas circunstâncias com significado religioso.


    2) A determinação de Rute em ir com Noemi (1:6-18)
    Noemi decidiu voltar para Belém depois que chegaram notícias a Moabe de que o Senhor viera em auxílio do seu povo, dando-lhe alimento (lit. “pão”). O verbo usado no original para traduzir “vir em auxílio” é o equivalente a “visitar”, paqad, que pode significar “vir com bênção”, com freqüência para encerrar um período de provações, e.g., Gn 21:1; 50:24,25; Êx 13:19; Jr 15:15; Jr 27:22Jr 29:10; especialmente Sl 65:9. Mas o verbo pode significar também “castigar”, como em Jl 3:2,Jl 3:14 et al.

    Noemi, não querendo conduzir as suas noras à vida numa terra estranha, diz a elas que voltem às suas famílias, v. 8. Ela reconhece a bondade delas com os seus maridos e com ela e ora para que o Senhor seja leal com elas (mostrar hesed “amor leal”; “amor constante”) e lhes conceda segurança (m‘nühãh, v. 3,1) no casamento. (Observe que Itesedí uma característica do próprio Deus, expressa principalmente na sua lealdade à aliança. E muito mais forte do que bondade.) Ela deu-lhes beijos de despedida, mas elas insistiram em ir com Noemi. Ela então, chamando-as carinhosamente de minhas filhas, mais uma vez as aconselha a voltar. Numa série de perguntas retóricas, Noemi — com a idéia do levira-to em mente (Dt 25:0; Rt 2:8Rt 2:21). v. 15. Novamente Noemi encoraja Rute a voltar e seguir a sua cunhada que estava voltando para o seu povo e para o seu deus, “Camos”, conforme Nu 21:29 (ou “deuses”), mas Rute, totalmente decidida, expressa a sua determinação em expressões de beleza indescritível. Ela declara a sua lealdade a Noemi, sua disposição em se identificar com o povo de Israel e a sua devoção ao Deus de Noemi. A sua promessa é selada com um juramento que invoca o juízo de Deus se ela não o cumprir. Essa fórmula de juramento, possivelmente acompanhada de um gesto, é encontrada de forma completa em Samuel e Reis, mas em forma abreviada em outros textos. v. 18. Vendo a força e a natureza da decisão de Rute, Noemi não insistiu mais.


    3) Rute e Noemi chegam a Belém (1:19-22)
    v. 19. A chegada de Noemi e Rute a Belém causou comoção considerável. A pergunta das mulheres: Será que é Noemi? sugere que os anos que se haviam passado e o luto pelas perdas tinham alterado a sua aparência, v. 20. Noemi retoma o significado do seu nome e responde: Não me chamem Noemi (“agradável”), melhor que me chamem de Mara (“amarga”), pois o Todo-poderoso tornou a minha vida muito amarga. Esse nome divino ’El shaddai é quase sempre usado com referência à ação de Deus com pessoas em aflição. (V.comentário adicional acerca de sadday de L. Morris em Judges-Ruth, TOTC, 1968, p. 264). v. 21. A formulação da RSV, como também da NTLH (“o Deus todo-poderoso me fez sofrer e me deu tanta aflição”), é baseada na emenda textual do hebraico que fazem o grego, o siríaco e o latim, que é: “o Senhor testificou contra mim”, i.e., o Senhor demonstrou o seu desgosto por mim, por isso não me chamem de “agradável”. A frase 0 Todo-poderoso trouxe desgraça sobre mim completa o paralelismo. Noemi exagera a mudança desfavorável nas suas circunstâncias. Ela saiu com uma família completa numa época de fome e, embora o Senhor a trouxesse de volta privada de seu marido e de seus filhos, voltou com uma nora dedicada, a vizinhos compassivos, e isso na época da colheita, v. 22. Parece que é esse o ponto que o autor quer ressaltar de forma branda e amável.


    Francis Davidson

    O Novo Comentário da Bíblia, por Francis Davidson
    Francis Davidson - Comentários de Rute Capítulo 1 do versículo 6 até o 18
    II. NOEMI E RUTE DECIDEM IR PARA JUDÁ. Rt 1:6-8). Não sabemos se tal lei era reconhecida em Moabe, mas tudo leva a crer que as noras de Noemi a não desconheciam. Cfr. vers. 11-13. Mais amargo. Em heb.: "tenho grande amargura". Cfr. vers. 20. Voltou... aos seus deuses (15). Não há motivo para nos escandalizarmos com tais palavras, pois, para Orfa regressar a Moabe era o mesmo que voltar aos deuses de Moabe. Ao contrário de Naamã (2Rs 5:17), o culto de Jeová não a impressionara muito, e Noemi sabia-o muito bem. Me faça assim o Senhor (17). Jeová é propositadamente invocado por Rute para indicar que escolhera para si o Deus de Israel, talvez de há muito o seu único Deus. O amor a Deus e a amizade a Noemi é que foram inspiradores das nobres palavras dos vers. 16-17. Cfr. Jo 6:68. De todo estava resolvida (18). Rute jurara por Jeová, mas o voto que fizera já era em si mesmo uma confissão da sua grande fé em Deus.

    Dicionário

    Afastar

    verbo transitivo Pôr longe, enviar para longe: afastar alguém do seu país.
    Arredar: afastar os aduladores.
    Figurado Repelir: afastar um mau pensamento.
    Desviar: afastar as suspeitas.
    verbo pronominal Ir embora.
    Apartar-se.

    retirar, arredar, desviar, deslocar, descaminhar (desencaminhar), apartar, separar. – Afastar (do latim abstare, de ab + stare “estar ou ficar longe”) significa propriamente “tirar uma coisa ou pessoa de junto da outra”. Afastam-se de nós alguns amigos; afasta-se da parede o sofá; afasta-se do espírito uma ideia sinistra. – Retirar (formado de re, equivalente aqui a retro (re que marca “retração”, “retrocesso”, e ter “três vezes”) + tirar, do gótico tairan segundo alguns, e segundo outros do latim trahere20 – retirar, dizemos, tem o sentido próprio de “afastar para trás, chamar a si, pôr para aquém”; e por extensão significa – “tirar uma coisa do lugar em que estava, chamando-a a nós, ou pondo-a de lado.” Retira-se um exército, voltando por onde tinha ido; retira-se o chapéu de cima da mesa; retira-se o filho do colégio; retira-se uma ofensa; etc. – 20 Parece que estes têm mais razão do que aqueles. O próprio latim tem retrahere “tirar para traz”. 122 Rocha Pombo Arredar é “desviar bruscamente, dar espaço ou caminho”. Arreda a multidão à passagem do cortejo; arredam-se as cadeiras do meio da sala. – Desviar – diz Bruns. – “é tirar uma coisa ou uma pessoa do ponto ou da linha em que alguma outra coisa ou pessoa vai passar, ou algum fato suceder. Noutro sentido, desviar indica a ação de tirar de uma direção para fazer tomar outra diferente; neste caso, é-lhe inerente a ideia de fim, propósito ou conveniência... Desviamos o corpo para evitar um golpe; desviamos uma criança que vai ser pisada...”; desviamos do sentido uma lembrança funesta. – Deslocar é “mover alguma coisa do lugar próprio, retirá-la do ponto em que se acha”. “Com perícia admirável desloca o dente e saca-o num instante”. “A pulso desloca o rochedo, e lá do alto deixa-o tombar sobre a cidade”. Deslocam-se figuras da política em todas as grandes crises. – Descaminhar, melhor ainda que desviar, exprime a ideia de “tirar ou de sair do caminho próprio, ou da direção que se seguia”. Descaminha-se a gente, tomando uma azinhaga”; descaminha-se o menino da escola. “Aquele sucesso imprevisto vem descaminhar-nos da vereda em que íamos” (isto é, vem fazer que tomemos outra rota). (Por mais que digam os lexicógrafos, desencaminhar não se confunde com descaminhar. Desencaminhar tem significação diferente, e nem carece, como descaminhar, de completivo de predicação: é “tirar do bom caminho, do caminho certo; e por, extensão – perverter, prostituir”.) – Apartar é “pôr de parte”. Quando dentre muitas coisas se apartam algumas, põem-se estas em lugar onde fiquem separadas das primeiras. Quando alguém se aparta de outra pessoa toma um lugar para longe dessa pessoa. Em sentido mais restrito, este verbo sugere ideia da atitude contrária em que fica a pessoa que se aparta em relação àquela de quem se apartou. Se alguém se aparta do seu partido é que toma posição contra este, ainda que se não aliste em outras fileiras. – Separar é “pôr duas ou mais coisas ou pessoas longe uma das outras”. Só no sentido moral é que as coisas ou pessoas separadas nem sempre se julgam a distância umas das outras, ou nem sempre estarão necessariamente desligadas. “Separa-se – diz Roq. – o que estava unido, ligado, misturado: sempre com referência a mais de um objeto. Separa o lavrador a palha do grão, o trigo do joio, a fruta podre da sã; separam-se os casados quando não podem viver juntos, ou quando se desquitam; no juízo final hão de separar-se os bons dos maus. Separar diz muito mais que apartar. Segundo Vieira, parece que separação indica principalmente a ação de separar, e apartamento os resultados morais da separação; pois, falando do juízo final, diz ele: “Feita a separação dos maus e bons, e sossegados os prantos daquele último apartamento...” (III, 163).

    Ali

    advérbio Naquele lugar: vou te deixar ali, perto da igreja.
    Naquele tempo; então: até ali estávamos bem, foi depois que nos separamos.
    Num local conhecido ou já mencionado: deixe os guarda-chuvas ali.
    Nessa situação, momento, pessoa; naquilo: ninguém disse mais nada, ali tem algo errado!
    Gramática Quando usado com um pronome pessoal ou demonstrativo intensifica a relação de identificação ou de proximidade: põe isso ali, por favor.
    Etimologia (origem da palavra ali). Do latim ad illic.

    lá, acolá, aí, além. – Ali diz propriamente – “naquele lugar”, tanto à vista como no sítio de que se acaba de tratar. – Dicionário de Sinônimos da Língua Portuguesa 161 Lá significa – “naquele outro lugar”; isto é – no lugar que não é o em que me encontro eu presentemente e que está distante de mim, na parte oposta àquela em que estou. – Aí quer dizer – “nesse lugar”; isto é – no lugar em que se encontra a pessoa a quem nos dirigimos. – Acolá diz – “ali, naquele lugar que está à vista, mas que não é o que eu ocupo, nem o que está ocupando a pessoa com quem falo”. – Além significa – “mais para diante, do outro lado de um lugar ou um acidente à vista, ou mesmo não visível”.

    Aonde

    advérbio Numa direção específica, num lugar conhecido: aonde você vai?
    Gramática Usa-se somente com verbos que expressam movimento, exceto quando acompanhados de preposição, neste caso utiliza-se: onde.
    interjeição Expressão de incerteza, de descrença: aquele ator morreu! Aonde!
    Etimologia (origem da palavra aonde). A + onde.

    Deus

    substantivo masculino O ser que está acima de todas as coisas; o criador do universo; ser absoluto, incontestável e perfeito.
    Religião Nas religiões monoteístas, uma só divindade suprema, o ser que criou o universo e todas as coisas que nele existem.
    Figurado Aquilo que é alvo de veneração; ídolo.
    Figurado Sujeito que está acima dos demais em conhecimento, beleza.
    Religião Ente eterno e sobrenatural cuja existência se dá por si mesmo; a razão necessária e o fim de tudo aquilo que existe.
    Religião Cristianismo. Designação da santíssima trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
    Religião Nas religiões politeístas, mais de uma divindade superior, a divindade masculina.
    Etimologia (origem da palavra deus). Do latim deus.dei.

    substantivo masculino O ser que está acima de todas as coisas; o criador do universo; ser absoluto, incontestável e perfeito.
    Religião Nas religiões monoteístas, uma só divindade suprema, o ser que criou o universo e todas as coisas que nele existem.
    Figurado Aquilo que é alvo de veneração; ídolo.
    Figurado Sujeito que está acima dos demais em conhecimento, beleza.
    Religião Ente eterno e sobrenatural cuja existência se dá por si mesmo; a razão necessária e o fim de tudo aquilo que existe.
    Religião Cristianismo. Designação da santíssima trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
    Religião Nas religiões politeístas, mais de uma divindade superior, a divindade masculina.
    Etimologia (origem da palavra deus). Do latim deus.dei.

    Do latim deus, daus, que significa “ser supremo” ou “entidade superior”.


    i. os nomes de Deus. A palavra portuguesa Deus, que tem a mesma forma na língua latina, representa alguns nomes da Bíblia, referentes ao Criador.
    (a): o termo de uso mais freqüente é Elohim, que restritamente falando, é uma forma do plural, derivando-se, presumivelmente, da palavra eloah. Mas, embora seja plural, é certo que, quando se refere ao único verdadeiro Deus, o verbo da oração, de que Elohim é o sujeito, e o nome predicativo vão quase invariavelmente para o singular. As principais exceções são quando a pessoa que fala, ou aquela a quem se fala, é um pagão (Gn 20:13 – 1 Sm 4.8).
    (b): El, provavelmente ‘o único que é forte’, também ocorre freqüentemente. E encontra-se este nome com adições: El-Elyon, ‘o Deus Altíssimo’ (Gn 14:18) – El-Shaddai, ‘o Deus Todo-poderoso’ (Gn 17:1) – e entra na composição de muitos vocábulos hebraicos (por exemplo Eliabe, Micael).
    (c): Adonai, Senhor, ou Superior. Esta palavra e as duas precedentes eram empregadas quando se queria significar o Deus da Humanidade, sem especial referência ao povo de israel.
    (d): Todavia, Jeová, ou mais propriamente Jahveh, o Senhor, o Ser que por Si mesmo existe, o Ser absoluto, que é sempre a Providência do Seu povo, designa Aquele que num especial sentido fez o pacto com o povo de israel.
    (e): outro nome, ou antes, titulo, ‘o Santo de israel’ (is 30:11) merece ser aqui mencionado, porque ele nos manifesta o alto ensino moral dos profetas, fazendo ver aos israelitas que o Senhor, a Quem eles adoravam, estava muito afastado dos ordinários caminhos do homem, e portanto era necessário que o Seu povo fosse como Ele, odiando o pecado. É sob este título que o Senhor é reconhecido como uma pedra de toque não só da pureza cerimonial, mas também da pureza ética.
    (f): Pai. Nas primitivas religiões semíticas, este termo, enquanto aplicado aos deuses, tinha uma base natural, pois que os povos acreditavam que eram descendentes de seres divinos. Todavia, no A.T. é Deus considerado como o Pai do povo israelita, porque Ele, por atos da Sua misericórdia, o constituiu em nação (Dt 32:6os 11:1 – *veja Êx 4:22). De um modo semelhante é Ele chamado o Pai da geração davídica de reis, porque Ele a escolheu e a tornou suprema (2 Sm 7.14 – Sl 2:7-12 – 89.27). Mais tarde se diz que Deus Se compadece dos que o temem (isto refere-se particularmente aos israelitas e aos que aceitam a religião de israel), como um pai se compadece dos seus filhos (Sl 103:13Mt 3:17).
    ii. A doutrina de Deus. Certas considerações nos são logo sugeridas sobre este ponto.
    (a): Em nenhuma parte da Bíblia se procura provar a existência de Deus. A crença no Criador é doutrina admitida. Nunca houve qualquer dúvida a respeito da existência da Divindade, ou da raça humana em geral. Entre os argumentos que podemos lembrar para provar a existência do Criador, devem ser notados: a relação entre causa e efeito, conduzindo-nos à grande Causa Primeira – a personalidade, a mais alta forma de existência que se pode conceber, de sorte que uma Causa Primeira, que carecesse de personalidade, seria inferior a nós próprios – a idéia de beleza, de moralidade, de justiça – o desejo insaciável, inato em nós, de plena existência que nunca poderia ser satisfeita, se não houvesse Aquele Supremo Ser, Luz, Vida e Amor, para onde ir.
    (b): Deus é um, e único (Dt 6:4, doutrina inteiramente aceita por Jesus Cristo, Mc 12:29). Porquanto se houvesse mais que uma Divindade, haveria, de certo, conflito entre esses seres todo-onipotentes. Por isso, contrariamente ao dualismo de Zoroastro, segundo o qual há dois seres supremos, um bom e outro mau, a Bíblia ensina que Deus tem a autoridade suprema mesmo sobre o mal (is 45:6-7). Este fato fundamental da Unidade de Deus não está em contradição com a doutrina cristã da Trindade, antes pelo contrário, a salvaguarda.
    (c): Deus é o Criador e o Conservador de tudo (Gn 1:1At 17:24Ap 4:11 – e semelhantemente Jo 1:3 – Col 1.16, onde o imediato Agente é a Segunda Pessoa da Trindade). Todos os dias estamos aprendendo, com clareza de percepção, que a matéria não é coisa morta e sem movimento, que as próprias pedras tremem pela sua energia, sustentando a sua coesão pelas formidáveis e ativas forças que sem interrupção nelas operam. o nosso conhecimento, cada vez mais aperfeiçoado, sobre os métodos de Deus na Criação, leva-nos a um louvor cada vez mais elevado.
    (d): Estamos, também, sabendo mais com respeito à relação de Deus para conosco, como governador e conservador de tudo. Relativamente a este assunto há duas verdades, nenhuma das quais deverá excluir a outra:
    (1). Ele é transcendente, isto é, superior ao universo, ou acima dele (*veja is 40:22 – 42.5 – 1 Tm 6.16).
    (2). É igualmente importante notar que Deus é imanente, isto é, está na matéria, ou com ela. Nesta consideração, nós e todos os seres vivemos Nele (At 17:28 – *veja também Jo 1:3-4) – e Ele em nós está pelo simples fato de que sendo Espírito (Jo 4:24) é dotado de onipresença.
    iii. A adoração a Deus. Se a religião é, na verdade, uma necessidade natural, o culto é sua forma visível. Porquanto, embora possamos supor a priori que nos podemos colocar na presença da Divindade sem qualquer sinal exterior, é isto, contudo, tão incompatível como a natureza humana, e tão contrário às exigências da religião, visto como esta pede a adoração a Deus com toda a nossa complexa personalidade, que não é possível admitir-se tal coisa. É certo que Jesus Cristo disse: ‘Deus é Espirito – e importa que os seus adoradores o adorem em espirito e em verdade’ (Jo 4:24). (*veja Altar, Baal, igreja, Eloí, Espírito Santo, Jewá, Jesus Cristo, Senhor, Senhor dos Exércitos, Tabernáculo, Templo, Trindade, Adoração.)

    Introdução

    (O leitor deve consultar também os seguintes verbetes: Cristo, Espírito Santo, Jesus, Senhor.) O Deus da Bíblia revela-se em sua criação e, acima de tudo, por meio de sua Palavra, as Escrituras Sagradas. De fato, a Bíblia pode ser definida como “a autorevelação de Deus ao seu povo”. É importante lembrar que as Escrituras mostram que o conhecimento que podemos ter de Deus é limitado e finito, enquanto o Senhor é infinito, puro e um Espírito vivo e pessoal, ao qual ninguém jamais viu. Freqüentemente a Bíblia usa antropomorfismos (palavras e ideias extraídas da experiência das atividades humanas, emoções, etc.) numa tentativa de nos ajudar a entender melhor Deus. Esse recurso pode ser realmente muito útil, embora o uso de descrições e termos normalmente aplicados aos seres humanos para referir-se ao Senhor eterno e infinito sempre deixe algo a desejar. Alguém já disse que “conhecer a Deus”, até o limite de que somos capazes por meio de sua Palavra, é o cerne da fé bíblica. De acordo com as Escrituras, todas as pessoas, durante toda a história, estão de alguma maneira relacionadas com o Senhor, seja numa atitude de rebelião e incredulidade, seja de fé e submissão.

    Homens e mulheres existem na Terra graças ao poder criador e sustentador de Deus; a Bíblia ensina que um dia todos estarão face a face com o Senhor, para o julgamento no final dos tempos. A natureza de Deus e seus atributos são, portanto, discutidos de diversas maneiras nas Escrituras Sagradas, de modo que Ele será mais bem conhecido por meio da forma como se relaciona com as pessoas. Por exemplo, aprende-se muito sobre Deus quando age no transcurso da história, em prol do sustento e da defesa de seu povo, e leva juízo sobre os que pecam ou vivem em rebelião contra Ele. Muito sabemos sobre o Senhor por meio dos nomes aplicados a Ele na Bíblia e quando sua criação é examinada e discutida. Acima de tudo, aprendemos de Deus quando estudamos sobre Jesus, o “Emanuel” (Deus conosco).

    As seções seguintes proporcionam apenas um resumo do que a Bíblia revela sobre Deus. Uma vida inteira de estudo, fé e compromisso com o Senhor, por intermédio de Cristo, ainda deixaria o crente ansioso por mais, especialmente pelo retorno de Jesus, pois concordamos com a declaração do apóstolo Paulo: “Agora conheço em parte; então conhecerei como também sou conhecido” (1Co 13:12).

    A existência do único Deus

    A Bíblia subentende a existência de Deus. Não há discussão alguma sobre isso em suas páginas, pois trata-se de um livro onde o Senhor revela a si mesmo. Somente o “tolo”, a pessoa maligna e corrupta, diz “no seu coração: Não há Deus” (Sl 14:1-53.1; veja O tolo e o sábio). A existência de Deus é freqüentemente afirmada nos contextos que advertem contra a idolatria. Sempre é dada uma ênfase especial ao fato de que somente o Senhor é Deus e não existe nenhum outro. Deuteronômio 6:4 declara: “Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Deuteronômio 32:39 diz: “Vede agora que Eu sou, Eu somente, e não há outro Deus além de mim. Eu causo a morte, e restituo a vida; eu firo, e eu saro, e não há quem possa livrar das minhas mãos”. Por essa razão, a idolatria é considerada um grande pecado (cf. 1 Co 8.4). Envolver-se com ela é viver e acreditar na mentira, numa rejeição direta da revelação do único Deus verdadeiro. Esperava-se que o povo de Israel testemunhasse para as nações ao redor que existia apenas um único Senhor e que não havia nenhum outro deus. Isso seria visto especialmente no poder de Deus para proporcionar a eles os meios para vencerem as batalhas contra inimigos mais fortes, no tempo de paz, na extensão das fronteiras (contra o poder de outros assim chamados deuses) e em sua justiça e juízo sobre todos os que se desviavam dele, ou rejeitavam seus caminhos ou seu povo. As nações ao redor precisavam aprender com Israel que os seus deuses eram falsos e que na verdade adoravam demônios (1Co 10:20).

    Os escritores dos Salmos e os profetas também proclamaram que somente o Senhor é Deus e que Ele pré-existe e auto-subsiste. O Salmo 90:2 diz: “Antes que os montes nascessem, ou que formasses a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus”. Em Isaías, lemos: “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus” (Is 44:6). “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus. Eu te fortalecerei, ainda que não me conheças” (Is 45:5; veja também 45.21; etc.). Jeremias disse: “Mas o Senhor Deus é o verdadeiro Deus; ele mesmo é o Deus vivo, o Rei eterno. Do seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação” (Jr 10:10).

    No Novo Testamento, novamente a autoexistência eterna de Deus é subentendida: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1:14). Paulo argumentou em sua pregação para os atenienses: “Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17:28). O apóstolo fez um apelo aos habitantes de Listra, a fim de que reconhecessem a existência do único Deus verdadeiro, pois “não deixou de dar testemunho de si mesmo. Ele mostrou misericórdia, dando-vos chuvas dos céus, e colheita em sua própria estação, enchendo de mantimento e de alegria os vossos corações” (At 14:17). Em Romanos 1:19-20, há o pressuposto de que mesmo os que são maus e rejeitam a Deus podem ser considerados em débito, “visto que o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lhes manifestou. Pois os atributos invisíveis de Deus, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que foram criadas, de modo que eles são inescusáveis”.

    Como em João 1, mencionado anteriormente, é no Novo Testamento que aprendemos sobre Jesus e começamos a entender mais sobre o próprio Deus, sua preexistência e sua auto-existência. Colossenses 1:17 descreve a preexistência de Cristo como “a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1:15). Tanto Deus, o Pai, como Jesus são considerados eternos em sua existência: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso” (Ap 1:8-11.15, 17; 2 Pe 3.8). Hebreus 13:8 também fala de Jesus: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje, e eternamente”.

    O Deus criador

    A autoexistência de Deus, bem como sua eternidade, também são sinalizadas na criação, a qual Ele fez do “ex nihilo” (a partir do nada; veja Gn 1; Rm 4:17; Hb 11:3). A Bíblia não admite a ideia do nada existindo lado a lado com o Senhor através da eternidade. Não há ensino, por exemplo, de que a matéria sempre existiu, ou que o mal sempre permaneceu como uma alternativa ao lado de Deus. O Todo-poderoso sempre existiu e sempre existirá; Ele é o Criador. O que existe traz outras coisas à existência. O racionalismo pode argumentar que, se algo existe, deve ter o poder da auto-existência dentro de si. A Bíblia mostra que o ser que auto-existe é Deus e somente Ele é o Senhor. Porque Deus existe, a vida veio à existência e surgiu a criação. No Senhor há vida e luz. Somente Ele tem a vida em si mesmo e habita na luz e na glória eternamente.

    O ato de Deus na criação é descrito em muitos lugares da Bíblia. De maneira notável, Gênesis 1:2 descrevem a Palavra de Deus que traz tudo o que conhecemos à existência. Esses capítulos demonstram claramente que o Senhor já existia antes da criação e foi por meio de sua palavra e seu poder que o mundo veio à existência. Também revelam que Deus não iniciou simplesmente o processo e o concluiu, ou ainda não o concluiu, com o que conhecemos neste mundo hoje. Ele interferiu ativamente, várias vezes, para criar a luz, o sol, a lua, a água, a vegetação, os peixes, os mamíferos, os pássaros e a humanidade. Em Gênesis 1, essa obra ativa de Deus durante todo o período da criação pode ser notada nas duas frases: “E disse Deus: Haja...” e “E viu Deus que isso era bom”. Em Gênesis 2, a obra e as palavras do “Senhor Deus” são mencionadas repetidamente. O Salmo 33:4-9 personaliza a “palavra de Deus” como a que criou e “é reta e verdadeira; todas as suas obras são fiéis... Pela palavra do Senhor foram feitos os céus... Tema toda a terra ao Senhor... Pois ele falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu”. Jeremias afirma: “Pois ele (o Senhor) é o criador de todas as coisas, e Israel é a tribo da sua herança; Senhor dos Exércitos é o seu nome” (Jr 10:16-51.19; veja também 26:7; Sl 102:25-104.24; Ne 9:6; etc.).

    No NT, o escritor da carta aos Hebreus lembra os crentes que “pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus, de maneira que o visível não foi feito do que se vê” (Hb 11:3). Louvor e adoração são devidos a Deus, o Pai, e a Jesus, a Palavra de Deus, pela criação e pelo seu contínuo sustento de todas as coisas criadas. Desde que a criação deriva sua vida e existência do próprio Deus, se o Senhor não a sustentasse, ela deixaria de existir (Ap 4:11; Jo 1:1-3; 1 Co 8.6; Cl 1:16-17; Hb 1:2-2 Pe 3.5; etc.).

    Essa obra da criação, a qual necessita do poder sustentador do Senhor, proporciona a evidência da soberania e do poder de Deus sobre todas as coisas. Ele está presente em todos os lugares, a fim de sustentar e vigiar sua criação, realizar sua justiça, amor e misericórdia, trazer à existência e destruir, de acordo com sua vontade e seus propósitos. A doxologia de Romanos 1:1-36 oferece a resposta adequada do crente na presença do Deus criador, sustentador e que existe por si: “Porque dele e por ele e para ele são todas as coisas. Glória, pois, a ele eternamente. Amém” (v.36).

    O Deus pessoal

    O Criador do Universo e de todas as coisas, que sustém o mundo e todas as pessoas, revela-se a si mesmo como um “Deus pessoal”. A palavra “pessoal” não é aplicada a Ele em nenhum outro lugar da Bíblia e é difícil nossas mentes finitas assimilarem o que essa expressão “pessoal” significa, ao referir-se ao Senhor. Ainda assim, é dessa maneira que Ele é consistentemente revelado. Deus é um ser auto-existente e autoconsciente. Qualidades que indicam um ser pessoal podem ser atribuídas a Deus. Ele é apresentado como possuidor de liberdade, vontade e propósitos. Quando colocamos esses fatores na forma negativa, o Senhor nunca é descrito nas Escrituras da maneira que as pessoas o apresentam hoje, como uma energia ou uma força sempre presente. Deus revela a si mesmo como um ser pessoal no relacionamento entre Pai, Filho e Espírito Santo (veja mais sobre a Trindade neste próprio verbete) e em seu desejo de que seu povo tenha um relacionamento real com o “Deus vivo”. Sua “personalidade”, é claro, é Espírito e, portanto, não está limitada da mesma maneira que a humana. Porque é pessoal, entretanto, seu povo pode experimentar um relacionamento genuíno e pessoal com Ele. Deus, por ser bom, “ama” seu povo e “fala” com ele. O Senhor dirige os seus e cuida deles. O Salmo 147:10-11 dá alguns sentimentos de Deus, como um ser pessoal: “Não se deleita na força do cavalo, nem se compraz na agilidade do homem. O Senhor se agrada dos que o temem, e dos que esperam no seu constante amor” (veja também Sl 94:9-10). Efésios 1:9-11 mostra como a vontade e os propósitos de Deus são especialmente colocados à disposição dos que Ele “escolheu”, aos quais ele “ama”. O Senhor é aquele que conhece seu povo (1Co 8:3) e pode ser chamado de “Pai” pelos que vivem por ele (v.6). A revelação de Deus em Jesus novamente mostra como Ele é um Deus “pessoal”, tanto no relacionamento de Cristo e do Pai (como o Filho faz a vontade do Pai e fala as suas palavras), como na maneira pela qual o Pai mostrou seu amor pelo mundo, quando deu “o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16-14:15-31; 15.9,10; etc.).

    O Deus providencial

    Já que Deus é eterno, auto-existente e o Criador do Universo, não é de admirar que um dos temas mais freqüentes na Bíblia refira-se à soberana providência do Senhor. Deus é visto como o rei do Universo, o que fala e tudo acontece, que julga e as pessoas morrem, que mostra seu amor e traz salvação. Ele é o Senhor (veja Senhor) que controla o mundo e exige obediência. Busca os que farão parte de seu povo. É neste cuidado providencial por seu mundo e seu povo que mais freqüentemente descobrimos na Bíblia os grandes atributos divinos de sabedoria, justiça e bondade. Aqui vemos também sua verdade e seu poder. As Escrituras declaram que Deus tem o controle total sobre tudo, ou seja, sobre as pessoas, os governos, etc. Ele é chamado de Rei, pois estabelece reinos sobre a Terra e destrói-os, de acordo com seu desejo. Sua soberania é tão grande, bem como sua providência, em garantir que sua vontade seja realizada, que mesmo o mal pode ser revertido e usado pelo Senhor, para realizar seus bons propósitos.

    Os escritores da Bíblia demonstram com convicção que Deus governa sobre toda a criação; assim, os conceitos do destino e do acaso são banidos. À guisa de exemplo, uma boa colheita não acontece por acaso, mas é providenciada pelo Senhor. É Deus quem promete: “Enquanto a terra durar, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite” (Gn 8:22). Por outro lado, o Senhor mantém tal controle sobre a criação que pode suspender a colheita dos que vivem no pecado ou se rebelam contra Ele (Is 5:10). Nos dias do rei Acabe, de Israel, Deus suspendeu a chuva e o orvalho, por meio de “sua palavra”, como castigo sobre o monarca e o povo (1Rs 17:1). A fome foi extremamente severa, mas a providência particular e amorosa do Senhor por seu povo fez com que suprisse as necessidades do profeta Elias de maneira miraculosa (1Rs 17:18).

    A Bíblia preocupa-se muito em mostrar a providência de Deus, que pode ser vista no seu relacionamento com seu povo (veja 2 Cr 16.9). Paulo fala sobre isso quando diz: “Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28). Aqui vemos que não somente o cuidado soberano do Senhor sempre é feito segundo a sua vontade e seu propósito, mas também que esse desejo preocupa-se especialmente com seu povo, mediante o cuidado e a proteção. O poder de Deus é tão grande que em “todas as coisas” Ele trabalha para atingir seus fins. Tal entendimento da providência do Senhor leva à conclusão inevitável de que mesmo o que começou por meio do mal, ou emanado de nossos próprios desejos pecaminosos, pode ser revertido por Deus, enquanto Ele trabalha incessantemente para completar e realizar sua vontade. Essa fé e confiança no cuidado providencial do Senhor não eram conceitos novos nos dias de Paulo. Quando José foi capturado por seus irmãos e vendido como escravo para o Egito, não foi o acaso que finalmente o levou a ser governador egípcio, num momento em que o povo de Deus precisava ser preservado da fome terrível. Tudo foi parte da vontade do Senhor. Posteriormente, ao discutir o assunto com seus irmãos amedrontados, José disse: “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida” (Gn 50:20). O cuidado providencial de Deus por Jó, quando Satanás desejava atacá-lo e destruí-lo, também é uma prova do poder soberano do Senhor, mesmo sobre o mundo dos espíritos, inclusive Satanás (1:2). Deus até mesmo controlou as ações do rei da Pérsia em favor de seu povo (Is 44:28-45:1-7).

    Em nenhum outro contexto o cuidado providencial de Deus pode ser visto com tanta clareza como na provisão da salvação para o seu povo, por meio da morte expiatória de Jesus Cristo. A ação mais perversa de Satanás e o mais terrível de todos os pecados cometidos pelos seres humanos levaram à crucificação do Filho de Deus. Isso, porém, fora determinado pela vontade de Deus, e Ele reverteu aquele ato terrível para proporcionar expiação a todo aquele que se voltar para o Senhor (At 2:23-24). Esse desejo de Deus foi realizado “segundo as Escrituras”. Certamente o Senhor freqüentemente é visto agindo de maneira providencial e com poder soberano, de acordo com sua Palavra (Rm 5:6-1 Co 15.3; 2 Co 5.15).

    A providência do Senhor também é vista na maneira como chama as pessoas para si. Toda a Trindade está envolvida nesta obra de atrair e cuidar do povo de Deus (Jo 17:11-12, 24; Ef 1:3-14; Cl 1:12-14; etc.). A reflexão sobre a soberania do Senhor sobre tudo, seu poder total de realizar o que sua vontade determina, sua providência na natureza, na humanidade de modo geral e especialmente em relações aos redimidos, nos leva novamente a louvá-lo e bendizê-lo (Sl 13:9-13-16; 145.1, 13 16:1 Pe 5.7; Sl 103).

    O Deus justo

    A Bíblia mostra-nos um Senhor “justo”. Isso faz parte de sua natureza e tem que ver com sua verdade, justiça e bondade. Em termos práticos, o reconhecimento da justiça de Deus nas Escrituras permite que as pessoas confiem em que sua vontade é justa e boa e podem confiar nele para tomar a decisão ou a ação mais justa. Ele é justo como Juiz do mundo e também na demonstração de sua misericórdia. Mais do que isso, sua vontade eterna é inteiramente justa, íntegra e boa. É uma alegria para homens e mulheres pecadores saberem que podem voltar-se para um Deus justo e receber misericórdia. É motivo de temor para os que se rebelam que o justo Juiz julgará e condenará.

    O povo de Deus (“o povo justo”, formado pelos que foram perdoados por Deus) freqüentemente apela para sua justiça. Por exemplo, o salmista orou, para pedir misericórdia ao Senhor, quando parecia que as pessoas más prevaleciam. Achou estranho que os perversos prosperassem quando o “justo” padecia tanto sofrimento. Portanto, apelou para a justiça de Deus, para uma resposta ao seu dilema: “Tenha fim a malícia dos ímpios, mas estabeleça-se o justo. Pois tu, ó justo Deus, sondas as mentes e os corações” (Sl 7:9-11). “Responde-me quando clamo, ó Deus da minha retidão. Na angústia dá-me alívio; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração” (Sl 4:1-129.4; 2 Ts 1.6). É mediante sua justiça que Deus mostra misericórdia ao seu povo (Sl 116:4-6; 37.39).

    Por vezes, entretanto, o povo de Deus tentou questionar o Senhor, quando parecia que Ele não os ajudava, ou estava do lado de outras nações. A resposta de Deus era que, se o Senhor lhes parecia injusto, é porque eles haviam-se entregado à incredulidade e ao pecado. As ações do Senhor são sempre justas, mesmo quando resultam em juízo sobre seu próprio povo. Veja, por exemplo, Ezequiel 18:25 (também
    v. 29): “Dizeis, porém: O caminho do Senhor não é justo. Ouvi agora, ó casa de Israel: Não é o meu caminho justo? Não são os vossos caminhos injustos?”.

    Deus pode ser visto como justo em tudo o que faz. Isso se reflete em sua Lei, a qual é repetidamente definida como “justa” (Sl 119; Rm 7:12). Deuteronômio 32:4 resume a justiça do Senhor desta maneira: “Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, e todos os seus caminhos são justiça. Deus é a verdade, e não há nele injustiça. Ele é justo e reto”.

    Enquanto o povo de Deus ora, vê a justiça divina em seus atos de misericórdia e socorro para com eles e em seu juízo sobre os inimigos; assim, reconhecem que a justiça do Senhor permite que Ele traga disciplina sobre eles, quando pecam. Em II Crônicas 12, o rei Roboão e os líderes de Israel finalmente foram obrigados a admitir que, por causa do pecado e da rebelião deles contra Deus, Faraó Sisaque teve permissão para atacar Judá e chegar até Jerusalém. Deus os poupou da destruição somente quando se humilharam e reconheceram: “O Senhor é justo” (v. 6). Na época do exílio babilônico, os líderes tornaram-se particularmente conscientes deste aspecto da justiça de Deus. Daniel expressou dessa maneira: “Por isso, o Senhor vigiou sobre o mal, e o trouxe sobre nós, porque justo é o Senhor, nosso Deus, em todas as obras que faz; contudo, não obedecemos à sua voz” (Dn 9:14; veja também Ed 9:15).

    Os profetas olhavam adiante para ver a revelação da justiça de Deus no futuro reino do Messias: “Vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo, um rei que reinará e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na terra” (Jr 23:5; Is 9:7-11.4; etc. veja Lc 1:75; At 22:14). Paulo falou sobre a obra de Cristo em termos da revelação da justiça de Deus. Na morte de Jesus, pode-se ver o juízo do Senhor sobre o pecado e a manifestação de seu amor e misericórdia sobre os que são perdoados. Deus não comprometeu nem sua justiça que exige a morte pelo pecado, nem sua aliança de amor para com o seu povo, que promete perdão e misericórdia. Desta maneira, o Senhor permanece justo e íntegro na salvação (Rm 1:17-2.5,6; 3.5, 20-26; etc.).

    Ao falar sobre os últimos dias e o retorno de Cristo, quando Deus vindicará seu nome diante de todo o mundo, inclusive os ímpios, será sua justiça que uma vez mais será notada e levará seu povo, que está ansioso por essa revelação, a louvá-lo (Ap 15:3-16.7).

    O Deus amoroso

    É justo que haja uma seção separada sobre este atributo, o mais maravilhoso do Senhor da Bíblia, ainda que tradicionalmente o amor de Deus seja visto como um aspecto de sua “bondade”. Várias vezes as Escrituras dizem que o Senhor “ama” ou mostra “amor” à sua criação, especialmente para o seu povo. É parte da natureza de Deus, pois ele é “bom” e é “amor”. O Senhor faz o que é bom (2Sm 10:12-1 Cr 19.13; Sl 119:68), porém, mais do que isso, ele é bom. Em outras palavras, a bondade é tão parte dele e de seu ser que o salmista disse: “Pois o teu nome é bom” (Sl 52:9-54.6; este vocábulo “nome” refere-se a todo o caráter do próprio Deus). Jesus disse: “Ninguém há bom, senão um, que é Deus” (Lc 18:19). Assim, se alguém deseja saber o que significa bondade e amor, deve olhar para o Senhor. I João 4:8-16 diz: “ Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor... E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor. Quem está em amor está em Deus, e Deus nele”.

    Deus é a fonte da bondade. Tiago 1:17 diz: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito é do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação”. O texto não só mostra que o Senhor é a fonte daquilo que é bom, como ensina que Deus é sempre bom. Não existe um lado “sombrio” no Senhor, nenhuma base para a visão oriental de que o bem e o mal existem lado a lado, e juntos formam algo chamado “deus”.

    A bondade de Deus, tão freqüentemente chamada de seu “amor”, é vista de muitas maneiras neste mundo. É evidente que no universo é algo generalizado, ou na manutenção da própria vida, da justiça, da ordem na criação, ou mesmo na provisão da luz do Sol e da chuva, do tempo de semear e de colher (Sl 33:5; Mt 5:45; At 17:25). Sua bondade, entretanto, é mais evidente em seu amor e fidelidade para com seu povo, a quem Ele protege, cuida e livra do juízo. Seu amor fiel por seu povo às vezes é chamado de “aliança de amor” ou “amor fiel”, pois Deus prometeu amar seu povo para sempre. Os israelitas repetidamente louvavam ao Senhor por seu amor eterno, extraordinário e não merecido, demonstrado através de toda a história de Israel (1Cr 16:34-2 Cr 5.13 7:3; Ed 3:11; Sl 118:1-29; Jr 33:11). É digno de nota como os vocábulos “bom” e “amor” aparecem juntos de maneira tão frequente, quando aplicados a Deus.

    Os que buscam a Deus experimentam sua bondade e amor, pois encontram sua salvação (Lm 3:25). O seu povo o louva acima de tudo pelo amor demonstrado em sua misericórdia e perdão dos pecados. Foi para a bondade do Senhor que o rei Ezequias apelou, quando pediu perdão pelo povo de Israel, que adorava a Deus sem ter passado pelo ritual da purificação. “Ezequias, porém, orou por eles, dizendo: O Senhor, que é bom, perdoe a todo aquele que dispôs o coração para buscar o Senhor...” (2Cr 30:18; Nm 14:19). O próprio Deus, ao falar por meio do profeta Oséias, adverte, a respeito da contínua rebelião do povo: “eu não tornarei mais a compadecer-me da casa de Israel, mas tudo lhe tirarei” (Os 1:6).

    A salvação de Deus para seu povo é sua mais profunda e fantástica demonstração de bondade e amor. Jesus foi oferecido pelo Pai como sacrifício pelo pecado de todo o que crê. Talvez o mais famoso versículo da Bíblia, João 3:16, expresse o sentimento desse dom de Deus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. O dom é ainda mais extraordinário, pois “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5:8; Tt 3:4-1 Jo 3:16). O povo de Deus sabe que não merece este sacrifício. A natureza do amor divino, dado a pessoas que não são merecedoras, freqüentemente é expressa por meio do vocábulo “graça”.

    O amor de Deus também é visto por seu povo na maneira como Ele dá o seu Espírito Santo, de tal forma que todos possam conhecê-lo e responder-lhe em amor (Rm 5:5). Eles também experimentam o amor divino em seu cuidado providencial. Isso pode significar que o amor será em forma de disciplina (Ap 3:19), mas também representa o fato de que “todas as coisas” cooperam para o bem do povo de Deus, dos que são chamados segundo o seu propósito. Nada poderá separá-los do amor de Deus e de Cristo (Rm 8:28-35, 39; veja a seção anterior “O Deus providencial”). Ao meditar sobre sua graça a favor de todos, para os levar à salvação, eles o louvam pela maneira como os escolheu e os predestinou para serem filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito da sua vontade (Ef 1:4-6; 1 Jo 3:1). Essa grande obra de salvação é feita “segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo” (v. 9).

    “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” (Ef 2:4-5). O problema é como uma mente humana pode assimilar a profundidade desse amor, pois “excede todo o entendimento” (Ef 3:18-19).

    O Deus salvador

    O amor de Deus é visto proeminentemente em sua salvação por meio de Jesus (“Jesus” significa “o Senhor salva”; veja Jesus). O Senhor é corretamente descrito como “Deus salvador”. A Bíblia ensina que toda a humanidade é pecadora e necessita de redenção, que só é efetivada pela ação salvadora de Deus. O AT refere-se ao Senhor como “Libertador”, “Redentor” e “Salvador”, tanto da nação como dos indivíduos. Ambos necessitam de perdão, se não querem receber juízo. Uma lição necessária à compreensão de todas as pessoas é que somente Deus é Todo-poderoso, soberano e justo; portanto, o único que pode salvar: “E não há outro Deus senão eu, Deus justo e Salvador não há além de mim” (Is 45:21-43.11). Às vezes, o povo de Israel voltava-se para outras nações em busca de proteção e salvação; essa atitude, entretanto, invariavelmente falhava, ao passo que o Senhor ensinava que somente Ele era o Salvador (Dt 32:15-24; 1 Cr 16:34-36; Is 17:10).

    A promessa que Deus faz ao seu povo é que “quando clamarem ao Senhor, por causa dos opressores, ele lhes enviará um salvador e um defender, que os livrará” (Is 19:20-43.3; 45.15). Os homens e mulheres fiéis, mencionados no AT, todos conheceram a atividade salvadora e libertadora de Deus, tanto nas batalhas como no perdão dos pecados. O êxodo do Egito tornou-se o grande evento na história de Israel, que ofereceu às gerações futuras um memorial e uma ilustração da salvação e redenção operadas pelo Senhor. Deus redimiu seu povo do Egito porque o amava: “Mas porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte, e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito” (Dt 7:8).

    Aquele acontecimento histórico proporcionou às gerações futuras uma evidência de que Deus tem o poder para salvar e libertar; essa verdade tornou-se a base em que podiam apelar para o Senhor salvá-los e livrá-los novamente em outras situações adversas (Êx 6:6; Dt 9:26; Sl 106:10). A libertação do Egito, porém, proporcionou também uma advertência, que mostra os acontecimentos no deserto para os que “esqueceram seu Deus”: “Pondo-os ele à morte, então o procuravam; voltavam, e de madrugada buscavam a Deus. Lembravam-se de que Deus era a sua rocha, de que o Deus Altíssimo era o seu Redentor” (Sl 78:34-35; veja também 1 Cr 10:1-12). O próprio Deus mostrou a sua obra salvadora, ao levá-los do Egito para Canaã, e esperava fidelidade e serviço do seu povo redimido (Dt 13:5-15.15; 24.18; Os 13:4).

    Assim como precisavam de uma redenção física e libertação, os israelitas necessitavam também de perdão dos pecados; nisto também o Senhor provou ser o Salvador e Redentor do seu povo. Louvavam o seu nome pelo seu perdão e sabiam que podiam submeter-se à justiça de Deus e que Ele os salvaria (Dt 21:8; Sl 31:5-34.22; 44.26; Is 54:5-59.20).

    Os profetas olhavam para o futuro, para o dia em que um Salvador e Redentor viria para o povo de Deus: “O Redentor virá a Sião e aos que se desviarem da transgressão em Jacó, diz o Senhor” (Is 59:20). Isaías olhava adiante, para o dia do advento do Messias, quando o povo o louvaria: “Graças te dou, ó Senhor. Ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolaste. Certamente Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei. O Senhor Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação. Vós com alegria tirareis águas das fontes da salvação” (Is 12:1-3; veja Jr 23:6; Zc 9:9).

    Jesus foi o cumprimento de tais promessas. Ele era o Deus Salvador que veio à Terra para salvar e redimir. Quando seu nascimento foi anunciado, sua atividade salvadora e redentora imediatamente dominou as palavras dos anjos, de Zacarias e de Maria. As profecias concernentes à salvação do povo de Deus, com o advento do rei da linhagem de Davi, são anexadas às promessas do perdão de pecados e salvação do juízo de Deus. Toda a “história da salvação”, como alguns a têm chamado, chega ao seu grande clímax com o advento daquele que seria chamado de “Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1:21; Lc 1:46-47, 68-75; 2.11, 30-32, 38; etc.).

    O Deus salvador é revelado plenamente em Jesus. Nele, e em ninguém mais, há salvação (Lc 3:6-19.9,10; At 4:12; Hb 2:10). De fato, os vocábulos “salvar” e “salvação” referem-se a toda a obra salvadora de Cristo, desde sua encarnação, morte e ressurreição, até sua glorificação. Sua obra salvadora é considerada como um acontecimento realizado em três tempos: passado (na cruz, quando os crentes foram “justificados”; Rm 5:1-8.24; Ef 2:8-2 Tm 1.9); presente (com a operação progressiva do Espírito Santo na vida do crente, no processo de santificação, 1 Co 1.18; 2 Co 2,15) e futuro (no dia do julgamento, quando os crentes serão salvos da justa ira de Deus e serão glorificados; Rm 5:9-10).

    A meditação sobre quem é o Senhor sempre tem levado à doxologia; assim, Judas 25 expressa o louvor a Deus como Salvador, por meio de Jesus Cristo: “Ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória, majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre. Amém”.

    O Deus Pai

    Conforme já vimos, Deus é bom e é amor; portanto, é também “Pai”. Ele é a fonte de todas as coisas e, nesse sentido, é Pai. É o Pai da criação de Israel — o povo da sua aliança e dos cristãos. Acima de tudo, ele é o Pai de seu único Filho Jesus Cristo. Numa época em que muitas vezes se pergunta se o Senhor realmente deveria ser chamado de “Pai”, pois isso pode parecer uma postura “machista”, é importante notar novamente que Deus é Espírito. Portanto, é totalmente errado descrevê-lo como masculino ou feminino. De fato, lemos sobre o Pai como o Deus “que te gerou” (Dt 32:18) — o que dificilmente seria considerada como uma ação masculina! A paternidade humana deriva de Deus e não vice-versa. Chamar Deus de “Pai” sem dúvida é correto do ponto de vista bíblico e, devidamente entendido, tem muito a dizer para corrigir os muitos abusos que são presenciados atualmente, cometidos pelos pais humanos.

    Primeiro, Deus é ocasionalmente referido, num sentido genérico, como Pai de todas as pessoas, pois elas são geradas por Ele (Ml 2:10; At 17:28-29; Hb 12:9). Segundo, a paternidade de Deus sobre Israel é mencionada ou subentendida. Como Pai, o Senhor tem o direito de ser obedecido. Deuteronômio 3:2-6 dá alguma indicação desse relacionamento: “Corromperam-se conta ele; já não são seus filhos, e isso é a sua mancha, geração perversa e depravada é. É assim que recompensas ao Senhor, povo louco e ignorante? Não é ele teu Pai, que te adquiriu, que te fez e te estabeleceu?” É o relacionamento pactual com seu povo que está especialmente em destaque aqui. O Senhor toma (cria) Israel, ao fazer dele o seu povo peculiar e ao adotá-lo amorosamente como pai, na esperança de receber de volta amor e obediência (Ml 1:6). Deus adverte Israel de que será rejeitado, se porventura desprezar seu Pai (v. 18). Assim, Israel é o seu “filho primogênito” e, se obedecer, receberá a proteção do Senhor. Por exemplo, Deus exige de Faraó: “Israel é meu filho, meu primogênito. Deixa ir o meu filho” (Êx 4:22-23; Os 11:1).

    O fato de Deus apresentar-se como Pai de Israel significa que tem o direito de esperar em resposta uma sincera comunhão com o filho. Lamentavelmente, na maior parte do tempo, encontrou um povo rebelde. Deus diz em Isaías 1:2: “Criei filhos, e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim”. Tanto este profeta como Jeremias, entretanto, olham para o futuro, para um tempo em que o Senhor será o Pai de um filho que corresponde. Deus então mostrará a Israel seu cuidado e seu amor: “Guiá-los-ei aos ribeiros de águas, por caminho reto em que não tropeçarão, porque sou um pai para Israel, e Efraim é o meu primogênito” (Jr 31:9). Um filho humilde admitirá que o Pai tem direitos: “Mas agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o barro, tu és o nosso oleiro; somos todos obra das tuas mãos. Não te enfureças tanto, ó Senhor, nem perpetuamente te lembres da iniqüidade. Olha, nós te pedimos, todos nós somos o teu povo” (Is 64:8-9; veja também 45.10,11; 63.16). Como Pai e Deus da Aliança, quando seu filho chamar, ele responderá: “Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus, a rocha da minha salvação... O meu amor lhe manterei para sempre, e a minha aliança lhe será firme” (Sl 89:26-28).

    Deus também é o Pai do rei de Israel, de uma maneira especial, pois ele representa o povo. A aliança que o Senhor fez com o rei Davi estabeleceu que Deus seria o “Pai” dos descendentes dele: “Eu serei seu Pai e ele será meu filho”. O salmista destaca esse tema. Por exemplo, o Salmo 2:7 diz: “Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (veja também Sl 89:26-27). Posteriormente, essas passagens sobre o filho assumiram um significado messiânico, quando as pessoas olhavam para o futuro, para o advento do rei ungido da linhagem de Davi. De fato, mais tarde foram aplicadas a Jesus Cristo (At 13:33; Hb 1:5).

    Deus é “Pai” unicamente de Jesus, o qual é descrito como “o Filho unigênito de Deus” (veja Jesus). Esta filiação está relacionada ao seu nascimento virginal (Lc 1:35), mas essa não é a única origem. O Pai anuncia claramente a condição de Jesus, em seu batismo: “Então ouviu-se esta voz dos céus: Tu és o meu Filho amado em quem me comprazo” (Mc 1:11). Isso, porém, serviu apenas para confirmar publicamente o que já era verdade. De fato, o NT indica uma comunhão permanente entre o Deus Pai, como “pai”; e o Deus Filho, como “filho”. Esse relacionamento eterno é indicado em João 1:18: “Ninguém nunca viu a Deus, mas o Deus unigênito, que está ao lado do Pai, é quem o revelou”. Em João 17 Jesus dirige-se a Deus como “Pai” e olha para o futuro, quando receberá novamente “a glória que me deste, porque me amaste antes da criação do mundo” (vv. 24,25; 1 Jo 4:9).

    O acesso a Deus como “Pai” só é possível por meio de Cristo: “Ninguém vem ao Pai, senão por mim”, disse Jesus (Jo 14:6). Isso também aponta o caminho para a filiação a Deus para todos os cristãos.

    Deus como Pai de todos os cristãos é o complemento de sua paternidade a ser mencionada aqui. O Senhor é o Pai de todo o que tem fé em Cristo. Parte da plenitude da salvação, aplicada aos crentes pelo Espírito Santo, é a condição de “adoção” de filhos (Rm 8:23; Ef 1:5), mediante a qual podem utilizar o nome mais pessoal de “Aba” (Papai), ao dirigir-se a Deus (Rm 8:14-17; Gl 4:6). É importante notar que em ambos os textos a “filiação” também está intimamente ligada à herança. Assim como Jesus, o Filho, é herdeiro da glória de Deus, Paulo diz que os filhos adotados são “co-herdeiros de Cristo, se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm 8:17). É possível para todo o que crê em Cristo conhecer o Pai (Gl 3:26), pois Jesus lhes revela (Jo 14:6-9). Cristo mostrou o Pai ao mundo: “Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo. Antes, é o Pai que está em mim quem faz as obras” (v.10).

    Novamente, a única resposta apropriada por parte do cristão, diante da ideia de ser feito filho de Deus, é o louvor: “Vede quão grande amor nos concedeu o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. E somos mesmo seus filhos! O mundo não nos conhece porque não o conheceu. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque assim como é, o veremos” (1Jo 3:1-2).

    Os nomes de Deus

    Enquanto nas modernas culturas ocidentais o nome realmente só é usado para distinguir uma pessoa de outra, os registrados na Bíblia são utilizados para representar totalmente a pessoa ou indicar aspectos de seu caráter ou de seu objetivo na vida (veja seção Os nomes e seus significados na 1ntrodução). Em nenhum outro lugar isso pode ser visto mais claramente do que na expressão “nome do Senhor”, que ocorre aproximadamente 100 vezes nas Escrituras. É uma frase que sintetiza o que nunca pode ser totalmente resumido — ou seja, o próprio Deus.
    O Nome. Quando Gênesis 4:26 diz: “Foi nesse tempo que os homens começaram a invocar o nome do Senhor”, não quer dizer simplesmente que as pessoas aprenderam a usar o nome “Senhor”. O texto indica que elas começaram a adorar ao Senhor por tudo o que Ele é. Quando a Lei diz: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, pois o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 20:7), claramente tem em mente mais do que as ocasionais expressões irreverentes (embora, é claro, sua proibição esteja incluída no mandamento). A lei afirma que o próprio Senhor não deve ser considerado com desdém. Não pode ser tratado da mesma maneira que os ídolos pagãos, mencionados no mandamento anterior. Jamais deve ser invocado como um poder mágico ou ser referido numa adoração que não é centralizada exclusivamente nele.

    Assim, uma referência ao “Nome” do Senhor leva consigo uma indicação da própria natureza de Deus. Em Êxodo 23:20, o “Nome” de Deus está presente no anjo enviado para liderar o povo de Israel. Também é correto concluir que tal ser trata-se de uma “teofania”, por meio da qual o Senhor de alguma maneira era experimentado ou visto na presença do anjo (veja Teofanias).

    Quando a Bíblia fala em “invocar” o nome de Deus, geralmente é num contexto de exortação para se adorar ao Senhor totalmente, em toda a vida e vê-lo como o Deus soberano e transcendente que é: pessoal, amoroso e fiel, que está presente em todas as áreas de seu domínio (2Rs 5:11; Sl 17:7; Jl 2:32; Sf 3:9).

    Fazer alguma coisa no “nome do Senhor” é realizar algo no lugar do próprio Deus ou fazer com todo o endosso de sua presença e em obediência à sua ordem. Dessa maneira, os sacerdotes e levitas ministravam “no nome do Senhor” e os profetas falavam “no nome do Senhor”; não que eles alegassem ser Deus, mas isso significava que falavam e operavam com sua total autoridade e poder por trás deles. Até o mesmo o rei Davi lutou “em nome do Senhor” (Dt 18:17-22; 21.5; 1 Sm 17.45; 1 Rs 18.24; etc.). Quando os israelitas desejavam afirmar a presença de Deus com a Arca da Aliança, faziam isso mediante a invocação do “Nome do Senhor dos Exércitos” (2Sm 6:2). Salomão falava em construir um Templo “ao nome do Senhor” (1Rs 8:20). Dessa maneira, o nome é um meio de descrever a plenitude, a transcendência e a presença do próprio Deus.

    É interessante notar que no NT o “nome” pertence a Jesus, para lembrar os textos do AT que se referiam a tudo o que Deus é. Se o nome é de Deus e Jesus é chamado pelo “nome”, então tudo o que pertence a Deus está em Jesus e tudo o que Deus é, Cristo também é (compare Joel 2:32 com Atos 2:21; Romanos 10:13). Assim como a autoridade e o poder de Deus são vistos em seu “nome”, o mesmo acontece com Jesus. É “no nome de Jesus” que as pessoas são desafiadas ao arrependimento, batismo e a receber perdão. A fé precisa ser “no nome de Jesus” (At 2:38-3.16; 9.21). É “no nome de Jesus” que os apóstolos curavam e a Igreja orava (At 3:6; Tg 5:14).

    Em adição a essa maneira abrangente de referir-se à plenitude de Deus, vários nomes específicos são atribuídos ao Senhor na Bíblia e nos ajudam a entendê-lo melhor. Diferentemente de todos os “nomes”, eles enfatizam aspectos da natureza e do caráter de Deus, a fim de afirmar e enriquecer o que já foi mencionado anteriormente.
    El, Elohim. Um nome comum usado para o Senhor e geralmente traduzido como “Deus” (Elohim é a forma plural). A raiz deste vocábulo provavelmente significa “poder”. Este termo era utilizado em outras culturas e religiões para descrever uma grande divindade. Na Bíblia, porém, o nome é aplicado ao único Deus — “El Elohe Israel”, [Deus, o Deus de Israel] (Gn 33:20). Nas Escrituras, Ele é o “Deus do céu e da terra” (Gn 24:3); “o Deus de Abraão, Isaque e Jacó”; o “Deus dos hebreus” (Êx 3:18); o “Deus dos deuses”; “Deus da verdade” (Sl 31:5) e, é claro, “Deus da glória” (Sl 29:3).

    A forma plural às vezes refere-se a outros deuses, mas também é usada na Bíblia para o único Deus, embora o termo esteja no plural. A forma plural indica a plenitude do Senhor. Ele é totalmente distinto das pessoas criadas, em seu ser (Nm 23:19).

    O vocábulo “El” também aparece em formas como “El Shaddai” (Deus Todo-poderoso”; Gn 17:1; Êx 6:3. Para mais detalhes, veja a seção “O Deus de Abraão”, no artigo sobre Abraão); “El Elyom” (Deus Altíssimo; Dt 32:8; Dn 7:18-22; etc.); “El Betel” (Deus de Betel; Gn 35:7); e “El Olam” (Deus Eterno; Gn 21:33; veja também Sl 90:2).
    Yahweh (o Senhor). O vocábulo Yahweh, que geralmente é traduzido como “Senhor”, em nossas versões da Bíblia em Português, tem sido corretamente chamado de “o nome da aliança de Deus”. Foi por este título que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó escolheu revelar-se a Moisés (Êx 6:3). Sem dúvida, os seguidores fiéis do Senhor já o conheciam por este nome antes da revelação da sarça ardente, mas com Moisés há mais revelações da fidelidade de Yahweh à aliança e de sua comunhão íntima com seu povo. O nome em si é derivado do verbo hebraico “ser”. Moisés imaginou pessoas que lhe perguntariam pelo nome do Deus que lhe apareceu, quando voltasse para seu povo. O Senhor lhe respondeu: “EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êx 3:14; veja
    v. 15). Yahweh, portanto, significa algo como “Ele é” ou talvez “Ele traz à existência”.

    Como o nome revelado de Deus, o título “Yahweh” trazia uma declaração da existência contínua do Senhor e sua presença permanente com seu povo. Foi Ele quem se apresentou a Moisés e ao povo de Israel através das gerações como o Deus da aliança, o que sempre seria fiel às suas promessas em favor de seu povo. Foi sob este nome que o povo da aliança adorou a Deus. No NT, os cristãos entenderam que o Senhor da aliança era Jesus Cristo e, assim, ideias e atributos do AT que pertenciam a Yahweh foram trazidos e aplicados a Jesus. Para uma discussão mais detalhada do grande significado deste nome, veja Senhor.
    Adonai (Senhor). Com o significado de “Senhor” ou “Mestre”, este termo é aplicado a seres humanos em posição de autoridade. Quando relacionado a Deus, entretanto, geralmente é usado junto com o nome Yahweh. Isso apresenta algumas dificuldades na tradução. Não é fácil ler a frase “O senhor senhor”! Assim, geralmente traduz-se como “Senhor Deus” (2Sm 7:28; Is 28:16-56.8; etc.).
    Rocha. A fidelidade, a confiabilidade e a graça salvadora do Deus da aliança são ocasionalmente descritas por meio do epíteto “Rocha” (Dt 32:4-15, 18; 2 Sm 22.3, 47; Sl 62:7; Hc 1:12; etc.).
    Outros nomes. Embora algumas vezes sejam tomados como nomes, muitos outros termos aplicados a Deus são adjetivos. São usados para descrever o Senhor, atribuir louvor ao seu nome e diferenciá-lo dos deuses pagãos. Juízes 6:24 diz que “o Senhor é paz”. Outros textos falam sobre Deus como “o Santo” ou “o Santo de Israel”, a fim de estabelecer um elo no AT entre a sua santidade e a necessidade de que o seu povo seja santo (6:10; Pv 9:10; Is 12:6). Deus também é conhecido como o “Rei” (veja Rei), o “Senhor Todo-poderoso”, “o Senhor é minha Bandeira”, entre outros.
    Jeová. Este termo é pouco citado nas modernas versões da Bíblia. Deve, contudo, ser mencionado aqui como um nome que ainda sobrevive em algumas traduções. É suficiente dizer que, em hebraico, o termo YHWH aparece e, na maioria das vezes, é traduzido como SENHOR, em nossas versões, ou colocam-se vogais e assim lê-se Yahweh (o que alguns colaboradores deste volume têm feito). Jeová deriva de uma leitura equivocada de Yahweh. O pano de fundo do problema com o nome “Jeová” é explicado no verbete Senhor.


    A Trindade

    O cristianismo tradicionalmente argumenta que muitas evidências bíblicas revelam Deus em três pessoas distintas. Para alguns, tal definição do Senhor tem causado sérios problemas. A história da Igreja é permeada pelo surgimento de seitas que não reconheciam Jesus Cristo como Deus ou que se recusavam a aceitar a visão trinitária do Senhor; outras não viam um dos componentes da Trindade como totalmente Deus, ou negavam que houvesse distinções entre as três pessoas. Outros grupos estão totalmente fora do ensino bíblico e entram efetivamente no mundo do triteísmo, uma noção negada explicitamente na Bíblia, como, por exemplo, na oração da “Shema” (Dt 6:4). Embora o termo “trindade” não seja mencionado nas Escrituras, os cristãos sempre creram que somente ele pode fazer justiça à revelação bíblica da “plenitude” de Deus. Começando com o AT, os cristãos apontam indicações que pressagiam um ensino mais detalhado no NT. Muitas passagens conduzem para a pluralidade relacionada com o que é o “único Deus”. Muitos textos sugerem uma identificação do Messias que virá com o próprio Deus. Ele será chamado de Deus Poderoso, governará em completa soberania e será eterno — atributos divinos (Is 9:6-7; Sl 2; etc.). Mas indicações também estão presentes na compreensão da própria criação, no AT. Embora algumas pessoas neguem seu significado, é interessante notar que o Senhor refere-se a si mesmo com o termo plural “elohim” em certas passagens. Em Gênesis 1, é Deus quem cria, por meio de sua Palavra e pelo seu Espírito (Gn 1:1-3). Às vezes essa referência no plural parece ainda mais notável, feita de forma explícita com o uso de verbos e pronomes nas pessoas do plural; por exemplo, “Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem...” (Gn 1:26-3.22; 11.7; Is 6:8). Existe também uma personalização da “Palavra de Deus” que criou os céus (Sl 33:6). Algo semelhante ocorre em Provérbios 8, onde a sabedoria do Senhor é personalizada como o próprio Deus que opera no mundo, concede vida e envolve-se com a própria criação (principalmente Pv 8:12-21).

    Alguns sugerem que “o anjo do Senhor” também deve ser identificado com Deus e ainda assim é distinto dele (Êx 3:2-6; veja também Anjo do Senhor). Em Isaías 63:1014, o Espírito Santo é identificado como Agente de Deus. Esse tipo de evidência espera por sua interpretação mais completa no NT (veja também Teofanias).

    No NT, aspectos da doutrina da Trindade surgem primeiro quando os discípulos e seguidores de Jesus reconhecem as obras e as palavras de Deus nas atitudes de Jesus. Realmente, o problema dos líderes religiosos daquela época foi justamente que algumas das coisas que Cristo fazia e dizia só seriam feitas e ditas por Deus; portanto, eles alegavam que Jesus blasfemava, ao tentar passar por Deus. Por exemplo, Cristo perdoou os pecados do paralítico, algo que os escribas acreditavam que somente Deus era capaz de fazer; portanto, era uma blasfêmia. Jesus então demonstrou sua autoridade divina, ao curar o homem completamente (Mt 9:2-6). João 8 é especialmente esclarecedor sobre essa questão e traz uma série de declarações feitas por Jesus. Sua alegação de pertencer a Deus e ser enviado por Ele (vv. 14, 23), de partir para um lugar desconhecido dos líderes religiosos (v. 14), intimamente combinada com o uso da expressão “Eu Sou” e sua declaração de ter existido antes de Abraão (vv. 24, 28, 58, etc.), tudo isso ocasionou uma acusação de blasfêmia e a tentativa de apedrejamento — a punição para aquela transgressão (v. 59). Jesus aceitou a confissão de Pedro de que Ele era o Cristo (Mc 8:29-30) e alegou ter “todo” poder e autoridade antes de fazer uma das principais declarações trinitárias da Bíblia: “Ide... batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28:18).

    Em todo o NT, ambos, o Espírito Santo e Jesus, são apresentados como seres divinos. João 1:1-14 fala de Cristo como preexistente. Romanos 9:5 geralmente é destacado por alguns teólogos, mas provavelmente a leitura deveria ser essa: “Cristo, que é Deus sobre todos, seja louvado...” (veja também Cl 2:9; Hb 1:9-10; etc.). O Espírito Santo também é visto como Deus (veja At 5:3-4; Jo 15:26; Mc 3:29-2 Co 3.17; etc.).

    São também interessantes as passagens do NT onde os escritores apostólicos aplicam a Jesus o nome de Yahweh do AT (Senhor). Veja, por exemplo, Romanos 1:0-13, onde a confissão da fé em Cristo é provada como confissão de fé em Deus, por uma referência que aponta para o AT e menciona Yahweh. Vários textos merecem um exame cuidadoso, pois trazem o entendimento do AT sobre Yahweh ou aplicam declarações concernentes a Yahweh, no AT, e a Jesus, no NT. Por exemplo, veja João 1:2-41 (cf. Is 6:10); Atos 2:34-36; I Coríntios 1:30-31; 12.3; Filipenses 2:9-11 (cf. Is 45:23), etc.

    Em muitas passagens bíblicas, a ideia do Deus trino é no mínimo implícita nos textos do NT, se não explícita. O batismo de Jesus envolveu o Filho, o Pai e o Espírito Santo (Mt 3:13-17). O mencionado em Mateus 28:19 é em nome das três pessoas da Trindade. Jesus referiu-se ao Espírito Santo como “outro Consolador”. Assim como o Pai enviou Cristo, Ele mandaria o Espírito Santo (Jo 14:15-23). Veja também a obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo na vida do crente (Ef 3:14-19).

    As Escrituras revelam uma figura de Deus em três pessoas e a isso nós chamamos de “Trindade”. O Pai não é maior do que o Filho e ambos são distintos do Espírito Santo, embora exista um ensino claro tanto no AT como no NT de que Deus é único. Existem três pessoas, mas apenas um Senhor. Tal ensino, quando apresentado em conjunto, implica um modo de existência longe do que nossa mente humana possa entender. É por esta razão que todas as analogias humanas invariavelmente fracassam quando se trata de explicar o que significa a Trindade.

    Os cristãos estão convencidos de que negar essa doutrina é renunciar à clara evidência bíblica sobre o próprio Deus. Um escritor resumiu o ensino bíblico dessa maneira: “A doutrina da Trindade não explica plenamente o misterioso caráter de Deus. Pelo contrário, estabelece as fronteiras, fora das quais não devemos andar... Isso exige que sejamos fiéis à revelação bíblica que em um sentido Deus é um e num sentido diferente ele é três” (R. C. Sproul).

    Conclusão

    O Deus da Bíblia é revelado como Eterno, Majestoso, Transcendente, Onipotente e Onisciente. Também é descrito como o Criador de todo o Universo e das pessoas e, neste contexto, revela a si mesmo em sua Palavra como um Deus pessoal, amoroso e soberano, um Deus justo, verdadeiro e íntegro. Deus é revelado como o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É o Deus presente com seu povo (Emanuel, Deus conosco) e atuante em toda a criação, embora de modo algum seja absorvido por ela, como certas religiões orientais ensinam. Embora seja um Deus santo, separado e distinto da criação e das criaturas, não permite que o mundo se perca totalmente em seu pecado, sem nenhuma esperança de redenção; pelo contrário, revela a si mesmo como um Deus de amor que salva e redime todo aquele que o busca. Sua graça salvadora é vista claramente em sua vinda aqui na Terra: Jesus, o Filho de Deus, veio para ser o Salvador e Redentor da humanidade. Esta dádiva é experimentada por meio de sua Palavra (a Bíblia) e da presença do Espírito Santo no coração e na vida daqueles que crêem nele. Quanto mais a Bíblia é lida, fica mais claro que todo o seu povo é exortado repetidamente a cantar louvores ao Deus Todo-poderoso que, embora seja transcendente, está presente, a fim de sustentar, cuidar e salvar. “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos jubilosos e imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória, majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre. Amém”.

    P.D.G.


    Deus [hebr. El, Elah, Eloah, Elohim; gr. theós]

    O nome mais geral da Divindade (Gn 1:1; Jo 1:1). Deus é o Ser Supremo, único, infinito, criador e sustentador do universo. É espírito pessoal e subsiste em três pessoas ou distinções: Pai, Filho e Espírito Santo (v. TRINDADE). É santo, justo, amoroso e perdoador dos que se arrependem. O ateu diz que Deus não existe; o agnóstico diz que não podemos saber se Deus existe ou não; o crente sabe que Deus existe e afirma: “... nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17:28).

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    NOMES DE DEUS

    Nas Escrituras Sagradas Deus é chamado por vários nomes e cognomes (títulos), que seguem alistados na ordem decrescente do número de ocorrências:


    1) SENHOR (hebr. JAVÉ, ???? - Gn 2:4);


    2) DEUS (Gn 1:1);


    3) SENHOR DOS EXÉRCITOS (Jr 33:11);


    4) Pai (Is 63:16; Mt 6:8-9);


    5) SENHOR (propriamente dito - Sl 114:7);


    6) SANTO de ISRAEL (Is 1:4);


    7) ALTÍSSIMO (Gn 14:18);


    8) Todo-poderoso (Gn 49:25; 2Co 6:18);


    9) Deus Vivo (Os 1:10; 1Ts 1:9);


    10) Rei (Sl 24; 1Tm 6:15);


    11) Rocha (Dt 32:18; Is 30:29);


    12) REDENTOR (19:25);


    13) SALVADOR (Sl 106:21; Lc 1:47);


    14) Juiz (Gn 18:25; 2Tm 4:8);


    15) O Poderoso (Gn 49:24, RA; RC, Valente);


    16) O PRIMEIRO E O ÚLTIMO (Ap 22:13);


    17) ETERNO DEUS (Is 40:28);


    18) Pastor (Gn 49:24);


    19) ANCIÃO DE DIAS (Dn 7:9);


    20) O Deus de BETEL (Gn 31:13);


    21) O Deus Que Vê (Gn 16:13).


    Deus O judaísmo apresentava uma visão estritamente monoteísta da divindade. As afirmações a respeito que aparecem no Antigo Testamento não podem ser mais explícitas. Antes e depois dele não houve nem haverá outros deuses (Is 43:10-11). Tudo criou sem ajuda nem presença de ninguém (Is 44:24; 45,12). É o primeiro e o último (Is 44:6), clemente e misericordioso (Sl 111:4), o que cuida dos oprimidos (Sl 113:7), o que cura todas as dores e perdoa todas as iniqüidades (Sl 103:3).

    Foi ele quem entregou a Torá a Moisés no Sinai (Êx 19:20) e que estabeleceu uma Aliança Eterna com Israel como povo seu. Ele que falou através dos profetas, ele que não pode ser representado por nenhum tipo de imagem, desenho ou pintura (Ex 20:4ss.) etc.

    Deste Deus se esperava que enviaria seu messias e que no final dos tempos ressuscitaria os justos e injustos, proporcionando recompensa eterna aos primeiros e castigo vergonhoso e consciente aos segundos (Dn 12:2).

    Nos evangelhos encontramos uma aceitação de todas essas afirmações. Deus é único (Mc 12:29ss.), é o Deus dos patriarcas (Mt 22:32), é o único que pode receber culto e serviço (Mt 6:24; Lc 4:8). Para ele tudo é possível (Mt 19:26; Lc 1:37). Ainda que faça brilhar o sol sobre justos e injustos (Mt 5:45), só é Pai daqueles que recebem Jesus (Jo 1:12). Essa relação de paternidade entre Deus e os seguidores de Jesus explica por que ele é tratado como Pai (Mt 11:25ss.; Mc 14:36; Lc 23:34.46; Jo 11:41; 17, 1.5.11). A ele se deve dirigir no oculto do coração e sem usar contínuas repetições como os pagãos (Mt 6:4.
    18) e nele se deve confiar sem sombra de dúvida (Mt 6:26-32; 10,29-31; Lc 15). E podemos então chegar a conhecê-lo porque se nos revelou em Jesus (Jo 1:18).

    Esse monoteísmo com o qual Deus é contemplado no Novo Testamento encontra-se, não obstante, selecionado através da fé na Trindade, que afirma uma pluralidade de pessoas no âmago da única divindade. Existem precedentes da crença na divindade do messias no judaísmo, assim como da atuação de Deus em várias pessoas. De fato, o judeu-cristianismo posterior — tal como registra o Talmude — apenas se referiu a elas para defender sua essência judaica. Assim, no Antigo Testamento, atribui-se ao Messias o título divino de El-Guibor (Is 9:5-6); Deus se expressa em termos plurais (Gn 1:26-27; Is 6:8); o malak YHVH ou o anjo de YHVH não é senão o próprio YHVH (Jz 13:20-22) etc, expressões que foram interpretadas como sinais da revelação da Trindade.

    Nos evangelhos encontramos de fato afirmações nesse sentido que não podem ser consideradas equívocas. Por exemplo: Jesus é denominado Deus (Jo 1:1; 20-28 etc.); afirma-se que o Filho de Deus é igual a Deus (Jo 5:18); ressalta-se que era adorado pelos primeiros cristãos (Mt 28:19-20 etc.), recebe a designação de “Verbo”, termo procedente dos targuns aramaicos para referir-se ao próprio YHVH (Jo 1:1) etc.

    Tem-se discutido se todos esses enfoques procedem realmente do próprio Jesus ou se, ao contrário, devem ser atribuídos à comunidade primitiva. Também se questiona o seu caráter judaico.

    Atualmente, sabemos que esses pontos de vista não se originaram do helenismo, mas do judaísmo contemporâneo de Jesus (m. Hengel, A. Segal, C. Vidal Manzanares etc.). A característica que difere o cristianismo das outras doutrinas é afirmar essa hipóstase do Deus único, encarnado em Jesus. A este também retrocede todas as interpretações sobre sua pessoa. Para essa interpretação, defendem-se passagens de indiscutível autenticidade histórica, como a de Lc 10:21-22, assim como as de auto-identificação que Jesus atribui a si, como a Jokmah hipostática dos Provérbios (Lc 7:35; 11,49-51) e como o “Kyrios” (Senhor) do Antigo Testamento (Lc 12:35-38; 12,43ss.). Essas passagens de fato fazem parte da fonte Q, o que indica sua antigüidade.

    m. Hengel, El Hijo de Dios, Salamanca 1978; A. Segal, Paul, The Convert, New Haven e Londres 1990; m. Gilbert - J. N. Aletti, La Sabiduría y Jesucristo, Estella; C. Vidal Manzanares, El primer Evangelio...; Idem, El judeo-cristianismo palestino...


    Dissê

    1ª pess. sing. pret. perf. ind. de dizer
    3ª pess. sing. pret. perf. ind. de dizer

    di·zer |ê| |ê| -
    (latim dico, -ere)
    verbo transitivo

    1. Exprimir por meio de palavra, por escrito ou por sinais (ex.: dizer olá).

    2. Referir, contar.

    3. Depor.

    4. Recitar; declamar (ex.: dizer poemas).

    5. Afirmar (ex.: eu digo que isso é mentira).

    6. Ser voz pública (ex.: dizem que ele é muito honesto).

    7. Exprimir por música, tocando ou cantando.

    verbo intransitivo

    8. Condizer, corresponder.

    9. Explicar-se; falar.

    10. Estar (bem ou mal) à feição ou ao corpo (ex.: essa cor não diz bem). = CONVIR, QUADRAR

    verbo pronominal

    11. Intitular-se; afirmar ser.

    12. Chamar-se.

    13. Declarar o jogo que se tem ou se faz.

    nome masculino

    14. Expressão, dito (ex.: leu os dizeres do muro).

    15. Estilo.

    16. Maneira de se exprimir.

    17. Rifão.

    18. Alegação, razão.


    quer dizer
    Expressão usada para iniciar uma explicação adicional em relação a algo que foi dito anteriormente. = ISTO É, OU SEJA

    tenho dito
    Fórmula com que se dá por concluído um discurso, um arrazoado, etc.


    E

    conjunção Conjunção que liga palavras e orações com mesma função.
    Indica adição: pai e mãe extremosos.
    Indica oposição: falou muito, e não disse nada.
    Expressa consequência: ele não quis me ouvir e se deu mal.
    Denota inclusão: trouxe meus filhos e seus amigos.
    Gramática Repetida entre os membros de uma série, dá mais vivacidade à enumeração: a alta, e nobre, e musical prosa de Vieira.
    Gramática Indica a variação de sentidos com que nos referimos a pessoas ou coisas do mesmo nome: há amigos e amigos, interesses e interesses.
    Gramática Apresenta números compostos: mil oitocentos e vinte e dois.
    Gramática Inicia frases bíblicas sem ligação imediata com frase antecedente: E era a hora terceira quando O crucificaram.
    Gramática Atribui enfase na frase (sobretudo em interrogações e exclamações): e tu não sabias?
    substantivo masculino A quinta letra que compõe o alfabeto e sua segunda vogal: meu nome se inicia com e.
    Maneira de representar essa letra (e).
    numeral [Matemática] Número e, que corresponde ao quinto número numa série.
    Etimologia (origem da palavra e). Do latim et.

    conjunção Conjunção que liga palavras e orações com mesma função.
    Indica adição: pai e mãe extremosos.
    Indica oposição: falou muito, e não disse nada.
    Expressa consequência: ele não quis me ouvir e se deu mal.
    Denota inclusão: trouxe meus filhos e seus amigos.
    Gramática Repetida entre os membros de uma série, dá mais vivacidade à enumeração: a alta, e nobre, e musical prosa de Vieira.
    Gramática Indica a variação de sentidos com que nos referimos a pessoas ou coisas do mesmo nome: há amigos e amigos, interesses e interesses.
    Gramática Apresenta números compostos: mil oitocentos e vinte e dois.
    Gramática Inicia frases bíblicas sem ligação imediata com frase antecedente: E era a hora terceira quando O crucificaram.
    Gramática Atribui enfase na frase (sobretudo em interrogações e exclamações): e tu não sabias?
    substantivo masculino A quinta letra que compõe o alfabeto e sua segunda vogal: meu nome se inicia com e.
    Maneira de representar essa letra (e).
    numeral [Matemática] Número e, que corresponde ao quinto número numa série.
    Etimologia (origem da palavra e). Do latim et.

    Instar

    verbo Solicitar insistentemente; insistir com frequência: ela instava o comparecimento do público em seu show; instei-lhe que respondesse às solicitações; embora não tivesse resposta, ele seguiu instando.
    Gramática Verbo de regência múltipla.
    verbo intransitivo Cujo desenvolvimento está prestes a ocorrer; que é iminente.
    Ser importante; urgir: insta que saiamos.
    verbo transitivo indireto Expressar desaprovação: insta contra a demissão.
    verbo bitransitivo Questionar ou interrogar com insistência.
    Etimologia (origem da palavra instar). Do latim instare.

    Instar Insistir (Rt 1:16; 2Tm 4:2).

    Pedir com insistência; persistência

    Irar

    verbo transitivo direto e pronominal Provocar ira a; causar ódio, mágoa, rancor em alguém ou em si mesmo; enraivecer, irritar: irar o chefe com falsos problemas; irou-se com tanta burrice.
    Etimologia (origem da palavra irar). Ira + ar.

    Noite

    substantivo feminino Espaço de tempo entre o pôr do sol e o amanhecer.
    Escuridão que reina durante esse tempo.
    [Popular] Diversão ou entretenimento noturna; vida noturna: ir para noite.
    Falta de claridade; trevas.
    Condição melancólica; melancolia.
    Ausência de visão; cegueira.
    expressão Noite fechada. Noite completa.
    Ir alta a noite. Ser muito tarde.
    Noite e dia. De maneira continuada; continuamente.
    A noite dos tempos. Os tempos mais recuados da história.
    Etimologia (origem da palavra noite). Do latim nox.ctis.

    Não olvides que a própria noite na Terra é uma pausa de esquecimento para que aprendamos a ciência do recomeço, em cada alvorada nova.
    Referencia: XAVIER, Francisco Cândido• Ceifa de luz• Pelo Espírito Emmanuel• 1a ed• especial• Rio de Janeiro: FEB, 2005• - cap• 2

    O dia e a noite constituem, para o homem, uma folha do livro da vida. A maior parte das vezes, a criatura escreve sozinha a página diária, com a tinta dos sentimentos que lhe são próprios, nas palavras, pensamentos, intenções e atos, e no verso, isto é, na reflexão noturna, ajudamo-la a retificar as lições e acertar as experiências, quando o Senhor no-lo permite.
    Referencia: XAVIER, Francisco Cândido• Os Mensageiros• Pelo Espírito André Luiz• 41a ed• Rio de Janeiro: FEB, 2004• - cap• 41

    [...] Qual acontece entre os homens, animais e árvores, há também um movimento de respiração para o mundo. Durante o dia, o hemisfério iluminado absorve as energias positivas e fecundantes do Sol que bombardeia pacificamente as criações da Natureza e do homem, afeiçoando-as ao abençoado trabalho evolutivo, mas, à noite, o hemisfério sombrio, magnetizado pelo influxo absorvente da Lua, expele as vibrações psíquicas retidas no trabalho diurno, envolvendo principalmente os círculos de manifestação da atividade humana. O quadro de emissão dessa substância é, portanto, diferente sobre a cidade, sobre o campo ou sobre o mar. [...]
    Referencia: XAVIER, Francisco Cândido• Voltei• Pelo Espírito Irmão Jacob• 24a ed• Rio de Janeiro: FEB, 2005• - cap• 6


    Noite Dividido em vigílias, o período que se estendia do pôr-do-sol ao amanhecer. Nos evangelhos, aparece como um tempo especialmente propício para a oração (Mc 1:35; Lc 6:12).

    Não

    advérbio Modo de negar; maneira de expressar uma negação ou recusa: -- Precisam de ajuda? -- Não.
    Expressão de oposição; contestação: -- Seus pais se divorciaram? -- Não, continuam casados.
    Gramática Numa interrogação, pode expressar certeza ou dúvida: -- você vai à festa, não?
    Gramática Inicia uma interrogação com a intenção de receber uma resposta positiva: Não deveria ter chegado antes?
    Gramática Usado repetidamente para enfatizar a negação: não quero não!
    substantivo masculino Ação de recusar, de não aceitar; negativa: conseguiu um não como conselho.
    Etimologia (origem da palavra não). Do latim non.

    advérbio Modo de negar; maneira de expressar uma negação ou recusa: -- Precisam de ajuda? -- Não.
    Expressão de oposição; contestação: -- Seus pais se divorciaram? -- Não, continuam casados.
    Gramática Numa interrogação, pode expressar certeza ou dúvida: -- você vai à festa, não?
    Gramática Inicia uma interrogação com a intenção de receber uma resposta positiva: Não deveria ter chegado antes?
    Gramática Usado repetidamente para enfatizar a negação: não quero não!
    substantivo masculino Ação de recusar, de não aceitar; negativa: conseguiu um não como conselho.
    Etimologia (origem da palavra não). Do latim non.

    Pousar

    verbo intransitivo e transitivo Repousar, descansar; empoleirar-se.
    Recolher-se por breve tempo.
    Colocar, pôr, assentar levemente.

    Povo

    substantivo masculino Conjunto das pessoas que vivem em sociedade, compartilham a mesma língua, possuem os mesmos hábitos, tradições, e estão sujeitas às mesmas leis.
    Conjunto de indivíduos que constituem uma nação.
    Reunião das pessoas que habitam uma região, cidade, vila ou aldeia.
    Conjunto de pessoas que, embora não habitem o mesmo lugar, possuem características em comum (origem, religião etc.).
    Conjunto dos cidadãos de um país em relação aos governantes.
    Conjunto de pessoas que compõem a classe mais pobre de uma sociedade; plebe.
    Pequena aldeia; lugarejo, aldeia, vila: um povo.
    Público, considerado em seu conjunto.
    Quantidade excessiva de gente; multidão.
    [Popular] Quem faz parte da família ou é considerado dessa forma: cheguei e trouxe meu povo!
    substantivo masculino plural Conjunto de países, falando em relação à maioria deles: os povos sul-americanos sofreram com as invasões europeias.
    Designação da raça humana, de todas as pessoas: esperamos que os povos se juntem para melhorar o planeta.
    Etimologia (origem da palavra povo). Do latim populus, i “povo”.

    Rute

    Plena de beleza ou amiga

    Nome moabita que significa “amizade”. No Antigo Testamento, este vocábulo é encontrado apenas no livro de Rute, e no Novo Testamento ocorre apenas na genealogia de Jesus Cristo, apresentada por Mateus 1:5. Em ambos os casos refere-se à mulher moabita que se casou com um israelita que vivia em Moabe, ficou viúva e acompanhou a sogra, chamada Noemi, que retornou para a cidade de Belém, Judá; ali, posteriormente casou-se com Boaz e teve um filho. A genealogia no final do livro de Rute apresenta seu filho como o avô de Davi.

    É notável como Rute desempenha um papel tão importante e positivo no registro bíblico. Afinal, Israel e Moabe eram inimigos. Como conseqüência dos obstáculos que o primeiro criou para o segundo em sua peregrinação do Sinai para a terra Prometida (Nm 22:25), Deus decretou que “nenhum amonita nem moabita entrará na assembléia do Senhor, nem ainda na décima geração; nunca poderão entrar na assembléia do Senhor” (Dt 23:3).

    As diferenças não eram meramente históricas. Os eventos do livro de Rute aconteceram “nos dias em que os juízes julgavam” (Rt 1:1). Poucos anos antes desse tempo difícil, os moabitas, sob a liderança de Eglom, tinham invadido e subjugado uma grande parte do território de Israel por 18 anos (Jz 3:12-14), até que Eúde, o canhoto, matou este rei e libertou Israel (vv. 15-29). Depois disso, Moabe submeteu-se a Israel por 80 anos (v. 30).

    Embora seja praticamente impossível situar o livro de Rute dentro da narrativa do de Juízes, devido às prováveis lacunas na genealogia de Rute 4:18-22, é bem possível que as lembranças das antigas e recentes hostilidades não estivessem completamente apagadas, especialmente considerando-se a proibição permanente de Deuteronômio 23:3. Em vista disso, a inclusão da história de Rute, a moabita, nas páginas das Escrituras dificilmente terá outra explicação senão a da providência de Deus, que evidencia sua graça e habilidade de operar na vida de qualquer pessoa e por meio dela, não importa quais sejam seus antecedentes.

    É surpreendente o fato de que esta bela narrativa tenha como título o nome de uma estrangeira. Ester e Rute são os dois únicos livros da Bíblia cujos nomes são de mulheres. Somente essa perspectiva já aumenta seu significado na revelação bíblica e nos propósitos de Deus.

    A primeira menção do nome desta moabita encontra-se em seu casamento com um dos filhos de Elimeleque e Noemi (Rt 1:4). Somente em Rute 4:10 é revelado que Malom foi seu marido (vv. 2,5). Dado o contexto cultural, é bem provável que tal matrimônio fora arranjado por Elimeleque antes de sua morte (1:3).

    O falecimento de Malom e Quiliom trágica e inesperadamente poucos anos depois da morte de Elimeleque foi uma circunstância crucial (Rt 1:3-5). Rute, sua sogra Noemi e sua cunhada Orfa ficaram sozinhas na mais completa miséria (vv. 6,7).

    Quase tão grave quanto essa situação era o problema da viuvez e esterilidade de Rute (Rt 1:5; Rt 4:10). A incapacidade para gerar filhos era considerada uma maldição divina em muitas culturas antigas. Além disso, a linhagem familiar não podia ser mantida sem filhos e a esterilidade diminuía drasticamente a possibilidade de um segundo casamento.

    Devido à falta de opções diante delas, Noemi incentivou Rute e Orfa a retornar para a casa de seus pais em Moabe, onde poderiam casar-se novamente (Rt 1:8-9). Inicialmente as duas resistiram, mas depois que Noemi descreveu verbalmente a situação desesperadora em que se encontravam (vv. 10-13), Orfa decidiu ficar (v.14). Rute, entretanto, não só se comprometeu com Noemi até a morte, mas também com o Deus de Israel (vv. 16,17). Tal compromisso aparentemente demonstrava a sua fé no Senhor, ao adotar um tipo de proselitismo dentro do povo da aliança.

    No dia seguinte à triste chegada das duas em Belém (Rt 1:19-22), Rute saiu para respigar nos campos para obter alimento (Rt 2:2-3). É possível que tal prática fosse comum também na cultura moabita, mas era claramente ordenada na lei de Moisés. Os pobres, as viúvas e os estrangeiros residentes no meio do povo de Israel podiam ter suas necessidades básicas supridas com certa dignidade por meio da prática de respigar os campos (Lv 23:22; Dt 24:19).

    Rute, entretanto, pediu mais do que a simples oportunidade de respigar no campo ao qual Deus a dirigiu (o antigo idioma hebraico, como em Rt 2:3, considerava o acaso como providência divina). Corajosamente seguiu atrás dos segadores e recolheu o que deixaram de colher (Rt 2:7). O dono do campo, Boaz, que sabia quem era Rute e qual sua situação atual (vv. 11,12), cedeu ao pedido incomum (vv. 8,9) e foi ainda mais além, pois proporcionou-lhe proteção e provisão (vv. 9,14-18).

    Neste ponto, Boaz surgiu apenas como um benfeitor para Rute, até o final da colheita. Noemi, entretanto, viu nas atitudes dele a forte possibilidade de que pudesse se casar por levirato com Rute (Rt 2:20; Rt 3:1-5). Embora nas Escrituras tal prática fosse limitada apenas aos cunhados (Dt 25:5-7), aparentemente com o passar do tempo a responsabilidade pela família do falecido e sua viúva foi aplicada também a outros parentes próximos. Assim, Noemi elaborou um plano para discretamente, porém de maneira decisiva, aproximar-se de Boaz com a ideia.

    Numa noite, no final da estação das colheitas (Rt 2:23), Rute aproximou-se do local ao lado da eira, nos arredores de Belém, onde Boaz dormia, a fim de guardar seus grãos (3:2-6). Deitou-se aos seus pés e aguardou que ele despertasse, quando então apelou para que assumisse seu papel de parente remidor, como base para um casamento (vv. 8,9). Depois desse diálogo, Rute permaneceu aos pés dele até de madrugada, para sair sem ser vista por ninguém (vv. 13,14).

    Alguns estudiosos interpretam esta atitude de Rute, particularmente a maneira como descobriu os pés de Boaz ao se deitar (Rt 3:7) e permaneceu lá durante toda a noite (vv. 13,14), como clara indicação de que ela tentou uma investida sexual, à qual Boaz foi receptivo. Tal ideia, entretanto, é totalmente contrária ao que pode ser visto do caráter dos dois por todo o livro. Especificamente, na conversação entre eles no meio da noite, Boaz expressou admiração pelo recato de Rute (v. 10), e considerou-a uma “mulher virtuosa” (v. 11). Além disso, os detalhes da cena interpretados como de natureza sexual podem ser entendidos de outras formas. Não há uma evidência concreta de que houve qualquer envolvimento sexual.

    A resposta dele trouxe luz sobre um fator adicional no desenvolvimento da narrativa. Embora Boaz estivesse disposto a se casar com Rute por meio do levirato, reconheceu que havia em Belém um outro parente mais próximo do que ele (v. 12). Era necessário que esse homem renunciasse ao seu direito e à sua responsabilidade, para que Boaz fechasse seu acordo com Rute (v. 13).

    Diante de uma assembléia onde se reuniram os anciãos da cidade (Rt 4:2), Boaz inteligentemente fez um acordo com o parente, cujo nome não é mencionado, o qual passou a ele o direito de ser o remidor (vv. 1-8). De acordo com a lei mosaica, Rute tinha o direito de humilhar publicamente o outro parente, por sua omissão (Dt 25:710). Como, porém, estava interessada em casar-se com Boaz, ela não levou o assunto adiante. Pelo contrário, esperou que seu futuro esposo agisse da melhor maneira possível (Rt 3:18).

    Quando a transação legal foi concluída, a multidão desejou votos de felicidades e comparou a nova esposa de Boaz, Rute, com as mulheres que participaram da formação do povo de Israel: Raquel, Lia (Rt 4:11) e Tamar, uma estrangeira que teve filhos com Judá por meio de um relacionamento de levirato (Rt 4:12; Gn 38). Talvez a esterilidade temporária, de Raquel e Tamar seguida pela fertilidade, fosse outro ponto de comparação.

    Na época do casamento, não é possível determinar especificamente se Boaz já era casado ou qual era a diferença de idade entre os dois. Desde que ele várias vezes refere-se a Rute com as palavras “milha filha” (Rt 2:8; Rt 3:10-11), assim como Noemi a chamava (2:2-22;3:1-18), provavelmente Boaz estava mais próximo da idade da prima do que da de Rute. Depois de aproximadamente dez anos de casamento e viuvez (Rt 1:4-5), a moabita provavelmente estivesse com 30 anos quando se casou com Boaz e ele deveria ter em torno de 50 anos ou um pouco mais.

    Com aquela idade, naquele tipo de sociedade, é provável que Boaz fosse casado. Se era, sua esposa e filhos simplesmente não foram mencionados ou talvez fosse viúvo e sem filhos. Certamente não é revelada nenhuma preocupação pela confusão que o casamento causaria para Boaz, como aconteceu com o outro parente (Rt 4:6).

    Logo depois do casamento, Rute recebeu do Senhor a capacidade para conceber (v. 13). O menino, chamado Obede, foi a grande alegria de Noemi, sua avó adotiva, e tornou-se ancestral do rei Davi (vv. 14-17). É intrigante notar que esta criança foi proclamada remidora de Noemi em sua velhice (vv. 14,15), ao mesmo tempo que o texto dos vv. 16,17 indica que ela não só cuidou de Obede (v. 16), como efetivamente o adotou (v. 17). Se essa interpretação é correta, Obede substituiu legalmente os filhos falecidos de Noemi (Rt 1:5; Rt 4:10). Talvez a referência a Rute como “melhor do que sete filhos” (4:
    15) signifique que a moabita, por meio de sua devoção a Noemi, fez mais do que substituir seus filhos (4:15; 1:16-17).

    Devido ao fato de que se tratava de uma família patriarcal, cujo tamanho ideal muitas vezes era considerado o de sete pessoas, o número bíblico da plenitude, a declaração de que Rute era melhor do que sete filhos de fato era uma homenagem extravagante. Talvez porque Boaz e Rute tenham sido descritos anteriormente como pessoas de excelente caráter (Rt 2:1; Rt 3:11), na conclusão do livro são honrados de maneira similar. A multidão reunida já tinha desejado a Boaz: “há-te valorosamente em Efrata, e faze-te nome afamado em Belém” (4:11). Isso, porém, não é tudo. Boaz encontra-se numa posição privilegiada, pois é o sétimo na linhagem real de Davi (4:21). Assim, Rute e Boaz são vistos como figuras bíblicas exemplares, perfeitamente combinadas espiritualmente.

    A outra referência bíblica a Rute é particularmente interessante devido à clara relação que tem com o propósito do livro em que é encontrada. A menção de seu nome na árvore genealógica de Jesus, em Mateus 1:5, está junto com a de outras três mulheres: Tamar (v. 3), Raabe (v. 5) e “a esposa de Urias” (v. 6). Todas as quatro parecem ser estrangeiras, dentro do contexto do Antigo Testamento no qual se encontram. Assim, o primeiro evangelho, que termina com a ordem de Cristo para fazer “discípulos de todas as nações” (Mt 28:19), começa com o reconhecimento de que mulheres estrangeiras como Rute contribuíram sobremaneira para a linhagem de Jesus, o Messias. A.B.L.

    S


    Rute [Amizade] - Moabita, viúva de Malom, que voltou com Noemi, sua sogra, para Israel. Casou-se com Boaz, vindo a ser bisavó do rei Davi e uma das antepassadas de Jesus (Mt 1:5). V. RUTE, LIVRO DE.

    Strongs

    Este capítulo contém uma lista de palavras em hebraico e grego presentes na Bíblia, acompanhadas de sua tradução baseada nos termos de James Strong. Strong foi um teólogo e lexicógrafo que desenvolveu um sistema de numeração que permite identificar as palavras em hebraico e grego usadas na Bíblia e seus significados originais. A lista apresentada neste capítulo é organizada por ordem alfabética e permite que os leitores possam ter acesso rápido e fácil aos significados das palavras originais do texto bíblico. A tradução baseada nos termos de Strong pode ajudar os leitores a ter uma compreensão mais precisa e profunda da mensagem bíblica, permitindo que ela seja aplicada de maneira mais eficaz em suas vidas. James Strong
    Rute 1: 16 - Texto em Hebraico - (HSB) Hebrew Study Bible

    Disse, porém, Rute: Não me rogues- com- insistência para que te abandone, e volte de seguir atrás de ti; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;
    Rute 1: 16 - (ARAi) Almeida Revista e Atualizada Interlinear

    1140 a.C.
    H1980
    hâlak
    הָלַךְ
    ir, andar, vir
    (goes)
    Verbo
    H310
    ʼachar
    אַחַר
    depois de / após
    (after)
    Advérbio
    H3588
    kîy
    כִּי
    para que
    (that)
    Conjunção
    H3885
    lûwn
    לוּן
    hospedar, ter um parada, passar a noite, habitar
    (and stay all night)
    Verbo
    H408
    ʼal
    אַל
    não
    (not)
    Advérbio
    H413
    ʼêl
    אֵל
    até
    (unto)
    Prepostos
    H430
    ʼĕlôhîym
    אֱלֹהִים
    Deus
    (God)
    Substantivo
    H559
    ʼâmar
    אָמַר
    E disse
    (And said)
    Verbo
    H5800
    ʻâzab
    עָזַב
    deixar, soltar, abandonar
    (shall leave)
    Verbo
    H5971
    ʻam
    עַם
    as pessoas
    (the people)
    Substantivo
    H6293
    pâgaʻ
    פָּגַע
    encontrar, deparar, alcançar, solicitar, fazer intercessão
    (and entreat)
    Verbo
    H7327
    Rûwth
    רוּת
    ()
    H7725
    shûwb
    שׁוּב
    retornar, voltar
    (you return)
    Verbo
    H834
    ʼăsher
    אֲשֶׁר
    que
    (which)
    Partícula


    הָלַךְ


    (H1980)
    hâlak (haw-lak')

    01980 הלך halak

    ligado a 3212, uma raiz primitiva; DITAT - 498; v

    1. ir, andar, vir
      1. (Qal)
        1. ir, andar, vir, partir, proceder, mover, ir embora
        2. morrer, viver, modo de vida (fig.)
      2. (Piel)
        1. andar
        2. andar (fig.)
      3. (Hitpael)
        1. percorrer
        2. andar ao redor
      4. (Nifal) liderar, trazer, levar embora, carregar, fazer andar

    אַחַר


    (H310)
    ʼachar (akh-ar')

    0310 אחר ’achar

    procedente de 309; DITAT - 68b, 68c; adv prep conj subst

    1. depois de, atrás (referindo-se a lugar), posterior,

      depois (referindo-se ao tempo)

      1. como um advérbio
        1. atrás (referindo-se a lugar)
        2. depois (referindo-se a tempo)
      2. como uma preposição
        1. atrás, depois (referindo-se a lugar)
        2. depois (referindo-se ao tempo)
        3. além de
      3. como uma conjunção
      4. depois disso
      5. como um substantivo
        1. parte posterior
      6. com outras preposições
        1. detrás
        2. do que segue

    כִּי


    (H3588)
    kîy (kee)

    03588 כי kiy

    uma partícula primitiva; DITAT - 976; conj

    1. que, para, porque, quando, tanto quanto, como, por causa de, mas, então, certamente, exceto, realmente, desde
      1. que
        1. sim, verdadeiramente
      2. quando (referindo-se ao tempo)
        1. quando, se, embora (com força concessiva)
      3. porque, desde (conexão causal)
      4. mas (depois da negação)
      5. isso se, caso seja, de fato se, embora que, mas se
      6. mas antes, mas
      7. exceto que
      8. somente, não obstante
      9. certamente
      10. isto é
      11. mas se
      12. embora que
      13. e ainda mais que, entretanto

    לוּן


    (H3885)
    lûwn (loon)

    03885 לון luwn ou לין liyn

    uma raiz primitiva; DITAT - 1096,1097; v

    1. hospedar, ter um parada, passar a noite, habitar
      1. (Qal)
        1. hospedar-se, passar a noite
        2. habitar, permanecer (fig.)
      2. (Hifil) fazer repousar ou hospedar
      3. (Hitpalpel) morar, habitar
    2. resmungar, reclamar, murmurar
      1. (Nifal) resmungar
      2. (Hifil) reclamar, fazer resmungar

    אַל


    (H408)
    ʼal (al)

    0408 אל ’al

    uma partícula negativa [ligada a 3808]; DITAT - 90; adv neg

    1. não, nem, nem mesmo, nada (como desejo ou preferência)
      1. não!, por favor não! (com um verbo)
      2. não deixe acontecer (com um verbo subentendido)
      3. não (com substantivo)
      4. nada (como substantivo)

    אֵל


    (H413)
    ʼêl (ale)

    0413 אל ’el (mas usado somente na forma construta reduzida) אל ’el

    partícula primitiva; DITAT - 91; prep

    1. para, em direção a, para a (de movimento)
    2. para dentro de (já atravessando o limite)
      1. no meio de
    3. direção a (de direção, não necessariamente de movimento físico)
    4. contra (movimento ou direção de caráter hostil)
    5. em adição a, a
    6. concernente, em relação a, em referência a, por causa de
    7. de acordo com (regra ou padrão)
    8. em, próximo, contra (referindo-se à presença de alguém)
    9. no meio, dentro, para dentro, até (idéia de mover-se para)

    אֱלֹהִים


    (H430)
    ʼĕlôhîym (el-o-heem')

    0430 אלהים ’elohiym

    plural de 433; DITAT - 93c; n m p

    1. (plural)
      1. governantes, juízes
      2. seres divinos
      3. anjos
      4. deuses
    2. (plural intensivo - sentido singular)
      1. deus, deusa
      2. divino
      3. obras ou possessões especiais de Deus
      4. o (verdadeiro) Deus
      5. Deus

    אָמַר


    (H559)
    ʼâmar (aw-mar')

    0559 אמר ’amar

    uma raiz primitiva; DITAT - 118; v

    1. dizer, falar, proferir
      1. (Qal) dizer, responder, fala ao coração, pensar, ordenar, prometer, intencionar
      2. (Nifal) ser falado, ser dito, ser chamado
      3. (Hitpael) vangloriar-se, agir orgulhosamente
      4. (Hifil) declarar, afirmar

    עָזַב


    (H5800)
    ʻâzab (aw-zab')

    05800 עזב ̀azab

    uma raiz primitiva; DITAT - 1594,1595; v

    1. deixar, soltar, abandonar
      1. (Qal) deixar
        1. afastar-se de, deixar para trás, deixar, deixar só
        2. deixar, abandonar, abandonar, negligenciar, apostatar
        3. deixar solto, deixar livre, deixar ir, libertar
      2. (Nifal)
        1. ser deixado para
        2. ser abandonado
      3. (Pual) ser deserdado
    2. restaurar, reparar
      1. (Qal) reparar

    עַם


    (H5971)
    ʻam (am)

    05971 עם ̀am

    procedente de 6004; DITAT - 1640a,1640e; n m

    1. nação, povo
      1. povo, nação
      2. pessoas, membros de um povo, compatriotas, patrícios
    2. parente, familiar

    פָּגַע


    (H6293)
    pâgaʻ (paw-gah')

    06293 פגע paga ̀

    uma raiz primitiva; DITAT - 1731; v.

    1. encontrar, deparar, alcançar, solicitar, fazer intercessão
      1. (Qal)
        1. encontrar, juntar
        2. encontrar (referindo-se à bondade)
        3. encontrar, cair sobre (referindo-se à hostilidade)
        4. encontrar, solicitar (referindo-se à petição)
        5. atingir, tocar (referindo-se à fronteira)
      2. (Hifil)
        1. fazer encontrar
        2. fazer solicitar
        3. fazer solicitação, intervir
        4. atacar
        5. alcançar o alvo

    רוּת


    (H7327)
    Rûwth (rooth)

    07327 רות Ruwth

    provavelmente para 7468, grego 4503 Ρουθ; n. pr. f.

    Rute = “amizade”

    1. nora de Naomi, esposa de Boaz, e avó de Davi

    שׁוּב


    (H7725)
    shûwb (shoob)

    07725 שוב shuwb

    uma raiz primitiva; DITAT - 2340; v.

    1. retornar, voltar
      1. (Qal)
        1. voltar, retornar
          1. voltar
          2. retornar, chegar ou ir de volta
          3. retornar para, ir de volta, voltar
          4. referindo-se à morte
          5. referindo-se às relações humanas (fig.)
          6. referindo-se às relações espirituais (fig.)
            1. voltar as costas (para Deus), apostatar
            2. afastar-se (de Deus)
            3. voltar (para Deus), arrepender
            4. voltar-se (do mal)
          7. referindo-se a coisas inanimadas
          8. em repetição
      2. (Polel)
        1. trazer de volta
        2. restaurar, renovar, reparar (fig.)
        3. desencaminhar (sedutoramente)
        4. demonstrar afastamento, apostatar
      3. (Pual) restaurado (particípio)
      4. (Hifil) fazer retornar, trazer de volta
        1. trazer de volta, deixar retornar, pôr de volta, retornar, devolver, restaurar, permitir voltar, dar em pagamento
        2. trazer de volta, renovar, restaurar
        3. trazer de volta, relatar a, responder
        4. devolver, retribuir, pagar (como recompensa)
        5. voltar ou virar para trás, repelir, derrotar, repulsar, retardar, rejeitar, recusar
        6. virar (o rosto), voltar-se para
        7. voltar-se contra
        8. trazer de volta à memória
        9. demonstrar afastamento
        10. reverter, revogar
      5. (Hofal) ser devolvido, ser restaurado, ser trazido de volta
      6. (Pulal) trazido de volta

    אֲשֶׁר


    (H834)
    ʼăsher (ash-er')

    0834 אשר ’aher

    um pronome relativo primitivo (de cada gênero e número); DITAT - 184

    1. (part. relativa)
      1. o qual, a qual, os quais, as quais, quem
      2. aquilo que
    2. (conj)
      1. que (em orações objetivas)
      2. quando
      3. desde que
      4. como
      5. se (condicional)