Enciclopédia de Mateus 6:9-9

Tradução (ARC) - 2009 - Almeida Revisada e Corrigida

Índice

Perícope

mt 6: 9

Versão Versículo
ARA Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
ARC Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
TB Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso, que estás nos céus; santificado seja o teu nome;
BGB Οὕτως οὖν προσεύχεσθε ὑμεῖς· Πάτερ ἡμῶν ὁ ἐν τοῖς οὐρανοῖς· ἁγιασθήτω τὸ ὄνομά σου,
HD Orai, portanto, assim: “Pai Nosso, {que estás} nos céus, santificado seja o teu nome,
BKJ Orai, pois, da seguinte maneira: Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome.
LTT Assim, pois, orai vós semelhantemente ① 268 a isto: 'Ó Pai nosso 269, Que nos céuS estás, santificado seja o Teu nome;
BJ2 Portanto, orai desta maneira:[e] Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu Nome,
VULG Sic ergo vos orabitis : Pater noster, qui es in cælis, sanctificetur nomen tuum.

Referências Cruzadas

As referências cruzadas da Bíblia são uma ferramenta de estudo que ajuda a conectar diferentes partes da Bíblia que compartilham temas, palavras-chave, histórias ou ideias semelhantes. Elas são compostas por um conjunto de referências bíblicas que apontam para outros versículos ou capítulos da Bíblia que têm relação com o texto que está sendo estudado. Essa ferramenta é usada para aprofundar a compreensão do significado da Escritura e para ajudar na interpretação e aplicação dos ensinamentos bíblicos na vida diária. Abaixo, temos as referências cruzadas do texto bíblico de Mateus 6:9

Levítico 10:3 E disse Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão calou-se.
II Samuel 7:26 E engrandeça-se o teu nome para sempre, para que se diga: O Senhor dos Exércitos é Deus sobre Israel; e a casa de teu servo será confirmada diante de ti.
I Reis 8:43 Ouve tu nos céus, assento da tua habitação, e faze conforme tudo o que o estrangeiro a ti clamar, a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome, para te temerem como o teu povo de Israel e para saberem que o teu nome é invocado sobre esta casa que tenho edificado.
I Crônicas 17:24 Confirme-se com efeito, e que o teu nome se engrandeça para sempre, e diga-se: O Senhor dos Exércitos é o Deus de Israel, é Deus para Israel; e fique firme diante de ti a casa de Davi, teu servo.
II Crônicas 20:6 E disse: Ah! Senhor, Deus de nossos pais, porventura, não és tu Deus nos céus? Pois tu és dominador sobre todos os reinos das gentes, e na tua mão há força e poder, e não há quem te possa resistir.
Neemias 9:5 E os levitas, Jesua, Cadmiel, Bani, Hasabneias, Serebias, Hodias, Sebanias e Petaías disseram: Levantai-vos, bendizei ao Senhor, vosso Deus, de eternidade em eternidade; ora, bendigam o nome da tua glória, que está levantado sobre toda bênção e louvor.
Salmos 72:18 Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, que só ele faz maravilhas.
Salmos 111:9 Redenção enviou ao seu povo; ordenou o seu concerto para sempre; santo e tremendo é o seu nome.
Salmos 115:3 Mas o nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz.
Isaías 6:3 E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.
Isaías 37:20 Agora, pois, ó Senhor, nosso Deus, livra-nos das suas mãos, para que todos os reinos da terra conheçam que só tu és o Senhor.
Isaías 57:15 Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos.
Isaías 63:16 Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão nos não conhece, e Israel não nos reconhece. Tu, ó Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antiguidade é o teu nome.
Isaías 64:8 Mas, agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai; nós, o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra das tuas mãos.
Isaías 66:1 Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra, o escabelo dos meus pés. Que casa me edificaríeis vós? E que lugar seria o do meu descanso?
Ezequiel 36:23 E eu santificarei o meu grande nome, que foi profanado entre as nações, o qual profanastes no meio delas; e as nações saberão que eu sou o Senhor, diz o Senhor Jeová, quando eu for santificado aos seus olhos.
Ezequiel 38:23 Assim, eu me engrandecerei, e me santificarei, e me farei conhecer aos olhos de muitas nações; e saberão que eu sou o Senhor.
Habacuque 2:14 Porque a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.
Zacarias 14:9 E o Senhor será rei sobre toda a terra; naquele dia, um será o Senhor, e um será o seu nome.
Malaquias 1:11 Mas, desde o nascente do sol até ao poente, será grande entre as nações o meu nome; e, em todo lugar, se oferecerá ao meu nome incenso e uma oblação pura; porque o meu nome será grande entre as nações, diz o Senhor dos Exércitos.
Mateus 5:16 Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus.
Mateus 5:48 Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.
Mateus 6:6 Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.
Mateus 6:14 Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós.
Mateus 7:11 Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?
Mateus 10:29 Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.
Mateus 23:9 E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.
Mateus 26:29 E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até àquele Dia em que o beba de novo convosco no Reino de meu Pai.
Mateus 26:42 E, indo segunda vez, orou, dizendo: Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade.
Lucas 2:14 Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!
Lucas 11:1 E aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.
Lucas 15:18 Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti.
Lucas 15:21 E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho.
João 20:17 Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
Romanos 1:7 A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Romanos 8:15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai.
Gálatas 1:1 Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos),
Gálatas 4:6 E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.
I Timóteo 6:16 aquele que tem, ele só, a imortalidade e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém!
I Pedro 1:17 E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação,
Apocalipse 4:11 Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.
Apocalipse 5:12 que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças.

Notas de rodapé da LTT

As notas de rodapé presentes na Bíblia versão LTT, Bíblia Literal do Texto Tradicional, são explicações adicionais fornecidas pelos tradutores para ajudar os leitores a entender melhor o texto bíblico. Essas notas são baseadas em referências bíblicas, históricas e linguísticas, bem como em outros estudos teológicos e literários, a fim de fornecer um contexto mais preciso e uma interpretação mais fiel ao texto original. As notas de rodapé são uma ferramenta útil para estudiosos da Bíblia e para qualquer pessoa que queira compreender melhor o significado e a mensagem das Escrituras Sagradas.
 268

Mt 6:9: "SEMELHANTEMENTE" é diferente de "igualmente e repetidamente:"
- Mt 6:7-8 proíbe repetições (pronunciar as exatas palavras de um verso (ou reza) como se formassem uma fórmula mágica) e diz que elas são vãs, inúteis.
- Portanto, temos que tomar a ordem de Jesus em 9-13 como significando que cada oração do crente, mesmo em novas palavras geradas no coração e originais e inéditas, mesmo não sendo exata reprodução de nenhuma outra oração, deve ser do mesmo TIPO, ter os mesmos conceitos GERAIS deste MODELO de oração. (Um modelo de fala ou de escrita é algo a ser usado como guia e exemplo inspirativo, produzindo falas e escritos segundo os mesmos princípios, mas, mesmo assim, falas e escritos originais, diferentes, espontâneos, voluntários, brotando novas do coração). Os conceitos a estarem presentes a cada oração incluem: adoração; glorificação e louvor a Deus; reconhecimento de Sua soberania; anelo por Sua volta e Seu reinar; submissão perfeita à perfeita vontade de Deus; pedido pelas necessidades reais daquele exato dia; perdão aos nossos devedores (de bens materiais e de pedidos de perdão); confissão sincera e arrependida de nossos pecados; súplica para sermos perdoados e assim continuarmos gozando comunhão com Deus; reconhecimento de fraqueza e pedido para não sermos levados à prova nem tocados pelo mal; etc.


 269

Mt 6:9 – "Ó PAI NOSSO": Só os CRENTES (os SALVOS) podem orar assim dizendo, pois só eles foram tornados filhos de Deus, Jo 1:12.


 ①

Green.


Mapas Históricos

Os mapas históricos bíblicos são representações cartográficas que mostram as diferentes regiões geográficas mencionadas na Bíblia, bem como os eventos históricos que ocorreram nesses lugares. Esses mapas são usados ​​para contextualizar a história e a geografia das narrativas bíblicas, tornando-as mais compreensíveis e acessíveis aos leitores. Eles também podem fornecer informações adicionais sobre as culturas, as tradições e as dinâmicas políticas e religiosas das regiões retratadas na Bíblia, ajudando a enriquecer a compreensão dos eventos narrados nas Escrituras Sagradas. Os mapas históricos bíblicos são uma ferramenta valiosa para estudiosos da Bíblia e para qualquer pessoa que queira se aprofundar no estudo das Escrituras.

A PROPAGAÇÃO DO CRISTIANISMO

33-337 d.C.
A PROPAGAÇÃO DO EVANGELHO
Em II Timóteo, sua última carta, Paulo observa acerca de seus colegas que Crescente to1 para a Galácia e Tito para a Dalmácia. A Galácia corresponde à região central da atual Turquia e, provavelmente, incluía as igrejas fundadas por Paulo nas imediações de Antioquia da Pisídia: Icônio, Listra e Derbe. A Dalmácia corresponde à atual Albânia e partes da Sérvia e Montenegro.
Fica evidente que os colegas de Paulo estavam dando continuidade à sua prática de pregar o evangelho onde Jesus ainda não era conhecido.
O Novo Testamento não revela onde vários dos apóstolos e outros líderes da igreja foram pregar evangelho. De acordo com tradições posteriores, o apóstolo João passou seus últimos anos em Efeso e o apóstolo Filipe, em Hierápolis (Pamukkale), na Turquia.
As tradições também associam os apóstolos Tomé e Bartolomeu à Índia, mas não se sabe ao certo a que região esse termo se refere, que era usado para qualquer terra próxima ao oceano Indico.
A Bíblia não relata de que maneira o cristianismo se espalhou por todo o Império Romano e além de suas fronteiras. Sem dúvida os 85:000 km de estradas imperiais e as rotas marítimas usadas pelos romanos facilitaram essa propagação. Os três exemplos a seguir ilustram aspectos diferentes da propagação do cristianismo:


PERSEGUIÇÃO E MARTÍRIO
Uma leitura superficial de Atos dos Apóstolos mostra que a igreja primitiva enfrentou períodos de perseguição. Pedro foi liberto da prisão por intervenção divina. Ao mesmo tempo, em 44 d.C., o apóstolo Tiago, filho de Zebedeu, foi morto por Herodes Agripa I. De acordo com tradições posteriores, André foi crucificado na Acaia (Grécia) e Pedro, em Roma. Nas cartas do Senhor ressurreto às sete igrejas em Apocalipse, cada uma dessas congregações é exortada a buscar a vitória. Algumas igrejas, como a de Esmirna, são advertidas acerca de uma perseguição específica e, de fato, grande parte do restante do livro de Apocalipse (não obstante sua interpretação) fala da igreja sob perseguição intensa. No final do livro a "Babilônia" semelhante à Roma em alguns aspectos, ma: provavelmente uma referência a sistema do mundo como um todo, cai e a nova jerusalém desce do céu, da parte de Deus. "Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima" (Ap 21:3b-40).
Essa esperança encheu os primeiros cristãos de coragem para enfrentar a morte. Ainda no período neotestamentário vários cristãos foram martirizados, mas essas ocorrências não se encontram registradas no texto bíblico. Em 64 d.C., quando grande parte de Roma foi destruída por incêndio, o imperador Nero culpou os cristãos. Realizou prisões em massa, e ordenou que suas vitimas tossem crucificadas, queimada: ou cobertas com peles de animas selvagens é despedaçadas por cães.° Outra perseguição irrompeu no governo do imperador Domiciano (81-96 .C.). A prisão de João na ilha de Patmos, durante a qual acredita-se que ele escreveu o livro de Apocalipse, ocorreu nesse período.
A perseguição aos cristãos continuou no governo dos imperadores romanos dos séculos 2 e III d.C. e pode ser esboçada pelo seguinte resumo extremamente sucinto:

O RECONHECIMENTO OFICIAL DO CRISTIANISMO

O reconhecimento oficial teve um papel importante na propagação do cristianismo. Abgar IX (179-216 .C.), monarca do reino de Edessa (atual cidade de Urfa, no sudeste a Turquia), se converteu ao cristianismo. Em 301 d.C., o rei Tiridates e sua família, da Armênia, na fronteira oriental do Império Romano, foram batizados ao abraçarem a fé cristã. Em 313 d.C., na cidade de Milão, o imperador romano Constantino publicou um édito de tolerância em favor dos cristãos. Apesar dessa medida não ter interrompido a perseguição de imediato, pelo menos conferiu reconhecimento oficial a cristianismo. O imperador foi batizado em 337 d.C., ano de sua morte. Alguns consideram que o reconhecimento imperial foi benéfico para o cristianismo, enquanto outros julgam que foi prejudicial. Não obstante, salvo raras exceções, essa medida fez cessar a perseguição aos cristãos promovida pelo Estado.
Até o final da perseguição o grande risco de destruição de manuscritos desestimulou a compilação dos livros bíblicos em um só volume. Assim, não é coincidência que os primeiros

 

Referências

II Timóteo 4.10

Romanos 15:20

Mateus 6:9

Atos 12:1-17

Apocalipse 2:7-26;

Apocalipse 3.5-21

Apocalipse 2:10

Apocalipse 18:1-24

Apocalipse 21:2

Nos quatro primeiros séculos, i cristianismo se expandiu por grande parte do Império Romano e além.
Nos quatro primeiros séculos, i cristianismo se expandiu por grande parte do Império Romano e além.
Relevo com temas cristãos primitivos, encontrado nas paredes da catacumba de Domitila, em Roma. Inscrições como estas são consideradas hoje como um tipo de "grafite" cristão primitivo, uma vez que eram produzidas às pressas em lápides já existentes.
Relevo com temas cristãos primitivos, encontrado nas paredes da catacumba de Domitila, em Roma. Inscrições como estas são consideradas hoje como um tipo de "grafite" cristão primitivo, uma vez que eram produzidas às pressas em lápides já existentes.

Livros

Livros citados como referências bíblicas, que citam versículos bíblicos, são obras que se baseiam na Bíblia para apresentar um argumento ou discutir um tema específico. Esses livros geralmente contêm referências bíblicas que são usadas para apoiar as afirmações feitas pelo autor. Eles podem incluir explicações adicionais e insights sobre os versículos bíblicos citados, fornecendo uma compreensão mais profunda do texto sagrado.

Referências em Livro Espírita


Emmanuel

mt 6:9
Fonte Viva

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 77
Página: 181
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

“Pai nosso…” — JESUS (Mt 6:9)


A grandeza da prece dominical nunca será devidamente compreendida por nós que lhe recebemos as lições divinas. Cada palavra, dentro dela, tem a fulguração de sublime luz.

De início, o Mestre Divino lança-lhe os fundamentos em Deus, ensinando que o Supremo Doador da Vida deve constituir, para nós todos, o princípio e a finalidade de nossas tarefas.

É necessário começar e continuar em Deus, associando nossos impulsos ao plano divino, a fim de que nosso trabalho não se perca no movimento ruinoso ou inútil.

O Espírito Universal do Pai há de presidir-nos o mais humilde esforço, na ação de pensar e falar, ensinar e fazer.

Em seguida, com um simples pronome possessivo, o Mestre exalta a comunidade. Depois de Deus, a Humanidade será o tema fundamental de nossas vidas.

Compreenderemos as necessidades e as aflições, os males e as lutas de todos os que nos cercam ou estaremos segregados no egoísmo primitivista.

Todos os triunfos e fracassos que iluminam e obscurecem a Terra pertencem-nos, de algum modo.

Os soluços de um hemisfério repercutem no outro.

A dor do vizinho é uma advertência para a nossa casa.

O erro de um irmão, examinado nos fundamentos, é igualmente nosso, porque somos componentes imperfeitos de uma sociedade menos perfeita, gerando causas perigosas e, por isso, tragédias e falhas dos outros afetam-nos por dentro.

Quando entendemos semelhante realidade, o “império do eu” passa a incorporar-se por célula bendita à vida santificante.

Sem amor a Deus e à Humanidade, não estamos suficientemente seguros na oração.

Pai nosso… — disse Jesus para começar.

Pai do Universo… Nosso mundo…

Sem nos associarmos aos propósitos do Pai, na pequenina tarefa que nos foi permitido executar, nossa prece será, muitas vezes, simples repetição do “eu quero”, invariavelmente cheio de desejos, mas quase sempre vazio de sensatez e de amor.



mt 6:9
Assim Vencerás

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 29
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

Lembra-te da expressão de Jesus, na prece dominical — Pai Nosso. (Mt 6:9)

A Bondade Divina ignora a exclusividade.

Não te dirijas ao Senhor, pensando tão somente na dor que porventura te fira.

Deus, que é a Providência de tua alma dilacerada, é igualmente a Providência dos que te ferem.

Ele é nosso Criador, mas também é o Criador dos que não observam o mundo por nossos olhos e que não consideram a vida segundo a nossa cabeça.

Ele, que criou a águia que voa, criou o verme que se arrasta.

Ninguém te proíbe o ato de pedir algo ao Senhor.

Recorda que o problema ou a provação não te pertencem unicamente.

A aflição que te vergasta, em muitos casos, é muito maior naqueles que te acompanham.

Tuas dificuldades são respeitáveis, contudo, outros são torturados por dificuldades maiores que as tuas.

Sim, o Todo-Poderoso é Todo-Amor e Todo-Sabedoria.

Ele é o Supremo Senhor de Todos os Mundos, de Todas as Almas, de Todas as Vidas e de Todas as Cousas.

Roga o que desejas, mas, antes, não nos esqueçamos de suplicar ao Nosso Pai visão e discernimento a fim de sabermos se o nosso pedido está certo e justo, de conformidade com as Suas Leis.



mt 6:9
Ave, Cristo!

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 6
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

O outono de 256 começava entre lutas e expectativas.

No Império, então governado por Públio Aurélio Licínio Valeriano,  elevado à púrpura do poder pelos seus brilhantes feitos militares, a decadência continuava…

Não obstante as vitórias sobre os godos,  o Imperador não conseguia sustar a desagregação moral a desenvolver-se em toda a parte.

Em Roma, a dignidade sofria esquecimento e subversão.

Nas linhas provinciais crescia a irresponsabilidade e a indisciplina.


Taciano, contudo, acelerara demasiado a renovação interior para deter-se no mundo externo.

Arredado das questões políticas e filosóficas que o apoquentavam, sentia-se convocado pela vida ao reajuste de todas as suas conquistas e valores de ordem pessoal.

Novamente em Lião,  onde a vida se desdobrava com as readaptações necessárias, não ignorava que de Roma  não lhe faltariam dissabores imprevisíveis.

O suicídio de Helena e a moléstia do sogro, sem que ele pudesse revelar aos amigos a chave das explicações justas, criara-lhe uma atmosfera de antipatia e desconfiança.

Encontrava-se, por isso, mais angustiado, mais sozinho.

Chegara à vila com um pensamento obcecante a dominar-lhe o cérebro: — o desforço contra Teódulo. Saberia despejar sobre ele todo o fel de indignação e desprezo que lhe vertia da alma. Interpelá-lo-ia com rigor e vingar-se-ia sem piedade. Contudo, de regresso, veio a saber que o representante de Opílio fora chamado por Galba, à pressa, tendo seguido para a metrópole, dois dias antes.

Certo, a saúde de Vetúrio periclitava.

Sentia-se, porém, duramente ferido para seguir ao encontro do sogro.


Atreito às antigas tradições de orgulho em que plasmara a própria vida, reconhecia-se estrangeiro no seio da família Vetúrio, que, desde o berço, lhe envenenava a vida. Preferia aguardar o desfavor e a hostilidade, no campo de serviço a que se habituara, desde a juventude.

Temendo a intromissão de Galba, mandou reformar a casinha que pertencera a Basílio e embelezá-la, única propriedade que detinha em seu nome, e passou a viver ali, em companhia de Blandina, de Celso e de um velho casal de escravos, Servulino e Valéria, extremamente devotados a ele.

A antiga servidora era o sustentáculo eficiente das lides domésticas e o esposo convertera-se no professor competente das crianças.

Quinto Celso, já iniciado por Lívia, desde a meninice, na arte da leitura, era, aos onze anos, um prodígio de memória e discernimento. Francamente cristão, despendia longas horas com Blandina contando-lhe as histórias dos mártires do Evangelho e comunicando-lhe a fé ardente em Jesus.


A filhinha de Taciano ouvia, maravilhada, encontrando imenso consolo naquelas conversações.

Os sofrimentos de Lívia, o desaparecimento de Basílio, a morte de Helena, com as pomposas exéquias de que se fizera acompanhar, a enfermidade do avô e as graves preocupações paternas impuseram-lhe profundo abalo psíquico. Chorava sem motivo, padecia inexplicáveis insônias e, não raro, demorava-se no leito, dias e dias, sob fortes crises do coração descompassado.

A excursão em Neápolis  perdera para ela os frutos de que parecia revestir-se.

Diariamente, pela manhã, formulava com o pai a prece habitual a , mas, no fundo, sentia que o seu pensamento passara a gravitar em torno daquele Cristo, amoroso e sábio, que se achava no centro de todas as observações do irmão adotivo.

Não ignorando a aversão do genitor pelos cristãos, ela se abstinha, cuidadosamente, na presença dele, de qualquer comentário tendente a magoar-lhe os princípios.

Pouco a pouco, as opiniões e os apontamentos de Celso conquistaram-lhe a alma simples e sensível para a nova fé.


O rapazinho, terminados os estudos e as tarefas de cada dia, ainda encontrava tempo para rápidas leituras do arquivo de Basílio, que Taciano conservava respeitosamente.

Daí o benfeitor paternal, quando nos entendimentos costumeiros, quer nos passeios pelo campo, quer às refeições no triclínio, surpreender-se com as observações do menino, judiciosas e sensatas, nas quais, todavia, Quinto Celso evitava igualmente as menores referências ao Cristianismo de maneira direta.

Servulino não se esquecia de rogar às crianças o devido respeito às convicções do amo e, assim, os dois irmãos espirituais comungavam o mesmo idealismo e as mesmas esperanças na vida íntima, cimentando a fé que lhes irmanava os corações.

Noite a noite, viviam os habitantes da casinha do bosque doces e abençoadas horas de música e alegria.


Qual se conhecesse os traços psicológicos de Taciano, de longa data, Celso adquirira maneiras especiais de orientar a conversação.

Certa feita, porque o patrício desencantado se queixasse das tragédias passionais do seu tempo, com aflição e desânimo, o jovem falou sutil:

— Mas, meu pai, o senhor não julga o mundo necessitado de uma ideia nova? uma ideia que penetre o sentimento da criatura, renovando-lhe o modo de pensar?

Taciano fitou-o, espantado.

Que entenderia Celso dos problemas da vida?

Embora admirado, revidou firme:

— Não creio, meu filho. Nossas tradições e nossas leis são suficientes. Basta nos adaptemos a elas, de vez que as diretrizes estão prontas. Não admites que as Divindades sabem reger nossas vidas?

— Sim, meu pai — ajuntou o pequeno, pensativo —, o senhor tem razão… Contudo, os deuses parecem tão longe! Dizem-nos que garante o mundo em toda a parte, que é a protetora das colheitas, que Minerva dirige os sábios, mas não acha que precisávamos de alguém que, em nome dos deuses, viesse ao mundo conviver com os homens, vivendo-lhes as dificuldades e as dores?… As Divindades ajudam as pessoas, de conformidade com os sacrifícios que recebem nos templos. Assim, a proteção do Céu varia com a posição dos homens. Há quem possa levar aos santuários touros e aves, incenso e moedas, entretanto, a maioria dos habitantes de uma cidade é gente pobre, que apenas conhece o sacrifício e a servidão… O senhor acredita que os escravos são deserdados do Céu? os que mais trabalham devem ser os menos favorecidos?


O filho de Varro recebia semelhantes palavras, pronunciadas com humildade e carinho, por jatos de luz interior…

Ele mesmo fora bem nascido, crescera bafejado pelo prestígio do ouro, contudo, as surpresas do destino, gradativamente, despojavam-no de todas as regalias e privilégios.

A morte da esposa e o desagrado da parentela situavam-no à beira de total empobrecimento econômico.

Aguardava do cunhado e genro o último golpe.

Não tardaria, talvez, a conhecer a dolorosa condição dos homens sentenciados à subserviência, na subalternidade e na sombra.

Em semelhante curva da caminhada na Terra, experimentava o sopro da adversidade a enregelar-lhe o coração.

Teria bastante fé nos dias incertos que se avizinhavam?

As observações do filho adotivo acordavam-lhe na alma esses cruciantes pensamentos.


Empalideceu, ligeiramente, e considerou:

— Sim, sim, as tuas ponderações são apreciáveis, contudo, não podemos olvidar que a nossa existência permanece estruturada sobre o alicerce das classes.

E, recordando sábias interpretações dos antigos romanos, acrescentou:

— A sociedade é um corpo do qual somos partes integrantes. A cabeça içada sobre os ombros guarda a missão de raciocinar e decidir. As mãos e os pés foram feitos para servi-la. No organismo de nossa vida política, o patriciado representa os sentidos tais como a visão, a audição e o tato, que auxiliam o cérebro a examinar e discernir, ao passo que os plebeus constituem os membros incumbidos do trabalho e da submissão. Não poderíamos inverter a ordem. O nascimento e a posição, o nome e a conquista são os pilares de nosso equilíbrio.


O jovem sorriu, com inteligência, e obtemperou, fortemente inspirado:

— Mas, a dor nos pés não é tão desagradável quanto a dor na cabeça? uma ferida nas mãos não será tão incômoda quanto um golpe no rosto? Estou certo, meu pai, de que cada pessoa respira no lugar que a Natureza lhe concedeu, mas todos os homens merecem respeito, felicidade e consideração, entre si… Aceitando essa verdade, creio que se a fé pudesse operar em nós, por dentro, fazendo-nos mais amigos e mais irmãos uns dos outros, a fim de que nós mesmos começássemos o serviço da bondade, sem qualquer constrangimento, a harmonia do mundo seria mais perfeita porque a fortuna dos felizes não seria perturbada pela desfortuna dos pobres, o riso de alguns não seria prejudicado pelos gemidos de tantos…

O viúvo de Helena meditou por momentos e concluiu:

— As tuas referências são interessantes e valiosas. Inegavelmente, para alcançarmos a realização a que te reportas, precisaríamos no Império de um grande reformador… um homem à altura de todas as nossas dignidades públicas. Provavelmente, um filósofo, tomando as rédeas do governo, sob a inspiração da bondade e do direito, saberia compreender as nossas necessidades comuns…


Celso permutou com Blandina um olhar de inexprimível alegria e acentuou:

— Mas, papai, o senhor não acredita que esse renovador já tenha vindo?

Taciano compreendeu a velada alusão a Jesus-Cristo, esboçou um gesto de enfado e modificou o rumo da conversação, todavia, na solidão de si mesmo, refletia sobre os argumentos daquela criança, que a devoção de Lívia lhe havia legado e que, paulatinamente, passava a lhe ocupar o coração como pequeno mas seguro orientador.


Várias semanas haviam transcorrido, quando um correio de confiança da casa de Galba trouxe inquietantes notícias de Roma.

Dignara-se Lucila escrever apenas à irmã, de modo a torturar o genitor com todo o fel de malquerença que lhe extravasava da alma. Exigia que Blandina fosse morar na capital do Império, em sua casa, asseverando haver perdido a confiança no pai que não quisera evitar o deplorável suicídio de Helena. Achava-se convicta de que ela procurara o próprio fim, constrangida pelo procedimento de Taciano, que, por anos consecutivos, parecia recusar-lhe o carinho. Notificava que o avô, acamado entre a enfermidade e o túmulo, resolvera vender todas as suas propriedades nas Gálias,  para que a família se desvencilhasse de recordações amargas, comunicando, ainda, que, em breves dias, o patrício Álcio Comúnio entraria na posse da vila, que Teódulo não mais voltaria e que, por isso, lhe aconselhava a mudança para Roma, sem mais tardar. Aguardaria, porém, uma resposta clara, a fim de incumbir Anacleta e outras servidoras de lhe constituírem o séquito necessário em viagem. Rogava a remessa de joias e lembranças maternas para o seu tesouro afetivo e, por último, relacionava os interesses e as vantagens da transferência, enunciando a esperança de que Blandina, por lá, descobriria uma existência diversa, suscetível de curar-lhe todas as tristezas e abatimentos incompreensíveis.


Taciano leu a carta, mal afogando as lágrimas.

Nunca poderia aguardar semelhante desacato.

A decisão do sogro, desfazendo-se das terras, significava para ele o mais forte rebaixamento de nível social, entretanto, a miséria não lhe doía tanto quanto o ingrato conceito da filha.

Lucila não possuía a mais leve razão de feri-lo.

Lembrou-se, contudo de Quinto Varro, o genitor desvelado que tudo lhe dera sem nada receber e, mais uma vez, ponderou quão amargo lhe fora o caminho no mundo.

Enxugou o pranto, recompôs a fisionomia e apresentou a mensagem à filhinha.

Blandina não ocultou a revolta que as notícias lhe impunham e respondeu, de imediato, à irmã que não pretendia abandonar a companhia paterna, enquanto vivesse.

O emissário de Galba tornou à metrópole, conduzindo a curta missiva com todos os objetos do uso particular de Helena e, desde então, indevassável silêncio pesou nas relações familiares, entre Lucila e o pai.


Volvidos alguns dias, Álcio apossou-se da herdade, requisitando Servulino e a esposa, cujos serviços lhe pertenciam por direito de compra, e Taciano, obrigado a contratar a cooperação de uma doméstica, assumiu, por sua vez, a tarefa de educador dos filhinhos, porquanto não mais dispunha de recursos materiais capazes de satisfazer a todos os seus desejos.

O inverno chegara, ríspido.

As árvores enregeladas, com a galharia desnuda dirigida para o alto, pareciam espectros a suplicarem o calor da vida.

Meditabundo, observava Taciano a natureza castigada, recordando o próprio destino.

O frio da adversidade assediava-lhe o coração.

Não fossem Blandina e Celso, frágeis rebentos da vida a lhe reclamarem carinho, e talvez se rendesse ao sofrimento moral, até que a morte o visitasse por mensageira de paz e libertação. Todavia, a ternura e a confiança com que lhe seguiam os passos, refundiam-lhe as forças. Disputaria com os monstros invisíveis da morte a fortaleza de si mesmo, a fim de doar às duas crianças uma vida melhor que a dele. Renunciaria a todos os prazeres, para que elas vivessem sempre livres e felizes.


Quando a primavera tornou à paisagem do Ródano,  encarou a necessidade de ausentar-se de casa, na conquista de maior conforto doméstico. E pela vez primeira, qual havia acontecido ao próprio pai, em outro tempo, percebeu quão dura se fazia a existência para o homem que se propusesse conseguir com dignidade o próprio pão.

A classe média não passava de perigoso e escuro corredor, entre a planície miserável dos escravos e a dourada montanha dos senhores.

Sacudido por aflitivas emoções, considerou os obstáculos que se antepunham entre ele e a vida de sua época.

Entretanto, não lhe cabia recuar.

Consultou diversos amigos, contudo, era difícil instalar-se em qualquer posição vantajosa, sem a proteção dos altos dignitários da Corte e semelhante amparo se fazia agora inacessível para ele.

A saúde da filha reclamava serviços assistenciais imediatos e isso demandava recursos crescentes.

De tentativa a tentativa, em busca de trabalho decente, ocasiões surgiram em que invejou a sorte dos ferreiros e dos gladiadores humildes que podiam beijar os filhinhos, cada noite, orgulhosos e felizes, dentro da simplicidade que lhes assinalava a bênção de viver.


Desesperado, entre as necessidades domésticas e os obstáculos do meio, resolveu concorrer às corridas de bigas,  na disputa de prêmios pecuniários.

Possuía dois carros leves e sólidos, bem como excelentes cavalos de tiro.

Na estreia, foi atingido pelos olhares ridiculizantes de muitos daqueles que, na prosperidade, lhe frequentavam o ambiente doméstico… Diversos companheiros da véspera orgulhosamente lhe recusaram as saudações usuais, em lhe observando a participação em atividades plebeias, mas tanto engenho e tanta destreza demonstrou nas corridas que, em breve, se fez o favorito de inúmeros apostadores.

Admirado por alguns e ironizado por muitos, o filho de Varro algo encontrara em que prender a atenção.

Odiava a turba festiva que lhe aclamava o nome nas competições vitoriosas, experimentava indisfarçável repugnância pelos ajuntamentos de homens e mulheres gozadores da vida, mas, no fundo, sentia-se satisfeito com a oportunidade de conquistar, ao preço de esforço próprio, o dinheiro indispensável às despesas do lar que novamente passara a desfrutar o mais amplo conforto.


Contratara competente professor para os jovens e a vida transcorria em casa numa abençoada atmosfera de paz, somente perturbada pela precária saúde de Blandina, que jamais pudera refazer-se de todo. Doente e abatida, a menina via o tempo escoar-se, sob o carinho inexcedível de Taciano e de Celso, qual se fora um anjo enfermo, prestes a desferir o voo para o paraíso.

Por mais fosse conduzida pelas abnegadas mãos paternas aos passeios no rio ou na floresta, nunca mais lhe assomaram à face as cores róseas e sadias da infância. Muitas vezes, era surpreendida pelos familiares, em lágrimas convulsivas, e, quando interpelada por eles, informava, triste, que vira a sombra de Helena a rogar-lhe orações.

Taciano sabia que os entendimentos da filhinha com Celso converteram-na ao Cristianismo, no entanto, transformara-se-lhe demasiado a alma para subtrair-lhe à torturada adolescência o único manancial de consolo capaz de propiciar-lhe a paz e o conforto, a esperança e a alegria.

Pessoalmente, era o mesmo devoto de , o invariável defensor dos deuses imortais, todavia, as amarguras da Terra lhe haviam ensinado ao coração que a felicidade espiritual não é a mesma para todos.


Dois anos correram, apressados…

Celso, robusto e bem disposto, era agora valioso companheiro do pai adotivo, cooperando nos trabalhos da pequena cavalariça, mas Blandina piorara sensivelmente.

Se a jovem tentava qualquer número de harpa ou de canto, longos acessos de tosse obrigavam-na a interromper-se.

O pai, agoniado, não poupava sacrifícios para restabelecer-lhe a saúde, mas a Natureza parecia condenar a doente a infindáveis padecimentos.

De passagem por Lião, afamado médico gaulês de Mediolanum  foi chamado a opinar e aconselhou a Taciano conduzisse a menina à cidade em que residia para meticuloso tratamento de sua especialidade. Provavelmente a temporária mudança cooperaria para reerguer-lhe as forças.

O pai, amoroso e dedicado, não vacilou.


Sem recursos para despesas que exorbitassem o orçamento comum, contraiu vultoso empréstimo e partiu com os filhos, no verão de 259.

Não obstante, porém, os enormes débitos contraídos e apesar dos sacrifícios levados a efeito, no processo de cura a que foi submetida, a enferma regressou sem melhoras.

As lutas paternas continuaram, tormentosas…

Desdobravam-se os dias inquietantes, quando inesperada visita veio surpreende-los.

Anacleta, a leal amiga, vinha despedir-se.

Tendo ultrapassado meio século de existência, concluíra que não mais poderia tolerar as agitações da cidade imperial.

Afirmava-se exausta.


Blandina e o pai ouviram, apavorados, as notícias de que se fazia portadora.

O velho Opílio morrera, atormentado por grandes pesadelos, no inverno de dois anos antes e Galba, talvez entediado dos excessos a que se rendera durante toda a vida, tentara a mudança para a Campânia, no que fora impedido pela esposa, cada vez mais ávida de emoções e de aventuras…

Lucila, desde a morte de Helena, quando se afastara em definitivo da influência do antigo lar, parecia tomada por incompreensível fome de prazeres. Assim é que, enquanto o marido se retirava para o campo, confiava-se à perniciosa influência de Teódulo, que fixara residência no palácio de Vetúrio, qual se lhe fora afeiçoado familiar. O intendente acompanhava-a em múltiplas festas e favorecia-lhe afeições ilícitas, até que, um dia, apanhado de surpresa por Galba, em posição equívoca, no tálamo conjugal, foi por ele apunhalado sem comiseração.


Cometido o crime, que, como tantos outros passara despercebido das autoridades bem subornadas, o irmão de Helena acamou-se, delirando…

Por alguns dias, ela própria, Anacleta, velara por ele, mas, fatigada, obedeceu às instruções da dona da casa, que lhe recomendava descanso. Na primeira noite, contudo, em que se entregou ao repouso, na câmara que lhe era própria, Galba faleceu misteriosamente, asseverando algumas escravas de confiança, em surdina, que o amo fora envenenado pela própria mulher, com uma tisana preparada por ela mesma.

Taciano e a filhinha choraram estas desgraças.

A perda moral de Lucila aterrava-os.

Insistiram com a velha amiga para ficar, entretanto, a devotada servidora confessou que se fizera cristã e desejava a solidão para reconsiderar o caminho percorrido. Deliberara, desse modo, voltar à ilha de Cipro, atendendo ao pedido afetivo dos derradeiros parentes que lhe restavam.

Acompanhada por dois sobrinhos, que lhe dispensavam cuidados especiais, não se demorou por mais de uma semana, despedindo-se então dos amigos queridos, para sempre.


Impressionada, talvez, com as aflitivas informações trazidas de Roma, Blandina não mais se ergueu.

Debalde Taciano rodeou-a de surpresas e carícias… Em vão, Quinto Celso contou-lhe renovadas histórias de heróis e de mártires…

A doente renunciou a toda espécie de alimentação e mais se assemelhava, jungida ao leito alvo, a um anjo esculturado em marfim, unicamente animado pelos olhos escuros, ainda vivos e brilhantes.

Certa noite, justamente na antevéspera de grandes espetáculos em homenagem a patrícios ilustres, nos quais Taciano seria investido de grandes responsabilidades, a enferma chamou-o e apertou-lhe carinhosamente as mãos.

Permutaram inesquecível olhar, em que exprimiam toda a imensa dor que lhes estrangulava o espírito, adivinhando próximo adeus.

— Pai — disse ela, melancólica —, agora não me demorarei a reunir-me aos nossos…


Taciano procurou, em vão, represar as lágrimas que lhe inundavam os olhos.

Tentou falar, tranquilizando-a, mas não conseguiu.

— Sempre fomos unidos, paizinho! — continuou a moça, triste — até hoje, nada fiz sem a sua aprovação… Queria, assim, pedir o consentimento seu para que eu possa realizar um desejo, antes de partir…

E sem que o genitor tivesse tempo para qualquer indagação, acrescentou:

— O senhor permite que eu aceite a morte, na fé cristã?

O patrício recebeu a pergunta como se fora apunhalado nos tecidos sutis da própria alma. Uma dor intraduzível, na qual se misturavam a saudade e o ciúme, o fel e a angústia, fê-lo dobrar a cerviz, melancolicamente…

— Tu também, minha filha? — inquiriu ele, em pranto. — Meu pai era dele, minha mãe abraçou-o, Basílio imolou-se por ele, Lívia morreu louvando-lhe o nome, Anacleta despediu-se de nós, procurando-o, Quinto Celso, o filho que o destino me legou, nasceu pertencendo-lhe… Sempre o Cristo!… Sempre o Cristo a buscar-me, a atormentar-me e a perseguir-me!… Eras tu a única esperança de meus dias! Julguei que o Carpinteiro Galileu te poupasse!… Entretanto… tu também… Ó Blandina, porque não amas teu pai como teu pai te ama? Todos me abandonaram… porque me deixarás também? Estou atribulado, vencido, sozinho…


A jovem movimentou as mãos ressequidas e pálidas, com dificuldade, e acariciou-lhe a cabeça prematuramente encanecida que pendia para ela em choro convulso.

— Não sofra, paizinho! — pediu, resignada. — Eu quero Jesus, mas o senhor é tudo o que eu tenho!… Nada encontrei na vida igual ao seu carinho… Seu amor é a minha riqueza!… Desejo, antes de tudo, seguir-lhe os passos… Não vê que sempre rezamos juntos, pela manhã, a oração de ? Tudo será para mim, segundo a sua vontade…

A jovem interrompeu-se por alguns instantes, mostrou sinais de indefinível alegria no rosto descarnado e continuou:

— Hoje, à tardinha, Lívia esteve aqui… Trouxe uma harpa enorme, adornada com rosas de luz… Cantou para mim o com a mesma voz do nosso encontro às margens do Ródano… Disse-me que estaremos todos juntos em breve e que eu não deveria apoquentá-lo, caso o senhor não consinta que eu me faça agora cristã… Asseverou que a vida é divina e eterna e que não temos motivo para atormentar-nos uns aos outros… Afirmou-me que o amor de Jesus glorifica-nos o caminho e que, com o tempo, brilhará em toda a parte… Além de tudo, pai querido, nunca entrarei num Céu em que o senhor não esteja…


Fixou os olhos profundos e fulgurantes no teto e exclamou:

— Jesus é também o amor que espera sempre… Haverá perdão para todos…

Taciano ergueu o semblante e fitou-a, contristado.

Teria razão para contrariar a filha querida na hora extrema? Poderia, em sã consciência, impedir-lhe o acesso à fé que ele até então detestara? porque negar a Blandina o conforto de sua aquiescência numa questão puramente espiritual? Experimentou grande remorso, em face do desabafo que pronunciara, e, abraçando a doentinha, falou, sincero:

— Perdoa-me, filha! esquece as minhas palavras… Dize o que pretendes… Podes abraçar o Cristianismo, livremente… Nosso amor não é uma cadeia para o sofrimento e sim a nossa comunhão na alegria perfeita! Manda, Blandina, e obedecerei!…


Havia tanta lealdade quanta ternura naquelas frases que a enferma sorriu um sorriso de enlevo e contentamento e, então, rogou, humilde:

— Papai, na igreja de São João há um velhinho de nome Ênio Pudens que eu desejaria fosse rogado pessoalmente pelo senhor a fazer comigo uma oração e… quando eu morrer, ficaria contente se o senhor depositasse o meu corpo no sepulcro dos cristãos… Sei que lá reina a alegria com a certeza da vida eterna…

Taciano tentou dissuadi-la dessas ideias. Porque tamanha preocupação com a morte, quando a esperança lhes descerrava magnífico futuro à frente?

Esforçando-se para mostrar tranquilidade e segurança, prometeu cumprir-lhe a vontade, e passou a conversar em outros assuntos.

Referiu-se à festa que a cidade esperava, ansiosamente, e salientou o propósito de conquistar expressivo prêmio.

Adquirira dois cavalos vigorosos, procedentes de Capadócia,  que pareciam possuir invisíveis asas nas patas.

Aguardava, por isso, um triunfo espetacular.

Estava convicto de que a filhinha, muito em breve, se mostraria orgulhosa e linda nas corridas, abrilhantando-lhe as vitórias.

Blandina sorria, satisfeita e confortada.

Mais serena, aquietou-se na expectação do dia seguinte.


De espírito dilacerado, Taciano viu chegar a manhã e, consoante a promessa que formulara, dirigiu-se discretamente à igreja de São João, onde não teve dificuldade para encontrar o velhinho indicado.

Com cerca de oitenta anos, curvado e trêmulo, Ênio Pudens, o mesmo companheiro de Quinto Varro quando este se fizera conhecido por sucessor de Ápio Corvino, ainda trabalhava. Não obstante desfrutar o respeito de todos, na posição de cooperador mais velho da comunidade, era um exemplo vivo de fé, serviço, diligência e abnegação.

Recebeu Taciano, com atenção e bondade, colocando-se à disposição dele para o que lhe pudesse ser útil.

A simplicidade do ambiente conferia-lhe imensa paz ao coração.

A alma de Taciano sentia sede de tranquilidade como o deserto suspira pela bênção da água.


Interpelado pelo patrício, com respeito ao pretérito, Ênio informou-lhe haver conhecido ambos os Corvinos, o velho e o moço, mostrando-lhe, satisfeito, as recordações daquele que jamais poderia imaginar fosse o infortunado pai do seu interlocutor.

O filho de Varro observou a dependência em que o genitor vivera consagrado à caridade e à fé.

Deteve-se na contemplação do leito pobre, carinhosamente conservado, e refletiu nas amarguras que, de certo, teriam ali assediado o coração paterno.

Nunca poderia supor que ele mesmo, Taciano, bateria àquelas portas implorando socorro para a filha doente.

Mergulhado em profundo alheamento, foi despertado pela voz de Pudens que declarava estar pronto para segui-lo.


Partiram, assim, em demanda do ninho agasalhado entre as árvores, onde Blandina recebeu o apóstolo com alegria e reverência.

O missionário conhecia o genro de Vetúrio, de longa data. Sabia-o adversário ferrenho do Evangelho e manifesto perseguidor da igreja torturada. Contudo, a pobreza limpa em que vivia com os filhos, a coragem moral nos reveses sofridos e o bom ânimo com que enfrentava os golpes da sorte, à frente da opinião pública, inspiravam simpatia e respeito ao seu espírito amadurecido.

Acanhado a princípio, a pouco e pouco se tornou mais comunicativo. As perguntas da pequena enferma, a conversação judiciosa de Celso e o olhar respeitoso do chefe da casa deixavam-no mais à vontade.

O antigo religioso refletiu quão enormes teriam sido as aflições caídas sobre aquele homem tenaz que o escutava atentamente, mas, avelhentado na experiência e na dor, calou as indagações no próprio íntimo, para só expandir-se em carinho, tolerância, bondade e compreensão.


Ao fim de uma hora de sadio entendimento, atendendo aos rogos da doentinha, o ancião pronunciou, em voz alta a prece dominical:

— Pai Nosso, que estais no Céu santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino, faça-se a vossa vontade, assim na Terra como nos Céus; o pão nosso de cada dia dai-nos hoje, perdoai as nossas dívidas assim como perdoamos aos nossos devedores, não nos deixes cair em tentação e livrai-nos de todo mal, porque vosso é o reino, o poder e a glória para sempre. Assim seja. (Mt 6:9)

O viúvo de Helena ouviu a rogativa, mudo e emocionado, comovendo-se com a doce confiança dos filhos que a repetiam, palavra por palavra.

Era o seu primeiro contato com alguma lembrança do Cristo que nunca pudera compreender.

Diante daquele quadro constituído por um velhinho que nada mais esperava do mundo senão a paz do túmulo, e por duas crianças que se achavam investidas do direito de tudo aguardarem da Terra, identificados na mesma vibração de alegria e de fé, não pôde impedir que o pranto lhe umedecesse os olhos.


Ouviu, com respeito inexcedível, todos os apontamentos do hóspede e, quando Ênio se despediu, atencioso, rogou-lhe não esquecesse os filhos, Blandina e Celso eram cristãos fervorosos e ele, na posição de pai, não lhes contrariaria os sentimentos.

A enferma fitou-o, jubilosa.

Inexprimível serenidade envolveu a casa naquela noite inesquecível. Como se houvera sorvido delicioso calmante, a menina adormeceu tranquilamente. Taciano, por sua vez, entregou-se ao sono pesado e sem sonhos…

Ao amanhecer do dia seguinte, contudo, acordou com indefinível tristeza a turbar-lhe o íntimo.

Recordou que a filha na véspera assumira compromisso moral com a nova fé e, por isso, sozinho, procurou a imagem de Cíbele, existente num oratório particular, anexo ao quarto de Blandina.

Pela primeira vez, depois de muitos anos, repetiu a sós, consigo mesmo, a sua rogativa habitual à Grande Mãe.


Nunca se vira imerso em tamanho frio espiritual. Jamais se sentira tão angustiosamente só. Guardava a impressão de que ele era o único oficiante vivo num templo de deuses mortos…

Ainda assim, não renunciaria à fé pura da infância.

Amaria , cultuaria e esperaria por , o grande senhor.

Não podia modificar-se.

Orou em lágrimas e, depois de abraçar os filhos, dirigiu-se para o circo, onde prepararia o carro de sua propriedade para as corridas da tarde.


Mais tarde, voltou ao lar para leve refeição e, não obstante registrar os padecimentos de Blandina singularmente agravados, tornou à cidade para o grande prélio.

No limiar do crepúsculo, o local regurgitava de gente.

Liteiras enfileiradas davam notícia da expressão aristocrática da festa. Bigas e quadrigas desfilavam, à pressa, aqui e ali… Músicos disfarçados em faunos tangiam cítaras e trompas, alaúdes e pandeiros, animando a turba que não se fatigava na reprodução de urros selvagens. Cortesãs admiravelmente trajadas e bacantes recendendo aromas perturbadores, matronas e virgens de Roma e das Gálias, exaltadas e seminuas, gritavam os nomes dos favoritos.

Taciano contava com a simpatia geral.

Tão logo formou na linha inicial da competição, viu-se aclamado por centenas de vozes, que partiam, não somente do povo, mas também das galerias de honra onde se acomodava o Propretor com o seu vasto séquito vistoso e farfalhudo.


Naquele dia, contudo, o predileto da multidão parecia surdo e indiferente.

De pensamento voltado para a filha bem-amada, a debater-se com a morte, não esboçou o mínimo gesto de reconhecimento na direção da massa que o saudava, delirantemente…

Ao sinal de largar, afrouxou as douradas rédeas e os cavalos fogosos dispararam. O candidato à vitória, porém, não se sentiu seguro como de outras vezes…

Depois de alguns instantes de galope desenfreado, notou que a cabeça como que se desequilibrara nos ombros. Esforçou-se para retomar o comando da biga a desvairar-se, veloz, mas turvou-se-lhe a visão, repentinamente. Deixou de escutar os gritos da massa frenética, guardando a impressão de que um vazio se lhe formara no cérebro e, incapaz de controlar-se, inclinou-se para a frente, apoiando-se nas bordas do carro sem domínio.


Os animais, contudo, plenamente desarvorados, atiraram o veículo contra enorme coluna de um dos arcos ornamentais da pista, convertendo-o em pedaços.

Colhido então de imprevisto, Taciano sofreu tremenda queda, indo arrojar-se de encontro aos ferros retorcidos, que lhe feriram o frontal, ofendendo-lhe seriamente os olhos.

Ante a gritaria da multidão, alguns servidores dos jogos públicos depressa o socorreram, retirando-o, em sangue.

O valoroso campeão achava-se desacordado. E, enquanto dois prestimosos escravos o reconduziam, cuidadosamente, de retorno à casa, as mesmas vozes que antes o aplaudiam apupavam-no agora com ditérios e ingratas observações.

Os jogadores que haviam perdido importantes apostas voltavam-se, desapontados, contra o ídolo da véspera…


O patrício, ainda incapaz de raciocinar? embora já pudesse gemer, foi colocado no leito sob o angustiado olhar de Quinto Celso.

O rapaz esmerou-se por ocultar o acontecimento doloroso a Blandina e prestou ao pai adotivo os serviços assistenciais ao seu alcance. Reconhecendo-se, porém, infinitamente só para resolver por conta própria, valeu-se do cavalo que costumava servi-lo e correu ao abrigo dos cristãos.

O velho Ênio ouviu-lhe as notícias, compadecidamente.

Recambiou Celso ao lar e tomou um carro para acudir ao ferido. Em pouco tempo, assumia a direção da casinha do bosque por força das circunstâncias.

Transportou consigo os unguentos curativos de que podia dispor e, munido de panos de linho, começou a limpar as escoriações que ainda sangravam, mas, tomado de penosas apreensões, verificou que Taciano estava cego. O orgulhoso patrício que a vida parecia castigar paulatinamente, despojando-o de todos os privilégios que o faziam temido e respeitado, via-se agora dilacerado no próprio corpo. Nunca mais tornaria às competições da arena, e difícil lhe seria conseguir trabalho e sustentar-se com o esforço das próprias mãos…


Enquanto meditava, reparou que o ferido recuperava integralmente a razão. Recrudesciam-lhe os gemidos abafados.

O velhinho dirigiu-lhe algumas palavras encorajadoras, explicando que as equimoses se achavam devidamente medicadas.

Reconhecendo o benfeitor, Taciano agradeceu e pediu que a luz se fizesse, pois se sentia incomodado, aflito, naquela escuridão.

O manto da noite realmente havia caído sobre aquele dia infortunado, mas no quarto duas tochas ardiam, brilhantes.

— Senhor — disse o ancião, profundamente pesaroso —, a câmara está iluminada, entretanto, os vossos olhos…

A frase perdeu-se, reticenciosa, no ar.

Indescritível pavor assomou ao semblante do ferido.

O filho de Varro levou as mãos à cabeça e compreendeu a extensão do desastre.


Ênio e Celso que o seguiam, ansiosos, acreditaram que o infortunado romano explodiria numa crise de exasperação e dor, mas o viúvo de Helena aquietara-se incompreensivelmente… Das órbitas apagadas e sanguinolentas, grossas lágrimas rebentaram abundantes. Como se devesse dar informações de si mesmo ao filho e ao amigo, exclamou em voz comovedora:

— Estou cego! mas os deuses concedem-me ainda, a graça de chorar!…

Em seguida, tateante e trôpego, dirigiu-se a câmara de Blandina, pedindo a Ênio que, antes de entrar, deixasse o quarto em sombra.

Aproximou-se da filha, afagando-lhe os cabelos.

A enferma deu-lhe notícia das dores que a atormentavam e, num supremo esforço, o pai consolou-a, rogando desculpas por haver tardado tanto…

Velado pelas trevas, descreveu-lhe a festa da tarde. Contou-lhe que centenas de mulheres haviam mostrado trajes originais de grande beleza. O espetáculo fora magnífico. Imaginou surpreendentes novidades para encanto da enferma que se habituara a receber-lhe as narrações do regozijo público.


Blandina osculou-lhe as mãos, declarou alegrar-se com a presença de Pudens e acomodou-se tranquila.

O ancião e Celso acompanharam a cena, comovidíssimos.

A força moral de Taciano impressionava-os.

E, noite a noite, como se estivesse regressando das funções no circo, o genitor abraçava a filhinha, às escuras, com ela conversando longamente, de modo a sustentar-lhe a impressão de que tudo lhes corria em clima de paz e segurança.

A situação dolorosa prolongou-se por uns quinze dias de preocupações e amarguras.

Nenhum amigo de outro tempo apareceu, sequer.

Nenhum admirador da arena se lembrou da gentileza de uma visita.

Somente o velho Pudens alimentou, firme, a amizade que passara a consagrar-lhes. Aliando-se ao jovem Quinto Celso, qual se fossem velhos amigos, providenciavam, juntos, a solução de todas as necessidades domésticas, aliviando Taciano tanto quanto lhes era possível.

O rapaz devotou-se ao pai adotivo, com admirável carinho. Substituía-o em todas as atividades caseiras, lia-lhe os livros prediletos, descrevia-lhe a paisagem, rodeava-o de ternura…


Com assentimento do chefe da casa, Ênio passou a dormir na residência singela, atento à posição de Blandina que reclamava assistência cuidadosa. Aquela flor de bondade e meiguice emurchecia lentamente ao sopro da morte.

Com efeito, numa noite fria e nublada, piorou de repente.

O ancião compreendeu que o fim havia chegado e rogou que Taciano viesse rápido abraçar a filha, para que lhe não faltasse o conforto da presença paterna à hora extrema.

Taciano, depois que ficara cego, julgou não sofreria tanto com a perda de Blandina, cuja afeição lhe constituía inapreciável tesouro. E pensava: não seria mais justo alegrar-se por vê-la exonerada do encargo de suportar-lhe as provas rudes? porque conservá-la presa a um inválido? como rejubilar-se, na expectativa de senti-la escravizada à pobreza e à miséria?

Contudo, aquele apelo, dentro da noite alta, tivera sobre ele o efeito de uma punhalada mortal.

Acudiu, aflito, cambaleante…


Sentou-se no leito humilde e, auxiliado por Ênio, acariciou a agonizante, que não mais lhe ouvia as palavras de amor e chamamento… Apertou-a de encontro ao peito, qual se desejasse prende-la ao próprio corpo, mas, como se apenas lhe esperasse o calor reconfortante, Blandina repousou, enfim, com a placidez de um anjo que adormece.

Desesperado, o filho de Varro gritou, desconsolado, desferindo amargas lamentações que se perdiam no seio da noite…

No dia seguinte, sob o patrocínio de Pudens, os funerais foram efetuados como a jovem desejara.

O infortunado genitor, apoiando-se agora no filho adotivo, não obstante em desacordo íntimo com os cristãos, acompanhou os despojos da jovem e permaneceu nas dependências da igreja, sem coragem de voltar à antiga casinha.


Agarrado à memória da filha, mandou fazer uma lápide de mármore, da qual se destacavam em alto relevo dois corações entrelaçados, com a formosa inscrição: Blandina Vive.

Amparado por Celso, ele mesmo quis ajudar a colocação da lembrança sobre o túmulo singelo e, ao término do serviço, tateou a legenda expressiva, fez o gesto de quem se abraçava ao sepulcro e, em seguida, suplicou, ajoelhado:

— Blandina, filha querida! de onde estiveres, sê de novo a minha luz! Estrela, acende teus raios para que eu possa caminhar! Estou só na Terra! Se outra vida existe, além da campa fria que te guarda, implacável, compadece-te de mim! Não permitas que a treva me envolva! Muitos vi partir para o estranho labirinto da morte!… Nunca, entretanto, senti tamanha sensação de abandono!… Filha abençoada, não me deixes, jamais! Livra-me do mal! Ensina-me a resistir contra os monstros da inconformação e do desânimo!… Mostra-me a bendita claridade da fé! Se erros tenho cometido sob a escura inspiração da vaidade e do orgulho, ajuda-me a encontrar a verdade! Adotaste uma crença para a qual não me preparei… Escolheste um caminho diferente do nosso, todavia, filha inolvidável, não poderias enganar-te!… Se encontraste o Mestre que esperavas, renova-me o coração para que me coloque também ao encontro dele!… Não conheço os deuses, em cuja existência ainda creio, mas tive a felicidade de conhecer-te e em ti confio infinitamente!… Ampara-me! soergue minh’alma abatida! Volta Blandina! Não vês agora que teu pai está cego? Enquanto permanecias no mundo, tive a presunção de guiar-te!… Hoje, porém, sou um mendigo de teu arrimo! Filha bem-amada, vive comigo para sempre!…


Calou-se a voz dele na estreita necrópole, abafada por um temporal de lágrimas…

Foi então que Celso o recolheu nos braços amorosos, beijou-o com indizível carinho e falou, confiante:

— Meu pai, o senhor nunca estará sozinho…

Amparando-se nele, Taciano, esmagado de dor, afastou-se da cripta, trêmulo e hesitante.

Não longe, pequena assembleia entoava hinos cristãos, nas preces vespertinas…

O desventurado cego, apesar de haver encontrado ali o espontâneo acolhimento dos aprendizes do Evangelho, reconhecia que a sua existência não podia encerrar-se naquele santuário de princípios diversos dos dele e concluiu que o destino inexorável o convidava a caminhar…




( do Autor espiritual) — Mediolanum, hoje Évreux. 


mt 6:9
Há dois mil anos...

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 1
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

O ano de 46 corria calmo.

Em Cafarnaum,  vamos encontrar, de novo, as nossas personagens mergulhadas numa serenidade relativa.

As autoridades administrativas, em Roma, não eram as mesmas. Entretanto, apoiado no prestígio do seu nome e nas consideráveis influências políticas de Flamínio Sevérus, perante o Senado, Públio Lêntulus continuava comissionado na Palestina,  onde gozava de todos os direitos e regalos políticos, na administração provincial.

 

Debalde continuara ali o senador, a despeito de todo o seu imenso desejo de voltar à sede do governo imperial, esperando o ensejo de reaver o filho, que o tempo continuava a reter no domínio das sombras misteriosas. Nos últimos anos, perdera por completo a esperança de atingir o seu desiderato, mesmo porque, considerava, a esse tempo Márcus Lêntulus deveria estar no seu primeiro período de juventude, tornando-se irreconhecível aos olhos paternos.

Outras vezes, ponderava o orgulhoso patrício que o filho não mais vivia; que, certamente, as forças perversas e criminosas que o haviam arrebatado do lar teriam exterminado, igualmente o gracioso menino sob a foice da morte, temendo uma punição inexorável. Lá dentro, porém, no imo d’alma, latejava a intuição de que Márcus ainda vivia, razão por que, entre as indecisões e alternativas, de todos os dias, resolvera, antes de tudo, ouvir a voz do dever paternal, lançando mão de todos os recursos para reencontrá-lo, permanecendo ali indefinidamente, contra os seus projetos mais decididos e mais sinceros.

 

A esse tempo, vamos encontrá-lo com os traços fisionômicos ligeiramente alterados, embora treze anos houvessem dobado sobre os dolorosos acontecimentos de 33. Seus cabelos ainda guardavam integralmente a cor natural e apenas algumas rugas, quase imperceptíveis, tinham vindo acentuar a sua fácies de profunda austeridade. Serena tristeza lhe pairava no semblante, invariavelmente, levando-o a isolar-se quase da vida comum, para mergulhar tão somente no oceano dos seus papéis e dos seus estudos, com a única preocupação de maior vulto, que era a educação da filha, buscando dotá-la das mais elevadas qualidades intelectivas e sentimentais. Sua vida no lar continuava a mesma, embora o coração muitas vezes lhe pedisse reatar o laço conjugal, atendendo àqueles treze anos de separação íntima, com a mais absoluta renúncia de Lívia a todas e quaisquer distrações que não fossem as da vida doméstica e da sua crença, fervorosa e sincera. A sós com as suas meditações, Públio Lêntulus deixava divagar o pensamento pelas recordações mais doces e mais distantes e, nessas horas de introspecção, ouvia a voz da consciência que subia do coração ao cérebro, como um apelo à razão inflexível, tentando destruir-lhe os preconceitos, mas o orgulho vencia sempre, com a sua rigidez inquebrantável. Algo lhe dizia no íntimo que sua mulher estava isenta de toda mácula, mas o espírito de vaidade preconceituosa lhe fazia ver, imediatamente, da esposa ao deixar o gabinete privado de Pilatos, em vestes de disfarce, ouvindo ainda, sinistramente, as palavras escarninhas de Fúlvia Prócula, nas suas calúnias estranhas e criminosas…

 

Lívia, porém, se insulara, envolta num véu de triste resignação, como quem espera as providências sobrenaturais, que nunca aparecem no inquieto decurso de uma existência humana. O esposo a conservava junto da filha, atendendo simplesmente à condição de mãe, não lhe permitindo, porém, de modo algum, interferir nos seus planos e trabalhos educativos.

Para Lívia, aquele golpe rude fora o maior sofrimento da sua vida. A própria calúnia não lhe doera tanto; mas, o reconhecer-se como dispensável junto da filha do seu coração, constituía a seus olhos a mais dolorosa humilhação da sua existência. Era por esse motivo que mais se abroquelava na fé, procurando enriquecer a alma sofredora, com as luzes da crença fervorosa e sincera.

Longe de conservar as energias orgânicas, tal como acontecera ao marido, seu rosto testemunhava as injúrias do tempo, com a sua pesada bagagem de sofrimentos e amarguras. Na sua fronte, que as dores haviam santificado, pendiam já alguns fios prateados, enquanto os olhos profundos se tocavam de brilho misterioso, como se houvessem intensificado o próprio fulgor, de tanto se fixarem no infinito dos céus. Seus traços fisionômicos, embora atestassem velhice prematura, revelavam ainda a antiga beleza, agora transformada em indefinível e nobre expressão de martírio e de virtude. Um único pedido fizera ao esposo, quando se viu isolada dos seus afetos mais queridos, no ambiente doméstico, longe do próprio contato espiritual com a filha, circunstância que ainda mais lhe afligia o coração amargurado: — foi apenas que lhe permitisse continuar nas suas práticas cristãs, em companhia de Ana, que tanto se lhe afeiçoara, com aquele espírito de dedicação que lhe conhecemos, a ponto de desprezar as oportunidades que se lhe ofereceram para constituir família. O senador deu-lhe ampla permissão em tal sentido, chegando a facultar-lhe recursos financeiros para atender aos numerosos operários da doutrina que a procuravam, discretamente, amparando-se nas suas possibilidades materiais para iniciativas renovadoras.

 

Falta-nos, agora, apresentar Flávia Lentúlia aos que a viram na infância, doente e tímida.

No esplendor dos seus vinte e dois anos, ostentava o fruto da educação que o pai lhe dera, com a forte expressão pessoal do seu caráter e da sua formação espiritual.

A filha do senador era Lívia, na encantadora graça dos seus dotes físicos, e era Públio Lêntulus, pelo coração. Educada por professores eminentes, que se sucederam no curso dos anos, sob a escolha dos Sevérus, que jamais se descuidaram dos seus amigos distantes, sabia o idioma pátrio a fundo, manejando o grego com a mesma facilidade e mantendo-se em contato com os autores mais célebres, em virtude do seu constante convívio com a intelectualidade paterna.

A educação intelectual de uma jovem romana, nessa época, era sem dúvida secundária e deficiente. Os espetáculos empolgantes dos anfiteatros, bem como a ausência de uma ocupação séria, para as mulheres do tempo, em face da incessante multiplicação e barateamento dos escravos, prejudicaram sensivelmente a cultura da mulher romana, no fastígio do Império, quando o espírito feminino rastejava no escândalo, na depravação moral e na vida dissoluta.

O senador, porém, fazia questão de ser um homem antigo. Não perdera de vista as virtudes heroicas e sublimadas das matronas inesquecíveis, das suas tradições familiares, e foi por isso que, fugindo à época, buscou aparelhar a filha para a vida social, com a cultura mais aprimorada possível, embora lhe enchesse igualmente o coração de orgulho e vaidade, com todos os preconceitos do tempo.

 

A jovem amava a mãe com extrema ternura, mas à vista das ordens do pai, que a conservava invariavelmente junto dele, nos seus gabinetes de estudo ou nas pequenas viagens costumeiras, não fazia mistério da sua predileção pelo espírito paterno, de quem presumia haver herdado as qualidades mais fulgurantes e mais nobres, sem conseguir entender a doce humildade e a resignação heroica da mãe, tão digna e tão desventurada.

O senador buscara desenvolver-lhe as tendências literárias, possibilitando-lhe as melhores aquisições de ordem intelectual, admirando-lhe a facilidade de expressão, principalmente na arte poética, tão exaltada naquela época.

O tempo transcorria com relativa calma para todos os corações.

De vez em quando, falava-se na possibilidade de regressar a Roma, plano esse cuja realização era sempre procrastinada, em vista da esperança de reencontrar o desaparecido.

 

Num dia suave do mês de março, quando as árvores frondosas se cobriam de flores, vamos encontrar na casa do senador um mensageiro que chegava de Roma a toda pressa.

Tratava-se de um emissário de Flamínio Sevérus, que em longa carta comunicava ao amigo o seu precário estado de saúde, acrescentando que desejava abraçá-lo antes de morrer. Comovedores apelos constavam desse documento privado, suscitando ao espírito de Públio as mais acuradas ponderações. Todavia, a leitura de uma carta assinada por Calpúrnia, que viera em separado, era decisiva. Nesse desabafo, a veneranda senhora o informou do estado de saúde do marido, que, a seu ver, era precaríssimo, acentuando os penosos dissabores e angustiosas preocupações que ambos experimentavam acerca dos filhos, que, em plena mocidade, se entregavam às maiores dissipações, seguindo a corrente de desvarios sociais da época. Terminava a carta comovedora, pedindo ao amigo que voltasse, que os assistisse naquele transe, de modo que a sua amizade e paternal interesse representassem uma força moderadora junto de Plínio e de Agripa, que, homens feitos, se deixavam levar no turbilhão dos prazeres mais nefastos.

 

Públio Lêntulus não hesitou um instante. Mostrou à filha os documentos recebidos e, depois de examinarem, juntos, os pormenores do seu conteúdo, comunicou a Lívia o seu propósito de voltar a Roma na primeira oportunidade.

A nobre senhora lembrou-se, então, de quão diversa lhe seria a vida na grande cidade dos césares, com as ideias que agora possuía e pediu a Jesus não lhe faltasse a coragem necessária para vencer em todos os embates que houvesse de sustentar na sociedade romana, para conservar íntegra a sua fé.

A volta a Roma não reclamou, desse modo, grande demora. O mesmo emissário levou as instruções do senador para os seus amigos da Capital do Império e, daí a pouco, uma galera os esperava em Cesareia,  reconduzindo a família Lêntulus, de regresso, depois da permanência de quinze anos na Palestina. 

Desnecessário dizer dos pequeninos incidentes do retorno, tal a vulgaridade das viagens antigas, com a sua monotonia, aliada às vagarosas perspectivas e ao doloroso espetáculo do martírio dos escravos.

 

Cumpre-nos, entretanto, acrescentar que, nas vésperas da chegada, o senador chamou a filha e a mulher, dirigindo-lhes a palavra em tom discreto:

— Antes de aportarmos, convém lhes explique a minha resolução a respeito do nosso pobre Márcus.

Há muitos anos, guardo o maior silêncio em torno do assunto, para com os meus afeiçoados de Roma e não desejo ser considerado mau pai, em nosso ambiente social. Somente uma circunstância, como a que nos impõe esta viagem, me levaria a regressar, porquanto não se justifica que um pai abandone o filho em tais paragens, ainda mesmo torturado pela incerteza da continuidade de sua existência.

Assim, resolvi comunicar, a quantos mo perguntem, que o filho está morto há mais de dez anos, como, de fato, deverá estar para nós outros, visto a impossibilidade de o reconhecermos, na hipótese do seu reaparecimento.

Se soubessem de nossas mágoas, não faltariam embusteiros que desejassem ludibriar nossa boa fé, explorando o sentimentalismo familiar.

Ambas assentiram na decisão, que lhes parecia a mais acertada e, daí a minutos, o porto de Óstia  estava à vista, agora lindamente aparelhado pelo zelo do Imperador Cláudio,  que ali mandara executar obras interessantes e monumentais.

 

Nessa hora, não se observava o contentamento, natural em tais circunstâncias.

A partida, quinze anos antes, havia sido um cântico de esperança nas expectativas suaves do futuro, mas o regresso estava cheio do silêncio amargo das mais penosas realidades.

Além do desencanto da vida conjugal, Públio e Lívia não viam ali, entre os rostos amigos que os esperavam, as silhuetas de Flamínio e Calpúrnia, que consideravam irmãos muito amados.

Contudo, dois rapazes simpáticos e fortes, de gestos desembaraçados, nas suas togas irrepreensíveis, dirigiram-se a eles imediatamente, em escaleres confortáveis, mal a embarcação havia ancorado, rapazes esses que senador e esposa reconheceram de pronto, num afetuoso e comovido abraço.

Tratava-se de Plínio e seu irmão que, incumbidos pelos pais, vinham receber os queridos ausentes.

 

Apresentados à Flávia, ambos fizeram um movimento instintivo de admiração, recordando o dia da partida, quando a haviam acomodado no beliche, entre os seus gemidos e caretas de criança doente.

A jovem impressionara-se, também, com a figura de ambos, de quem possuía apagadas reminiscências, entre as recordações remotas da sua infância. Principalmente Plínio Sevérus, o mais moço, a havia impressionado profundamente, com os seus vinte seis anos completos, no mesmo porte elegante e distinto com que ela havia idealizado o herói da sua imaginação feminina.

Notava-se, igualmente, num relance, que o rapaz não ficara indiferente àquelas mesmas emoções, porque, trocadas as primeiras impressões da viagem e examinada a situação da saúde de Flamínio Sevérus, considerada pelos filhos como excessivamente grave, Plínio ofereceu o braço à jovem, enquanto Agripa lhe observava num leve tom de ciúme:

— Mas que é isso, Plínio? Flávia pode suscetibilizar-se com a tua intimidade excessiva!…

— Ora, Agripa — respondeu ele, com um franco sorriso —, estás muito prejudicado pelos formalismos da vida pública. Flávia não pode estranhar os nossos costumes, na sua condição de patrícia pelo nascimento e, ao demais, não nasci para as disciplinas do Estado, tão do teu gosto!…

 

A essas palavras, ditas com visível bom humor, acrescentou Públio Lêntulus, confortado pelo ambiente da sua predileção:

— Vamos, meus filhos!

E dando o braço à esposa, para desempenhar a comédia da sua felicidade conjugal na vida comum da grande cidade, seguido de Plínio, que amparava a jovem no seu braço forte e conquistador em assuntos do coração, desembarcaram junto de Agripa, a fim de descansarem um pouco, antes de seguirem diretamente para Roma, e, para o que, todas as providências haviam sido tomadas pelos irmãos Sevérus, com o máximo de carinho e espontânea dedicação.

Lívia não se esqueceu de Ana, providenciando para o seu conforto junto aos demais servos da casa, em todo o percurso de caminho que os separava da residência.

Em direção à cidade, pensou então o senador que, finalmente, ia rever o amigo muito amado. Há longos anos acariciava a ideia de confessar-lhe, de viva voz, todos os seus desgostos na vida conjugal, expondo-lhe com franqueza e sinceridade as suas preocupações, acerca dos fatos que o separavam da esposa, na intimidade do lar. Tinha sede de suas palavras afetuosas e de explicações consoladoras, porque sentia que amava a mulher acima de tudo, apesar de todos os dissabores experimentados. Não crendo sinceramente na sua queda, apenas seu orgulho de homem o afastava de uma reconciliação que cada dia se tornava mais imperiosa e necessária.

 

Em breve defrontavam a antiga residência, lindamente ornamentada para recebe-los. Numerosos servos se movimentavam, enquanto os recém-vindos faziam o reconhecimento dos lugares mais íntimos e mais familiares.

Havia quinze anos que o palácio do Aventino  aguardava os donos, sob o carinho de escravos dedicados e dignos.

Logo se servia uma refeição frugal no triclínio, enquanto os irmãos Sevérus, que participavam desse ligeiro repasto, esperavam os seus amigos, a fim de seguirem todos juntos para a residência de Flamínio, onde o enfermo os aguardava ansiosamente.

Plínio, em dado instante, como quem traz à baila uma notícia interessante e agradável, exclamou, dirigindo-se ao senador:

— Há bem tempo, ficamos conhecendo vosso tio Sálvio Lêntulus e sua família, que residem perto do Fórum. 

— Meu tio? — perguntou Públio, impressionado, como se as lembranças de Fúlvia lhe trouxessem ao íntimo uma aluvião de fantasmas. Mas, ao mesmo tempo, como se estivesse fazendo o possível por adormentar as próprias mágoas, acentuou com suposta serenidade:

— Ah! é verdade! Faz mais de doze anos que ele regressou da Palestina… 

 

Foi neste comenos que Agripa interveio como a vingar-se da atitude do irmão, quando ainda não havia desembarcado, exclamando intencionalmente:

— E por sinal que Plínio parece inclinado a desposar-lhe a filha, de nome Aurélia, com quem mantém as melhores relações afetivas, de muito tempo.

Ao ouvir essas palavras, Flávia Lêntulus fitou o interpelado, como se entre o seu coração e o filho mais moço de Flamínio já houvesse os mais fortes laços de compromissos sentimentais, dentro das leis misteriosas das afinidades psíquicas. Enquanto se passava esse duelo de emoções, Plínio fitou o irmão quase com ódio, dando a entender a impulsividade do seu espírito e respondendo com ênfase, como a defender-se de uma acusação injustificável, perante a mulher das suas preferências:

— Ainda desta vez, Agripa, estás enganado. Minhas relações com Aurélia não têm outro fundamento, além do da pura amizade recíproca, mesmo porque considero muito remota qualquer possibilidade de casamento, na fase atual da minha vida.

Agripa esboçou um sorriso brejeiro, enquanto o senador, compreendendo a situação, acalmava os ânimos, exclamando com bondade:

— Está bem, filhos; mas falaremos depois sobre meu tio. Sinto-me ansioso por abraçar o querido enfermo e não temos tempo a perder.

 

Em breves minutos um grupo de liteiras encaminhava-se para a nobre residência dos Sevérus, onde Flamínio aguardava o amigo, ansiosamente.

Sua fisionomia não acusava mais aquela mobilidade antiga e a empolgante expressão de energia que a caracterizava, mas, em compensação, grande placidez se lhe irradiava dos olhos, sensibilizando a quantos o visitavam nos seus derradeiros dias de lutas terrestres. A expressão do semblante era a do lutador derribado e abatido, exausto de combater as forças misteriosas da morte. Os médicos não tinham a menor esperança de cura, considerando o profundo desequilíbrio físico, aliado à mais forte desorganização do sistema cardíaco. As menores emoções determinavam alterações no seu estado, ensejando as mais amplas apreensões da família.

De vez em quando, os olhos serenos e tranquilos se fixavam detidamente na porta de entrada, como se esperassem alguém com o máximo interesse, até que rumores mais fortes, vindos do vestíbulo, anunciaram ao seu coração que ia cessar uma ausência de quinze anos consecutivos, entre ele e os amigos sempre lembrados.

 

Calpúrnia, igualmente muito abatida, abraçou Lívia e Públio, derramada em lágrimas e apertando Flávia nos braços, como se recebesse uma filha.

Ali mesmo, no vestíbulo, trocaram impressões e falaram das suas saudades intensas e das preocupações numerosas, até que Públio deliberou deixar as duas amigas em franca expansão afetiva e se encaminhou com Agripa a um dos compartimentos próximos do tablino, onde abraçou o grande amigo, com lágrimas de alegria.

Flamínio Sevérus estava magríssimo e suas palavras, por vezes, eram cortadas pela dispneia impressionante, dando a perceber que muito pouco tempo lhe restava de vida.

Sabendo da satisfação do pai na companhia íntima do leal amigo, Agripa retirou-se do vasto aposento, onde as sombras do crepúsculo começavam a penetrar caprichosamente, como se o fizessem no silêncio sagrado das naves religiosas.

Públio Lêntulus se surpreendeu, encontrando o velho companheiro em tal estado. Não supunha reve-lo tão depauperado. Agora, certificava-se de que era a ele, sim, que competia auxiliá-lo com os seus conselhos, levando-lhe as forças orgânicas e espirituais, com as suas exortações amigas e carinhosas.

 

Uma vez a sós, contemplou o amigo e mentor, como se estivesse a mirar uma criança enferma.

Flamínio, por sua vez, olhou-o face a face e, olhos rasos d’água, tomou-lhe as mãos nas suas dando-lhe a entender que recebia ali, naquele momento, um filho muito amado.

Num gesto brando e carinhoso, procurou sentar-se mais comodamente e, amparando-se nos ombros de Lêntulus, murmurou comovidamente ao seu ouvido:

— Públio, aqui já te não recebe o companheiro enérgico e resoluto doutros tempos. Sinto que apenas te esperava para poder entregar a alma aos deuses, tranquilamente, supondo já cumprida a missão que me competia na Terra, com a minha consciência retilínea e os meus honestos pensamentos.

 

Há mais de um ano pressinto o instante irremediável e fatal, que, agora, satisfeito o meu ardente desejo, deve estar avizinhando-se com a velocidade do relâmpago. Não desejava, pois, partir sem te apertar em meus braços, fazendo-te as últimas confidências neste leito de morte…

— Mas, Flamínio — respondeu-lhe o amigo, com serenidade dolorosa —, tudo me autoriza a crer nas tuas melhoras imediatas, e todos nós aguardamos a bênção dos deuses, de maneira que possamos contar com a tua companhia indispensável, por muito tempo ainda, neste mundo.

— Não, meu bom amigo, não te iludas com essas suposições e pensamentos. Nossa alma jamais se engana quando se avizinha das sombras do sepulcro… Não me demorarei em penetrar o mistério da grande noite, mas acredito, firmemente, que os deuses me saudarão com as luzes de suas auroras!…

 

E deixando o olhar, profundo e sereno, divagar pelo aposento, como se as paredes marmorizadas se dilatassem ao infinito, Flamínio Sevérus concentrou-se um minuto em meditações íntimas, continuando a falar, como se desejasse imprimir à conversação um novo rumo:

— Lembras-te daquela noite em que me confiaste os pormenores de um , no auge da tua emotividade dolorosa?

— Oh! se me lembro!… — revidou Públio Lêntulus recordando, de modo inexplicável, não só a palestra remota que resolvera a viagem à Palestina, mas também , no qual testemunhara os mesmos fenômenos intraduzíveis, na noite do . Ao lembrar-se daquela personalidade maravilhosa, estremeceu-lhe o coração, mas tudo fez por evitar ao amigo uma impressão mais forte e dolorosa, acrescentando com aparente serenidade: — Mas, a que vem tua pergunta, se hoje estou mais que convicto, de acordo contigo mesmo, que tudo aquilo não passava de simples impressões de uma fantasia sem importância?

— Fantasia? — replicou Flamínio, como se houvesse encontrado uma nova fórmula da verdade. — Já modifiquei por completo as minhas ideias. A enfermidade tem, igualmente, os seus belos e grandiosos benefícios. Retido no leito há muitos meses, habituei-me a invocar a proteção de Têmis,  de modo que não chegasse a ver nos meus padecimentos mais que o resultado penoso dos meus próprios méritos, perante a incorruptível justiça dos deuses, até que uma noite tive impressões iguais às tuas.

 

Não me recordo de haver guardado qualquer preocupação com a tua narrativa, mas o certo é que, há cerca de dois meses, me senti levado em sonho à mesma época da revolução de Catilina,  e observei a veracidade de todos os fatos que me relataste há dezesseis anos, chegando a ver o teu próprio ascendente, Públio Lêntulus Sura,  que era como que o teu retrato, tal a sua profunda semelhança contigo, mormente agora que te encontras nos teus quarenta e quatro anos, em plena fixação de traços fisionômicos.

Interessante é que me encontrava a teu lado, caminhando contigo na mesma estrada de clamorosas iniquidades. Lembro-me de nos vermos assinando sentenças iníquas e impiedosas, determinando o suplício de muitos dos nossos semelhantes… Todavia, o que mais me atormentava era observar-te a terrível atitude, determinando a cegueira de muitos dos nossos adversários políticos e assistindo, pessoalmente, ao desenrolar das flagelações do ferro em brasa, queimando numerosas pupilas para todo o sempre, aos gritos dolorosos das vítimas indefesas!…

Públio Lêntulus arregalou os olhos, de espanto, participando, igualmente, daquelas recordações que dormitavam fundo na sua alma ensombrada, e replicou, por fim:

— Meu bom amigo, tranquiliza o coração… Semelhantes impressões parecem reflexos de alguma emoção mais forte que perdurasse no âmago da tua memória, por minhas narrativas naquela noite de há tantos anos!…

 

Flamínio Sevérus esboçou, porém, um leve sorriso, como quem compreendia a intenção generosa e consoladora, redarguindo com serena bondade:

— Devo dizer-te, Públio, que esses quadros não me apavoraram e apenas te falo desse complexo de emoções, porque tenho a certeza de que vou partir desta vida e ainda ficarás, talvez por muito tempo, na crosta deste mundo. É possível que as recordações do teu espírito aflorem novamente e, então, quero que aceites a verdade religiosa dos gregos e dos egípcios. Acredito, agora, que temos vidas numerosas, através de corpos diversos. Sinto que meu pobre organismo está prestes a desfazer-se; entretanto, meu pensamento está vivaz como nunca e só em tais circunstâncias presumo entender o grande mistério de nossas existências. Pesa-me, no íntimo, haver praticado o mal no pretérito tenebroso, embora haja decorrido mais de um século sobre os tristes acontecimentos de nossas visões espirituais; todavia, aqui estou diante dos deuses, com a consciência tranquila.

Públio ouvia-o atentamente, entre penalizado e comovido. Procurava dirigir-lhe palavras confortadoras, mas a voz parecia morrer-lhe na garganta, embargada pelas emoções daquele doloroso momento.

 

Flamínio, porém, apertou-o de encontro ao coração, com os olhos rasos de pranto, sussurrando-lhe ao ouvido:

— Meu amigo, não tenhas dúvidas sobre as minhas palavras… Quero crer que estas horas sejam as últimas… No meu escritório estão todos os teus documentos e o memorial dos negócios de ordem material que movimentei em teu nome, na tua ausência e no concernente aos nossos problemas de ordem política e financeira. Não encontrarás dificuldade para catalogar, convenientemente, todos os papéis a que me refiro…

— Mas, Flamínio — replicou Públio, com enérgica serenidade —, acredito que teremos muito tempo para cuidar disso.

Nesse momento, Lívia e a filha, Calpúrnia e os rapazes, acercaram-se do nobre enfermo, trazendo-lhe sorriso amigo e palavras consoladoras.

O doente deu mostras de ânimo e alegria para cada um deles, encarecendo o abatimento de Lívia e a beleza exuberante de Flávia, com palavras meigas e quentes.

 

Ficando a sós, novamente, o generoso senador que a moléstia desfigurara, entre os linhos claros do leito, exclamou com bondade:

— Eis, meu amigo, as borboletas risonhas do amor e da mocidade, que o tempo faz desaparecer, célere, no seu torvelinho de impiedades…

E baixando a voz, como se quisesse transmitir ao amigo uma delicada confidência d’alma, continuou a falar pausadamente:

— Levo comigo, para o túmulo, numerosas preocupações pelos meus pobres filhos. Dei-lhes tudo o que me era possível, em matéria educativa; e, embora reconhecendo que ambos possuem sentimentos generosos e sinceros, noto que os seus corações são vítimas das penosas transições dos tempos que passam, nos quais temos o desgosto de observar os mais aviltantes rebaixamentos da dignidade do lar e da família.

Agripa vem fazendo o possível por se adaptar aos meus conselhos, entregando-se aos labores do Estado; mas Plínio teve a pouca sorte de se deixar seduzir por amigos pérfidos e desleais, que não desejam senão a sua ruína e o arrastam aos maiores desregramentos, nos ambientes suspeitos de nossas mais altas camadas sociais, levando muito longe o seu espírito de aventuras.

 

Ambos me proporcionam os maiores dissabores com os atos que praticam, testemunhando reduzidas noções de responsabilidade individual. Esbanjando grande parte da nossa fortuna própria, não sei que futuro será o da minha pobre Calpúrnia, se os deuses não me permitirem a graça de buscá-la, em breve, no exílio de sua saudade e da sua amargura, depois da minha morte!…

— Mas a mim — respondeu com interesse o interpelado — eles se me afiguram dignos do pai que os deuses lhes concederam, com a sua gentileza generosa e com a fidalguia de suas atitudes.

— Em todo caso, meu amigo, não podes esquecer que tua ausência de Roma foi muito longa e que muitas inovações se processaram nesse período.

Parecemos caminhar vertiginosamente para um nível de absoluta decadência dos nossos costumes familiares, bem como os nossos processos educativos, a meu ver, desmantelados em dolorosa falência!…

 

E como se desejasse trazer de novo a conversação para os assuntos de ordem imediata, da vida prática, acentuou:

— Agora que vejo tua filha esplendente de mocidade e de energia, renovo, intimamente, meus antigos projetos de traze-la para o círculo da nossa comunidade familiar.

Era meu desejo que Plínio a desposasse, mas meu filho mais moço parece inclinado a comprometer-se com a filha de Sálvio, não obstante a oposição de Calpúrnia a esse projeto; não por teu tio, sempre digno e respeitável aos nossos olhos, mas por sua mulher que não parece disposta a abandonar as antigas ideias e iniciativas do passado. Devo, porém, considerar que me resta ainda Agripa, a fim de concretizarmos as minhas futurosas esperanças.

Se puderes, algum dia, não te esqueças desta minha recomendação in extremis!…

— Está bem, Flamínio, mas não te canses. Dá tempo ao tempo, porque não faltará ocasião para discutir o assunto — replicou Públio Lêntulus, comovido.

 

Neste comenos, Agripa entrou na alcova, dirigindo-se ao pai, afetuosamente:

— Meu pai, o mensageiro enviado a Massília  acaba de chegar, trazendo as desejadas informações a respeito de Saul.

— E ele nada nos manda dizer sobre a sua vinda? — perguntou o enfermo, com bondoso interesse.

— Não. O portador apenas comunica que Saul partiu para a Palestina, logo depois de alcançar a consolidação da sua fortuna com os últimos lucros comerciais, acrescentando haver deliberado ir à Judeia,  para rever o pai que reside nas cercanias de Jerusalém.

— Pois sim — disse o enfermo, resignado —, à vista disso, recompensa o mensageiro e não te preocupes mais com os meus anteriores desejos.

 

Ao ouvi-los, Públio deu tratos ao cérebro para se recordar de alguma coisa que não podia definir com precisão. O nome de Saul não lhe era estranho. Com a circunstância de se localizar a residência do pai nas proximidades de Jerusalém, lembrou-se, finalmente, das personagens de suas recordações, com fidelidade absoluta. Rememorou em que fora obrigado a castigar um jovem judeu desse nome, nas cercanias da cidade, remetendo-o às galeras como punição do seu ato irrefletido, e, recordando, igualmente, o instante em que um agricultor israelita fora reclamar a liberdade do prisioneiro, dando-o como seu filho. Experimentando um anseio vago no coração, exclamou intencionalmente:

— Saul? Não é um nome característico da Judeia?

— Sim — respondeu Flamínio com serenidade —, trata-se de um escravo liberto de minha casa. Era , ainda jovem, adquirido por Valério, no mercado, para as bigas dos meninos, ao ínfimo preço de quatro mil sestércios. Tão bem se houve, entretanto, nos afazeres que lhe eram comumente designados, que, após levantar vários prêmios com as suas proezas no Campo de Marte,  destinados aos meus filhos, resolvi conceder-lhe a liberdade, dotando-o com os recursos necessários para viver e promover empreendimentos de sua própria conta. E parece que a mão dos deuses o abençoou no momento preciso, porque Saul é hoje senhor de uma fortuna sólida, com o resultado do seu esforço e trabalho.

Públio Lêntulus silenciou, intimamente aliviado, pois o seu prisioneiro, segundo notícias recebidas pelos prepostos do governo provincial se havia evadido para o lar paterno, fugindo, desse modo, à escravidão humilhante.

 

As horas da noite iam já avançadas.

O visitante lembrou-se, então, de que esperava avistar-se com Flamínio para uma palestra substanciosa e longa, a respeito de múltiplos assuntos, como, por exemplo, a sua penosa situação conjugal, o desaparecimento misterioso do filhinho, o seu encontro com Jesus de Nazaret. Mas, observava que Flamínio estava exausto, sendo justo e necessário adiar suas confidências amargas e penosas.

Foi então que se retirou do aposento para aguardar o dia seguinte, cheio de esperanças consoladoras.

Os dois amigos trocaram longo e significativo olhar no instante daquelas despedidas, que agora pareciam comuns, como as afetuosas saudações diárias doutros tempos.

Confortadoras exortações e promessas amigas foram trocadas, entre expressões de fraternidade e carinho, antes que Calpúrnia reconduzisse as visitas ao vestíbulo, com a sua bondade generosa e acolhedora.

Todavia, nas primeiras horas da manhã seguinte, um mensageiro apressado parava à porta do palacete dos Lêntulus, com a notícia alarmante e dolorosa.

Flamínio Sevérus piorara inesperadamente, sem que os médicos dessem aos seus familiares a menor esperança. Todas as melhoras fictícias haviam desaparecido. Uma força inexplicável lhe desequilibrara a harmonia orgânica, sem que remédio algum lhe paralisasse as aflições angustiosas.

 

Dentro de poucas horas, Públio Lêntulus e os seus encontravam-se de novo na vivenda confortável dos amigos.

Enquanto penetra ele, ansioso, no quarto do velho companheiro de lutas terrestres, Lívia, na intimidade de um apartamento, dirige-se à Calpúrnia nestes termos:

— Minha amiga, já ouviste falar em Jesus de Nazaret?

A orgulhosa matrona, que não perdia a linha de suas vaidades em família, ainda nos momentos das mais angustiosas preocupações, arregalou os olhos, exclamando:

— Porque mo perguntas?

— Porque Jesus — respondeu Lívia, humildemente — é a misericórdia de todos os que sofrem e não posso esquecer-me da sua bondade, agora, que nos vemos em provações tão ásperas e tão dolorosas.

— Suponho, querida Lívia — redarguiu Calpúrnia, gravemente —, que esqueceste todas as recomendações que te fiz antes de partires para a Palestina, porque, pelas tuas advertências, estou deduzindo que aceitaste de boa fé as teorias absurdas da igualdade e da humildade, incompatíveis com as nossas tradições mais vulgares, deixando-te levar nas águas enganosas das crenças errôneas dos escravos.

 

— Mas, não é isso. Refiro-me à fé cristã, que nos anima nas lutas da existência e consola o coração atormentado nas provações mais ríspidas e mais amargosas…

— Essa crença está chegando agora à sede do Império e por sinal que tem encontrado a repulsa geral dos nossos homens mais sensatos e ilustres.

— Eu, porém, conheci Jesus de perto e a sua doutrina é de amor, de fraternidade e de perdão… Conhecendo os teus justos receios por Flamínio, lembrei-me de apelar para o profeta de Nazaret, que, na Galileia,  era a providência de todos os aflitos e de todos os sofredores!

— Ora, minha filha, sabes que a fraternidade e o perdão das faltas não se compadecem, de modo algum, com as nossas ideias de honra, de pátria e de família, e o que mais me admira é a facilidade com que Públio te permitiu tão íntimo contato com as concepções errôneas da Judeia,  a ponto de modificares tua personalidade moral, segundo me deixas entrever.

— Todavia…

 

Ia Lívia esclarecer, da melhor maneira, os seus pontos de vista, com respeito ao assunto, quando Agripa entrou inopinadamente no gabinete, exclamando com a mais forte emoção:

— Minha mãe, venha depressa, muito depressa!… Meu pai parece agonizante!…

Num átimo, ambas penetraram no aposento do moribundo, que tinha os olhos parados como se fora acometido, inesperadamente, de um delíquio irrefreável.

Públio Lêntulus guardava, entre as suas, as mãos do moribundo, mirando-lhe ansiosamente o fundo das pupilas.

Aos poucos, porém, o tórax de Flamínio parecia mover-se de novo aos impulsos de uma respiração profunda e dolorosa. Em seguida, os olhos revelaram forte clarão de vida e consciência, como se a lâmpada do cérebro se houvesse reacendido num movimento derradeiro. Contemplou, em torno, os familiares e amigos bem-amados, que se debruçavam sobre ele, inquietos e ansiosos. Um médico muito amigo, que o assistia invariavelmente, compreendendo a gravidade do momento, retirara-se para o átrio, enquanto em volta do agonizante somente se ouvia a respiração opressa dos nossos conhecidos destas páginas.

 

Flamínio passeou o olhar brilhante e indefinível por todos os rostos, como se procurasse, mais detidamente, a esposa e os filhos, exclamando em frases entrecortadas:

— Calpúrnia, estou… na hora extrema… e dou graças aos deuses… por sentir a consciência… desanuviada e tranquila… Esperar-te-ei na eternidade… um dia… quando Júpiter… houver por bem… chamar-te para meu lado…

A veneranda senhora ocultou o rosto nas mãos, dando expansão às lágrimas, sem conseguir articular palavra.

— Não chores… — continuou ele, como a aproveitar os momentos derradeiros —, a morte… é uma solução… quando a vida… já não tem mais remédio… para as nossas dores…

 

E olhando ambos os filhos, que o contemplavam com ansiedade, de olhos lacrimejantes, tomou a mão do mais moço, murmurando:

— Desejaria… meu Plínio… ver-te feliz… muito feliz… É intenção tua… desposares a filha de Sálvio?…

Plínio compreendeu as alusões paternas naquele momento grave e decisivo, fazendo um leve sinal negativo com a cabeça, ao mesmo tempo que fixava os olhos grandes e ardentes em Flávia Lentúlia, como a indicar ao pai a sua preferência.

O moribundo, por sua vez, com a profunda lucidez espiritual dos que se aproximam da morte, com plena consciência da situação e dos seus deveres, entendeu a atitude silenciosa do filho estremecido e, tomando a mão da jovem, que se inclinava afetuosamente sobre o seu peito, apertou as mãos de ambos de encontro ao coração, murmurando com íntima alegria:

— Isso é mais… uma razão… para que eu parta… tranquilo… Tu, Agripa… hás-de ser também… muito feliz… e tu… meu caro… Públio… — junto de Lívia… haverás de viver…

 

Todavia, um soluço mais forte escapara-se-lhe inopinadamente e a sucessão dos singultos violentos e dolorosos obrigou-o a calar-se, enquanto Calpúrnia se ajoelhava e lhe cobria as mãos de beijos…

Lívia, também genuflexa, olhava para o alto como se desejasse descobrir os seus arcanos. A seus olhos, apresentava-se aquela câmara mortuária repleta de vultos luminosos e de outras sombras indefiníveis, que deslizavam tranquilamente em torno do moribundo. Orou no imo d’alma, rogando a Jesus força e paz, luz e misericórdia para o grande amigo que partia. Nesse instante, lobrigou a radiosa figura de Simeão, rodeada de claridade azulada e resplandecente.

Flamínio agonizava…

À medida que transcorriam os minutos, os olhos se lhe tornavam vítreos e descoloridos. Todo o corpo transudava um suor abundante, que alagava o linho alvíssimo das cobertas.

 

Lívia notou que todas as sombras presentes se haviam também ajoelhado e somente o vulto imponente de Simeão ficara de pé, como se fora uma sentinela divina, colocando as mãos radiosas na fronte abatida do moribundo. Notou, então, que seus lábios se entreabriam para a oração, ao mesmo tempo que doces palavras lhe chegavam, nítidas, aos ouvidos espirituais:

— Pai Nosso que estás no Céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino de misericórdia e seja feita a vossa vontade, assim na Terra como nos Céus!… (Mt 6:9)

Nesse instante, Flamínio Sevérus deixava escapar o último suspiro. Marmórea palidez lhe cobriu os traços fisionômicos, ao mesmo tempo que uma infinda serenidade se estampava na sua máscara cadavérica, como se a alma generosa houvesse partido para a mansão dos bem-aventurados e dos justos.

 

Somente Lívia, com a sua crença e a sua fé, pôde conservar-se de ânimo sereno, entre quantos a rodeavam no doloroso transe. Públio Lêntulus, entre lágrimas comovedoras, certificava-se de haver perdido o melhor e o maior dos amigos. Nunca mais a voz de Flamínio lhe falaria das mais belas equações filosóficas, sobre os problemas grandiosos do destino e da dor, nas correntes intermináveis da vida. E, enquanto se abriam as portas do palácio para as homenagens da sociedade romana; e enquanto se celebravam solenes exéquias implorando a proteção dos do morto, seu coração de amigo considerava a realidade dolorosa de se haver rasgado, para sempre, uma das mais belas páginas afetivas, no livro da sua vida, dentro da escuridão espessa e impenetrável dos segredos de um túmulo.



mt 6:9
Justiça Divina

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 21
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

Reunião pública de 14-4-1961.

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É natural que consideres teu problema qual espinho terrível.

É justo reconheças tua prova por agonia do coração.

Ergues súplice olhar, no silêncio da prece, e relacionas mecanicamente aqueles que te feriram.

É como se conversasses intimamente com Deus, apresentando-lhe vasto balanço de amarguras e queixas…

E o Supremo Senhor cuidará realmente de ti, alentando-te o passo… Entretanto, é preciso não esquecer que ele cuidará igualmente dos outros.


Lança mais profundo olhar naqueles que te ofenderam, conforme acreditas, e compara as tuas vantagens com as deles.

Quase sempre, embora se entremostrem adornados de ouro e renome, nas galerias da evidência e da autoridade, são almas credoras de compaixão e de auxílio… Traíram-te a confiança, contudo, tombaram nas malhas de pavorosos enganos; humilharam-te impunemente, mas adquiriram remorsos para imenso trecho da vida; dilaceraram-te os ideais, entretanto, caíram no descrédito de si próprios; abandonaram-te com inexprimível ingratidão, todavia, desceram à animalidade e à loucura…

Não é possível que a Luz do Universo apenas te ampare, desprezando-os a eles que se encontram à margem de sofrimento maior.


Unge-te, assim, de paciência e compreensão para ajudar na Obra Divina, ajudando a ti mesmo.

Em qualquer apreciação, ao redor de alguém, recorda que o teu Criador é também o Criador dos que estão sendo julgados.

É por isso que Jesus, em nos ensinando a orar, revelou Deus como sendo o amor de todo amor, afirmando, simples: “Pai nosso, que estás nos céus…” (Mt 6:9)



mt 6:9
Luz e Vida

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 2
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

Procuraste a felicidade na Terra, através da fortuna, da autoridade, da fama, do prazer e não a encontraste.

Apesar disso, as tuas experiências, nesse sentido, não se perderam, porquanto, com elas, adquiriste mais amplos caminhos de compreensão e discernimento. E continuas a buscá-la, ardentemente.

Anseias conservá-la contigo e não explicas porquê…

Sabes que ela existe e não descobres onde…

Queres retê-la em teus passos e ignoras como…

Adivinhas que ela se te fará alegria para sempre e não consegues vê-la…

É que a felicidade real decorre da nossa união com Deus e embora não saibamos definir as nossas emoções mais profundas, todos sentimos sede de Deus, de modo a desvencilhar-nos de todas as inferioridades que ainda nos assinalam a existência, a fim de vivermos, em espírito e verdade, o ensinamento do Cristo, na oração dominical: — “Pai Nosso, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como nos Céus…” (Mt 6:9)

Em nossa rendição aos desígnios divinos, nas leis que nos regem, descortinaremos claramente a senda que nos conduzirá à felicidade autêntica, sonhada por nós, em nossas mais belas aspirações.



mt 6:9
Mãos Unidas

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 34
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

Quando nos reportamos à vontade de Deus, referimo-nos ao controle da Sabedoria Perfeita que nos rege os destinos. E, observando nossa condição de Espíritos eternos, acalentados pelo Infinito Amor da Criação, ser-nos-á sempre fácil reconhecer as determinações de Deus, em todos os eventos do caminho, a nosso respeito, já que a Divina Providência preceitua para cada um de nós:

   saúde e não doença;

   trabalho e não ócio;

   cultura e não ignorância;

   conciliação e não discórdia;

   paz e não desequilíbrio;

   tolerância e não intransigência;

   alegria e não tristeza;

   esperança e não desânimo;

   conformidade e não desespero;

   perdão e não ressentimento;

   êxito e não fracasso;

   prudência e não temeridade;

   coragem e não fraqueza;

   fé e não medo destrutivo;

   humildade e não subserviência;

   intercâmbio e não isolamento;

   disciplina e não desordem;

   progresso e não atraso;

   amor e não indiferença;

   vida e não morte.


Se dificuldades, sofrimentos, desacertos e atribulações nos agridem a estrada, são eles criações nossas, repercussões de nossos próprios atos de agora ou do passado, que precisamos desfazer ou vencer, a fim de nos ajustarmos à vontade de Deus, que nos deseja unicamente o Bem, a Felicidade e a Elevação no Melhor que sejamos capazes de receber dos patrimônios da vida, segundo as leis que asseguram a harmonia do Universo.

Eis porque Jesus, exaltando isso, nos ensinou-nos a reafirmar em oração: — “Pai nosso, que se faça a tua vontade, assim na Terra como nos Céus.” (Mt 6:9)




(Anuário Espírita 1971)


mt 6:9
Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo Mateus

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 133
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

“Pai nosso…” — JESUS (Mt 6:9)


A grandeza da prece dominical nunca será devidamente compreendida por nós que lhe recebemos as lições divinas. Cada palavra, dentro dela, tem a fulguração de sublime luz.

De início, o Mestre Divino lança-lhe os fundamentos em Deus, ensinando que o Supremo Doador da Vida deve constituir, para nós todos, o princípio e a finalidade de nossas tarefas.

É necessário começar e continuar em Deus, associando nossos impulsos ao plano divino, a fim de que nosso trabalho não se perca no movimento ruinoso ou inútil.

O Espírito Universal do Pai há de presidir-nos o mais humilde esforço, na ação de pensar e falar, ensinar e fazer.

Em seguida, com um simples pronome possessivo, o Mestre exalta a comunidade. Depois de Deus, a Humanidade será o tema fundamental de nossas vidas.

Compreenderemos as necessidades e as aflições, os males e as lutas de todos os que nos cercam ou estaremos segregados no egoísmo primitivista.

Todos os triunfos e fracassos que iluminam e obscurecem a Terra pertencem-nos, de algum modo.

Os soluços de um hemisfério repercutem no outro.

A dor do vizinho é uma advertência para a nossa casa.

O erro de um irmão, examinado nos fundamentos, é igualmente nosso, porque somos componentes imperfeitos de uma sociedade menos perfeita, gerando causas perigosas e, por isso, tragédias e falhas dos outros afetam-nos por dentro.

Quando entendemos semelhante realidade, o “império do eu” passa a incorporar-se por célula bendita à vida santificante.

Sem amor a Deus e à Humanidade, não estamos suficientemente seguros na oração.

Pai nosso… — disse Jesus para começar.

Pai do Universo… Nosso mundo…

Sem nos associarmos aos propósitos do Pai, na pequenina tarefa que nos foi permitido executar, nossa prece será, muitas vezes, simples repetição do “eu quero”, invariavelmente cheio de desejos, mas quase sempre vazio de sensatez e de amor.



mt 6:9
Palavras do Infinito

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 8
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

O nacionalismo diante da Lei — Céu e inferno — Reencontro dos entes queridos no Além — Reencarnação — O Espiritismo e outras religiões


UNIVERSO — OBJETIVAÇÃO DO PENSAMENTO DIVINO

Pedro Leopoldo, 21 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Numa das cartas enviadas a Chico Xavier, o missivista, considerando o conceito do nacionalismo em face das leis fraternas de que repetidamente fala Emmanuel, indaga:


— Se o nacionalismo multiplica as energias de um povo parece entretanto que vai de encontro à lei da fraternidade. Como deveremos entendê-lo?

DESEJOS E ENTUSIASMOS COMPREENSÍVEIS

Emmanuel assim responde a esse consulente:

“Compreendemos que se deva amar o pedaço de terra que nos viu nascer e compreendemos também o desejo de engrandecê-lo pelo trabalho, pela inteligência, pelo progresso, tornando-o digno da admiração dos outros. Aliás todas as concepções do verdadeiro patriotismo se enquadram no esforço de cada indivíduo em favor da evolução geral.

“Fazer porém a apologia desses movimentos nacionalistas que, a pretexto de unificação e energia administrativa, operam a revivescência das autocracias de outrora, incentivando as guerras, provocando revoltas, coibindo o pensamento, é desconhecer as leis da solidariedade humana. Aplaudir essas iniciativas que consideramos como atentatórias à lei fraterna que rege os mundos e as almas, seria cooperar para o desvirtuamento de todos os princípios da justiça e da ordem.


A MÍSTICA NACIONALISTA E O BEM COLETIVO

“Ninguém pode prever as consequências dessa mística nacionalista que, na atualidade, percorre o mundo de bandeirolas ao vento. Em todas as organizações políticas encontram-se concepções elevadas que interessam, de perto, a vida do Estado; mas todo e qualquer extremismo, dentro delas, é prejudicial ao bem coletivo.


O ISOLAMENTO DOS ESTADOS E O DESEQUILÍBRIO ECONÔMICO

“Cria-se a política dos governos fortes a fim de se incentivar as energias nacionais. Isola-se o Estado e, nesse isolamento, os grandes erros começam, porquanto os desequilíbrios econômicos são inevitáveis.

“Os homens não podem fugir aos dispositivos do código da fraternidade universal. Cada individualidade dá o que possui, no problema das possibilidades e das vocações, no edifício do progresso coletivo. Uma traz a ciência, outra a arte, outra uma nova modalidade evolutiva.


QUANDO OS PAÍSES LAVRAM A PRÓPRIA CONDENAÇÃO

“Dentro do mundo, são assim as nacionalidades, no tocante à produção. O que se faz necessário é regulamentar-se a troca dos produtos de cada uma. Ainda aí encontramos as lições de fraternidade da Natureza.

“Um país, pretendendo isolar-se no mundo, lavra a sua própria condenação.


O UNIVERSO É O PENSAMENTO DIVINO EM SUA EXPRESSÃO OBJETIVA

“Não vemos portanto nenhuma legitimidade nesse exclusivismo antifraterno. Fisicamente as nações representam somente o patrimônio da Humanidade. O universo é o Pensamento Divino em sua expressão objetiva. O plano de perfeição una absorve todas as coisas, impondo a lei de Fraternidade a todas as criaturas.

“O amor de Deus envolve a criação infinita. Para a sua misericórdia, portanto, um país não vale mais do que outro; e os homens, sejam europeus, africanos, hotentotes, todos são irmãos.


OBRAS PURAMENTE HUMANAS

“As rajadas de guerras, de nacionalismos incompreensíveis, são obras humanas envolvendo grandes e temíveis responsabilidades individuais e coletivas. Todavia, todos os feitos do homem na esfera da existência transitória são assinalados pelo seu caráter temporal. O que existe é a lei divina, é a alma imortal.


EVOLUÇÃO

“A evolução pode ser lenta, mas é segura; pode ser combatida, mas será aceita em tempo oportuno.

“A História é o vosso roteiro. Onde se encontram a Esparta e a Atenas de outrora? Que sopro destruidor pulverizou as esplendorosa civilizações que floresceram junto do Ganges, do Nilo, do Tigre, enchendo de vida as suas margens? Que força extra-humana soterrou a Roma poderosa da antiguidade, num aluvião de cinzas?… Onde se acham as suas galerias soberbas, cheias de patrícios e de escravos, as suas conquistas, os seus impérios faiscantes?…

“A mão do processo evolutivo, invisível e misteriosa, que estancou as lágrimas da plebe sofredora, subjugou os tiranos assinalando as suas frontes com o estigma da maldição dos séculos.


OS VENTOS DA NOITE SOBRE AS RUÍNAS…

“O progresso vem trabalhando com sacrifícios e sobre as ruínas do Coliseu  e de Spalato,  choram amargamente os ventos da noite.

“O poder de homem e de nações passa como a sua própria ação. Daí a necessidade da difusão do conceito imortalista da vida para que a humanidade concentre as suas possibilidades na aquisição dos tesouros espirituais, os únicos que se não dissipam no vórtice das mutações da matéria.


AS PROMESSAS DO ESPIRITUALISMO

“O moderno espiritualismo, explicando aos homens, em espírito e verdade, as lições trazidas ao mundo por Jesus, há de reparar os excessos do nacionalismo, integrando as criaturas no conhecimento das verdadeiras leis fraternas e extinguindo os ódios raciais que infelicitam a humanidade.”


Emmanuel

OS PRIMEIROS TEMPOS NO ALÉM, CÉU E INFERNO 

Como decorrem para o Espírito desencarnado os primeiros tempos no Além-Túmulo? Haverá um Céu e um inferno?

Assim respondeu Emmanuel:

“A vida do Espírito desencarnado nos primeiros tempos do “post mortem” reflete em geral as ações de sua existência terrena. Os que viveram mergulhados nos estudos dignificadores, encontrarão meios de desenvolvê-los dentro de sociedades esclarecidas que os acolhem, segundo os imperativos das afinidades espirituais.

“Os que viveram no mundo, divorciados da prática do bem, submersos nas satisfações viciosas, sofrem naturalmente a consequência dos seus desvios. As concepções de Céu e inferno estão pois simbolizadas no estado da consciência redimida no trabalho e na virtude ou escrava do vício e do pecado.”


Emmanuel

A SAGRADA ESPERANÇA

A seguir surge esta pergunta em que se sente todo o anseio da alma humana que a desdita fez ficar enlutada, na Terra:

Em desencarnando, encontra a alma os seres que amou e que partiram para o Além antes dela?

A resposta de Emmanuel, confortadora:

“Nem sempre encontramos, ao despertarmos na existência do Além, todos aqueles que participavam das nossas dores e júbilos da Terra. Alguns entes caros parecem apartados ainda de nós para sempre. Todavia todos nós encontramos dentro da misericórdia divina quem nos elucide e guie, caridosamente, no dédalo das incertezas e das dúvidas.

“Dia virá porém em que teremos a consoladora certeza de encontrar todos pelos laços do Amor; e essa certeza constitui grande felicidade para todos os Espíritos.”


Emmanuel

NÃO HÁ TEMPO DETERMINADO PARA O INTERVALO DAS REENCARNAÇÕES

Outra pergunta:

A reencarnação só se verifica depois de um determinado tempo de vida espiritual no Além?

Resposta:

“Não há tempo determinado no intervalo das reencarnações da alma. No espaço compreendido entre elas, o Espírito estuda, nos planos em que se encontra, as possibilidades do futuro, ampliando seus conhecimentos e adquirindo experiências a fim de triunfar nas provas necessárias.

“De um modo geral, são as próprias almas que se reconhecem necessitadas de luz e progresso e pedem o seu regresso ao Plano carnal. Contudo, em alguns casos como os de entidades cruéis, rebeldes e endurecidas, são os guias esclarecidos que se incumbem de lhes preparar a reencarnação amarga e penosa, mas necessária.”


Emmanuel

O SAGRADO PATRIMÔNIO DA VIDA

Os que se desencarnam no período infantil são Espíritos mais evoluídos, isentos de luta e provação na Terra?

A essa pergunta assim respondeu o guia:

“Alguns abandonam muito cedo o invólucro material, às vezes pelo motivo de serem obrigados somente a um pequeno resgate diante das leis que nos regem… Em sua generalidade, porém, esses acontecimentos estão enfeixados no quadro das provações precisas.

“Os suicidas, por exemplo, depois de se evadirem da oportunidade que lhes foi oferecida para o resgate do seu passado, estão muitas vezes sujeitos a essas penas. Querem viver na Terra novamente, tragar corajosamente o conteúdo amargo do cálice das expiações dos seus erros, porém as experiências costumam fracassar, a fim de compreenderem eles o quanto é sagrado o patrimônio da vida que nos foi concedido por Deus.”


Emmanuel

A REENCARNAÇÃO E AS DIVERGÊNCIAS ESPIRITUALISTAS

A seguir, o consulente fere este ponto de divergência das correntes espiritualistas:

Por que existem, dentro do próprio Espiritualismo, os que aceitam e os que negam a reencarnação?

Resposta:

“Semelhantes anomalias são devidas aos poderes de preconceitos prejudiciais e obcecantes.

“Muitos cérebros e muitas coletividades são, pelos Espíritos, encontrados já trabalhados por dogmas incompreensíveis, bastante cristalizados nas mentes.

“Nossa tarefa, então, para orientá-los e esclarecê-los no terreno das verdades transcendentais, é muito lenta, para que não percamos os benefícios já feitos.

“Não duvideis contudo de que em futuro próximo alcançaremos a unidade das teorias do espiritualismo hodierno.”


Emmanuel

Outra pergunta sobre a reencarnação:


Sempre existiu no mundo a ideia da reencarnação?

Resposta:

“A ideia da reencarnação vem das mais remotas civilizações e só ela pode dar ao homem a solução dos problemas do destino e da dor. Todos os grandes filósofos dos tempos antigos a aceitavam e só nos últimos séculos a verdade da preexistência das almas foi obscurecida pelos argumentos sub-reptícios de quantos desejam conciliar inutilmente os interesses de ordem divina com as coisas passageiras do egoísmo do mundo.”


Emmanuel

O ESPIRITISMO E AS OUTRAS RELIGIÕES

A última pergunta do gênero respondida por Emmanuel foi a seguinte:

Qual o papel do Espiritismo diante das outras religiões?

Eis o que disse o guia:

“O Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus aos homens, o qual deveria aparecer quando a humanidade estivesse apta a compreender o seu ensinamento velado nas parábolas.

“Ele não vem destruir as religiões, mas uni-las e fortificá-las, desviando-as das concepções dogmáticas que foram impostas pelo interesse e a ambição propriamente humanos.

“Infelizmente, apesar de sua pureza, a consoladora Doutrina dos Espíritos tem sido muitas vezes objeto de exploração criminosa daqueles que não respeitam os seus princípios austeros e moralizadores. Cada um, porém, receberá segundo as suas obras; e nenhuma influência humana poderá impedir a sua evolução no seio da humanidade.”


Emmanuel


(Recebida em Pedro Leopoldo a 27 de junho de 1935)


[O 1º item dessa mensagem corresponde ao 43º capítulo do livro “”]


[Os itens 2 a 8 dessa mensagem correspondem ao 45º capítulo do livro “”]


mt 6:9
Perante Jesus

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 16
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

Quem encontra a Paternidade Divina no mundo, respeita as injunções da consanguinidade, mas não se agarra ao cativeiro da parentela.

Honra pai e mãe, realmente; todavia, sabe considerar que o amor pode auxiliar, fazer, aprender e sublimar-se sem prender-se.

O Espírito que penetrou semelhante domínio da compreensão reconhece por família maior, a Humanidade inteira, encontrando o Lar em toda parte, as surpresas da vida em todos os ângulos do caminho, o interesse iluminativo em todas as facetas da jornada, o serviço em todas as linhas de atividade, o dever em todas as partículas do tempo, a bênção do Céu em todos os caminhos da Terra, o amor em todos os seres, a alegria de auxiliar em todos os instantes da luta e segue, existência afora, de alma aberta ao trabalho santificante, respirando a independência construtiva, livre, [ainda mesmo quando escravo de pesadas obrigações, feliz,] ainda mesmo quando o corpo se lhe cubra de chagas sanguinolentas, e, sereno, ainda mesmo quando a tempestade o convoque ao terror e à perturbação…


É que, quando a alma descobre a Paternidade Celeste, embora ligada aos impositivos da carne, sabe sofrer e agir, crescer e elevar-se, operando nas zonas inferiores do Planeta, mas de sentimento centralizado no Alto, a repetir invariavelmente com Jesus Cristo: — “Pai Nosso que estás nos Céus…” (Mt 6:9)




Essa mensagem, diferindo nas palavras marcadas e [entre colchetes] foi publicada em junho de 1954 pela FEB no Reformador e é também a 137ª lição do 1º volume do  livro “”


mt 6:9
Renúncia

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 6
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

Susana Davenport ainda viveu pouco mais de dois anos, após a morte de Robbie. A filha de Madalena passou todo esse tempo em largos sacrifícios domésticos, exemplificando o amor mais puro. A genitora de Beatriz teve agonia prolongada, recuperando a razão nas derradeiras horas. Olhos fixos na filha, tomou-lhe a mão e colocou-a nas mãos de Alcíone, dando a entender que a filhinha, em tempo algum, deveria esquecer de tomar a irmã como um símbolo.

Alcíone descansava agora de uma luta imensa, mas, afeita ao trabalho desde os mais tenros anos, chegava a estranhar o repouso.


O próximo casamento de Beatriz, com os numerosos trabalhos consequentes, foi por ela encarado como um alívio à solidão que começava a experimentar. Todas as horas do dia, em carinhosa dedicação, eram consagradas ao bordado e à costura, surpreendendo a irmã pelo gosto artístico e habilidade, em cada detalhe do serviço. Beatriz não conseguia eximir-se ao peso das recordações dolorosas, mas o consórcio com o homem amado revigorava-lhe as esperanças. O palacete da Cité, sempre envolvido num manto de saudades, dava a impressão de jardim abandonado que começasse a reflorir. Os servos evitavam referências à morte dos antigos senhores, para que os rebentos de alegria nova não fossem arrancados. Se acaso via a irmã entristecida, Alcíone fazia questão de tanger as teclas de assunto confortador, para que a moça não se entregasse à tristeza e ao mal-estar. O culto doméstico do Evangelho foi restaurado. O próprio Henrique de Saint-Pierre associou-se ao movimento, partilhando das reflexões religiosas com muita satisfação. A inspiração da filha de Madalena causava-lhe surpresa cariciosa. Sua palavra penetrava problemas complexos da existência, como se já tivesse vivido numerosos séculos em contato com os homens. Para Henrique, tais reuniões tinham caráter providencial. Indiretamente, a irmã de sua noiva, sem qualquer intenção, preparava-lhe o espírito para as tarefas sagradas do lar, para os benefícios do casamento. O rapaz começou por abandonar as companhias perigosas que, não raro, tendiam a comprometer-lhe o nome e a saúde; a vida revelou-lhe profundos segredos, seu coração parecia agora aberto para o orvalho divino do sentimento superior. Incansável no trabalho, Alcíone estendeu o culto dominical aos serviçais numerosos. Todos puderam participar das bênçãos de Jesus, no vasto salão que Beatriz mandou preparar jubilosamente. O movimento familiar continuava em santas vibrações de fraternidade e alegria. A moça Vilamil organizou hinos de carinhosa devoção a Deus, que as crianças dos servidores entoavam, com encanto singular. O cravo parecia falar harmoniosamente da fé, sob a pressão dos seus dedos. A filha de Susana não cabia em si de contente. A grande residência de Cirilo perdeu o aspecto sombrio, adquirido em todo o curso da moléstia da viúva Davenport. Júbilo sadio estabelecera-se entre todos. Quando alguém demonstrava indisposições súbitas, recordava-se o ensinamento do Cristo e o culto doméstico ia ganhando todos os corações.


O enlace de Beatriz e Saint-Pierre realizou-se com muita simplicidade, e concorrência, apenas, das relações mais íntimas.

Alcíone acompanhou satisfeita todos os trâmites do auspicioso evento, mas, em seguida, entrou num período de grande abatimento, do qual apenas saía nas horas rápidas do culto familiar. A filha de Madalena não conseguia furtar-se à saudade dos seus inesquecíveis ausentes e, simultaneamente, experimentava a falta do trabalho ativo, que se tornara a incessante religião dos seus braços fraternos.

A irmã impressionou-se. Que fazer para arrancá-la daquela melancolia que a empolgava devagarinho? Ela esquivava-se às festas sociais, não tinha inclinação para os prazeres do seu tempo. Tendo passado dos trinta anos, seus traços fisionômicos conservavam a beleza da primeira juventude, revelando, ao mesmo tempo, a madureza do espírito. Beatriz começou a pensar, seriamente, em inclinar-lhe a alma sensível e afetuosa para um casamento feliz. Dominada por esses pensamentos, a esposa de Saint-Pierre aproximou-se certo dia da irmã e lhe disse, com bondade:

— Tenho andado bastante cuidadosa de ti e preciso cooperar para que a tristeza seja banida do teu coração e dos teus olhos!…

— Por que te afligires, minha querida? O repouso involuntário de nossas mãos costuma agravar o esforço dos pensamentos. Não estou acabrunhada, podes crer. Tenho meditado um pouco mais e essa circunstância te induz a perceber mágoas imaginárias em meu espírito.


Beatriz abraçou-a com enternecimento e falou:

— O coração me diz que não estou enganada. Consomes-te a olhos vistos. Por vezes, Alcíone, quando em passeio com Henrique, não posso evitar que meu júbilo se misture ao remorso…

— Mas, como assim, querida?

— Não me conformo em ser feliz só por mim, quando mereces as bênçãos do Céu, muito mais que eu.

Depois de ligeira pausa, a filha de Susana continuava:

— Quem sabe desejarias fazer alguma viagem que te distraísse? Essa providência seria mais que justa, após tantos anos de luta e sacrifício. Quando não quisesses ir a país estrangeiro, poderias descansar em alguma praia e fortalecer-te em contato direto com a Natureza.

— Mas, se eu estou muito bem e nada me falta?


Beatriz contemplou-a, com mais carinho, e, quase suplicante, tornou a dizer:

— Alcíone, desejava lembrar uma possibilidade, pelo que espero me perdões com a tua generosidade fraternal…

A irmã comoveu-se com o acento caricioso daquelas palavras e obtemperou:

— Dize sem receio. De que se trata?

— Tenho pedido a Deus, ansiosamente, me conceda a alegria de ver-te formando igualmente um lar, onde um esposo fiel ilumine a tua estrada com as bênçãos de uma ventura sem fim. Se te pudesse ver amada por um homem leal e puro, cercada pela ventura de filhinhos carinhosos, como seria feliz!… Dá-me a satisfação de te auxiliar a refletir nesse particular…


Beatriz notou que a irmã fazia enorme esforço para reter as lágrimas. Adivinhando o seu embaraço para responder, a esposa de Henrique ganhava ânimo para prosseguir:

— Eu e meu marido vimos pensando na colônia distante, onde os nossos bens materiais são consideráveis. Henrique vem ultimando alguns negócios e creio que, daqui a alguns meses, tomaremos a nova decisão. Meus tios insistem pelo meu regresso e, além deles, temos na América velhos amigos de meu pai a nos esperarem de braços abertos. Claro que não dispensamos tua companhia e peço-te permissão para ir meditando, desde já, na tua felicidade futura. Na minha terra natal, encontrarás relações carinhosas e devotadas, e — quem sabe? — talvez Jesus te reserve por lá um esposo fiel e cristão, que faça por ti tudo que te desejamos de coração.


Alcíone comoveu-se profundamente. O terno respeito de Beatriz, a delicadeza da sua exposição, penetraram-lhe o espírito como um bálsamo celestial. Demonstrando o interesse de sua dedicação fraterna, respondeu reconhecidamente:

— E se te dissesse que tenho meu coração prisioneiro, desde a primeira mocidade?

A esposa de Saint-Pierre, com um franco sorriso, revelava o prazer que a declaração lhe causava. Se a filha de Madalena Vilamil já havia elegido o homem do seu afeto, não lhe seria difícil contribuir eficazmente para a sua ventura. Ansiosa e confortada, Beatriz insistia de olhos muito brilhantes:

— Ah! conta-me tudo! Certo, o feliz eleito de tua alma não estará aqui em Paris. Quem sabe é algum gentil-homem espanhol, a esperar tua resolução há longo tempo?


Reconhecendo a sinceridade da irmã, Alcíone passou a historiar a sua juventude, recordando a figura de Clenaghan com a vivacidade dos seus imensos tesouros afetivos. Longas horas estiveram ambas no divã, desfiando o rosário das lembranças queridas. A filha de Susana seguia as palavras da irmã, demonstrando enorme estupefação, pela sua capacidade de sacrifício. Alcíone crescia espiritualmente, cada vez mais, no seu conceito. Ao terminar o relato de suas agridoces reminiscências, a jovem esclarecia:

— Quando nos encontramos pela última vez, aqui em Paris, notei que ele não podia compreender os meus deveres filiais. Estava taciturno, talvez irritado com as lutas da sorte. Não podia ver em mim senão a noiva que lhe atendesse ao ideal humano, mas eu ainda retinha comigo deveres sagrados para com meus pais, e não pude acompanhá-lo de volta a Castela.  Ele não se despediu de mim, mas o fez de mamãe, antes de se pôr a caminho do Havre; e mamãe sempre dizia que o notara bastante transformado, suspeitoso e desesperado. Sofri com isso muito mais do que se pode imaginar, mas entreguei a Jesus as minhas mágoas íntimas. Lembro-me, perfeitamente, de que, impossibilitada de lhe revelar o que ocorria entre minha mãe e meu pai, que o destino havia separado, prometi que o procuraria a qualquer tempo que as circunstâncias permitissem…


— E não terá soado essa hora de conciliação? — interrogou Beatriz ansiosa por lhe renovar o bom ânimo.

— Tenho pensado nisso, sinceramente, nestas últimas semanas — confessou a filha de Madalena, prazerosa por sentir-se compreendida. — Estou certa de que Carlos confia na minha sinceridade e não terá desposado outra mulher. Nesta fase de minha vida, talvez lhe possa ser útil, poderia concorrer para seu retorno à vida religiosa, embora sem esperança de reintegrá-lo no ministério sacerdotal.

— Que dizes? — murmurou a esposa de Saint-Pierre com infinito carinho. — Não penses obrigá-lo a retomar um serviço contrário à sua vocação. Teu coração e o do homem amado têm direito ao banquete da vida. Hás de casar-te e conhecer a felicidade que parecia remota e irrealizável. Quero beijar teus filhinhos, num futuro risonho.


O semblante de Alcíone iluminou-se, mostrando a beleza do seu mais secreto ideal de mulher. Ruborizada e quase feliz, perguntou:

— Supões, acaso, Beatriz, que Deus ainda me concederá semelhante felicidade?

— Por que não? — voltou a dizer a interlocutora com sereno otimismo. — Estás moça e bela, como aos vinte anos. É preciso cuidarmos imediatamente do contato com Ávila.

A filha de Madalena dirigiu à irmã um olhar significativo e indagou:

— Estarias de acordo que eu fosse até lá? Tenho desejado surpreender Carlos com o exato cumprimento de minha palavra.

— Sem dúvida — respondeu Beatriz bem humorada, ao perceber que novas esperanças brotavam daquela alma generosa e santificada —; se fosse possível, acompanhar-te-ia. Creio não ser possível, mas tudo se arranjará de maneira a visitares Castela-a-Velha,  na primeira oportunidade.

— Irei sozinha — esclareceu Alcíone, de olhos vivazes.


No dia seguinte, ao almoço, Henrique de Saint-Pierre partilhava do entusiasmo de ambas.

— Beatriz me fez ciente de tuas intenções — disse-lhe em tom fraternal — e podes crer que já estou à espera de Clenaghan, com justa ansiedade. Preciso de um companheiro para o desdobramento de nossos negócios. Claro que não necessitamos de capital, mas sim de um auxiliar operoso e leal, que nos ajude a zelar o patrimônio adquirido. Sinto que teu futuro esposo solucionará o nosso problema.

— Ah! sim — respondeu Alcíone risonha — Carlos é um homem honesto e trabalhador. É verdade que faltou ao compromisso sacerdotal, falta essa que não pude aprovar, desde os primeiros tempos em que a decisão não passava de projeto; mas nada se poderá dizer contra a sua lealdade. É portador de caráter nobre e de valorosos sentimentos.

— Para nós, será um irmão — disse Beatriz satisfeita.

— Certamente — continuou Saint-Pierre atencioso — já se entenderam sobre a nossa transferência para o Novo Mundo?

— Sim — acentuou a filha de Madalena, confortada.

— Pois bem — prosseguiu o novo chefe da casa —, Clenaghan irá conosco, como pessoa da família. Quanto a ti, Alcíone, conheço o plano de viagem à Espanha, onde cuidarás da agradável surpresa ao teu escolhido. Quisera seguir-te e mais a Beatriz, mas negócios urgentes impedem faze-lo. Poderei, no entanto, mandar um empregado ao Havre, a fim de conhecermos o movimento das embarcações mais seguras. Se queres, poderei designar alguém que te acompanhe na viagem tão longa…


Sinceramente reconhecida, a moça obtemperou:

— Não há necessidade, Henrique. Poderei seguir só, visto conhecer o caminho Além disso, Ávila é como se fosse minha segunda pátria. Tenho lá inúmeras amizades.

— Não temos qualquer objeção a fazer. Apenas formulo votos ao Céu para que a tua ventura se processe rapidamente. Dirás a Carlos Clenaghan que o esperamos nesta casa, com interesse e simpatia. Para mim, Alcíone — acrescentava Saint-Pierre comovidamente —, nunca foste a governanta de Beatriz, mas nossa irmã muito amada, pelos laços sacrossantos do espírito. O companheiro de tua escolha será pessoa sagrada aos nossos olhos. Em chegando a Ávila, anima-o a vir em tua companhia, com presteza. Esperaremos tua volta, para então marcar a viagem para a colônia.

Alcíone não sabia como traduzir sua gratidão. Em frases carinhosas, manifestou o sincero agradecimento d’alma, ficando ali mesmo aprazada a viagem à Espanha.


Precisamente daí a um mês, Beatriz e o esposo acompanhavam a irmã até o Havre, onde Alcíone, corajosamente, tomou a embarcação que a levaria ao porto de Vigo.

Após as despedidas, quando o navio se afastava da costa francesa, levado por ventos favoráveis, a filha de Madalena encontrou-se à sós com as suas profundas recordações. As figuras da genitora, de Robbie e padre Damiano apresentavam-se-lhe à mente, mais vivas que nunca. Era necessário muita energia para não cair em pranto, em face da saudade que lhe pungia o coração. Aqui, era um detalhe do mar, que havia impressionado o irmão adotivo; acolá, um aspecto da costa que provocara certas explicações do velho sacerdote. Recolhida em sentimentos carinhosos, a filha de Cirilo desembarcou em terra espanhola, com o peito oprimido de infinitas esperanças. Nunca mais tivera notícias de Clenaghan, era bem possível que não mais estivesse em Castela-a-Velha; no entanto, suas relações de Ávila não faltariam com os informes precisos.


A condução para a cidade da sua meninice não foi difícil. Em poucos dias, chegava ao seu destino. Embora provocasse a estranheza de muitos o fato de encontrar-se desacompanhada, Alcíone mostrava a atitude superior aos olhares curiosos que pareciam interrogá-la. Não encontrou qualquer diferença na paisagem. O berço de Teresa de Jesus repousava na terra pobre, cioso de suas velhas tradições.

Às dez horas do dia, dava entrada em humilde hotel, naturalmente fatigada e deliberou não procurar as amizades antigas, até que se alojasse convenientemente, de maneira a não se tornar pesada a ninguém, pela sua chegada imprevista. Identificou, de pronto, velhos conhecidos da mocidade, a quem, entretanto, não se revelou por não haver bastante intimidade. Depois de refeita da fadiga imensa, chamou um pequeno servidor da hospedaria, perguntando-lhe um tanto acanhada:

— Meu amiguinho, você poderá informar-me se reside aqui, em Ávila, um senhor chamado Carlos Clenaghan?

Após refletir um momento, o rapazote esclarecia:

— Sim, senhorita, conheço.

A viajante verificou que o coração lhe palpitava com mais força.

— Sabe se é de origem irlandesa, domiciliado em Castela há alguns anos? — voltou a interrogar atenciosamente.

— Sim, é isso mesmo e sei mais que foi padre, noutro tempo. Hoje é comerciante abastado.


Alcíone ouviu-o comovida. Não podia enganar-se. Pensou, então, em surpreender o espírito do amado em intimidade cariciosa. Convidá-lo-ia, por um bilhete, a comparecer, à tarde, junto à nave da igreja de São Vicente. Encontrar-se-iam na casa consagrada a Deus, onde tantas vezes haviam tecido muitas redes de sonhos e esperanças, sempre desfeitos pelo vendaval das realidades dolorosas. Agora, porém, era lícito tratar do seu porvir venturoso. Escrever-lhe-ia sem se dar a conhecer no bilhete, declarando-se chegada de Paris, com notícias alvissareiras para o seu coração. Quando chegasse ao velho templo, vê-la-ia então, compreenderia a sua fidelidade e devotamento. Logo após o reencontro, visitariam juntos as antigas relações afetuosas, buscariam rever o sítio de sua infância, bem como a casa modesta em que sua mãe trabalhara tantos anos, curtindo as maiores privações.

Assim procedeu embalada por santas expectativas do amor desvelado e confiante.


O rapaz que a esclarecera, longe de adivinhar o romance da nova hóspede, foi emissário da breve notícia ao ex-religioso, que leu o bilhete assaz intrigado. Carlos identificaria aquela letra, entre mil manuscritos diversos. Mas era impossível, em seu modo de ver, que Alcíone estivesse na cidade. A autora da grafia, por mera coincidência, deveria ter o mesmo tipo de letra, que jamais conseguira esquecer, no círculo das experiências pessoais. Não conseguia concatenar outras explicações. Curiosidade febril avassalava-lhe a alma. Que notícias de Parias poderiam ser enviadas ao seu coração? De há muito considerava Alcíone perdida, no capítulo das suas aspirações mais sagradas. Dela não deveria esperar qualquer mensagem. Todavia, dilatando as ponderações, começou a imaginar que se tratasse de algum recado de Madalena Vilamil ou de Robbie, amigos dos quais não tinha notícias, desde que regressara da França, onde fora na suposição de encontrar a noiva conformada aos seus caprichos de homem apaixonado. Presa de intensa sofreguidão, aguardou o crepúsculo ansiosamente.


Antes do entardecer, Alcíone dirigiu-se ao velho templo  que constituía um centro de lembranças sagradas ao seu espírito sensível. Ajoelhou-se e orou à frente dos nichos, recordando, a cada passo, o velho sacerdote a quem consagrara o devotamento de filha afetuosa.

Olhar indagador, de quando em quando perscrutava o caminho, a ver se Clenaghan atendia ao convite.

Por fim, quando o céu desmaiava aos derradeiros clarões crepusculares, um homem surgiu no adro,  fazendo-lhe o coração vibrar em ritmo acelerado.

O sobrinho do padre Damiano aproximava-se. Alcíone notou-o um tanto abatido, parecendo cansado das lutas da vida. Intenso desejo de proporcionar-lhe consolação e conforto aflorou-lhe n’alma sensível.

Prestes a atravessar a portaria primorosa, o ex-religioso viu que alguém avançava ao seu encontro.

— Carlos!… Carlos… — disse a filha de Madalena com infinita emoção.


O recém-chegado estacou tomado de assombro. Enorme palidez cobriu-lhe a fisionomia, quis prosseguir, mas as pernas trêmulas paralisavam-lhe o impulso. A inesperada presença de Alcíone enchia-o de profunda admiração. Debalde procurava palavras com que pintasse o estado de espírito, em que o júbilo se confundia com a dor. A filha de Cirilo tomou-lhe a mão e falou com meiguice:

— Não me reconheces? Venho cumprir minha promessa.

— Alcíone!… — conseguiu dizer o interlocutor num misto de sentimentos indefiníveis.

Um abraço carinhoso seguiu-se a essas palavras. Compreendendo-lhe a perturbação natural, a moça procurou confortá-lo:

— Ah! se eu soubesse, antes, que te causaria este forte abalo, não teria feito esta surpresa!… Perdoa-me…


Carlos se debatia intimamente entre ideias antagônicas. Diante dele estava a mulher amada, que as lutas da existência não fizeram esquecer. Alcíone era sempre o seu maravilhoso e único ideal. As experiências vividas, longe da sua dedicação e dos seus conselhos, eram provas amargas que, aos poucos, lhe atassalhavam o coração repleto de santas esperanças. Mas, simultaneamente, com estranheza a atitude da jovem em Paris, quando não pudera apreender todo o motivo das suas elevadas preocupações filiais. No seu conceito, a eleita trocara o seu amor pelos atrativos do mundo. Jamais conseguira olvidar aquele palacete da Cité, onde a moça havia penetrado intimamente apoiada ao braço de um homem.

Mal se desembaraçava no meandro dessas reflexões, quando a interlocutora voltou a dizer:

— Vamos respirar o ar fresco da noite que desce. Deus me concede a dita de reatar os inefáveis colóquios de outros tempos, neste mesmo ambiente das nossas primeiras emoções.


O ex-sacerdote acompanhou-a maquinalmente. Antigo banco de pedra parecia esperá-los para a revivescência dos mesmos idílios.

Clenaghan perguntou pelos amigos, recebendo com dolorosa surpresa a notícia da morte de Madalena e Robbie, impressionando-se vivamente com a descrição do desastre que vitimara o músico Alcíone o embevecia com os comentários criteriosos quanto emotivos. Tudo, na sua elocução vibrante, ressumava amor e devotamento. Ele a contemplava com paixão, dando mostras de que esperava, ansiosamente, aquele bálsamo divino que lhe manava dos lábios. Em dado instante, respondendo a uma observação que ela lhe fazia com mais carinho, o ex-sacerdote acentuou:

— Nunca pude forrar-me à magoa que a tua atitude me causou. Senti que me tratavas friamente.

— Naquela ocasião, Carlos, Jesus me pedia testemunhos de filha, aos quais não poderia fugir senão pelos atalhos escusos da crueldade.

Ignorando ainda toda a extensão dos sacrifícios da eleita de sua alma, o pupilo de Damiano objetou:

— Mas, se me oferecia para trazer tua mãe e Robbie em nossa companhia? Poderíamos ter sido infinitamente felizes se a isso não te opusesses…


A tonalidade impressa a essas palavras fez que a interlocutora enrubescesse, calando-se.

— Que fazias, naquele palacete da Cité? Por que saías de casa a pé e ias tomar um carro discretamente? Ignoras que te segui os passos sem que me visses e que observei o homem que te abraçou, no portão, quando lá chegavas sorridente? Ah! Alcíone, não podes compreender todo o veneno que me lançaste n’alma confiante. Jamais poderia imaginar que Paris te transformasse o espírito, a ponto de olvidar nossos compromissos e contrariar tua mãe enferma, cuja evidente preocupação era abandonar a capital francesa para voltar à vida simples de Ávila, onde havíamos afagado tantas esperanças e sido tão felizes!…

A moça, depois de prestar muita atenção aos seus gestos e palavras, sentenciou:

— Não devias ter ido tão longe no teu julgamento. Agora que nos reencontramos para nos compreendermos de uma vez para sempre, devo tudo dizer com franqueza. Sabes quem era aquele homem que me recebeu de braços abertos, naquela manhã?

Deteve-se ante a muda expectação do companheiro e prosseguiu:

— Aquele homem era meu pai!…

— Teu pai! — exclamou Clenaghan aterrado.


E ela pausadamente começou a relatar todos os acontecimentos de Paris, a partir do instante em que a enfermidade do padre Damiano lhe impusera desdobrar-se em tarefas mais práticas. À medida que se desdobravam as revelações, o rosto de Carlos mais se anuviava. O ex-sacerdote sempre reconhecera na jovem as qualidades mais primorosas, mas não e nunca a supusera capaz de tamanha renúncia. Extremamente comovida com a evocação de suas reminiscências dolorosas, Alcíone rematava:

— Não acreditas que tenha cumprido meu dever sagrado? Não admitas que meu coração pudesse haver esquecido a tua dedicação e o teu amor. Desde o nosso primeiro encontro venho arquitetando um meio de enriquecer-te a alma de idealismo e confiança. Sempre sonhei, para o teu caminho, um mundo de felicidades nobilitantes. Antigamente, tuas obrigações sacerdotais impuseram-nos a separação; mesmo assim, porém, vibrava na ansiedade ardente de embelezar teu roteiro de nobres aspirações. Lutei para que não abandonasses o que sempre considerei uma sublime tarefa; entretanto, hoje busco harmonizar minhas ideias com a tua decisão e sinto que a consciência pura é o melhor dote que te posso trazer para a nossa eterna aliança…


Ouvindo-a, generosa e confiante, Carlos Clenaghan sentia-se pequenino e miserável.

— Perdoa-me!… — disse, banhado em lágrimas de sincera compunção.

— Compreender-te-ei agora por toda a vida — esclarecia Alcíone de olhar muito lúcido —, mas… por que choras? Temos ainda numerosas oportunidades de servir a Deus e a nós mesmos. Prometi que te procuraria logo que Jesus me permitisse o júbilo do dever cumprido e aqui estou para cuidar da tua, da nossa felicidade. Creio que não tens qualquer necessidade material, mas o marido de minha irmã, que, aliás, desconhece o passado que te confiei em caráter confidencial, põe à tua disposição bastos recursos para grande prosperidade na América. Se quisesses, poderíamos partir talvez no ano próximo, recomeçando o destino numa terra nova. Lembro que minha mãe sempre suspirou pelo Novo Mundo… Quem sabe sua alma bondosa me inspira, agora, o caminho mais certo, acenando-nos com a possibilidade de partir?!… Henrique de Saint-Pierre espera-te como a um irmão. Além disso, tenho também regular pecúlio que deposito em tuas mãos. Não tenho outra preocupação direta, presentemente, a não ser tu mesmo!…


E observando que o moço mantinha-se calado, em pranto, prosseguia com solicitude:

— Releva-me se te falo assim abertamente. A confiança de um coração não pode morrer. Dize-me, pois, se queres partir, para tentar vida nova sob as bênçãos de Deus. Estou certa de que viveremos felizes, em perpétua e santa união…

— Não posso! — sussurrou Clenaghan lastimosamente.

— Por quê? — indagou Alcíone plenamente confiante.

Ele esboçou um gesto tímido, revelando a vergonha que o assomava e explicou com indizível tristeza:

— Estou casado há mais de dois anos.


A moça sentiu que o sangue lhe gelava nas veias. Jamais pudera admitir que o dileto do seu coração fosse capaz de olvidar antigos juramentos. O inopinado da revelação esmagava-lhe a alma toda. Lágrimas ardentes, arrancadas do íntimo, afloravam-lhe aos olhos, mas, na meia sombra da noite, buscava dissimulá-las cuidadosamente.

Vendo que tardava em manifestar-se, Clenaghan apertou-lhe a mão e perguntou com a delicadeza de uma criança:

— Poderás perdoar-me outra vez?

A filha de Madalena recuperou as energias íntimas e falou com serenidade:

— Não te preocupes comigo, Carlos. Reconheço, agora, que a vontade de Deus é outra, a nosso respeito. Não chores nem sofras.

Extremamente comovido com aquela prova de humildade e renúncia, o ex-sacerdote ponderou:

— Sou casado, Alcíone, mas não feliz… Nunca pude esquecer-te. Certamente, Deus nos criou para a união eterna. Cada coisa do lar, cada pormenor da vida doméstica lembra-me teus sentimentos nobres, porquanto minha mulher não pode substituir-te.

— Sim — disse a moça com desvelado carinho —, também creio que há um casamento de almas, que nada poderá destruir. Este deve ser o nosso caso. O mundo nos separa, mas o Altíssimo nos reservará a aliança eterna do Céu.


O pupilo de Damiano tinha o peito oprimido por indefinível angústia. Coração prisioneiro das indecisões de quantos se afastam do dever divino, voltou a dizer:

— Quem sabe, Alcíone, poderíamos repudiar as algemas terrestres e construir nossa felicidade longe daqui?… Minha mulher e eu vivemos em rixas constantes, atravesso a vida sem paz, sem uma dedicação verdadeiramente sincera. Estou pronto a seguir-te, desde que aproves este recurso extremo, em detrimento de meus compromissos atuais.

— Isso nunca! — exclamou a filha de Madalena com bondade enérgica — amemos os trabalhos de nossa estrada, por mais duros que nos pareçam. Jamais construiríamos um ninho de ventura e de paz na árvore do crime. Deus nos dará coragem nesta fase difícil. A existência na Terra não constitui a vida em sua expressão de eternidade. Quando o Senhor desatar os laços a que te prendeste num impulso muito natural e humano, encontrarás de novo meu coração… A esperança é invencível, Carlos. Toda inquietação, toda amargura, chegam e passam. A alegria e a confiança no porvir eterno permanecem. São bens do patrimônio divino no plano universal…


Ouvindo-lhe os conceitos profundos oriundos da fé poderosa que lhe caracterizava o Espírito, Clenaghan chorava num labirinto de remorso e sofrimento.

— Se for possível — prosseguia a moça com generosidade — desejaria conhecer tua companheira de lutas. Talvez pudesse incliná-la a melhor compreensão das tuas necessidades. As vezes, basta uma simples conversação para renovar a opinião de uma criatura. Não crês que eu possa contribuir, de algum modo, em teu favor, com semelhante aproximação?

O infortunoso Carlos sentia-se comovido nas fibras mais íntimas, com o delicado oferecimento, redarguindo em tom melancólico:

— Quitéria não é digna dessa esmola da tua bondade. Basta dizer-te que, conhecendo a ligação afetiva existente entre nós, pelas minhas sucessivas referências e por informações de antigas amizades nossas, em Ávila, sempre alude à tua pessoa com laivos de ironia e rancor.


A filha de Cirilo entrou em silenciosa meditação. O destino não lhe permitia nem mesmo aproximar-se do lar edificado pelo eleito de sua alma. Sua afetividade, bem como o espírito de renúncia não poderiam ser compreendidos. Restava-lhe regressar à casa de Beatriz, conformar-se com a nova situação e esperar por Clenaghan num outro mundo, aonde fosse conduzida pela mão da morte. Longa pausa estabelecera-se entre ambos. Foi aí que lhe nasceu a ideia de consagrar-se à solidão da vida religiosa, no intuito de trabalhar no seu elevado idealismo.

— Não ficas magoada pelas minhas confissões? — perguntou o ex-sacerdote angustiado.

— De modo algum — respondeu, esforçando-se por lhe parecer satisfeita —, tua esposa tem razão. Depois de visitar o velho sítio de minha infância e a casinha tosca onde minha mãe, tantas vezes, me exemplificou a resignação, voltarei à França sem perda de tempo.

— Quando nos veremos novamente? — interrogou ele inquieto.

— A vontade de Deus no-lo dirá mais tarde. Até lá, meu querido Carlos, não esqueçamos a dedicação aos nossos deveres e a obediência aos divinos desígnios.

— Deixas-me em Castela, amargurado para sempre. Creio que jamais poderei apagar o remorso que tisnará minh’alma doravante. Aprenderei, duramente, a não atender aos primeiros impulsos do coração. Se fosse menos precipitado no julgar, poderia oferecer-te, agora, a minha fidelidade perene. Esqueci, porém, a prudência salvadora e mergulhei num mar de angústias torturantes. Andarei, na Terra, como náufrago sem porto.


E terminando amargamente as suas considerações, rematava:

— Pede a Jesus por mim, para que o desespero não me faça mais infeliz.

— Não te percas em semelhantes ideias — exclamou a filha de Madalena, completamente senhora de si —, estamos neste mundo, de passagem para uma esfera melhor. Por certo que a nossa felicidade não se resumiria em atender, por algum tempo, aos nossos desejos, com o olvido das mais nobres obrigações. É indispensável encarar as dificuldades com ânimo decidido. Luta contra a indecisão, pela certeza de que Deus é nosso Pai, misericordioso e justo… Se nos vemos novamente separados, é que há trabalhos convocando-nos a testemunhos mais decisivos, até que nos possamos reunir nas claridades eternas.


Clenaghan prestava acurada atenção a cada uma de suas palavras sábias e carinhosas. Em seguida a uma pausa, Alcíone prosseguia cheia de amor e compreensão:

— Não maltrates tua mulher, sempre que o seu coração não te possa entender integralmente. Quando assim for, faze por ver nela uma filha. Quando não filha de tua carne, filha de Deus, seu e nosso Pai. A bondade liberta o ódio e a desesperação agrava os laços mesquinhos. A confiança em que o Pai Celestial nos ajudará, nos testemunhos diários, transforma nosso espírito para uma vida mais alta, ao passo que a revolta e a dureza nos prendem espiritualmente ao lodo das mais baixas provações. Ainda que tua companheira seja ingrata, perdoa-lhe como amigo compassivo. Nenhum de nós está sem pecado, Carlos. Por que condenar alguém ou agir precipitadamente, quando também somos necessitados de amor e de perdão? Vive no otimismo de quem trabalha com alegria, confiante no Divino Poder. À nossa frente desdobra-se a eternidade luminosa!… Embora separados no plano material, nenhuma força da Terra nos desligará os corações. Muitas obrigações poderão encarcerar-nos transitoriamente na Terra, mas o elo do amor espiritual vem de Deus, e contra ele não prevalecem as injunções humanas…

Ante as observações judiciosas de Alcíone, Carlos pôde reconfortar-se, de algum modo, para retomar a luta purificadora. Só muito tarde separaram-se em penosas despedidas.


A filha de Madalena, disfarçando a dor que a empolgava, cumpriu rigorosamente a promessa. Depois de beber na taça da saudade, revendo os antigos sítios das primeiras esperanças, sem mesmo se dar a conhecerás relações de outros tempos, regressou a Vigo, onde se demorou quase um mês em meditações silenciosas e doridas. Sua permanência em Ávila poderia acarretar complicações à vida doméstica do homem escolhido. A jovem esposa de Clenaghan, possivelmente, criaria pesadelos de ciúme, sem justificativa. Diariamente, à tardinha, Alcíone aproximava-se da praia, contemplando as velas pandas que se afastavam no estendal das águas movediças. Profunda saudade dominava-lhe o coração. Após longos dias, nos quais procurava rememorar, uma a uma, as velhas advertências do Padre Damiano, quando na vida religiosa, resolveu retirar-se do mundo para a soledade dos grandes pensamentos. Não desejava, de nenhum modo, atirar-se ao repouso permanente da sombra, mas, sentindo-se na plenitude de suas energias orgânicas, refletia que não era lícito pensar na morte do corpo e sim no melhor meio de atender ao trabalho, de coração voltado para Jesus. Se partisse em companhia de Beatriz, naturalmente não lhe faltariam as bênçãos da vida familiar, mas, o coração não se conformava com a ideia de repouso constante. O destino não lhe dera um lar próprio, onde lhe fosse possível consagrar-se inteiramente ao homem amado e aos filhinhos do seu amor. Seus pais já haviam partido para uma vida melhor, o irmão adotivo lhes fora no encalço. Na condição de mulher, tomaria, então, o hábito religioso, a fim de atender aos trabalhos do Cristo. Não faltariam os deserdados, os doentes, os enjeitados, para quem Jesus continuava passando sempre, nas estradas do mundo, distribuindo energias e consolações. Consagrar-se-ia ao serviço de socorro às criaturas, em beneficio dos que necessitassem. Iria ao encontro do Mestre, pelo aproveitamento mais nobre do tempo de sua vida.


Nessa disposição espiritual, regressou a Paris, onde a irmã a esperava ansiosa e saudosa.

Apesar de serena e confortada na fé, não podia mascarar o abatimento e a tristeza que lhe pairavam na alma sensível, e foi com lágrimas que relatou à Beatriz o resultado da longa excursão. A esposa de Saint-Pierre, visivelmente emocionada, buscava confortá-la:

— Tudo isso passará com o tempo. Na América hás de achar lenitivo ao coração sofredor.

Mas a filha de Madalena comunicou-lhe a resolução de tomar outro rumo. Vestiria o hábito religioso, dedicar-se-ia ao coração de Jesus, enquanto lhe restassem forças no mundo. A irmã tentou dissuadi-la.

— E nosso lar? — perguntava a filha de Susana, ansiosa por lhe modificar a decisão. — Como nos seria dolorosa a falta de tua companhia.

Alcíone quis dizer que se sentia quase só, distanciada das afeições primitivas, mas, para não suscetibilizar a irmã devotada, objetou solícita:

— Pedirei, mais tarde, para visitar a América e passarei contigo o tempo que for possível, mesmo porque não é justo olvidar que teus futuros filhinhos serão também meus.

E não houve como lhe modificar o intento. De nada valeram as exortações de Henrique, os rogos da irmã, os carinhosos pedidos dos servos. A filha de Cirilo tinha uma palavra amável e um sincero agradecimento para todos mas justificava o caráter sagrado de suas intenções.


A mudança de Henrique de Saint-Pierre para o Novo Mundo já estava definitivamente aprazada, quando Alcíone assentou a data do seu ingresso num modesto recolhimento de freiras carmelitas.

Na véspera, sem que alguém o soubesse, visitou o túmulo da genitora, levando-lhe a homenagem do seu respeito filial, naquele instante grave da sua vida. Defronte do sepulcro, de alma colada às recordações afetivas, pôs-se de joelhos e monologou baixinho:

— Ah! vós que experimentastes largos anos de reclusão e sacrifício; vós, minha mãe, que fostes tão devotada e carinhosa, ajudai-me a levar a Jesus o voto silencioso de fidelidade até ao fim dos dias! Não me desampareis nas horas escuras, quando a saudade se fizer mais amarga ao meu coração. Inspirai-me pensamentos de fé, paciência e compreensão das coisas divinas. Auxiliai-me nos trabalhos, abençoai-me nos testemunhos. Não esqueçais, no Céu, da filha a quem tanto amastes na Terra!…

Em seguida à prolongada meditação, voltou ao palacete da Cité, despediu-se afetuosamente de todos os servos e, já na manhã imediata, Saint-Pierre e sua mulher abraçavam-na, compungidos, à porta do mosteiro.


Um ano de noviciado passou no qual a filha de Madalena deu provas exuberantes de coração puro e de consciência ilibada.

No dia que precedeu a resolução definitiva, a superiora chamou-a com austeridade, num gabinete particular, e sentenciou:

— Minha filha, estás francamente decidida a abandonar o mundo e os seus gozos?

— Sim, madre — respondeu, humildemente.

— Deves saber que coisa alguma do passado te poderá acompanhar até aqui.

A moça fez um gesto expressivo e rogou:

— Compreendo-vos; entretanto, pediria permissão de levar para minha cela um objeto muito caro.

— Que é?

— Um velho crucifixo que pertenceu a minha mãe.

— De acordo.

Depois de uma pausa, a madre abadessa voltou a perguntar:

— Que outros pedidos tens a fazer?


A nova professanda lembrou-se de Carlos, que não poderia excluir do coração e de Beatriz, a quem se sentia ligada por santo reconhecimento, e indagou:

— Desejava saber se poderei participar de algum trabalho na América, mais tarde, e se poderei futuramente pleitear minha transferência para algum convento de Espanha.

— Tudo isso é possível — esclareceu a superiora.

— E os teus bens?

— Assinarei amanhã o título de doação do que possuo, a benefício da nossa Ordem.

— No momento crítico de tua resolução, Alcíone Vilamil deve estar morta para o mundo profano. Que nome desejas adotar na suprema união com Cristo?

— Maria de Jesus Crucificado — disse, cândida e naturalmente.

Terminou o interrogatório.

No dia seguinte, pela manhã, em solene ritual, cercada pela admiração das companheiras e de numerosos clérigos, a filha de Madalena ajoelhou-se ante o altar de Jesus coroado de espinhos, e fitando o maravilhoso símbolo da cruz, de olhos brilhantes e confiantes, repetiu enternecida a frase sacramental:

“Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua palavra.” (Lc 1:38)



mt 6:9
Cinquenta Anos Depois

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 1
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel

Dois meses havia que o Imperador e seus áulicos preferidos deixaram Roma.

Naquele fim de primavera do ano 133, a vida das nossas personagens, na Capital do Império, corria em aparente serenidade.

Alba Lucínia concentrava na filha e nos carinhos paternos a sua vida diuturna, sentindo-se, porém, muito combalida, devido às intensas preocupações morais, não somente pela ausência do marido, como pela atitude de Lólio Úrbico,  que, vendo-se senhor do campo e abusando da autoridade de que dispunha na ausência de César, redobrava os seus assédios com mais empenho e veemência.

A nobre senhora tudo fazia para ocultar uma situação tão amarga e, todavia, o conquistador prosseguia, implacável, nos seus propósitos desvairados, mal suportando o adiamento indefinido de suas esperanças inconfessáveis.

 

Anteriormente, a esposa de Helvídio tinha em Túlia Cevina a amizade de uma irmã carinhosa e desvelada, que sabia reconfortá-la nos dias de provações mais ásperas; mas, antes da viagem de César, o tribuno Máximo Cunctátor fora designado para uma demorada missão política na Ibéria  distante, levando a esposa em sua companhia.

Alba Lucínia via-se quase só, na sua angústia moral, porquanto não podia revelar aos velhos pais, tão extremosos, as lágrimas ocultas do seu coração atormentado.

Frequentemente, deixava-se ficar horas a fio, a conversar com a filha, cuja simplicidade de espírito e cujo fervor na crença a encantavam, mas, por maiores que fossem os seus esforços, não conseguia dominar a fraqueza orgânica que começava a preocupar o círculo da família.

 

Um fato viera perturbar, ainda mais, a existência aparentemente tranquila dos nossos amigos, na Capital do Império. Cneio Lúcius adoecera gravemente do coração, o que para os médicos de um modo geral, era coisa natural, atento à idade.

Debalde foram empregados elixires e cordiais, tisanas e panaceias. O venerável patrício dia a dia se mostrava mais debilitado. Entretanto, Cneio desejava viver ainda um pouco, até o regresso do filho, afim de apertá-lo nos braços, antes de morrer. Nos seus extremos de afeição paternal, queria recomendar-lhe o amparo às duas irmãs Publícia e Márcia, esclarecendo a Helvídio todo os seus desejos. Mas, o experiente conhecimento das obrigações políticas forçava-o a resignar-se com as circunstâncias. Élio Adriano,  de acordo com os seus hábitos, não regressaria antes de um ano, na melhor das hipóteses. E uma voz íntima lhe dizia que, até lá, o corpo esgotado deveria baixar, desfeito em cinzas, à paz do sarcófago. Algo triste, nada obstante os valores da sua fé, o venerável ancião alimentava no cérebro meditações graves e profundas, acerca da morte.

 

Célia, apenas, com as suas visitas, lograva arrancá-lo, por algumas horas, dos seus dolorosos cismares.

Com um sorriso de sincera satisfação, abraçava-se à neta, dirigindo-se ambos para a janela fronteira ao Tibre, e, quando a jovem lhe falava da alegria do seu espírito, com o poder orar num local tão belo, Cneio Lúcius costumava esclarecer:

— Filha, outrora eu sentia a necessidade do santuário doméstico com as suas expressões exteriores… Não podia dispensar as imagens dos deuses nem prescindir da oferta dos mais ricos sacrifícios; hoje, porém, dispenso todos os símbolos religiosos para auscultar melhor o próprio coração, recordando o ensino de Jesus à Samaritana, (Jo 4:1) ao pé do Garizim, de que há de vir o tempo em que o Pai Todo-Poderoso será adorado não nos santuários de pedra, mas no altar do nosso próprio espírito… E o homem, filhinha, para encontrar-se com Deus no íntimo de sua consciência, jamais encontrará templo melhor que o da Natureza, sua mãe e mestra…

 

Conceitos que tais eram expendidos a cada instante, nos colóquios com a neta.

Ela, por sua vez, transformava as esperanças desfeitas em aspirações celestiais, convertendo os sofrimentos em consolo para o coração do idolatrado velhinho. Seu espírito fervoroso, com a sublime intuição da fé, que lhe ampliava a esfera de compreensão, adivinhava que o adorado avô não tardaria muito a ir-se também a caminho do túmulo. Lamentava antecipadamente a ausência daquela alma carinhosa e amiga, convertida em refúgio do seu pensamento desiludido, mas, ao mesmo tempo, rogava ao Senhor, coragem e fortaleza.

 

Num dia de grande abatimento físico, Cneio Lúcius viu que Márcia abria a porta do quarto, de mansinho, com um sorriso de surpresa. A filha mais velha vinha anunciar-lhe a chegada de alguém muito caro ao seu espírito generoso. Era Silano, o filho adotivo, que regressava das Gálias.  O patrício mandou-o entrar, com o seu júbilo carinhoso e sincero. Levantou-se, trêmulo, para abraçar o rapaz que, na juventude sadia dos seus vinte e dois anos completos, o apertou também nos braços, quase chorando de alegria.

— Silano, meu filho, fizeste bem em vir! — exclamou serenamente — Mas, conta-me! vens a Roma com alguma incumbência de teus chefes?

O rapaz explicou que não, que havia solicitado uma licença para rever o pai adotivo, de quem se sentia muito saudoso, acrescentando os seus propósitos de se fixar na Capital do Império, caso consentisse, esclarecendo que o seu comandante nas Gálias, Júlio Saulo, era um homem grosseiro e cruel, que o submetia a constantes maus tratos, a pretexto de disciplina. Rogava ao pai que o protegesse junto das autoridades, impedindo-lhe o regresso.

Cneio Lúcius ouviu-o com interesse e retrucou:

— Tudo farei, na medida dos meus recursos, para satisfazer teus justos desejos.

 

Em seguida, meditou profundamente, enquanto o filho adotivo lhe notava o grande abatimento físico.

Saindo, porém, dos seus austeros pensamentos, Cneio Lúcius acrescentou:

— Silano, não desconheces o passado e, um dia, já te falei das circunstâncias que te trouxeram ao meu coração paternal.

— Sim respondeu o rapaz em tom resignado — conheço a história do meu nascimento, mas os deuses quiseram conceder ao mísero enjeitado do mundo um pai carinhoso e abnegado, como vós, e não maldigo o destino.

O ancião levantou-se e, depois de abraçá-lo comovido, caminhou pelo quarto, apoiando-se com esforço. Em dado instante, deteve os passos vagarosos, diante de um cofre de madeira decorado de acanto,  abrindo-o cuidadosamente.

Dentre os pergaminhos dessa caixa-forte, retirou um pequeno medalhão, dirigindo-se ao rapaz com estas palavras:

— Meu filho, os enjeitados não existem para a Providência Divina. Nem mesmo remontando ao pretérito deves alimentar, no íntimo, qualquer mágoa, em razão da tua sorte. Todos os destinos são úteis e bons, quando sabemos aproveitar as possibilidades que o Céu nos concede em favor da nossa própria ventura…

 

E, como se estivesse mergulhando o pensamento no abismo das recordações mais longínquas, prosseguiu depois de uma pausa:

— Quando Márcia te beijou pela primeira vez, nesta casa, encontrou sobre o teu peito de recém-nascido este medalhão, que guardei para entregar-te mais tarde. Nunca o abri, meu filho. Seu conteúdo não podia interessar-me, pois, fosse qual fosse, terias de ser para mim um filho muito amado… Agora, porém, sinto que é chegada a ocasião de to entregar. Diz-me o coração que não viverei muito tempo. Devo estar esgotando os últimos dias de uma existência, de cujos erros peço o perdão do Céu, com todas as minhas forças. Mas, se me encontro próximo do túmulo, tu estás moço e tens amplos direitos à existência terrestre… Possivelmente, viverás em Roma doravante, e é bem possível chegue o momento em que terás necessidade de uma lembrança como esta… Guarda-a, pois, contigo.

Silano estava profundamente tocado nas fibras mais sensíveis do coração.

— Meu pai — exclamou comovido, recolhendo o medalhão zelosamente — guardarei a recordação sem que o conteúdo me interesse. Também eu, de qualquer modo, não reconheceria outro pai senão vós mesmo, em cuja alma generosa encontrei o próprio carinho maternal, que me faltou nos mais recuados dias da vida.

Ambos se abraçaram com ternura, continuando a palestra afetuosa, sobre fatos interessantes da Província ou da Corte.

 

Nessa mesma noite, o venerável patrício recebeu a visita de Fábio Cornélio, de quem solicitou as providências favoráveis às pretensões do filho adotivo.

O censor, mutíssimo sensibilizado em vista das solenes circunstâncias em que o pedido era feito, examinou o assunto com o máximo interesse, de modo que, em pouco tempo, obtinha a transferência de Silano para Roma, utilizando-lhe os serviços na própria esfera de sua gestão administrativa e fazendo do rapaz um funcionário de sua inteira confiança.

Considerando o ingresso daquela nova personagem na esfera de suas relações familiares, Alba Lucínia recordou as confidências de Túlia, mas procurou arquivar, com cuidado, as suas impressões íntimas, aceitando de bom grado a amizade respeitosa que Silano lhe demonstrava.

No lar de Helvídio Lúcius, contudo, a situação moral se complicava cada vez mais, em face das arremetidas de Lólio Úrbico, que, de modo algum, se decidia a abandonar as suas criminosas pretensões.

 

Certo dia, à tarde, quando Alba Lucínia e Célia regressavam de um dos habituais passeios ao Aventino,  receberam a visita do prefeito dos pretorianos, cuja fisionomia torturada demonstrava inquietação e profundo abatimento.

A jovem recolheu-se ao interior, enquanto a nobre patrícia iniciava a sua conversação amistosa e digna. O prefeito, porém, depois de alguns minutos, a ela se dirigiu, quase desvairadamente, nestes termos:

— Perdoe-me a ousadia reiterada e impertinente, mas não me posso furtar ao imperativo dos sentimentos que me avassalam o coração. Será possível que a senhora não me possa conceder uma leve esperança?!… Debalde tenho procurado esquece-la… A lembrança dos seus atrativos e peregrinas virtudes está gravada em meu espírito com caracteres poderosos e indeléveis!… O amor que a senhora em mim despertou é uma luz indestrutível, ardente, acesa em meu peito para toda a eternidade!…

 

Alba Lucínia escutava-lhe as declarações amorosas tocada de temor e espanto, sentindo-se incapaz de traduzir a repugnância que aquelas afirmativas lhe causavam.

Enceguecido, porém, na sua paixão, o prefeito dos pretorianos continuava:

— Amo-a profunda e loucamente… De há muito, e bem jovem, tudo tenho feito para esquece-la, em obediência às linhas paralelas dos nossos destinos; mas o tempo mais não fez que aumentar essa paixão, que me invade e anula todos os meus bons propósitos. Confio, agora, na sua magnanimidade e quero guardar no peito mísero uma tênue esperança!… Atenda às minhas súplicas! Conceda-me um olhar! Sua indiferença me fere o coração com a perspectiva dolorosa de nunca realizar meu sonho divino de toda a vida… Adoro-a! sua imagem me persegue por toda parte, como uma sombra… Porque não corresponder a essa dedicação sublime que vibra em minh’alma? Helvídio Lúcius não poderia ser, nunca, o coração destinado ao seu, no que se refere à compreensão e ao amor!… Quebremos o arganel das convenções que nos separam, vivamos os anseios de nossa alma. Sejamos felizes com a nossa união e o nosso amor!…

 

Estupefata, Alba Lucínia calava-se, sem atinar com as respostas precisas, na tortura de suas emoções.

Todavia, por detrás das cortinas, uma cena significativa se verificara.

Dirigindo-se distraidamente, para a sala de recepções, Célia surpreendera as atitudes de Hatéria, que, qual sombra, se detinha no corredor, à escuta das palavras do prefeito, proferidas em voz alta e imprudente.

Acercando-se do local, ouviu, também ela, as últimas frases apaixonadas do marido de Cláudia, fazendo-se pálida de surpresa dolorosa.

Apesar de ouvir, distintamente, quanto o prefeito houvera pronunciado, notou que sua mãe se mantivera em estranho silêncio. Seria possível uma tal afeição sob aquele teto? O coração inocente não desejava dar guarida aos pensamentos inferiores e injuriosos à castidade materna. Desejou orar, antes de tudo, afim de que o seu espírito não cedesse aos julgamentos precipitados e menos dignos; mas urgia dali afastar a criada antes que a situação se complicasse, a ponto de incidir na maledicência e na curiosidade dos próprios servos.

— Hatéria, que fazes aqui? — Perguntou bondosamente.

— Vim trazer as flores da patroa — respondeu fingindo despreocupação — entretanto, temia perturbar a tranquilidade da senhora e do senhor prefeito, que tanto se estimam.

 

A cúmplice de Cláudia Sabina frisou as últimas palavras com tamanha simplicidade, que a própria Célia, na santa ingenuidade da sua alma carinhosa, não percebeu qualquer malícia.

— Está bem. Dá-me as flores que eu mesma as entregarei à mamãe.

Hatéria retirou-se imediatamente, para evitar suspeitas, enquanto Célia, colocando as rosas num jarrão da ante-sala, recolhia-se ao quarto, de coração opresso, extravasando na prece sincera as lágrimas dolorosas da sua alma intranquila.

O silêncio da mãe a impressionara profundamente. Seria possível que ela amasse aquele homem? Teriam surgido divergências íntimas, tão profundas, entre seus pais, para que uma hecatombe sentimental viesse desabar naquela casa sempre bafejada de afeições tão puras?… Não ouvira a palavra materna responder ao conquistador com a energia merecida. Aquele mutismo lhe apavorava o coração. Seria crível que as paixões do mundo houvessem dominado a genitora, tão digna e tão sincera, na ausência de seu pai? As mais dolorosas conjeturas lhe povoavam a mente superexcitada e dolorida.

 

Todavia, fez o propósito íntimo de não deixar transparecer as suas dúvidas e inquietações. O coração de filha recusava-se a crer na falência materna, mas, mesmo assim, raciocinava no seu foro cristão que se Alba Lucínia prevaricasse algum dia, seria chegado o momento de, como filha, testemunhar-lhe o mais santificado amor, com as sublimes demonstrações de uma renúncia suprema.

Agasalhando essas disposições, seu espírito carinhoso sentiu-se confortado, relembrando os preciosos ensinamentos de Jesus.

No entanto, a esposa de Helvídio, sem que a filha chegasse a ouvir-lhe as palavras indignadas, depois de longa pausa, revidara com energia:

— Senhor, tenho tolerado sempre os vossos insultos com resignação e caridade, não somente pelos laços que vos ligam a meu pai, como pela expressão de cordialidade entre vós e meu esposo; mas a paciência também tem os seus limites.

Onde a vossa dignidade de patrício adquiriu tão baixo nível, inconcebível nos mais vis malfeitores do Esquilino?!  Lá no ambiente provinciano, nunca supus que em Roma os homens de governo se valessem de suas prerrogativas para humilhar mulheres indefesas, com a hediondez de paixões inconfessáveis.

Não vos envergonhais da vossa conduta, tentando nodoar a reputação de uma casa honesta e de uma mulher que se honra em cultivar as mais elevadas virtudes domésticas? Em que condições tentais esse crime inaudito! Vossas incríveis declarações, na ausência de meu marido, valem por vergonhosa traição e a mais torpe das covardias!…

Atentai bem para o vosso procedimento inacreditável! As portas acolhedoras desta casa, que se abriram constantemente para vos receber como amigo, estão abertas para vos expulsar como a um monstro!…

 

De faces incendidas, Alba Lucínia manifestava o seu ânimo resoluto, em tão angustiadas circunstâncias. Indignada, apontava a porta ao conquistador, convidando-o a retirar-se.

— Senhora, é assim que me recebe uma afeição sincera? — Resmungou Lólio Úrbico em voz surda.

— Não conheço o código da prevaricação e nunca pude compreender a amizade pelo caminho da injúria. — esclareceu a pobre senhora com o heroísmo de sua energia feminina.

Ouvindo-a e percebendo-lhe a virtude indomável, o prefeito dos pretorianos abriu a porta para retirar-se, exclamando colérico:

— Há de ouvir-me com mais benevolência noutra ocasião. Tenho paciência inesgotável!

E saiu precipitadamente, para as sombras da noite, que já se havia fechado sob o céu pardacento.

Vendo-se só a patrícia deu expansão às lágrimas amargas que se lhe represavam no íntimo. A saudade do marido, as preocupações morais, os insultos do conquistador impiedoso, a falta de um coração amigo que lhe pudesse recolher e compartir as amarguras, tudo contribuía para adensar as nuvens que lhe toldavam o raciocínio.

 

Debalde buscou a filha consolá-la em suas angustiosas inquietações. Três dias passaram, amargurados e tristes.

Célia podia, apenas, avaliar a angústia materna, mas não conseguia estabelecer a causa dos seus pesares, sentindo-se ainda atormentada e confusa com as declarações do prefeito. Abstraindo-se, todavia, de qualquer pensamento que pudesse infirmar a dignidade materna, buscou esquecer o assunto, multiplicando os testemunhos carinhosos.

Alba Lucínia, a seu turno, ponderava com amargura a nefasta influência que Lólio Úrbico e sua mulher exerciam nos destinos de sua família, rogando com fervor aos deuses-lares  compaixão e misericórdia.

A situação prosseguia com as mesmas características dolorosas, quando, um dia, o velho servo Belisário, pessoa da confiança de Cneio Lúcius e de seus familiares, veio avisar que o estado de saúde do ancião se agravara inesperadamente. Márcia lhes dava ciência do fato, esperando fossem ao Aventino com a urgência possível.

Dentro de uma hora a liteira de Helvídio estava a caminho.

 

Em pouco tempo, Célia e sua mãe defrontavam o bondoso velhinho, que as recebeu com um largo sorriso, não obstante o visível abatimento orgânico. A cabeça encanecida repousava nos travesseiros, de onde não se podia mais erguer, mas as mãos enrugadas e alvas acariciaram a nora e a neta com inexcedível ternura . Alba Lucínia notou-lhe o esgotamento geral, surpreendendo-se com o seu aspecto. A fulguração estranha dos olhos dava ensejo às mais tristes perspectivas.

Às primeiras perguntas, respondeu o enfermo com serenidade e lucidez:

— Nada houve que justificasse tantos temores de Márcia… Acredito que, amanhã mesmo, terei recuperado o ritmo normal da vida. O médico já veio e providenciou o necessário e oportuno…

E notando o profundo abatimento da esposa de Helvídio, acrescentou:

— Que é isso, minha filha? Vens atender a um doente, mais enferma e abatida que ele próprio?… Tua fraqueza dá-me cuidados… Tens os olhos fundos e as faces descoradas e tristes!…

 

A esse tempo, percebendo que o avô desejava dirigir-se mais particularmente à sua mãe, Célia retirou-se para junto de Márcia, que lhe confiava as suas apreensões sobre o estado de saúde do venerável ancião.

Alba Lucínia, sentando-se à beira do leito, beijou a destra do enfermo com amor e enternecimento.

Queria desculpar-se da impressão que lhe causara, pretextar uma enxaqueca ou alegar outro motivo banal com que pudesse justificar o seu abatimento, mas, soberana tristeza apoderara-se do seu espírito. Além de todos os pesares, algo lhe segredava ao coração que o velho sogro, amado como pai, estava a partir para as névoas do túmulo. Diante dessa dolorosa perspectiva, seus olhos o contemplavam com a ternura piedosa do seu coração feminino. Em vão procurou um pretexto, no íntimo, para não incomodá-lo com as suas realidades amargas e, todavia, o olhar estranho e fulgurante de Cneio Lúcius parecia perscrutar a verdade em si mesma.

— Calas-te, filha?… — murmurou ele, depois de esperar por minutos a resposta às carinhosas interpelações — Alguém chegou a ferir-te o coração afetuoso e desvelado? Teu silêncio dá-me a entender uma dor moral muito grande…

 

Sentindo que o enfermo lhe identificara o angustioso estado d’alma, Alba Lucínia deixou rolar uma lágrima, filha do seu coração dilacerado.

— Meu pai — não vos preocupeis comigo nem vos assuste esta lágrima! Sinto-me presa dos mais estranhos e torturantes pensamentos… A ausência de Helvídio, os problemas do lar e agora a vossa saúde abalada, constituem para mim um complexo de pensamentos amargos e indefiníveis!… Mas os deuses hão de apiedar-se da nossa situação, protegendo Helvídio e restituindo-vos a saúde preciosa!…

— Sim, filha, mas não é só isso o que te acabrunha — retrucou Cneio Lúcius com o seu olhar sereno e percuciente — outras mágoas te constringem o coração!… Há muito venho meditando no contraste da vida que levavas na Província, com a que experimentas aqui, no báratro das nossas convenções sociais… Teu espírito sensível, por certo, vem ferindo-se nos espinhos das estradas ásperas dos nossos tempos de decadência e contrastes dolorosos!…

E, como se a sua análise sondasse mais fundo, acrescentou:

— Sinto, ainda, que determinadas pessoas do nosso círculo social hão dilacerado teu coração profundamente… Não é verdade?…

 

Fixando-lhe os olhos calmos e luminosos, cuja transparência não admitia subterfúgios, a esposa de Helvídio replicou com um suspiro de angústia:

— Sim, meu pai, não vos iludis; contudo, espero que confieis em mim, pois dentro da grandeza dos nossos códigos familiares saberei cumprir os deveres de esposa e mãe, acima de quaisquer circunstâncias.

O venerável patrício meditou longamente como se buscasse, no íntimo, uma solução para consolo da nora, sempre considerada como filha extremosa e digna.

Em seguida, como se houvera escutado as vozes silenciosas do próprio coração, acrescentou:

— Já ouviste dizer que temos várias vidas terrenas?

— Como, meu pai? Não compreendo.

— Sim, alguns filósofos mais antigos nos deixaram no mundo essas verdades consoladoras. Lutei contra elas, desde os estudos da mocidade, fiel às nossas tradições mais respeitáveis; contudo, a velhice e a enfermidade possuem também as suas grandes virtudes!… As experiências humanas ensinaram-me que precisamos de várias existências para aprender e nos purificarmos… Agora que me encontro no limiar do sepulcro, as mais profundas meditações me visitam a mente. A questão das vidas sucessivas aclarou-se, com toda a beleza de suas prodigiosas consequências. A velhice faz-me sentir que o Espírito não se modifica tão só com as lições ou com as lutas de um século, e a enfermidade me fez reconhecer no corpo uma vestimenta pobre, que se desfaz com o tempo. Viveremos além-túmulo com as nossas impressões mais vivas mais sinceras, e retornaremos à Terra para continuar as mesmas experiências, em favor de nossa evolução espiritual.

 

Percebendo que a nora lhe ouvia a palavra filosófica, tomada de profunda surpresa, o venerando ancião acentuou:

— Estas considerações, filha, vêm-me do íntimo para esclarecer-te que, apesar da decrepitude portadora da morte, tenho o espírito vivaz e repleto das mesmas disposições e esperanças. Sem a certeza da imortalidade, a vida terrestre seria uma comédia estúpida e dolorosa. Mas eu sei que além do túmulo outra vida floresce e novas possibilidades felicitarão o nosso ser.

Por essa razão, vibro com as tuas dores de agora, crendo, porém, que no futuro a Providência Divina nos concederá novas experiências e caminhos novos… Os que hoje nos odeiam ou nos perseguem, poderão ser convertidos ao bem com o nosso amor desvelado e compassivo. Quem sabe? Após esta vida, poderemos voltar, resgatando os nossos corações para o Céu e auxiliando a redenção dos inimigos. Tenhamos fé, piedade e esperança, considerando que o tempo deve ser para nós um patrimônio divino!… De acordo com o elevado princípio das vida múltiplas, os laços do sangue ensejam as mais sublimes possibilidades de transfundirmos a torpeza do ódio, ou dos sentimentos inconfessáveis, em algemas cariciosas de abnegação e de amor…

Sem forças físicas para defender os filhos queridos das ciladas e perigos do mundo, guardo as minhas esperanças afetuosas para o porvir ainda longínquo, sem descrer da sabedoria que rege os trabalhos e provações da existência terrena.

 

Cneio Lúcius estava fatigado. As palavras sábias e inspiradas saíam-lhe da garganta, com dificuldade indefinível. Alem disso, Alba Lucínia não lhe compreendeu as exortações carinhosas e transcendentes. Atribuiu-as, intimamente, a possíveis alterações mentais, decorrentes do seu estado físico. Mostrando-se mais forte, em face das próprias amarguras, fez sentir ao ancião que o seu estado requeria repouso e deveria abster-se de esforços prolongados e inadequados ao momento.

O sábio patrício percebeu a incompreensão da nora, esboçando um sorriso carinhoso e resignado.

Daí a momentos, a esposa de Helvídio confiava aos da casa as suas impressões, relativamente ao estado mental do enfermo, o que, conforme esclarecera Márcia, não era surpresa, desde que o generoso velhinho manifestara as suas pelas doutrinas cristãs.

 

Somente Célia compreendeu a situação, correndo a consolá-lo. Com a sua ternura imensa, abraçou-se ao avô, enquanto ele lhe advertiu:

— Sei porque assim me beijas e abraças… É pena que todos os nossos não possam compreender os princípios que nos esclarecem e consolam o coração!… Aos outros, não deverei falar com a franqueza com que permutamos nossos pensamentos… A ti, portanto, cumpre-me confessar que meu corpo está vivendo as derradeiras horas. Daqui a pouco, terei partido para o mundo da verdade, onde cessam todos os convencionalismos humanos. Em vez de confiar-te a teus pais, confio os meus filhos ao teu coração!… Sinto que Helvídio e Lucínia experimentam muitas amarguras no ambiente de Roma, do qual, há muito, se desabituaram… Sacrifica-te por eles, filhinha… Se sobrevierem situações difíceis, ama-os ainda mais… Tu que me levaste ao Evangelho, deverás recordar que Jesus afirmava-se como remédio dos enfermos e pecadores… Sua palavra misericordiosa não vinha para os sãos, mas para os doentes, e as mãos para salvar as ovelhas tresmalhadas do seu aprisco divino… Não temas a renúncia ou o sacrifício de todos os bens do mundo… A dor é o preço sagrado de nossa redenção… Se Deus apiedar-se de minha indigência espiritual, virei do mistério do túmulo para te fortalecer com o meu amor, se tanto for preciso…

 

Enquanto a neta lhe ouvia a palavra, altamente emocionada, mas serena em sua fé, o venerando patrício continuava, depois de longa pausa:

— Desde ontem, sinto que vou penetrando em uma vida nova e diferente… Ouço vozes que me chamam ao longe, e seres luminosos e imperceptíveis para os outros que me cercam o leito, desolados… Pressinto que o corpo não tardará a cair na agonia… mas, antes disso, quero dizer-te que estarás sempre no coração do avôzinho, seja onde e como for.

Sua palavra tornava-se morosa e arquejante, mas a jovem, compreendendo a situação do querido enfermo, amparou-lhe a cabeça alva de neve, com mais cuidado e maior ternura.

— Célia — murmurou com dificuldade — todos os meus desejos referentes à vida… material… estão expressos… em carta a Helvídio. No cofre de minhas… lembranças… Minha consciência de pecador… está em preces e sei… que Jesus não desprezará minhas súplicas… Mas desejaria… recitasses a oração do Senhor, nesta hora extrema…

 

Seus lábios moviam-se ainda, como se a queda súbita das energias impedisse a elocução, mas a neta, alma temperada na fé ardente e nas grandes emoções das angústias terrestres, compreendeu o olhar calmo e profundo do agonizante, e começou a murmurar, retendo as próprias lágrimas:

— Pai nosso, que estais no Céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na Terra, como nos Céus… (Mt 6:9)

Tranquilamente, terminou, como se as suas palavras houvessem alcançado o Paraíso.

O ancião fixou nela o olhar carinhoso, como se, no silêncio da hora extrema, houvesse concentrado na sua afeição os derradeiros pensamentos.

Cheia de cuidados, Célia ajeitou-lhe os travesseiros, depois de um beijo molhado de pranto, dirigindo-se em seguida ao interior, onde cientificou sua mãe do que ocorria.

 

Cneio Lúcius havia caído em abatimento profundo. A dispneia implacável interceptara-lhe de todo a palavra e ele entrou em agonia lenta, que devia durar mais de setenta horas…

De nada valeram os recursos médicos do tempo, com as suas fricções e beberagens. O moribundo perdia o “tonus vital”, aos poucos, em meio das mais dolorosas aflições.

As lágrimas de Márcia e Publícia misturaram-se às de Alba Lucínia e filha ante os rudes padecimentos do velhinho adorado. Um servo foi expedido a toda pressa para Cápua, requisitando a presença de Caio Fabrícius e sua mulher, que poderiam, talvez, chegar a Roma para as derradeiras homenagens.

 

Na manhã do terceiro dia de agonia dolorosa, como sói acontecer com as pessoas de idade avançada, Célia percebeu que o avô estava nas derradeiras impressões da existência terrestre… a respiração era quase imperceptível, um frio intenso começava a invadir-lhe os pés e as mãos.

Todos os familiares compreenderam que chegara o instante supremo… Márcia, nas suas expressões de amargura resignada, sentou-se junto do venerando genitor, aconchegando-lhe a cabeça entre os joelhos, carinhosa, enquanto Célia segurava-lhe as mãos frias e enrugadas… Com a alma em prece fervorosa, suplicando a Jesus recebesse o avô na luz de sua misericórdia, a jovem cristã, no êxtase da sua fé, sentiu que a câmara espaçosa se enchia de claridades estranhas e indefiníveis. Figurou-se-lhe divisar seres luminosos, aéreos, a cruzarem a alcova em todas direções… Por vezes, chegava a lhes fixar os traços fisionômicos, embora não os identificasse, surpreendendo-se com a visão de túnicas alvinitentes, semelhantes a largos peplos de neve translúcida…

 

Todavia, entre aqueles seres radiosos entreviu alguém que lhe era conhecido. Era Nestório, que a confortava com um afetuoso sorriso. Compreendeu, então, que os bem-amados que nos precedem no túmulo vêm dar as boas-vindas aos que atingiram o último dia na Terra… Naquele minuto luminoso, seu coração enchia-se de carinhoso júbilo e de radiosas esperanças… Desejou falar ao vulto de Nestório, perguntando-lhe por Ciro, mas, absteve-se de pronunciar qualquer palavra, receosa de que a sua abençoada visão se desfizesse… Contudo, como se os pensamentos mais íntimos fossem ouvidos pelo amigo desencarnado, percebeu que o ex-escravo lhe falava, ouvindo a sua voz, estranhamente, como se o fenômeno obedecesse a um novo meio de audição intra-cerebral.

— Filha — parecia-lhe dizer o Espírito de Nestório, afetuosamente — Ciro já veio e vê-lo-ás breve!.. Acalma o coração e guarda a tua fé sem desdenhar o sacrifício!… Adeus!… Junto de alguns amigos desvelados, aqui viemos buscar o coração de um justo!…

 

Com os olhos marejados de pranto, a filha de Helvídio notou que Nestório abraçara-se ao moribundo, enquanto uma força invencível a arrancava do êxtase, fazendo-a voltar à vida comum.

Como se houvera chegado de outro Plano, ouviu que Márcia e sua mãe pranteavam e certificou-se de que o moribundo deixara escapar o último suspiro.

Cneio Lúcius, com a consciência edificada nos largos padecimentos de uma longa vida, partira ao amanhecer, quando o maravilhoso Sol romano começava a dourar as eminências do Aventino com os primeiros beijos da aurora…

 

Então, um luto pesado se abateu sobre o palácio que, por tantos anos, havia servido de ninho aos seus grandes sentimentos. Durante oito dias, seus despojos ficaram expostos à visitação pública, na qual se confundiam nobres e plebeus, por lhe trazerem, todos, um pensamento agradecido.

A notícia do infausto acontecimento foi mandada a Helvídio pelo correio do próprio Imperador, enquanto Caio e a esposa chegavam da Campânia,  afim de assistir às derradeiras homenagens ao morto ilustre e querido.

Cneio Lúcius não tivera o conforto da presença de Helvídio, mas Cornélio fez questão de tomar todas as providências para que não lhe faltassem as honras do Estado. Assim, o venerando patrício, justamente conhecido e estimado por suas virtudes morais e cívicas, antes de baixar ao túmulo, recebeu as homenagens da cidade em peso.




Vinícius

mt 6:9
Na Seara do Mestre

Categoria: Livro Espírita
Ref: 3394
Capítulo: 24
Página: 115
Vinícius
Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus. . .

(MATEUS, 6:9.)


Pai nosso que estás nos céus. . . Assim começa o Mestre a oração que ensinou aos seus discípulos.


Toda a cristandade sabe disso. As múltiplas igrejas repetem assiduamente a frase em apreço. Nas ricas catedrais, no templo humilde, na capela rural e no seio dos lares, aquela sentença constitui o estribilho recitado em todos os tons, oportunidades e emergências. Nos dias festivos como nos dias calamitosos de angústia e de aflição, baila nos lábios dos grandes e dos pequenos, dos velhos e dos moços o surrado e eterno refrão.


Parece, mesmo, que, à força de repeti-lo mecanicamente, despojaram-no de todo o seu espírito e de toda a sua vida. Pois, é precisamente esse espírito e essa vida que o Espiritismo vem ressuscitar nesta época tumultuosa e sombria por que passa o nosso orbe de provas e expiações.


A ideia de Deus, vista através do prisma de Pai, é, sem dúvida, a mais bela e a mais sábia das revelações que Jesus trouxe à Humanidade. Pai é previdência e providência, porque prevê e provê as necessidades dos filhos antes mesmo que estes tenham noção e consciência da própria existência. A paternal previsão divina precede de muito ao célebre — Cogito, ergo sum [Penso, logo existo].


Deus tudo dispôs e tudo preparou, desde toda a eternidade, no sentido de proporcionar aos seus filhos os meios de evolverem sem solução de continuidade, conquistando estágios sempre mais avançados, onde a Vida se desdobra em perspectivas mais complexas, sob esplendores mais fúlgidos e excelentes.


Assim sendo, dirão, talvez, por que existe a dor? A dor, debaixo das suas múltiplas modalidades, é, em síntese, a consequência do homem não haver ainda sentido a realidade da sentença que vem recitando maquinalmente: Pai nosso que estás nos céus!


Quando palpitar em seu coração o espírito daquelas palavras, outro será, por certo, o senso da sua vida, outro o seu programa, outro, finalmente, o móvel de suas atividades e de suas ações.


Ao influxo prodigioso do — Pai nosso que estás nos céus — cairão as barreiras que separam os homens. As cores das bandeiras que dividem os povos e as nações fundir-se-ão todas no branco e augusto pavilhão da paz, símbolo da alva túnica do Mestre, que era inconsútil, tecida de alto a baixo numa só peça.


A Humanidade, confraternizada dentro de um mundo só, caminhará a passos firmes na solução de todos os problemas sociais que até aqui a têm convulsionado tanto, sem jamais serem resolvidos.


Não haverá mais fome, porque já não se destruirão nem se procurará restringir as fartas messes que a terra generosa e boa faculta aos que a regam com o suor do rosto, na santidade do trabalho. O pão e o vestuário, como todas as demais utilidades da vida, circularão livremente, libertos das nefastas bastilhas aduaneiras, suprindo os mercados em fraternal permuta.


Atender-se-á, destarte, às necessidades de cada povo, porque os homens, reconhecendo a paternidade de Deus, sentirão que são irmãos. As possibilidades de aprender e progredir, de melhorar as condições intelectuais e morais estarão ao alcance de todos, sem distinção de posição social, de fortuna ou de classes, pois estas terão, a seu turno, desaparecido, mediante a organização da sociedade numa só e única família, onde serão todos por um e um por todos.


Somente nesse dia cessarão para sempre as lutas fratricidas, e não haverá mais guerra!


mt 6:9
Nas Pegadas do Mestre

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 7
Página: 26
Vinícius

Porque será que o Filho pródigo é uma figura tão simpática apesar da sua vida pecaminosa, enquanto que o irmão é quase repulsivo, a despeito da prudência com que sempre se houve no lar paterno, donde jamais se apartou? Onde o motivo dessa inclinação de todos os corações pelo dissipador da herança, pelo perdulário que desce pela encosta dos vícios até à mais negra miséria ?


A razão é esta: O Pródigo pecou, sofreu, amou. A dor despertou-lhe os sentimentos, iluminou-lhe a consciência, converteu-o. A humildade, essa virtude que levanta os decaídos e engrandece os pequeninos, exaltou-o, apagando todas as máculas do seu espírito, então redimido. O bem sobrepuja o mal: uma só virtude destrói o efeito de muitos vícios. A caridade, diz Pedro, cobre uma multidão de pecados.


Depois, nós, pecadores confessos, vemos, na vida do Pródigo, a nossa própria história.


Sua epopeia é a nossa esperança. Eis porque com ele tanto simpatizamos.


E porque nutrimos sentimentos opostos a respeito de seu irmão? Porque é a personificação do egoísmo. O egoísta insula-se de todos pela influência de seus próprios pensamentos. É orgulhoso, é sectário. Separa-se dos demais porque se julga perfeito.


Jacta-se intimamente em não alimentar vícios, mas nenhuma virtude, além da abstenção do mal, nele se descobre. É um cristalizado: não suporta as consequências dos desvarios, mas não goza os prazeres da virtude. Sua conversão é mais difícil que a de qualquer outra espécie de pecadores. A presunção oblitera-lhe o entendimento, ofusca-lhe as ideias. Imaginando-se às portas do céu, dista ainda dele um abismo.


Supõe-se um iluminado, e não passa de um cego. A propósito desse gênero de cegueira disse o mesmo autor da parábola, em cuja trama figuram o Pródigo e o Egoísta:


"Graças te dou, meu Pai, porque escondeste as tuas verdades dos grandes e prudentes, e as revelaste aos inscientes e pequeninos. "

Finalmente: nós nos inclinamos para o Pródigo, e desdenhamos o seu irmão, porque escrito está: Aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado. Tal é a lei a que nosso coração espontaneamente obedece.



Allan Kardec

mt 6:9
O Evangelho Segundo o Espiritismo

Categoria: Livro Espírita
Ref: 10364
Capítulo: 28
Página: 403
Allan Kardec
Prefácio. Os Espíritos recomendaram que, encabeçando esta coletânea, puséssemos a Oração dominical, não somente como prece, mas também como símbolo. De todas as preces, é a que eles colocam em primeiro lugar, seja porque procede do próprio Jesus (Mateus 6:9-13), seja porque pode suprir a todas, conforme os pensamentos que se lhe conjuguem; é o mais perfeito modelo de concisão, verdadeira obra-prima de sublimidade na simplicidade. Com efeito, sob a mais singela forma, ela resume todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e de submissão; o pedido das coisas necessárias à vida e o princípio da caridade. Quem a diga, em intenção de alguém, pede para este o que pediria para si.
Contudo, em virtude mesmo da sua brevidade, o sentido profundo que encerram as poucas palavras de que ela se compõe escapa à maioria das pessoas. Daí vem o dizerem-na, geralmente, sem que os pensamentos se detenham sobre as aplicações de cada uma de suas partes. Dizem-na como uma fórmula cuja eficácia se ache condicionada ao número de vezes que seja repetida. Ora, quase sempre esse é um dos números cabalísticos: três, sete ou nove tomados à antiga crença supersticiosa na virtude dos números e de uso nas operações da magia.
Para preencher o que de vago a concisão desta prece deixa na mente, a cada uma de suas proposições aditamos, aconselhado pelos Espíritos e com a assistência deles, um comentário que lhes desenvolve o sentido e mostra as aplicações. Conforme, pois, as circunstâncias e o tempo de que disponha, poderá, aquele que ore, dizer a oração dominical, ou na sua forma simples, ou na desenvolvida.

Wallace Leal Valentim Rodrigues

mt 6:9
À Luz da Oração

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 1
Francisco Cândido Xavier
Diversos
Wallace Leal Valentim Rodrigues

“Pai nosso…” — JESUS (Mt 6:9)


A grandeza da prece dominical nunca será devidamente compreendida por nós que lhe recebemos as lições divinas. Cada palavra, dentro dela, tem a fulguração de sublime luz.

De início, o Mestre Divino lança-lhe os fundamentos em Deus, ensinando que o Supremo Doador da Vida deve constituir, para nós todos, o princípio e a finalidade de nossas tarefas.

É necessário começar e continuar em Deus, associando nossos impulsos ao plano divino, a fim de que nosso trabalho não se perca no movimento ruinoso ou inútil.

O Espírito Universal do Pai há de presidir-nos o mais humilde esforço, na ação de pensar e falar, ensinar e fazer.

Em seguida, com um simples pronome possessivo, o Mestre exalta a comunidade. Depois de Deus, a Humanidade será o tema fundamental de nossas vidas.

Compreenderemos as necessidades e as aflições, os males e as lutas de todos os que nos cercam ou estaremos segregados no egoísmo primitivista.

Todos os triunfos e fracassos que iluminam e obscurecem a Terra pertencem-nos, de algum modo.

Os soluços de um hemisfério repercutem no outro.

A dor do vizinho é uma advertência para a nossa casa.

O erro de um irmão, examinado nos fundamentos, é igualmente nosso, porque somos componentes imperfeitos de uma sociedade menos perfeita, gerando causas perigosas e, por isso, tragédias e falhas dos outros afetam-nos por dentro.

Quando entendemos semelhante realidade, o “império do eu” passa a incorporar-se por célula bendita à vida santificante.

Sem amor a Deus e à Humanidade, não estamos suficientemente seguros na oração.

Pai nosso… — disse Jesus para começar.

Pai do Universo… Nosso mundo…

Sem nos associarmos aos propósitos do Pai, na pequenina tarefa que nos foi permitido executar, nossa prece será, muitas vezes, simples repetição do “eu quero”, invariavelmente cheio de desejos, mas quase sempre vazio de sensatez e de amor.



mt 6:9
Cura

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 1
Francisco Cândido Xavier
Diversos
Wallace Leal Valentim Rodrigues

Se houve alguém na Terra com autoridade suficiente para definir o Supremo Criador do Universo, esse alguém foi Jesus, que O representava, sublime, à frente da Humanidade.

Entretanto, para desincumbir-se da divina missão de revelá-lo a nós outros, não se perde em cogitações da inteligência, de vez que a inteligência é fatalmente constrangida a renovar-se, todos os dias.

  Nem presunção.

  Nem retórica.

  Nem violência.

  Nem fantasia.

O Mestre Inolvidável serviu apenas; elegendo no amor puro e irrestrito, a força de sua mensagem inesquecível.

De todas as criaturas busca a melhor parte para exalçá-las à gloria excelsa.

Doutrinando os doutores do Templo, não lhes menospreza a cultura. Apenas esclarece-os.

Em contato com Zaqueu, não lhe amaldiçoa os haveres. Auxilia-o a usá-los.

Junto de Madalena, não lhe vergasta a condição de mulher sofredora. Soergue-lhe o bom ânimo.

Ao pé dos enfermos de todos os matizes, não lhes destaca os erros e os compromissos. Ajuda-os, simplesmente.

Sofrendo a negação de Pedro, não lhe condena a atitude. Espera a hora justa de ampará-lo com segurança.

Perseguido de Saulo, não lhe arroja a alma ardente aos pântanos infernais. Procura-o com bondade e transforma-o para o bem.

É que somente através do amor realizado e vivido conseguiremos, de alguma sorte, sentir a grandeza do Autor de Nossos Dias.

E é ainda por essa razão que o próprio Jesus, convidado pelos discípulos a estabelecer uma norma de oração, no campo da Boa Nova, Ele que trazia das Esferas Resplendentes a luz da eterna sabedoria, limitou-se à reverência e ao amor, ao respeito e à confiança, definindo Deus, a Causa de Toda Vida, como sendo Nosso Pai. (Mt 6:9)



mt 6:9
Falando a Terra

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 8
Francisco Cândido Xavier
Diversos
Wallace Leal Valentim Rodrigues

Fala a criatura ao Criador, na oração. Fala o Criador à criatura, na pregação.

A linguagem do louvor, ou da súplica, sobe da Terra. A palavra de consolo, ou de advertência, desce das Alturas.

Há muitos que invectivam o pregador de existência claudicante e repelem a mensagem divina, esquecidos de que eles mesmos alimentam o corpo com os frutos da natureza, criados nas adjacências da lama.

Deus, que desabotoa flores perfumadas no pântano, pode colocar as glórias da revelação em lábios ainda impuros.

Ninguém saborearia as folhas tenras da alface à mesa festiva, com a mente voltada para os vermes da horta.

O cântaro lodoso pode recolher a água cristalina da chuva, para socorrer o viajor alquebrado pela canícula.

Não desprezemos, por bagatelas da carne ambulante e frágil, os dons da luz eterna.

As notícias do Reino Divino podem chegar até nós por intermédio das inteligências mergulhadas nas trevas, assim como os relâmpagos de clarão deslumbrante faíscam dentro da noite escura.

Importa, em todos os lugares e em tudo, ver o melhor e escolher a boa parte.

A frase que acende em nós a flama da virtude ou que nos inclina à meditação, que nos torna o sentimento mais doce e o raciocínio mais elevado, é uma flor celeste, desabrochando no tronco do nosso pensamento inferior e primitivo, por miraculoso processo de enxertia divina.

“Aquele que julga estar de pé, olhe não caia” (1co 10:12) — disse o apóstolo Paulo; e o apóstolo Tiago assevera à cristandade: — “Toda boa dádiva vem do Alto.” (Tg 1:17)

Que possuirá o homem de excelente, que lhe não tenha sido prodigalizado de Cima?

Ainda mesmo quando na boca de um criminoso confesso, a palavra do bem é fruto precioso do amor de Deus, amadurecido nos galhos tristes do arrependimento humano.

Em todos os tempos e em todos os círculos de atividade comum, a argumentação restauradora e santificante da fé representa a conversação do Pai com os filhos, entre a misericórdia e a necessidade.

Ninguém se suponha esquecido pelo Senhor, porque o Senhor nos dirige a palavra, através de todo verbo construtivo que nos leve ao bem.

“O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje” (Mt 6:9) — afirma a prece dominical. Mal-avisados viveríamos se nos julgássemos precisados tão só de viandas fortalecedoras do corpo em trânsito para as cinzas do túmulo. Referia-se Jesus, muito mais, ao pão espiritual do coração e da consciência, no santuário da alma que nunca morre, pão que é alimento da palavra enobrecedora, do esclarecimento digno, da cultura edificante e da elevação divina.

Onde luzir o verbo da bondade que auxilia e educa, aí se reflete, magnânima, a voz da Providência.

Cada vez que implorarmos os favores do Altíssimo, não nos esqueçam os recados e os avisos, as lições e as advertências que havemos recebido do Amoroso Senhor.


mt 6:9
Novamente em Casa

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 6
Francisco Cândido Xavier
Diversos
Wallace Leal Valentim Rodrigues

Geraldo faleceu em seu sítio, localizado em Bela Vista de Goiás, por morte violenta, aos 50 anos de idade.

Casado com Olívia Rodrigues de Souza, pai de cinco filhos: Silcio, Silma, João Cícero, Geraldo e Kênia.

Sobre sua partida e a mensagem que enviou pelo Chico, assim se expressou a esposa:




DEPOIMENTO DA ESPOSA


Em minha primeira visita ao Chico Xavier, em maio de 1980, obtive apenas uma afirmação que em breve receberia uma comunicação do meu Geraldo.

Já em agosto recebi notícias de que ele estava reconstituindo as próprias forças espirituais, junto de abnegados Benfeitores da Vida Maior.

Nesta ocasião, elevei meu pensamento a Jesus e pedi com muita fé que, se fosse possível, queria ir até lá onde estava o Geraldo. Graças a Deus fui levada até o Plano Espiritual e encontrei-me com meu esposo. Dialogamos com muita felicidade e paz, sem, contudo, posteriormente, recordar as palavras que trocamos.

Em janeiro de 1981, recebi a mensagem que nos trouxe, a mim e aos nossos filhos, parentes e amigos, um enorme conforto, inclusive eliminando dos nossos corações a dor da separação brusca e inesperada e levando-nos a compreender a Vida Espiritual, retirando dos nossos corações a revolta e a ideia de vingança.





Querida Olívia, peço a Deus nos abençoe.

Estamos nós dois como quem rema contra a maré, no entanto, acima de nós reina o amor infinito de Deus. E Deus não permitirá que os nossos filhos recebam uma herança de ódio que não acumulamos nos corações.

Ainda não pude efetivamente usufruir o repouso a que aspiro, depois da erradicação de meu pobre Espírito do corpo amigo que me servia por tenda de trabalho e tenda de fé.

Em verdade, querida esposa, eu queria ter continuado a viver. Não supunha que os braços de amigos que estimamos tanto se erguessem contra mim, a ponto de furtar-me a existência.

Nos primeiros instantes, a dor do inesperado me dominou a vida íntima; você e os nossos filhinhos me povoavam os últimos pensamentos.

Chorei à maneira da criança que inutilmente roga pelo regaço materno, mas uma doce sensação de calma me envolveu de todo… E dormi, conquanto me esforçasse por sustentar-me vigilante e atento, quanto se me fizesse possível.

Ansiava reagir contra aquele torpor que me paralisara os movimentos, no entanto, creio que a perda de minhas forças acentuava o desmaio em que me vi arrasado, de um instante para outro…

Quis rezar, pensar em Deus, suplicar proteção em nosso benefício, contudo, os meus pensamentos me pareciam pássaros a fugir da gaiola de minha própria cabeça…

O sono foi profundo…

Depois, sem que me fosse permitido perceber quanto tempo gastara em semelhante inconsciência, despertei num quarto de hospital.

Minha angústia, em não enxergando a presença de vocês, foi natural… Gritei por você, por minha mãe.

Quando tudo me parecia silêncio e indiferença nas figuras vestidas de branco que me amparavam, ao modo de enfermeiras prudentes, surgiu o meu pai Joaquim e a minha avó Placidina,  solicitando-me calma. O resto pode você adivinhar…

Ouvi seus pedidos de esposa e mãe, nas preces do quarto, encharcadas de lágrimas, implorando a Jesus por meu repouso, no entanto, ao mesmo tempo, escutei as vozes da ira de quantos convidavam seu coração a vingança…

Não sei o que mais me doeu nas fibras mais íntimas, se o seu sofrimento de quem se via a sós para solução de tantos problemas ou a tristeza de verificar a revolta reinante em tantos dos nossos corações mais queridos.

Agora que me expliquei quanto pude, rogo ao seu devotamento de esposa e filha, suplicar da mamãe Lázara  para que se compadeça de nossos irmãos que não conseguiram compreender a extensão de nossa confiança e de nossa estima.

Amargo seria para nós todos se fosse eu quem houvesse perdido a bússola da razão, convertendo-me no adversário gratuito de pessoas dignas de nosso apreço.

Peço a meus filhos esquecerem os fatos em si. Não desejo que o Silcio cresça armazenando ideias de ressentimento ou de impulsos outros que fariam dele um coração incompatível com a formação que nós ambos procuramos plasmar para o bem com sinceridade e carinho.

Querida Olívia, rogue aos seus irmãos olvido e desculpas, mas desculpas e olvido que lhes nasçam do peito, diante dos nossos companheiros infelizes.

Não creio que me tivessem atacado em sã consciência. O delito é uma forma de delírio que precisamos compreender e perdoar, entendendo que o nosso cérebro é igualmente capaz de cair em sombras e alienar-se à frente da realidade.

Continue a pensar com grandeza de coração em nossos imaginários ofensores. Eles são dignos da bênção de Deus, tanto quanto nós.

E prossiga doando ao Silcio, à Silma, ao Geraldo, ao João Cícero e a nossa Kênia, os sentimentos de amor com os quais precisarão viver com a bênção de Jesus.

Rogo a você dizer à querida mãezinha Lázara para que me lembre em seu colo quando menino. A mamãe me colocava, então, de joelhos e me fazia repetir as palavras santas do “Pai Nosso”. (Mt 6:9) Recordo-a afirmando: “e perdoa, Senhor, às nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.

Agora, querida Olívia, sou eu e o papai Joaquim, os companheiros que tentamos avivar-lhe a memória a fim de perdoar e esquecer tudo aquilo que possa surgir na estrada da vida, sob o nome do mal.

A vovó Placidina e a vovó Emerenciana  me fazem companhia para escrever a você esta carta que devo terminar.

Mais uma vez rogo a você recusar todas as propostas de acusação e vingança contra os nossos irmãos sofredores e desorientados. Basta viver para que uma criatura se redima aos próprios olhos com relação a quaisquer culpas.

E se passei pelo resgate, naturalmente devia… Por enquanto, não tenho memória suficiente para minudenciar o meu passado de Espírito consciente, mas graças a Deus, reconheço que estamos regidos por leis inalienáveis.

A todos os nossos, especialmente à mãezinha Lázara e aos queridos filhos, as minhas lembranças e você receba neste papel que me reflete o pranto de agradecimento a Jesus pela possibilidade de falar com você, todo o coração do seu esposo e companheiro sempre seu,


Geraldo Arantes de Souza

23/1/1981    



Joaquim Elói de Souza, genitor de Geraldo, falecido em 1975. Placidina Maria de Jesus, bisavó de D. Olívia, desencarnada há um século.


Lázara Marques Arantes, genitora do Geraldo.


Maria Emerenciana Arantes, avó, desencarnada há meio século.


Caio Ramacciotti

mt 6:9
Vozes do Grande Além

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 17
Francisco Cândido Xavier
Diversos
Wallace Leal Valentim Rodrigues

Reunião de 6 de outubro de 1955.

Na parte final de nossas tarefas, tivemos a alegria de ouvir Meimei,  a nossa abnegada irmã de sempre, que nos falou, comovida, sobre a palavra de Jesus.


Meus irmãos. Deus nos abençoe.

A palavra do Cristo é a luz acesa para encontrarmos na sombra terrestre, em cada minuto da vida, o ensejo divino de nossa construção espiritual.

Erguendo-a, vemos o milagre do pão que, pela fraternidade, em nós se transforma, na boca faminta, em felicidade para nós mesmos.

Irradiando-a, descobrimos que a tolerância por nós exercida se converte nos semelhantes em simpatia a nosso favor.

Distribuindo-a, observamos que o consolo e a esperança, o carinho e a bondade, veiculados por nossas atitudes e por nossas mãos, no socorro aos companheiros mais ignorantes e mais fracos, neles se revelam por bênçãos de alegria, felicitando-nos a estrada.

Geme a Terra, sob o pedregulho imenso que lhe atapeta os caminhos…

Sofre o homem sob o fardo das provações que lhe aguilhoam a experiência.

E assim como a fonte nasce para estender-se, desce o dom inefável de Jesus sobre nós para crescer e multiplicar-se.

Levantemos, cada hora, essa luz sublime para reerguer os que caem, fortalecer os que vacilam, reconfortar os que choram e auxiliar os que padecem.

O mundo está repleto de braços que agridem e de vozes que amaldiçoam.

Seja a nossa presença junto dos outros algo do Senhor inspirando alegria e segurança.

Não nos esqueçamos de que o tempo é um empréstimo sagrado e quem se refere a tempo diz oportunidade de ajudar para ser ajudado, de suportar para ser suportado, de balsamizar as feridas alheias para que as nossas feridas encontrem remédio e de sacrificarmo-nos pela vitória do bem, para que o bem nos conduza à definitiva libertação.

Nós que tantas vezes temos abusado das horas para impor, aos que nos seguem, o Reino do Senhor, à força de reprovações e advertências, saibamos edificá-lo em nós próprios, no silêncio do trabalho e da renúncia, da humildade e do amor..

Meus irmãos, no seio de todos os valores relativos e instáveis da existência humana, só uma certeza prevalece — a certeza da morte, que restitui às nossas almas os bens ou os males que semeamos na alma dos outros.

Assim, pois, caminhemos com Jesus, aprendendo a amar sempre, repetindo com Ele, em nossas proveitosas dificuldades de cada dia: — “Pai Nosso, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como nos Céus.” (Mt 6:9)




MEIMEI — Pseudônimo de D. Irma de Castro Rocha. Companheira espiritual do Grupo “Meimei”, em Pedro Leopoldo. Desencarnada em 1946.



Hércio M.C.Arantes

mt 6:9
Amor sem Adeus

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 6
Francisco Cândido Xavier
Hércio M.C.Arantes

Em todos os quadrantes de nossa “casa planetária”, um acontecimento natural ocorre incessantemente, ainda inaceitável pela maioria esmagadora das criaturas: a morte.

Quando em plenitude de saúde, os nossos pensamentos estão sempre voltados para as lutas do dia a dia, dirigidos às atividades rotineiras do trabalho ou do lazer, e esse inevitável fenômeno dificilmente é lembrado ou analisado seriamente.

Inclusive, há quem diz que prefere — mesmo com tempo disponível para perquirições, além das rotineiras, ou já na senectude — não pensar na morte! Se tudo está bem, porque cogitar do assunto?

Consequentemente, a morte nos colhe sempre de surpresa.

Diante de um fato inevitável, que ocorrerá conosco e com os nossos entes amados, a lógica recomenda-nos preparar para enfrentá-lo. Enfrentar e aceitar o acontecimento com o máximo de equilíbrio possível, que só poderá ser alcançado com a compreensão plena das leis que regem o fenômeno. Não podemos ir de encontro às Leis da Natureza, pelo contrário, o bom-senso aconselha-nos o estudo e a meditação das mesmas.

É indiscutível que a extinção da vida física, embora represente a execução de uma lei, que atinge a todos os seres vivos, permaneça inaceitável, e, inclusive temida pela maioria das pessoas.

Quais são as causas do temor da morte?

Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, analisando tão palpitante e sempre atualizado tema, fez alentado estudo do qual focalizaremos os tópicos, a nosso ver, fundamentais:

a) “A crença da imortalidade é intuitiva e muito mais generalizada do que a do nada. Entretanto, a maior parte dos que nele creem apresentam-se-nos possuídos de grande amor às coisas terrenas e temerosos da morte! Por quê?

b) Este temor é um efeito da sabedoria da Providência e uma consequência, do instinto de conservação comum a todos os viventes. Ele é necessário enquanto não se está suficientemente esclarecido sobre as condições da vida futura, como contrapeso à tendência que, sem esse freio, nos levaria a deixar prematuramente a vida, e a negligenciar o trabalho terreno que deve servir ao nosso próprio adiantamento. Assim é que, nos povos primitivos, o futuro é uma vaga intuição, mais tarde tornada simples esperança e, finalmente, uma certeza apenas atenuada por secreto apego à vida corporal.

c) A proporção que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui; uma vez esclarecida a sua missão terrena, aguarda-lhe o fim calma, resignada e serenamente. A certeza da vida futura dá-lhe outro curso às ideias, outro fito ao trabalho; antes dela nada que se não prenda ao presente; depois dela tudo pelo futuro sem desprezo do presente, porque sabe que aquele depende da boa ou da má direção deste. A certeza de reencontrar seus amigos depois da morte, de reatar as relações que tivera na Terra, de não perder um só fruto do seu trabalho, de engrandecer-se incessantemente em inteligência, perfeição, dá-lhe paciência para esperar e coragem para suportar as fadigas transitórias da vida terrestre. A solidariedade entre vivos e mortos faz-lhe compreender a que deve existir na Terra, onde a fraternidade e a caridade têm desde então um fim e uma razão de ser, no presente como no futuro.

d) A Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são as próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação; aí os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases da felicidade e da desgraça, assistindo, enfim, a todas as peripécias da vida de além-túmulo.” 


O vale da morte nunca foi uma barreira intransponível, separando-nos de forma absoluta daqueles que nos precederam na viagem de retorno à Pátria Espiritual.

E, consequentemente, as manifestações dos Espíritos se fizeram sentir em todas as épocas da Humanidade, ora mais, ora menos ostensivamente, alertando-nos para as realidades extrafísicas.

Walter Perrone é mais um habitante do chamado Mundo Invisível que nos vem erguer o véu da vida espiritual, expondo-nos a sua nova situação com características pessoais e marcantes, além de citar fatos e nomes, desconhecidos totalmente do médium, somente identificáveis pelos seus íntimos.

Com outras palavras, diremos que a sua carta veio pelo correio mediúnico com o selo da autenticidade.


A habitual repulsa ao fenômeno da morte frequentemente assume proporções de desespero e de revolta nas situações em que os nossos entes queridos são atingidos por ela inesperadamente, principalmente quando de forma violenta.

As desencarnações violentas constituem um tema de estudo dos mais oportunos na época atual. Quem assiste a esses dolorosos acontecimentos ouve sempre as angustiantes exclamações:

— Não posso conformar-me com essa morte!

— Mau Deus, que infelicidade caiu sobre minha família!

— Por que aconteceu essa tragédia, logo comigo?

É a dor dilacerante da separação entre criaturas amadas que amarfanha os corações e impulsiona as mentes dos que ficam, diante dos que partem, a clamar aos céus suplicando, muitas vezes, com o timbre da revolta, uma resposta ou um consolo que possa atenuar os seus sofrimentos.

O desenlace do jovem Walter, como sabemos, ocorreu de forma inesperada.

Como ele viu o acontecimento, do outro lado da vida, após seis meses?

Tudo que sucedeu veio pelo melhor que nos podia buscar. Aos poucos vou estudando os assuntos para compreendê-los. Vou demorar a saber tudo, porque para isso, amados meus, será preciso tranquilidade para conhecer as situações e reconhecer-nos dentro delas, mas saberemos tudo no momento oportuno… Meu Deus, a vida é maravilhosa, e sublime também é a dor que nos desperta a iluminar-nos com a bênção de nova compreensão.

Evidentemente, nessa época, Walter já havia recebido lições valiosas de Mentores Espirituais, permitindo-lhe afirmar que tudo sucedeu pelo melhor, para si e para a família.

Quais teriam sido essas lições?

O ponto de partida para o estudo do problema, em tela, é a compreensão de que Deus, Nosso Pai, estabeleceu leis universais — sábias, justas e misericordiosas — norteadoras dos nossos destinos, leis totalmente voltadas para o nosso Bem, permitindo-nos um constante progresso espiritual.

Basta compreendermos um dos princípios que rege a nossa evolução espiritual — a lei da reencarnação — para que o horizonte de nosso entendimento se dilate consideravelmente frente às dores físicas e morais e às aparentes injustiças do nosso mundo.

Somos Espíritos imortais, encarnados ou desencarnados, que, através da lei dos renascimentos, caminhamos para a perfeição. A evolução é eterna, gradativa, exigindo de cada um de nós contínuo esforço pela aquisição do amor e da sabedoria.

Assim, entendemos que em cada nova imersão no casulo da carne, exteriorizamos as virtudes carentes de maior burilamento, e as más tendências que necessitam de correção, trazidas do pretérito.

Todo esse processo evolutivo não se desenvolve ao acaso. O acaso não existe.

Na irrefreável marcha do progresso espiritual, somos influenciados por condições orgânicas e ambientais: das quais o nosso modo de pensar, sentir e agir dependeria, exclusivamente, segundo a corrente filosófica do determinismo. A atuação desses fatores é indiscutível, mas, além deles, há o nosso “eu” espiritual que pensa e age influenciando, reciprocamente, o próprio veículo físico e o ambiente que o cerca.

Desta forma, atuamos com um livre-arbítrio que nos é peculiar, facultando-nos a escolha, entre o bem e o mal. Embora relativa, tal liberdade nos torna responsáveis pelos nossos atos, que, em todos os dias, participam consideravelmente na estruturação do nosso destino.

Há o determinismo e o livre-arbítrio, ao mesmo tempo, na existência humana?

Em síntese admirável, Emmanuel nos responde: ()

“Determinismo e livre-arbítrio coexistem na vida, entrosando-se na estrada dos destinos, para a elevação e redenção dos homens.

O primeiro é absoluto nas mais baixas camadas evolutivas, e o segundo amplia-se com os valores da educação e da experiência. Acresce observar que sobre ambos pairam as determinações divinas, baseadas na lei do amor, sagrada e única, da qual a profecia foi sempre o mais eloquente testemunho.

Não verificais, atualmente, as realizações previstas pelos emissários do Senhor há dois e quatro milênios, no divino simbolismo das Escrituras?

Estabelecida a verdade de que o homem é livre na pauta de sua educação e de seus méritos, na lei das provas, cumpre-nos reconhecer que o próprio homem, à medida que se torna responsável, organiza o determinismo da sua existência, agravando-o ou amenizando-lhe os rigores, até poder elevar-se definitivamente aos Planos superiores do Universo.” 


Analisando, detidamente, todas estas causas que traçam os rumos do nosso destino, chegaremos a várias e importantes conclusões, tais como:

1. Recebemos, na Terra, o corpo que merecemos e de que necessitamos.


2. Ao renascermos, o lar que nos acolhe é o melhor que poderíamos encontrar, pois não só estamos ligados aos familiares por vínculos consanguíneos, mas, fundamentalmente, por laços e compromissos espirituais tecidos no Mundo Maior e no encadeamento das vidas terrenas, sucessivas.


3. Em cada nova jornada terrestre, trazemos um plano de trabalho, organizado no Alto, baseado em nossas necessidades espirituais. Deste plano constam, invariavelmente, provas e expiações. Provas são as dificuldades e lutas com vistas à nossa edificação espiritual. Expiações são os resgates de dívidas do passado. Não desconhecemos que colhemos no presente o que semeamos no passado, assim como a semeadura de hoje, facultada pelo livre-arbítrio, define uma obrigação inevitável de colheita no futuro. É a lei de causa e efeito, regendo as nossas vidas.

O grande escritor francês, Léon Denis, dá a esta lei também os nomes de lei de justiça e lei de responsabilidade, conceituando-a assim: “…não é, em essência, senão a lei de harmonia; determina as consequências dos atos que livremente praticamos. Não pune nem recompensa mas preside simplesmente à ordem, ao equilíbrio do mundo moral como ao do mundo físico. Todo dano causado à ordem universal acarreta causas de sofrimento e uma reparação necessária até que, mediante os cuidados do culpado, a harmonia violada seja restabelecida.” 

E assaz interessante a comparação entre as leis que governam o equilíbrio do mundo moral com as do mundo físico, pois, assim como leis cósmicas nos presidem a experiência física, invariáveis leis morais nos comandam o Espírito imortal.

Definindo com clareza e precisão as consequências dos nossos atos ante a Vida, Denis escreveu a seguir: “O bem e o mal praticados constituem a única regra do destino. Sobre todas as coisas exerce influência uma lei grande e poderosa, em virtude da qual cada ser vivo do Universo só pode gozar da situação correspondente a seus méritos. A nossa felicidade, apesar das aparências enganadoras, está sempre em relação direta com a nossa capacidade para o bem; e essa lei acha completa aplicação nas reencarnações da alma. É ela que fixa as condições de cada renascimento e traça as linhas principais dos nossos destinos. Por isso há maus que parecem felizes, ao passo que justos sofrem excessivamente. A hora da reparação soou para estes e, breve, soará para aqueles.” 

Sabendo que o Criador desta lei é Todo-Misericordioso, afigura-se-nos perfeitamente compreensível a pergunta: a lei da prova e da expiação é inflexível?

Fundamentado no Novo Testamento, Emmanuel nos elucida: ()

“Os tribunais da justiça humana, apesar de imperfeitos, por vezes não comutam as penas e não beneficiam os delinquentes com o “sursis”?

A inflexibilidade e a dureza não existem para a misericórdia divina, que, conforme a conduta do Espírito encarnado, pode dispensar na lei, em benefício do homem, quando a sua existência já demonstre certas expressões do amor que cobre a multidão dos pecados.” 

Pois, se o Velho Testamento foi o primeiro manancial das revelações da Lei Divina, onde brilham os dez mandamentos recebidos por Moisés, constituindo até hoje o fundamento de todos os códigos da justiça terrestre; o Novo Testamento — escrínio das luzes do Evangelho e das mensagens apostólicas — veio, no momento oportuno, revelar à Humanidade a outra face da Lei: a do Amor. Moisés, o austero missionário da Justiça, ensinava: “Olho por olho, dente por dente”, mas, Jesus, o meigo nazareno, muitos séculos depois esclareceria: “Amareis a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a vós mesmos. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” (Mt 22:34).

As causas das aflições humanas, vistas a lume da lei de causa e efeito, foram analisadas com profundidade por Allan Kardec.

Dividiu-as em atuais e anteriores à presente existência. As primeiras levam-nos ao sofrimento, em virtude da nossa própria conduta infeliz na vida atual. Ao comentá-las, foi categórico: () “Os males dessa natureza formam, seguramente, um notável contingente nas vicissitudes da vida; o homem as evitará quando trabalhar para seu aprimoramento moral e intelectual.” 

Abordando as causas anteriores à vida atual, nascidas de males cometidos em existências passadas, explica-nos o porquê de tantas dores, aparentemente incompatíveis com a justiça e o amor de Deus, tais como: as doenças congênitas, os acidentes imprevisíveis e inevitáveis, os flagelos naturais, a perda precoce de seres queridos.

Nesse mesmo capítulo — como fez em quase todos os demais da aludida obra, que elucida as máximas morais evangélicas em face dos ensinamentos dos Espíritos do Senhor, ensinamentos que fundamentaram a Codificação da Doutrina Espírita —, Kardec registrou as “Instruções dos Espíritos” pertinentes ao tema em estudo. Dentre estas, destacaremos a mensagem de Sanson, intitulada: “Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras”, () por focalizar exatamente o assunto de nossas reflexões.

Sanson nos mostra com argumentação convincente que o desespero e a revolta, habituais em nossa conduta frente a essas situações, não se justificam. Consola e orienta os familiares que passam pela compreensível e inevitável dor da separação, dirigindo-se especialmente às progenitoras:

“Mães, sabeis que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, bem perto; seus corpos fluídicos vos cercam, seus pensamentos vos protegem, vossa lembrança os embriaga de alegria; mas também vossas dores desarrazoadas os afligem, porque elas denotam uma falta de fé e são uma revolta contra a vontade de Deus.” 

As mensagens do Além frequentemente confirmam as palavras de Sanson.

O apelo de Walter Perrone não fugiu a essa orientação, porque a atitude mental dos que ficam é fundamental para o equilíbrio emocional dos que partem para a Vida Maior:

Não chore mais, querida mãezinha, suas lágrimas chegam a mim e me transtornam… Mamãe, não continue assim mergulhada nas ideias da morte, porque a vida prossegue.


4. O momento da morte, bem como a sua causa, não estão sujeitos aos chamados “caprichos de um destino cego”, que, se reais, iriam frontalmente de encontro à misericórdia e à justiça de Deus.

Vimos que o nosso destino é resultante da interação do livre-arbítrio e do determinismo, pairando sobre estes dois fatores as Diretrizes Superiores que nos governam a vida.

Por exemplo, um Espírito, antes de um novo mergulho na carne, ciente dos atos praticados em encarnações anteriores, examina detidamente os seus débitos e créditos, análise indispensável para novos empreendimentos com vistas a sua evolução espiritual. Se chegar à conclusão, com o auxílio de Benfeitores Celestes, que precisa passar — bem como os seus futuros familiares — pela prova de um desenlace na infância ou na juventude, este será o seu destino. Um destino doloroso para todos, mas justo e necessário em face das leis naturais que norteiam o progresso espiritual da Humanidade.

As diretrizes fundamentais de uma nova encarnação, como a da forma e do instante do passamento, sempre ficam registradas no subconsciente, ou melhor, nos “arquivos profundos” da memória espiritual do reencarnante, como também, muitas vezes, registradas pelos familiares mais próximos, conhecedores dos fatos antes de se reencarnarem. O grau de fixação de tais informes depende do nível evolutivo de cada um. É oportuno lembrarmos também a possibilidade de tomarmos conhecimento de informações tão importantes, quando já habitamos o vaso físico, em estado de vigília (pela intuição) ou nos momentos de desprendimento espiritual durante o sono. Todas estas modalidades de informações, colhidas antes ou depois da reencarnação, caracterizam a premonição ou o pressentimento.

Daí os lances de inexplicável serenidade observados em muitas criaturas, no leito de dor, à beira da morte… a aceitação resignada dos que cercam o corpo de uma pessoa querida que partiu de forma brusca e inesperada… como que já esperavam, de há muito, o acontecimento.

Evidentemente, tão só os pressentimentos, não estruturam as reações emocionais frente aos grandes momentos da existência, mas, atenuando o impacto dos mesmos, ajudam nos a resguardar o coração das explosões emotivas e a imunizar a mente das revoltas intempestivas, permitindo-nos raciocinar e atuar com o melhor equilíbrio possível.

“— Não há de fatal, no verdadeiro sentido tia palavra, senão o instante da morte. () Quando esse momento chega, seja por um meio ou por outro, vós não podeis dele vos livrar.” 

Esta foi a clara e concisa resposta dos Espíritos a Allan Kardec, quando interpelados sobre a possível fatalidade da morte.

Ao receber este esclarecimento, o Codificador interrogou-os de pronto:

“— Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, nós não morremos, se a hora não é chegada?” 

Obtendo a resposta:

“— Não, tu não perecerás, e disso tens milhares de exemplos. Mas, quando é chegada a tua hora de partir, nada pode subtrair-te dela. Deus sabe, antecipadamente, de qual gênero de morte tu partirás daqui e, frequentemente, teu Espírito o sabe também, porque isso lhe é revelado, quando ele faz a escolha de tal ou tal existência.”

Estas elucidações levam-nos, forçosamente, a meditar sobre questão tão grave, com implicações profundas em nossa vida.

O Espírito de Sanson, em sua mensagem anteriormente citada, () também nos chamou a atenção da “sábia previdência” onde pensamos divisar “a cega fatalidade do destino”, com estas palavras:

“Quando a morte vem ceifar nas vossas famílias, levando sem moderação as pessoas jovens ao invés das velhas, dizeis frequentemente: Deus não é justo, uma vez que sacrifica esse que é forte e pleno de futuro, para conservar aqueles que viveram longos anos plenos de decepções; uma vez que leva aqueles que são úteis e deixa aqueles que não servem mais para nada; uma vez que parte o coração de uma mãe privando-a da inocente criatura que fazia toda a sua alegria.

Humanos, é nisto que vós tendes necessidade de vos elevar acima do terra-a-terra da vida, para compreender que o bem, frequentemente, está onde credes ver o mal, a sábia previdência aí onde credes ver a cega fatalidade do destino. Por que medir a justiça divina pelo valor da vossa? Podeis pensar que o senhor dos mundos queira, por um simples capricho, vos infligir penas cruéis? Nada se faz sem um objetivo inteligente e, qualquer que seja ao que se chegue, cada coisa tem sua razão de ser.”

Como compreender o ato do suicídio em face da fatalidade da morte?

Alguém estaria predestinado a tal tipo de desencarnação?

Não. Jamais há fatalidade para os atos conscientes da vida.

“…confundis sempre duas coisas bem distintas:” — alertam-nos os Espíritos, respondendo à questão 861 de — “os acontecimentos materiais da vida e os atos da vida moral. Se, algumas vezes, há fatalidade, é nos acontecimentos materiais cuja causa está fora de vós, e que são independentes da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, eles emanam sempre do próprio homem, que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de escolha; para esses atos, pois, jamais há fatalidade.”

Este é o mesmo pensamento de Emmanuel, externado ao responder à incisiva pergunta: ()

“— É fatal o instante da morte?

— Com exceção do suicídio, todos os casos de desencarnação são determinados previamente pelas forças espirituais que orientam a atividade do homem sobre a Terra.

Esclarecendo-vos quanto a essa exceção, devemos considerar que, se o homem é escravo das condições externas da sua vida no orbe, é livre no mundo íntimo, razão por que, trazendo no seu mapa de provas a tentação de desertar da vida expiatória e retificadora, contrai um débito penoso aquele que se arruína, desmantelando as próprias energias.

A educação e a iluminação do íntimo constituem o amor ao santuário de Deus em nossa, alma. Quem as realiza em si, na profundeza da liberdade interior, pode modificar o determinismo das condições materiais de sua existência, alçando-a para a luz e para, o bem. Os que eliminam, contudo, as suas energias próprias, atentam contra a luz divina que palpita em si mesmos. Daí o complexo de suas dívidas dolorosas.

E existem ainda os suicídios lentos e gradativos, provocados pela ambição ou pela inércia, pelo abuso ou pela inconsideração, tão perigosos para a vida da alma, quanto as que se observam, de modo espetacular, entre as lutas do mundo.

Essa a razão pela qual tantas vezes se batem os instrutores dos encarnados, pela necessidade permanente de oração e de vigilância, a fim de que os seus amigos não fracassem nas tentações.” 


Quando Walter se dirigiu aos familiares, não só deu um eloquente testemunho da imortalidade, como exalçou um tema básico, fundamental em qualquer análise atenta, que se faça dos problemas, grandes ou pequenos, de nossa existência: Deus está em nós e devemos permanecer em Deus.

Com esta frase lapidar, concitou os seus e a todos nós a meditar, mais detidamente, nos fatores transcendentes que regem as mínimos fenômenos da vida.

Há séculos e séculos a Humanidade vem recebendo, incessantemente, esclarecimentos superiores, reveladores da Paternidade e do Amor Infinito do Criador.

Nunca é demais recordar alguns clarões da Verdade que, vencendo as barreiras do tempo, iluminam até hoje o pensamento humano: quando Jesus — o Guia Espiritual da Terra —, ao ensinar-nos a orar, assim iniciou a súplica a Deus: “Pai Nosso, que estais nos céus…” (Mt 6:9); e o apóstolo Paulo, em seu célebre discurso no Areópago de Atenas, apesar de enfrentar um ambiente de incompreensão e hostilidade, não titubeou em afirmar, referindo-se a Deus: “Porque nele viemos, e nos movemos, e existimos.” (At 17:28).

Somente com uma compreensão maior da Providência Divina — a tudo presidindo, regendo leis sábias e justas com o objetivo de impulsionar-nos para a perfeição espiritual — é que poderemos enfrentar as duríssimas situações em que as mortes prematuras e/ou violentas nos colocam. O entendimento desta Assistência Superior gera em nós paz íntima, e, embora derramemos lágrimas sinceras à ebulição da dor inevitável da separação, não nos revoltaremos.




KARDEC, Allan — . 21ª ed., rev., trad. do francês por Manuel J. Quintão, Rio de Janeiro, FEB [1974] cap. II.

XAVIER, Francisco Cândido — . Pelo Espírito Emmanuel. 6ª ed., Rio de Janeiro, FEB [1976] q. 132.

LÉON DENIS — r. 9ª ed., Rio de Janeiro, FEB [1975] p. 168.

, p. 168.

XAVIER, Francisco Cândido — . Pelo Espírito Emmanuel, q. 247.

KARDEC, Allan — O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed., trad. do francês por Salvador Gentile, Araras (SP). IDE [1978] cap. V, p. 72.

, cap. V, p. 86.

KARDEC, Allan — O Livro dos Espíritos. 3ª ed., trad. do francês por Salvador Gentile, Araras (SP), IDE [1977] q. 853.

, q. 853.

XAVIER, Francisco Cândido — . Pelo Espírito Emmanuel, q. 146.



Bezerra de Menezes

mt 6:9
Bezerra, Chico e Você

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 30
Francisco Cândido Xavier
Bezerra de Menezes

Senhor Jesus!

Rogando-te permissão para reverenciar o divino apostolado, nós te louvamos e agradecemos as oportunidades de trabalho, das quais nos enriqueces a existência.


Abençoa-nos, Senhor, com a tua infinita bondade a fim de aprendermos a servir-te, na pessoa daqueles irmãos nossos da Humanidade, tantas vezes em obstáculos maiores do que os nossos.

Conserva-nos aqui, em teu amor, e ensina-nos a encontrar-te nas tarefas do bem a que nos designas, para que não nos percamos nas sombras em que, porventura, se nos envolvam os caminhos, nos variados climas terrestres!…


Nas horas felizes, dá-nos a tua inspiração e a tua luz, para que a nossa alegria não se converta em flor estéril, na seara de tuas bênção e, nos dias difíceis, sê nosso apoio para que a provação não nos abata ou destrua.


Ajuda-nos a identificar-te a presença divina, em cada coração necessitado de socorro ou de amor que nos bata à porta e supre-nos de forças e recursos, na munificência de teu amparo, no desempenho das nossas obrigações.


Quando a incerteza nos visite em ação, coloca, Jesus, por misericórdia, a tua mão em nossas mãos e guia-nos o sentimento, para que o bem se faça, não segundo a nossa visão humana e estreita, e sim de acordo com as disposições sábias e compassivas de tua vontade.


Quando possíveis incompreensões nos impulsionem a qualquer dificuldade de entendimento, guarda-nos em tua paciência e induze-nos à união e humildade, auxiliando-nos a saber que a obra de elevação, em que nos permites cooperar é sempre tua e não nossa.


Faze-nos reconhecer que a caridade começa invariavelmente de nossas relações mútuas, porquanto, apenas em nos servindo uns aos outros é que conseguiremos irradiar o amor que nos deste para distribuir com os nossos semelhantes.


Senhor, ampara-nos e orienta-nos, para que possamos, um dia,corresponder plenamente ao teu mandato de confiança!… E, suplicando-te, mais uma vez, acolher-nos em teu coração misericordioso e augusto, terminamos a nossa rogativa com aquela outra que nos legaste por luz divina, no caminho dos cristãos de todos os séculos:

“Pai Nosso, que estás nos Céus, santificado seja o teu nome:venha a nós o teu reino; seja feita, oh! Pai, a tua vontade, assim na Terra como nos Céus; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores; não nos deixes cair em tentação e livra-nos do mal, porque teus são o Reino, o poder, a majestade e a glória para sempre. Assim seja!”(Mt 6:9)



De mensagem recebida em 4.04.1971.



Humberto de Campos

mt 6:9
Boa Nova

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 18
Francisco Cândido Xavier
Humberto de Campos

Curada pelo Mestre Divino, (Mc 1:29) a sogra de ficara maravilhada com os poderes ocultos do Nazareno humilde, que falava em nome de Deus, enlaçando os corações com a sua fé profunda e ardente. Restabelecida em sua saúde, passou a reflexionar mais atentamente acerca do Pai que está nos Céus, sempre pronto a atender às súplicas dos filhos. Chamando certo dia o genro para um exame detido do assunto, consultou-o sobre a possibilidade de pedirem a Jesus favores excepcionais para a sua família. Lembrava-lhe a circunstância de ser o Mestre um emissário poderoso do Reino de Deus que parecia muito próximo. Concitava-o a ponderar ao Messias que eles eram dos seus primeiros colaboradores sinceros e a enumerar-lhe as necessidades prementes da família, a exiguidade do dinheiro, o peso dos serviços domésticos, a casa pobre de recursos, situação a que as imensas possibilidades de Jesus, cheio de poderes prodigiosos, seriam capazes de remediar.

O pescador simples e generoso, tentado em seus sentimentos humanos, examinou aquelas observações destinadas a lhe abrir os olhos com referência ao futuro. Entretanto, refletiu que Jesus era Mestre e nunca desprezava qualquer ensejo de bem ensinar o que era realmente proveitoso aos discípulos. Acaso, não saberia ele o melhor caminho? Não viam em sua presença alguma coisa da própria presença de Deus? Guardando, contudo, indeciso o espírito, em face das ponderações familiares, buscou uma oportunidade de falar com o Messias acerca do assunto.




Chegada que foi a ocasião, o apóstolo procurou provocar muito de leve a solução do problema, perguntando a Jesus, com a sua sinceridade ingênua:

— Mestre, será que Deus nos ouve todas as orações?

— Como não, Pedro? — respondeu Jesus solicitamente. — Desde que começou a raciocinar, observou o homem que, acima de seus poderes reduzidos, havia um poder ilimitado, que lhe criara o ambiente da vida. Todas as criaturas nascem com tendência para o mais alto e experimentam a necessidade de comungar com esse Plano elevado, donde o Pai nos acompanha com o seu amor, todo justiça e sabedoria, onde as preces dos homens o procuram sob nomes diversos. Acreditarias, Simão, que, em todos os séculos da vida humana, recorreriam as almas, incessantemente, a uma porta silenciosa e inflexível, se nenhum resultado obtivessem?… Não tenhas dúvida: todas as nossas orações são ouvidas!…

— No entanto — exclamou respeitoso o discípulo —, se Deus ouve as súplicas de todos os seres, por que tamanhas diferenças na sorte? Por que razão sou obrigado a pescar para prover à subsistência, quando ganha bom salário no serviço dos impostos, com a sabedoria dos livros? Como explicar que disponha de servas numerosas, quando minha mulher é obrigada a plantar e cuidar a nossa horta?

Jesus ouviu atento essas suas palavras e retrucou:

— Pedro, precisamos não esquecer que o mundo pertence a Deus e que todos somos seus servidores. Os trabalhos variam, conforme a capacidade do nosso esforço. Hoje pescas, amanhã pregarás a palavra divina do Evangelho. Todo trabalho honesto é de Deus. Quem escreve com a sabedoria dos pergaminhos não é maior do que aquele que traça a leira laboriosa e fértil, com a sabedoria da terra. O escriba sincero, que cuida dos dispositivos da lei, é irmão do lavrador bem-intencionado que cuida do sustento da vida. Um, cultiva as flores do pensamento; outros, as do trigal que o Pai protege e abençoa. Achas que uma casa estaria completa sem as mãos abnegadas que lhe varrem os detritos? Se todos os filhos de Deus se dispusessem a cobrar impostos, quem os pagaria? Vês, portanto, que, antes de qualquer consideração, é preciso santificar todo trabalho útil, como quem sabe que o mundo é morada de Deus.

Já pensaste que, se a tua esposa cuida das plantas de tua horta, Joana de Cusa educa as suas servas?! A qual das duas cabe responsabilidade maior, à tua mulher que cultiva os legumes, ou à nossa irmã que tem algumas filhas de Deus sob sua proteção? Quem poderá garantir que Joana terá essa responsabilidade por toda a vida? No mundo, há grandes generais que apesar das suas vitórias passam também pelas duras experiências de seus soldados. Assim, Pedro, precisamos considerar, em definitivo, que somos filhos e servos de Deus, antes de qualquer outro título convencional, dentro da vida humana. Necessário é, pois, que disponhamos o nosso coração a bem servi-lo, seja como rei ou como escravo, certos de que o Pai nos conhece a todos e nos conduz ao trabalho ou à posição que mereçamos.

O discípulo ouviu aquelas explicações judiciosas e, confortado com os esclarecimentos recebidos, interrogou:

— Mestre, como deveremos interpretar a oração?

— Em tudo — elucidou Jesus — deve a oração constituir o nosso recurso permanente de comunhão ininterrupta com Deus. Nesse intercâmbio incessante, as criaturas devem apresentar ao Pai, no segredo das íntimas aspirações, os seus anelos e esperanças, dúvidas e amargores. Essas confidências lhes atenuarão os cansaços do mundo, restaurando-lhes as energias, porque Deus lhes concederá de sua luz. É necessário, portanto, cultivar a prece, para que ela se torne um elemento natural da vida, como a respiração. É indispensável conheçamos o meio seguro de nos identificarmos com o Nosso Pai.

Entretanto, Pedro, observamos que os homens não se lembram do Céu, senão nos dias de incerteza e angústia do coração. Se a ameaça é cruel e iminente o desastre, se a morte do corpo é irremediável, os mais fortes dobram os joelhos. Mas, quanto não deverá sentir-se o Pai amoroso e leal de que somente o procurem os filhos nos momentos do infortúnio, por eles criados com as suas próprias mãos? Em face do relaxamento dessas relações sagradas, por parte dos homens, indiferentes ao carinho paternal, da Providência que tudo lhes concede de útil e agradável, improficuamente desejará o filho uma solução imediata para as suas necessidades e problemas, sem remediar ao longo afastamento em que se conservou do Pai no percurso, postergando-lhe os desígnios, respeito às suas questões íntimas e profundas.

Simão Pedro ouvia o Mestre com uma compreensão nova. Não podia apreender a amplitude daqueles conceitos que transcendiam o âmbito da educação que recebera, mas procurava perceber o alcance daquelas elucidações, a fim de cultivar o intercâmbio perfeito com o Pai sábio e amoroso, cuja assistência generosa Jesus revelara, dentro da luz dos seus divinos ensinamentos.




Decorridos alguns dias, estando o Mestre a ensinar aos companheiros uma nova lição referente ao impulso natural da prece, Simão lhe observou:

— Senhor, tenho procurado, por todos os modos, manter inalterável a minha comunhão com Deus, mas não tenho alcançado o objetivo de minhas súplicas.

— E que tens pedido a Deus? — interrogou o Mestre, sem se perturbar.

— Tenho implorado à sua bondade que aplaine os meus caminhos, com a solução de certos problemas materiais.

Jesus contemplou longamente o discípulo, como se examinasse a fragilidade dos elementos intelectuais de que podia dispor para a realização da obra evangélica. Contudo, evidenciando mais uma vez o seu profundo amor e boa vontade, esclareceu com brandura e convicção:

— Pedro, enquanto orares pedindo ao Pai a satisfação de teus desejos e caprichos, é possível que te retires da prece inquieto e desalentado. Mas, sempre que solicitares as bênçãos de Deus, a fim de compreenderes a sua vontade justa e sábia, a teu respeito, receberás pela oração os bens divinos do consolo e da paz.

O apóstolo guardou silêncio, demonstrando haver, afinal, compreendido. Um dos filhos de Alfeu, porém, reconhecendo que o assunto interessava sobremaneira à pequena comunidade ali reunida, adiantou-se para Jesus, pedindo:

— Senhor, ensina-nos a orar!… (Lc 11:1)

Dispondo-os então em círculo e como se mergulhasse o pensamento num invisível oceano de luz, o Messias pronunciou, pela primeira vez, a oração que legaria à Humanidade.

Elevando o seu espírito magnânimo ao Pai Celestial e colocando o seu amor acima de todas as coisas, exclamou:

— “Pai Nosso, que estás nos Céus, santificado seja o teu nome.” E, ponderando que a redenção da criatura nunca se poderá efetuar sem a misericórdia do Criador, considerada a imensa bagagem das imperfeições humanas, continuou: — “Venha a nós o teu Reino.” Dando a entender que a vontade de Deus, amorosa e justa, deve cumprir-se em todas as circunstâncias, acrescentou: “Seja feita a tua vontade, assim na Terra como nos Céus.” Esclarecendo que todas as possibilidades de saúde, trabalho e experiência chegam invariavelmente, para os homens, da fonte sagrada da proteção divina, prosseguiu: — “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.” Mostrando que as criaturas estão sempre sob a ação da lei de compensações e que cada uma precisa desvencilhar-se das penosas algemas do passado obscuro pela exemplificação sublime do amor, acentuou: — “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.” Conhecedor, porém, das fragilidades humanas, para estabelecer o princípio da luta eterna dos cristãos contra o mal, terminou a sua oração, dizendo com infinita simplicidade: “Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo mal, porque teus são o Reino, o poder e glória para sempre. Assim seja.”

Levi, o mais intelectual dos discípulos, tomou nota das sagradas palavras, (Mt 6:9) para que a prece do Senhor fosse guardada em seus corações humildes e simples. A rogativa de Jesus continha, em síntese, todo o programa de esforço e edificação do Cristianismo nascente. Desde aquele dia memorável, a oração singela de Jesus se espalhou como um perfume dos Céus pelo mundo inteiro.


(.Irmão X)

mt 6:9
Crônicas de Além-Túmulo

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 3
Francisco Cândido Xavier
Humberto de Campos

Meus filhos, venho falar a vocês como alguém que abandonasse a noite de Tirésias,  no carro fulgurante de , subindo aos cumes dourados e perfumados do Hélicon.  Tudo é harmonia e beleza na companhia dos numes e dos gênios, mas o pensamento de um cego, em reabrindo os olhos nas rutilâncias da luz, é para os que ficaram, lá longe, dentro da noite onde apenas a esperança é uma estrela de luz doce e triste.

Não venho da minha casa subterrânea de São João Batista,  como os mortos que os larápios, às vezes, fazem regressar aos tormentos da Terra, por mal dos seus pecados. Na derradeira morada do meu corpo ficaram os meus olhos enfermos e as minhas disposições orgânicas. Cá estou como se houvesse sorvido um néctar de juventude no banquete dos deuses.

Entretanto, meus filhos, levanta-se entre nós um rochedo de mistério e de silêncio.

Eu sou eu. Fui o pai de vocês e vocês foram meus filhos. Agora somos irmãos. Nada há de mais belo do que a lei de solidariedade fraterna, delineada pelo Criador na sua glória inacessível. A morte não suprimiu a minha afetividade e ainda possuo o coração de homem para o qual vocês são as melhores criaturas desse mundo.

Dizem que Orfeu,  quando tangia as cordas de sua lira, sensibilizava as feras que se agrupavam enternecidas para escutá-lo. As árvores vinham de longe, transportadas na sua harmonia. Os rios sustavam o curso nas suas correntes impetuosas, quedando-se para ouvi-lo. Havia deslumbramentos na paisagem musicalizada. A morte, meus filhos, cantou para mim, tocando o seu alaúde. Todas as minhas convicções deixaram os seus lugares primitivos para sentir a grandeza do seu canto.

Não posso transmitir esse mistério maravilhoso através dos métodos imperfeitos de que disponho. E, se pudesse, existe agora entre nós: o fantasma da dúvida.

Convidado pelo Senhor, eu também estive no banquete da vida. Não nos palácios da popularidade ou da juventude efêmera, mas no átrio pobre e triste do sofrimento onde se conservam temporariamente os mendigos da sua casa. Minha primeira dor foi a minha primeira luz. E quando os infortúnios formaram uma teia imensa de amarguras para o meu destino, senti-me na posse do celeiro de claridades da sabedoria. Minhas dores eram a minha prosperidade. Porém qual o cortesão de Dionísio,  vi a dúvida como espada afiadíssima balouçando-se sobre a minha cabeça. Aí na Terra, entre a crença e a descrença, está sempre ela, a espada de Dâmocles.  Isso é uma fatalidade.

Venho até vocês cheio de amorosa ternura e se não me posso individualizar, apresentando-me como o pai carinhoso, não podem vocês garantir a impossibilidade da minha sobrevivência. A dúvida entre nós é como a noite. O amor, entretanto, luariza estas sombras. Um morto, como eu, não pode esperar a certeza ou a negação dos vivos que receberem a sua mensagem para a qual há de prevalecer o argumento dubitativo. E nem pode exigir outra coisa quem no mundo não procederia de outra forma.

Sinto hoje, mais que nunca, a necessidade de me impessoalizar, de ser novamente o filho ignorado de dona Anica, a boa e santa velhinha, que continua sendo para mim a mais santa das mães. Tenho necessidade de me esquecer de mim mesmo. Todavia, antes que se cumpra este meu desejo, volto para falar a vocês paternalmente como no tempo em que destruía o fosfato do cérebro a fim de adquirir combustível para o estômago.

— Meus filhos!… Meus filhos!… Estou vivendo… Não me veem?… Mas, olhem, olhem o meu coração como está batendo ainda por vocês!…

Aqui, meus filhos, não me perguntaram se eu havia descido gloriosamente as escadas do Petit Trianon;  não fui inquirido a respeito dos meus triunfos literários e não me solicitaram informes sobre o meu fardão acadêmico. Em compensação, fui arguido acerca das causas dos humildes e dos infortunados pelas quais me bati.

Vivam pois com prudência na superfície desse mundo de futilidades e de glórias vãs.


Num dos mais delicados poemas de Wilde,  as Órcades lamentam a morte de Narciso junto de sua fonte predileta, transformada numa taça de lágrimas.

— Não nos admira — suspiram elas — que tanto tenhas chorado!… Era tão lindo!…

— Era belo Narciso? — perguntou o lago.

— Quem melhor do que tu poderia sabe-lo, se nos desprezava a todas para estender-se nas relvas da tua margem, baixando os olhos para contemplar, no diamante da tua onda, a sua formosura?…

A fonte respondeu:

— Eu chorava Narciso porque, quando me procurava com os olhos, eu via, no espelho das suas pupilas, o reflexo da minha própria beleza.


Em sua generalidade, meus filhos, os homens, quando não são Narciso,  enamorados de sua própria formosura, são a fonte de Narciso.

Não venho exortar a vocês como sacerdote; conheço de sobra as fraquezas humanas. Vivam porém a vida do trabalho e da saúde, longe da vaidade corruptora. E, na religião da consciência retilínea, não se esqueçam de rezar. Eu, que era um homem tão perverso e tão triste, estou aprendendo de novo a minha prece, como fazia na infância, ao pé de minha mãe, na Parnaíba.

Venham, meus filhos!… Ajoelhemos de mãos postas… Não veem que cheguei de tão longe?! Fui mais feliz que o Rico e o Lázaro da parábola, (Lc 16:19) que não puderam voltar… Ajoelhemos no templo do Espírito; inclinem vocês a fronte sobre o meu coração. Cabem todos nos meus braços? Cabem, sim…

Vamos rezar com o pensamento em Deus, com a alma no Infinito. Padre Nosso… que estais no Céu… santificado seja o vosso nome… (Mt 6:9)


(.Irmão X)


8 de abril de 1935.

Cemitério de São João Batista.



Autores diversos  

mt 6:9
Caderno de mensagens

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 15
Francisco Cândido Xavier
Autores diversos  

Conheço Josyan Courté há longo tempo, desde os anos 1960. Participamos de atividades doutrinárias conjuntas, sempre vinculadas a Chico Xavier.

Amigo e colaborador direto do saudoso José Gonçalves Pereira, o que descreve neste seu depoimento tem “fé pública”, pois Josyan possui a dignidade da nobre estirpe do patriciado romano, de que é exemplo , cujo caráter e retidão denotava a marcante influência da gens Cornelia, transmitida por sua mãe. 


Na noite fria de 09.08.1966, sob um luar intenso, Chico e eu dirigimo-nos ao lar dos irmãos João e Lázaro, para participar do “Culto da Oração” que lá se realizava em periferia distante, na cidade de Uberaba.

Sentamo-nos à pequena e rústica mesa com mais alguns poucos companheiros. Chico pediu-me para proferir a prece inicial. Eu tinha acabado de memorizar a “Prece de Lívia”,  porém, mesmo assim, retirei do bolso um fragmento de papel onde li, pausadamente:

“Senhor Jesus, abençoa-nos a fé com que esperamos por ti!… Agradecemos-te a felicidade de nosso encontro e o tesouro da amizade com que nos teces a união. Louvores te rendemos pelo auxílio de nossos companheiros e pelas lições de nossos inimigos. Ensina-nos a descobrir a tua vontade no escuro caminho de nossas provas…

“Dá-nos a conformação ante a dor e a certeza de que as trevas nos conduzirão à verdadeira luz! Senhor, concede-nos a humildade de teu exemplo e a ressurreição de tua cruz! Assim seja!…”


Após a prece, ouviu-se um ruído forte e rouco, como de um vento impetuoso, e o médium Xavier começou a psicografar a página “” de Albino Teixeira.

Quando o vento emudeceu, vimos o médium colocar o lápis à sua frente, apoiando a cabeça com as duas mãos, mantendo os olhos cerrados.

Supúnhamos que a reunião estava para terminar, mas tal não ocorreu. Chico retomou o lápis e psicografou o lindo soneto “” de Auta de Souza.

Após a psicografia, Lázaro retornou a palavra a Chico, que começou a orar a Mt 6:9, para finalizar a reunião.

Nesse momento, irrompeu maravilhoso fenômeno de efeitos físicos.

As palavras saíram da boca do médium, como escritas em pontos de luz, revestidas de intenso brilho dourado, como que flutuando no ar, desaparecendo bem devagar.

Ah! Jesus, como te agradecer, Senhor, as bênçãos recebidas através da mediunidade gloriosa de Francisco Cândido Xavier?

Os demais componentes da mesa, tão surpreendidos como eu, tentavam tocar as lindas palavras luminosas com as pontas dos dedos, o que fazia expandir intenso aroma, que mais tarde vim a identificar como sendo de nardo puro.

Demoramos a nos recompor da emoção e quando saímos em direção do carro para retornar, pequena multidão de carentes, vizinhos dos irmãos João e Lázaro, tão necessitados quanto eles próprios, se comprimiam, aguardando a presença de Chico, como derradeira esperança de amparo naquela noite clara e gelada.

Espontaneamente formaram uma fila. Chico não relutou em atendê-los, um a um, conversando com cada qual quanto quisessem, entregando a todos, sem exceção, cédulas de papel moeda de pequeno valor, o que denominou alegremente como sendo “distribuição de laranjada”, mas que, na verdade, foi um dos “cultos da assistência” mais relevantes que presenciei na minha vida.

Aquelas pessoas, que para o mundo ilusório de César nada significavam, para Chico eram muito, mas muito importantes mesmo, tanto que lhes declinava o nome com intensa amabilidade, como em um encontro de familiares muito queridos.

Foi nessa oportunidade que indaguei do ancião João se ele sabia desde quando o Chico mantinha coberta a cabeça com um gorro escuro que cobria desde a testa à nuca. João respondeu-me que, no dia anterior, o teria visto sem tal acessório da indumentária.

Naquela noite ninguém sabia ainda o que ele queria ocultar: as marcas dos sinais da crucificação do Cristo, em sua própria cabeça, marcas que apareceriam e sumiriam até se fixarem em definitivo, obrigando-o ao sigilo absoluto.

Já dentro do carro, lembro-me que Chico falou da sua grande alegria em ter recebido a comunicação de Auta de Souza, que retornou através da psicografia após muito tempo de ausência.

Perguntei-lhe da identidade de Albino Teixeira, ele respondeu-me tratar-se de pessoa que vivera na Guanabara, e, na Vida Espiritual, apresentava-se como um “”.

A respeito do fenômeno observado na prece final, pretendi obter melhores esclarecimentos, mas ele apenas respondeu-me ter sentido, no encerramento da reunião, a presença de sua mãe, e nada mais adiantou. Retornando a São Paulo, dei-me pressa em relatar os detalhes da viagem a José Gonçalves Pereira, o construtor da enorme obra assistencial levantada às margens do Tietê, na altura do Belenzinho, nos idos de 1960.


Gonçalves, Joaquim Alves, José Bissolli eram amigos de Chico desde a época em que ele realizava sessões de materialização (1952-1953), ocasião em que D. Alvina, mãe de Gonçalves, se materializara por inteiro, à frente do filho.

Essas magníficas reuniões, que apresentavam os Espíritos revestidos com o “ectoplasma” transcendente e luminoso de Chico, foram suspensas por Emmanuel, para atender a prioridade do livro, já que o desgaste físico do Chico era enorme.

Porém, depois daquelas reuniões, só restou àqueles companheiros construírem a “Casa Transitória de Fabiano”, encabeçados pela liderança de Gonçalves dentro do princípio evangélico: “”.

Relatou-nos Julinha (Julia Tecla Kolheisen) —  a mensageira da caridade junto aos hansenianos abrigados em Pirapitingui — que Emmanuel, quando encerrou aqueles trabalhos de materialização, dissera aos presentes que lhes estavam sendo adiantados “cinquenta anos de aprendizado prático espírita-cristão”.

Gonçalves e os demais companheiros compreenderam perfeitamente o recado e procuraram dar conta do crédito espiritual recebido.


Itatiba, 8 de julho de 2011.




O depoimento acima foi extraído do folhetim COMUNICAÇÃO - Ano 45, nº 196, abril a junho de 2012. Editado pelo GEEM - Grupo Espírita Emmanuel.


“” — Ainda não conseguimos identificar a fonte de origem dessa prece, mas no livro Ave, Cristo!  de Emmanuel temos o “” de Lívia.



Francisco Cândido Xavier

mt 6:9
Chico Xavier e suas Mensagens no Anuário Espírita

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 4
Francisco Cândido Xavier

Quando nos reportamos à vontade de Deus, referimo-nos ao controle da Sabedoria Perfeita que nos rege os destinos. E, observando nossa condição de Espíritos eternos, acalentados pelo Infinito Amor da Criação, ser-nos-á sempre fácil reconhecer as determinações de Deus, em todos os eventos do caminho, a nosso respeito, já que a Divina Providência preceitua para cada um de nós:

   saúde e não doença;

   trabalho e não ócio;

   cultura e não ignorância;

   conciliação e não discórdia;

   paz e não desequilíbrio;

   tolerância e não intransigência;

   alegria e não tristeza;

   esperança e não desânimo;

   conformidade e não desespero;

   perdão e não ressentimento;

   êxito e não fracasso;

   prudência e não temeridade;

   coragem e não fraqueza;

   fé e não medo destrutivo;

   humildade e não subserviência;

   intercâmbio e não isolamento;

   disciplina e não desordem;

   progresso e não atraso;

   amor e não indiferença;

   vida e não morte.


Se dificuldades, sofrimentos, desacertos e atribulações nos agridem a estrada, são eles criações nossas, repercussões de nossos próprios atos de agora ou do passado, que precisamos desfazer ou vencer, a fim de nos ajustarmos à vontade de Deus, que nos deseja unicamente o Bem, a Felicidade e a Elevação no Melhor que sejamos capazes de receber dos patrimônios da vida, segundo as leis que asseguram a harmonia do Universo.

Eis porque Jesus, exaltando isso, nos ensinou-nos a reafirmar em oração: — “Pai nosso, que se faça a tua vontade, assim na Terra como nos Céus.” (Mt 6:9)




(Anuário Espírita 1971)


mt 6:9
Mãe Antologia Mediúnica

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 27
Francisco Cândido Xavier

Mãezinha querida!

Sei que hoje serás reverenciada, com todas as mães, em palácios festivos. Tribunas luminosas serão erguidas para elogios públicos. Entretanto, ansiava reencontrar-te, no templo do lar, que sustentaste com sacrifícios mudos.

Ouvi cânticos de profunda beleza, em louvor de teu nome, e atravessei larga fila de cartazes que te recordam na rua, mas, venho rogar-te a canção de simplicidade e doçura com que me embalaste o berço.

Árvore generosa, que me abrigaste o ninho de esperança, ensina-me como pudeste resistir às tempestades que te sacudiram os ramos!

Estrela, que me clareaste os passos primeiros, entre as sombras do mundo, conta-me o que fizeste para brilhar sem fadiga, no longa noite do sofrimento!…

Escutei muitos mestres e folheei muitos livros, no entanto, nenhum deles me falou tão intensamente de Deus, quanto a linguagem silenciosa dos teus beijos de ternura e as letras divinas, a transparecerem, inexplicadas, dos calos de trabalho que te marcam as mãos.

Associando-me às homenagens com que te honram lá fora, procuro inutilmente exprimir o amor que me inspiras e busco, em vão, externar reconhecimento e alegria, porque as palavras se me desfalecem na boca…

Quero proclamar que és a rainha de nossa casa e tento envolver-te a cabeça cansada com as flores de meu carinho, contudo vejo-te a coroa de lágrimas em forma de fios brancos e nada mais consigo dizer que sinto remorso, pensando nas dores e nas aflições que te dei.

Sim, mãezinha! Há banquetes de regozijo que te esperam a melodia da bênção, mas, desculpa se te rogo para ficares comigo no enternecimento do coração.

Traze o pão pobre e alvo que me davas na infância, guarda-me no teu colo e repete, de novo, para que eu possa aprender: “Pai nosso, que estás no Céu”… (Mt 6:9)




Espíritos Diversos

mt 6:9
Coragem

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 24
Francisco Cândido Xavier
Espíritos Diversos

Oraste, pediste.

Desfase-te, porém, de quaisquer inquietações e asserena-te para recolher as respostas da Divina Providência.


Desnecessário aguardar demonstrações espetaculosas para que te certifiques quanto às indicações do Alto.

Qual ocorre ao Sol que não precisa descer ao campo para atender ao talo de erva que lhe roga calor, de vez que lhe basta, para isso, a mobilização dos próprios raios, Deus conta com milhões de mensageiros que lhe executam os Excelsos Desígnios.


Ora e pede.

Em seguida, presta atenção.

Algo virá por alguém ou por intermédio de alguma cousa doando-te, na essência, as informações ou os avisos que solicites.

Em muitas circunstâncias, a advertência ou o conselho, a frase orientadora ou a palavra de bênção te alcançarão a alma, no verbo de um amigo, na página de um livro, numa nota singela de imprensa e até mesmo num simples cartaz que te cruze o caminho.

Mais que isso. As respostas do Senhor às tuas necessidades e petições, muitas vezes, te buscam, através dos próprios sentimentos a te subirem do coração ao cérebro ou dos próprios raciocínios a te descerem do cérebro ao coração.


Deus responde sempre, seja pelas vozes da estrada, pela pregação ou pelo esclarecimento da tua casa de fé, no diálogo com pessoa que se te afigura providencial para a troca de confidências, nas palavras escritas, nas mensagens inarticuladas da Natureza, nas emoções que te desabrocham da alma ou nas ideias imprevistas que te fulgem no pensamento, a te convidarem o Espírito para a observância do Bem Eterno.


O próprio Jesus, o Mensageiro Divino por excelência, guiou-nos à procura do Amor Supremo, quando nos ensinou a suplicar: “Pai Nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na Terra como nos Céus…” (Mt 6:9)


E, dando ênfase ao problema da atenção, recomendou-nos escolher um lugar íntimo para o serviço da prece, enquanto ele mesmo demandava a solidão para comungar com a Infinita Sabedoria.


Recordemos o Divino Mestre e estejamos convencidos de que Deus nos atende constantemente; imprescindível, entretanto, fazer silêncio no mundo de nós mesmos, esquecendo exigências e desejos, não só para ouvirmos as respostas de Deus, mas também a fim de aceitá-las, reconhecendo que as respostas do Alto são sempre em nosso favor, conquanto, às vezes, de momento, pareçam contra nós.




(Brasil espírita, dezembro de 1967, p. 4)


mt 6:9
Excursão de Paz

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 20
Francisco Cândido Xavier
Espíritos Diversos

Mãezinha querida!

Sei que hoje serás reverenciada, com todas as mães, em palácios festivos. Tribunas luminosas serão erguidas para elogios públicos. Entretanto, ansiava reencontrar-te, no templo do lar, que sustentaste com sacrifícios mudos.

Ouvi cânticos de profunda beleza, em louvor de teu nome, e atravessei larga fila de cartazes que te recordam na rua, mas, venho rogar-te a canção de simplicidade e doçura com que me embalaste o berço.

Árvore generosa, que me abrigaste o ninho de esperança, ensina-me como pudeste resistir às tempestades que te sacudiram os ramos!

Estrela, que me clareaste os passos primeiros, entre as sombras do mundo, conta-me o que fizeste para brilhar sem fadiga, no longa noite do sofrimento!…

Escutei muitos mestres e folheei muitos livros, no entanto, nenhum deles me falou tão intensamente de Deus, quanto a linguagem silenciosa dos teus beijos de ternura e as letras divinas, a transparecerem, inexplicadas, dos calos de trabalho que te marcam as mãos.

Associando-me às homenagens com que te honram lá fora, procuro inutilmente exprimir o amor que me inspiras e busco, em vão, externar reconhecimento e alegria, porque as palavras se me desfalecem na boca…

Quero proclamar que és a rainha de nossa casa e tento envolver-te a cabeça cansada com as flores de meu carinho, contudo vejo-te a coroa de lágrimas em forma de fios brancos e nada mais consigo dizer que sinto remorso, pensando nas dores e nas aflições que te dei.

Sim, mãezinha! Há banquetes de regozijo que te esperam a melodia da bênção, mas, desculpa se te rogo para ficares comigo no enternecimento do coração.

Traze o pão pobre e alvo que me davas na infância, guarda-me no teu colo e repete, de novo, para que eu possa aprender: “Pai nosso, que estás no Céu”… (Mt 6:9)



mt 6:9
Missão Cumprida... 413,...

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 3
Francisco Cândido Xavier
Espíritos Diversos

O Senhor nos disse com recomendação especial para rogarmos ao Pai, em oração “não nos deixeis cair em tentação, e livrai-nos do mal.” (Mt 6:13)

Ele, porém, o Senhor, nos sabia livres, através de decreto dos Céus, concedendo-nos o livre arbítrio para agir, pensar, providenciar, fazer e determinar, entretanto nos recomenda rogar aos Poderes do Alto proteção, de certo, porque nos tinha em conta, por criaturas suscetíveis de queda e fraqueza, não transmissíveis, mas influenciáveis.

No entanto, quais sejam as tentações em que viermos a cair possivelmente. Quais seriam essas tentações? Ou são todas do íntimo de nós mesmos.

Sem pretensões de superioridade, porque o tempo e a experiência não nos conferem infalibilidade, peço-vos permissão para enumerar algumas dessas tentações por dentro de nós.

Senão vejamos:

Maldade.

Crueldade.

Violência.

Sensualismo.

Teimosia.

Revolta.

Libidinagem.

Estrupo.

Pedofilia.

Orgulho.

Ambições.

Inconformação.

Maledicência.

Imposição.

Embriaguez.

Uso e abuso de drogas medicinais.

Despotismo.

Traição.

Infidelidade.

Deslealdade.

Indisciplina.

Exploração dos assuntos sagrados.

A gula.


A Teologia Cristã afirma que são sete os pecados mortais, mas as quedas por dentro são faltas que conduzem à morte prematura, são mais e muito mais.

Em vista disso o Senhor nos induz na ORAÇÃO DOMINICAL (Mt 6:9) a rogar proteção em nós mesmos a fim de não cair em tentação.

Irmãos, pensemos nisso pra nos valermos do tempo de que dispomos na benção do corpo físico, de modo a nos melhorarmos por dentro de nós mesmos.

Este é o depoimento de vosso amigo, igualmente falível, entretanto sempre vosso irmão que vos visita hoje e tantas vezes, o vosso pequenino servidor.


Caros irmãos, também venho pedir-vos:

Nada façamos contra a fé que nos conduz,

Porque somente assim poderemos viver e viveremos

Na sagrada presença de JESUS.

Maria Dolores


(Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, na noite de 12.09.1998, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece – Uberaba - MG)


mt 6:9
O Espírito da Verdade

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 21
Francisco Cândido Xavier
Espíritos Diversos

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO —


Somos discípulos do Cristo.

  Mas, repetindo com Ele a sublime afirmação: — “Pai nosso que estais no Céu” (Mt 6:9) —, esperamos que Deus se transforme em nosso escravo particular, atento às nossas ilusões e caprichos.


Somos discípulos do Cristo.

  Contudo, redizendo-lhe as inesquecíveis palavras de submissão ao Criador: — “seja feita a vossa vontade” (Mt 6:10) —, assemelhamo-nos a vulcões de intemperança mental, vomitando fumo de rebeldia e lava de imprecações, sempre que nos sintamos contrariados na execução de pequeninos desejos.


Somos discípulos do Cristo.

  Entretanto, refazendo-lhe a súplica ao Pai de Infinito Amor: — “o pão de cada dia dai-nos hoje” (Mt 6:11) —, reclamamos a carcaça do boi e a safra do trigo exclusivamente para a nossa casa, esquecendo-nos de que, ao redor de nossa mesa insaciável, milhares de companheiros desfalecem de fome.


Somos discípulos do Cristo.

  Todavia, depois de implorar com o Sábio Orientador à Eterna Justiça: — “perdoai as nossas dívidas” (Mt 6:12) —, mentalizamos, de imediato, a melhor maneira de cultivar aversões e malquerenças, aperfeiçoando, assim, os métodos de odiar os mais fortes e oprimir os mais fracos.


Somos discípulos do Cristo.

  No entanto, mal acabamos de pedir a Deus, em companhia do Grande Benfeitor: — “não nos deixeis cair em tentação” (Mt 6:13) —, procuramos, por nós mesmos, aprisionar o sentimento nas esparrelas do vício.


Somos discípulos do Cristo.

  Contudo, rogando ao Todo-Poderoso, junto do Inefável Companheiro: — “livrai-nos de todo o mal” (Mt 6:13) —, construímos canhões e fabricamos bombas mortíferas para arrasar a vida dos semelhantes.


Somos discípulos do Cristo.

  Mas convertemos o próximo em alimária de nossos interesses escusos, olvidando o dever da fraternidade, para desfrutarmos, no mundo, a parte do leão.


É por isso que somos, na atualidade da Terra, os cristãos incrédulos, que ensinamos sem crer e pregamos sem praticar, trazendo o cérebro luminoso e o coração amargo.

E é assim que, atormentados por dificuldades e crises de toda espécie — aflitiva colheita de velhos males —, cada qual de nós tem necessidade de prosternar-se perante o Mestre Divino, à maneira do escriba do Evangelho, guardando nalma o próprio sonho de felicidade, enfermiço ou semimorto, a exorar em contraditória rogativa: — “Senhor, eu creio! Ajuda a minha incredulidade!” (Mc 9:24)




(Psicografia de Francisco C. Xavier)


mt 6:9
Sentinelas da Luz

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 14
Francisco Cândido Xavier
Espíritos Diversos

Não aflijas o próprio coração, pedindo ao Céu aquilo que realmente não constitui nossa necessidade essencial.

Recorda, em tuas orações, que a Vontade Divina endereça-nos, cada dia, concessões que representam a provisão de recursos imprescindíveis ao nosso enriquecimento real.

Observa, na sucessividade das horas, as bênçãos do Todo Misericordioso.

Aparecem, quase todas, em forma de trabalho nos pequenos sacrifícios que o mundo nos reclama.

Aqui, é a família exigindo compreensão.

Ali, é uma obrigação social que devemos cumprir.

Além, é o imposto do reconhecimento que não nos cabe sonegar.

Mais além, é o companheiro de caminho que nos pede auxílio e entendimento.


Guarda a boa vontade no coração e o serviço nas atitudes, à frente da Humanidade e da Natureza, e perceberás que não é preciso bater às Portas do Céu com demasiadas súplicas ou com excessivas aflições.

Repara os nossos irmãos menos felizes que procuram a fortuna amoedada ou que buscaram os títulos da autoridade terrestre.

Quase todos avançam atormentados, ao calor de braseiros invisíveis, suspirando pela paz que temporariamente perderam, em recebendo compromissos prematuros.

É possível que sejas convocado à luta da direção ou à mordomia do ouro; é provável que amanhã sejas conduzido aos mais altos postos, na orientação do povo ou no esclarecimento das almas…

Se isso, porém, está nos Desígnios do Senhor, não precisas inquietar-te através de requisições e rogativas sem qualquer razão de ser.

Não intentes a aquisição de bens ou responsabilidades para os quais ainda não te habilitaste.

A árvore, sem angústia, cresce para a colheita e a fonte, sem violência, desliza no espaço e no tempo, acabando por encontrar a serenidade do grande oceano.

Cumpre o dever de hoje, com segurança e tranquilidade, sê, antes de tudo, correto e irrepreensível para com os outros e para contigo mesmo, e o Plano da Eterna Sabedoria te alçará gradativamente a serviços sempre mais expressivos e sempre mais importantes, porque na confiança de tua fidelidade ao Bem, estarás repetindo com o Amor de Jesus: “Seja feita, Senhor, a Tua Vontade, assim na Terra como nos Céus”. (Mt 6:9)




André Luiz

mt 6:9
Entre a Terra e o Céu

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 6
Francisco Cândido Xavier
André Luiz

Propúnhamo-nos seguir o caso de Zulmira, não só para cooperar, a favor de suas melhoras, mas também para registrar os ensinamentos possíveis, e, solicitando o concurso de Clarêncio, dele ouvimos judiciosas ponderações.

— Sim, — disse, — para auxiliar em processos dessa natureza, é preciso marchar para a frente, mas, para compreender o serviço que nos compete e avançar com segurança, é necessário voltar à retaguarda, armando-nos de lições que nos esclareçam.

Não sabíamos como interpretar-lhe a palavra, entretanto, ele mesmo nos socorreu, explicando, depois de ligeira pausa:

— Para realizarmos um estudo geral da situação, convém o contato com outras personagens do drama que se desenrola. Ser-nos-á interessante, para isso, uma visita ao pequeno Júlio, no domicílio espiritual em que estagia.

— Oh! Será um prazer! — Clamei, contente.

— Poderíamos seguir agora? — Perguntou Hilário, encantado.

O Ministro refletiu por segundos e observou:

— Nas responsabilidades que esposamos, não é aconselhável indagar por indagar. Procuremos o objetivo, a utilidade e a colaboração no bem. Não nos achamos em férias e sim em trabalho ativo.

Pensou, pensou… e aduziu:

— Sei que amanhã, à noite, Eulália deve acompanhar duas de nossas irmãs encarnadas à visitação dos filhinhos que as precederam na grande viagem da morte e que se encontram no mesmo sitio em que Júlio se demora asilado. Poderemos substituir nossa cooperadora no serviço a fazer. Seguiremos em lugar dela. Prestaremos assistência às nossas amigas e examinaremos a situação da criança.

Anotando a preciosa lição de trabalho que aquelas expressões encerravam, aguardamos a noite próxima, com ansiedade. Na hora aprazada, descemos à matéria densa, em busca das irmãs que seguiriam conosco.

Deixou-nos o Ministro numa casinha singela de remota região suburbana, depois de informar-nos:

— Aqui reside nossa irmã Antonina, com três dos quatro filhos que o Senhor lhe confiou. Incapaz de vencer as tentações da própria natureza, o marido abandonou-a há quatro anos para comprometer-se em delituosas aventuras. A dona da casa, porém, não desanimou. Trabalha com diligência numa fábrica de tecidos e educa os rebentos do lar com acendrado amor ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus. Tem sabido resgatar com valor as dívidas que trouxe do pretérito próximo. Perdeu, há, meses, o pequeno Marcos, de oito anos, atacado de fulminante pneumonia, e com ele se encontrará, depois da prece que proferirá com os pequeninos. Trarei comigo a outra companheira de nossa viagem. Quanto a vocês, auxiliem nas orações e nos estudos de Antonina, até que eu volte, de modo a seguirmos todos juntos.

Hilário e eu penetramos a sala desataviada e estreita.

Uma senhora ainda jovem, mas extremamente abatida, achava-se de pé, junto de três lindas crianças, dois rapazinhos entre onze e doze anos e uma loura pequerrucha, certamente a caçula da família que pousava na mãezinha os belos olhos azuis.

Num recanto do compartimento humilde, triste velhinho desencarnado como que se colocava à escuta.


Dona Antonina colocou sobre a toalha muito alva dois copos com água pura, tomou um exemplar do Novo Testamento e sentou-se.

Logo após, falou carinhosamente:

— Se não me falha a memória, creio que a prece de hoje deve ser feita por Lisbela.

A pequenita levou as minúsculas mãos ao rosto, apoiou graciosamente os cotovelos sobre a mesa e, cerrando os olhos, recitou:

— Pai Nosso que estais no Céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na Terra como nos Céus, o pão nosso de cada dia dai-nos hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores, não nos deixeis cair em tentação e livrai-nos de todo mal, porque vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre. Assim seja. (Mt 6:9)

Lisbela abriu os olhos, de novo, e procurou silenciosamente a aprovação maternal.

Dona Antonina sorriu, satisfeita, e exclamou:

— Você orou muito bem, minha filha.

E dividindo agora a atenção com os dois meninos, entregou o Evangelho a um deles, convidando:

— Abra, Henrique. Vejamos a mensagem cristã para os nossos estudos da noite.

O rapazinho escolheu o texto, ao acaso, restituindo o livro às mãos maternais.

A genitora, emocionada, leu os versículos vinte e um e vinte e dois do capítulo dezoito das anotações do apóstolo Mateus: (Mt 18:21)

— “Então Pedro, aproximando-se dele, disse: — Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: — Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete.”

Calou-se dona Antonina, como quem aguardava a manifestação de curiosidade dos jovens aprendizes.

O pequeno Henrique, iniciando a conversação, perguntou, com simplicidade:

— Mãezinha, porque Jesus recomendava um perdão, assim tão grande?

Demonstrando vasto treinamento evangélico, a senhora replicou:

— Somos levados a crer, meus filhos, que o Divino Mestre, em nos ensinando a desculpar todas as faltas do próximo, inclinava-nos ao melhor processo de viver em paz. Quem não sabe desvencilhar-se dos dissabores da vida, não pode separar-se do mal. Uma pessoa que esteja parada em lembranças desagradáveis caminha sempre com a irritação permanente. Imaginemos vocês na escola. Se não conseguirem esquecer os pequeninos aborrecimentos nos estudos, não poderão aproveitar as lições. Hoje é um colega menos amigo a preparar lamentável brincadeira, amanhã é uma incorreção do guarda enfadado em razão de algum equívoco. Se vocês imobilizarem o pensamento na impaciência ou na revolta, poderão fazer coisa pior, afligindo a professora, desmoralizando a escola e prejudicando o próprio nome e a saúde. Uma pessoa que não sabe desculpar vive comumente isolada. Ninguém estima a companhia daqueles que somente derramam de si mesmos o vinagre da queixa ou da censura.

Nessa altura do ensinamento, dona Antonina fitou o primogênito e perguntou:

— Você, Haroldo, quando tem sede preferiria beber a água escura de um cântaro recheado de lodo?

— Ah! Isso não, — replicou o mocinho muito sério, — escolherei água pura, cristalina…

— Assim somos também, em se tratando de nossas necessidades espirituais. A alma que não perdoa, retendo o mal consigo, assemelha-se ao vaso cheio de lama e fel. Não é coração que possa reconfortar o nosso. Não é alguém capaz de ajudar-nos a vencer nas dificuldades da vida. Se apresentamos nossa mágoa a um companheiro dessa espécie, quase sempre nossa mágoa fica maior. Por isso mesmo, Jesus aconselhava-nos a perdoar infinitamente, para que o amor, em nosso espírito, seja como o Sol brilhando em casa limpa.

Expressivo intervalo fez-se notar.

O jovem Haroldo, de semblante apoquentado, interferiu, indagando:

— Mas a senhora crê, mãezinha, que devemos perdoar sempre?

— Como não, meu filho?

— Ainda mesmo quando a ofensa seja a pior de todas?

— Ainda assim.

E, observando-o, inquieta, dona Antonina acentuou:

— Porque tratas deste assunto com tamanha preocupação?

— Refiro-me ao papai, — disse o menino algo triste, — papai abandonou-nos quando mais precisávamos dele. Seria justo esquecer o mal que nos fez?

— Oh! Meu filho! — Comentou a nobre mulher, — não te detenhas nesse problema. Porque alimentar rancor contra o homem que te deu a vida? Como condená-lo se não sabemos tudo o que lhe aconteceu? Seria realmente melhor para o nosso bem estar se ele estivesse conosco, mas, se devemos suportar a ausência dele, que os nossos melhores pensamentos o acompanhem. Teu pai, meu filho, com a permissão do Céu, deu-te o corpo em que aprendes a servir a Deus. Por esse motivo, é credor de teu maior carinho. Há serviços que não podemos pagar senão com amor. Nossa dívida para com os pais é dessa natureza…

Recordando talvez que a família se achava num curso de formação cristã, a dona da casa acrescentou:

— Um dia, quando Moisés, o grande profeta, foi ao monte receber a revelação divina, uma das mais importantes determinações por ele ouvidas do Céu foi aquela em que a Eterna Bondade nos recomenda: — “Honrarás teu pai e tua mãe”. (Ex 20:12) A Lei enviada ao mundo não estabelece que devamos analisar a espécie de nossos pais, mas sim que nos cabe a obrigação de honrá-los com o nosso amoroso respeito, sejam eles quais forem.

A reduzida assembleia recolhia as explicações, de olhos felizes e iluminados.

Haroldo mostrou-se conformado, todavia, ainda ponderou:

— Compreendo, mãezinha, o que a senhora quer dizer. Entretanto, se papai estivesse junto de nós, talvez que Marcos não tivesse morrido. Teríamos o dinheiro suficiente para tratá-lo.

Dona Antonina enxugou, apressada, as lágrimas que lhe caíram, espontâneas, ante a evocação do filhinho, e continuou:

— Seria um erro permitir a queda de nossa confiança no Pai Celestial. Marcos partiu ao encontro de Jesus, porque Jesus o chamava. Nada lhe faltou. Rogo a vocês não darmos curso a qualquer ideia triste, em torno da memória do anjo que nos precedeu. Nossos pensamentos acompanham no Além aqueles que amamos.

Nesse ponto da conversação, Lisbela inquiriu, graciosa:

— Mãezinha, Marcos nos vê?

— Sim, minha filha, — esclareceu dona Antonina, emocionada, — ele nos ajuda em espírito, pedindo a Jesus forças e bênçãos para nós. Por nossa vez, devemos auxiliá-lo com as nossas preces e com as nossas melhores recordações.

Dona Antonina, porém, pareceu asfixiada por enormes saudades. Enquanto os meninos comentavam com interesse os ensinamentos da noite, demorava-se absorta, mentalizando a imagem do pequenino…

Quando o relógio assinalou o fim do culto, solicitou a Henrique fizesse a oração de encerramento.

O petiz repetiu a prece dominical, rogando ao Senhor abençoasse a mãezinha, e o trabalho terminou.

A dona da casa repartiu com os pequenos alguns cálices da água cristalina que Hilário e eu magnetizáramos e, logo após, pensativa e saudosa, retirou-se com os filhinhos para a câmara em que se recolheriam todos juntos.




Carlos Baccelli

mt 6:9
Evangelho de Chico Xavier, O

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 321
Carlos Baccelli

Eu noto por mim mesmo. Quando tenho um pouco de dinheiro a mais, alguma sobra, penso onde é que eu vou guardar isso para ninguém tirar… É preocupação em prejuízo da minha saúde, da minha paz e do trabalho que eu devo fazer… Tudo que criamos para nós, de que não temos necessidade, se transforma em angústia, em depressão… Vamos aos psiquiatras e são pílulas e mais pílulas…


Muitas vezes, queremos ser felizes abarcando todas as possibilidades… Um dos apóstolos pergunta a Jesus se não poderia ensiná-lo a orar. Ele oferece à Humanidade a oração dominical, (Mt 6:9) da qual retiramos o tópico: — Senhor o pão nosso de cada dia, dá-nos hoje… Um Amigo Espiritual diz que se fossem necessários mais recursos para sermos felizes, Jesus teria acrescentado [na oração]… Mas vamos criando fantasias, ilusões, querendo a felicidade que está nas mãos dos outros… Achamos que isso é alegria, mas é alegria mesclada de sofrimento (…) Nosso Amigo nos diz que, enquanto nós nos contentamos com o pão, nós estamos sempre felizes, porque amamos a vida simples, aprendendo a conhecer a beleza natural… A Terra está repleta de tesouros para os nossos olhos, para o nosso coração, para a nossa vida… Enquanto nós nos contentamos com o pão, vai tudo bem, mas da manteiga em diante começam as nossas lutas…


Sabemos que precisamos de certos recursos, mas o Senhor não nos ensinou a pedir o pão, mais dois carros, mais um avião… Não precisamos de tanta coisa para colocar tanta carga em cima de nós. Podemos ser chamados hoje à Vida Espiritual…




Amélia Rodrigues

mt 6:9
Luz do Mundo

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 5
Divaldo Pereira Franco
Amélia Rodrigues

O planalto da Judeia se eleva naquele local a quase 830 metros acima do nível do mar, sendo ali o seu ponto culminante. Ephrém é região bucólica, onde os damasqueiros se arrebentam em flores, se vestem de frutos, e as tulipas se multiplicam em campos verdejantes com a abundância do sol dourado, cujos poentes se demoram em fímbrias coloridas, contrastando com as sombras das noites em vitória...


A aldeia de Ephrém ou Efraim é um amontoado de casas singelas entre flores silvestres e roseiras variadas, situando-se sobre um largo terraço fértil do planalto árido, onde, no entanto, abundam nascentes cantantes e de cujas bordas se avistam no longo vale que se esconde em baixo das imensas costas talhadas a pique em alcantis, pelo lado do Moab, o tranquilo Jordão e o mar Morto. Dali, a visão dos horizontes é um convite à meditação, fazendo que o homem se apequene ante a grandeza de Deus.


Naquela paisagem tudo são convites às coisas divinas.


Nesse plano de exuberante beleza, o Mestre elucida os companheiros fiéis, quanto à comunhão com o Pai. Já lhes falara diversas vezes sobre a necessidade da oração e em muitas ocasiões deles se apartara para o silêncio da prece. Ensimesmado, frequentemente buscava a soledade para a ligação com Deus, através desse ministério ardente e apaixonado.


* * *

Os livros da fé ancestral, todos eles, se reportam à exaltação do Senhor, mediante "abrir a boca" da alma e falar aos divinos ouvidos.


Aquela será a última primavera que passariam juntos. Os colóquios, as lições serão interrompidos, Ele o sabe. Ministra as últimas instruções. O Cordeiro inocente logo mais deverá marchar na direção do matadouro. Quanto há, no entanto, ainda, a dizer!


São "crianças espirituais" aqueles companheiros, bulhentos e sem a noção exata do que lhes será pedido.


O tempo urge!


As Suas vigílias são maiores e Seus solilóquios mais demorados.


* * *

Retornava desse colóquio, e a placidez da face denotava a vitalidade haurida no intercâmbio com o Pai...


Os discípulos aguardam-No com carinho, ansiedade, e inquirem-No quanto à melhor forma de orar, como dizer todos os ditos da alma Àquele que é a Vida e que sabe das necessidades de cada um em particular e de todos simultaneamente...


Havia, sim, em todos, o desejo veemente de aprender com o Rabi, — que tantas lições lhes dispensara antes com invulgar sabedoria! — a mais eficiente das orações.


Inquiriam, porém: "se Deus nos conhece e sabe o de que temos maior urgência, por que se há de Lh"o rogar? Como fazê-lo, então?"

— "Ensina-nos a orar!" — pediu um dos discípulos, amigo devotado.


Seus olhos estavam incendiados de luz e nele havia aquela confiança pura da criança que se entrega em total doação e aguarda em tranquilidade enobrecida.


O Mestre relanceou o olhar pelas faces expectantes daqueles que O buscavam seguir e desejavam adquirir forças para, no futuro, se entregarem inteiramente ao Evangelho nascente; depois de sentir as ânsias que através dos tempos estrugiriam nos continuadores da Sua Doutrina, pelos caminhos do futuro, sintetizou as necessidades humanas em sete versos, os mais simples e harmoniosos que os humanos ouvidos jamais escutaram, proferindo a oração dominical.


As frases melódicas cantaram delicadas através dos Seus lábios como se um coral angélico ao longe modulasse um cantochão de incomparável melodia, acompanhando suavemente.


Uma invocação: "Pai Nosso que estás nos Céus;" (Mateus 6:9-15) Glorificação d"Aquele que é a vida da vida, Causa Causica do existir, Natureza da Natureza — Nosso Pai!


Três desejos do ser na direção da Vida, após a referência sublime ao Doador de Bênçãos:

"Santificado seja o Teu Nome.


"Venha a nós o Teu Reino, "Seja feita a Tua vontade, na terra como no céu;"

Eloquentes expressões de reconhecimento ao Altíssimo; humildade e submissão da alma que ora e se subordina às inexauríveis fontes da Mercê Excelsa; entrega total, em confiança ilimitada. Exaltação do Pai nas dimensões imensuráveis do Universo;


respeito à grandeza da Sua Criação, através da alta consideração ao Seu Nome;


resignação atual diante das Suas determinações divinas e divina presciência.


Canto de amor e abnegação!


Três rogativas, em que o homem compreende a própria pequenez e se levanta, súplice, confiante, porém, em que lhe não será negado nada daquilo que solicita:

"O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje;


"Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores;


"Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos de todo o mal. "

A base da manutenção do corpo é o alimento sadio, diário, equilibrado, tanto quanto a vitalidade do espírito é a sintonia com as energias transcendentes — dá-nos hoje!


Sustento para a matéria e força para o espírito, de modo a prosseguir no roteiro de redenção, no qual exercita as experiências evolutivas.


Reconhecimento dos erros, equívocos e danos causados a si mesmo e ao próximo — perdoa-nos! — ensejando reparação, através da oportunidade de refazer e recomeçar sem desânimo, superando-se e ajudando aos que nos são vítimas — como perdoamos aos que nos devem!


Forças para as fraquezas, em forma de misericórdia de acréscimo, multiplicando as construções das células e das energias espirituais; reconhecimento das incontáveis fragilidades que a cada instante nos sitiam e nos surpreendem — livra-nos de todo o mal!


* * *

A musicalidade sublime canta em balada formosa na pauta da Natureza, conduzida pelo vento.


A mais singela, a mais completa oração jamais enunciada.


Há emoções nos espíritos que reconhecem a responsabilidade de conduzirem o sublime legado na direção do futuro.


A ponte de intercâmbio entre os dois planos do mundo está lançada. Transitarão, agora, as forças mantenedoras do equilíbrio.


"Pedi e dar-se-vos-á;" — exorou o Pomicultor Divino.


"Ensina-nos a orar!" — rogara o discípulo ansioso.


As virações daquela hora embalsamam o ar de mil odores sutis e constantes, e há festa nos corações.


O Reino de Deus está, agora, mais próximo. Divisam-se os seus limites e se vislumbram as suas construções...


Nenhum abismo, nenhum óbice. Vencidas as indecisões, os caminhos se abrem, convidativos, oferecendo o intercâmbio.


Aqueles homens que se levantarão logo mais da insignificância que os limita e irão avançar no rumo do infinito, doravante, orando, estarão em comunhão permanente com o Pai.


O homem sobe ao Pai no Céu — o Pai desce ao homem na Terra.


Já não há um díptico.


Do solilóquio chega-se ao diálogo.


E do diálogo o espírito sai refeito, num grande silêncio de paz e vitalidade, exaltando o amor de Deus na potencialidade inexcedível da oração.


"Ensina-nos a orar!" "Pai Nosso que estás nos Céus... "

Nota - Conquanto as divergências entre os textos de Mateus 6:9-15 e Lucas 11:1-4 preferimos as anotações do primeiro, embora aquele situasse a preciosa oração, em continuidade ao Sermão do Monte. Assim o fazemos, considerando a métrica e o ritmo que se observam nas narrações das línguas semitas e por registrar a omissão de todo um verso nas anotações de Lucas. Outrossim, tomamos como lugar da ocorrência as circunvizinhanças da aldeia de Ephrém ou Efraim ao invés do Monte das Oliveiras, conforme a situam diversos exegetas e historiadores escriturísticos.


Nota da Autora espiritual.


mt 6:9
Trigo de Deus

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 18
Divaldo Pereira Franco
Amélia Rodrigues

Aquela montanha bucólica era-lhe familiar.


Habituara-se a galgá-la, vezes sem conta, deixando-se arrebatar pela paisagem cromática a desenhar-se da altura.


Abaixo, o lago de Genesaré, normalmente em esplendor refletindo a beleza do céu transparente, fascinava-o, e os montes altos, desolados, da região oposta, pareciam falar da aridez das terras e dos corações que os habitavam.


Os tufos de tamareiras verdes, farfalhantes à brisa noturna, desafiavam os ventos inesperados, que sopravam durante as tempestades que agigantavam o dorso das águas serenas repousando na imensa depressão terrestre...


Assim, depois que o Mestre, os discípulos e a multidão se dispersaram, ele resolveu ficar ali, ensimesmado, deliciando-se com o murmúrio da brisa perfumada e a recordação das palavras do Amigo Sublime.


Como O amava!


A Sua voz penetrava-lhe as carnes da alma qual lâmina aguçada, que rasga até às profundidades máximas. Mas não o afligia, antes abria-lhe escaninhos preciosos onde guardava os tesouros da ternura, da afabilidade e do amor gentil.


Ressoava-lhe na acústica da alma o poema da oração.


Nunca percebera, com precisão, a grandeza, a gravidade da prece, a sua magia e exuberância.


Nas palavras enunciadas com harmonia e ritmo havia beleza transcendente, mas de fácil memorização.


Comovido, João reclinou-se na relva macia e repousou a cabeça jovem no dossel de musgos suaves, contemplando o céu de azul-marinho salpicado de diamantes estelares.


Pela recordação afetuosa, começou a repetir as frases, síntese de todas as necessidades humanas:

— Pai Nosso, que estás nos céus...


A frase convidava à exaltação do pensamento. Toda a emotividade, embutida no ser, rompeu-lhe as comportas-limites, e ele deixou-se arrebatar por inesperadas e inabituais reflexões. "Seus pais — raciocinou — não eram apenas Salomé e Zebedeu, que o geraram no corpo. Também eles, de certo modo, eram seus irmãos. Deus, sim, era o Genitor Divino, e todas as criaturas, Seus filhos em processo de crescimento. "O adversário, também, dessa forma se lhe tornava irmão, porque filho de Deus. "Para que, então, ter inimigos?! "Conservar animosidade é defraudar o amor, corromper os sentimentos trabalhados para a fraternidade universal. " As considerações alargavam-lhe os horizontes da humana compreensão, melhor percebendo a magnitude do amor do Mestre.


Tinha a sensação de que Ele estava ali, a ciciar-lhe entendimento, pois que, antes, jamais excogitara de elucubrações conforme as que ora lhe ocorriam.


Veio-lhe à mente, a segunda proposição:
— Santificado seja o Teu nome! "O Universo canta a glória de Deus", como relata o salmista David. (*

*) "As miríades de lanternas luminosas, presas no acolchoado da noite, glorificam o Pai Criador. "O vergei derrama perfume no ar, bendizendo-Lhe a Obra. "A música da Natureza expressa a gratidão da Vida em formas infinitas, exaltando o Excelso Construtor. "Tudo são expressões de reconhecimento ao Progenitor não Gerado. "O homem, porém, deve santificar-Lhe o nome "não o pronunciando em vão", todavia repetindo-o sem palavras através do amor ao próximo, do culto ao dever, das realizações enobrecedoras. "Em toda parte se pode sentir o pulsar de Deus, regendo a orquestração da Sua Sinfonia Imperecível. " Havia lágrimas nos olhos que desciam quentes e vagarosas.


Envolvido pela emoção em crescimento, o jovem repetiu, quase sem dar-se conta:
— Venha o Teu reino! "O reino de paz há de assenhorear-se do coração — conjecturou. — Esse reino estava além dos limites terrenais, invisível, podendo expressar-se no comportamento, habitado pela população dos sentimentos elevados. "Nesse reino, a ternura deve confraternizar com a brutalidade e superá-la; a inveja ceder o passo à solidariedade; a meiguice apagar o fogaréu do ódio. "O cardo e a erva boa medrarão juntos no terreno do reino, sem que esta fique asfixiada por aquele; o chacal deixará a sua presa viver, e as roseiras, despidas de espinhos, em festões de cores e perfumes, balsamizarão a desolação do pântano... "O Seu é o reino de esperanças e de solidariedade, que virá ao homem e o alçará à harmonia. " A balsamina e a lavanda, carreadas pelo vento brando da noite, rociaram a face do discípulo emocionado, e ele, por automatismo natural, sussurou:

— Faça-se a Tua vontade... "Como entender o desejo do Pai, se o filho recusa-Lhe a convivência em atitude de rebeldia?! "Somente a docilidade abranda os golpes do destino, como o algodão diminui o impacto dos petardos. "É necessário compreender que tudo ocorre para o maior crescimento do filho, quando este aceitar o impositivo do sofrimento. "O Pai-Amor confere a experiência dolorosa, a fim de facultar ao homem a perfeita compreensão da sua fragilidade terrestre e da sua destinação celeste. "Diante de qualquer ocorrência, que ele possa repetir: Devo aproveitar o que me acontece, por ser indispensável ao meu aperfeiçoamento moral. "Submissão lúcida é atitude de sabedoria. "Paz no coração é fruto de prolongada sementeira de amor. "Lutar contra o aguilhão, significa aprofundar as feridas e as dilacerações. " O coração, em ritmo descompassado, estava prestes a explodir-lhe no peito.


O crescendo das recordações propiciou-lhe a frase:

— Assim na Terra como no Céu... "O homem é viajor das estrelas. Não serão elas, por acaso, pousos divinos, departamentos da Casa do Pai? "Em toda parte vige a vontade soberana, e, aceitá-la, é a alternativa única. "O rebelde encontra-se em tresvario, e o caminho por ele não percorrido ficará aguardando-o. "O egoísta, que despreza os Códigos do Amor e da Justiça, padecerá, por livre escolha, constrição da própria desdita. "Na Terra e no Céu se encontram os mesmos decretos divinos, promovendo a ventura dos seres. "O céu começa na Terra, e o homem avança a passos de coragem e de abnegação. " Ao longe, as lanternas dos pescadores oscilando nas barcas pareciam confraternizar com os astros fulgurantes no firmamento.


João ergueu-se e abriu os braços como se desejasse afagar a imensa, a abençoada paisagem que Ele emoldurara com o Seu verbo de amor.


— Dá-nos o pão de cada dia — recordou-se, entusiasmado. "O pão é força motriz para a conservação do corpo, para o seu desenvolvimento. "Lá, a distância, o mar piscoso, os campos de trigo, as vinhas, as plantações de leguminosas, o pastoreio... "Que não faltasse o alimento para o corpo, a fim de manter a alma, que se nutre de amor e se vitaliza na ação do bem. "Pão e vida são termos da equação existencial... Dá-nos hoje!"


— Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos aos que nos devem. — Perdoa as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos ofenderam... "A alma exultante penetrava na grandeza praticada do amor, que é o perdão. Todavia, somente quem o doa, merece-o; apenas quem desculpa as ofensas, é credor de ser exonerado da culpa. "Todos os homens se equivocam e, por isso mesmo, são frágeis que se tornam fortes, face ao perdão que distendem na direção daqueles que os ofendem e magoam. "Maior é a felicidade de quem expressa o perdão. O perdoado é alguém em processo de recuperação; no entanto, aquele que lhe dispensa o esquecimento do mal, já alcançou as alturas do bem e da solidariedade. "O perdão acalma e abençoa o seu doador. "Quando se entenda que perdoar é conquistar enobrecimento, o homem se fará forte pelas concessões de amor e compreensão que seja capaz de distribuir. " A noite avançava com a sua carruagem de sombras e estrelas na direção da madrugada.


A magia da hora eternizava no jovem o ensinamento sublime.


— Não nos deixes entregues à tentação — evocou, agora, quase a sorrir. "O maior inimigo do homem — pensou, alargando reflexões — está dentro dele mesmo: são as paixões inferiores que o mantêm asselvajado, furibundo, reacionário. "A tentação alcança a sua vítima, graças às brechas morais que esta possui. Latentes, as imperfeições favorecem a sintonia com as mazelas alheias. Dominadoras, exercem o seu jugo levando aos desequilíbrios e promovendo a ruína das mais belas aspirações. "Só o auxílio divino possui o recurso liberativo contra as tentações que pululam, discretas ou bulhentas, em toda parte. "Vencê-las é a forma eficaz para conseguir-se a paz. Não se deixar tentar, não possuir tentações, eis a meta. " O calidoscópio evocativo chegava ao seu final.


Ainda escutava as últimas advertências:

— Mas livra-nos do mal... "O mal é o adversário do bem, mas que não tem existência real; no entanto, entorpece os sentimentos, esfacela os ideais, desarticula as emoções. "O mal desaparece ante a ação do bem. "Residente no interior do homem ainda primitivo, escraviza-o, atormentando-o em profundidade e longo curso. "Acendendo-se a luz, desaparecem as sombras dominantes. "O mal é transitório, produz danos e não tem dignidade nem escrúpulos. "O amor do Pai luariza-o, decompõe-no, anula-o, caso a criatura se deixe conduzir docilmente... " Chegava o momento último. Poucas palavras.


Um grande silêncio havia empolgado os ouvintes, quando Ele, Soberano e Justo, declarara:

— Assim seja. "Os desejos santificantes — concluiu o jovem — que se cumpram. Ante, porém, a sabedoria do Amor, curve-se o homem, especialmente nas sutilezas que lhe escapam à compreensão, ao discernimento, necessárias ao desenvolvimento dos seus valores latentes. "Confiar e deixar-se conduzir. Seja assim a vida do filho em relação ao Pai. "


* * *

A oração singela e profunda ficaria como diretriz, como modelo para o intercâmbio com Deus.


Nem o palavrório insensato dos fariseus, nem o silêncio rígido dos orgulhosos. Alma e coração em colóquio com o Amantíssimo.


João voltou a recostar-se no leito maternal do solo, e, embriagado pelas bênçãos da Natureza em festa, adormeceu...


(Nota) Mateus 9:13 (Nota da Autora espiritual)


(**) Salmos 19:1 "Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos. " (Nota da Autora espiritual.)
mt 6:9
Pelos Caminhos de Jesus

Categoria: Livro Espírita
Capítulo: 16
Divaldo Pereira Franco
Amélia Rodrigues

As emoções de felicidade ainda não haviam passado totalmente.


Permanecia nas mentes e nos corações a empatia que a todos tomara desde a manhã, quando o Rabi, atendendo à solicitação dos amigos afeiçoados, lhes ensinara a orar.


As dúlcidas vibrações da prece sintética, que apresentava todos os anseios e necessidades do homem perante o Pai Criador, ofereciam-lhes um clima psíquico de renovação e de entusiasmo que jamais desapareceria daqueles sentimentos afetuosos.


Foi com essa estesia interior que, à noite, sob um céu coroado de estrelas aurifulgentes, os discípulos se acercaram do Mestre, em meditação, e porque o silêncio entrecortado pelas harmonias da Natureza permitisse, pediram-Lhe que se adentrasse em mais amplas explicações acerca da oração dominical que Ele estabelecera como um código de ternura e respeito para com Deus, a fim de que melhor pudessem penetrar nas realidades transcendentes da vida.


O Amigo Divino escutou o requerimento do afeto e, sem maior delonga, referiu-se:

— A prece é, antes de tudo, uma atitude mental da criatura para com o seu Criador. Nela devem ser propostas as reais necessidades da alma, numa expressão de confiança e carinho, abrindo-se e desnudando-se, ao mesmo tempo permanecendo receptiva às respostas da Sabedoria Excelsa.


Assim, a oração divide-se em três etapas, nas quais o ser dilata as suas percepções e amplia a capacidade de entendimento em relação a si próprio, ao próximo e a Deus.


Antes de mais nada, a oração é um ato de louvor ao Pai, o Doador de todas as horas, Fonte Augusta de todas as coisas, o Genitor Soberano do qual tudo procede e para cuja grandeza tudo marcha... "O louvor é uma expressão de carinho e reconhecimento que deve fluir do ser, de modo a produzir uma sintonia, mediante a qual transitem os sentimentos de exaltação do bem, para se abrir na rogativa em favor das legítimas necessidades, aquelas que se fazem indispensáveis para uma existência feliz e correta no mundo cuja transitoriedade constitui, por si mesma, uma advertência e um convite à humildade. "Não sendo o corpo mais do que uma veste, facilmente o uso lhe gasta a estrutura, e o término mui inesperadamente lhe assinala a conclusão da etapa para cuja finalidade foi elaborado. "Saber pedir é uma arte, de modo que a solicitação não constitua uma imposição apaixonada ou um capricho que não merece consideração. "Por fim, a prece deve revestir-se da emoção de confiança e reconhecimento, numa postura, através da qual, encaminhada a petição, o seu deferimento dependerá dos valores que não podem ser conhecidos do requerente e cuja resposta, qualquer que seja, será aceita com alegria... "Não adestrado para saber o que lhe é de melhor para o crescimento espiritual, a felicidade real, o homem solicita o que lhe parece mais importante, no entanto, só o Pai sabe o que é de mais valioso para o filho em aquisição de experiências, "Em face dessa realidade, nem sempre Ele concede o que se Lhe pede, conforme se quer, todavia, aquilo que pode contribuir para o bem legítimo do ser. " Fez um silêncio significativo, enquanto vibravam as melodias sidéreas nos ouvintes atentos.


Jerusalém, lentamente, apagava suas lâmpadas, vistas do alto do monte onde Ele e os Seus se encontravam, anunciando o repouso da cidade, graças ao avanço das horas.


Procurando, porém, fixar indelevelmente nos discípulos humildes a sabedoria em torno da arte de orar, Jesus encerrou: — A oração deve revestir-se, portanto, dos três atos consecutivos: louvar, pedir e confiar, agradecendo. "Não será pelo muito falar, pelo rol da requisição ou pelas palavras que vistam as ideias, que a oração adquire valor; antes, pela inteireza do conteúdo e pelo sentimento de que se reveste, é que mais facilmente alcança os divinos ouvidos, ao mesmo tempo conduzindo de retorno a resposta celeste. " Porque um recolhimento, feito de unção e emotividade, a todos tomasse, o Mestre, sentindo as pulsações do rebanho submisso, convidou, gentil:

— Sigamos a Betânia. Nossos amigos, Lázaro, Maria e Marta contam conosco logo mais, e agora deveremos partir.



Referências em Outras Obras


CARLOS TORRES PASTORINO

mt 6:9
Sabedoria do Evangelho - Volume 2

Categoria: Outras Obras
Capítulo: 2
CARLOS TORRES PASTORINO

JO 3:16-21


16. Deus teve, pois, tanta predileção pelo mundo, que deu seu Filho, o Unigênito, para que todo o que nele crê, ao invés de perder-se, tenha a vida imanente.


17. Pois Deus não enviou seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja preservado por meio dele.


18. Quem nele crê não é julgado; o que não crê, já está julgado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus.


19. O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois eram más suas obras,


20. porque todo o que faz coisas inferiores aborrece a luz, e não vem para a luz, para que suas obras não sejam inculpadas;


21. mas aquele que faz a verdade, chega-se para a luz, para que sejam manifestadas suas obras, porque foram feitas em Deus.


Neste ponto, o evangelista toma a palavra para comentar os ensinos de Jesus a Nicodemos. Os verbos são empregados agora no passado, e suas primeiras palavras ουτως γαρ são as que geralmente iniciam seus comentários pessoais (cfr. 2:25; 4:8; 5:13, 20; 6:6, 33; 13:11).
Convida-nos João a buscar a razão íntima dos ensinamentos: o amor de Deus, que é universal, e não apenas restrito aos elementos de uma determinada religião: Deus ama O MUNDO τον κοσµον.
Interessante observar o verbo utilizado no início do versículo. Em grego há três verbos que exprime "amar" : φιλειν, que é "amar de amizade, querer bem"; εραν, que significa "amar de amor, apaixonarse"; e αγαπειν que quer dizer "amar com preferência, ter predileção por". Neste trecho, é empregado esse último: "ter predileção ou carinho especial pelo mundo".

Tanto assim, que (oração consecutiva) deu seu Filho, aquele Filho Unigênito que é a própria manifesta ção divina nos universos ilimitados, o Cristo C6smco, para que "todo aquele que nele crê", e que viva a sua vida, não se perca. mas obtenha uma vida divina IMANENTE na perfeita união.


VIDA "ETERNA" = VIDA IMANENTE


A tradução corrente das palavras gregas ξωη αιωνιος é "VIDA ETERNA".

No entanto, essa interpretação não nos parece correta. Senão vejamos.


1. º - Se esse fora o sentido: "quem crer nele terá a vida eterna, isto significaria que, quem não cresse não teria a vida eterna, e portanto deveria ter seu "espírito" destruído, aniquilado (morte do espírito).


Mesmo se admitíssemos o "castigo eterno" (absurdo inconcebível), mesmo assim o espírito teria a vida eterna, embora não crendo em Jesus. Então, que "promessa" seria essa, que vantagem traria o fato de crer em Cristo?


2. º - Poderia admitir-se que Jesus aceitava, com isso, a doutrina dos fariseus, tão bem esplanada por Josefo (Ant. Jud. 18, 1, 3): "Os fariseus acreditam que possuem um vigor imortal e os virtuosos terão o poder de ressuscitar e viver de novo"; e mais (Bell. Jud. 2, 5, 11): "Ensinam os fariseus que as almas são imortais; que as almas dos justos passam, depois desta vida, para outros corpos, e as dos maus sofrem tormentos eternamente". Quando fala do suicídio, repete essa mesma teoria (Bell. Jud. 2, 5, 14): "Os corpos de todos os homens são, sem dúvida, mortais e feitos de matéria corruptível; mas a alma é sempre imortal e é uma partícula de Deus, que habita em nossos corpos... Recordam (os fariseus) que todos os espíritos puros, quando partem desta vida, obtêm um lugar mais santo no céu, donde, no transcurso dos tempos, são novamente enviados em corpos puros; ao passo que as almas dos que cometeram sua auto-destruição, são condenadas à região tenebrosa do hades".


Realmente, em linhas gerais, os livros do Novo Testamento confirmam e reproduzem as crenças dos fariseus. Mas não é só isso que está na promessa, pois isso seria obtido mesmo sem crer em Jesus, por qualquer fariseu sincero.


A solenidade da repetição dessa promessa, feita 45 vezes em o Novo Testamento, sobretudo por João (25 vezes), por Paulo (9 vezes), por Lucas Ev. e At. (5 vezes), por Mateus (3 vezes), por Marcos (2 vezes) e por Judas (1 vez), parece exprimir algo mais profundo e de grande importância.


Tentemos compreender, pesquisando o sentido do adjetivo empregado, assim como do substantivo do qual se originou.


O substantivo que exprime ETERNO, em grego, é άίδιος assim definido por Platão (Definições, 411a):
τό иατά πάντα Χρόνον иαί πρότερον όν иαί νύν µή έφθαρµένον, ou seja, "o que é anterior, e através de todo o tempo e agora, não podendo ser destruído".

Em outras palavras: "o que não tem princípio nem fim".


O advérbio άεί (sempre) também é colocado com a ideia de eternidade: ό άεί Χρόνος = o tempo eterno (Platão, Fedon, 103e).
Outro substantivo αίών - que é correntemente traduzido como "eterno" - aparece assim definido por Aristóteles: το τέλος τό πε ριέиον τόν τής έиάστου ζωής Χρόνον ... αίών έиάστου иέиλεται (Arist., Do Céu, 1,9,15), isto é: "o período que abarca o tempo da vida de cada um, chama-se o "aiôn" dele (a permanência na Terra).

Realmente, "aiôn" tem seu paralelo em latim aiuom (aevum), que deu, em português, a palavra "evo".


Desse substantivo originou-se o adjetivo αίώνιος, ος, ογ a que o "Greek-English Lexicon" (Oxford) dá os seguintes sentidos (jamais aparecendo "eterno", que realmente não tinha): " I - uma vida, a vida de alguém (sentido mais comum nos poetas) cfr. Homero, Odisseia, 5:160; Ilíada, 5:685 e 24:725;

Herodoto, 1, 32; Ésquilo, Prometeu, 862; Eumênides, 315; Sófocles, Ajax, 645.


2. uma época, uma geração, cfr. Ésquilo, Tebas, 744: Demócrito, 295, 2 ; Platão, Axíolos, 370 c.


3. uma parte da vida, cfr. Eurípedes, Andrômaca, 1215.


II - 1. longo espaço de tempo, uma idade (lat. aevum) cfr. Menandro, Incert 7; usado especialmente com preposiçõe "pelas idades, pelas gerações" ; cfr. Hesiodo, Teogonia, 609; Ésquilo, Suplicantes, 582 e 574; Agamemnon, 554; Platão, Timeu 37 d; Aristóteles, do Céu, 1. 19. 14; Licurgo, 155, 42; Filon, 2. 608.


2. um espaço de tempo claramente definido e destacado, uma era, uma idade. período, o "mundo presente" em oposição ao" mundo futuro"; cfr. MT 13:22; LC 16:8. Nesse sentido também usado no plural cfr. Romanos, 1:25: Filipenses, 4:20;


Efésios, 3:9; 1 Coríntios 2:7 e 1 Coríntios 2:1 Coríntios 10:11. etc. ".


Ora, "eterno" é filosoficamente, outra coisa; é o QUE ESTA FORA do tempo, como diz Aristóteles (Física, 4. 12, 221 b) : ώστε φανερόν ότι τά άεί όντα,ή άεί όντα, ούи έστιν έν Χρόνω: ού γάρ περιέΧεται
ύπό Χρόνον, ούδε µετρείται τό εί-ναι αύτών ύπό τού Χρόνου: σηµείον δέ τούτου ότι ούδε πάσΧει ούδεν ύπό τού Χρόνου ώς ούи όντα ένΧρόνω - que significa: "Vê-se, portanto, que os seres eternos, enquanto seres eternos, não estão no tempo, porque o tempo não os envolve, nem mede a existência deles; a prova é que o tempo não tem efeito sobre eles, porque eles não estão no tempo".

Quando se fala de "eterno" em grego, são as palavras que aparecem.


Mas há um trecho importante de Platão (Timeu, 37 e 38) em que sentimos bem a diferença entre αιδιος e αιωνιος . Vamos citá-lo na íntegra e no original, para bem compreender-se o sentido, e para quc os conhecedores controlem a veracidade do que afirmamos.
Ώς δέ иινηθέν αύτό иαί ζών ένόησεν τών άϊδίων θεών γεγο-νός άγαλµα ό γεννήσας πατήρ, ήγάσθη τε
иαί εύφρανθείς έτι δή µάλλον όµοιον πρός τό παράδειγµα έπενόησεν άπεργάσασθαι. Κα-θάπερ ούν αύτό τυγχάνει ζώον άίδιον όν,иαί τόδε τό πάν ούτως είς δύναµιν έπεχείρξσε τοίούτον άποτελεϊν. Н µέν ούν τού ζώ-ου φύσις έτύγχανεν ουσα αίώνιος, иαί τούτο µέν δή τώ γεννετώ παντελώς προσαπτειν ούи ή δυνατονúείиώ δ’έπενόει иίνητόν τί να αίώνος ποιήσαι, иαί διαиοσµών άµα ούρανόν ποιεί µένοντος
αίώνος έν ένί иατ’διαиοσµών άµα ούρανόν ποιεί µένοντος αίώνος έν ένί иατ’άριθµόν ίούσαν αίώνιον είиόνα, τούτον όν δή χρονον ώνοµάиαµεν. Нµέρας γάρ иαρ иαί νύиτας иαί µήνας иαί ένιαυτούς, ούи όντας πρίν ουρανον γενέσθαι, τόδε άµα έиείνω συνισταµένω τήν γένεσιν αύτών µηχανάται-ταΰτα δέ πάντα µέ-ρη χρόνου, иαί τό τ’ήν τό τ’έσται χρόνου γεγονότα είδη, & δή φέροντες λανθάνοµεν έπί τήν άίδιον αύσίαν ούи όρθώς. Λέγοµεν γάρ δή ώς ήν έστιν τε иαί έσται, τή δέ τό έστιν µόνον иατά τόν άγηθή λόγον προσήиει, τό δέ ήύ τό τ’έσται περί τήν έν χρόνω γένεσιν ίοϋσαν πρέπει λέγεσθαι-
иινήσεις γάρ έστον, τό δέ άέί иατά ταύτα έχον άиινήτως ούτε πρεσβύτερον ούτε νεώτε-ρον προσήиει γίγνεσθαι διά χρόνου ούδε γενέσθαι ποτέ ούδέ γε γονέναι νϋν ούδ’ είς αύθις έσεσθαι, τό παράπαν τε ούδέν όσα γε-νεσις τοϊς έν αίσθήσει φεροµένοις προσήψενάλλά χρόνου ταϋτα αίώνα µιµουµένου иαί
иατ’άριθµόν иυиλουµένου γέγονεν είδη-иαί πρός τούτοις έτι τά τοιάδε, τό τε γεγονός είναι γεγονός
иαί τό γιγνόµενον είναι γιγνόµενον, έτι τε τό γενεσοµενον εί-ναι γενεσοµενον иαί τό µή όν µή όν είναι, ών ούδέν άиριβές λέγοµεν ... χρόνος δ’ ούν µετ’ ούρανοϋ γέγονεν, άµα ίνα γεννη-θέντες άµα
иαί λυθώσιν, άν ποτε λύσις τις αύτών γίγνηται, иαί иατά τό παράδειγµα τής διαιωνίας φύσεως, ίν’ ώς όµοιότατος, αύ τώ иατά δύναµιν ή τό µέν γάρ δή παράδειγµα πάντα αίώνά έσ-τιν όν, ό δ’ αύ διά τέλους τόν άπαντα χρονον γεγονώς τε иαί ών иαί έσοµενος.
Eis a tradução literal, em que traduzimos αιωνιος por "permanente", para compreendermos bem as diferenças. Platão explica, pela boca de Timeu, qual a diferença entre eternidade e tempo, e fala na criação do tempo juntamente com o "céu", isto é, com a abóbada celeste. Esclarece que a eternidade é estável, imóvel, permanente em realidade, ao passo que o tempo imita essa permanência. com uma" permanência " relativa. Eis o texto: " Quando então o Pai Genitor percebeu que este (mundo), que foi a joia dos deuses eternos, se movia e vivia, ficou admirado e, alegrando-se, concebeu elaborá-lo ainda mais semelhante ao modelo. E como ele é um Vivente Eterno, e este é O TODO, empreendeu aperfeiçoá-lo dentro do possível. Sendo porém permanente a natureza do Vivente, não seria possível em vista disso igualar totalmente a ela o que teve princípio. Doutro lado, tinha feito uma imagem móvel do permanente e, organizando juntamente o céu, faz uma imagem permanente ritmada segundo o número, de acordo com a permanência imutável do UM, e isto é o que chamamos tempo.

Com efeito, não existindo os dias, as noites, os meses e os anos antes de ter sido produzido o céu, ele os produziu então juntamente com a constituição do mesmo. Todas essas coisas, porém, são parte do tempo, e o passado e o futuro são aspectos do tempo que evolui, e não percebemos que (falamos) impropriamente quando os aplicamos à essência eterna. Com efeito, dizemos que (ela) "era", "é" e "será"; mas uma única palavra verdadeiramente lhe convém: "é"; "era" e "será" só devem ser ditos a respeito da evolução que se processa no tempo, porque são movimentos; o eterno, porém, sendo imutável, não cabe (ser) mais velho, nem mais moço, nem evoluir através do tempo, nem ter aparecido outrora, nem ter acabado de aparecer agora, nem retroceder, nem (ter) qualquer qualidade que a evolução atribuiu às coisas que são percebidas, porque estes são aspectos pertencentes ao tempo, que imita a permanência e que gira segundo o número.


Além disso, estas outras expressões "o evoluído é (como se fora) mesmo evoluído", "o que evoluirá, evoluirá mesmo", "o não-ser é mesmo não-ser", são expressões inexatas... Então, o tempo evolui com o céu, para que, tendo nascido juntos, juntos também sejam dissolvidos – caso um dia se dê a dissolução dos mesmos - e (o tempo foi feito) segundo o modelo da natureza permanente, para que seja o mais semelhante possível a ela. Com efeito, o modelo é todo permanente, mas este (o tempo) é para sempre um tempo inteiro de passado, presente e futuro".


Agora vejamos o emprego dessas palavras em o Novo Testamento.


I - O substantivo αιδιος só aparece duas vezes:

1) na Epístola de Paulo aos Romanos (Romanos 1:20) "o Poder e a Divindade dele são eternos".


2) na Epístola de Judas (6-7), numa frase que é iniciada dizendo que Jesus salvou do Egito os israelitas (logo, sentido simbólico), e prossegue: "prendeu os anjos nos cárceres eternos sob a treva; Sodoma e Gomorra suportando a justiça do fogo permanente".


II - O substantivo αιων aparece 120 vezes, empregado com os sentidos: a) os séculos, isto é, uma época, um lapso de tempo (92 vezes);

MT 6:13; MT 21:19; MC 3:29; MC 11:14; Lc. 1:33. 55, 70; JO 4:14; 8:35 (2x), 51; 52; 10:28; 11:26; 12:34;


13:8; 14:6; AT 3:21; AT 15:18; RM 1:25;, 9:5; 11:36; 16:27; 1CO 2:7; 1CO 8:13; 1CO 10:11; 2CO 9:9; 2CO 11:31;


GL 1:5; EF 2:7; EF 3:9, EF 11:21 (2x); FP 4:20 (2x); CL 1:26; 1TM 1:17 (3x); 2TM 4:18 (2x); HB 1:2, HB 1:8 (2x); 5:6; 6:20; 7:17, 21, 24, 28; 11:13; 13:8, 21 (2x); 1PE 1:25; 1PE 4:11 (2x); 5:11 (2x); 1 JO
2:17; 2 JO 2; Jud. 13, 25 (2x); AP 1:6 (2x), 18 (2x); 4:9 (2x); 10 (2x); 5:13 (2x); 7:12 (2x); 10:6

(2x); 11:15 (2x); 14:11 (2x); 15:3, 7 (2x); 19:3 (2x); 20:10 (2x); 22:5 (2x).


b) o século, com o significado de "o mundo material" (em oposição ao mundo espiritual), ou com o sentido de "uma geração" – 28 vezes: MT 12:32; MT 13:22, MT 13:39, MT 13:40. 49; 24:3; 21:20; MC 4:19; MC 10:30; Lc. 16:8; 18:30; 20:34,35; RM 12:2; 1CO 1:20; 1CO 2:6 (2x), 8; 3:18; 2CO 4:4; EF 1:21; EF 2:2; 1TM 6:17; 2 Tim. - 4:20; TT 2:12; HB 6:5;


9:26; 1PE 3:18.


III - o adjetivo αιωνιος é empregado, ao lado de vários substantivos, qualificando-os, em 72 lugares: Uma única vez aparece com o sentido que pode ser interpretado como "eterno", usado por Paulo, em Romanos (Romanos 16:26) ao lado do substantivo "Deus" : Κατ’επιταγεν του αιωνιου θεου (segundo o preceito do Deus sempiterno), em oposição ao que escreve na 2. ª Coríntios (os 4:4) : o θεος του αιωνιος τουτου "o deus deste século", isto é, deste mundo.

Eis os sentidos : a) futuro, ou seja, no século ou na época vindoura, na vida seguinte, 19 vezes: MT 18:8; MT 25:41; MT 25:46; MC 3:29; LC 16:9; RM 16:25; 2 Th. 1:9; 2:16; 2TM 2:10; HB 5:9;


6:2; 9:12, 14, 15; 13:20; 1PE 5:10; 2PE 1:11; Jud. 7; Ap. 14:16.


b) permanente ou perene, no sentido de durar muito tempo, quase um século, 5 vezes:

2CO 4:17, 2CO 4:18; 5:1; 1TM 6:16; Film. 15.


c) os tempos atuais, ou seja, este século, 2 vezes:

2TM 1:9; TT 1:2.


d) com o substantivo VIDA (cujo sentido estudaremos agora), 45 vezes: MT 19:16, MT 19:29; 25:46; MC 10:17, MC 10:30; Lc. 10:25; 18:18. 30; AT 13:46 48; JO 3:15, 16, 36; 4:14,36;


5:24,39; 6:27, 40,47, 51, 54. 58, 68; 10:28; 12:25, 50; 17:2, 3; RM 2:7; RM 5:21; RM 6:22, RM 6:23; GL 6:8; 1 Tim. 1:16; 6:12; TT 1:2; TT 3:7; 1 JO 1:2; 2:25; 3:15; 5:11, 13, 20; Jud. 21.


O sentido de ζωή αίώνιος é dado pelo próprio Jesus, no evangelho de João, que é o que emprega mais vezes a expressão (25 vezes, contra 20 em todos os demais livros do novo Testamento). Lemos aí:
αύτη δέ έστιν ή αίώνιος ζωή, ϊνα γινώσиωσιν σέ, τόν µόνον άληθινόν θεόν, иαί όν άπέστειλας
‘Ιησοϋν χριστόν ou seja, "a vida IMANENTE é esta: 1) que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e

2) a quem enviaste, Jesus Cristo".


Por aí verificamos que a ζωήûαίώνιος NÃO É uma vida QUE DURA ETERNAMENTE (todas as vidas têm essa qualidade); não se refere à DURAÇÃO da vida, mas a uma QUALIDADE ESPECIFICA, que reside no CONHECIMENTO DA VERDADE TEOLÓGICA. E, ao conhecer essa verdade, haverá então a unificação total com o Cristo (cfr. JO 17:11,21,22), que dá a IMANÊNCIA perfeita, que resultar á na liberdade (cfr. JO 8:32) dos filhos de Deus (cfr. RM 8:21), que existe onde está o Espírito do Cristo (cfr. 1CO 10:29).
Paulo também explica qual a origem dessa VIDA IMANENTE, quando esclarece aos Romanos (Romanos 6:23):
τά γάρ όψώνα τής άµαρ-τίας θάνατος, τό δέ χαρισµα τοϋ θεοϋ ζωή αίώνιος, έν χριστώ ‘Ιησοϋ τώ
иυρίω ήµώ

ν isto é, "o salário do erro é a morte, a recompensa de Deus é a VIDA PERMANENTE em Cristo Jesus, o Senhor nosso".


Depois de tudo isso, podemos perceber a profundidade do sentido de "zoé aiónios".


É a VIDA PERMANENTE ou IMANENTE EM CRISTO. Em outros termos, é a união total do "eu" pequeno com o EU profundo, do "espírito" personalístico, com o Espírito ou Individualidade. A crença em Cristo, baseada no CONHECIMENTO e na CONVICÇÃO (fé), produzirá seus efeitos com a "nega ção da personalidade" (cfr. MT 16:24), que fica absorvida pela individualidade, pelo Cristo, que passa a "viver em nós" (cfr. GL 2:20 e GL 2:2CO 13:5). É o MERGULHO na Divindade, na qual nos dissolvemos, e isso se realiza através do Cristo.


Pelo oposição dos termos, salienta-se o significado: o erro nos trouxe a condição de encarnados, sujeitos à morte, e por isso o "salário do erro é o a morte". Mas a recompensa de Deus é o tirar-nos, quando nós o quisermos (por nosso esforço), desse cativeiro, dando-nos a VIDA IMANENTE de unifica ção com o Cristo, não mais sujeita a reencarnações e à morte.


Concluindo, pois, temos que "zoé aiónios": a) não pode ser vida "eterna" (como duração), de que todos participam; b) não pode ser vida "futura" (como reencarnação) porque todos os espíritos a vivem; c) não pode ser a vida "espiritual" (do "espírito") porque todos a têm, na alegria ou na dor.


Então, resta que é uma vida diferente dessas todas.


Por isso, compreendemos que só pode ser a vida NO REINO DE DEUS ou no REINO DOS CÉUS, que é a VIDA IMANENTE em Cristo.


Portanto, o melhor adjetivo para traduzir "aiónios", quando ao lado do substantivo VIDA, é IMANENTE, embora essa tradução não se encontre nos dicionários de grego.


No entanto, o sentido cabe perfeitamente. O latim manere significa "ficar". Com o preverbo PER, dá ideia de tempo ou duração; com o preverbo IN, exprime penetração, interiorização, união interna e íntima, "dentro de". Os dois são, pois, um mesmo verbo: MANERE, formando dois compostos: PERmanere e INmanere; e os sentidos também correspondem: a PERmanência é "ficar durante algum tempo" e a Imanência é "ficar dentro de", ou "penetrar em algo e lá permanecer".


Passemos ao versículo 17. Afirma o evangelista que Deus enviou seu Filho NÃO para julgar o mundo, mas para encaminhá-lo na direção certa.


Parece, à primeira vista, haver contradição entre essa frase e o que se diz logo adiante (5:22): "o Pai a ninguém julga, mas entregou todo julgamento ao Filho", acrescentando-se (5:27) : "Ele Lhe deu o poder de julgar, porque é Filho do Homem". Também em Mateus se descreve o Filho a julgar 25:31-3.


Entretanto, a contradição é mais aparente que real. Uma coisa é dizer que "o Filho julgará", ou "que o julgamento Lhe foi entregue", e outra, totalmente diferente, é dizer que foi essa a CAUSA da descida do Filho. Neste passo que comentamos, afirma-se que a RAZÃO de Sua vinda NÃO FOI o julgamento da humanidade (embora isto Lhe tenha sido colocado nas mãos), mas a missão de tirar a humanidade do caminho errado (αφεσις αµαρτιων) para orientá-la pelo caminho certo (σω-ζειν), isto é, para "preserv á-la" ou "salvá-la".

O sentido dos versículos seguintes (18-21) é bastante claro na sua interpretação literal, não carecendo de comentários.


Nesse trecho verificamos que mais clara se torna a linguagem mística de João.


O mundo - expresso pela palavra "cosmo (que significa "ordem" ou "harmonia do universo") - é a manifestação visível do Cristo Cósmico, ou seja, do "Filho Unigênito". Portanto, a própria exterioriza ção do Cosmo é, já de per si, uma doação que o Pai faz de seu "FILHO UNIGÊNITO".


Recordemos. Já falamos que Deus é O ESPÍRITO (JO 4:24), isto é, O AMOR, o qual, ao expandirse e manifestar-se, assume a atitude de PAI, ou VERBO (Logos, Palavra) isto é, O AMANTE, e que o resultado de sua manifestação ou exteriorização é O FILHO, que é o Universo em sua totalidade absoluta, e que, portanto, é realmente UNIGÊNITO, ou seja, o AMADO.


Por tudo isso, vemos que o CRISTO (CÓSMICO) é o FILHO UNIGÊNITO que está dentro de todos (sendo então chamado CRISTO INTERNO ou mônada divina).


Ora, todos aqueles espíritos que, por sua evolução, chegam a compreender, a buscar e a conseguir a Consciência Cósmica (ou consciência do Cristo Cósmico) também denominada União com o Cristo Interno - porque acreditaram nas palavras do Manifestante divino esses conseguirão a VIDA IMANENTE, a vida UNA com a Divindade que está em todos e em tudo, vida que flui internamente de dentro deles como fonte de água viva (cfr. JO 4:14). Esses não mais "se perderão" na ilusão da mat éria "satânica" ou opositora, a ela regressando constantemente vida após vida, mas empreenderão o caminho libertador da evolução sem fim.


E Jesus, o maior Manifestante da Divindade entre as criaturas terrenas - a quem Bahá’u’lláh denomin "Sua Santidade o Espírito" não veio para julgar os homens: apontou o caminho com Suas palavras e, muito mais, com Seus exemplos. Mas deixou as criaturas livres para escolher a estrada longa ou curta, larga ou estreita. A finalidade de Sua encarnação foi, apenas, conservar ou preservar o mundo, dando-lhe Seus exemplos, ensinando-lhe Sua doutrina, e derramando sobre o globo terrestre o Seu sangue vivificador.


No entanto, aqueles que não creem e se apegam à matéria (ao opositor ou satanás) já se julgam a si mesmos por sua própria atitude; ao renegar o Espírito ("mas aquele que se rebelar contra o Espírito, o Santo, não será libertado nem neste século (aiõni) nem no futuro", MT 12:33, cfr. MC 3:29 e LC 12:10) renunciam espontaneamente à evolução e, nem nesta encarnação nem na próxima, poder ão ser libertados do carma. Com efeito, a base ou o barema do julgamento é que a Luz Cristônica baixou até o mundo na Manifestação de Jesus; mas os homens preferiram as trevas à Luz. E justificase a preferência: suas obras (de separatismo, sectarismo, divisão, concorrência, egoísmo, ambição material, ódios, etc.) são más, ou seja, não sintonizam com o Amor que é Deus. Já aqueles que agem e vivem a Verdade, se aproximam vibracionalmente da Luz e deixam que suas obras se manifestem, porque, sendo realizadas em união total com o Amor (com Deus), são obras boas.


Mas, por que diz "crer NO NOME do Unigênito Filho de Deus" (vers. 18) ? O nome é a identificação da essência que se manifesta. Trata-se, portanto, de crer na manifestação do Filho de Deus, que é a Força Crística exteriorizada nos Universos (cfr. "seja santificado o Teu Nome", MT 6:9) a ela unindose a criatura através da "infinitização" própria, realizando a "consciência cósmica". O "nome" exprime, pois, a realidade mesma do Cristo divino que está em nós.


mt 6:9
Sabedoria do Evangelho - Volume 4

Categoria: Outras Obras
Capítulo: 13
CARLOS TORRES PASTORINO

MT 16:24-28


24. Jesus disse então o seus discípulos: "Se alguém quer vir após mim, neguese a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.


25. Porque aquele que quiser preservar sua alma. a perderá; e quem perder sua alma por minha causa, a achará.


26. Pois que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder sua alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma?


27. Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com seus mensageiros, e então retribuirá a cada um segundo seu comportamento.


28. Em verdade vos digo, que alguns dos aqui presentes absolutamente experimentarão a morte até que o Filho do Homem venha em seu reino. MC 8:34-38 e MC 9:1


34. E chamando a si a multidão, junto com seus discípulos disse-lhes: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.


35. Porque quem quiser preservar sua alma, a perderá; e quem perder sua alma por amor de mim e da Boa-Nova, a preservará.


36. Pois que adianta a um homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?


37. E que daria um homem em troca de sua alma?


38. Porque se alguém nesta geração adúltera e errada se envergonhar de mim e de minhas doutrinas, também dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na glória de seu Pai com seus santos mensageiros". 9:1 E disse-lhes: "Em verdade em verdade vos digo que há alguns dos aqui presentes, os quais absolutamente experimentarão a morte, até que vejam o reino de Deus já chegado em força".


LC 9:23-27


23. Dizia, então, a todos: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me.


24. Pois quem quiser preservar sua alma, a perderá; mas quem perder sua alma por amor de mim, esse a preservará.


25. De fato, que aproveita a um homem se ganhar o mundo inteiro, mas arruinar-se ou causar dano a si mesmo?


26. Porque aquele que se envergonhar de mim e de minhas doutrinas, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória, na do Pai e na dos santos mensageiros.


27. Mas eu vos digo verdadeiramente, há alguns dos aqui presentes que não experimentarão a morte até que tenham visto o reino de Deus.


Depois do episódio narrado no último capítulo, novamente Jesus apresenta uma lição teórica, embora bem mais curta que as do Evangelho de João.


Segundo Mateus, a conversa foi mantida com Seus discípulos. Marcos, entretanto, revela que Jesu "chamou a multidão" para ouvi-la, como que salientando que a aula era "para todos"; palavras, aliás, textuais em Lucas.


Achava-se a comitiva no território não-israelita ("pagão") de Cesareia de Filipe, e certamente os moradores locais haviam observado aqueles homens e mulheres que perambulavam em grupo homogêneo.


Natural que ficassem curiosos, a "espiar" por perto. A esses, Jesus convida que se aproximem para ouvir os ensinamentos e as exigências impostas a todos os que ambicionavam o DISCIPULATO, o grau mais elevado dos três citados pelo Mestre: justos (bons), profetas (médiuns) e discípulos (ver vol. 3).


As exigências são apenas três, bem distintas entre si, e citadas em sequência gradativa da menor à maior. Observamos que nenhuma delas se prende a saber, nem a dizer, nem a crer, nem a fazer, mas todas se baseiam em SER. O que vale é a evolução interna, sem necessidade de exteriorizações, nem de confissões, nem de ritos.


No entanto, é bem frisada a vontade livre: "se alguém quiser"; ninguém é obrigado; a espontaneidade deve ser absoluta, sem qualquer coação física nem moral. Analisemos.


Vimos, no episódio anterior, o Mestre ordenar a Pedro que "se colocasse atrás Dele". Agora esclarece: " se alguém QUER ser SEU discípulo, siga atrás Dele". E se tem vontade firme e inabalável, se o QUER, realize estas três condições:

1. ª - negue-se a si mesmo (Lc. arnésasthô; Mat. e Mr. aparnésasthô eautón).


2. ª - tome (carregue) sua cruz (Lc. "cada dia": arátô tòn stáurou autoú kath"hêméran);

3. ª - e siga-me (akoloutheítô moi).


Se excetuarmos a negação de si mesmo, já ouvíramos essas palavras em MT 10:38 (vol. 3).


O verbo "negar-se" ou "renunciar-se" (aparnéomai) é empregado por Isaías (Isaías 31:7) para descrever o gesto dos israelitas infiéis que, esclarecidos pela derrota dos assírios, rejeitaram ou negaram ou renunciaram a seus ídolos. E essa é a atitude pedida pelo Mestre aos que QUEREM ser Seus discípulos: rejeitar o ídolo de carne que é o próprio corpo físico, com sua sequela de sensações, emoções e intelectualismo, o que tudo constitui a personagem transitória a pervagar alguns segundos na crosta do planeta.


Quanto ao "carregar a própria cruz", já vimos (vol. 3), o que significava. E os habitantes da Palestina deviam estar habituados a assistir à cena degradante que se vinha repetindo desde o domínio romano, com muita frequência. Para só nos reportarmos a Flávio Josefo, ele cita-nos quatro casos em que as crucificações foram em massa: Varus que fez crucificar 2. 000 judeus, por ocasião da morte, em 4 A. C., de Herodes o Grande (Ant. Jud. 17. 10-4-10); Quadratus, que mandou crucificar todos os judeus que se haviam rebelado (48-52 A. D.) e que tinham sido aprisionados por Cumarus (Bell. Jud. 2. 12. 6); em 66 A. D. até personagens ilustres foram crucificadas por Gessius Florus (Bell. Jud. 2. 14. 9); e Tito que, no assédio de Jerusalém, fez crucificar todos os prisioneiros, tantos que não havia mais nem madeira para as cruzes, nem lugar para plantá-las (Bell. Jud. 5. 11. 1). Por aí se calcula quantos milhares de crucificações foram feitas antes; e o espetáculo do condenado que carregava às costas o instrumento do próprio suplício era corriqueiro. Não se tratava, portanto, de uma comparação vazia de sentido, embora constituindo uma metáfora. E que o era, Lucas encarrega-se de esclarecê-lo, ao acrescentar "carregue cada dia a própria cruz". Vemos a exigência da estrada de sacrifícios heroicamente suportados na luta do dia a dia, contra os próprios pendores ruins e vícios.


A terceira condição, "segui-Lo", revela-nos a chave final ao discipulato de tal Mestre, que não alicia discípulos prometendo-lhes facilidades nem privilégios: ao contrário. Não basta estudar-Lhe a doutrina, aprofundar-Lhe a teologia, decorar-Lhe as palavras, pregar-Lhe os ensinamentos: é mister SEGUILO, acompanhando-O passo a passo, colocando os pés nas pegadas sangrentas que o Rabi foi deixando ao caminhar pelas ásperas veredas de Sua peregrinação terrena. Ele é nosso exemplo e também nosso modelo vivo, para ser seguido até o topo do calvário.


Aqui chegamos a compreender a significação plena da frase dirigida a Pedro: "ainda és meu adversário (porque caminhas na direção oposta a mim, e tentas impedir-me a senda dolorosa e sacrificial): vai para trás de mim e segue-me; se queres ser meu discípulo, terás que renunciar a ti mesmo (não mais pensando nas coisas humanas); que carregar também tua cruz sem que me percas de vista na dura, laboriosa e dorida ascensão ao Reino". Mas isto, "se o QUERES" ... Valerá a pena trilhar esse áspero caminho cheio de pedras e espinheiros?


O versículo seguinte (repetição, com pequena variante de MT 10:39; cfr. vol. 3) responde a essa pergunta.


As palavras dessa lição são praticamente idênticas nos três sinópticos, demonstrando a impress ão que devem ter causado nos discípulos.


Sim, porque quem quiser preservar sua alma (hós eán thélei tên psychên autòn sõsai) a perderá (apolêsei autên). Ainda aqui encontramos o verbo sôzô, cuja tradução "salvar" (veja vol. 3) dá margem a tanta ambiguidade atualmente. Neste passo, a palavra portuguesa "preservar" (conservar, resguardar) corresponde melhor ao sentido do contexto. O verbo apolesô "perder", só poderia ser dado também com a sinonímia de "arruinar" ou "degradar" (no sentido etimológico de "diminuir o grau").


E o inverso é salientado: "mas quem a perder "hós d"án apolésêi tên psychên autoú), por minha causa (héneken emoú) - e Marcos acrescenta "e da Boa Nova" (kaì toú euaggelíou) - esse a preservará (sósei autén, em Marcos e Lucas) ou a achará (heurêsei autén, em Mateus).


A seguir pergunta, como que explicando a antinomia verbal anterior: "que utilidade terá o homem se lucrar todo o mundo físico (kósmos), mas perder - isto é, não evoluir - sua alma? E qual o tesouro da Terra que poderia ser oferecido em troca (antállagma) da evolução espiritual da criatura? Não há dinheiro nem ouro que consiga fazer um mestre, riem que possa dar-se em troca de uma iniciação real.


Bens espirituais não podem ser comprados nem "trocados" por quantias materiais. A matemática possui o axioma válido também aqui: quantidades heterogêneas não podem somar-se.


O versículo seguinte apresenta variantes.


MATEUS traz a afirmação de que o Filho do Homem virá com a glória de seu Pai, em companhia de Seus Mensageiros (anjos), para retribuir a cada um segundo seus atos. Traduzimos aqui dóxa por "glória" (veja vol. 1 e vol. 3), porque é o melhor sentido dentro do contexto. E entendemos essa glória como sinônimo perfeito da "sintonia vibratória" ou a frequência da tônica do Pai (Verbo, Som). A atribui ção a cada um segundo "seus atos" (tên práxin autoú) ou talvez, bem melhor, de acordo com seu comportamento, com a "prática" da vida diária. Não são realmente os atos, sobretudo isolados (mesmo os heroicos) que atestarão a Evolução de uma criatura, mas seu comportamento constante e diuturno.


MARCOS diz que se alguém, desta geração "adúltera", isto é, que se tornou "infiel" a Deus, traindo-O por amar mais a matéria que o espírito, e "errada" na compreensão das grandes verdades, "se envergonhar" (ou seja "desafinar", não-sintonizar), também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier com a glória do Pai, em companhia de Seus mensageiros (anjos).


LUCAS repete as palavras de Marcos (menos a referência à Boa Nova), salientando, porém, que o Filho do Homem virá com Sua própria glória, com a glória do Pai, e com a glória dos santos mensageiros (anjos).


E finalmente o último versículo, em que só Mateus difere dos outros dois, os quais, no entanto, nos parecem mais conformes às palavras originais.


Afirma o Mestre "alguns dos aqui presentes" (eisin tines tõn hõde hestótõn), os quais não experimentar ão (literalmente: "não saborearão, ou mê geúsôntai) a morte, até que vejam o reino de Deus chegar com poder. Mateus em vez de "o reino de Deus", diz "o Filho do Homem", o que deu margem à expectativa da parusia (ver vol. 3), ainda para os indivíduos daquela geração.


Entretanto, não se trata aqui, de modo algum, de uma parusia escatológica (Paulo avisa aos tessalonicenses que não o aguardem "como se já estivesse perto"; cfr. 1. ª Tess. 2: lss), mas da descoberta e conquista do "reino de Deus DENTRO de cada um" (cfr. LC 17:21), prometido para alguns "dos ali presentes" para essa mesma encarnação.


A má interpretação provocou confusões. Os gnósticos (como Teodósio), João Crisóstomo, Teofilacto e outros - e modernamente o cardeal Billot, S. J. (cfr. "La Parousie", pág. 187), interpretam a "vinda na glória do Filho do Homem" como um prenúncio da Transfiguração; Cajetan diz ser a Ressurreição;


Godet acha que foi Pentecostes; todavia, os próprios discípulos de Jesus, contemporâneos dos fatos, não interpretaram assim, já que após a tudo terem assistido, inclusive ao Pentecostes, continuaram esperando, para aqueles próximos anos, essa vinda espetacular. Outros recuaram mais um pouco no tempo, e viram essa "vinda gloriosa" na destruição de Jerusalém, como "vingança" do Filho do Homem; isso, porém, desdiz o perdão que Ele mesmo pedira ao Pai pela ignorância de Seus algozes (D. Calmet, Knabenbauer, Schanz, Fillion, Prat, Huby, Lagrange); e outros a interpretaram como sendo a difusão do cristianismo entre os pagãos (Gregório Magno, Beda, Jansênio, Lamy).


Penetremos mais a fundo o sentido.


Na vida literária e artística, em geral, distinguimos nitidamente o "aluno" do "discípulo". Aluno é quem aprende com um professor; discípulo é quem segue a trilha antes perlustrada por um mestre. Só denominamos "discípulo" aquele que reproduz em suas obras a técnica, a "escola", o estilo, a interpretação, a vivência do mestre. Aristóteles foi aluno de Platão, mas não seu discípulo. Mas Platão, além de ter sido aluno de Sócrates, foi também seu discípulo. Essa distinção já era feita por Jesus há vinte séculos; ser Seu discípulo é segui-Lo, e não apenas "aprender" Suas lições.


Aqui podemos desdobrar os requisitos em quatro, para melhor explicação.


Primeiro: é necessário QUERER. Sem que o livre-arbítrio espontaneamente escolha e decida, não pode haver discipulato. Daí a importância que assume, no progresso espiritual, o aprendizado e o estudo, que não podem limitar-se a ouvir rápidas palavras, mas precisam ser sérios, contínuos e profundos.


Pois, na realidade, embora seja a intuição que ilumina o intelecto, se este não estiver preparado por meio do conhecimento e da compreensão, não poderá esclarecer a vontade, para que esta escolha e resolva pró ou contra.


O segundo é NEGAR-SE a si mesmo. Hoje, com a distinção que conhecemos entre o Espírito (individualidade) e a personagem terrena transitória (personalidade), a frase mais compreensível será: "negar a personagem", ou seja, renunciar aos desejos terrenos, conforme ensinou Sidarta Gotama, o Buddha.


Cientificamente poderíamos dizer: superar ou abafar a consciência atual, para deixar que prevaleça a super-consciência.


Essa linguagem, entretanto, seria incompreensível àquela época. Todavia, as palavras proferidas pelo Mestre são de meridiana clareza: "renunciar a si mesmo". Observando-se que, pelo atraso da humanidade, se acredita que o verdadeiro eu é a personagem, e que a consciência atual é a única, negar essa personagem e essa consciência exprime, no fundo, negar-se "a si mesmo". Diz, portanto, o Mestre: " esse eu, que vocês julgam ser o verdadeiro eu, precisa ser negado". Nada mais esclarece, já que não teria sido entendido pela humanidade de então. No entanto, aqueles que seguissem fielmente Sua lição, negando seu eu pequeno e transitório, descobririam, por si mesmos, automaticamente, em pouco tempo, o outro Eu, o verdadeiro, coisa que de fato ocorreu com muitos cristãos.


Talvez no início possa parecer, ao experimentado: desavisado, que esse Eu verdadeiro seja algo "externo".


Mas quando, por meio da evolução, for atingido o "Encontro Místico", e o Cristo Interno assumir a supremacia e o comando, ele verificará que esse Divino Amigo não é um TU desconhecido, mas antes constitui o EU REAL. Além disso, o Mestre não se satisfez com a explanação teórica verbal: exemplificou, negando o eu personalístico de "Jesus", até deixá-lo ser perseguido, preso, caluniado, torturado e assassinado. Que Lhe importava o eu pequeno? O Cristo era o verdadeiro Eu Profundo de Jesus (como de todos nós) e o Cristo, com a renúncia e negação do eu de Jesus, pode expandir-se e assumir totalmente o comando da personagem humana de Jesus, sendo, às vezes, difícil distinguir quando falava e agia "Jesus" e quando agia e falava "o Cristo". Por isso em vez de Jesus, temos nele O CRISTO, e a história o reconhece como "Jesus", O CRISTO", considerando-o como homem (Jesus) e Deus (Cristo).


Essa anulação do eu pequeno fez que a própria personagem fosse glorificada pela humildade, e o nome humano negado totalmente se elevasse acima de tudo, de tal forma que "ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na Terra e debaixo da terra" (Filp. 2:10).


Tudo isso provocou intermináveis discussões durante séculos, por parte dos que não conseguiram penetrar a realidade dos acontecimentos, caracterizados, então, de "mistério": são duas naturezas ou uma? Como se realizou a união hipostática? Teria a Divindade absorvido a humanidade?


Por que será que uma coisa tão clara terá ficado incompreendida por tantos luminares que trataram deste assunto? O Eu Profundo de todas as criaturas é o Deus Interno, que se manifestará em cada um exatamente na proporção em que este renunciar ao eu pequeno (personagem), para deixar campo livre à expressão do Cristo Interno Divino. Todos somos deuses (cfr. Salmo 81:6 e JO 10:34) se negarmos totalmente nosso eu pequeno (personagem humana), deixando livre expansão à manifestação do Cristo que em todos habita. Isso fez Jesus. Se a negação for absoluta e completa, poderemos dizer com Paulo que, nessa criatura, "habita a plenitude da Divindade" (CL 2:9). E a todos os que o fizerem, ser-lhes-á exaltado o nome acima de toda criação" (cfr. Filp. 2:5-11).


Quando isto tiver sido conseguido, a criatura "tomará sua cruz cada dia" (cada vez que ela se apresentar) e a sustentará galhardamente - quase diríamos triunfalmente - pois não mais será ela fonte de abatimentos e desânimos, mas constituirá o sofrimento-por-amor, a dor-alegria, já que é a "porta estreita" (MT 7:14) que conduzirá à felicidade total e infindável (cfr. Pietro Ubaldi, "Grande Síntese, cap. 81).


No entanto, dado o estágio atual da humanidade, a cruz que temos que carregar ainda é uma preparação para o "negar-se". São as dores físicas, as incompreensões morais, as torturas do resgate de carmas negativos mais ou menos pesados, em vista do emaranhado de situações aflitivas, das "montanhas" de dificuldades que se erguem, atravancando nossos caminhos, do sem-número de moléstias e percalços, do cortejo de calúnias e martírios inomináveis e inenarráveis.


Tudo terá que ser suportado - em qualquer plano - sem malsinar a sorte, sem desesperos, sem angústias, sem desfalecimentos nem revoltas, mas com aceitação plena e resignação ativa, e até com alegria no coração, com a mais sólida, viva e inabalável confiança no Cristo-que-é-nosso-Eu, no Deus-

Imanente, na Força-Universal-Inteligente e Boa, que nos vivifica e prepara, de dentro de nosso âmago mais profundo, a nossa ascensão real, até atingirmos TODOS, a "plena evolução crística" (EF 4:13).


A quarta condição do discipulato é também clara, não permitindo ambiguidade: SEGUI-LO. Observese a palavra escolhida com precisão. Poderia ter sido dito "imitá-Lo". Seria muito mais fraco. A imitação pode ser apenas parcial ou, pior ainda, ser simples macaqueação externa (usar cabelos compridos, barbas respeitáveis, vestes talares, gestos estudados), sem nenhuma ressonância interna.


Não. Não é imitá-Lo apenas, é SEGUI-LO. Segui-Lo passo a passo pela estrada evolutiva até atingir a meta final, o ápice, tal como Ele o FEZ: sem recuos, sem paradas, sem demoras pelo caminho, sem descanso, sem distrações, sem concessões, mas marchando direto ao alvo.


SEGUI-LO no AMOR, na DEDICAÇÃO, no SERVIÇO, no AUTO-SACRIFÍCIO, na HUMILDADE, na RENÚNCIA, para que de nós se possa afirmar como Dele foi feito: "fez bem todas as coisas" (MC 7. 37) e: "passou pela Terra fazendo o bem e curando" (AT 10:38).


Como Mestre de boa didática, não apresenta exigências sem dar as razões. Os versículos seguintes satisfazem a essa condição.


Aqui, como sempre, são empregados os termos filosóficos com absoluta precisão vocabular (elegantia), não deixando margem a qualquer dúvida. A palavra usada é psychê, e não pneuma; é alma e nã "espírito" (em adendo a este capítulo daremos a "constituição do homem" segundo o Novo Testamento).


A alma (psychê) é a personagem humana em seu conjunto de intelecto-emoções, excluído o corpo denso e as sensações do duplo etérico. Daí a definição da resposta 134 do "Livro dos Espíritos": "alma é o espírito encarnado", isto é, a personagem humana que habita no corpo denso.

Aí está, pois, a chave para a interpretação do "negue-se a si mesmo": esse eu, a alma, é a personagem que precisa ser negada, porque, quem não quiser fazê-lo, quem pretender preservar esse eu, essa alma, vai acabar perdendo-a, já que, ao desencarnar, estará com "as mãos vazias". Mas aquele que por causa do Cristo Interno - renunciar e perder essa personagem transitória, esse a encontrará melhorada (Mateus), esse a preservará da ruína (Marcos e Lucas).


E prossegue: que adiantará acumular todas as riquezas materiais do mundo, se a personalidade vai cair no vazio? Nada de material pode ser-lhe comparado. No entanto, se for negada, será exaltada sobre todas as coisas (cfr. o texto acima citado, Filp. 2:5-11).


Todas e qualquer evolução do Espírito é feita exclusivamente durante seu mergulho na carne (veja atrás). Só através das personagens humanas haverá ascensão espiritual, por meio do "ajustamento sintônico". Então, necessidade absoluta de consegui-lo, não "se envergonhando", isto é, não desafinando da tônica do Pai (Som) que tudo cria, governa e mantém. Enfrentar o mundo sem receio, sem" respeitos humanos", e saber recusá-lo também, para poder obter o Encontro Místico com o Cristo Interno. Se a criatura "se envergonha" e se retrai, (não sintoniza) não é possível conseguir o Contato Divino, e o Filho do Homem também a evitará ("se envergonhará" dessa criatura). Só poderá haver a" descida da graça" ou a unificação com o Cristo, "na glória (tônica) do Pai (Som-Verbo), na glória (tônica) do próprio Cristo (Eu Interno), na glória de todos os santos mensageiros", se houver a coragem inquebrantável de romper com tudo o que é material e terreno, apagando as sensações, liquidando as emoções, calando o intelecto, suplantando o próprio "espírito" encarnado, isto é, PERDENDO SUA ALMA: só então "a achará", unificada que estará com o Cristo, Nele mergulhada (batismo), "como a gota no oceano" (Bahá"u"lláh). Realmente, a gota se perde no oceano mas, inegavelmente, ao deixar de ser gota microscópica, ela se infinitiva e se eterniza tornando-se oceano...

Em Mateus é-nos dado outro aviso: ao entrar em contato com a criatura, esta "receberá de acordo com seu comportamento" (pláxin). De modo geral lemos nas traduções correntes "de acordo com suas obras". Mas isso daria muito fortemente a ideia de que o importante seria o que o homem FAZ, quando, na realidade, o que importa é o que o homem É: e a palavra comportamento exprime-o melhor que obras; ora, a palavra do original práxis tem um e outro sentido.


Evidentemente, cada ser só poderá receber de acordo com sua capacidade, embora todos devam ser cheios, replenos, com "medida sacudida e recalcada" (cfr. Lc. 5:38).


Mas há diferença de capacidade entre o cálice, o copo, a garrafa, o litro, o barril, o tonel... De acordo com a própria capacidade, com o nível evolutivo, com o comportamento de cada um, ser-lhe-á dado em abundância, além de toda medida. Figuremos uma corrente imensa, que jorra permanentemente luz e força, energia e calor. O convite é-nos feito para aproximar-nos e recolher quanto quisermos.


Acontece, porém, que cada um só recolherá conforme o tamanho do vasilhame que levar consigo.


Assim o Cristo Imanente e o Verbo Criador e Conservador SE DERRAMAM infinitamente. Mas nós, criaturas finitas, só recolheremos segundo nosso comportamento, segundo a medida de nossa capacidade.


Não há fórmulas mágicas, não há segredos iniciáticos, não peregrinações nem bênçãos de "mestres", não há sacramentos nem sacramentais, que adiantem neste terreno. Poderão, quando muito, servir como incentivo, como animação a progredir, mas por si, nada resolvem, já que não agem ex ópere operantis nem ex opere operatus, mas sim ex opere recipientis: a quantidade de recebimento estará de acordo com a capacidade de quem recebe, não com a grandeza de quem dá, nem com o ato de doação.


E pode obter-se o cálculo de capacidade de cada um, isto é, o degrau evolutivo em que se encontra no discipulato de Cristo, segundo as várias estimativas das condições exigidas:

a) - pela profundidade e sinceridade na renúncia ao eu personalístico, quando tudo é feito sem cogitar de firmar o próprio nome, sem atribuir qualquer êxito ao próprio merecimento (não com palavras, mas interiormente), colaborando com todos os "concorrentes", que estejam em idêntica senda evolutiva, embora nos contrariem as ideias pessoais, mas desde que sigam os ensinos de Cristo;


b) - pela resignação sem queixas, numa aceitação ativa, de todas as cruzes, que exprimam atos e palavras contra nós, maledicências e calúnias, sem respostas nem defesas, nem claras nem veladas (já nem queremos acenar à contra-ataques e vinganças).


c) - pelo acompanhar silencioso dos passos espirituais no caminho do auto-sacrifício por amor aos outros, pela dedicação integral e sem condições; no caminho da humildade real, sem convencimentos nem exterioridades; no caminho do serviço, sem exigências nem distinções; no caminho do amor, sem preferências nem limitações. O grau dessas qualidades, todas juntas, dará uma ideia do grau evolutivo da criatura.


Assim entendemos essas condições: ou tudo, à perfeição; ou pouco a pouco, conquistando uma de cada vez. Mas parado, ninguém ficará. Se não quiser ir espontaneamente, a dor o aguilhoará, empurrandoo para a frente de qualquer forma.


No entanto, uma promessa relativa à possibilidade desse caminho é feita claramente: "alguns dos que aqui estão presentes não experimentarão a morte até conseguirem isso". A promessa tanto vale para aquelas personagens de lá, naquela vida física, quanto para os Espíritos ali presentes, garantindo-selhes que não sofreriam queda espiritual (morte), mas que ascenderiam em linha reta, até atingir a meta final: o Encontro Sublime, na União mística absoluta e total.


Interessante a anotação de Marcos quando acrescenta: O "reino de Deus chegado em poder". Durante séculos se pensou no poder externo, a espetacularidade. Mas a palavra "en dynámei" expressa muito mais a força interna, o "dinamismo" do Espírito, a potencialidade crística a dinamizar a criatura em todos os planos.


O HOMEM NO NOVO TESTAMENTO


O Novo Testamento estabelece, com bastante clareza, a constituição DO HOMEM, dividindo o ser encarnado em seus vários planos vibratórios, concordando com toda a tradição iniciática da Índia e Tibet, da China, da Caldeia e Pérsia, do Egito e da Grécia. Embora não encontremos o assunto didaticamente esquematizado em seus elementos, o sentido filosófico transparece nítido dos vários termos e expressões empregados, ao serem nomeadas as partes constituintes do ser humano, ou seja, os vários níveis em que pode tornar-se consciente.


Algumas das palavras são acolhidas do vocabulário filosófico grego (ainda que, por vezes, com pequenas variações de sentido); outras são trazidas da tradição rabínica e talmúdica, do centro iniciático que era a Palestina, e que já entrevemos usadas no Antigo Testamento, sobretudo em suas obras mais recentes.


A CONCEPÇÃO DA DIVINDADE


Já vimos (vol, 1 e vol. 3 e seguintes), que DEUS, (ho théos) é apresentado, no Novo Testamento, como o ESPÍRITO SANTO (tò pneuma tò hágion), o qual se manifesta através do Pai (patêr) ou Lógos (Som Criador, Verbo), e do Filho Unigênito (ho hyiós monogenês), que é o Cristo Cósmico.


DEUS NO HOMEM


Antes de entrar na descrição da concepção do homem, no Novo Testamento, gostaríamos de deixar tem claro nosso pensamento a respeito da LOCALIZAÇÃO da Centelha Divina ou Mônada NO CORA ÇÃO, expressão que usaremos com frequência.


A Centelha (Partícula ou Mônada) é CONSIDERADA por nós como tal; mas, na realidade, ela não se separa do TODO (cfr. vol. 1); logo, ESTÁ NO TODO, e portanto É O TODO (cfr. JO 1:1).


O "TODO" está TODO em TODAS AS COISAS e em cada átomo de cada coisa (cfr. Agostinho, De Trin. 6, 6 e Tomás de Aquino, Summa Theologica, I, q. 8, art. 2, ad 3um; veja vol. 3, pág. 145).


Entretanto, os seres e as coisas acham-se limitados pela forma, pelo espaço, pelo tempo e pela massa; e por isso afirmamos que em cada ser há uma "centelha" ou "partícula" do TODO. No entanto, sendo o TODO infinito, não tem extensão; sendo eterno, é atemporal; sendo indivisível, não tem dimensão; sendo O ESPÍRITO, não tem volume; então, consequentemente, não pode repartir-se em centelhas nem em partículas, mas é, concomitantemente, TUDO EM TODAS AS COISAS (cfr. l. ª Cor. 12:6).


Concluindo: quando falamos em "Centelha Divina" e quando afirmamos que ela está localizada no coração, estamos usando expressões didáticas, para melhor compreensão do pensamento, dificílimo (quase impossível) de traduzir-se em palavras.


De fato, porém, a Divindade está TODA em cada célula do corpo, como em cada um dos átomos de todos os planos espirituais, astrais, físicos ou quaisquer outros que existam. Em nossos corpos físicos e astral, o coração é o órgão preparado para servir de ponto de contato com as vibrações divinas, através, no físico, do nó de Kait-Flake e His; então, didaticamente, dizemos que "o coração é a sede da Centelha Divina".


A CONCEPÇÃO DO HOMEM


O ser humano (ánthrôpos) é considerado como integrado por dois planos principais: a INDIVIDUALIDADE (pneuma) e a PERSONAGEM ou PERSONALIDADE; esta subdivide-se em dois: ALMA (psychê) e CORPO (sôma).


Mas, à semelhança da Divindade (cfr. GN 1:27), o Espírito humano (individualidade ou pneuma) possui tríplice manifestação: l. ª - a CENTELHA DIVINA, ou Cristo, partícula do pneuma hágion; essa centelha que é a fonte de todo o Espirito, está localizada e representada quase sempre por kardia (coração), a parte mais íntima e invisível, o âmago, o Eu Interno e Profundo, centro vital do homem;


2. ª - a MENTE ESPIRITUAL, parte integrante e inseparável da própria Centelha Divina. A Mente, em sua função criadora, é expressa por noús, e está também sediada no coração, sendo a emissora de pensamentos e intuições: a voz silenciosa da super-consciência;


3. ª - O ESPÍRITO, ou "individualização do Pensamento Universal". O "Espírito" propriamente dito, o pneuma, surge "simples e ignorante" (sem saber), e percorre toda a gama evolutiva através dos milênios, desde os mais remotos planos no Antissistema, até os mais elevados píncaros do Sistema (Pietro Ubaldi); no entanto, só recebe a designação de pneuma (Espírito) quando atinge o estágio hominal.


Esses três aspectos constituem, englobamente, na "Grande Síntese" de Pietro Ubaldi, o "ALPHA", o" espírito".


Realmente verificamos que, de acordo com GN 1:27, há correspondência perfeita nessa tríplice manifesta ção do homem com a de Deus: A - ao pneuma hágion (Espírito Santo) correspondente a invisível Centelha, habitante de kardía (coração), ponto de partida da existência;


B - ao patêr (Pai Criador, Verbo, Som Incriado), que é a Mente Divina, corresponde noús (a mente espiritual) que gera os pensamentos e cria a individualização de um ser;


C - Ao Filho Unigênito (Cristo Cósmico) corresponde o Espírito humano, ou Espírito Individualizado, filho da Partícula divina, (a qual constitui a essência ou EU PROFUNDO do homem); a individualidade é o EU que percorre toda a escala evolutiva, um Eu permanente através de todas as encarnações, que possui um NOME "escrito no livro da Vida", e que terminará UNIFICANDO-SE com o EU PROFUNDO ou Centelha Divina, novamente mergulhando no TODO. (Não cabe, aqui, discutir se nessa unificação esse EU perde a individualidade ou a conserva: isso é coisa que está tão infinitamente distante de nós no futuro, que se torna impossível perceber o que acontecerá).


No entanto, assim como Pneuma-Hágion, Patêr e Hyiós (Espírito-Santo, Pai e Filho) são apenas trê "aspectos" de UM SÓ SER INDIVISÍVEL, assim também Cristo-kardía, noús e pneuma (CristoSABEDORIA DO EVANGELHO coração, mente espiritual e Espírito) são somente três "aspectos" de UM SÓ SER INDIVÍVEL, de uma criatura humana.


ENCARNAÇÃO


Ao descer suas vibrações, a fim de poder apoiar-se na matéria, para novamente evoluir, o pneuma atinge primeiro o nível da energia (o BETA Ubaldiano), quando então a mente se "concretiza" no intelecto, se materializa no cérebro, se horizontaliza na personagem, começando sua "crucificação". Nesse ponto, o pneuma já passa a denominar-se psychê ou ALMA. Esta pode considerar-se sob dois aspectos primordiais: a diánoia (o intelecto) que é o "reflexo" da mente, e a psychê propriamente dita isto é, o CORPO ASTRAL, sede das emoções.


Num último passo em direção à matéria, na descida que lhe ajudará a posterior subida, atinge-se então o GAMA Ubaldiano, o estágio que o Novo Testamento designa com os vocábulos diábolos (adversário) e satanás (antagonista), que é o grande OPOSITOR do Espírito, porque é seu PÓLO NEGATIVO: a matéria, o Antissistema. Aí, na matéria, aparece o sôma (corpo), que também pode subdividir-se em: haima (sangue) que constitui o sistema vital ou duplo etérico e sárx (carne) que é a carapaça de células sólidas, último degrau da materialização do espírito.


COMPARAÇÃO


Vejamos se com um exemplo grosseiro nos faremos entender, não esquecendo que omnis comparatio claudicat.


Observemos o funcionamento do rádio. Há dois sistemas básicos: o transmissor (UM) e os receptores (milhares, separados uns dos outros).


Consideremos o transmissor sob três aspectos: A - a Força Potencial, capaz de transmitir;


B - a Antena Emissora, que produz as centelas;


C - a Onda Hertziana, produzida pelas centelhas.


Mal comparando, aí teríamos:

a) - o Espirito-Santo, Força e Luz dos Universos, o Potencial Infinito de Amor Concreto;


b) - o Pai, Verbo ou SOM, ação ativa de Amante, que produz a Vida


c) - o Filho, produto da ação (do Som), o Amado, ou seja, o Cristo Cósmico que permeia e impregna tudo.


Não esqueçamos que TUDO: atmosfera, matéria, seres e coisas, no raio de ação do transmissor, ficam permeados e impregnados em todos os seus átomos com as vibrações da onda hertziana, embora seja esta invisível e inaudível e insensível, com os sentidos desarmados; e que os três elementos (Força-
Antena e Onda) formam UM SÓ transmissor o Consideremos, agora, um receptor. Observaremos que a recepção é feita em três estágios:

a) - a captação da onda


b) - sua transformação


c) - sua exteriorização Na captação da onda, podemos distinguir - embora a operação seja uma só - os seguintes elementos: A - a onda hertziana, que permeia e impregna todos os átomos do aparelho receptor, mas que é captada realmente apenas pela antena;


B - o condensador variável, que estabelece a sintonia com a onda emitida pelo transmissor. Esses dois elementos constituem, de fato, C - o sistema RECEPTOR INDIVIDUAL de cada aparelho. Embora a onda hertziana seja UMA, emitida pelo transmissor, e impregne tudo (Cristo Cósmico), nós nos referimos a uma onda que entra no aparelho (Cristo Interno) e que, mesmo sendo perfeita; será recebida de acordo com a perfeição relativa da antena (coração) e do condensador variável (mente). Essa parte representaria, então, a individualidade, o EU PERFECTÍVEL (o Espírito).


Observemos, agora, o circuito interno do aparelho, sem entrar em pormenores, porque, como dissemos, a comparação é grosseira. Em linhas gerais vemos que a onda captada pelo sistema receptor propriamente dito, sofre modificações, quando passa pelo circuito retificador (que transforma a corrente alternada em contínua), e que representaria o intelecto que horizontaliza as ideias chegadas da mente), e o circuito amplificador, que aumenta a intensidade dos sinais (que seria o psiquismo ou emoções, próprias do corpo astral ou alma).


Uma vez assim modificada, a onda atinge, com suas vibrações, o alto-falante que vibra, reproduzindo os sinais que chegam do transmissor isto é, sentindo as pulsações da onda (seria o corpo vital ou duplo etérico, que nos dá as sensações); e finalmente a parte que dá sonoridade maior, ou seja, a caixa acústica ou móvel do aparelho (correspondente ao corpo físico de matéria densa).


Ora, quanto mais todos esses elementos forem perfeitos, tanto mais fiel e perfeito será a reprodução da onda original que penetrou no aparelho. E quanto menos perfeitos ou mais defeituosos os elementos, mais distorções sofrerá a onda, por vezes reproduzindo, em guinchos e roncos, uma melodia suave e delicada.


Cremos que, apesar de suas falhas naturais, esse exemplo dá a entender o funcionamento do homem, tal como conhecemos hoje, e tal como o vemos descrito em todas as doutrinas espiritualistas, inclusive

—veremos agora quiçá pela primeira vez - nos textos do Novo Testamento.


Antes das provas que traremos, o mais completas possível, vejamos um quadro sinóptico:
θεός DEUS
πνεϋµα άγιον Espírito Santo
λόγος Pai, Verbo, Som Criador
υίός - Χριστό CRISTO - Filho Unigênito
άνθρωπος HOMEM
иαρδία - Χριστ

ό CRISTO - coração (Centelha)


πνεϋµα νους mente individualidade
πνεϋµα Espírito
φυΧή διάγοια intelecto alma
φυΧή corpo astral personagem
σώµα αίµα sangue (Duplo) corpo
σάρ

ξ carne (Corpo)


A - O EMPREGO DAS PALAVRAS


Se apresentada pela primeira vez, como esta, uma teoria precisa ser amplamente documentada e comprovada, para que os estudiosos possam aprofundar o assunto, verificando sua realidade objetiva. Por isso, começaremos apresentando o emprego e a frequência dos termos supracitados, em todos os locais do Novo Testamento.


KARDÍA


Kardía expressa, desde Homero (Ilíada, 1. 225) até Platão (Timeu, 70 c) a sede das faculdades espirituais, da inteligência (ou mente) e dos sentimentos profundos e violentos (cfr. Ilíada, 21,441) podendo até, por vezes, confundir-se com as emoções (as quais, na realidade, são movimentos da psychê, e não propriamente de kardía). Jesus, porém, reiteradamente afirma que o coração é a fonte primeira em que nascem os pensamentos (diríamos a sede do Eu Profundo).


Com este último sentido, a palavra kardía aparece 112 vezes, sendo que uma vez (MT 12:40) em sentido figurado.


MT 5:8, MT 5:28; 6:21; 9:4; 11:29; 12:34 13-15(2x),19; 15:8,18,19; 18;35; 22;37; 24:48; MC 2:6, MC 2:8; 3:5;


4:15; 6;52; 7;6,19,21; 8:11; 11. 23; 12:30,33; LC 1:17, LC 1:51, LC 1:66; 2;19,35,51; 3:5; 5:22; 6:45; 8:12,15;


9:47; 10:27; 12:34; 16:15; 21:14,34; 24;25,32,38; JO 12:40(2x); 13:2; 14:1,27; 16:6,22 AT 2:26, AT 2:37, AT 2:46; AT 4:32; 5:3(2x); 7:23,39,51,54; 8;21,22; 11;23. 13:22; 14:17; 15:9; 16;14; 21:13; 28:27(2x);


RM 1:21, RM 1:24; 2:5,15,29; 5:5; 6:17; 8:27; 9:2; 10:1,6,8,9,10; 16:16; 1. ª Cor. 2:9; 4:5; 7:37; 14:25; 2. ª Cor. 1:22; 2:4; 3:2,3,15; 4:6; 5:12; 6:11; 7:3; 8:16; 9:7; GL 4:6; EF 1:18; EF 3:17; EF 4:18; EF 5:19; EF 6:5, EF 6:22;


Filp. 1:7; 4:7; CL 2:2; CL 3:15, CL 3:16, CL 3:22; CL 4:8; 1. ª Tess. 2:4,17; 3:13; 2. ª Tess. 2:17; 3:5; 1. ª Tim. 1:5; 2. ª Tim.


2:22; HB 3:8, HB 3:10, HB 3:12, HB 3:15; HB 4:7, HB 4:12; 8:10; 10:16,22; Tiago, 1:26; 3:14; 4:8; 5:5,8; 1. ª Pe. 1:22; 3:4,15; 2. ª Pe. 1:19; 2:15; 1; 1. ª JO 3;19,20(2x),21; AP 2:23; AP 17:17; AP 18:7.


NOÚS


Noús não é a "fonte", mas sim a faculdade de criar pensamentos, que é parte integrante e indivisível de kardía, onde tem sede. Já Anaxágoras (in Diógenes Laércio, livro 2. º, n. º 3) diz que noús (o Pensamento Universal Criador) é o "’princípio do movimento"; equipara, assim, noús a Lógos (Som, Palavra, Verbo): o primeiro impulsionador dos movimentos de rotação e translação da poeira cósmica, com isso dando origem aos átomos, os quais pelo sucessivo englobamento das unidades coletivas cada vez mais complexas, formaram os sistemas atômicos, moleculares e, daí subindo, os sistemas solares, gal áxicos, e os universos (cfr. vol. 3. º).


Noús é empregado 23 vezes com esse sentido: o produto de noús (mente) do pensamento (nóêma), usado 6 vezes (2. ª Cor. 2:11:3:14; 4:4; 10:5; 11:3; Filp. 4:7), e o verbo daí derivado, noeín, empregado

14 vezes (3), sendo que com absoluta clareza em João (João 12:40) quando escreve "compreender com o coração" (noêsôsin têi kardíai).


LC 24. 45; RM 1:28; RM 7:23, RM 7:25; 11:34; 12:2; 14. 5; l. ª Cor. 1. 10; 2:16:14:14,15,19; EF 4:17, EF 4:23; Filp.


4:7; CL 2:18; 2. ª Tess. 2. 2; 1. ª Tim. 6:5; 2. ª Tim. 3:8; TT 1:15;AP 13:18.


PNEUMA


Pneuma, o sopro ou Espírito, usado 354 vezes no N. T., toma diversos sentidos básicos: MT 15:17; MT 16:9, MT 16:11; 24:15; MC 7:18; MC 8:17; MC 13:14; JO 12:40; RM 1:20; EF 3:4, EF 3:20; 1. ª Tim. 1:7;


2. ª Tim. 2:7; HB 11:13

1. Pode tratar-se do ESPÍRITO, caracterizado como O SANTO, designando o Amor-Concreto, base e essência de tudo o que existe; seria o correspondente de Brahman, o Absoluto. Aparece com esse sentido, indiscutivelmente, 6 vezes (MT 12:31, MT 12:32; MC 3:29; LC 12:10; JO 4:24:1. ª Cor. 2:11).


Os outros aspectos de DEUS aparecem com as seguintes denominações:

a) - O PAI (ho patêr), quando exprime o segundo aspecto, de Criador, salientando-se a relação entre Deus e as criaturas, 223 vezes (1); mas, quando se trata do simples aspecto de Criador e Conservador da matéria, é usado 43 vezes (2) o vocábulo herdado da filosofia grega, ho lógos, ou seja, o Verbo, a Palavra que, ao proferir o Som Inaudível, movimenta a poeira cósmica, os átomos, as galáxias.


(1) MT 5:16, MT 5:45, MT 5:48; MT 6:1, MT 6:4, MT 6:6, MT 6:8,9,14,15,26,32; 7:11,21; 10:20,29,32,33; 11:25,27; 12:50; 13:43; 15:13; 16:17,27; 18:10,14,19,35; 20:23; 23:9; 24:36; 25:34:26:29,39,42,53; MC 8:25; MC 11:25, MC 11:32; MC 11:14:36; LC 2:49; LC 2:6:36;9:26;10:21,22;11:2,13;12:30,32;22:29,42;23:34,46;24:49;JO 1:14, JO 1:18; JO 1:2:16;3:35;4:21,23;5:1 7,18,19,20,21,22,23,26,36,37,43,45,46,27,32,37,40,44,45,46,57,65;8:18,19,27,28,38,41,42,49,54;10:1 5,17,18,19,25,29,30,32,35,38;11:41;12:26,27,28,49,50;13:1,3;14:2,6,7,8,9,10,11,13,16,20,21,24,26,28, 31,15:1,8,9,10,15,16,23,24,26;16:3,10,15,17,25,26,27,28,32;17:1,5,11,21,24,25; 18:11; 20:17,21;AT 1:4, AT 1:7; AT 1:2:33;Rom. 1:7;6:4;8:15;15:6;1. º Cor. 8:6; 13:2; 15:24; 2. º Cor. 1:2,3; 6:18; 11:31; Gól. 1:1,3,4; 4:6; EF 1:2, EF 1:3, EF 1:17; EF 2:18; EF 2:3:14; 4:6; 5:20; FP 1:2; FP 2:11; FP 4:20; CL 1:2, CL 1:3, CL 1:12:3:17; 1. 0 Teõs. 1:1,3; 3:11,13; 2° Tess. 1:1 2; : 2:16; 1. º Tim. 1:2; 2. º Tim. 1:2; TT 1:4; Flm. 3; HB 1:5; HB 12:9; Tiago 1:17, Tiago 1:27:3:9; 1° Pe. 1:2,3,17; 2. º Pe. 1:17, 1. º JO 1:2,3; 2:1,14,15,16, 22,23,24; 3:1; 4:14; 2. º JO 3,4,9; Jud. 9; AP 1:6; AP 2:28; AP 3:5, AP 3:21; 14:1. (2) MT 8:8; LC 7:7; JO 1:1, JO 1:14; 5:33; 8:31,37,43,51,52,55; 14:23,24; 15:20; 17:61417; 1. º Cor. 1:13; 2. º Cor. 5:19; GL 6:6; Filp. 2:6; Cor. 1:25; 3:16; 4:3; 1. º Tess. 1:6; 2. º Tess. 3:1; 2. º Tim. 2:9; Heb. : 12; 6:1; 7:28; 12:9; Tiago, 1:21,22,23; 1. ° Pe. 1:23; 2. º Pe. 3:5,7; 1. º JO 1:1,10; 2:5,7,14; AP 19:13.


b) - O FILHO UNIGÊNITO (ho hyiós monogenês), que caracteriza o CRISTO CÓSMICO, isto é, toda a criação englobadamente, que é, na realidade profunda, um dos aspectos da Divindade. Não se trata, como é claro, de panteísmo, já que a criação NÃO constitui a Divindade; mas, ao invés, há imanência (Monismo), pois a criação é UM DOS ASPECTOS, apenas, em que se transforma a Divindade. Esta, além da imanência no relativo, é transcendente como Absoluto; além da imanência no tempo, é transcendente como Eterno; além da imanência no finito, é transcendente como Infinito.


A expressão "Filho Unigênito" só é usada por João (1:14,18; 13:16,18 e 1. a JO 4:9). Em todos os demais passos é empregado o termo ho Christós, "O Ungido", ou melhor, "O Permeado pela Divindade", que pode exprimir tanto o CRISTO CÓSMICO que impregna tudo, quanto o CRISTO INTERNO, se o olhamos sob o ponto de vista da Centelha Divina no âmago da criatura.


Quando não é feita distinção nos aspectos manifestantes, o N. T. emprega o termo genérico ho theós Deus", precedido do artigo definido.


2. Além desse sentido, encontramos a palavra pneuma exprimindo o Espírito humano individualizado; essa individualização, que tem a classificação de pneuma, encontra-se a percorrer a trajetória de sua longa viagem, a construir sua própria evolução consciente, através da ascensão pelos planos vibratórios (energia e matéria) que ele anima em seu intérmino caminhar. Notemos, porém, que só recebe a denominação de pneuma (Espírito), quando atinge a individualização completa no estado hominal (cfr. A. Kardec, "Livro dos Espíritos", resp. 79: "Os Espíritos são a individualização do Princípio Inteligente, isto é, de noús).


Logicamente, portanto, podemos encontrar espíritos em muitos graus evolutivos, desde os mais ignorantes e atrasados (akátharton) e enfermos (ponêrón) até os mais evoluídos e santos (hágion).


Todas essas distinções são encontradas no N. T., sendo de notar-se que esse termo pneuma pode designar tanto o espírito encarnado quanto, ao lado de outros apelativos, o desencarnado.


Eis, na prática, o emprego da palavra pneuma no N. T. :

a) - pneuma como espírito encarnado (individualidade), 193 vezes: MT 1:18, MT 1:20; 3:11; 4:1; 5:3; 10:20; 26:41; 27:50; MC 1:8; MC 2:8; MC 8:12; MC 14:38; LC 1:47, LC 1:80; 3:16, 22; 8:55; 23:46; 24. 37, 39; JO 1:33; JO 3:5, JO 3:6(2x), 8; 4:23; 6:63; 7:39; 11:33; 13:21; 14:17, 26; 15:26; 16:13; 19-30, 20:22; AT 1:5, AT 1:8; 5:3; 32:7:59; 10:38; 11:12,16; 17:16; 18:25; 19:21; 20:22; RM 1:4, RM 1:9; 5:5; 8:2, 4, 5(2x), 6, 9(3x), 10, 11(2x),13, 14, 15(2x), 16(2x), 27; 9:1; 12:11; 14:17; 15:13, 16, 19, 30; 1° Cor. 2:4, 10(2x), 11, 12; 3:16; 5:3,4, 5; 6:11, 17, 19; 7:34, 40; 12:4, 7, 8(2x), 9(2x), 11, 13(2x); 14:2, 12, 14, 15(2x), 16:32; 15:45; 16:18; 2º Cor. 1:22; 2:13; 3:3, 6, 8, 17(2x), 18; 5:5; 6:6; 7:1, 13; 12:18; 13:13; GL 3:2, GL 3:3, GL 3:5; 4:6, 29; 5:5,16,17(2x), 18, 22, 25(2x1); 6:8(2x),18; EF 1:13, EF 1:17; 2:18, 22; 3:5, 16; 4:3, 4:23; 5:18; 6:17, 18; Philp. 1:19, 27; 2:1; 3:3; 4:23; CL 1:8; CL 2:5; 1º Tess. 1:5, 6; 4:8; 5:23; 2. º Tess. 2:13; 1. º Tim. 3:16; 4:22; 2. º Tim. 1:14; TT 3:5; HB 4:12, HB 6:4; HB 9:14; HB 10:29; HB 12:9; Tiago, 2:26:4:4; 1. º Pe. 1:2, 11, 12; 3:4, 18; 4:6,14; 1. º JO 3:24; JO 4:13; JO 5:6(2x),7; Jud. 19:20; AP 1:10; AP 4:2; AP 11:11.


b) - pneuma como espírito desencarnado:


I - evoluído ou puro, 107 vezes:


MT 3:16; MT 12:18, MT 12:28; 22:43; MC 1:10, MC 1:12; 12:36; 13. 11; LC 1:15, LC 1:16, LC 1:41, LC 1:67; 2:25, 27; 4:1, 14, 18; 10:21; 11:13; 12:12; JO 1:32; JO 3:34; AT 1:2, AT 1:16; 2:4(2x), 17, 18, 33(2x), 38; 4:8; 25, 31; 6:3, 10; 7:51, 55; 8:15, 17, 18, 19, 29, 39; 9:17, 31; 10:19, 44, 45, 47; 11:15, 24, 28; 13:2, 4, 9, 52; 15:8, 28; 16:6, 7; 19:1, 2, 6; 20:22, 28; 21:4, 11; 23:8, 9; 28:25; 1. º Cor. 12:3(2x), 10; 1. º Tess. 5:9; 2. º Tess. 2:2; 1. ° Tim. 4:1; HB 1:7, HB 1:14; 2:4; 3:7; 9:8; 10:15; 12:23; 2. º Pe. 1:21; 1. ° JO 4:1(2x), 2, 3, 6; AP 1:4; AP 2:7, AP 2:11, AP 2:17, AP 2:29; 3:1, 6, 13, 22; 4:5; 5:6; 14:13; 17:3:19. 10; 21. 10; 22:6, 17.


II - involuído ou não-purificado, 39 vezes:


MT 8:16; MT 10:1; MT 12:43, MT 12:45; MC 1:23, MC 1:27; 3:11, 30; 5:2, 8, 13; 6:7; 7:25; 9:19; LC 4:36; LC 6:18; LC 7:21; LC 8:2; LC 10:20; LC 11:24, LC 11:26; 13:11; AT 5:16; AT 8:7; AT 16:16, AT 19:12, AT 19:13, AT 19:15, AT 19:16; RM 11:8:1. ° Cor. 2:12; 2. º Cor. 11:4; EF 2:2; 1. º Pe. 3:19; 1. º JO 4:2, 6; AP 13:15; AP 16:13; AP 18:2.


c) - pneuma como "espírito" no sentido abstrato de "caráter", 7 vezes: (JO 6:63; RM 2:29; 1. ª Cor. 2:12:4:21:2. ª Cor. 4:13; GL 6:1 e GL 6:2. ª Tim. 1:7)


d) - pneuma no sentido de "sopro", 1 vez: 2. ª Tess. 2:8 Todavia, devemos acrescentar que o espírito fora da matéria recebia outros apelativo, conforme vimos (vol. 1) e que não é inútil recordar, citando os locais.


PHÁNTASMA, quando o espírito, corpo astral ou perispírito se torna visível; termo que, embora frequente entre os gregos, só aparece, no N. T., duas vezes (MT 14:26 e MC 6:49).

ÁGGELOS (Anjo), empregado 170 vezes, designa um espírito evoluído (embora nem sempre de categoria acima da humana); essa denominação específica que, no momento em que é citada, tal entidade seja de nível humano ou supra-humano - está executando uma tarefa especial, como encarrega de "dar uma mensagem", de "levar um recado" de seus superiores hierárquicos (geralmente dizendo-se "de Deus"): MT 1:20, MT 1:24; 2:9, 10, 13, 15, 19, 21; 4:6, 11; 8:26; 10:3, 7, 22; 11:10, 13; 12:7, 8, 9, 10, 11, 23; 13:39, 41, 49; 16:27; 18:10; 22:30; 24:31, 36; 25:31, 41; 26:53; 27:23; 28:2, 5; MC 1:2, MC 1:13; 8:38; 12:25; 13:27, 32; LC 1:11, LC 1:13, LC 1:18, LC 1:19, 26, 30, 34, 35, 38; 4:10, 11; 7:24, 27; 9:26, 52; 12:8; 16:22; 22:43; 24:23; JO 1:51; JO 12:29; JO 20:12 AT 5:19; AT 6:15; AT 7:30, AT 7:35, AT 7:38, AT 7:52; 12:15; 23:8, 9; RM 8:38; 1. ° Cor. 4:9; 6:3; 11:10; 13:1; 2. º Cor. 11:14; 12:7; GL 1:8; GL 3:19; GL 4:14; CL 2:18; 2. º Tess. 1:7; 1. ° Tim. 3:16; 5:21; HB 1:4, HB 1:5, HB 1:6, HB 1:7, 13; 2:2, 5, 7, 9, 16; 12:22; 13:2; Tiago 2:25; 1. º Pe. 1:4, 11; Jud. 6; AP 1:1, AP 1:20; 2:1, 8, 12, 18; 3:1, 5, 7, 9, 14; 5:2, 11; 7:1, 11; 8:2, 3, 4, 5, 6, 8, 10, 12, 13; 9:1, 11, 13, 14, 15; 10:1, 5, 7, 8, 9, 10; 11:15; 12:7, 9, 17; 14:6, 9, 10, 15, 17, 18, 19; 15:1, 6, 7, 8, 10; 16:1, 5; 17:1, 7; 18:1, 21; 19:17; 20:1; 21:9, 12, 17; 22:6, 8, 16. BEEZEBOUL, usado 7 vezes: (MT 7. 25; 12:24, 27; MC 3:22; LC 11:15, LC 11:18, LC 11:19) só nos Evangelhos, é uma designação de chefe" de falange, "cabeça" de espíritos involuído.


DAIMÔN (uma vez, em MT 8:31) ou DAIMÓNION, 55 vezes, refere-se sempre a um espírito familiar desencarnado, que ainda conserva sua personalidade humana mesmo além túmulo. Entre os gregos, esse termo designava quer o eu interno, quer o "guia". Já no N. T. essa palavra identifica sempre um espírito ainda não-esclarecido, não evoluído, preso à última encarnação terrena, cuja presença prejudica o encarnado ao qual esteja ligado; tanto assim que o termo "demoníaco" é, para Tiago, sinônimo de "personalístico", terreno, psíquico. "não é essa sabedoria que desce do alto, mas a terrena (epígeia), a personalista (psychike), a demoníaca (demoniôdês). (Tiago, 3:15)


MT 7:22; MT 9:33, MT 9:34; 12:24, 27, 28; 10:8; 11:18; 17:18; MC 1:34, MC 1:39; 3:15, 22; 6:13; 7:26, 29, 30; 9:38; 16:9, 17; LC 4:33, LC 4:35, LC 4:41; 7:33; 8:2, 27, 29, 30, 33, 35, 38; 9:1, 42, 49; 10:17; 11:14, 15, 18, 19, 20; 13:32; JO 7:2; JO 8:48, JO 8:49, JO 8:52; 10:20, 21; AT 17:18; 1. ª Cor. 10:20, 21; 1. º Tim. 4:1; Tiago 2:16; Apoc 9:20; 16:24 e 18:2.


Ao falar de desencarnados, aproveitemos para observar como era designado o fenômeno da psicofonia: I - quando se refere a uma obsessão, com o verbo daimonízesthai, que aparece 13 vezes (MT 4:24;


8:16, 28, 33; 9:32; 12:22; 15:22; Marc 1:32; 5:15, 16, 18; LC 8:36; JO 10:21, portanto, só empregado pelos evangelistas).


II - quando se refere a um espírito evoluído, encontramos as expressões:

• "cheio de um espírito (plêrês, LC 4:1; AT 6:3, AT 6:5; 7:55; 11:24 - portanto só empregado por Lucas);


• "encher-se" (pimplánai ou plêthein, LC 1:15, LC 1:41, LC 1:67; AT 2:4; AT 4:8, AT 4:31; 9:17; 13:19 - portanto, só usado por Lucas);


• "conturbar-se" (tarássein), JO 11:33 e JO 13:21).


Já deixamos bem claro (vol 1) que os termos satanás ("antagonista"), diábolos ("adversário") e peirázôn ("tentador") jamais se referem, no N. T., a espíritos desencarnados, mas expressam sempre "a matéria, e por conseguinte também a "personalidade", a personagem humana que, com seu intelecto vaidoso, se opõe, antagoniza e, como adversário natural do espírito, tenta-o (como escreveu Paulo: "a carne (matéria) luta contra o espírito e o espírito contra a carne", GL 5:17).


Esses termos aparecem: satanãs, 33 vezes (MT 4:10; MT 12:26; MT 16:23; MC 1:13; MC 3:23, MC 3:26; 4:15; 8:33; LC 10:18; LC 11:18; LC 13:16; LC 22:3; JO 13:27, JO 13:31; AT 5:3; AT 26:18; RM 16:20; 1. º Cor. 5:5; 7:5; 2. º Cor. 2:11; 11:14; 12:17; 1. ° Tess. 2:18; 2. º Tess. 2:9; 1. º Tim. 1:20; 5:15; AP 2:9, AP 2:13, AP 2:24; 3:9; 12:9; 20:2, 7); diábolos, 35 vezes (MT 4:1, MT 4:5, MT 4:8, MT 4:11; 13:39; 25:41; LC 4:2, LC 4:3, LC 4:6, LC 4:13; 8:12; JO 6:70; JO 8:44; JO 13:2; AT 10:38; AT 13:10; EF 4:27; EF 6:11; 1. º Tim. 3:6, 7, 11; 2. º Tim. 2:26; 3:3 TT 2:3; HB 2:14; Tiago, 4:7; 1. º Pe. 5:8; 1. º JO 3:8, 10; Jud. 9; AP 2:10; AP 12:9, AP 12:12; 20:2,10) e peirázôn, duas vezes (MT 4:3 e MT 4:1. ª Tess. 3:5).


DIÁNOIA


Diánoia exprime a faculdade de refletir (diá+noús), isto é, o raciocínio; é o intelecto que na matéria, reflete a mente espiritual (noús), projetando-se em "várias direções" (diá) no mesmo plano. Usado 12 vezes (MT 22:37; MC 12:30: LC 1:51; LC 10:27: EF 2:3; EF 4:18; CL 1:21; HB 8:10; HB 10:16; 1. ª Pe. 1:13; 2. ª Pe. 3:1; 1. ª JO 5:20) na forma diánoia; e na forma dianóêma (o pensamento) uma vez em LC 11:17. Como sinônimo de diánoia, encontramos, também, synesis (compreensão) 7 vezes (MC 12:33; LC 2:47; 1. ª Cor. 1:19; EF 3:4; CL 1:9 e CL 2:2; e 2. ª Tim. 2:7). Como veremos logo abaixo, diánoia é parte inerente da psychê, (alma).


PSYCHÊ


Psychê é a ALMA, isto é, o "espírito encarnado (cfr. A. Kardec, "Livro dos Espíritos", resp. 134: " alma é o espírito encarnado", resposta dada, evidentemente, por um "espírito" afeito à leitura do Novo Testamento).


A psychê era considerada pelos gregos como o atualmente chamado "corpo astral", já que era sede dos desejos e paixões, isto é, das emoções (cfr. Ésquilo, Persas, 841; Teócrito, 16:24; Xenofonte, Ciropedia, 6. 2. 28 e 33; Xen., Memoráveis de Sócrates, 1. 13:14; Píndaro, Olímpicas, 2. 125; Heródoto, 3. 14; Tucídides, 2. 40, etc.) . Mas psychê também incluía, segundo os gregos, a diánoia ou synesis, isto é, o intelecto (cfr. Heródoto, 5. 124; Sófocles, Édipo em Colona, 1207; Xenofonte, Hieron, 7. 12; Plat ão, Crátilo, 400 a).


No sentido de "espírito" (alma de mortos) foi usada por Homero (cfr. Ilíada 1. 3; 23. 65, 72, 100, 104;


Odisseia, 11. 207,213,222; 24. 14 etc.), mas esse sentido foi depressa abandonado, substituído por outros sinônimos (pnenma, eikôn, phántasma, skiá, daimôn, etc.) .


Psychê é empregado quase sempre no sentido de espírito preso à matéria (encarnado) ou seja, como sede da vida, e até como a própria vida humana, isto é, a personagem terrena (sede do intelecto e das emoções) em 92 passos: Mar. 2:20; 6:25; 10:28, 39; 11:29; 12:18; 16:25, 26; 20:28; 22:37; 26:38; MC 3:4; MC 8:35, MC 8:36, MC 8:37; 10:45; 12:30; 14:34; LC 1:46; LC 2:35; LC 6:9; LC 9:24(2x), 56; 10:27; 12:19, 20, 22, 23; 14:26; 17:33; 21:19; JO 10:11, JO 10:15, JO 10:17, JO 10:18, 24; 12:25, 27; 13:37, 38; 15:13; AT 2:27, AT 2:41, AT 2:43; 3:23; 4:32; 7:14; 14:2, 22; 15:24, 26; 20:10, 24; 27:10, 22, 37, 44; RM 2:9; RM 11:3; RM 13:1; RM 16:4; 1. º Cor. 15:45; 2. º Cor. 1:23; 12:15; EF 6:6; CL 3:23; Flp. 1:27; 2:30; 1. º Tess. 2:8; 5:23; HB 4:12; HB 6:19; HB 10:38, HB 10:39; 12:3; 13:17; Tiago 1:21; Tiago 5:20; 1. º Pe. 1:9, 22; 2:11, 25; 4:19; 2. º Pe. 2:8, 14; 1. º JO 3:16; 3. º JO 2; AP 12:11; AP 16:3; AP 18:13, AP 18:14.


Note-se, todavia, que no Apocalipse (6:9:8:9 e 20:4) o termo é aplicado aos desencarnados por morte violenta, por ainda conservarem, no além-túmulo, as características da última personagem terrena.


O adjetivo psychikós é empregado com o mesmo sentido de personalidade (l. ª Cor. 2:14; 15:44, 46; Tiago, 3:15; Jud. 19).


Os outros termos, que entre os gregos eram usados nesse sentido de "espírito desencarnado", o N. T.


não os emprega com essa interpretação, conforme pode ser verificado:

EIDOS (aparência) - LC 3:22; LC 9:29; JO 5:37; 2. ª Cor. 5:7; 1. ª Tess. 5:22.


EIDÔLON (ídolo) - AT 7:41; AT 15:20; RM 2:22; 1. ª Cor. 8:4, 7; 10:19; 12; 2; 2. ª Cor. 6:16; 1. ª Tess.


1:9; 1. ª JO 5:21; AP 9:20.


EIKÔN (imagem) - MT 22:20; MC 12:16; LC 20:24; RM 1:23; 1. ª Cor. 11:7; 15:49 (2x) ; 2. ª Cor. 3:18; 4:4; CL 1:5; CL 3:10; HB 10:11; AP 13:14; AP 14:2, AP 14:11; 15:2; 19 : 20; 20 : 4.


SKIÁ (sombra) - MT 4:16; MC 4:32; LC 1:79; AT 5:15; CL 2:17; HB 8:5; HB 10:1.


Também entre os gregos, desde Homero, havia a palavra thumós, que era tomada no sentido de alma encarnada". Teve ainda sentidos diversos, exprimindo "coração" quer como sede do intelecto, quer como sede das paixões. Fixou-se, entretanto, mais neste último sentido, e toda, as vezes que a deparamos no Novo Testamento é, parece, com o designativo "força". (Cfr. LC 4:28; AT 19:28; RM 2:8; 2. ª Cor. 12:20; GL 5:20; EF 4:31; CL 3:8; HB 11:27; AP 12:12; AP 14:8, AP 14:10, AP 14:19; 15:1, 7; 16:1, 19; 18:3 e 19:15)


SOMA


Soma exprime o corpo, geralmente o físico denso, que é subdividido em carne (sárx) e sangue (haima), ou seja, que compreende o físico denso e o duplo etérico (e aqui retificamos o que saiu publicado no vol. 1, onde dissemos que "sangue" representava o astral).


Já no N. T. encontramos uma antecipação da moderna qualificação de "corpos", atribuída aos planos ou níveis em que o homem pode tornar-se consciente. Paulo, por exemplo, emprega soma para os planos espirituais; ao distinguir os "corpos" celestes (sómata epouránia) dos "corpos" terrestres (sómata epígeia), ele emprega soma para o físico denso (em lugar de sárx), para o corpo astral (sôma psychikôn) e para o corpo espiritual (sôma pneumatikón) em 1. ª Cor. 15:40 e 44.


No N. T. soma é empregado ao todo 123 vezes, sendo 107 vezes no sentido de corpo físico-denso (material, unido ou não à psychê);


MT 5:29, MT 5:30; 6:22, 25; 10:28(2x); 26:12; 27:58, 59; MC 5:29; MC 14:8; MC 15:43; LC 11:34; LC 12:4, LC 12:22, LC 12:23; 17:37; 23:52, 55; 24:3, 23; JO 2:21; JO 19:31, JO 19:38, JO 19:40; 20:12; Aros. 9:40; RM 1:24; RM 4:19; RM 6:6, RM 6:12; 7:4, 24; 8:10, 11, 13, 23; 12:1, 4; 1. º Cor. 5:13; 6:13(2x), 20; 7:4(2x), 34; 9:27; 12:12(3x),14, 15(2x), 16 (2x), 17, 18, 19, 20, 22, 23, 24, 25; 13:3; 15:37, 38(2x) 40). 2. 0 Cor. 4:40; 5:610; 10:10; 12:2(2x); Gól. 6:17; EF 2:16; EF 5:23, EF 5:28; Ft. 3:21; CL 2:11, CL 2:23; 1. º Tess. 5:23; HB 10:5, HB 10:10, HB 10:22; 13:3, 11; Tiago 2:11, Tiago 2:26; 3:2, 3, 6; 1. º Pe. 2:24; Jud. 9; AP 18:13. Três vezes como "corpo astral" (MT 27:42; 1. ª Cor. 15:14, duas vezes); duas vezes como "corpo espiritual" (1. º Cor. 15:41); e onze vezes com sentido simbólico, referindo-se ao pão, tomado como símbolo do corpo de Cristo (MT 26:26; MC 14:22; LC 22:19; RM 12:5; 1. ª Cor. 6:15; 10:16, 17; 11:24; 12:13, 27; EF 1:23; EF 4:4, EF 4:12, EF 4:16; Filp. 1:20; CL 1:18, CL 1:22; 2:17; 3:15).


HAIMA


Haima, o sangue, exprime, como vimos, o corpo vital, isto é, a parte que dá vitalização à carne (sárx), a qual, sem o sangue, é simples cadáver.


O sangue era considerado uma entidade a parte, representando o que hoje chamamos "duplo etérico" ou "corpo vital". Baste-nos, como confirmação, recordar que o Antigo Testamento define o sangue como "a alma de toda carne" (LV 17:11-14). Suma importância, por isso, é atribuída ao derramamento de sangue, que exprime privação da "vida", e representa quer o sacrifício em resgate de erros e crimes, quer o testemunho de uma verdade.


A palavra é assim usada no N. T. :

a) - sangue de vítimas (HB 9:7, HB 9:12, HB 9:13, HB 9:18, 19, 20, 21, 22, 25; 10:4; 11:28; 13:11). Observe-se que só nessa carta há preocupação com esse aspecto;


b) - sangue de Jesus, quer literalmente (MT 27:4, MT 27:6, MT 27:24, MT 27:25; LC 22:20; JO 19:34; AT 5:28; AT 20:28; RM 5:25; RM 5:9; EF 1:7; EF 2:13; CL 1:20; HB 9:14; HB 10:19, HB 10:29; 12:24; 13:12, 20; 1. ª Pe. 1:2,19; 1. ª JO 1:7; 5:6, 8; AP 1:5; AP 5:9; AP 7:14; AP 12:11); quer simbolicamente, quando se refere ao vinho, como símbolo do sangue de Cristo (MT 26:28; MC 14:24; JO 6:53, JO 6:54, JO 6:55, JO 6:56; 1. ª Cor. 10:16; 11:25, 27).


c) - o sangue derramado como testemunho de uma verdade (MT 23:30, MT 23:35; 27:4; LC 13:1; AT 1:9; AT 18:6; AT 20:26; AT 22:20; RM 3:15; HB 12:4; AP 6:10; 14,: 20; 16:6; 17:6; 19:2, 13).


d) - ou em circunstâncias várias (MC 5:25, MC 5:29; 16:7; LC 22:44; JO 1:13; AT 2:19, AT 2:20; 15:20, 29; 17:26; 21:25; 1. ª Cor. 15:50; GL 1:16; EF 6:12; HB 2:14; AP 6:12; AP 8:7; AP 15:3, AP 15:4; 11:6).


SÁRX


Sárx é a carne, expressão do elemento mais grosseiro do homem, embora essa palavra substitua, muitas vezes, o complexo soma, ou seja, se entenda, com esse termo, ao mesmo tempo "carne" e "sangue".


Apesar de ter sido empregada simbolicamente por Jesus (JO 6:51, JO 6:52, JO 6:53, JO 6:54, 55 e 56), seu uso é mais literal em todo o resto do N. T., em 120 outros locais: MT 19:56; MT 24:22; MT 26:41; MC 10:8; MC 13:20; MC 14:38; LC 3:6; LC 24:39; JO 1:14; JO 3:6(2x); 6:63; 8:15; 17:2; AT 2:7, AT 2:26, AT 2:31; RM 1:3; RM 2:28; RM 3:20; RM 4:1; RM 6:19; RM 7:5, RM 7:18, RM 7:25; 8:3, 4(2x), 5(2x), 6, 7, 8, 9, 13(2x); 9:358; 11:14; 13:14; 1. º Cor. 1:2629; 5:5; 6:16; 7:28;10:18; 15:39(2x),50; 2. º Cor. 1:17; 4:11; 5:16; 7:1,5; 10:2,3(2x); 1:18; 12:7; GL 2:16, GL 2:20; 3:3; 4:13, 14, 23; 5:13, 16, 17, 19, 24; 6:8(2x), 12, 13; EF 2:3, EF 2:11, EF 2:14; 5:29, 30, 31; 6:5; CL 1:22, CL 1:24; 2:1, 5, 11, 13, 18, 23; 3:22, 24; 3:34; 1. º Tim. 3:6; Flm. 16; HB 5:7; HB 9:10, HB 9:13; 10:20; 12:9; Tiago 5:3; 1. º Pe. 1:24; 3;18, 21; 4:1, 2, 6; 2. º Pe. 2:10, 18; 1. º JO 2:16; 4:2; 2. º JO 7; Jud. 7, 8, 23; AP 17:16; AP 19:21.


B - TEXTOS COMPROBATÓRIOS


Respiguemos, agora, alguns trechos do N. T., a fim de comprovar nossas conclusões a respeito desta nova teoria.


Comecemos pela distinção que fazemos entre individualidade (ou Espírito) e a personagem transitória humana.


INDIVIDUALIDADE- PERSONAGEM


Encontramos essa distinção explicitamente ensinada por Paulo (l. ª Cor. 15:35-50) que classifica a individualidade entre os "corpos celestiais" (sómata epouránia), isto é, de origem espiritual; e a personagem terrena entre os "corpos terrenos" (sómata epígeia), ou seja, que têm sua origem no próprio planeta Terra, de onde tiram seus elementos constitutivos (físicos e químicos). Logo a seguir, Paulo torna mais claro seu pensamento, denominando a individualidade de "corpo espiritual" (sôma pneumatikón) e a personagem humana de "corpo psíquico" (sôma psychikón). Com absoluta nitidez, afirma que a individualidade é o "Espírito vivificante" (pneuma zoopioún), porque dá vida; e que a personagem, no plano já da energia, é a "alma que vive" (psychê zôsan), pois recebe vida do Espírito que lhe constitui a essência profunda.


Entretanto, para evitar dúvidas ou más interpretações quanto ao sentido ascensional da evolução, assevera taxativamente que o desenvolvimento começa com a personalidade (alma vivente) e só depois que esta se desenvolve, é que pode atingir-se o desabrochar da individualidade (Espírito vivificante).


Temos, pois, bem estabelecida a diferença fundamental, ensinada no N. T., entre psychê (alma) e pneuma (Espírito).


Mas há outros passos em que esses dois elementos são claramente distinguidos:

1) No Cântico de Maria (LC 1:46) sentimos a diferença nas palavras "Minha alma (psychê) engrandece o Senhor e meu Espírito (pneuma) se alegra em Deus meu Salvador".


2) Paulo (Filp. 1:27) recomenda que os cristãos tenham "um só Espírito (pneuma) e uma só alma (psychê), distinção desnecessária, se não expressassem essas palavras coisas diferentes.


3) Ainda Paulo (l. ª Tess. 5:23) faz votos que os fiéis "sejam santificados e guardados no Espírito (pneuma) na alma (psychê) e no corpo (sôma)", deixando bem estabelecida a tríade que assinalamos desde o início.


4) Mais claro ainda é o autor da Carta dos Hebreus (quer seja Paulo Apolo ou Clemente Romano), ao


. utilizar-se de uma expressão sintomática, que diz: "o Logos Divino é Vivo, Eficaz; e mais penetrante que qualquer espada, atingindo até a divisão entre o Espirito (pneuma) e a alma (psychê)" (HB 4:12); aí não há discussão: existe realmente uma divisão entre espírito e alma.


5) Comparando, ainda, a personagem (psiquismo) com a individualidade Paulo afirma que "fala não palavras aprendidas pela sabedoria humana, mas aprendidas do Espírito (divino), comparando as coisas espirituais com as espirituais"; e acrescenta, como esclarecimento e razão: "o homem psíquico (ho ánthrôpos psychikós, isto é, a personagem intelectualizada) não percebe as coisas do Espírito Divino: são tolices para ele, e não pode compreender o que é discernido espiritualmente; mas o homem espiritual (ho ánthrôpos pneumatikós, ou, seja, a individualidade) discerne tudo, embora não seja discernido por ninguém" (1. ª Cor. 2:13-15).


Portanto, não há dúvida de que o N. T. aceita os dois aspectos do "homem": a parte espiritual, a tríade superior ou individualidade (ánthrôpos pneumatikós) e a parte psíquica, o quaternário inferior ou personalidade ou personagem (ánthrôpos psychikós).


O CORPO


Penetremos, agora, numa especificação maior, observando o emprego da palavra soma (corpo), em seu complexo carne-sangue, já que, em vários passos, não só o termo sárx é usado em lugar de soma, como também o adjetivo sarkikós (ou sarkínos) se refere, como parte externa visível, a toda a personagem, ou seja, ao espírito encarnado e preso à matéria; e isto sobretudo naqueles que, por seu atraso, ainda acreditam que seu verdadeiro eu é o complexo físico, já que nem percebem sua essência espiritual.


Paulo, por exemplo, justifica-se de não escrever aos coríntios lições mais sublimes, porque não pode falar-lhes como a "espirituais" (pnenmatikoí, criaturas que, mesmo encarnadas, já vivem na individualidade), mas só como a "carnais" (sarkínoi, que vivem só na personagem). Como a crianças em Cristo (isto é, como a principiantes no processo do conhecimento crístico), dando-lhes leite a beber, não comida, pois ainda não na podem suportar; "e nem agora o posso, acrescenta ele, pois ainda sois carnais" (1. ª Cor. 3:1-2).


Dessa forma, todos os que se encontram na fase em que domina a personagem terrena são descritos por Paulo como não percebendo o Espírito: "os que são segundo a carne, pensam segundo a carne", em oposição aos "que são segundo o espírito, que pensam segundo o espírito". Logo a seguir define a "sabedoria da carne como morte, enquanto a sabedoria do Espírito é Vida e Paz" (Rom, 8:5-6).


Essa distinção também foi afirmada por Jesus, quando disse que "o espírito está pronto (no sentido de" disposto"), mas a carne é fraca" (MT 26:41; MC 14:38). Talvez por isso o autor da Carta aos Hebreus escreveu, ao lembrar-se quiçá desse episódio, que Jesus "nos dias de sua carne (quando encarnado), oferecendo preces e súplicas com grande clamor e lágrimas Àquele que podia livrá-lo da morte, foi ouvido por causa de sua devoção e, não obstante ser Filho de Deus (o mais elevado grau do adeptado, cfr. vol. 1), aprendeu a obediência por meio das coisas que sofreu" (Heb, 5:7-8).


Ora, sendo assim fraca e medrosa a personagem humana, sempre tendente para o mal como expoente típico do Antissistema, Paulo tem o cuidado de avisar que "não devemos submeter-nos aos desejos da carne", pois esta antagoniza o Espírito (isto é constitui seu adversário ou diábolos). Aconselha, então que não se faça o que ela deseja, e conforta os "que são do Espírito", assegurando-lhes que, embora vivam na personalidade, "não estão sob a lei" (GL 5:16-18). A razão é dada em outro passo: "O Senhor é Espírito: onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2. ª Cor. 3:17).


Segundo o autor da Carta aos Hebreus, esta foi uma das finalidades da encarnação de Jesus: livrar a personagem humana do medo da morte. E neste trecho confirma as palavras do Mestre a Nicodemos: "o que nasce de carne é carne" (JO 3:6), esclarecendo, ao mesmo tempo, no campo da psicobiologia, (o problema da hereditariedade: dos pais, os filhos só herdam a carne e o sangue (corpo físico e duplo etérico), já que a psychê é herdeira do pneuma ("o que nasce de espírito, é espírito", João, ibidem). Escreve, então: "como os filhos têm a mesma natureza (kekoinônêken) na carne e no sangue, assim ele (Jesus) participou da carne e do sangue para que, por sua morte, destruísse o adversário (diábolos, a matéria), o qual possui o império da morte, a fim de libertá-las (as criaturas), já que durante toda a vida elas estavam sujeitas ao medo da morte" (HB 2:14).


Ainda no setor da morte, Jesus confirma, mais uma vez, a oposição corpo-alma: "não temais os que matam o corpo: temei o que pode matar a alma (psychê) e o corpo (sôma)" (MT 10:28). Note-se, mais uma vez, a precisão (elegantia) vocabular de Jesus, que não fala em pneuma, que é indestrutível, mas em psychê, ou seja, o corpo astral sujeito a estragos e até morte.


Interessante observar que alguns capítulos adiante, o mesmo evangelista (MT 27:52) usa o termo soma para designar o corpo astral ou perispírito: "e muitos corpos dos santos que dormiam, despertaram".


Refere-se ao choque terrível da desencarnação de Jesus, que foi tão violento no plano astral, que despertou os desencarnados que se encontravam adormecidos e talvez ainda presos aos seus cadáveres, na hibernação dos que desencarnam despreparados. E como era natural, ao despertarem, dirigiram-se para suas casas, tendo sido percebidos pelos videntes.


Há um texto de Paulo que nos deixa em suspenso, sem distinguirmos se ele se refere ao corpo físico (carne) ou ao psíquico (astral): "conheço um homem em Cristo (uma individualidade já cristificada) que há catorze anos - se no corpo (en sômai) não sei, se fora do corpo (ektòs sômatos) não sei: Deus

sabe foi raptado ao terceiro céu" (l. ª Cor. 12:2). É uma confissão de êxtase (ou talvez de "encontro"?), em que o próprio experimentador se declara inapto a distinguir se se tratava de um movimento puramente espiritual (fora do corpo), ou se tivera a participação do corpo psíquico (astral); nem pode verificar se todo o processo se realizou com pneuma e psychê dentro ou fora do corpo.


Entretanto, de uma coisa ele tem certeza absoluta: a parte inferior do homem, a carne e o sangue, esses não participaram do processo. Essa certeza é tão forte, que ele pode ensinar taxativamente e sem titubeios, que o físico denso e o duplo etérico não se unificam com a Centelha Divina, não "entram no reino dos céus", sendo esta uma faculdade apenas de pneuma, e, no máximo, de psychê. E ele o diz com ênfase: "isto eu vos digo, irmãos, que a carne (sárx) e o sangue (haima) NÃO PODEM possuir o reino de Deus" (l. ª Cor. 15:50). Note-se que essa afirmativa é uma negação violenta do "dogma" da ressurreição da carne.


ALMA


Num plano mais elevado, vejamos o que nos diz o N. T. a respeito da psychê e da diánoia, isto é, da alma e do intelecto a esta inerente como um de seus aspectos.


Como a carne é, na realidade dos fatos, incapaz de vontades e desejos, que provêm do intelecto, Paulo afirma que "outrora andávamos nos desejos de nossa carne", esclarecendo, porém, que fazíamos "a vontade da carne (sárx) e do intelecto (diánoia)" (EF 2:3). De fato "o afastamento e a inimizade entre Espírito e corpo surgem por meio do intelecto" (CL 1. 21).


A distinção entre intelecto (faculdade de refletir, existente na personagem) e mente (faculdade inerente ao coração, que cria os pensamentos) pode parecer sutil, mas já era feita na antiguidade, e Jerem ías escreveu que YHWH "dá suas leis ao intelecto (diánoia), mas as escreve no coração" (JR 31:33, citado certo em HB 8:10, e com os termos invertidos em HB 10:16). Aí bem se diversificam as funções: o intelecto recebe a dádiva, refletindo-a do coração, onde ela está gravada.


Realmente a psychê corresponde ao corpo astral, sede das emoções. Embora alguns textos no N. T.


atribuam emoções a kardía, Jesus deixou claro que só a psychê é atingível pelas angústias e aflições, asseverando: "minha alma (psychê) está perturbada" (MT 26:38; MC 14:34; JO 12:27). Jesus não fala em kardía nem em pneuma.


A MENTE


Noús é a MENTE ESPIRITUAL, a individualizadora de pneuma, e parte integrante ou aspecto de kardía. E Paulo, ao salientar a necessidade de revestir-nos do Homem Novo (de passar a viver na individualidade) ordena que "nos renovemos no Espírito de nossa Mente" (EF 4:23-24), e não do intelecto, que é personalista e divisionário.


E ao destacar a luta entre a individualidade e a personagem encarnada, sublinha que "vê outra lei em seus membros (corpo) que se opõem à lei de sua mente (noús), e o aprisiona na lei do erro que existe em seus membros" (RM 7:23).


A mente espiritual, e só ela, pode entender a sabedoria do Cristo; e este não se dirige ao intelecto para obter a compreensão dos discípulos: "e então abriu-lhes a mente (noún) para que compreendessem as Escrituras" (LC 24:45). Até então, durante a viagem (bastante longa) ia conversando com os "discípulos de Emaús". falando-lhes ao intelecto e provando-lhes que o Filho do Homem tinha que sofrer; mas eles não O reconheceram. Mas quando lhes abriu a MENTE, imediatamente eles perceberam o Cristo.


Essa mente é, sem dúvida, um aspecto de kardía. Isaías escreveu: "então (YHWH) cegou-lhes os olhos (intelecto) e endureceu-lhes o coração, para que não vissem (intelectualmente) nem compreendessem com o coração" (IS 6:9; citado por JO 12:40).


O CORAÇÃO


Que o coração é a fonte dos pensamentos, nós o encontramos repetido à exaustão; por exemplo: MT 12:34; MT 15:18, MT 15:19; Marc 7:18; 18:23; LC 6:45; LC 9:47; etc.


Ora, se o termo CORAÇÃO exprime, límpida e indiscutivelmente, a fonte primeira do SER, o "quarto fechado" onde o "Pai vê no secreto" MT 6:6), logicamente se deduz que aí reside a Centelha Divina, a Partícula de pneuma, o CRISTO (Filho Unigênito), que é UNO com o Pai, que também, consequentemente, aí reside. E portanto, aí também está o Espírito-Santo, o Espírito-Amor, DEUS, de que nosso Eu é uma partícula não desprendida.


Razão nos assiste, então, quando escrevemos (vol. 1 e vol. 3) que o "reino de Deus" ou "reino dos céus" ou "o céu", exprime exatamente o CORAÇÃO; e entrar no reino dos céus é penetrar, é MERGULHAR (batismo) no âmago de nosso próprio EU. É ser UM com o CRISTO, tal como o CRISTO é UM com o PAI (cfr. JO 10. 30; 17:21,22, 23).


Sendo esta parte a mais importante para a nossa tese, dividamo-la em três seções:

a) - Deus ou o Espírito Santo habitam DENTRO DE nós;


b) - CRISTO, o Filho (UNO com o Pai) também está DENTRO de nós, constituindo NOSSA ESSÊNCIA PROFUNDA;


c) - o local exato em que se encontra o Cristo é o CORAÇÃO, e nossa meta, durante a encarnação, é CRISTIFICAR-NOS, alcançando a evolução crística e unificando-nos com Ele.


a) -


A expressão "dentro de" pode ser dada em grego pela preposição ENTOS que encontramos clara em LC (LC 17:21), quando afirma que "o reino de Deus está DENTRO DE VÓS" (entòs humin); mas tamb ém a mesma ideia é expressa pela preposição EN (latim in, português em): se a água está na (EM A) garrafa ou no (EM O) copo, é porque está DENTRO desses recipientes. Não pode haver dúvida. Recordese o que escrevemos (vol. 1): "o Logos se fez carne e fez sua residência DENTRO DE NÓS" (JO 1:14).


Paulo é categórico em suas afirmativas: "Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita dentro de vós" (1. ª Cor. 3:16).


Οΰи οίδατε ότι ναός θεοϋ έστε иαί τό πνεϋµα τοϋ θεοϋ έν ϋµϊν οίиεί;

E mais: "E não sabeis que vosso corpo é o templo do Espírito Santo que está dentro de vós, o qual recebestes de Deus, e não pertenceis a vós mesmos? Na verdade, fostes comprados por alto preço. Glorificai e TRAZEI DEUS EM VOSSO CORPO" (1. ª Cor. 6:19-20).


Esse Espírito Santo, que é a Centelha do Espírito Universal, é, por isso mesmo, idêntico em todos: "há muitas operações, mas UM só Deus, que OPERA TUDO DENTRO DE TODAS AS COISAS; ... Todas essas coisas opera o único e mesmo Espírito; ... Então, em UM Espírito todos nós fomos MERGULHADOS en: UMA carne, judeus e gentios, livres ou escravos" (1. ª Cor. 12:6, 11, 13).


Καί διαιρέσεις ένεργηµάτων είσιν, ό δέ αύτός θεός ό ένεργών τα πάντα έν πάσιν... Дάντα δέ ταύτα ένεργεί τό έν иαί τό αύτό πνεύµα... Кαί γάρ έν ένί πνεύµατι ήµείς πάντες είς έν σώµα έβαπτίσθηµεν,
είτε ̉Ιουδαίοι εϊτε έλληνες, είτε δούλοι, εϊτε έλεύθεροι.
Mais ainda: "Então já não sois hóspedes e estrangeiros, mas sois concidadãos dos santos e familiares de Deus, superedificados sobre o fundamento dos Enviados e dos Profetas, sendo a própria pedra angular máxima Cristo Jesus: em Quem toda edificação cresce no templo santo no Senhor, no Qual tamb ém vós estais edificados como HABITAÇÃO DE DEUS NO ESPÍRITO" (EF 2:19-22). " Αρα ούν ούиέτι έστε ζένοι иαί πάροιиοι, άλλά έστε συµπολίται τών άγίων иαί οίиείοι τού θεού,
έποιиοδοµηθέντες έπί τώ θεµελίω τών άποστόλων иαί προφητών, όντος άиρογωνιαίου αύτού Χριστόύ
#cite Іησού, έν ώ πάσα οίиοδοµή συναρµολογουµένη αύζει είς ναόν άγιον έν иυρίώ, έν ώ иαί ύµείς
συνοιиοδοµείσθε είς иατοιиητήεριον τού θεού έν πνεµατ

ι.


Se Deus habita DENTRO do homem e das coisas quem os despreza, despreza a Deus: "quem despreza estas coisas, não despreza homens, mas a Deus, que também deu seu Espírito Santo em vós" (1. ª Tess. 4:8).


Тοιγαρούν ό άθετών ούи άνθρωπον άθετεί, άλλά τόν θεόν τόν иαί διδόντα τό πνεύµα αύτού τό άγιον είς ύµάς.

E a consciência dessa realidade era soberana em Paulo: "Guardei o bom depósito, pelo Espírito Santo que habita DENTRO DE NÓS" (2. ª Tim. 1:14). (20)


Тήν иαλήν παραθήиην φύλαζον διά πνεύµατος άγίου τού ένοιиούντος έν ήµϊ

ν.


João dá seu testemunho: "Ninguém jamais viu Deus. Se nos amarmos reciprocamente, Deus permanecer á DENTRO DE NÓS, e o Amor Dele, dentro de nós, será perfeito (ou completo). Nisto sabemos que permaneceremos Nele e Ele em nós, porque DE SEU ESPÍRITO deu a nós" (1. ª JO 4:12-13).


θεόν ούδείς πώποτε τεθέαται: έάν άγαπώµεν άλλήλους, ό θεός έν ήµϊν µένει, иαί ή άγάπη αύτοϋ τε-
τελειωµένη έν ήµϊν έστιν. Εν τουτω γινώσиοµεν ότι έν αύτώ µένοµεν иαί αύτός έν ήµϊν, ότι έи τοϋ
πνεύµατος αύτοϋ δέδώиεν ήµϊ

ν.


b) -


Vejamos agora os textos que especificam melhor ser o CRISTO (Filho) que, DENTRO DE NÓS. constitui a essência profunda de nosso ser. Não é mais uma indicação de que TEMOS a Divindade em nós, mas um ensino concreto de que SOMOS uma partícula da Divindade. Escreve Paulo: "Não sabeis que CRISTO (Jesus) está DENTRO DE VÓS"? (2. ª Cor. 13:5). E, passando àquela teoria belíssima de que formamos todos um corpo só, cuja cabeça é Cristo, ensina Paulo: "Vós sois o CORPO de Cristo, e membros de seus membros" (l. ª Cor. 12:27). Esse mesmo Cristo precisa manifestar-se em nós, através de nós: "vossa vida está escondida COM CRISTO em Deus; quando Cristo se manifestar, vós também vos manifestareis em substância" (CL 3:3-4).


E logo adiante insiste: "Despojai-vos do velho homem com seus atos (das personagens terrenas com seus divisionismos egoístas) e vesti o novo, aquele que se renova no conhecimento, segundo a imagem de Quem o criou, onde (na individualidade) não há gentio nem judeu, circuncidado ou incircunciso, bárbaro ou cita, escravo ou livre, mas TUDO e EM TODOS, CRISTO" (CL 3:9-11).


A personagem é mortal, vivendo a alma por efeito do Espírito vivificante que nela existe: "Como em Adão (personagem) todos morrem, assim em CRISTO (individualidade, Espírito vivificante) todos são vivificados" (1. ª Cor. 15:22).


A consciência de que Cristo vive nele, faz Paulo traçar linhas imorredouras: "ou procurais uma prova do CRISTO que fala DENTRO DE MIM? o qual (Cristo) DENTRO DE VÓS não é fraco" mas é poderoso DENTRO DE VÓS" (2. ª Cor. 13:3).


E afirma com a ênfase da certeza plena: "já não sou eu (a personagem de Paulo), mas CRISTO QUE VIVE EM MIM" (GL 2:20). Por isso, pode garantir: "Nós temos a mente (noús) de Cristo" (l. ª Cor. 2:16).


Essa convicção traz consequências fortíssimas para quem já vive na individualidade: "não sabeis que vossos CORPOS são membros de Cristo? Tomando, então, os membros de Cristo eu os tornarei corpo de meretriz? Absolutamente. Ou não sabeis que quem adere à meretriz se torna UM CORPO com ela? Está dito: "e serão dois numa carne". Então - conclui Paulo com uma lógica irretorquível - quem adere a Deus é UM ESPÍRITO" com Deus (1. ª Cor. 6:15-17).


Já desde Paulo a união sexual é trazida como o melhor exemplo da unificação do Espírito com a Divindade. Decorrência natural de tudo isso é a instrução dada aos romanos: "vós não estais (não viveis) EM CARNE (na personagem), mas EM ESPÍRITO (na individualidade), se o Espírito de Deus habita DENTRO DE VÓS; se porém não tendes o Espírito de Cristo, não sois Dele. Se CRISTO (está) DENTRO DE VÓS, na verdade o corpo é morte por causa dos erros, mas o Espírito vive pela perfeição. Se o Espírito de Quem despertou Jesus dos mortos HABITA DENTRO DE VÓS, esse, que despertou Jesus dos mortos, vivificará também vossos corpos mortais, por causa do mesmo Espírito EM VÓS" (RM 9:9-11). E logo a seguir prossegue: "O próprio Espírito testifica ao nosso Espírito que somos filhos de Deus; se filhos, (somos) herdeiros: herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo" (RM 8:16). Provém daí a angústia de todos os que atingiram o Eu Interno para libertar-se: "também tendo em nós as primícias do Espírito, gememos dentro de nós, esperando a adoção de Filhos, a libertação de nosso corpo" (RM 8:23).


c) -


Finalmente, estreitando o círculo dos esclarecimentos, verificamos que o Cristo, dentro de nós, reside NO CORAÇÃO, onde constitui nosso EU Profundo. É ensinamento escriturístico.


Ainda é Paulo que nos esclarece: "Porque sois filhos, Deus enviou o ESPÍRITO DE SEU FILHO, em vosso CORAÇÃO, clamando Abba, ó Pai" (GL 4:6). Compreendemos, então, que o Espírito Santo (Deus) que está em nós, refere-se exatamente ao Espírito do FILHO, ao CRISTO Cósmico, o Filho Unigênito. E ficamos sabendo que seu ponto de fixação em nós é o CORAÇÃO.


Lembrando-se, talvez, da frase de Jeremias, acima-citada, Paulo escreveu aos coríntios: "vós sois a nossa carta, escrita em vossos CORAÇÕES, conhecida e lida por todos os homens, sendo manifesto que sois CARTA DE CRISTO, preparada por nós, e escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus Vivo; não em tábuas de pedra, mas nas tábuas dos CORAÇÕES CARNAIS" (2. ª Cor. 3:2-3). Bastante explícito que realmente se trata dos corações carnais, onde reside o átomo espiritual.


Todavia, ainda mais claro é outro texto, em que se fala no mergulho de nosso eu pequeno, unificandonos ao Grande EU, o CRISTO INTERNO residente no coração: "CRISTO HABITA, pela fé, no VOSSO CORAÇÃO". E assegura com firmeza: "enraizados e fundamentados no AMOR, com todos os santos (os encarnados já espiritualizados na vivência da individualidade) se compreenderá a latitude, a longitude a sublimidade e a profundidade, conhecendo o que está acima do conhecimento, o AMOR DE CRISTO, para que se encham de toda a plenitude de Deus" (EF 3:17).


Кατοιиήσαι τόν Χριστόν διά τής πίστεως έν ταϊς иαρδίαις ύµών, έν άγάπη έρριζωµένοι иαί τεθεµελιωµένοι, ϊνα έζισγύσητε иαταλαβέσθαι σύν πάσιν τοϊςάγίοιςτί τό πλάτος иαί µήиος иαί ύψος
иαί βάθος, γνώσαι τε τήν ύπερβάλλουσαν τής γνώσεως άγάπην τοϋ Χριστοϋ, ίνα πληρωθήτε είς πάν τό πλήρωµα τού θεοϋ.

Quando se dá a unificação, o Espírito se infinitiza e penetra a Sabedoria Cósmica, compreendendo então a amplitude da localização universal do Cristo.


Mas encontramos outro ensino de suma profundidade, quando Paulo nos adverte que temos que CRISTIFICAR-NOS, temos que tornar-nos Cristos, na unificação com Cristo. Para isso, teremos que fazer uma tradução lógica e sensata da frase, em que aparece o verbo CHRIO duas vezes: a primeira, no particípio passado, Christós, o "Ungido", o "permeado da Divindade", particípio que foi transliterado em todas as línguas, com o sentido filosófico e místico de O CRISTO; e a segunda, logo a seguir, no presente do indicativo. Ora, parece de toda evidência que o sentido do verbo tem que ser O MESMO em ambos os empregos. Diz o texto original: ho dè bebaiôn hemãs syn humin eis Christon kaí chrísas hemãs theós (2. ª Cor. 1:21).


#cite Ο δέ βεβαιών ήµάς σύν ύµίν είς Χριστόν иαί χρίσας ήµάς θεό

ς.


Eis a tradução literal: "Deus, fortifica dor nosso e vosso, no Ungido, unge-nos".


E agora a tradução real: "Deus, fortificador nosso e vosso, em CRISTO, CRISTIFICA-NOS".


Essa a chave para compreendermos nossa meta: a cristificação total e absoluta.


Logo após escreve Paulo: "Ele também nos MARCA e nos dá, como penhor, o Espírito em NOSSOS CORAÇÕES" (2. ª Cor. 1:22).


#cite Ο иαί σφραγισάµενος ήµάς иαί δούς τόν άρραβώνα τόν πνεύµατος έν ταϊς иαρδϊαις ήµώ

ν.


Completando, enfim, o ensino - embora ministrado esparsamente - vem o texto mais forte e explícito, informando a finalidade da encarnação, para TÔDAS AS CRIATURAS: "até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, ao Homem Perfeito, à medida da evolução plena de Cristo" (EF 4:13).


Мέρχι иαταντήσωµεν οί πάντες είς τήν ένότητα τής πίστοως. иαί τής έπιγνώσεως τοϋ υίοϋ τοϋ θεοϋ,
είς άνδρα τελειον, είς µέτρον ήλιиίας τοϋ πληρώµατος τοϋ Χριστοϋ.
Por isso Paulo escreveu aos Gálatas: "ó filhinhos, por quem outra vez sofro as dores de parto, até que Cristo SE FORME dentro de vós" (GL 4:19) (Тεиνία µου, ούς πάλιν ώδίνω, µέρχις ού µορφωθή Χριστός έν ύµϊ

ν).


Agostinho (Tract. in Joanne, 21, 8) compreendeu bem isto ao escrever: "agradeçamos e alegremonos, porque nos tornamos não apenas cristãos, mas cristos", (Christus facti sumus); e Metódio de Olimpo ("Banquete das dez virgens", Patrol. Graeca, vol. 18, col. 150) escreveu: "a ekklêsía está grávida e em trabalho de parto até que o Cristo tome forma em nós, até que Cristo nasça em nós, a fim de que cada um dos santos (encarnados) por sua participação com o Cristo, se torne Cristo". Também Cirilo de Jerusalém ("Catechesis mystagogicae" 1. 3. 1 in Patr. Graeca vol. 33, col. 1. 087) asseverou: " Após terdes mergulhado no Cristo e vos terdes revestido do Cristo, fostes colocados em pé de igualdade com o Filho de Deus... pois que entrastes em comunhão com o Cristo, com razão tendes o nome de cristos, isto é, de ungidos".


Todo o que se une ao Cristo, se torna um cristo, participando do Pneuma e da natureza divina (theías koinônoí physeôs) (2. ª Pe. 1:3), pois "Cristo é o Espírito" (2. ª Cor. 3:17) e quem Lhe está unido, tem em si o selo (sphrágis) de Cristo. Na homilia 24,2, sobre 1. ª Cor. 10:16, João Crisóstomo (Patrol.


Graeca vol. 61, col. 200) escreveu: "O pão que partimos não é uma comunhão (com+união, koinônía) ao corpo de Cristo? Porque não disse "participação" (metoché)? Porque quis revelar algo mais, e mostrar uma associação (synápheia) mais íntima. Realmente, estamos unidos (koinônoúmen) não só pela participação (metéchein) e pela recepção (metalambánein), mas também pela UNIFICAÇÃO (enousthai)".


Por isso justifica-se o fragmento de Aristóteles, supra citado, em Sinésio: "os místicos devem não apenas aprender (mathein) mas experimentar" (pathein).


Essa é a razão por que, desde os primeiros séculos do estabelecimento do povo israelita, YHWH, em sua sabedoria, fazia a distinção dos diversos "corpos" da criatura; e no primeiro mandamento revelado a Moisés dizia: " Amarás a Deus de todo o teu coração (kardía), de toda tua alma (psychê), de todo teu intelecto (diánoia), de todas as tuas forças (dynameis)"; kardía é a individualidade, psychê a personagem, dividida em diánoia (intelecto) e dynameis (veículos físicos). (Cfr. LV 19:18; DT 6:5; MT 22:37; MC 12:13; LC 10:27).


A doutrina é uma só em todos os sistemas religiosos pregados pelos Mestres (Enviados e Profetas), embora com o tempo a imperfeição humana os deturpe, pois a personagem é fundamentalmente divisionista e egoísta. Mas sempre chega a ocasião em que a Verdade se restabelece, e então verificamos que todas as revelações são idênticas entre si, em seu conteúdo básico.


ESCOLA INICIÁTICA


Após essa longa digressão a respeito do estudo do "homem" no Novo Testamento, somos ainda obrigados a aprofundar mais o sentido do trecho em que são estipuladas as condições do discipulato.


Há muito desejaríamos ter penetrado neste setor, a fim de poder dar explicação cabal de certas frases e passagens; mas evitamo-lo ao máximo, para não ferir convicções de leitores desacostumados ao assunto.


Diante desse trecho, porém, somos forçados a romper os tabus e a falar abertamente.


Deve ter chamado a atenção de todos os estudiosos perspicazes dos Evangelhos, que Jesus jamais recebeu, dos evangelistas, qualquer título que normalmente seria atribuído a um fundador de religião: Chefe Espiritual, Sacerdote, Guia Espiritual, Pontífice; assim também, aqueles que O seguiam, nunca foram chamados Sequazes, Adeptos, Adoradores, Filiados, nem Fiéis (a não ser nas Epístolas, mas sempre com o sentido de adjetivo: os que mantinham fidelidade a Seus ensinos). Ao contrário disso, os epítetos dados a Jesus foram os de um chefe de escola: MESTRE (Rabbi, Didáskalos, Epistátês) ou de uma autoridade máxima Kyrios (SENHOR dos mistérios). Seus seguidores eram DISCÍPULOS (mathêtês), tudo de acordo com a terminologia típica dos mistérios iniciáticos de Elêusis, Delfos, Crotona, Tebas ou Heliópolis. Após receberem os primeiros graus, os discípulos passaram a ser denominado "emissários" (apóstolos), encarregados de dar a outros as primeiras iniciações.


Além disso, é evidente a preocupação de Jesus de dividir Seus ensinos em dois graus bem distintos: o que era ministrado de público ("a eles só é dado falar em parábolas") e o que era ensinado privadamente aos "escolhidos" ("mas a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus", cfr. MT 13:10-17 ; MC 4:11-12; LC 8:10).


Verificamos, portanto, que Jesus não criou uma "religião", no sentido moderno dessa palavra (conjunto de ritos, dogmas e cultos com sacerdócio hierarquicamente organizado), mas apenas fundou uma ESCOLA INICIÁTICA, na qual preparou e "iniciou" seus DISCÍPULOS, que Ele enviou ("emissários, apóstolos") com a incumbência de "iniciar" outras criaturas. Estas, por sua vez, foram continuando o processo e quando o mundo abriu os olhos e percebeu, estava em grande parte cristianizado. Quando os "homens" o perceberam e estabeleceram a hierarquia e os dogmas, começou a decadência.


A "Escola iniciática" fundada por Jesus foi modelada pela tradição helênica, que colocava como elemento primordial a transmissão viva dos mistérios: e "essa relação entre a parádosis (transmissão) e o mystérion é essencial ao cristianismo", escreveu o monge beneditino D. Odon CaseI (cfr. "Richesse du Mystere du Christ", Les éditions du Cerf. Paris, 1964, pág. 294). Esse autor chega mesmo a afirmar: " O cristianismo não é uma religião nem uma confissão, segundo a acepção moderna dessas palavras" (cfr. "Le Mystere du Culte", ib., pág. 21).


E J. Ranft ("Der Ursprung des Kathoíischen Traditionsprinzips", 1931, citado por D . O. Casel) escreve: " esse contato íntimo (com Cristo) nasce de uma gnose profunda".


Para bem compreender tudo isso, é indispensável uma incursão pelo campo das iniciações, esclarecendo antes alguns termos especializados. Infelizmente teremos que resumir ao máximo, para não prejudicar o andamento da obra. Mas muitos compreenderão.


TERMOS ESPECIAIS


Aiôn (ou eon) - era, época, idade; ou melhor CICLO; cada um dos ciclos evolutivos.


Akoueíu - "ouvir"; akoueín tòn lógon, ouvir o ensino, isto é, receber a revelação dos segredos iniciáticos.


Gnôse - conhecimento espiritual profundo e experimental dos mistérios.


Deíknymi - mostrar; era a explicação prática ou demonstração de objetos ou expressões, que serviam de símbolos, e revelavam significados ocultos.


Dóxa - doutrina; ou melhor, a essência do conhecimento profundo: o brilho; a luz da gnôse; donde "substância divina", e daí a "glória".


Dynamis - força potencial, potência que capacita para o érgon e para a exousía, infundindo o impulso básico de atividade.


Ekklêsía - a comunidade dos "convocados" ou "chamados" (ékklêtos) aos mistérios, os "mystos" que tinham feito ou estavam fazendo o curso da iniciação.


Energeín - agir por dentro ou de dentro (energia), pela atuação da força (dybamis).


Érgon - atividade ou ação; trabalho espiritual realizado pela força (dynamis) da Divindade que habita dentro de cada um e de cada coisa; energia.


Exêgeísthaí - narrar fatos ocultos, revelar (no sentido de "tirar o véu") (cfr. LC 24:35; JO 1:18; AT 10:8:15:12, 14).


Hágios - santo, o que vive no Espírito ou Individualidade; o iniciado (cfr. teleios).


Kyrios - Senhor; o Mestre dos Mistérios; o Mistagogo (professor de mistérios); o Hierofante (o que fala, fans, fantis, coisas santas, hieros); dava-se esse título ao possuidor da dynamis, da exousía e do érgon, com capacidade para transmiti-los.


Exousía - poder, capacidade de realização, ou melhor, autoridade, mas a que provém de dentro, não "dada" de fora.


Leitourgia - Liturgia, serviço do povo: o exercício do culto crístico, na transmissão dos mistérios.


Legómena - palavras reveladoras, ensino oral proferido pelo Mestre, e que se tornava "ensino ouvido" (lógos akoês) pelos discípulos.


Lógos - o "ensino" iniciático, a "palavra" secreta, que dava a chave da interpretação dos mistérios; a" Palavra" (Energia ou Som), segundo aspecto da Divindade.


Monymenta - "monumentos", ou seja, objetos e lembranças, para manter viva a memória.


Mystagogo – o Mestre dos Mystérios, o Hierofante.


Mystérion - a ação ou atividade divina, experimentada pelo iniciado ao receber a iniciação; donde, o ensino revelado apenas aos perfeitos (teleios) e santos (hágios), mas que devia permanecer oculto aos profanos.


Oikonomía - economia, dispensação; literalmente "lei da casa"; a vida intima de cada iniciado e sua capacidade na transmissão iniciática a outros, (de modo geral encargo recebido do Mestre).


Orgê - a atividade ou ação sagrada; o "orgasmo" experimentado na união mística: donde "exaltação espiritual" pela manifestação da Divindade (erradamente interpretado como "ira").


Parábola - ensino profundo sob forma de narrativa popular, com o verdadeiro sentido oculto por metáforas e símbolos.


Paradídômi - o mesmo que o latim trádere; transmitir, "entregar", passar adiante o ensino secreto.


Parádosis - transmissão, entrega de conhecimentos e experiências dos ensinos ocultos (o mesmo que o latim tradítio).


Paralambánein - "receber" o ensino secreto, a "palavra ouvida", tornando-se conhecedor dos mistérios e das instruções.


Patheín - experimentar, "sofrer" uma experiência iniciática pessoalmente, dando o passo decisivo para receber o grau e passar adiante.


Plêrôma - plenitude da Divindade na criatura, plenitude de Vida, de conhecimento, etc.


Redençãoa libertação do ciclo de encarnações na matéria (kyklos anánkê) pela união total e definitiva com Deus.


Santo - o mesmo que perfeito ou "iniciado".


Sêmeíon - "sinal" físico de uma ação espiritual, demonstração de conhecimento (gnose), de força (dynamis), de poder (exousía) e de atividade ou ação (érgon); o "sinal" é sempre produzido por um iniciado, e serve de prova de seu grau.


Sophía - a sabedoria obtida pela gnose; o conhecimento proveniente de dentro, das experiências vividas (que não deve confundir-se com a cultura ou erudição do intelecto).


Sphrágis - selo, marca indelével espiritual, recebida pelo espírito, embora invisível na matéria, que assinala a criatura como pertencente a um Senhor ou Mestre.


Symbolos - símbolos ou expressões de coisas secretas, incompreensíveis aos profanos e só percebidas pelos iniciados (pão, vinho, etc.) .


Sótería - "salvação", isto é, a unificação total e definitiva com a Divindade, que se obtém pela "redenção" plena.


Teleíos - o "finalista", o que chegou ao fim de um ciclo, iniciando outro; o iniciado nos mistérios, o perfeito ou santo.


Teleisthai - ser iniciado; palavra do mesmo radical que teleutan, que significa "morrer", e que exprime" finalizar" alguma coisa, terminar um ciclo evolutivo.


Tradítio - transmissão "tradição" no sentido etimológico (trans + dare, dar além passar adiante), o mesmo que o grego parádosis.


TRADIÇÃO


D. Odon Casel (o. c., pág. 289) escreve: "Ranft estudou de modo preciso a noção da tradítio, não só como era praticada entre os judeus, mas também em sua forma bem diferente entre os gregos. Especialmente entre os adeptos dos dosis é a transmissão secreta feita aos "mvstos" da misteriosa sôtería; é a inimistérios, a noção de tradítio (parádosis) tinha grande importância. A paraciação e a incorporação no círculo dos eleitos (eleitos ou "escolhidos"; a cada passo sentimos a confirmação de que Jesus fundou uma "Escola Iniciática", quando emprega os termos privativos das iniciações heléntcas; cfr. " muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos" - MT 22. 14), características das religiões grecoorientais. Tradítio ou parádosis são, pois, palavras que exprimem a iniciação aos mistérios. Tratase, portanto, não de uma iniciação científica, mas religiosa, realizada no culto. Para o "mysto", constitui uma revelação formal, a segurança vivida das realidades sagradas e de uma santa esperança. Graças a tradição, a revelação primitiva passa às gerações ulteriores e é comunicada por ato de iniciação. O mesmo princípio fundamental aplica-se ao cristianismo".


Na página seguinte, o mesmo autor prossegue: "Nos mistérios, quando o Pai Mistagogo comunica ao discípulo o que é necessário ao culto, essa transmissão tem o nome de traditio. E o essencial não é a instrução, mas a contemplação, tal como o conta Apuleio (Metamorphoses, 11, 21-23) ao narrar as experiências culturais do "mysto" Lúcius. Sem dúvida, no início há uma instrução, mas sempre para finalizar numa contemplação, pela qual o discípulo, o "mysto", entra em relação direta com a Divindade.


O mesmo ocorre no cristianismo (pág. 290).


Ouçamos agora as palavras de J. Ranft (o. c., pág. 275): "A parádosis designa a origem divina dos mistérios e a transmissão do conteúdo dos mistérios. Esta, à primeira vista, realiza-se pelo ministério dos homens, mas não é obra de homens; é Deus que ensina. O homem é apenas o intermediário, o Instrumento desse ensino divino. Além disso... desperta o homem interior. Logos é realmente uma palavra intraduzível: designa o próprio conteúdo dos mistérios, a palavra, o discurso, o ENSINO. É a palavra viva, dada por Deus, que enche o âmago do homem".


No Evangelho, a parádosis é constituída pelas palavras ou ensinos (lógoi) de Jesus, mas também simbolicamente pelos fatos narrados, que necessitam de interpretação, que inicialmente era dada, verbalmente, pelos "emissários" e pelos inspirados que os escreveram, com um talento superior de muito ao humano, deixando todos os ensinos profundos "velados", para só serem perfeitamente entendidos pelos que tivessem recebido, nos séculos seguintes, a revelação do sentido oculto, transmitida quer por um iniciado encarnado, quer diretamente manifestada pelo Cristo Interno. Os escritores que conceberam a parádosis no sentido helênico foram, sobretudo, João e Paulo; já os sinópticos a interpretam mais no sentido judaico, excetuando-se, por vezes, o grego Lucas, por sua convivência com Paulo, e os outros, quando reproduziam fielmente as palavras de Jesus.


Se recordarmos os mistérios de Elêusis (palavra que significa "advento, chegada", do verbo eléusomai," chegar"), ou de Delfos (e até mesmo os de Tebas, Ábydos ou Heliópolis), veremos que o Novo Testamento concorda seus termos com os deles. O logos transmitido (paradidômi) por Jesus é recebida (paralambánein) pelos DISCÍPULOS (mathêtês). Só que Jesus apresentou um elemento básico a mais: CRISTO. Leia-se Paulo: "recebi (parélabon) do Kyrios o que vos transmiti (parédote)" (l. ª Cor. 11:23).


O mesmo Paulo, que define a parádosis pagã como "de homens, segundo os elementos do mundo e não segundo Cristo" (CL 2:8), utiliza todas as palavras da iniciação pagã, aplicando-as à iniciação cristã: parádosis, sophía, logo", mystérion, dynamis, érgon, gnose, etc., termos que foram empregados também pelo próprio Jesus: "Nessa hora Jesus fremiu no santo pneuma e disse: abençôo-te, Pai, Senhor do céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e hábeis, e as revelaste aos pequenos, Sim, Pai, assim foi de teu agrado. Tudo me foi transmitido (parédote) por meu Pai. E ninguém tem a gnose do que é o Filho senão o Pai, e ninguém tem a gnose do que é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho quer revelar (apokalypsai = tirar o véu). E voltando-se para seus discípulos, disse: felizes os olhos que vêem o que vedes. Pois digo-vos que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não viram, e ouvir o que ouvis, e não ouviram" (LC 10:21-24). Temos a impressão perfeita que se trata de ver e ouvir os mistérios iniciáticos que Jesus transmitia a seus discípulos.


E João afirma: "ninguém jamais viu Deus. O Filho Unigênito que esta no Pai, esse o revelou (exêgêsato, termo específico da língua dos mistérios)" (JO 1:18).


"PALAVRA OUVIDA"


A transmissão dos conhecimentos, da gnose, compreendia a instrução oral e o testemunhar das revelações secretas da Divindade, fazendo que o iniciado participasse de uma vida nova, em nível superior ( "homem novo" de Paulo), conhecendo doutrinas que deveriam ser fielmente guardadas, com a rigorosa observação do silêncio em relação aos não-iniciados (cfr. "não deis as coisas santas aos cães", MT 7:6).


Daí ser a iniciação uma transmissão ORAL - o LOGOS AKOÊS, ou "palavra ouvida" ou "ensino ouvido" - que não podia ser escrito, a não ser sob o véu espesso de metáforas, enigmas, parábolas e símbolos.


Esse logos não deve ser confundido com o Segundo Aspecto da Divindade (veja vol. 1 e vol. 3).


Aqui logos é "o ensino" (vol. 2 e vol. 3).


O Novo Testamento faz-nos conhecer esse modus operandi: Paulo o diz, numa construção toda especial e retorcida (para não falsear a técnica): "eis por que não cessamos de agradecer (eucharistoúmen) a Deus, porque, recebendo (paralabóntes) o ENSINO OUVIDO (lógon akoês) por nosso intermédio, de Deus, vós o recebestes não como ensino de homens (lógon anthrópôn) mas como ele é verdadeiramente: o ensino de Deus (lógon theou), que age (energeítai) em vós que credes" (l. ª Tess. 2:13).


O papel do "mysto" é ouvir, receber pelo ouvido, o ensino (lógos) e depois experimentar, como o diz Aristóteles, já citado por nós: "não apenas aprender (matheín), mas experimentar" (patheín).


Esse trecho mostra como o método cristão, do verdadeiro e primitivo cristianismo de Jesus e de seus emissários, tinha profunda conexão com os mistérios gregos, de cujos termos específicos e característicos Jesus e seus discípulos se aproveitaram, elevando, porém, a técnica da iniciação à perfeição, à plenitude, à realidade máxima do Cristo Cósmico.


Mas continuemos a expor. Usando, como Jesus, a terminologia típica da parádosis grega, Paulo insiste em que temos que assimilá-la interiormente pela gnose, recebendo a parádosis viva, "não mais de um Jesus de Nazaré histórico, mas do Kyrios, do Cristo ressuscitado, o Cristo Pneumatikós, esse mistério que é o Cristo dentro de vós" (CL 1:27).


Esse ensino oral (lógos akoês) constitui a tradição (traditio ou parádosis), que passa de um iniciado a outro ou é recebido diretamente do "Senhor" (Kyrios), como no caso de Paulo (cfr. GL 1:11): "Eu volo afirmo, meus irmãos, que a Boa-Nova que preguei não foi à maneira humana. Pois não na recebi (parélabon) nem a aprendi de homens, mas por uma revelação (apokálypsis) de Jesus Cristo".


Aos coríntios (l. ª Cor. 2:1-5) escreve Paulo: "Irmãos, quando fui a vós, não fui com o prestígio do lógos nem da sophía, mas vos anunciei o mistério de Deus. Decidi, com efeito, nada saber entre vós sen ão Jesus Cristo, e este crucificado. Fui a vós em fraqueza, em temor, e todo trêmulo, e meu logos e minha pregação não consistiram nos discursos persuasivos da ciência, mas numa manifestação do Esp írito (pneuma) e do poder (dynamis), para que vossa fé não repouse na sabedoria (sophía) dos homens, mas no poder (dynamis) de Deus".


A oposição entre o logos e a sophia profanos - como a entende Aristóteles - era salientada por Paulo, que se referia ao sentido dado a esses termos pelos "mistérios antigos". Salienta que à sophia e ao logos profanos, falta, no dizer dele, a verdadeira dynamis e o pnenma, que constituem o mistério cristão que ele revela: Cristo.


Em vários pontos do Novo Testamento aparece a expressão "ensino ouvido" ou "ouvir o ensino"; por exemplo: MT 7:24, MT 7:26; 10:14; 13:19, 20, 21, 22, 23; 15:12; 19:22; MC 4:14, MC 4:15, MC 4:16, MC 4:17, 18, 19, 20; LC 6:47; LC 8:11, LC 8:12, LC 8:13, LC 8:15; 10:39; 11:28; JO 5:24, JO 5:38; 7:40; 8:43; 14:24; AT 4:4; AT 10:44; AT 13:7; AT 15:7; EF 1:13; 1. ª Tess. 2:13; HB 4:2; 1. ª JO 2:7; Ap. 1:3.


DYNAMIS


Em Paulo, sobretudo, percebemos o sentido exato da palavra dynamis, tão usada nos Evangelhos.


Pneuma, o Espírito (DEUS), é a força Potencial ou Potência Infinita (Dynamis) que, quando age (energeín) se torna o PAI (érgon), a atividade, a ação, a "energia"; e o resultado dessa atividade é o Cristo Cósmico, o Kosmos universal, o Filho, que é Unigênito porque a emissão é única, já que espaço e tempo são criações intelectuais do ser finito: o Infinito é uno, inespacial, atemporal.


Então Dynamis é a essência de Deus o Absoluto, a Força, a Potência Infinita, que tudo permeia, cria e governa, desde os universos incomensuráveis até os sub-átomos infra-microscópicos. Numa palavra: Dynamis é a essência de Deus e, portanto, a essência de tudo.


Ora, o Filho é exatamente o PERMEAADO, ou o UNGIDO (Cristo), por essa Dynamis de Deus e pelo Érgon do Pai. Paulo já o dissera: "Cristo... é a dynamis de Deus e a sophía de Deus (Christòn theou dynamin kaí theou sophían, 1. ª Cor. 1:24). Então, manifesta-se em toda a sua plenitude (cfr. CL 2:9) no homem Jesus, a Dynamis do Pneuma (embora pneuma e dynamis exprimam realmente uma só coisa: Deus): essa dynamis do pneuma, atuando através do Pai (érgon) toma o nome de CRISTO, que se manifestou na pessoa Jesus, para introduzir a humanidade deste planeta no novo eon, já que "ele é a imagem (eikôn) do Deus invisível e o primogênito de toda criação" (CL 1:15).


EON


O novo eon foi inaugurado exatamente pelo Cristo, quando de Sua penetração plena em Jesus. Daí a oposição que tanto aparece no Novo Testamento Entre este eon e o eon futuro (cfr., i. a., MT 12:32;


MC 10:30; LC 16:8; LC 20:34; RM 12:2; 1. ª Cor. 1:20; 2:6-8; 3:18:2. ª Cor. 4:4; EF 2:2-7, etc.) . O eon "atual" e a vida da matéria (personalismo); O eon "vindouro" é a vida do Espírito ó individualidade), mas que começa na Terra, agora (não depois de desencarnados), e que reside no âmago do ser.


Por isso, afirmou Jesus que "o reino dos céus está DENTRO DE VÓS" (LC 17:21), já que reside NO ESPÍRITO. E por isso, zôê aiónios é a VIDA IMANENTE (vol, 2 e vol. 3), porque é a vida ESPIRITUAL, a vida do NOVO EON, que Jesus anunciou que viria no futuro (mas, entenda-se, não no futuro depois da morte, e sim no futuro enquanto encarnados). Nesse novo eon a vida seria a da individualidade, a do Espírito: "o meu reino não é deste mundo" (o físico), lemos em JO 18:36. Mas é NESTE mundo que se manifestará, quando o Espírito superar a matéria, quando a individualidade governar a personagem, quando a mente dirigir o intelecto, quando o DE DENTRO dominar o DE FORA, quando Cristo em nós tiver a supremacia sobre o eu transitório.


A criatura que penetra nesse novo eon recebe o selo (sphrágis) do Cristo do Espírito, selo indelével que o condiciona como ingresso no reino dos céus. Quando fala em eon, o Evangelho quer exprimir um CICLO EVOLUTIVO; na evolução da humanidade, em linhas gerais, podemos considerar o eon do animalismo, o eon da personalidade, o eon da individualidade, etc. O mais elevado eon que conhecemos, o da zôê aiónios (vida imanente) é o da vida espiritual plenamente unificada com Deus (pneuma-dynamis), com o Pai (lógos-érgon), e com o Filho (Cristo-kósmos).


DÓXA


Assim como dynamis é a essência de Deus, assim dóxa (geralmente traduzida por "glória") pode apresentar os sentidos que vimos (vol. 1). Mas observaremos que, na linguagem iniciática dos mistérios, além do sentido de "doutrina" ou de "essência da doutrina", pode assumir o sentido específico de" substância divina". Observe-se esse trecho de Paulo (Filp. 2:11): "Jesus Cristo é o Senhor (Kyrios) na substância (dóxa) de Deus Pai"; e mais (RM 6:4): "o Cristo foi despertado dentre os mortos pela substância (dóxa) do Pai" (isto é, pelo érgon, a energia do Som, a vibração sonora da Palavra).


Nesses passos, traduzir dóxa por glória é ilógico, não faz sentido; também "doutrina" aí não cabe. O sentido é mesmo o de "substância".


Vejamos mais este passo (l. ª Cor. 2:6-16): "Falamos, sim da sabedoria (sophia) entre os perfeitos (teleiois, isto é, iniciados), mas de uma sabedoria que não é deste eon, nem dos príncipes deste eon, que são reduzidos a nada: mas da sabedoria dos mistérios de Deus, que estava oculta, e que antes dos eons Deus destinara como nossa doutrina (dóxa), e que os príncipes deste mundo não reconheceram. De fato, se o tivessem reconhecido, não teriam crucificado o Senhor da Doutrina (Kyrios da dóxa, isto é, o Hierofante ou Mistagogo). Mas como está escrito, (anunciamos) o que o olho não viu e o ouvido não ouviu e o que não subiu sobre o coração do homem, mas o que Deus preparou para os que O amam.


Pois foi a nós que Deus revelou (apekalypsen = tirou o véu) pelo pneuma" (ou seja, pelo Espírito, pelo Cristo Interno).


MISTÉRIO


Mistério é uma palavra que modificou totalmente seu sentido através dos séculos, mesmo dentro de seu próprio campo, o religioso. Chamam hoje "mistério" aquilo que é impossível de compreender, ou o que se ignora irremissivelmente, por ser inacessível à inteligência humana.


Mas originariamente, o mistério apresentava dois sentidos básicos:

1. º - um ensinamento só revelado aos iniciados, e que permanecia secreto para os profanos que não podiam sabê-lo (daí proveio o sentido atual: o que não se pode saber; na antiguidade, não se podia por proibição moral, ao passo que hoje é por incapacidade intelectual);


2. º - a própria ação ou atividade divina, experimentada pelo iniciado ao receber a iniciação completa.


Quando falamos em "mistério", transliterando a palavra usada no Novo Testamento, arriscamo-nos a interpretar mal. Aí, mistério não tem o sentido atual, de "coisa ignorada por incapacidade intelectiva", mas é sempre a "ação divina revelada experimentalmente ao homem" (embora continue inacessível ao não-iniciado ou profano).


O mistério não é uma doutrina: exprime o caráter de revelação direta de Deus a seus buscadores; é uma gnose dos mistérios, que se comunica ao "mysto" (aprendiz de mística). O Hierofante conduz o homem à Divindade (mas apenas o conduz, nada podendo fazer em seu lugar). E se o aprendiz corresponde plenamente e atende a todas as exigências, a Divindade "age" (energeín) internamente, no "Esp írito" (pneuma) do homem. que então desperta (egereín), isto é, "ressurge" para a nova vida (cfr. "eu sou a ressurreição da vida", JO 11:25; e "os que produzirem coisas boas (sairão) para a restauração de vida", isto é, os que conseguirem atingir o ponto desejado serão despertados para a vida do espírito, JO 5-29).


O caminho que leva a esses passos, é o sofrimento, que prepara o homem para uma gnose superior: "por isso - conclui O. Casel - a cruz é para o cristão o caminho que conduz à gnose da glória" (o. c., pág. 300).


Paulo diz francamente que o mistério se resume numa palavra: CRISTO "esse mistério, que é o Cristo", (CL 1:27): e "a fim de que conheçam o mistério de Deus, o Cristo" (CL 2:2).


O mistério opera uma união íntima e física com Deus, a qual realiza uma páscoa (passagem) do atual eon, para o eon espiritual (reino dos céus).


O PROCESSO


O postulante (o que pedia para ser iniciado) devia passar por diversos graus, antes de ser admitido ao pórtico, à "porta" por onde só passavam as ovelhas (símbolo das criaturas mansas; cfr. : "eu sou a porta das ovelhas", JO 10:7). Verificada a aptidão do candidato profano, era ele submetido a um período de "provações", em que se exercitava na ORAÇÃO (ou petição) que dirigia à Divindade, apresentando os desejos ardentes ao coração, "mendigando o Espírito" (cfr. "felizes os mendigos de Espírito" MT 5:3) para a ele unir-se; além disso se preparava com jejuns e alimentação vegetariana para o SACRIF ÍCIO, que consistia em fazer a consagração de si mesmo à Divindade (era a DE + VOTIO, voto a Deus), dispondo-se a desprender-se ao mundo profano.


Chegado a esse ponto, eram iniciados os SETE passos da iniciação. Os três primeiros eram chamado "Mistérios menores"; os quatro últimos, "mistérios maiores". Eram eles:

1 - o MERGULHO e as ABLUÇÕES (em Elêusis havia dois lagos salgados artificiais), que mostravam ao postulante a necessidade primordial e essencial da "catarse" da "psiquê". Os candidatos, desnudos, entravam num desses lagos e mergulhavam, a fim de compreender que era necessário "morrer" às coisas materiais para conseguir a "vida" (cfr. : "se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só; mas se morrer dá muito fruto", JO 12:24). Exprimia a importância do mergulho dentro de si mesmo, superando as dificuldades e vencendo o medo. Ao sair do lago, vestia uma túnica branca e aguardava o segundo passo.


2 - a ACEITAÇÃO de quem havia mergulhado, por parte do Mistagogo, que o confirmava no caminho novo, entre os "capazes". Daí por diante, teria que correr por conta própria todos os riscos inerentes ao curso: só pessoalmente poderia caminhar. Essa confirmação do Mestre simbolizava a "epiphanía" da Divindade, a "descida da graça", e o recem-aceito iniciava nova fase.


3 - a METÂNOIA ou mudança da mente, que vinha após assistir a várias tragédias e dramas de fundo iniciático. Todas ensinavam ao "mysto" novato, que era indispensável, através da dor, modificar seu" modo de pensar" em relação à vida, afastar-se de. todos os vícios e fraquezas do passado, renunciar a prazeres perniciosos e defeitos, tornando-se o mais perfeito (téleios) possível. Era buscada a renovação interna, pelo modo de pensar e de encarar a vida. Grande número dos que começavam a carreira, paravam aí, porque não possuíam a força capaz de operar a transmutação mental. As tentações os empolgavam e novamente se lançavam no mundo profano. No entanto, se dessem provas positivas de modifica ção total, de serem capazes de viver na santidade, resistindo às tentações, podiam continuar a senda.


Havia, então, a "experiência" para provar a realidade da "coragem" do candidato: era introduzido em grutas e câmaras escuras, onde encontrava uma série de engenhos lúgubres e figuras apavorantes, e onde demorava um tempo que parecia interminável. Dali, podia regressar ou prosseguir. Se regressava, saía da fileira; se prosseguia, recebia a recompensa justa: era julgado apto aos "mistérios maiores".


4 - O ENCONTRO e a ILUMINAÇÃO, que ocorria com a volta à luz, no fim da terrível caminhada por entre as trevas. Através de uma porta difícil de ser encontrada, deparava ele campos floridos e perfumados, e neles o Hierofante, em paramentação luxuosa. que os levava a uma refeição simples mas solene constante de pão, mel, castanhas e vinho. Os candidatos eram julgados "transformados", e porSABEDORIA DO EVANGELHO tanto não havia mais as exteriorizações: o segredo era desvelado (apokálypsis), e eles passavam a saber que o mergulho era interno, e que deviam iniciar a meditação e a contemplação diárias para conseguir o "encontro místico" com a Divindade dentro de si. Esses encontros eram de início, raros e breves, mas com o exercício se iam fixando melhor, podendo aspirar ao passo seguinte.


5 - a UNIÃO (não mais apenas o "encontro"), mas união firme e continuada, mesmo durante sua estada entre os profanos. Era simbolizada pelo drama sacro (hierõs gámos) do esponsalício de Zeus e Deméter, do qual nasceria o segundo Dionysos, vencedor da morte. Esse matrimônio simbólico e puro, realizado em exaltação religiosa (orgê) é que foi mal interpretado pelos que não assistiam à sua representação simbólica (os profanos) e que tacharam de "orgias imorais" os mistérios gregos. Essa "união", depois de bem assegurada, quando não mais se arriscava a perdê-la, preparava os melhores para o passo seguinte.


6 - a CONSAGRAÇÃO ou, talvez, a sagração, pela qual era representada a "marcação" do Espírito do iniciado com um "selo" especial da Divindade a quem o "mysto" se consagrava: Apolo, Dyonisos, Isis, Osíris, etc. Era aí que o iniciado obtinha a epoptía, ou "visão direta" da realidade espiritual, a gnose pela vivência da união mística. O epopta era o "vigilante", que o cristianismo denominou "epískopos" ou "inspetor". Realmente epopta é composto de epí ("sobre") e optos ("visível"); e epískopos de epi ("sobre") e skopéô ("ver" ou "observar"). Depois disso, tinha autoridade para ensinar a outros e, achando-se preso à Divindade e às obrigações religiosas, podia dirigir o culto e oficiar a liturgia, e também transmitir as iniciações nos graus menores. Mas faltava o passo decisivo e definitivo, o mais difícil e quase inacessível.


7 - a PLENITUDE da Divindade, quando era conseguida a vivência na "Alma Universal já libertada".


Nos mistérios gregos (em Elêusis) ensinava-se que havia uma Força Absoluta (Deus o "sem nome") que se manifestava através do Logos (a Palavra) Criador, o qual produzia o Filho (Kósmo). Mas o Logos tinha duplo aspecto: o masculino (Zeus) e o feminino (Deméter). Desse casal nascera o Filho, mas também com duplo aspecto: a mente salvadora (Dionysos) e a Alma Universal (Perséfone). Esta, desejando experiências mais fortes, descera à Terra. Mas ao chegar a estes reinos inferiores, tornouse a "Alma Universal" de todas as criaturas, e acabou ficando prisioneira de Plutão (a matéria), que a manteve encarcerada, ministrando-lhe filtros mágicos que a faziam esquecer sua origem divina, embora, no íntimo, sentisse a sede de regressar a seu verdadeiro mundo, mesmo ignorando qual fosse.


Dionysos quis salvá-la, mas foi despedaçado pelos Titãs (a mente fracionada pelo intelecto e estraçalhada pelos desejos). Foi quando surgiu Triptólemo (o tríplice combate das almas que despertam), e com apelos veementes conseguiu despertar Perséfone, revelando lhe sua origem divina, e ao mesmo tempo, com súplicas intensas às Forças Divinas, as comoveu; então Zeus novamente se uniu a Deméter, para fazer renascer Dionysos. Este, assumindo seu papel de "Salvador", desce à Terra, oferecendose em holocausto a Plutão (isto é, encarnando-se na própria matéria) e consegue o resgate de Perséfone, isto é, a libertação da Alma das criaturas do domínio da matéria e sua elevação novamente aos planos divinos. Por esse resumo, verificamos como se tornou fácil a aceitação entre os grego, e romanos da doutrina exposta pelos Emissários de Jesus, um "Filho de Deus" que desceu à Terra para resgatar com sua morte a alma humana.


O iniciado ficava permeado pela Divindade, tornando-se então "adepto" e atingindo o verdadeiro grau de Mestre ou Mistagogo por conhecimento próprio experimental. Já não mais era ele, o homem, que vivia: era "O Senhor", por cujo intermédio operava a Divindade. (Cfr. : "não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim", GL 2:20; e ainda: "para mim, viver é Cristo", Filp. 1:21). A tradição grega conservou os nomes de alguns dos que atingiram esse grau supremo: Orfeu... Pitágoras... Apolônio de Tiana... E bem provavelmente Sócrates (embora Schuré opine que o maior foi Platão).


NO CRISTIANISMO


Todos os termos néo-testamentários e cristãos, dos primórdios, foram tirados dos mistérios gregos: nos mistérios de Elêusis, o iniciado se tornava "membro da família do Deus" (Dionysos), sendo chamado.


então, um "santo" (hágios) ou "perfeito" (téleios). E Paulo escreve: "assim, pois, não sois mais estran geiros nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e familiares de Deus. ’ (EF 2:19). Ainda em Elêusis, mostrava-se aos iniciados uma "espiga de trigo", símbolo da vida que eternamente permanece através das encarnações e que, sob a forma de pão, se tornava participante da vida do homem; assim quando o homem se unia a Deus, "se tornava participante da vida divina" (2. ª Pe. 1:4). E Jesus afirmou: " Eu sou o PÃO da Vida" (JO 6. 35).


No entanto ocorreu modificação básica na instituição do Mistério cristão, que Jesus realizou na "última Ceia", na véspera de sua experiência máxima, o páthos ("paixão").


No Cristianismo, a iniciação toma sentido puramente espiritual, no interior da criatura, seguindo mais a Escola de Alexandria. Lendo Filon, compreendemos isso: ele interpreta todo o Antigo Testamento como alegoria da evolução da alma. Cada evangelista expõe a iniciação cristã de acordo com sua própria capacidade evolutiva, sendo que a mais elevada foi, sem dúvida, a de João, saturado da tradição (parádosis) de Alexandria, como pode ver-se não apenas de seu Evangelho, como também de seu Apocalipse.


Além disso, Jesus arrancou a iniciação dos templos, a portas fechadas, e jogou-a dentro dos corações; era a universalização da "salvação" a todos os que QUISESSEM segui-Lo. Qualquer pessoa pode encontrar o caminho (cfr. "Eu sou o Caminho", JO 14:6), porque Ele corporificou os mistérios em Si mesmo, divulgando-lhes os segredos através de Sua vida. Daí em diante, os homens não mais teriam que procurar encontrar um protótipo divino, para a ele conformar-se: todos poderiam descobrir e utir-se diretamente ao Logos que, através do Cristo, em Jesus se manifestara.


Observamos, pois, uma elevação geral de frequência vibratória, de tonus, em todo o processo iniciático dos mistérios.


E os Pais da Igreja - até o século 3. º o cristianismo foi "iniciático", embora depois perdesse o rumo quando se tornou "dogmático" - compreenderam a realidade do mistério cristão, muito superior, espiritualmente, aos anteriores: tornar o homem UM CRISTO, um ungido, um permeado da Divindade.


A ação divina do mistério, por exemplo, é assim descrita por Agostinho: "rendamos graças e alegremonos, porque nos tornamos não apenas cristãos, mas cristos" (Tract. in Joanne, 21,8); e por Metódio de Olímpio: "a comunidade (a ekklêsía) está grávida e em trabalho de parto, até que o Cristo tenha tomado forma em nós; até que o Cristo nasça em nós, para que cada um dos santos, por sua participação ao Cristo, se torne o cristo" (Patrol. Graeca, vol. 18, ccl. 150).


Temos que tornar-nos cristos, recebendo a última unção, conformando-nos com Ele em nosso próprio ser, já que "a redenção tem que realizar-se EM NÓS" (O. Casel, o. c., pág. 29), porque "o único e verdadeiro holocausto é o que o homem faz de si mesmo".


Cirilo de Jerusalém diz: "Já que entrastes em comunhão com o Cristo com razão sois chamados cristos, isto é, ungidos" (Catechesis Mystagogicae, 3,1; Patrol. Graeca,, 01. 33, col. 1087).


Essa transformação, em que o homem recebe Deus e Nele se transmuda, torna-o membro vivo do Cristo: "aos que O receberam, deu o poder de tornar-se Filhos de Deus" (JO 1:12).


Isso fez que Jesus - ensina-nos o Novo Testamento - que era "sacerdote da ordem de Melquisedec (HB 5:6 e HB 7:17) chegasse, após sua encarnação e todos os passos iniciáticos que QUIS dar, chegasse ao grau máximo de "pontífice da ordem de Melquisedec" (HB 5:10 e HB 6:20), para todo o planeta Terra.


CRISTO, portanto, é o mistério de Deus, o Senhor, o ápice da iniciação a experiência pessoal da Divindade.


através do santo ensino (hierôs lógos), que vem dos "deuses" (Espíritos Superiores), comunicado ao místico. No cristianismo, os emissários ("apóstolos") receberam do Grande Hierofante Jesus (o qual o recebeu do Pai, com Quem era UNO) a iniciação completa. Foi uma verdadeira "transmiss ão" (traditio, parádosis), apoiada na gnose: um despertar do Espírito que vive e experimenta a Verdade, visando ao que diz Paulo: "admoestando todo homem e ensinando todo homem, em toda sabedoria (sophía), para que apresentem todo homem perfeito (téleion, iniciado) em Cristo, para o que eu também me esforço (agõnizómenos) segundo a ação dele (energeían autou), que age (energouménen) em mim, em força (en dynámei)". CL 1:28-29.


Em toda essa iniciação, além disso, precisamos não perder de vista o "enthousiasmós" (como era chamado o "transe" místico entre os gregos) e que foi mesmo sentido pelos hebreus, sobretudo nas" Escolas de Profetas" em que eles se iniciavam (profetas significa "médiuns"); mas há muito se havia perdido esse "entusiasmo", por causa da frieza intelectual da interpretação literal das Escrituras pelos Escribas.


Profeta, em hebraico, é NaVY", de raiz desconhecida, que o Rabino Meyer Sal ("Les Tables de la Loi", éd. La Colombe, Paris, 1962, pág. 216/218) sugere ter sido a sigla das "Escolas de Profetas" (escolas de iniciação, de que havia uma em Belém, de onde saiu David). Cada letra designaria um setor de estudo: N (nun) seriam os sacerdotes (terapeutas do psicossoma), oradores, pensadores, filósofos;

V (beth) os iniciados nos segredos das construções dos templos ("maçons" ou pedreiros), arquitetos, etc. ; Y (yod) os "ativos", isto é, os dirigentes e políticos, os "profetas de ação"; (aleph), que exprime "Planificação", os matemáticos, geômetras, astrônomos, etc.


Isso explica, em grande parte, porque os gregos e romanos aceitaram muito mais facilmente o cristianismo, do que os judeus, que se limitavam a uma tradição que consistia na repetição literal decorada dos ensinos dos professores, num esforço de memória que não chegava ao coração, e que não visavam mais a qualquer experiência mística.


TEXTOS DO N. T.


O termo mystérion aparece várias vezes no Novo Testamento.


A - Nos Evangelhos, apenas num episódio, quando Jesus diz a Seus discípulos: "a vós é dado conhecer os mistérios do reino de Deus" (MT 13:11; MC 4:11; LC 8:10).


B - Por Paulo em diversas epístolas: RM 11:25 - "Não quero, irmãos, que ignoreis este mistério... o endurecimento de Israel, até que hajam entrado todos os gentios".


Rom. 16:15 - "conforme a revelação do mistério oculto durante os eons temporais (terrenos) e agora manifestados".


1. ª Cor. 2:1 – "quando fui ter convosco... anunciando-vos o mistério de Deus".


1. ª Cor. 2:4-7 - "meu ensino (logos) e minha pregação não foram em palavras persuasivas, mas em demonstração (apodeíxei) do pneúmatos e da dynámeôs, para que vossa fé não se fundamente na sophía dos homens, mas na dynámei de Deus. Mas falamos a sophia nos perfeitos (teleiois, iniciados), porém não a sophia deste eon, que chega ao fim; mas falamos a sophia de Deus em mistério, a que esteve oculta, a qual Deus antes dos eons determinou para nossa doutrina". 1. ª Cor. 4:1 - "assim considerem-nos os homens assistentes (hypêrétas) ecônomos (distribuidores, dispensadores) dos mistérios de Deus".


1. ª Cor. 13:2 - "se eu tiver mediunidade (prophéteía) e conhecer todos os mistérios de toda a gnose, e se tiver toda a fé até para transportar montanhas, mas não tiver amor (agápé), nada sou". l. ª Cor. 14:2 - "quem fala em língua (estranha) não fala a homens, mas a Deus, pois ninguém o ouve, mas em espírito fala mistérios". 1. ª Cor. 15:51 - "Atenção! Eu vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados".


EF 1:9 - "tendo-nos feito conhecido o mistério de sua vontade"

EF 3:4 - "segundo me foi manifestado para vós, segundo a revelação que ele me fez conhecer o mistério (como antes vos escrevi brevemente), pelo qual podeis perceber, lendo, minha compreensão no mistério do Cristo".


EF 3:9 - "e iluminar a todos qual a dispensação (oikonomía) do mistério oculto desde os eons, em Deus, que criou tudo".


EF 5:32 - "este mistério é grande: mas eu falo a respeito do Cristo e da ekklésia.


EF 9:19 - "(suplica) por mim, para que me possa ser dado o logos ao abrir minha boca para, em público, fazer conhecer o mistério da boa-nova".


CL 1:24-27 - "agora alegro-me nas experimentações (Pathêmasin) sobre vós e completo o que falta das pressões do Cristo em minha carne, sobre o corpo dele que é a ekklêsía, da qual me tornei servidor, segundo a dispensação (oikonomía) de Deus, que me foi dada para vós, para plenificar o logos de Deus, o mistério oculto nos eons e nas gerações, mas agora manifestado a seus santos (hagioi, iniciados), a quem aprouve a Deus fazer conhecer a riqueza da doutrina (dóxês; ou "da substância") deste mistério nas nações, que é CRISTO EM VÓS, esperança da doutrina (dóxês)".


CL 2:2-3 - "para que sejam consolados seus corações, unificados em amor, para todas as riquezas da plena convicção da compreensão, para a exata gnose (epígnôsin) do mistério de Deus (Cristo), no qual estão ocultos todos os tesouros da sophía e da gnose".


CL 4:3 - "orando ao mesmo tempo também por nós, para que Deus abra a porta do logos para falar o mistério do Cristo, pelo qual estou em cadeias".


2. ª Tess. 2:7 - "pois agora já age o mistério da iniquidade, até que o que o mantém esteja fora do caminho".


1. ª Tim. 3:9 - "(os servidores), conservando o mistério da fé em consciência pura".


1. ª Tim. 2:16 - "sem dúvida é grande o mistério da piedade (eusebeías)".


No Apocalipse (1:20; 10:7 e 17:5, 7) aparece quatro vezes a palavra, quando se revela ao vidente o sentido do que fora dito.


CULTO CRISTÃO


Depois de tudo o que vimos, torna-se evidente que não foi o culto judaico que passou ao cristianismo primitivo. Comparemos: A luxuosa arquitetura suntuosa do Templo grandioso de Jerusalém, com altares maciços a escorrer o sangue quente das vítimas; o cheiro acre da carne queimada dos holocaustos, a misturar-se com o odor do incenso, sombreando com a fumaça espessa o interior repleto; em redor dos altares, em grande número, os sacerdotes a acotovelar-se, munidos cada um de seu machado, que brandiam sem piedade na matança dos animais que berravam, mugiam dolorosamente ou balavam tristemente; o coro a entoar salmos e hinos a todo pulmão, para tentar superar a gritaria do povo e os pregões dos vendedores no ádrio: assim se realizava o culto ao "Deus dos judeus".


Em contraste, no cristianismo nascente, nada disso havia: nem templo, nem altares, nem matanças; modestas reuniões em casas de família, com alguns amigos; todos sentados em torno de mesa simples, sobre a qual se via o pão humilde e copos com o vinho comum. Limitava-se o culto à prece, ao recebimento de mensagens de espíritos, quando havia "profetas" na comunidade, ao ensino dos "emissários", dos "mais velhos" ou dos "inspetores", e à ingestão do pão e do vinho, "em memória da última ceia de Jesus". Era uma ceia que recebera o significativo nome de "amor" (ágape).


Nesse repasto residia a realização do supremo mistério cristão, bem aceito pelos gregos e romanos, acostumados a ver e compreender a transmissão da vida divina, por meio de símbolos religiosos. Os iniciados "pagãos" eram muito mais numerosos do que se possa hoje supor, e todos se sentiam membros do grande Kósmos, pois, como o diz Lucas, acreditavam que "todos os homens eram objeto da benevolência de Deus" (LC 2:14).


Mas, ao difundir-se entre o grande número e com o passar dos tempos, tudo isso se foi enfraquecendo e seguiu o mesmo caminho antes experimentado pelo judaísmo; a força mística, só atingida mais tarde por alguns de seus expoentes, perdeu-se, e o cristianismo "foi incapaz - no dizer de O. Casel - de manterse na continuação, nesse nível pneumático" (o. c. pág. 305). A força da "tradição" humana, embora condenada com veemência por Jesus (cfr. MT 15:1-11 e MT 16:5-12; e MC 7:1-16 e MC 8:14-11; veja atrás), fez-se valer, ameaçando as instituições religiosas que colocam doutrinas humanas ao lado e até acima dos preceitos divinos, dando mais importância às suas vaidosas criações. E D. Odon Casel lamenta: " pode fazer-se a mesma observação na história da liturgia" (o. c., pág. 298). E, entristecido, assevera ainda: "Verificamos igualmente que a concepção cristã mais profunda foi, sob muitos aspectos, preparada muito melhor pelo helenismo que pelo judaísmo. Lamentavelmente a teologia moderna tende a aproximar-se de novo da concepção judaica de tradição, vendo nela, de fato, uma simples transmiss ão de conhecimento, enquanto a verdadeira traditio, apoiada na gnose, é um despertar do espírito que VIVE e EXPERIMENTA a Verdade" (o. c., pág. 299).


OS SACRAMENTOS


O termo latino que traduz a palavra mystérion é sacramentum. Inicialmente conservou o mesmo sentido, mas depois perdeu-os, para transformar-se em "sinal visível de uma ação espiritual invisível".


No entanto, o estabelecimento pelas primeiras comunidades cristãs dos "sacramentos" primitivos, perdura até hoje, embora tendo perdido o sentido simbólico inicial.


Com efeito, a sucessão dos "sacramentos" revela exatamente, no cristianismo, os mesmos passos vividos nos mistérios grego. Vejamos:
1- o MERGULHO (denominado em grego batismo), que era a penetração do catecúmeno em seu eu interno. Simbolizava-se na desnudação ao pretendente, que largava todas as vestes e mergulhava totalmente na água: renunciava de modo absoluto as posses (pompas) exteriores e aos próprios veículos físicos, "vestes" do Espírito, e mergulhava na água, como se tivesse "morrido", para fazer a" catarse" (purificação) de todo o passado. Terminado o mergulho, não era mais o catecúmeno, o profano. Cirilo de Jerusalém escreveu: "no batismo o catecúmeno tinha que ficar totalmente nu, como Deus criou o primeiro Adão, e como morreu o segundo Adão na cruz" (Catechesis Mistagogicae,

2. 2). Ao sair da água, recebia uma túnica branca: ingressava oficialmente na comunidade (ekklêsía), e então passava a receber a segunda parte das instruções. Na vida interna, após o "mergulho" no próprio íntimo, aguardava o segundo passo.


2- a CONFIRMAÇÃO, que interiormente era dada pela descida da "graça" da Força Divina, pela" epifanía" (manifestação), em que o novo membro da ekklêsía se sentia "confirmado" no acerto de sua busca. Entrando em si mesmo a "graça" responde ao apelo: "se alguém me ama, meu Pai o amará, e NÓS viremos a ele e permaneceremos nele" (JO 14:23). O mesmo discípulo escreve em sua epístola: "a Vida manifestou-se, e a vimos, e damos testemunho. e vos anunciamos a Vida Imanente (ou a Vida do Novo Eon), que estava no Pai e nos foi manifestada" (l. ª JO 1:2).


3- a METÁNOIA (modernamente chamada "penitência") era então o terceiro passo. O aprendiz se exercitava na modificação da mentalidade, subsequente ao primeiro contato que tinha tido com a Divindade em si mesmo. Depois de "sentir" em si a força da Vida Divina, há maior compreensão; os pensamentos sobem de nível; torna-se mais fácil e quase automático o discernimento (krísis) entre certo e errado, bem e mal, e portanto a escolha do caminho certo. Essa metánoia é ajudada pelos iniciados de graus mais elevados, que lhe explicam as leis de causa e efeito e outras.


4- a EUCARISTIA é o quarto passo, simbolizando por meio da ingestão do pão e do vinho, a união com o Cristo. Quem mergulhou no íntimo, quem recebeu a confirmação da graça e modificou seu modo de pensar, rapidamenle caminha para o encontro definitivo com o Mestre interno, o Cristo.


Passa a alimentar-se diretamente de seus ensinos, sem mais necessidade de intermediários: alimentase, nutre-se do próprio Cristo, bebe-Lhe as inspirações: "se não comeis a carne do Filho do Homem e não bebeis seu sangue, não tendes a vida em vós. Quem saboreia minha carne e bebe meu sangue tem a Vida Imanente, porque minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é

verdadeiramente bebida. Quem come minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele" (JO 6:53 ss).


5- MATRIMÔNIO é o resultado do encontro realizado no passo anterior: e o casamento, a FUSÃO, a união entre a criatura e o Criador, entre o iniciado e Cristo: "esse mistério é grande, quero dizê-lo em relação ao Cristo e à ekklêsia", escreveu Paulo, quando falava do "matrimônio" (EF 5:32). E aqueles que são profanos, que não têm essa união com o Cristo, mas antes se unem ao mundo e a suas ilusões, são chamados "adúlteros" (cfr. vol. 2). E todos os místicos, unanimemente, comparam a união mística com o Cristo ti uma união dos sexos no casamento.


6- a ORDEM é o passo seguinte. Conseguida a união mística a criatura recebe da Divindade a consagra ção, ou melhor, a "sagração", o "sacerdócio" (sacer "sagrado", dos, dotis, "dote"), o "dote sagrado" na distribuição das graças o quinhão especial de deveres e obrigações para com o "rebanho" que o cerca. No judaísmo, o sacerdote era o homem encarregado de sacrificar ritualmente os animais, de examinar as vítimas, de oferecer os holocaustos e de receber as oferendas dirigindo o culto litúrgico. Mais tarde, entre os profanos sempre, passou a ser considerado o "intemediário" entre o homem e o Deus "externo". Nessa oportunidade, surge no Espírito a "marca" indelével, o selo (sphrágis) do Cristo, que jamais se apaga, por todas as vidas que porventura ainda tenha que viver: a união com essa Força Cósmica, de fato, modifica até o âmago, muda a frequência vibratória, imprime novas características e a leva, quase sempre, ao supremo ponto, à Dor-Sacrifício-Amor.


7- a EXTREMA UNÇÃO ("extrema" porque é o último passo, não porque deva ser dada apenas aos moribundos) é a chave final, o último degrau, no qual o homem se torna "cristificado", totalmente ungido pela Divindade, tornando-se realmente um "cristo".


Que esses sacramentos existiram desde os primeiros tempos do cristianismo, não há dúvida. Mas que não figuram nos Evangelhos, também é certo. A conclusão a tirar-se, é que todos eles foram comunicados oralmente pela traditio ou transmissão de conhecimentos secretos. Depois na continuação, foram permanecendo os ritos externos e a fé num resultado interno espiritual, mas já não com o sentido primitivo da iniciação, que acabamos de ver.


Após este escorço rápido, cremos que a afirmativa inicial se vê fortalecida e comprovada: realmente Jesus fundou uma "ESCOLA INICIÁTICA", e a expressão "logos akoês" (ensino ouvido), como outras que ainda aparecerão, precisam ser explicadas à luz desse conhecimento.


* * *

Neste sentido que acabamos de estudar, compreendemos melhor o alcance profundo que tiveram as palavras do Mestre, ao estabelecer as condições do discipulato.


Não podemos deixar de reconhecer que a interpretação dada a Suas palavras é verdadeira e real.


Mas há "mais alguma coisa" além daquilo.


Trata-se das condições exigidas para que um pretendente possa ser admitido na Escola Iniciática na qualidade de DISCÍPULO. Não basta que seja BOM (justo) nem que possua qualidades psíquicas (PROFETA). Não é suficiente um desejo: é mistér QUERER com vontade férrea, porque as provas a que tem que submeter-se são duras e nem todos as suportam.


Para ingressar no caminho das iniciações (e observamos que Jesus levava para as provas apenas três, dentre os doze: Pedro, Tiago e João) o discípulo terá que ser digno SEGUIDOR dos passos do Mestre.


Seguidor DE FATO, não de palavras. E para isso, precisará RENUNCIAR a tudo: dinheiro, bens, família, parentesco, pais, filhos, cônjuges, empregos, e inclusive a si mesmo: à sua vontade, a seu intelecto, a seus conhecimentos do passado, a sua cultura, a suas emoções.


A mais, devia prontificar-se a passar pelas experiências e provações dolorosas, simbolizadas, nas iniciações, pela CRUZ, a mais árdua de todas elas: o suportar com alegria a encarnação, o mergulho pesado no escafandro da carne.


E, enquanto carregava essa cruz, precisava ACOMPANHAR o Mestre, passo a passo, não apenas nos caminhos do mundo, mas nos caminhos do Espírito, difíceis e cheios de dores, estreitos e ladeados de espinhos, íngremes e calçados de pedras pontiagudas.


Não era só. E o que se acrescenta, de forma enigmática em outros planos, torna-se claro no terreno dos mistérios iniciáticos, que existiam dos discípulos A MORTE À VIDA DO FÍSICO. Então compreendemos: quem tiver medo de arriscar-se, e quiser "preservar" ou "salvar" sua alma (isto é, sua vida na matéria), esse a perderá, não só porque não receberá o grau a que aspira, como ainda porque, na condição concreta de encarnado, talvez chegue a perder a vida física, arriscada na prova. O medo não o deixará RESSUSCITAR, depois da morte aparente mas dolorosa, e seu espírito se verá envolvido na conturbação espessa e dementada do plano astral, dos "infernos" (ou umbral) a que terá que descer.


No entanto, aquele que intimorato e convicto da realidade, perder, sua alma, (isto é, "entregar" sua vida do físico) à morte aparente, embora dolorosa, esse a encontrará ou a salvará, escapando das injunções emotivas do astral, e será declarado APTO a receber o grau seguinte que ardentemente ele deseja.


Que adianta, com efeito, a um homem que busca o Espírito, se ganhar o mundo inteiro, ao invés de atingir a SABEDORIA que é seu ideal? Que existirá no mundo, que possa valer a GNOSE dos mistérios, a SALVAÇÃO da alma, a LIBERTAÇÃO das encarnações tristes e cansativas?


Nos trabalhos iniciáticos, o itinerante ou peregrino encontrará o FILHO DO HOMEM na "glória" do Pai, em sua própria "glória", na "glória" de Seus Santos Mensageiros. Estarão reunidos em Espírito, num mesmo plano vibratório mental (dos sem-forma) os antigos Mestres da Sabedoria, Mensageiros da Palavra Divina, Manifestantes da Luz, Irradiadores da Energia, Distribuidores do Som, Focos do Amor.


Mas, nos "mistérios", há ocasiões em que os "iniciantes", também chamados mystos, precisam dar testemunhos públicos de sua qualidade, sem dizerem que possuem essa qualidade. Então está dado o aviso: se nessas oportunidades de "confissão aberta" o discípulo "se envergonhar" do Mestre, e por causa de "respeitos humanos" não realizar o que deve, não se comportar como é da lei, nesses casos, o Senhor dos Mistérios, o Filho do Homem, também se envergonhará dele, considerá-lo-á inepto, incapaz para receber a consagração; não mais o reconhecerá como discípulo seu. Tudo, portanto, dependerá de seu comportamento diante das provas árduas e cruentas a que terá que submeter-se, em que sua própria vida física correrá risco.


Observe-se o que foi dito: "morrer" (teleutan) e "ser iniciado" (teleusthai) são verbos formados do mesmo radical: tele, que significa FIM. Só quem chegar AO FIM, será considerado APTO ou ADEPTO (formado de AD = "para", e APTUM = "apto").


Nesse mesmo sentido entendemos o último versículo: alguns dos aqui presentes (não todos) conseguirão certamente finalizar o ciclo iniciático, podendo entrar no novo EON, no "reino dos céus", antes de experimentar a morte física. Antes disso, eles descobrirão o Filho do Homem em si mesmos, com toda a sua Dynamis, e então poderão dizer, como Paulo disse: "Combati o bom combate, terminei a carreira, mantive a fidelidade: já me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia - e não só a mim, como a todos os que amaram sua manifestação" (2. ª Tim. 4:7-8).



Comentários Bíblicos

Este capítulo é uma coletânea de interpretações abrangentes da Bíblia por diversos teólogos renomados. Cada um deles apresenta sua perspectiva única sobre a interpretação do texto sagrado, abordando diferentes aspectos como a história, a cultura, a teologia e a espiritualidade. O capítulo oferece uma visão panorâmica da diversidade de abordagens teológicas para a interpretação da Bíblia, permitindo que o leitor compreenda melhor a complexidade do texto sagrado e suas implicações em diferentes contextos e tradições religiosas. Além disso, o capítulo fornece uma oportunidade para reflexão e debate sobre a natureza da interpretação bíblica e sua relevância para a vida religiosa e espiritual.

Beacon

Comentário Bíblico de Beacon - Interpretação abrangente da Bíblia por 40 teólogos evangélicos conservadores
Beacon - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 34
D. A RELIGIÃO DOS DISCÍPULOS, Mateus 6:1-34

1. Três Práticas Religiosas (Mateus 6:1-18)

(Introdução, v. 1). Na versão King James em inglês, este versículo parece fazer parte da discussão sobre dar esmolas, que vem a seguir (2-4). Mas os mais antigos manuscritos gregos apresentam o termo "justiça" em vez de esmolas. Isto faria do primeiro versículo uma introdução mais ampla para as três discussões seguintes sobre dar esmolas (2-4), oração (5-15) e jejum (16-18). No entanto, deve ser observado que Kraeling inclui o pri-meiro versículo com o parágrafo da doação de esmolas, embora aceite a leitura dos ma-nuscritos mais antigos. Ele diz: "A doação caridosa era tão importante neste período que a palavra hebraica para 'justiça' adquiriu o significado de 'dar esmolas' "42 Este talvez seja o motivo pelo qual a prática de dar esmolas seja discutida primeiramente aqui. Hoje em dia a oração provavelmente receberia o primeiro lugar, e dar esmolas o último.

John Wesley, que era um cuidadoso estudante do texto grego e surpreendentemente ciente da importância da crítica textual,' traduziu a primeira parte deste versículo como se segue: "Atentem para não praticarem a vossa justiça perante os homens, para serem vistos por eles". Traduções mais recentes apresentam: "Tenham cuidado para não faze-rem as suas boas obras publicamente para serem notados pelo povo" (Berkeley) ; "Cuida-do ao fazerem as suas boas ações à vista dos homens, para atraírem seus olhares" (Weymouth) ; "Tenham cuidado para não fazerem uma exibição de sua religião diante dos homens" (NEB) ; "Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros" (NTLH). A tradução mais simples é: "Não ostentem a sua piedade".

Jesus não disse que não deveríamos deixar que alguém visse as nossas boas obras. Ele já havia admoestado os seus discípulos: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus" (5.16). É com o motivo que Ele está lidando aqui. A frase significativa é: para serdes vistos por eles. Devemos buscar a glória de Deus, não a nossa própria.

  1. Dar Esmolas (6:2-4). Jesus advertiu os seus discípulos contra anunciar a sua doação com trombetas, como fazem os hipócritas (2) em lugares públicos. Já re-ceberam o seu galardão é uma expressão que pode ser traduzida como: "Já recebe-ram a sua recompensa". Os papiros provaram que o verbo apecho, que Mateus em-prega, era usado regularmente nos recibos daquele período. A força plena da afirma-ção de Jesus é que aquele que almeja e obtém o louvor dos homens, dá virtualmente um recibo: "Totalmente pago". Não haverá nenhum outro galardão aguardando por ele no céu."

Algumas pessoas têm se recusado a fazer qualquer voto público, por causa da admo-estação, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita (3). Mas a Bíblia também diz: "Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado" (Tg 4:17). Se o voto de alguém em público encorajar outra pessoa a dar, e a causa do Reino for assim aumentada, um cristão consagrado deve estar disposto a fazê-lo.

  1. Oração (6:5-15). Jesus também indicou que uma oração que demonstre ostenta-ção deve ser evitada. Os hipócritas... se comprazem em orar em pé em lugares pro-eminentes, para serem vistos pelos homens (5). Eles também "já receberam o seu galardão". O Mestre enfatizou a importância da oração em oculto (6). Um dos lugares mais sagrados em Londres é o pequeno cômodo onde John Wesley orava. Ele tem uma janela, e está do lado de fora de seu quarto em sua casa na City Road. Os visitantes têm a impressão de que o ambiente é uma rica ilustração do espírito de oração.

Cristo advertiu contra o uso de vãs repetições (7) na oração. Algumas pessoas inconscientemente repetem nomes para a Divindade diversas vezes na oração pública, até que ela se torne incômoda. Isso é uma repetição desnecessária. O nosso Pai Celestial sabe que estamos falando com Ele, e sabe o que precisamos antes de lho pedirmos (8). Portanto não precisamos ficar repetindo as nossas petições.

A oração do Pai-Nosso é um modelo perfeito da simplicidade e sinceridade da petição de Jesus. Ela também é um lindo exemplo de paralelismo poético. Impressa na forma a seguir, ela tem apenas dez linhas. Mas como são significativas!

Pai nosso, que estás nos céus,

Santificado seja o teu nome.
Venha o teu Reino.
Seja feita a tua vontade,

Tanto na terra como no céu.

O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.
Perdoa-nos as nossas dívidas,

Assim como nós perdoamos aos nossos devedores.

E não nos induzas à tentação,

Mas livra-nos do mal.

Aquele a quem nos dirigimos — Pai Nosso (9), sugerindo uma íntima comunhão, que estás nos céus, requerendo reverência — é seguido por seis petições. As três primei-ras são pelos interesses do Reino. As outras três são pelas necessidades pessoais. A or-dem é muito significativa. As necessidades do Reino devem sempre ter prioridade sobre todas as outras coisas.

Na verdade a oração começa, como todas as orações deveriam, com adoração: Santi-ficado seja o teu nome. O texto grego diz: "Permita que teu nome seja santificado". Esta é uma petição desafiadora: Permita que o teu santo nome seja santificado através da minha vida hoje, à medida que eu, sendo portador do nome de Cristo, vivo a vida de uma maneira semelhante à dele.

A segunda petição é: Venha o teu reino (10). Isto deve ter precedência sobre os interesses pessoais. George Ladd diz: "Esta oração é uma petição para Deus reinar, para manifestar a sua soberania e poder majestosos, para colocar em fuga todo inimigo da justiça e de seus preceitos divinos, e que só Deus possa ser o Rei sobre o mundo inteiro".' Mas esta petição também está relacionada à evangelização mundial. Pois é particular-mente na salvação das almas que vem o reino de Deus.

A terceira petição: Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu, foi ecoada por Jesus no jardim do Getsêmani (Lc 22:42). Não há maior oração que se possa oferecer. Devemos torná-la pessoal: Seja feita a tua vontade primeiro em meu coração, assim como ela é feita no céu.

A quarta petição é a primeira a expressar uma necessidade pessoal: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje (11). O sustento físico não deve vir em primeiro lugar; mas ele tem o seu lugar no devido tempo. Deus está interessado nas nossas necessidades pessoais, e Ele quer que as coloquemos diante dele em oração. Ele prometeu suprir as nossas neces-sidades materiais, desde que coloquemos o seu reino em primeiro lugar (v. 33). O signifi-cado exato das palavras de cada dia (encontrado somente na oração do Pai-Nosso) é incer-to. A palavra grega epiousion tem sido traduzida como "o necessário para a existência", "para o dia de hoje", "para amanhã", "para o futuro". A expressão de cada dia é melhor.

Uma necessidade mais urgente é o perdão: Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores (12). Aquele que carrega um espírito que não perdoa os outros deve parar antes de oferecer esta oração. Suponha que Deus o tome por sua palavra; que esperança haveria para ele? A versão de Lucas da oração do Pai-Nosso apresenta "pecados" em vez de "dívidas"." Todo ser humano está em dívida, pois "todos pecaram" (Rm 3:23). (Veja a exposição sobre Lucas 11:4.)

A última petição é: E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal (13) -ou "do maligno". Tentação pode ser "provação"; a palavra grega pode ser traduzida de ambos os modos. Morison parafraseia a petição da seguinte forma: "E não nos coloque em provação, provação severa, provação que, em virtude de sua severidade, venha a pressionar duramente o nosso estado morar.'

Nos antigos manuscritos gregos, a oração do Pai-Nosso termina com esta petição. A doxologia que segue — Porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém! — foi acrescentada há muito tempo, provavelmente para lhe dar uma conclusão mais acabada quando recitada em público. O acréscimo foi finalmente incorporado ao texto pelos escribas. Entretanto, é melhor incluí-la quando a oração do Pai-Nosso for recitada em público.

Nos dois versículos que se seguem à oração (14-15), Jesus mostrou a grande seriedade da questão de perdoar aos outros. Aquele que se recusa a perdoar fecha a porta do céu em seu próprio rosto. Nenhum espírito que não perdoa pode entrar ali. Independentemente daquilo que for feito contra nós, devemos perdoar — completamente e para sempre.

c) Jejum (6:16-18). Outra vez os hipócritas (16) são descritos, desta vez como mos-trando-se contristados, desfigurando o rosto, para que aos homens pareça que je-juam. E outra vez nos é dito que "já receberam o seu galardão".

As instruções de Jesus, colocadas em termos modernos, são as seguintes: Quando jejuar, penteie os cabelos e lave o seu rosto. Não tenha a aparência triste para lembrar as pessoas que você está jejuando. Antes, jejue por causa do bem espiritual dos outros e de si mesmo. Observe que Jesus diz que Deus tem uma recompensa para este tipo de jejum
Sobre o valor espiritual do jejum, Pink diz o seguinte: "Quando o coração e a mente são profundamente exercitados com relação a um assunto sério, especialmente o de um tipo solene e pesaroso, há uma indisposição para alimentar-se, e a abstinência a partir daí é uma expressão natural da nossa falta de merecimento, do nosso senso de inutilidade compara-tiva das coisas terrenas, e do nosso desejo de fixar a nossa atenção nas coisas do alto".'

2. Unidade de Propósito (6:19-24)

a) Um Único Tesouro (6:19-21). Jesus advertiu sobre a loucura de juntar tesouros na terra. Tudo pode ser destruído ou perdido. Roupas caras tinham grande importância nos tesouros dos homens e mulheres orientais. A traça seria uma grande ameaça para tal riqueza; ferrugem também significa, literalmente, "comer". Assim, isto pode se referir a vermes comendo a roupa. Naquela época também era comum para os ladrões "cavarem" (minarem,
19) as paredes de barro das casas palestinas para roubar. Mas no céu todos os nossos tesouros estão seguros (20).

Jesus apresenta aqui um princípio muito significativo: onde estiver o vosso te-souro, aí estará também o vosso coração (21). Ao encorajar uma pessoa a contribuir para a obra do Senhor, você está ajudando a ligá-la ao céu. Até mesmo solicitar que um não-crente contribua para um projeto especial da igreja pode impulsioná-lo à salvação. Portanto, prestamos às pessoas um serviço claro quando lhes damos a chance de apre-sentar as suas ofertas ao Senhor. O nosso coração se encaminha para onde o nosso di-nheiro se encaminha.

  1. Olhos Bons (6:22-23). Jesus declarou que a candeia do corpo são os olhos. Se os olhos forem bons, todo o corpo terá luz (22). Mas se os olhos forem maus (uma palavra forte, poneros), o corpo será tenebroso (23). O que o Mestre estava querendo dizer é que somente a unidade de propósitos, ou pureza de intenção, pode manter o ser interior iluminado com a presença de Deus. O contraste entre a luz e as trevas é um tema favorito na Bíblia, especialmente em João. Isto também desempenha um papel proemi-nente nos manuscritos do Mar Morto, particularmente no manuscrito intitulado "A Guerra dos Filhos da Luz Contra os Filhos das Trevas"."
  2. Um Único Mestre (6.24). Filson observa: "O versículo 24 (cf. Lc 16:23) afirma claramente a intenção dos dois parágrafos anteriores: Deus reivindica total lealdade; o discípulo não pode dividir a sua lealdade entre Deus e as suas posses"5.° Mamom (24) é a palavra aramaica para dinheiro ou riqueza.

As três ênfases principais no capítulo 6 até este ponto são a simplicidade, a sinceri-dade e a unidade. Estas são virtudes básicas na vida do discipulado, como o próprio Senhor Jesus descreveu. Nenhuma parcela de habilidade ou intelectualismo sofisticados compensarão a falta delas.

3. Simplicidade de Confiança (6:25-34)

O pecado que Jesus condena nesta seção é o da preocupação. Não andeis cuidado-sos (25) pode ser traduzido como: "Não estejais ansiosos". Não devemos nos preocupar com o alimento ou a roupa. A vida é mais do que o mantimento (comida). Aqui se trata tanto da existência espiritual quanto da vida material.

O Mestre, então, deu o exemplo das aves do céu (26). Elas não semeiam, nem segam, e contudo o Pai Celestial as alimenta. Quanto mais Ele cuidará de seus próprios filhos?

O significado de estatura (27) é incerto. Ele pode ser traduzido como "medida de sua vida", "extensão da vida", "curso da sua vida", mas também "altura" (NEB). A pala-vra grega (helikia) ocorre oito vezes no Novo Testamento. Em João 9:21-23 ela significa muito claramente "idade" — "tem idade; perguntai-lho". Mas em Lucas 19:3 ela também significa claramente "estatura". Zaqueu tinha falta de altura, não de idade. A questão é: O que a palavra significa aqui e na passagem paralela (Lc 12:25) ? Pareceria mais natu-ral falar de acrescentar um côvado (45 centímetros) à altura de alguém do que à sua idade. Abbott-Smith dizem: "Mas o uso predominante na Septuaginta e nos papiros favo-recem o antigo significado [idade] nestas passagens duvidosas".51 O contexto aqui tam-bém favorece a "duração da vida". Seja qual for o significado da palavra, a afirmação de Jesus é poderosa. A preocupação não pode acrescentar nada à altura, idade ou extensão da vida de uma pessoa.

Deus não só alimenta as aves, mas Ele também veste os lírios do campo (28). Embora eles não trabalhem, nem fiem, contudo, nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como qualquer deles (29). Se Deus cuida dessa maneira das flores efêmeras — que hoje estão aqui, e que amanhã serão inexistentes (tornando-se combustível para o forno) — quanto mais Ele vestirá os seus próprios filhos (30) ? Esta é uma lógica que não se pode contestar. Assim, o discípulo não deve ficar ansioso sobre o que comer, beber ou vestir (31) ; seu Pai Celestial sabe o que ele precisa (32).

Segue-se, então, a grande passagem sobre a mordomia: Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas (33). A ordem das petições na oração do Pai-Nosso é lembrada. Primeiro devemos buscar o Reino de Deus e a sua justiça para nós mesmos. Na verdade, o Reino de Deus é a justiça. Pink observa: "Agora, por 'justiça de Deus' devemos entender duas coisas: uma justiça imputada e uma justiça concedida, que é colocada em nossa conta ou crédito e que é comunicada às nossas almas"."

Em segundo lugar, devemos buscar o Reino de Deus e a sua justiça para os outros. Isto é, a nossa principal preocupação como discípulos do Senhor deve ser a salvação das almas e a edificação da sua igreja. Se colocarmos isto em primeiro lugar, Ele promete suprir todas as necessidades materiais.

O capítulo termina com uma admoestação de encerramento, para não nos preocu-parmos sobre o futuro (34). Já basta a cada dia o seu mal; isto é, problemas e cuidados que já lhe pertencem.


Champlin

Antigo e Novo Testamento interpretado versículo por versículo por Russell Norman Champlin é cristão de cunho protestante
Champlin - Comentários de Mateus Capítulo 6 versículo 9
Orareis assim:
Esta oração segue modelos de orações do AT e do Judaísmo. É formada com uma invocação inicial e sete petições. As três primeiras se referem a Deus (o teu nome, o teu reino, a tua vontade); as outras quatro se referem aos homens, com forma e sentido comunitários (nós). Conforme Lc 11:2-4.Mt 6:9 Pai nosso:
Conforme Is 63:16; Is 64:8. São poucas as vezes que o AT se refere a Deus como Pai; Jesus toma esse conceito tornando-o parte essencial da fé do NT. Ver Lc 11:2,Mt 6:9 Santificado seja:
Outra tradução possível:
santifica (ver Mt 5:4,). Nome:
Ver a Concordância Temática. Pede-se que Deus mesmo manifeste a sua santidade e poder entre os homens, de maneira que todos o conheçam como Deus (conforme Ez 36:22-23; conforme também Jo 12:28).

Genebra

Comentários da Bíblia de Estudos de Genebra pela Sociedade Bíblica do Brasil para versão Almeida Revista e Atualizada (ARA)
Genebra - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 34
*

6:1

justiça. Jesus afirma o valor positivo que há na justiça prática, porém, somente quando praticado em submissão a Deus e por amor a ele, ao invés de buscar a glória pessoal humana.

* 6:2

hipócritas. No Novo Testamento o hipócrita é aquele que alega ter um relacionamento com Deus e amar a justiça, mas está buscando seu próprio interesse, enganando-se a si mesmo. Os hipócritas denunciados no capítulo 23 não tinham consciência de sua própria hipocrisia.

* 6:5

orardes. Ver "Oração", em Lc 11:2.

* 6:7

não useis de vãs repetições. Essa proibição não contradiz o princípio de continuarmos pedindo a Deus aquilo que cremos ser da sua vontade (Lc 18), mas corrige a idéia de que Deus se impressiona com a quantidade das palavras.

* 6:9

Esta oração é um modelo de brevidade, pedindo primeiro que Deus seja glorificado e, depois, pelas necessidades da vida humana.

Pai nosso. Ver "Adoção", em Gl 4:5.

santificado seja o teu nome. Não só que as criaturas de Deus mantenham santo seu nome, mas que Deus pode ele mesmo santificá-lo, por ser o santo Juiz e Salvador.

* 6:11

pão nosso de cada dia. A palavra grega traduzida por "de cada dia" é conhecida só nesta oração. Tem sido entendida como significando o pão "diário", "necessário", "futuro" ou de "amanhã". Há três interpretações básicas para ela. O ponto de vista sacramental é que esse pão se refere ao pão recebido na Santa Ceia. Outro ponto de vista é que ele simboliza a vida no reino que virá, tornando a expressão equivalente à expressão "venha o teu reino", no v. 10. Um terceiro ponto de vista é que é uma súplica pela provisão de Deus das nossas necessidades físicas. Este último ponto de vista é, talvez, o melhor e este tema é desenvolvido nos vs. 19-34 (Pv 30:8).

* 6:12

dívidas. A referência aqui é à dívidas espirituais. Os cristãos perdoam outros em resposta ao perdão de Deus (18.32-33); porém, se não perdoarmos outros, não podemos clamar pelo perdão de Deus para nós mesmos.

* 6:13

não nos deixes cair em tentação. Os perdoados oram esta petição porque confiam em Deus e não confiam em si mesmos. O Pai pode submeter-nos à prova (4.1; Dt 8:2), mas não permitirá que sejamos tentados além da nossa capacidade (1Co 10:13).

* 6:17

unge a cabeça. Isto simbolizava o regozijo (Sl 23:5; 45:7; 104:15; Is 61:3), mas era também parte da rotina diária, exceto quando havia jejum (Dn 10:3). O não ungir-se poderia ser uma tentativa de alguém se mostrar mais piedoso do que outros.

* 6:19

ferrugem. Refere-se não só à corrosão comum, mas também ao mofo ou bolor que faz apodrecer a madeira, e coisas semelhantes. Todas as coisas materiais estão sujeitas à decadência ou à perda.

* 6:23

a luz que em ti há. Os "bons olhos" olham para Deus como seu “senhor” (v. 24) e enchem a pessoa com a luz da vontade de Deus. Porém, os "olhos maus" procuram os “tesouros sobre a terra” (v. 19) e admitem só as "trevas" da cobiça e do interesse próprio. A vida toda da pessoa será determinada pela espécie de "luz” que seus “olhos” admitem.

* 6:26

não semeiam, não colhem. A questão não é que os passarinhos sejam ociosos — um pássaro adulto não fica no seu ninho com o bico aberto — mas que os passarinhos não se preocupam com o que o futuro reserva. A preocupação ansiosa mostra falta de confiança no conhecimento e cuidado de Deus (vs. 32,33). Ver "Providência", em Pv 16:33.

* 6:27

um côvado ao curso da sua vida. A palavra grega pode ser também traduzida como "um côvado à sua estatura". Desde que adicionar 44cm à estatura de alguém seria dificilmente uma realização desprezível (conforme Lc 12:25-26), pode ser melhor se entendermos a palavra côvado como uma figura de linguagem para significar um curto período de tempo; daí, seria "pode acrescentar um momento de tempo ao curso de sua vida".

* 6:33

buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça. Devemos fazer do governo soberano de Deus, e do correto relacionamento com ele, a mais alta prioridade da nossa vida (ver 3.15, nota sobre "Justiça"). A preocupação é inconsistente com esta prioridade; revela dúvida a respeito da soberania e bondade de Deus, e nos desvia dos verdadeiros objetivos da vida. Deus satisfará todas as necessidades daqueles que arriscam tudo por ele.



Matthew Henry

Comentário Bíblico de Matthew Henry, um pastor presbiteriano e comentarista bíblico inglês.
Matthew Henry - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 34
6:2 O termo hipócrita, conforme se usa aqui, refere-se à pessoa que faz boas obras só por aparência, não por compaixão nem nenhum outro motivo bom. Suas ações podem ser boas mas seus motivos são maus. Esses atos vazios são sua recompensa, enquanto que Deus premiará aos que são sinceros em sua fé.

6:3 Quando Jesus diz "não saiba sua mão esquerda o que faz sua direita", quer significar que nossos motivos para dar devem ser puros. É fácil dar com motivos mistos, fazer algo em favor de alguém se for beneficiar em alguma maneira. Os crentes devessem evitar todo artifício e dar sozinho pela satisfação de dar e assim responder ao amor de Deus. Qual é sua motivação ao dar?

6:3, 4 É muito fácil dar por reconhecimento e louvor. Para nos assegurar de que nossos motivos não são egoístas devêssemos realizar nossas boas obras quieta e silenciosamente, sem esperar recompensa. Jesus diz que devemos revisar nossos motivos quanto a generosidade (6.4), oração (6,6) e jejum (6.18). Estas obras não devem ser egocêntricas, a não ser teocéntricas, e não para nos fazer luzir bem, a não ser para fazer a Deus luzir bem. A recompensa que Deus promete não é material e nunca é dada aos que a buscam. Fazer algo solo para nós não é um sacrifício de amor. Quando tiver a oportunidade de fazer uma boa obra, pergunte-se: "Faria isto embora ninguém soubesse?"

6.5, 6 Algumas pessoas, especialmente os líderes religiosos, queriam que os vissem como "Santos", e a oração pública era uma das maneiras que empregavam para obtê-lo. Jesus viu além de seus atos de justiça própria e ensinou que a essência da oração não radica no que se diz (nem como nem onde), a não ser na comunicação com Deus. É válido orar em público, mas orar sozinho onde vamos ser vistos é uma indicação de que nossa audiência verdadeira não é Deus.

6.7, 8 Algumas pessoas pensam que repetir as mesmas palavras uma e outra vez, como um encantamento, fará que Deus lhes ouça. Não é errôneo nos aproximar de Deus com a mesma petição; Jesus nos anima a que elevemos orações persistentes. Mas condenação as repetições corriqueiras que não se elevam com um coração sincero. Nunca se ora muito se nossas orações forem sinceras.

6:9 Esta oração pode ser um modelo para nossas orações. Devemos elogiar a Deus, orar por sua obra no mundo, orar por nossas necessidades cotidianas e orar solicitando sua ajuda em nossos conflitos diários.

6:9 A frase "Pai nosso que está nos céus" indica que Deus não só é majestoso e santo, mas também pessoal e amoroso. O primeiro artigo desta oração modelo é uma declaração de louvor e dedicação a honrar o nome santo de Deus. Honramos o nome de Deus ao usá-lo com respeito. Se usarmos o nome de Deus ligeiramente, não tomamos em conta a santidade de Deus.

6:10 A frase "Venha seu reino" é uma referência ao reino espiritual de Deus, não a que o Israel fora liberada do jugo de Roma. O Reino de Deus foi anunciado no pacto com o Abraão (8.11; Lc 13:28), está presente no reinado de Cristo no coração de cada crente (Lc 17:21), e será completado quando a maldade seja destruída e O estabeleça novos céus e terra (Ap 21:1).

6:10 Quando oramos "Faça-se sua vontade", não estamos nos abandonando à sorte, mas sim estamos orando que o propósito perfeito de Deus se cumpra neste mundo como no mais à frente.

6:11 Quando oramos "nosso pão de cada dia nos dêem isso hoje" reconhecemos que Deus é nosso sustentador e fornecedor. É um 2 pensar que dependemos de nós mesmos. Confiamos em que Deus cada dia tem que nos proporcionar o que sabe que necessitamos.

6:13 Jesus não está sugiriendo que Deus nos guia para a tentação. Simplesmente está pedindo que sejamos sacados de Satanás e seus enganos. Todos os cristãos enfrentam tentações. Algumas vezes é tão sutil que inclusive não sabemos o que nos está passando. Deus nos prometeu que não permitirá que sejamos tentados além do que possamos suportar (1Co 10:13). lhe peça a Deus que lhe permita reconhecer a tentação, que lhe dê forças suficientes para enfrentá-la e que possa seguir o caminho de Deus. Para maior informação a respeito da tentação, vejam-nas notas de 4.1.

6:14, 15 Jesus nos põe em alerta quanto ao perdão se refere: se não querermos perdoar a outros, tampouco Deus nos perdoará. por que? Porque quando não perdoamos a outros estamos negando o que temos em comum como pecadores necessitados do perdão de Deus. O perdão de Deus não é o resultado direto de nosso ato perdonador para outros, mas sim está apoiado em nosso entendimento do significado do perdão (veja-se Ef 4:32). É fácil pedir a Deus seu perdão, mas é difícil dá-lo a outros. Quando pedirmos a Deus que nos perdoe, devemos nos perguntar: "perdoei às pessoas que me feriram ou ofendeu?"

6:16 Jejuar, não tomar mantimentos com o propósito de empregar o tempo em oração, é nobre e dificultoso. Dá-nos tempo para orar, ensina-nos auto-disciplina, recorda-nos que podemos viver com muito menos e nos ajuda a apreciar os dons de Deus. Jesus não estava condenando o jejum a não ser a hipocrisia de jejuar com o fim de ganhar a aprovação da gente. O jejum era obrigatório para os judeus uma vez ao ano, no Dia da Expiação (Lv 23:32). Os fariseus jejuavam voluntariamente duas vezes à semana para impressionar às pessoas com sua "santidade". Jesus recomendou atos de autosacrificio feitos em silêncio e com sinceridade. Procurou pessoas que o servissem com bons motivos, não para satisfazer ânsias de louvor.

6:17 O azeite de oliva se usava como um cosmético similar a uma loção. Jesus está dizendo: "Quando jejuar faz todo o resto de forma normal. Não faça do jejum um espetáculo".

6:20 Fazer tesouros no céu não é sozinho pagar o dízimo, mas sim se obtém também com qualquer ato de obediência a Deus. Há certo sentido em que ao dar à obra de Deus estamos invirtiendo no céu, mas nossa intenção deveria ser procurar o cumprimento dos propósitos de Deus em tudo o que fazemos, não só no que fazemos com nosso dinheiro.

6.22, 23 Visão espiritual é nossa capacidade de ver com claridade o que Deus quer fazer em nós e ver o mundo através de seus olhos. Mas este discernimento espiritual pode ser facilmente opacado. Os desejos, interesses e metas egoístas bloqueiam essa visão. Servir a Deus é a melhor maneira de restaurá-la. O "bom" olho é o que se fixa em Cristo.

6:24 Jesus diz que podemos servir sozinho a um senhor. Vivemos em uma sociedade materialista onde muitas pessoas servem ao dinheiro. Empregam suas vidas em ganhar e entesourar, solo para morrer e ter que deixá-lo tudo. Seu desejo de ter dinheiro e o que podem adquirir com ele chega a ter maior preponderância que sua entrega a Deus e que os assuntos espirituais. O que entesoure lhe absorverá tempo e energias para pensar nisso. Não caia na armadilha do materialismo porque "o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males" (1Tm 6:10). Poderia assegurar, com toda sinceridade, que Deus é seu Senhor e não o dinheiro? Uma maneira de nos examinar é nos perguntando o que ocupa principalmente meus pensamentos, tempo e esforços.

6:24 Jesus contrastou os valores celestiales com os terrestres quando afirmou que devemos dedicar nossa lealdade prioritária às coisas que não se murcham, que ninguém pode roubar e que não envelhecem. Não devêssemos chegar ao extremo de nos fascinar tanto por nossas posses ao grau que sejamos seus escravos. Isto significa que devêssemos fazer alguns recortes em caso de que nossas posses estivessem convertendo-se em muito importantes para nós. Jesus está chamando a tomar uma decisão que nos permita viver tranqüilamente com o que tenhamos porque escolhemos o que é eterno e duradouro.

6:25 devido a seus efeitos insalubres, sugere-nos não nos preocupar com aquelas coisas que Deus promete suprir. A preocupação pode (1) danificar sua saúde, (2) dar lugar a que o objeto de sua angústia consuma seus pensamentos, (3) diminuir sua produtividade, (4) afetar negativamente a forma em que você trata a outros, e (5) reduzir sua capacidade de confiar em Deus. Aqui está a diferença entre a angústia e a preocupação genuína: a angústia imobiliza mas a preocupação nos move à ação.

6:33 "Procurar o reino de Deus e sua justiça" significa procurar sua ajuda em primeiro lugar, saturar nossos pensamentos com seus desejos, tomar seu caráter como modelo e lhe servir e lhe obedecer em tudo. O que é o mais importante para você? Haverá pessoas, objetos, metas e outros desejos que compitam quanto a prioridade. Qualquer destes pode tirar deus do primeiro lugar se você não decidir enfaticamente lhe dar o primeiro lugar em todos os aspectos de sua vida.

6:34 Planejar para o manhã é tempo bem investido; trabalhar em excesso-se pelo manhã é tempo perdido. Algumas vezes é dificultoso notar a diferença. Planejar é pensar com antecipação em metas, passos e datas, e confiar na direção de Deus. Quando se faz bem, o afã diminui. que se trabalha em excesso, em troca, vê-se assaltado pelo temor e lhe faz difícil confiar em Deus. que se trabalha em excesso deixa que seus planos interfiram em sua relação com Deus. Não permita que seu afã pelo manhã afete suas relações com Deus.

Jesus E AS LEIS DO ANTIGO TESTAMENTO

Referências e exemplos de misericórdia no Antigo Testamento :

Lv 19:18: "Não te vingará, nem guardará rancor aos filhos de seu povo, a não ser amará a seu próximo como a ti mesmo. Eu Jeová".

Pv 24:28-29: "Não seja sem causa testemunha contra seu próximo, e não lisonjeie com seus lábios. Não diga: Como me fez, assim lhe farei; darei o pagamento ao homem segundo sua obra".

Pv 25:21-22: "Se o que te aborrecer tuviere fome, lhe dê de comer pão. E se tuviere sede, lhe dê de beber água; porque brasas amontoará sobre sua cabeça, e Jeová lhe pagará isso".

Lm 3:27-31: "Dê a bochecha ao que lhe fere, e seja loja de comestíveis de afrontas. Porque o Senhor não despreza para sempre".

O que parece que Jesus contradiz das leis do Antigo Testamento é digno de uma cuidadosa análise. É muito fácil passar por cima a grande misericórdia com que se escreveram as leis do Antigo Testamento. Acabamos de dar vários exemplos. O sistema de justiça com misericórdia que Deus criou se distorceu com o passo dos anos e se converteu em justificação para a vingança. O que Jesus atacou foi a má aplicação da Lei.


Wesley

Comentário bíblico John Wesley - Metodista - Clérigo Anglicano
Wesley - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 15
Sobre o Sermão do Monte Parte VI

John Wesley

Guarda-te de fazer a tua oferta, diante de homens, para que sejas visto por eles: Do contrário, não terás recompensa junto a teu Pai que está nos céus. Por conseguinte, quando deres tua oferta, não faças alarde diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas, e nas ruas, a fim de que possam ter a glória de homens. Verdadeiramente eu vos digo, que eles já tiveram a recompensa deles. Quando, portanto, tu deres a tua oferta, não permite que tua mão esquerda saiba o que tua mão direita faz: tua oferta deve ser feita em secreto: E teu Pai, que vê em secreto, Ele mesmo irá recompensar a ti abertamente.

E, quando tu orares, não usa de repetições vãs, como os ateus o fazem: Já que eles pensam que serão ouvidos, por muito falarem. Não sejas, por conseguinte, como eles: Porque teu Pai sabe daquilo que tu precisas, antes de peças a Ele.

Em vez disto, ora, assim:

'Pai nosso, que estás no céu. Santificado seja teu nome. Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, na terra, como ela é feita nos céus. Dá-nos, este dia, o nosso pão. E perdoa os nossos débitos, como perdoamos os nossos devedores. E não nos permita a tentação, mas livra-nos do mal. Porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém'.

Porque se perdoares as transgressões dos homens, o teu Pai celeste irá perdoar a ti: Mas se tu não perdoares as transgressões de homens; nem o teu Pai irá perdoar as tuas ( Mateus 6:1-15).

I. Cuide para que sua oferta não vise a sua própria glória.

II. A insinceridade, nas orações e obras de misericórdia, é a primeira coisa do qual devemos nos guardar.

III. A oração do Senhor é um modelo e padrão para todas as nossas orações.

1. No capítulo precedente, nosso Senhor tem descrito a religião interior em suas várias ramificações. Ele tem colocado diante de nós essas disposições da alma, que constituem no Cristianismo verdadeiro; os temperamentos interiores contidos naquela 'santidade, sem a qual nenhum homem verá ao Senhor'; as afeições que, quando fluindo de suas fontes apropriadas; de uma fé viva em Deus, através de Jesus Cristo, são intrinsecamente e essencialmente boas e aceitáveis para Deus. Ele prossegue mostrando, nesse capítulo, como nossas ações, igualmente, mesmo aquelas que são indiferentes à nossa própria natureza, podem se tornar santas, boas e aceitáveis para Deus, através de uma intenção pura e santa. O que for feito, sem isto, ele declara largamente, que não terá valor diante de Deus. Considerando que, quaisquer que sejam as obras exteriores, se elas forem assim consagradas a Deus, elas serão, aos Seus olhos, de grande valor.

2. A necessidade dessa pureza de intenção, ele mostra, primeiro, com respeito àquelas que são usualmente consideradas ações religiosas, e de fato, o são, quando executadas com a intenção correta. Algumas dessas são comumente denominadas de obras de devoção; a restante, obras de caridade ou misericórdia. As obras desse segundo tipo, ele particularmente chama de assistência aos pobres; as obras do primeiro tipo, de oração e jejum. Mas as direções dadas para essas são igualmente para serem aplicadas a todas as obras, se de amor ou misericórdia.

I

1. Primeiro, com respeito às obras de misericórdia: 'Cuidem', diz o senhor, 'que vocês não façam donativos, diante de homens, para que não sejam vistos por eles: Do contrário não terão recompensa junto a seu Pai que está no céu'. 'Que vocês não façam doações': -- Embora se referindo especificamente a isto; ainda assim, em toda a obra de caridade está incluída tudo o que você dá, ou fala, ou faz, e, por meio do qual, nosso próximo possa ter proveito; por meio do qual, outro homem possa receber alguma vantagem, tanto em seu corpo, quanto em sua alma. O alimentar o faminto, o vestir o nu, o entreter ou assistir ao estranho, o visitar aqueles que estão doentes, ou na prisão, o confortar o aflito, o instruir o ignorante, o reprovar o pecaminoso, o exortar e encorajar o benfeitor; e se houver alguma outra obra de misericórdia, ela estará igualmente incluída nessa direção.

2. 'Cuidem que vocês não façam donativos diante de homens, para que não sejam vistos por eles'. A coisa que está aqui proibida, não é meramente o fazer o bem às vistas dos homens; essa circunstância apenas, a que outros vejam o que nós fazemos, não torna a ação nem pior, nem melhor; mas o fazer isto diante de homens, 'para que sejam vistos por eles', visando essa intenção apenas. Eu digo, essa intenção apenas; já que isto pode, em alguns casos, ser uma parte de nossa intenção; nós podemos objetivar que algumas de nossas ações possam ser vistas, e ainda assim, elas possam ser aceitáveis para Deus. Nós podemos pretender que nossa luz brilhe, diante de homens, quando nossa consciência é testemunha com o Espírito Santo, que nossa finalidade maior, em desejar que eles possam ver nossas boas obras, é 'que eles possam glorificar nosso Pai que está no céu'. Mas cuidem que vocês não façam a menor coisa, visando a própria glória de vocês. Guardem que o cuidado para com a oração de homens não tenha lugar, afinal, em suas obras de misericórdia. Se vocês buscam a sua própria glória; se vocês têm como objetivo ganhar a honra que vem dos homens, o que quer que seja feito com essa visão de nada valerá; se não for feito junto ao Senhor; Ele não aceitará. 'Vocês não terão galardão', por isto, 'do seu Pai que está no céu'.

3. 'Portanto, quando vocês derem o seu donativo, não façam alarde, como os hipócritas o fazem, nas sinagogas e nas ruas, para que possam ter louvor de homens'. -- A palavra sinagoga não significa aqui um lugar de adoração, mas algum lugar público muito freqüentado, tal como um mercado, ou casa de câmbio. Era uma coisa comum, em meio aos judeus, que eram homens de grandes fortunas, particularmente entre os fariseus, fazerem alarde diante deles, na maioria das partes públicas da cidade, quando eles estavam prestes a dar alguma doação considerável. A razão pretendida para isto era reunir os pobres para recebê-la; mas o real objetivo era que eles tivessem louvor de homens. Mas que vocês não sejam como eles. Não deixem que uma trombeta seja ouvida diante de vocês. Não usem de ostentação ao fazerem o bem. A honra do donativo vem de Deus apenas. Aqueles que buscam o louvor de homens já têm sua recompensa: Eles não terão o louvor de Deus.

4. 'Mas, quando vocês doarem, que a mão esquerda não saiba o que a direita faz' Está é uma expressão proverbial, e o significado dela é Façam-no em secreto, da maneira que for possível; tão secreto quanto seja consistente com o fazê-la afinal, (já que ela não poderá deixar de ser feita; não omitam oportunidade alguma de fazerem o bem; se secretamente ou abertamente), e ao fazerem isto, da maneira mais efetiva. Porque aqui também existe uma exceção a ser feita: quando vocês estão completamente persuadidos, em suas mentes que, por não ocultarem o bem que é feito, isto tanto irá capacitá-los, quanto instigará outros a fazerem mais o bem, então, vocês não podem esconder o que estão fazendo. Deixem que a luz de vocês apareça, e 'brilhe para todos que estão na casa'. Mas, a menos onde a glória de Deus, e o bem da humanidade os obriguem ao contrário, ajam da maneira tão privada e desapercebida, quanto a natureza das coisas admitir; -- 'para que os donativos possam ser em secreto; e o Pai que vê em secreto irá recompensar a vocês abertamente'; talvez, no mundo presente, -- muitos exemplos disto mantém-se registrado em todas as épocas; mas infalivelmente, no mundo que há de vir, diante da assembléia geral de homens e anjos.

II

1. Das obras de caridade ou misericórdia, nosso Senhor prossegue naquelas que são denominadas obras de devoção. 'E quando orarem', diz Ele, 'não sejam como os hipócritas; porque eles amam orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para que eles possam ser vistos pelos homens'. 'Não sejam como os hipócritas'. Hipocrisia, então, ou insinceridade, é a primeira coisa do qual devemos nos guardar nas orações. Precavenham-se de não falarem o que vocês não pretendem. Orar é erguer o coração a Deus: todas as palavras da oração, sem isto, são mera hipocrisia. Portanto, quando forem empreender orar, vejam que seja objetivo de vocês, conversarem intimamente com Deus, elevarem seus corações a ele, derramarem suas almas diante Dele; não como os hipócritas que amam, ou estão habituados, 'a orar de pé nas sinagogas', casas de câmbio, ou mercados, 'e nas esquinas das ruas', onde quer que a maioria das pessoas esteja, 'para que eles possam ser vistos pelos homens': Este é o único objetivo, o motivo e finalidade das orações que eles repetiram. 'Verdadeiramente, eu digo a vocês que eles não terão suas recompensas'. Eles não poderão esperar coisa alguma do Pai que está no céu.

2. Mas não se trata apenas de ter um olho para o louvor de homens, que elimina qualquer recompensa no céu: que não nos deixa espaço para esperar a bênção de Deus sobre as nossas obras, se de devoção ou misericórdia. Pureza de intenção e igualmente destruída, visando-se alguma recompensa temporal qualquer que seja. Se nós repetimos nossas orações; se nós atendemos à oração pública de Deus; se nós aliviamos o pobre, com vista a algum ganho ou interesse, não será, nem um pouco, mais aceitável para Deus, do que se estivéssemos fazendo com o objetivo do louvor próprio. Qualquer visão temporal; qualquer motivo desse lado da eternidade; qualquer objetivo, a não ser aquele de promover a glória de Deus, e a felicidade de homens, por amor a Deus, tornam toda a ação, não obstante, quão justa ela possa parecer aos homens, uma abominação junto ao Senhor.

3. 'Mas, quando vocês orarem, entrem em seus aposentos, e, quando vocês fecharem a porta, orem ao seu Pai que está em secreto'. Existe um momento em que vocês devem glorificar a Deus, abertamente; orarem e louvarem a ele, na grande congregação. Mas, quando vocês desejam mais largamente, e mais particularmente fazerem seus pedidos conhecidos junto a Deus, quer seja à tarde, ou de manhã, ou ao meio-dia, 'entrem em seus aposentos, e fechem a porta'. Usem de toda privacidade que puderem. (Apenas não a deixem sem ser feita, quer tenham algum quarto, alguma privacidade, ou não. Orem a Deus, se for possível, quando ninguém está vendo, a não ser Ele; caso contrário, orem a Deus) assim, 'orem ao Pai que está em secreto'; derramem seus corações diante dele, 'e o Pai que está em secreto, irá recompensálos abertamente'.

4. 'Mas quando vocês orarem', mesmo em secreto, 'não usem de repetições vãs, como os pagãos o fazem'. Não usem de abundância de palavras, sem qualquer significado. Não diga a mesma coisa, repetidas vezes; não pensem que o fruto de suas orações depende da extensão delas, como os pagãos; que 'pensam que eles serão ouvidos, por muito falarem'.

A coisa aqui reprovada não é simplesmente a extensão, mais do que a brevidade de nossas orações; -- mas, Primeiro, extensão, sem significado; falando muito, e significando pouco ou nada; o uso (não todas as repetições; porque o próprio nosso Senhor orou três vezes, repetindo as mesmas palavras, mas) vãs repetições, como os pagãos fazem; recitando os nomes de seus deuses, repetidas vezes, como eles fazem, em meio aos cristãos, (vulgarmente assim chamados), e não entre os papistas apenas, que dizem repetidas vezes a mesma seqüência de orações, sem nunca sentirem o que estão falando: -- Em Segundo lugar, pensarmos que seremos ouvidos, por nosso muito falar; imaginarmos Deus medindo as orações, por sua extensão, e mais satisfeito com aquelas que contém a maioria das palavras, que soam mais longas aos seus ouvidos. Estes são os tais exemplos da supertição e insensatez, como todos os que são chamados pelo nome de Cristo deixariam aos pagãos; a eles em quem a luz gloriosa do Evangelho nunca brilhou.

5. 'Não sejam, portanto, como eles'. Vocês que testaram da graça de Deus, em Jesus Cristo, estão totalmente convencidos de que 'seu Pai sabe quais as coisas de que precisam, antes que peçam'. De maneira que a finalidade de suas orações não é informar a Deus, como se ele já não soubesse de suas necessidades; mas, antes, informar a vocês; fixar o sentido daquelas necessidades mais profundamente, em seus corações; e o sentido de sua contínua dependência Dele, único capaz de suprir tudo que precisam. Não é mais importante sensibilizar a Deus, que está sempre mais pronto a dar do que a pedir, quanto sensibilizar vocês mesmos de que vocês podem estar desejosos e prontos para receber as boas coisas que Ele tem preparado para vocês.

III

1. Depois de ter ensinado a verdadeira natureza e finalidade da oração, nosso Senhor junta um exemplo disso; até mesmo aquela forma divina de oração que parece, aqui, ser proposta, por via padrão principalmente; como um modelo e norma de todas as nossas orações: 'Antes disto, contudo, vocês orem --'. Não obstante, em outra parte ele ordene o uso dessas mesmas palavras: 'Ele diz junto a eles: Quando orarem, digam
'
( Lucas 11:2).

2. Em geral, concernente a essa oração divina, nós podemos observar:

1o. Que ela contém tudo o que nós podemos razoavelmente e inocentemente pedir. Não há o que necessitamos de Deus; nada que podemos pedir, sem causar ofenda a Ele, que não esteja incluído, tanto diretamente, quanto indiretamente, nessa forma abrangente .

2o. Que ela contém tudo que nós razoavelmente ou inocentemente desejamos; se para a glória de Deus, se necessário e proveitoso, não apenas a nós mesmos, mas para cada criatura no céu e terra. E, de fato, nossas orações são o teste adequado de nossos desejos; nada sendo ajustado para ter um lugar em nossos desejos, que não seja ajustado para ter um lugar em nossas orações. O que nós não podemos pedir, nós também não podemos desejar.

3o. Que ela contém todas as nossas obrigações, para com Deus e homem; quer as coisas sejam puras ou santas; o que quer que Deus requeira dos filhos dos homens; o que quer que seja aceitável aos seus olhos; o que quer que ela seja, por meio da qual nós podemos favorecer nosso próximo, estando expresso e subtendido nela.

3. Ela consiste em três partes: -- o prefácio, as súplicas, e a doxologia, ou conclusão. O prefácio, 'Nosso pai que estás nos céus', estabelece uma fundação geral para a oração, incluindo o que nós devemos primeiro saber de Deus, antes de podermos orar, na confiança de estarmos sendo ouvidos. Ela igualmente nos indica todos os nossos temperamentos, com os quais nós devemos nos aproximar de Deus; e que são mais essencialmente requisitados, se nós desejamos que tanto nossas orações quanto nossas vidas encontrem aceitação com Ele.

4. 'Nosso Pai': Se ele é o Pai, então, Ele é bom; então, Ele é amoroso para com seus filhos. E aqui está a primeira e grande razão para a oração. Deus está desejoso de abençoar; vamos pedir por uma benção.

'Nosso Pai', -- nosso Criador; o Autor de nossa existência; Ele que nos ergueu do pó da terra; que soprou em nós o fôlego da vida, e nos tornamos almas viventes. Mas, se ele nos fez, permita-nos pedir, e ele não irá reter coisa alguma boa das obras de suas próprias mãos.

'Nosso Pai'; -- nosso Preservador; aquele que, dia a dia, mantém a vida que ele deu; de cujo amor contínuo, nós agora e todo o momento, recebemos vida e fôlego, e todas as coisas.

Tanto mais evidentemente, permita-nos ir até ele, e nós 'obteremos misericórdia, e graça para ajudar em tempo de necessidade'. Acima de tudo, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e de todo que nele crê; quem nos justifica 'livremente pela sua graça, através da redenção que está em Jesus'; quem 'apagou todos os nossos pecados, e curou todas as nossas enfermidades'; quem nos recebeu como seus próprios filhos, por adoção e graça; e, 'porque' nós 'somos filhos, enviou o Espírito de Seu Filho até' nossos 'corações, clamando, Abba, Pai'; quem 'nos recriou da semente incorruptível', e ' nos fez novas criaturas em Jesus Cristo'. Por conseguinte, nós sabemos que ele nos ouve sempre; portanto, nós oramos a ele, sem cessar. E oramos, porque nós o amamos; e 'nós o amamos, porque ele primeiro amou a nós'.

5. 'Nosso Pai', -- Não apenas meu, quem agora clama junto a ele; mas nosso, no sentido mais extensivo. O Deus e 'Pai dos espíritos de toda carne'; o Pai dos anjos e homens. Assim, mesmos os pagãos reconhecem que ele é o Pai do universo, de todas as famílias; tanto no céu, quanto na terra. Portanto, com ele não existe relação de pessoas. Ele ama a todos que ele fez. 'Ele é amoroso, para com cada homem, e sua misericórdia está sobre todas as suas obras'. E o deleite do Senhor é neles que o temem, e colocam sua confiança em Sua misericórdia; nos que confiam nele, através do Filho de Seu amor, sabendo que eles são 'aceitos no Amado'. Mas, 'se Deus nos amou assim, nós devemos amar também uns aos outros; sim, toda a humanidade; vendo que 'Deus amou de tal maneira o mundo, que deu seu Filho Primogênito', até mesmo, para morrer, para que eles 'não perecessem, mas tivessem a vida eterna'.

6. 'Que estás nos céus'. Nas alturas e suspenso; Deus sobre todos, abençoado para sempre: Quem, sentando no círculo dos céus, observa todas as coisas, ambas dos céus e terra; cujos olhos penetra toda a esfera do ser criado; sim, e da noite não criada; junto a quem 'são conhecidas todas as suas obras', e todas as obras de cada criatura; não apenas 'do começo do mundo', (uma tradução pobre, vulgar e fraca), mas desde toda a eternidade; do eterno para o eterno; que constrange a multidão dos céus, tanto quanto os filhos dos homens, a clamarem com admiração e espanto: Ó, profundeza!'. 'A profundeza dos ricos, ambos da sabedoria e conhecimento de Deus'.

'Que estás nos céus': -- O Senhor e Soberano de tudo; administrando e dispondo de todas as coisas; tu és o Rei dos reis; Senhor dos senhores; o abençoado e único Potentado; és forte e estás envolto com poder; fazendo o que quer que te agrade; o Altíssimo; que, quando quer que tu desejes, o fazer está presente contigo. 'Nos céus': -- Eminentemente lá. O céu é teu trono, 'o lugar onde está a tua honra'; onde, particularmente, 'habitas'. Mas não sozinho. Porque tu preencheste céu e terra e toda extensão do espaço, 'Os céus e terra estão cheio de tua glória. Glória seja dada a ti. Ó Senhor, Supremo Deus'. Portanto, nós devemos 'servir ao Senhor com temor, e nos regozijarmos junto a Ele, com reverência'. Nós devemos pensar, falar e agir, como continuamente debaixo dos olhos, e presença imediata do Senhor, o Rei.

7. 'Santificado seja teu nome'. Esta é a primeira das seis petições, de onde a própria oração é formada. O nome de Deus é o próprio Deus; a natureza de Deus, tanto quanto possa ser revelado ao homem. Quer dizer, portanto, junto com sua existência, todos seus atributos e perfeições; Sua Eternidade, particularmente significada por seu grande e incomunicável nome, Jeová, como o Apóstolo João o interpreta: 'O Alfa, o Omega; o Começo e o Fim; Ele que é, e que foi, e que será'; -- Sua Plenitude de Ser, denotada pelo seu outro grande nome: Eu Sou o que Sou!

Sua Onipresença; -- Sua Onipotência, que é realmente o único Agente no mundo material; toda a matéria, sendo essencialmente inerte e inativa; e movendo-se apenas quando movida pelo dedo de Deus; e Ele é a fonte da ação, em cada criatura, visível e invisível, que não poderia agir, nem existir, sem o influxo e ação de seu poder Onipotente; -- Sua sabedoria, claramente deduzida das coisas que são vistas, da ordem considerável do universo; -- Sua Trindade, e Unidade em Tríade, revelada a nós, na mesma primeira linha de sua palavra escrita; literalmente, os Deuses criou, um nome plural, junto com um verbo na terceira pessoa do singular; tanto quanto, em cada parte das suas revelações subseqüentes feitas, através da boca de todos os seus Profetas e Apóstolos santos; -- Sua pureza e santidade essenciais; -- e, acima de tudo, seu amor, que é o próprio esplendor de sua glória.

Orando para Deus, ou para seu nome, para que possa 'ser santificado', ou glorificado, nós oramos para que ele possa ser conhecido, tal como ele é, através de todos que sejam capazes disto; através de todos os seres inteligentes, e com afeições adequadas àquele conhecimento; para que ele possa ser devidamente honrado, e temido, e amado, por todos no céu, e na terra; através de todos os anjos e homens, aos quais para esta finalidade ele tem tornado capazes de conhecer e amá-lo para a eternidade.

8. 'Venha o teu reino'. Isto tem uma conexão intima com aquela petição precedente. Com o objetivo de que o nome de Deus possa ser santificado, nós oramos para que seu reino, o reino de Cristo, possa vir. Esse reino, então, vem para uma pessoa em particular, quando ele 'se arrepende e crê no Evangelho'; quando ele é ensinado de Deus, não apenas para conhecer a si mesmo, mas para conhecer Jesus Cristo, e nele crucificado. Que 'esta é a vida eterna; conhecer o único Deus verdadeiro, e Jesus Cristo a quem Ele enviou'; assim, é o reino de Deus, trazido para baixo, estabelecendo-se no coração do crente; o Senhor Deus Onipotente', então, 'reina'; quando ele é conhecido, através de Jesus Cristo. Ele toma, junto a si, seu poder imenso, para que possa subjugar todas as coisas em si mesmo. Ele segue na alma, conquistando, e para conquistar, até que tenha colocado todas as coisas debaixo de seus pés; até que 'todo pensamento seja trazido cativo para a obediência de Cristo'.

Quando, portanto, Deus 'dará a seu Filho os pagãos, para sua herança, e as partes mais extremas da terra para sua possessão'; quando 'todos os reinos se curvarão diante dele, e todos as nações o obedecerão; quando 'a montanha da casa do Senhor', a Igreja de Cristo, 'for estabelecida no topo das montanhas'; quando 'a plenitude dos gentios vierem, e toda a Israel for salva'; então, será visto que 'o Senhor é Rei, e colocou sua vestimenta gloriosa', aparecendo a toda a alma humana, como Rei dos reis, e Senhor dos senhores. E certificando-se que todos os que amam sua vinda; oram para que ele possa apressar o tempo; para que este seu reino, o reino da graça, venha rapidamente, e absorva todos os reinos da terra; para que toda a humanidade, recebendo-o como seu Rei, verdadeiramente crendo em seu nome, possa ser preenchida, com retidão, paz, alegria; com a santidade e felicidade -- Até que seja removida para seu reino celeste; e lá, reine com ele, para sempre e sempre.

Para isto, também, nós oramos nessas palavras: 'Venha o teu reino': Nós oramos para que a vinda de seu reino eterno; o reino da glória no céu; que é a continuação e a perfeição do reino da graça na terra. Conseqüentemente esta, tanto quanto a petição precedente, é oferecida ao alto, por toda a criação inteligente; por aqueles que estão interessados neste grande evento: a renovação final de todas as coisas; Deus colocando um fim na miséria e pecado, na enfermidade e morte; tomando todas as coisas em suas próprias mãos, e estabelecendo o reino que permanece através de todos os tempos.

Precisamente respondível a isto são aquelas terríveis palavras na oração fúnebre: 'Suplicando-te que possa agradar a ti e à tua santidade graciosa, para concluir, em breve, o número de teus eleitos, e apressar o teu reino: para que nós, com todos aqueles que estão mortos, na fé verdade de teu santo nome, possamos ter nossa consumação e felicidade, perfeitas, ambos no corpo e alma, em tua glória eterna'.

9. 'Tua vontade seja feita na terra, como no céu'. Esta é a conseqüência necessária e imediata, onde quer que o reino de Deus venha; onde quer que Deus habite na alma, pela fé, e Cristo reine no coração, pelo amor.

É provável que muitos, talvez, a generalidade dos homens, à primeira vista dessas palavras, estejam aptos a imaginar que elas sejam apenas uma expressão, ou petição, ou resignação para o reino; uma prontidão para subjugar-se à vontade de Deus, qualquer que seja ela, concernente a nós. E este é um temperamento inquestionavelmente divino e excelente; o mais precioso dom de Deus. Mas isto não é o que nós oramos nessa petição; pelo menos, não no sentido principal e primário dele. Nós oramos, não tanto, para uma passiva, quanto ativa conformidade à vontade de Deus ao dizermos: 'Seja feita a tua vontade na terra, como ela é feita no céu'.

Como a vontade de Deus é feita, através dos anjos no céu, -- por aqueles que agora circundam Seu trono, regozijando-se? Eles o fazem, de boa vontade; eles amam Seus mandamentos, e agradavelmente escutam com atenção Suas palavras. É o comer e beber deles fazer a vontade de Deus; é a mais alta glória e alegria. Eles a praticam continuamente; não existe interrupção em seus serviços de boa vontade. Eles não descansam de dia, nem de noite; mas empregam cada hora (humanamente falando; uma vez que, nossas medidas de duração dias, noites e horas - não têm lugar na eternidade), em cumprir Seus mandamentos; em executar seus desígnios; em desempenhar o conselho de Sua vontade. E eles a fazem, perfeitamente. Nenhum pecado, nenhum defeito pertence a essas mentes angelicais. É verdade, 'as estrelas não são puras aos Seus olhos', mesmo as estrelas da manhã que cantam diante Dele.

'Aos seus olhos', ou seja, em comparação a Ele, os próprios anjos não são puros. Mas isto não implica que eles não sejam puros, em si mesmos. Sem dúvida, eles são; eles são sem mácula e culpa. Eles são completamente devotados à sua vontade, e perfeitamente obedientes a todas as coisas. Se nós virmos isto, sob uma outra luz, podemos observar que os anjos de Deus no céu fazem todas as vontades Dele. Nada mais, a não ser o que eles absolutamente asseguram seja Sua vontade. E novamente: Eles fazem a vontade de Deus, como Ele a deseja; da maneira que agrada a Ele, e não a outro. Sim. E eles fazem isto, apenas porque é a vontade Dele; para esta finalidade, e nenhuma.

10. Quando, portanto, oramos, para que a vontade de Deus possa 'ser feita na terra, como ela é feita no céu', o significado é que todos os habitantes da terra, mesmo toda a raça humana, possa fazer a vontade de seu Pai que está no céu, de tão boa vontade quanto os anjos santos; que possam fazê-la continuamente; assim como eles, sem qualquer interrupção de seu serviço de prontidão; sim, e fazê-la perfeitamente, -- que o Deus da paz, através do sangue de sua aliança eterna, possa torná-los perfeitos, em cada boa obra; para realizar Sua vontade, e operar neles tudo 'o que for prazeroso aos seus olhos'.

Em outras palavras, nós oramos para que nós e toda a humanidade possamos fazer a completa vontade de Deus, em todas as coisas; e nada mais; nem a menor coisa, a não ser o que é a santa e aceitável vontade de Deus. Nós oramos para que possamos fazer a vontade de Deus, como ele deseja; da maneira que agrada a Ele: E, por fim, que nós possamos fazê-la, porque é a Sua vontade; para que esta possa ser a única razão e alicerce; o motivo total e único do que quer que pensemos, falemos ou façamos.

11. 'Dê-nos hoje o pão nosso de cada dia' Nas três primeiras petições nós temos orado por toda a humanidade. Viemos agora, mais particularmente, desejar um suprimento para nossas próprias necessidades. Não que estejamos direcionados, mesmo aqui, a confinar nossas orações completamente a nós mesmos; esta, e cada uma das petições seguintes, podem ser usadas para toda a Igreja de Cristo na terra.

Por 'pão', nós podemos entender todas as coisas necessárias; se para nossas almas ou corpos; -- as coisas concernentes à vida e santidade: Nós entendemos não meramente o pão exterior, que nosso Senhor denomina 'o alimento que perece'; mas muito mais o pão espiritual, a graça de Deus, o alimento 'que dura a vida eterna'. Foi o julgamento de muitos de nossos antepassados, que nós devemos entender aqui o pão sacramental também; recebido diariamente, no início, por toda a Igreja de Cristo, e altamente estimado, até que o amor de muitos se tornou frio, assim como o grande canal, por meio do qual a graça de seu Espírito era transportada para as almas de todos os filhos de Deus.

'Nosso pão diário'. -- A palavra, diário, tem sido diferentemente explicada por diferentes estudiosos. Mas o sentido mais simples e natural dela parece ser este, que é mantido, na maioria das traduções, tanto antigas, quanto modernas; -- o que seja suficiente para este dia; e assim, para cada dia, quando ele sucede.

12. 'Dá-nos': -- Porque reivindicamos nada por direito, mas apenas pela misericórdia gratuita. Nós não merecemos o ar que respiramos, a terra que nos carrega, ou o sol que brilha sobre nós. Todo nosso deserto, o nosso próprio, é o inferno: Mas Deus nos amou livremente; portanto, nós pedimos a ele para dar, o que não podemos obter por nós mesmos, não mais do podemos merecer de suas mãos.

Nem a benevolência ou o poder de Deus é motivo para ficarmos à toa. É Sua vontade que possamos usar de toda diligência, em todas as coisas; que possamos empregar nossos esforços extremos, como se nosso sucesso fosse um efeito natural de nossa sabedoria ou força: E, então, como se não tivéssemos feito nada, devemos depender Dele, o doador de todos os dons bons e perfeitos.

'Este dia': -- Porque não devemos nos preocupar com o amanhã. Para esta mesma finalidade nosso sábio Criador dividiu a vida nessas pequenas porções de tempo, tão claramente separadas umas das outras, que nós podemos observar cada dia, como um dom renovado de Deus, uma outra vida, que nós podemos devotar para Sua glória; e que cada anoitecer possa ser como o encerrar da vida, além do que, nós podemos ver mais nada, a não ser a eternidade.

13. 'E perdoa as nossas transgressões, assim como perdoamos os que nos tem ofendido'. Como nada, a não ser o pecado pode impedir a generosidade de Deus de fluir adiante sobre cada criatura, então esta petição naturalmente segue a anterior; para que todos os obstáculos sejam removidos, para que possamos mais claramente confinar no Deus de amor, para cada coisa que seja boa.

'Nossas transgressões': -- A palavra significa propriamente nossos débitos. Assim, nossos pecados estão freqüentemente representados nas Escrituras; cada pecado, deitando-se sobre nós, debaixo de um novo débito a Deus, a quem nós já devemos, como se fossem dez mil talentos. O que, então podemos responder, quando Ele diz: 'Paga-me o que tu deves? Que nós estamos completamente falidos; nós não temos com o que pagar; nós destruímos todo nosso capital. Portanto, se ele negociar conosco, de acordo com o rigor da lei; se ele cobrar o que Ele justamente pode, ele deverá ordenar que tenhamos as mãos e pés amarrados, e sejamos entregues aos atormentadores'.

De fato, nós já estamos com as mãos e pés amarrados, através das correntes de nossos próprios pecados. Estes, considerados com respeito a nós mesmos, são correntes de ferro, e algemas de bronze. Eles são os ferimentos, por meio dos quais, o mundo, a carne, e o diabo, têm nos atacado profundamente, e nos destroçado, por todos os lados. Esses são as enfermidades que esvaziam nosso sangue e espíritos, que nos trazem para as sepulturas. Mas considerados, como eles são aqui, com respeito a Deus, são débitos imensos e incontáveis. No entanto, embora vendo que não temos com o que pagar, que possamos clamar junto a Ele. para que Ele possa 'francamente perdoar' a todos nós!

A palavra traduzida, perdoar, implica tanto em perdoar um débito, quanto em soltar a corrente. E, se nós alcançamos a primeira, a última evidentemente se segue: se nossos débitos são perdoados, as correntes soltam-se de nossas mãos. Tão logo quanto, através da graça de Deus em Cristo, nós 'recebemos perdão dos pecados', nós recebemos igualmente 'muitos, entre esses que são santificados, através da fé que está Nele'. O pecado perde seu poder. Ele não tem domínio sobre aqueles que 'estão debaixo da graça', ou seja, no favor com Deus. Como 'não existe condenação para aqueles que estão em Cristo', assim eles estão livres do pecado, tanto quanto da culpa. 'A retidão da lei é cumprida' neles, e eles 'caminham, não segundo a carne, mas segundo o Espírito'.

14. 'Como perdoamos os que nos tem ofendido'. Nessas palavras, nosso Senhor claramente declara, em que condição, e em que grau ou maneira, nós podemos buscar sermos perdoados por Deus. Todas as nossas transgressões e pecados são perdoados, se nós perdoarmos, e como nós perdoamos, aos outros.

[Primeiro, que Deus nos perdoa, se nós perdoamos outros]. Este é um ponto da maior importância. E nosso abençoado Senhor é tão zeloso, para que, a qualquer tempo, não possamos divagar em nossos pensamentos, que ele não apenas a insere no contexto de Sua oração, mas presentemente depois, a repete mais duas vezes. 'Se', diz Ele, 'perdoarem aos homens suas transgressões, seu Pai celeste irá perdoar a vocês' ( Mateus 6:14-15).

Em Segundo Lugar, Deus nos perdoa, assim como perdoamos aos outros. Assim sendo, se nenhuma malícia ou amargura; se nenhuma mancha de indelicadeza, ou ira, permanecerem; se nós não claramente e completamente, do nosso coração, perdoamos as transgressões de todos os homens, seremos impedidos de termos o perdão para os nossos: Deus não pode claramente e completamente perdoar a nós: Ele pode nos mostrar alguns graus de misericórdia, mas nós não experimentaremos dele o apagar nossos pecados, e perdoar todas as nossas iniqüidades.

Nesse meio tempo, enquanto nós não perdoamos, do fundo de nosso coração, as ofendas de nosso próximo, que tipo de oração estamos oferecendo a Deus quando exprimimos essas palavras? Nós, de fato, estamos colocando Deus em um desafio declarado: nós estamos desafiando a Deus que faça o seu pior. 'Perdoe a nós, nossas transgressões, tanto quanto perdoamos as transgressões deles contra nós!'. Que significa, em termos claros: 'Tu não nos deve perdoar, afinal; nós desejamos nenhum favor de tuas mãos. Nós oramos para que tu mantenhas nossos pecados na memória, e para que tua ira habite sobre nós'. Mas, você pode seriamente oferecer tal oração a Deus: E ele já não o terá lançado rapidamente no inferno? Ó não o tente mais! Agora, mesmo agora, pela sua graça, perdoa, assim como você seria perdoado!Tenha compaixão agora do seu próximo, assim como Deus teve e terá piedade de você'!

15. 'E não nos deixa cair em tentação, mas livra-nos do mal', -- '[E] não nos conduza a tentação'. A palavra traduzida, tentação, significa experimentação de algum tipo. A palavra inglesa para tentação foi tomada antigamente, em um sentido indiferente, embora agora, ela seja usualmente entendida da solicitação para pecar. Tiago usa a palavra, em ambos esses sentidos; primeiro, em sua generalidade; então, em sua restrita aceitação. Ele a toma no primeiro sentido, quando diz: 'Meus irmãos, tende grande gozo, quando cairdes em várias tentações... Bem aventurado o varão que sofre a tentação, porque quando for tentado', ou aprovado de Deus, 'receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam. ( Tiago 1:12-13). Ele imediatamente acrescenta, tomando a palavra em seu segundo sentido: 'Que nenhum homem, quando tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada homem é tentado, quando traído e engodado pela sua própria concupiscência', ou desejo, saindo de Deus, em quem apenas ele está salvo, -- 'e seduzido'; pego, como um peixe com a isca. E assim é, quando ele se aparta e é seduzido, que ele propriamente 'entra em tentação'. Então, a tentação o cobre como uma nuvem; ela cobre toda sua alma. E quão dificilmente ele escapará da armadilha!

Entretanto, nós suplicamos a Deus 'não nos conduzir à tentação', ou seja (vendo que Deus não tenta o homem), não consinta que sejamos conduzidos a ela. 'Mas livrai-nos do mal': Antes, 'do próprio mal'; é, inquestionavelmente, do diabo, enfaticamente assim chamado, o príncipe e deus desse mundo, quem opera com considerável poder nos filhos da desobediência. Mas todos que são filhos de Deus, pela fé, estão livres de suas mãos. Ele pode lutar contra eles; e assim fará. Mas ele não poderá conquistar, a menos que eles traiam suas próprias almas. Ele pode atormentar, por algum tempo, mas ele não poderá destruir; porque Deus está do lado deles, quem não irá falhar, no final, 'em vingar seu próprio eleito, que clama junto a Ele, dia e noite'. Senhor, quando formos tentados, não permita que caiamos em tentação! Crie um caminho para que escapemos; para que o diabo não nos toque!

16. A conclusão dessa oração divina, comumente chamada de Doxologia, é uma ação de graças solene; um reconhecimento conciso dos atributos e obras de Deus. 'Porque teu é o reino' -- O soberano direito de todas as coisas que são, ou sempre foram criadas; sim, teu reino é um reino eterno, e teu domínio persiste, através de todos os tempos. 'O poder' -- o poder executivo, por meio do qual, governas todas as coisas em teu reino eterno; por meio do qual fazes o que agrada a ti, em todos os lugares de teu domínio. 'E a glória' o louvor devido de cada criatura, pelo teu poder, e a grandeza de teu reino, e por todas as tuas obras maravilhosas, que tu operas desde a eternidade, e deverá operar, do mundo sem fim, 'para todo o sempre. Amém'. Que assim seja!


Wesley - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 34
3. qualidades de caráter do reino (6: 1-34)

1. Sinceridade (6: 1-18)

(Introdução, v. 1)

Guardai-vos de não fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus.

No ReiTiago 5ersion este versículo parece ser uma parte da discussão da esmola. Mas o melhor texto grego tem "justiça" em vez de "esmola". Assim, o primeiro verso deve ser tomado como uma introdução geral a esta seção. O Mestre advertiu seus discípulos para não colocar sua piedade na parada. A justiça (dikaiosyne) significa atos religiosos. A questão é que eles não estavam a praticar a sua religião diante dos homens para serdes vistos por eles. É o motivo de querer a glória dos homens que Cristo foi a advertência contra.

Após esta breve declaração introdutória Jesus discutiu três atos religiosos: a esmola, oração e jej1. Eles foram os únicos que foram enfatizadas mais pelos judeus da época, ea esmola ficou em primeiro lugar em valor.

(1) A esmola (6: 2-4)

2 Quando, pois, deres esmola, não trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade eu vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. 3 Mas, quando tu deres esmola, não a tua mão esquerda o que a tua mão direita faz; 4 para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará .

Jesus advertiu Seus seguidores não alardear suas obras de caridade. Um teste de consagração de um homem é se ele está disposto a fazer algo para Deus, independentemente de quem recebe o crédito.

Eles já receberam a sua recompensa é uma tradução melhor do que "Eles têm a sua recompensa" (KJV). Os papiros têm mostrado que o verbo aqui, apecho , é a forma regular usada em receitas daquele dia. O que Jesus está dizendo é o seguinte: Se as pessoas fazem seus atos religiosos para ganhar a glória dos homens, que lhes foi dado um recibo, "pago na íntegra", e que, assim, não terá direito ao prêmio na próxima vida. É preciso decidir se ele coloca maior valor em um terreno ou uma recompensa celestial.

Não seja a tua mão esquerda o que faz a tua direita , por vezes, tem sido utilizada como uma desculpa para recusar-se a fazer uma promessa em público. O critério em todos esses casos é: o que é melhor para o reino de Deus?

(2) Oração (6: 5-15)

5 E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de ficar em pé e rezar nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. 6 Mas tu, quando orares, entra no teu quarto interior, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, retribuirei . ti 7 E, orando, não uso de vãs repetições, como os gentios:., que pensam que serão ouvidos por muito falarem 8 Seja, portanto, não semelhante a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós . perguntar a Ec 9:1 Depois dessa maneira, portanto, orai vós: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome. 10 Venha o teu reino. Seja feita vossa vontade, como no céu, assim na terra. 11 Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. 12 E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores. 13 E trazer-nos não em tentação, mas livrai-nos do mal um . 14 Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. 15 Mas, se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.

A admoestação para orar em segredo tem sido usado como um argumento contra a rezar em público. Mas Jesus orou publicamente (Jo 11:41 ). A coisa Ele estava condenando toda esta seção estava fazendo uma exibição de sua piedade, a fim de ganhar o louvor do homem.

Vãs repetições devem ser evitados, como o uso de nomes de divindade mais e mais em uma breve oração. Isto não é nem respeitoso nem reverente. Deus ouve a petição sincera sem repetitividade.

Simplicidade é o que Jesus pediu ao orar. Como exemplo, ele deu o que é conhecido como a Oração do Senhor (vv. Mt 6:9-13 ). É um modelo de simplicidade e consagração altruísta.

A oração pode ser dividido em três seções. Primeiro é o endereço: . Pai nosso que estais no céu A primeira parte deste sugere familiaridade; a segunda reverência demandas. Comentários Ward, "A verdadeira oração começa com adoração."

A segunda seção é composta por três petições. A primeira petição não é um para necessidades pessoais, mas sim um ato de adoradores santificado seja o teu nome. Literalmente este é "o teu nome seja santificado." Os judeus colocar muita ênfase sobre "a santificação do nome." A segunda petição , venha o teu reino, nos ordena a se preocupar mais com a prosperidade do Reino do que sobre os nossos interesses pessoais. Filson define o Reino no sentido de A terceira petição é "o reinado completo e eficaz de Deus.": se a Tua vontade, como no céu, assim na terra. Isso é muito abrangente em seu escopo. Demora em todas as relações da vida doméstica, comunidade, nacional e internacional; econômicos, religiosos, os próprios pensamentos sociais-bem como, palavras e ações. Não há maior oração que qualquer um pode rezar. O próprio Jesus deu o exemplo no Getsêmani (Mt 26:42 ).

A terceira seção inclui três petições do mesmo modo. Mas estes, ao contrário dos três anteriores, estão preocupados com as necessidades pessoais. A primeira é: Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Enquanto a oração para o material precisa ser fornecido não é para vir em primeiro lugar, ele tem o seu lugar, mesmo neste breve oração-modelo. Deus está interessado em nosso físico, bem como o bem-estar espiritual. A segunda petição, perdoa-nos as nossas dívidas , seja acompanhada de condição muito significativo: assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores. Para o cristão professo com um espírito que não perdoa esta é uma oração perigosa para repetir. Dívidas significa pecados (conforme Lc 11:4) pode ser traduzido tanto dessa maneira ou "do mal" (KJV).Temptation pode significar "o teste. "O grego não consegue distinguir entre essas duas ideias que são um pouco distintos em Inglês. Traga-nos não no meio "nos impedir." Enquanto todos os homens justos deve experimentar e resistir a tentação de testes, é preciso tomar cuidado com o excesso de confiança em sua própria capacidade de superar.

A doxologia fechamento (KJV) não é encontrado nos primeiros manuscritos gregos e por isso é omitido nas versões revistas. É um final litúrgico, adicionado para fazer a oração do Senhor mais adequado para uso no culto público. Para esse efeito, podem ser adequadamente incluídos ainda. Parece evidente que Jesus estava dando aos discípulos um modelo para privado e não público oração. Isso vai explicar sua omissão de qualquer doxologia no final.

Os versículos 14:15 são uma explicitação da condição descrita no versículo 12 . A importância de um espírito de perdão é ressaltada pela atenção considerável Jesus deu a ele (conforme 18: 21-35 ; Mc 11:25 ).

(3) O jejum (6: 16-18)

16 Quando jejuardes, não seja, como os hipócritas, de um semblante triste: porque desfiguram os seus rostos, para que possam ser vistos pelos homens a jejuar. Em verdade eu vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. 17 Mas tu, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o rosto, 18 para que tu não serem vistos pelos homens a jejuar, mas do teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.

Orientais são particularmente propensos a enfatizar o jejum como um exercício religioso. Jesus avisou que não deve ser envolvido em por uma questão de impressionar os outros com a própria piedade. Um semblante triste poderia ser uma máscara hipócrita.É correta de lavar o rosto, pentear o cabelo, e aparecem alegre, não sombrio.

b. Solteirice (6: 19-24)

Jesus salientou grandes princípios da vida piedosa, em vez de regulamentos minutos, como os fariseus enfatizou. Sinceridade e singeleza de propósito são absolutamente essenciais para a pessoa que iria agradar a Deus.

(1) do investimento (6: 19-21)

19 Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça ea ferrugem consomem, e onde os ladrões minam e roubam; 20 mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não arrombam nem roubam 21 para onde o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

Um contraste é traçada entre terrestres e celestes tesouros. Uma parte importante do tesouro de um oriental antiga era a sua roupa de luxo. Isso pode ser consumido por a traça ea ferrugem. O último termo é, literalmente, "comer" e por isso pode se referir a vermes que comem roupas. Romper é, literalmente, "vasculhar". casas palestinas foram feitas de pedra e argamassa, ou com tijolos de barro, de modo que os ladrões geralmente escavado através das paredes exteriores. Jesus lembrou Seus discípulos de um lugar, o céu, onde só os seus títulos eram seguros. Mas o importante princípio enunciado Ele aqui é que um de açambarcamento vai realizar o seu coração (v. Mt 6:21 ). Para ajuntai tesouros aqui é ser terra-bound. Jesus fez uma advertência salutar contra o perigo de perder a alma, bem como a sua riqueza através de estar preso a terrenas tesouro.

(2) Das Intenção (6: 22-23)

22 A lâmpada do corpo é o olho: se, por conseguinte, os teus olhos forem, todo o teu corpo será cheio de luz. 23 Mas, se os teus olhos forem maus, todo o teu corpo será tenebroso. Portanto, caso a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!

Grandes escritores religiosos sempre reconheceram a importância suprema da pureza de intenção. Para ilustrar isso, Jesus usou a figura do olho como a lâmpada do corpo. A (doente mal) de olho significa um corpo escurecido. Um som (único) de olho deixa entrar a luz.

A conexão com o parágrafo anterior é sugerida em Pv 28:22 - "Aquele que se apressa para ser rico tem o olhar maligno." Filson expressa de forma ligeiramente diferente: "Se o homem divide o seu interesse e tenta se concentrar em ambos, Deus e posses , ele não tem uma visão clara, e vai viver sem orientação ou direção clara. "Um único olho é essencial para a visão espiritual. Basicamente, isso significa o mesmo que um coração puro (Mt 5:28 ).

(3) de lealdade Inner (Mt 6:24)

24 Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar a um e amar o outro; ou então ele irá realizar a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus ea Mamom.

Esse versículo resume a ênfase dos dois parágrafos anteriores. Lealdade total é essencial para a saúde espiritual. O salmista orou: "Unir o meu coração ao temor do teu nome" (Sl 86:11 ).

Jesus não disse que um homem deve não, mas que ele não pode servir a dois senhores. Mammon é um termo aramaico por dinheiro ou riqueza. Ela vem de uma pilhagem sentido à Aqui o perigo real está "confiança". Quando as pessoas colocam sua confiança em coisas materiais perdem sua fé em Deus. Discipulado exige lealdade completa. Aqueles que começam por tentar servir a Deus ea Mamom final, servindo Mamom sozinho.

c. Simplicidade (6: 25-34)

Mt 6:1)

25 Portanto, eu vos digo: Não estejais ansiosos pela vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem pelo vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que a comida, eo corpo mais que o vestido? 26 Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? 27 E qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à medida da sua vida?

Não estejais ansiosos é muito mais preciso do que "não ter pensado" (KJV). A última prestação, infelizmente, levou à rejeição da responsabilidade de cuidar para o futuro de sua família. Jesus não estava proibindo a devida atenção à segurança econômica ou a compra de seguro de vida, mas apenas que a ansiedade que equivale a negação da fé em Deus. Uma pessoa não pode se preocupar e confiar ao mesmo tempo.

Intensa ansiedade sobre comida, bebida e roupas não são comuns na sociedade civilizada moderna. Mas com os orientais antigas essa ansiedade era um problema sempre presente. Jesus lembrou Seus discípulos de cuidado dos de Deus aves. Ele, então, advertiu que a preocupação não pode prolongar a medida de sua vida. Não está claro se este ou "estatura" (KJV) é a melhor tradução. A palavra grega tem dois significados. A prestação revista, no entanto, se encaixa no contexto melhor. Por preocupação, na verdade, encurta a vida, em vez de alongar-lo.

(2) A fé para Vestuário (6: 28-30)

28 E porque sois ansioso relativa vestuário? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; eles não trabalham, nem fiam: 29 mas eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. 30 Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que é a-dia, e amanhã é lançada no forno, será que ele não é muito mais vestirá a vós, homens de pouca fé?

Ilustrações favoritas de Jesus eram de natureza. Desta vez foi para os lírios do campo. Eles não trabalham nem rotação. No entanto, Deus matrizes-os em uma beleza que nem mesmo Salomão, não conseguiu igualar em suas vestes caras. Se o Pai celestial mostra tanta preocupação para perecendo grama, quanto mais Ele vai cuidar de seus próprios filhos?

(3) A fé para todas as necessidades (6: 31-34)

31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? ou: Que havemos de beber? ou, que nos havemos de vestir? 32 Porque todas estas coisas os gentios procuram; pois vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas estas coisas. 33 Mas buscai primeiro o seu reino ea sua justiça; e todas estas coisas vos serão acrescentadas você. 34 Seja, portanto, não ansioso para o dia de amanhã, porque o dia de amanhã será ansioso por si. Basta a cada dia o seu mal.

Os versos finais resumir essas verdades. A advertência contra ser ansioso ocorre nos versículos 25 , 28 , 31 e 34 . É culminando com a admoestação geral não se preocupar com o futuro desconhecido (v. Mt 6:34 ).

Em meio a essa discussão vem um dos grandes comandos e promessas do Novo Testamento: Mas, buscai primeiro o seu reino ea sua justiça; e todas estas coisas vos serão acrescentadas você. Esta é a principal responsabilidade de cada discípulo de Cristo, e é a sua garantia de que todas as necessidades serão fornecidos. Para buscar o Reino é ordenar a própria vida de acordo com a vontade divina e de trabalho para a extensão do reino ou o governo de Deus no coração dos outros.


Wiersbe

Comentário bíblico expositivo por Warren Wendel Wiersbe, pastor Calvinista
Wiersbe - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 34
Mt 6:0). Jesus enfatiza que é pecado orar para ser visto e ouvido pelos outros. A oração é a comunhão secreta com Deus, em-bora, sem dúvida, a Bíblia autorize a oração pública. No entanto, quem não ora privadamente não deve orar em público, pois seria hipocrisia. Cristo aponta três erros comuns em relação à oração: (1) orar para que os outros escutem (vv. 5-6); (2) orar apenas com palavras que não pas-sam de "vãs repetições" (vv. 7-8); e (3) orar com o pecado no coração (vv. 14-15). Deus não nos perdoa porque perdoamos os outros, mas por causa do sangue de Cristo (1Jo 1:9). Todavia, o espírito rancoroso atrapalha a vida de oração, e mostra que a pessoa não entende a graça do Senhor.

Os versículos 9:13 não apre-sentam a, assim chamada, oração do Pai-Nosso para ser recitada sem que se reflita em seu sentido. Antes, ela é um modelo para que aprenda-mos a orar. É uma "oração para a família" — observe a repetição de "nosso" e "nós" nela. O Pai-Nosso põe o nome, o reino e a vontade de

Deus antes das necessidades ter-renas do homem. Ele adverte-nos contra a oração egoísta.

  1. Jejum (vv. 16-18)

O verdadeiro jejum é o do coração, não apenas o do corpo (veja Os 2:13; Is 58:5). Para os cristãos, o jejum é a preparação para a oração e ou-tros exercícios espirituais. Significa desistir de algo menor para ter um ganho mais excelente, e isso pode envolver comida, descanso ou até sexo (1Co 7:1-46).

  1. A prática diária (vv. 25-34)

O "por isso" de Cristo sugere que agora ele aplicará esse princípio à nossa vida. Ele mostra que a preo-cupação com as coisas materiais é insensatez porque não realiza nada! Ele lembra-nos de pôr nossos valo-res no lugar certo — a vida consiste em mais que alimento e vestimenta. Jesus era pobre, contudo era muito feliz e tinha paz. Paulo afirmou que ele era "pobre [...] mas enrique-

cendo a muitos" (2Co 6:10). Lu-cas 12:13-21 declara que devemos distinguir entre as riquezas verda-deiras (espirituais) e as duvidosas (materiais).

Cristo menciona que Deus cui-da da natureza — as flores, a grama e as aves. "Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros." O Pai conhece nossas necessidades, e, se o pomos em primeiro lugar, ele supre todas as nossas necessidades. Como os crentes de hoje devem praticar Ma-teus 6:33? Para começar, ponha-mos Deus em primeiro lugar todos os dias. Isso significa reservar um tempo para orar e ler a Palavra. Po-nhamos o Senhor em primeiro lugar toda semana, ao comparecer fiel-mente na casa de Deus. Ponhamos o Senhor à frente em todos os dias de pagamento, ao entregar nosso dí-zimo a ele. Ponhamo-lo em primei-ro ao escolher não tomar decisões que o deixem de fora. Ló deixou o Senhor fora de suas decisões e ter-minou na escuridão de uma caver-na cometendo pecados terríveis! Ele, ao escolher um lugar para viver e criar sua família, não pôs Deus em primeiro lugar.

Há paralelos espirituais para as coisas materiais que as pessoas buscam hoje. Temos de alimentar a pessoa escondida em nosso coração com o alimento espiritual da mesma forma que alimentamos nosso corpo (Mt 4:4; 1Pe 3:4). Temos de verificar se nossas vestes espirituais estão em ordem (Cl 3:7-51) da mesma forma que nos amofinamos em relação às vestimentas com que cobrimos nos-so corpo. Bebemos água física, po-rém temos também de beber água espiritual da vida que Cristo nos oferece (Jo 4:13-43; Jo 7:37-43).


Russell Shedd

Comentários da Bíblia por Russell Shedd, teólogo evangélico e missionário da Missão Batista Conservadora.
Russell Shedd - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 34
6.1 Guardai-vos de exercer. Jesus não condena as esmolas (2-4), nem a oração (5-8), nem o jejum (16-18). Não devem estes; porém, ser aproveitados para demonstrações públicas, pois a humildade, e não o orgulho, é a base da comunhão com Deus. Jesus venceu a grande batalha contra Satanás com jejum (4,2) e recomendou-o aos Seus discípulos durante Sua ausência; (9,15) reconhecendo-o como útil para se enfrentar ao diabo (17.21).

6.7 Vãs repetições. Esta era a maneira pagã de "forçar" os deuses e conceder favores que estava em voga com os adoradores de Baal (1Rs 18:26-11).

6.9 Pai nosso. Conforme Lc 11:0; 1Co 15:23-46). Só Deus pode estabelecer Seu próprio Reino.

6.11 De cada dia. Conforme Lc 11:0). Jesus deixa bem claro que a vitória somente se consegue vigiando e orando (26.41; 1Co 10:13).

6.34 Mal. Gr kakos, "mal" (do ponto de vista humano), "dificuldade".


NVI F. F. Bruce

Comentário Bíblico da versão NVI por Frederick Fyvie Bruce, um dos fundadores da moderna compreensão evangélica da Bíblia
NVI F. F. Bruce - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 34
Acerca da verdadeira religião (6:1-18)

O caráter descrito no cap. 5 se expressa em ações exteriores, que coletivamente chamamos de “religião” (Jc 1:26,Jc 1:27) ou “obras de justiça” (v. 1, dikaiosynê, lit., justiça). A qualidade dessas ações não depende de os homens as verem, mas de serem feitas para que os homens as vejam; os que Jesus estava repreendendo, indubitavelmente estavam fazendo-as para Deus também.

Recompensa (v. 1). Para muitos hoje, a dificuldade principal gerada pelo Sermão do Monte é o destaque dado às recompensas, que são citadas nove vezes. Mas esse é um elemento encontrado em todo o NT; e.g., Mt 10:41,Mt 10:42; Jo 4:36; lGo 3.8,14; 9.17,18; He 11:6; 2Jo 1:8; Ap 22:12. Algumas pessoas reagem à graça mais prontamente que outras, e “Deus não é injusto; ele não se esquecerá do trabalho de vocês e do amor que demonstraram por ele, pois ajudaram os santos e continuam a ajudá-los” (He 6:10). Embora os judeus tendessem a elaborar uma relação matemática entre obras e recompensas, mesmo assim reconheciam que estas eram essencialmente uma expressão da graça de Deus (SB IV, p. 487ss). Acerca da natureza da recompensa, v. a seção seguinte.

Esmola (v. 2ss). Dar esmolas era considerado pelos judeus o principal ato de piedade. A necessidade foi criada pelo grande número de pessoas física e psiquicamente incapazes para o trabalho. Havia também muitos desprovidos de terra, que não podiam ter a expectativa de manter suas famílias por meio do seu trabalho ocasional (conforme Mt 20:116 e também Jc 2:14ss; ljo 3:17). No nosso contexto moderno, é do nosso tempo que eles precisam, e não do nosso dinheiro.

A maior parte dos atos de caridade era exercida pela sinagoga como representante da comunidade. Isso tornava a mendicância menos necessária e ajudava a manter os pobres no anonimato. Assim, a ostentação condenada aqui não está no dar aos indivíduos, mas na proclamação pública das somas dadas à comunidade para esse propósito (com trombetas é uma hipérbole muito ilustrativa). Acerca de hipócritas, v. observação no final do capítulo; não há sugestão alguma de que aqui (ou nos v. 5,16; 7,5) os escribas ou fariseus estejam sob ataque especial. Essas práticas não eram exclusivas deles, sua plena recom-pensa\ Era o elogio dos homens; assim, a recompensa de Deus, de que eles abriram mão, é o elogio de Deus, o seu “Muito bem”, mão esquerda [...] mão direita\ Uma expressão ilustrativa sugerindo segredo absoluto. O judaísmo insistia em que a caridade fosse mantida em segredo para não envergonhar o pobre; deve ser algo tão secreto que nós mesmos esquecemos que o ajudamos quando o encontrarmos novamente.

Oração (v. 5-8). Nem a oração comunitária, que Jesus nunca condenou, nem o derramar secreto do coração, que não precisava ser ensinado, estão em consideração aqui, mas a associação comum na época que o indivíduo fazia, não importava onde estivesse, com a oração nacional matutina e vespertina no templo (conforme At 3:1-10.3,30). Era fácil tomar providências na época para se colocar em um lugar de destaque. Era normal orar em pé. O uso de “vãs repetições” (ARA) é conhecido como uma fraqueza dos gentios, embora o Livro de Oração dos Judeus também tenha alguns exemplos. A oração não tem a intenção de ser um jogo de memória para Deus (v. 8), mas um meio pelo qual os desejos do cristão são colocados debaixo do escrutínio de Deus, e a pessoa que ora é lembrada do caráter, da vontade e dos propósitos de Deus.

A oração-padrão (v. 9-13). Conforme Lc 11:2

4. Quando a comunidade e o indivíduo consciente da sua unidade com a comunidade estão orando, alguma orientação a respeito do escopo da sua oração é necessária (a oração totalmente privada não está em consideração aqui). A variante abreviada e ligeiramente diferente em Lc 11, a omissão de qualquer confissão anterior de pecados e a ausência de uma doxologia no final (a que está na 5A é bem antiga mas certamente não é original) juntas sugerem que temos aqui uma orientação e um quadro geral para nossos pedidos, mas não uma fórmula fixa.
Sou membro de uma comunidade, por isso digo nosso\ fui aceito como filho, assim digo Pai. nos céus me lembra que não há nem incapacidade para dar nem exagero em dar. Eu oro primeiro para que Deus tenha o seu lugar de direito entre os homens. A forma mais próxima do nosso significado moderno provavelmente seja “que o seu nome seja honrado” (Phillips) ou “que o seu nome seja reverenciado” (Filson); nome “significa como Deus se revelou” (Filson). A oração pela vinda do Reino (conforme comentário Dt 4:17) não é meramente pela segunda vinda de Cristo, mas também por sujeição da sociedade e do indivíduo à vontade dele. O Reino sugere submissão, mas a vontade de Deus pode ser feita até mesmo por aqueles que se rebelam contra a sua própria vontade, assim na terra como no céu\ Aplica-se às três petições introdutórias.

de cada dia (epiousios): Foi encontrada somente uma ocorrência dessa expressão em escritos não-cristãos, de modo que o seu significado é incerto; isso se mostra pelas interpretações variantes do início da história da Igreja. Pode bem significar “porção diária” (conforme Arndt, p. 296-7) ou “pão para o futuro imediato” (Tasker). dívidas [...] devedores'. Não há justificativa para a tradução “transgressões” em algumas versões. A transgressão na Bíblia tem a conotação de rebeldia, e qualquer pecado desse tipo teria de ser confessado antes que uma pessoa pudesse pensar em orar normalmente. No máximo, o que se tem em mente com dívidas são nossas insuficiências (“pecados”, Lc 11:4) e o nosso fracasso em dar a Deus a honra que lhe é devida, assim como perdoamos (aphêkamen, um aoristo e, portanto, um fato) àqueles que menosprezaram a nossa auto-estima. “E não nos induzas à tentação” (nr. da NVI; conforme Jc 1:2,Jc 1:3 e comentário Dt 4:1-5): As tentações são principalmente culpa nossa (Jc 1:13,Jc 1:14); o teste é uma necessidade divina para revelar a realidade da nossa fé e das nossas afirmações. Devemos recuar diante do teste, mas, quando vem o tempo em que precisamos passar por ele, pedimos por livramento durante o teste, do maí. Muitas versões trazem “do Maligno” (como na nr. da NVI). O grego é ambíguo, mas em termos gerais a versão personalizada é melhor, pois Deus usa Satanás como aquele que executa o teste. É possível que a expressão aramaica originária também fosse ambígua.

Um aspecto preliminar à oração (v. 14,15). Conforme 18:23-35; Mc 11:25. Algumas consciências cauterizadas inutilmente tentam evitar a força dessa advertência ao argumentarem que ela não se aplica aos cristãos. Outros tentam fingir que suas circunstâncias são tão peculiares que estão acima das Escrituras. Se o homem regenerado se negar a perdoar a injustiça que foi cometida contra ele, na verdade se separa da comunhão com Deus, que é o Perdoador, até que perdoe. Se o homem supostamente regenerado é caracterizado por um espírito não perdoador, isso é o sinal mais claro de que ele nunca nasceu de novo (ljo 3:10-14,15).

O jejum (v. 16-18). Uma pessoa sob prolongado estresse emocional tende a evitar a comida normal. Daí que o jejum, sem uma ordem registrada de Deus, tornou-se um procedimento natural do penitente e de todos que se sentiam sob a ira divina para se aproximarem de Deus. Na Lei, o jejum é ordenado somente para o Dia da Expiação (Lv 16.29,31; Nu 29:7), em que se diz ter a função de “afligir a alma” (RV), o que sugere a natureza essencialmente dupla do verdadeiro jejum; não deve ser uma questão só do corpo. O jejum é mencionado com fre-qüência em outros trechos do AT, e de fato é considerado algo comum. No NT, não é ordenado em lugar nenhum — os versículos citados em apoio a isso, e.g., Mt 17:21; Mc 9:291Co 7:5; At 10:30, são tomados de manuscritos inferiores que foram corrompidos pelo crescente ascetismo na 1greja. Cristo menciona o jejum como algo que vai acontecer (e.g., 9.15; conforme At 13:2-3) e regulamenta a sua prática. Além disso, ao jejuar no deserto (4.2), ele mostrou que o jejum poderia ter grande importância espiritual.

Evidentemente Jesus não está chamando o crente a se afastar e se dissociar do jejum da comunidade, mas está falando do jejum voluntário (v.comentário Dt 9:14), seja regular, seja ocasional (isso é evidenciado pela sintaxe gr.). Esse jejum é um assunto entre a pessoa que jejua e Deus. v. 17. “unja a cabeça” (nr. da NVI): A auto-unção com óleo era uma prática comum, evitada somente em épocas de luto e jejum. Jesus não disse aos seus discípulos que apresentassem uma aparência de alegria, mas que se comportassem normalmente. A cabeça é mencionada especialmente por ser a única parte do corpo em que o ungir-se seria evidente. Além disso, a pessoa que jejuava ou estava de luto com freqüência colocava cinzas sobre a cabeça (cf. 2Sm 13:19).

Acerca da confiança em Deus (6:19-34)
Na época do NT, e, aliás, até a nossa época, a comunidade judaica local cumpria o papel do Estado moderno que dá assistência social aos seus cidadãos, mas suas finanças eram normalmente precárias, e os que eram ajudados por ela não alcançavam status com isso. Essa seção se ocupa tanto da segurança do indivíduo quanto do seu status.

O verdadeiro tesouro (v. 19-21). Conforme Lc 12:33,Lc 12:34. Os tesouros orientais normalmente consistiam em prata e ouro e também em roupas caras (conforme Gn 45:22; 2Rs 5:23). Aqui a traça e a ferrugem estão associadas às roupas, e os ladrões, à prata e ao ouro. Que a pessoa pudesse transferir os tesouros para os céus é uma idéia encontrada com freqüência no pensamento judaico da época. Com Jesus, a motivação não é a recompensa no céu, como no caso dos rabinos, embora isso não seja negado, mas a transferência da afeição e do amor.

Os olhos sadios (v. 22,23). Conforme Lc 11:34ss. A Mishná diz: “Estas são coisas cujo fruto o homem aprecia neste mundo enquanto o capital está sendo depositado para ele no mundo por vir: honrar pai e mãe, atos de misericórdia, gerar paz entre um homem e seu próximo; e o estudo da Lei que equivale a todas as outras” (Peah, 1.1). Jesus estava falando menos a homens somente voltados para as coisas deste mundo, e mais àqueles que pensavam em termos de “tanto [...] quanto”. Assim, ele lhes conta a parábola dos “olhos bons”. O significado exato de haplous é difícil de estabelecer. Do sentido fundamental “singular”, avançamos para “sincero”, “sadio” e, finalmente, para “generoso”, “bom”. O homem que fixar os olhos em Deus (céu) vai dar generosamente sem pestanejar. O homem que tentar olhar para Deus e o mundo ao mesmo tempo não vai ver nenhum dos dois claramente, ou melhor, não vai ver nada.

O escravo com dois senhores (v. 24). Conforme Lc 16:13. SB e Schniewind destacam que era possível na época um escravo ser compartilhado por dois senhores. Apesar da evidência rabínica, Jesus está falando da impossibilidade disso na prática. “Um homem pode trabalhar para dois empregadores, mas nenhum escravo pode ser propriedade de dois senhores” (M’Neile). “Mamom” (nr. da NVI), uma palavra de etimologia incerta, era usada na linguagem da época para dar a idéia de propriedade em geral. Não é o nome de um deus pagão, mas a palavra aramaica é mantida para sugerir que a propriedade pode se tornar um senhor e até mesmo um deus.

Ansiedade (v. 25-34). Conforme Lc 12:22-42. “Não andeis cuidadosos” (ACF) é uma tradução enganosa que pode dar munição exagerada tanto ao cético quanto ao fanático. Merimnaõ significa “estar ansioso, preocupado”; seu uso em Lc 10:41 ilustra a sua força, v. 25. Portanto: Os v. 19-24 mostraram que não pode haver satisfação nem proveito na atitude “tanto [....] quanto”, por isso precisamos optar: “ou [...] ou”, vida (psychê) [...] corpo: Jesus está usando palavras do AT aqui e não está falando do fato da vida, mas da personalidade do homem (traduzido erroneamente por “alma” em algumas versões) e do corpo por meio do qual ela (a personalidade) conhece o mundo e se dá a conhecer a ele. O corpo precisa de alimento para a sua preservação; a personalidade, roupas para sua proteção e honra (Schktter). Mas a personalidade {vida) e o corpo são dádivas de Deus; portanto, será que ele não daria também o que é de importância menor? Os comentaristas estão praticamente divididos entre o texto e a formulação na nota textual no v. 27, mas tanto o contexto quanto o uso normal de hêlikia favorecem “extensão de vida”. Aliás, poucas coisas encurtam a vida mais do que as preocupações. O homem é melhor do que as aves e os lírios do campo (“flores silvestres”, Phillips — não importa qual tenha sido a flor designada por krinon, não seria chamada de “lírio” hoje) com base na ordem da criação. O comportamento da ave e da flor é o que lhes foi atribuído na criação. O homem não deve imitá-las, mas desempenhar o seu papel na criação (conforme v. 33); se ele fizer isso, pode ter certeza do cuidado de Deus. Os pagãos (v. 32) não são mencionados em tom de condenação, mas porque eles não conhecem a ordem na criação de Deus. Os que conhecem a revelação de Deus se comportam de maneira desnaturai se fazem o que aqueles que não a conhecem fazem naturalmente; aí eles se transformam em homens de pequena fé (v. 30).

Até esse ponto, Jesus falou dos problemas conhecidos que fazem o homem se preocupar. No v. 34, ele passa aos que ainda são desconhecidos. Quando o amanhã trouxer o conhecimento deles, também trará a resposta a eles.
Observação sobre hipócritas: Hipócrita, que é simplesmente uma palavra grega escrita em letras portuguesas, ocorre no NT somente nos Evangelhos sinópticos e sempre nos lábios de Jesus. Nós a encontramos 13 vezes em Mateus (6.2,5.16; 7.5; 15.7; 22.18; 23.13 15:23-25,27,29; 24.51), uma vez somente em Marcos e três vezes em Lucas. Em Mateus, é usada de forma geral cinco vezes e, nas outras oito vezes, especificamente acerca dos “escribas e fariseus”.

Na época do NT, a palavra tinha um campo semântico muito amplo, mas a idéia de um homem mau tentando ser bom não estava entre os sentidos possíveis. É possível que a palavra “ator” satisfaça todas as ocorrências do NT; certamente é satisfatória no Sermão do Monte. Mesmo quando se aplica aos escribas e fariseus, temos a impressão de que eles estavam tão convictos da justiça e correção da sua posição e ações que se achavam cegos para os seus erros.

O fato de que a palavra é usada somente por Jesus, com o seu conhecimento singular do caráter e da motivação do homem, deveria nos fazer pensar duas vezes antes de julgar as pessoas que ele assim criticou. V. tb. “Hipócrita”, NBD, e a literatura mencionada aí.


Moody

Comentários bíblicos por Charles F. Pfeiffer, Batista
Moody - Comentários de Mateus Capítulo 5 do versículo 1 até o 29


4) Sermão da Montanha. 5:1 - 7:29.

É o mesmo discurso registrado em Lc 6:20-49, pois as diferenças podem ser harmonizadas ou explicadas, e a semelhança entre os começos, finais e assuntos tornam a identificação extremamente provável. Além disso, os dois registros falam da cura do servo do centurião logo a seguir. A objeção de que Matem coloca este discurso antes de sua própria vocação (Mt 9:9; contrasta com Lc 5:27 e segs.) explica-se por sua falta de ordem cronológica estrita por toda parte. Daí, considerando que Mateus descreveu as atividades de Cristo na proclamação da chegada do Reino (Mt 4:17, Mt 4:23), foi acertado incluir para os seus leitores um exame completo deste assunto feito por Jesus. Concluise que o Sermão da Montanha não é, em primeiro lugar uma declaração de princípios para a Igreja cristã (que na ocasião ainda não fora revelada), nem uma mensagem evangelística para os perdidos, mas um esboço de princípios que caracterizariam o reino messiânico que Cristo anunciava. Mais tarde, a rejeição do seu Rei por parte de Israel, atrasou a vinda do seu reino, mas ainda agora os cristãos, tendo declarado a sua fidelidade ao Rei e tendo sido preparados espiritualmente para a antecipação de algumas das bênçãos do seu reino (Cl 1:13), podem perceber o ideal de Deus neste sublime discurso e concordarão com seus altos padrões.


Moody - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 5 até o 15

5-15. Segundo exemplo: oração. Em pé nas sinagogas. Era o modo costumeiro (Mc 11:25, Lc 10:22; Jo 11:41,Jo 11:42), mas sim a exibição vaidosa. A oração particular é o melhor treinamento para a oração pública. Omite publicamente (ERC). Vãs repetições (tagarelice) são características das orações pagãs (ou gentias), como a ostentação é dos hipócritas. Tal atitude é como se a oração fosse um esforço para vencer a má vontade de Deus em responder, cansando-o com palavras. Entretanto não é a mera extensão ou repetição que Cristo condena (Jesus orou a noite inteira, Lc 6:12, e repetiu seus pedidos, Mt 26:44), mas a motivação indigna que induz tais atos religiosos.

Jesus continua dando um exemplo de uma oração aceitável, que é uma maravilha no seu largo alcance e brevidade. No entanto, certamente não deve ser repetida supersticiosamente (a atitude que Cristo estava execrando, v. Mt 6:7) e ela não incorpora todos os seus ensinamentos sobre oração (conferir com Jo 16:23, Jo 16:24), mas pode ser usada (não apenas recitada) com sinceridade por todos os verdadeiros crentes. Os cristãos certamente perceberão, à luz de revelação posterior, que a oração é possível com base nos méritos de Cristo.

Nosso Pai. Uma maneira incomum de começar uma oração no V.T., mas preciosa a todos os crentes do N.T. Os três primeiros pedidos da oração referem-se a Deus e ao seu programa; os quatro últimos, ao homem e suas necessidades. Santificado. O significado aqui é "seja reverenciado e tratado como santo". Venha o teu reino. O reino messiânico. Não apenas judeus mas todos os crentes em Cristo deveriam ter um interesse vital pela sua chegada.

O pão nosso de cada dia. O primeiro pedido pelas necessidades pessoais emprega um termo, cada dia, encontrado apenas uma vez no grego secular (Arndt. pág. 296). As opiniões quanto ao seu significado variam entre "diário", "necessário para a existência" e "dia seguinte". Perdoa-nos as nossas dívidas. Os pecados tidos como dívidas morais e espirituais para com a justiça de Deus. Esses não são os pecados dos não-regenerados (esta oração foi ensinada apenas aos discípulos), mas de crentes, que precisam confessá-los. Assim como nós perdoamos. O perdão dos pecados, quer sob a lei mosaica ou na 1greja, sempre é pela graça de Deus e com base na expiação de Cristo. Entretanto, o caso de um crente confessando seu pecado e pedindo o perdão de Deus enquanto guarda rancor contra outra pessoa, além de ser incongruente, é também hipócrita. É mais fácil ter-se um espírito perdoador quando o cristão considera quanto Deus já lhe perdoou (Ef 4:32). A falta de perdão é o pecado e deve ser confessado como tal. E não nos deixes cair em tentação. Conferir com Jc 1:13,Jc 1:14; Lc 22:40. Uma declaração de que Deus, na sua providência, poupará o suplicante das tentações desnecessárias. A doxologia em Mt 6:13.


Francis Davidson

O Novo Comentário da Bíblia, por Francis Davidson
Francis Davidson - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 18
d) Esmolas, oração e jejum (Mt 6:1-40. Neste trecho paralelo de Lucas, lemos "quando orardes dizei" (Lc 11:2). A oração que segue serve como modelo e como oração a ser repetida. Pai nosso (9). Somente um filho de Deus, uma pessoa que nasceu de novo, pode fazer uso corretamente desta oração. Santificado (9), isto é, considerado com toda a reverência santa. Teu nome (9). Subentende o caráter ou essência de Deus, e que Ele realmente é. Venha o teu reino (10). O reino virá quando o último inimigo estiver destruído, à volta do Senhor (ver 1Co 15:24-46). Assim na terra como no céu. Cumprir-se-á "nos novos céus e nova terra" (cfr. 2Pe 3:13). Cada dia (11), gr. epiousion. Esta palavra é desconhecida fora de seu uso aqui e no trecho paralelo de Lucas. Não significa "cotidiano". Os teólogos não concordam ainda se significa para hoje ou para amanhã. Ver Lc 11:3 n. Dívidas (12). Todo pecado constitui uma dívida perante Deus. Como nós perdoamos (12). O perdão divino não é concedido por perdoarmos aos outros e o perdão humano deve imitar o divino. Não nos induzas... (13). A mesma idéia ocorre em Lc 21:36. Teu reino... amém (13). Esta frase é omitida em alguns textos. Constitui uma afirmação de fé completando assim a oração.

É notável que a única frase na oração, que merecesse comentário especial de Nosso Senhor, é aquela que trata do perdão (14-15). Como em Mc 11:21-41, a ética de amor e de perdão é inseparável da justificação pela fé. Para aceitar a graça de Deus livremente, com consciência pura, é imprescindível compreender que Cristo sofreu a pena de pecado na cruz. Isto significará que nunca mais podemos insistir sobre o castigo de outrem ou a retribuição do mal, mas deveremos mostrar o amor e o perdão a todos livremente. Compare-se Mt 18:32, Mt 18:35. Quando jejuardes (16). No contexto, há uma conexão entre o jejum e a oração e aquele, como esta, é uma prática secreta entre o indivíduo e seu Deus.


John MacArthur

Comentario de John Fullerton MacArthur Jr, Novo Calvinista, com base batista conservadora
John MacArthur - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 34

33. Dar sem hipocrisia (Mateus 6:1-4)

Beware de praticar a vossa justiça diante dos homens para serem notadas por eles; caso contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus.
Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para que possam ser honrados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você der esmola, não deixe que a sua mão esquerda saiba o que sua mão direita está fazendo que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (6: 1-4)

Mateus 5:21-48 incide sobre o ensino da lei sobre o que os homens acreditam, e 6: 1-18 centra-se na prática da lei, o que os homens fazem. A primeira seção enfatiza interior moral seis ilustrações representativas em relação assassinato, adultério, divórcio, juramentos, vingança e amor que dá a justiça. Esta segunda seção enfatiza três ilustrações representativas-dando justiça exterior formais da atividade religiosa. O primeiro tem a ver com dar, nossa religião como ele age em relação aos outros (vv 2-4.); o segundo com a oração, a nossa religião como ele age em direção a Deus (vv 5-15.); eo terceiro com o jejum, a nossa religião como ele age em relação a nós mesmos (vv. 16-18).

O perigo da Justiça Falsa

Beware de praticar a vossa justiça diante dos homens para serem notadas por eles; caso contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus. (6: 1)

Este verso apresenta a seção sobre as formas de justiça religiosa e aplica-se a cada um dos três ilustrações em 6: 2-18.
A história é contada de um homem santo asceta oriental que se coberto de cinzas como um sinal de humildade e regularmente se sentou em uma esquina proeminente de sua cidade. Quando os turistas pediu permissão para tirar sua foto, o místico iria reorganizar suas cinzas para dar a melhor imagem da miséria e humildade.
Uma grande quantidade de religião equivale a nada mais do que a reorganização "cinzas" religiosos para impressionar o mundo com a própria suposta humildade e devoção. O problema, claro, é que a humildade é uma farsa, e a devoção é para si mesmo, não a Deus. Tal religião não é nada mais do que um jogo de fingimento, um jogo em que os escribas e fariseus do tempo de Jesus eram mestres. Porque a sua religião era principalmente um ato, e um escárnio do verdadeiro caminho revelado de Deus para o seu povo, as denúncias mais bolhas de Jesus foram reservados para eles.

Mas eles não eram o original ou os últimos hipócritas. Desde a queda do homem houve hipócritas. Hipócritas são mencionados na Bíblia, de Gênesis a Apocalipse. Cain foi o primeiro hipócrita, fingindo adoração, oferecendo um tipo de sacrifício que Deus não queria. Quando sua hipocrisia foi desmascarada, ele matou seu irmão Abel por ressentimento (Gn 4:5-8). Absalão hipocritamente jurou lealdade a seu pai, o rei Davi, ao traçar a derrubada de seu regime (2 Sam. 15: 7-10).

O hipócrita supremo era Judas 1scariotes, que traiu o Senhor com um beijo. Ananias e Safira hipocritamente alegou ter dado à igreja todos os recursos obtidos com a venda de alguns bens, e perderam suas vidas por mentir para o Espírito Santo (Atos 5:1-10).

Hipócritas são encontrados no paganismo, no judaísmo e no cristianismo. Havia hipócritas na igreja primitiva, a igreja medieval, ea igreja Reforma. Ainda há hipócritas na igreja hoje, e Paulo nos assegura que haverá hipócritas no final da época. "Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, ea doutrinas de demônios, por meio da hipocrisia de mentirosos marcados a ferro em sua própria consciência, como com um ferro em brasa" (1 Tim. 4: 1-2). Hipocrisia é endêmica para o homem caído, parte integrante de sua natureza carnal. A perseguição da igreja ajuda a diminuir o número de hipócritas, mas mesmo isso não pode eliminá-los completamente.

Hipocrisia nunca é tratado com ligeireza nas Escrituras. Através Amos, Deus disse: "Eu odeio, desprezo as vossas festas, nem me deliciar-se com as vossas assembléias solenes Mesmo que você tem a oferecer-se para mim holocaustos, ofertas de alimentos, não vou aceitá-las;. E eu não vou nem olhar . para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, eu não vou nem ouvir o som de suas harpas Mas deixar que a justiça corra como água ea rectidão como um ribeiro perene "(Am 5:1). O Senhor continuou declarando Seu descontentamento também com ofertas inúteis, incenso, new moon e sábados festivais, e orações hipócritas (vv. 13-15). Deus queria que a pureza ea justiça, não rituais superficiais. "Lavai-vos, tornar-se limpos", disse Ele; . "Remover o mal de seus atos de minha vista Cessar de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, buscar a justiça, convencerá o implacável;. Defender o órfão, defendei a causa da viúva Vinde então, e argüi-me ... Ainda que os vossos pecados. são como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, eles serão como a lã "(vv 16-18.).

Chamadas similares para substituir cerimônia superficial com justiça genuína são encontrados nos outros profetas literários (Jr 11:19-20; Amós 4:4-5.; Mic 6: 6-8; etc..), Bem como no livro de Jó (08:13 15:34-36:13).

Uma fábula de Esopo conta a história de um lobo que queria ter uma ovelha para o seu jantar e decidiu se disfarçar como uma ovelha e siga o rebanho para o rebanho. Enquanto o lobo esperou até que as ovelhas foi dormir, o pastor decidiu que teria de carneiro para a sua própria refeição. No escuro, ele escolheu o que ele achava que era o maior, o mais gordo ovelhas; mas depois que ele havia matado o animal que ele descobriu que era um lobo. O que o pastor fez inadvertidamente a um lobo em pele de cordeiro, Deus faz intencionalmente. O Senhor juízes hipocrisia.

Falando aos escribas e fariseus, em certa ocasião, Jesus disse: "Justamente profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: 'Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens "(Marcos 7:6-7).

Jesus usou muitas figuras para descrever hipocrisia. Ele comparou-o com fermento (Lc 12:1), túmulos escondidos (Lc 11:44), joio em meio ao trigo (Mt 13:25), e os lobos em pele de cordeiro (Mt 7:15).

Nos tempos do Novo Testamento, algumas pessoas ganhavam a vida como carpideiras profissionais que foram pagas para chorar, choro, e rasgar suas vestes em funerais e em outras ocasiões de tristeza (conforme Mt 9:23). Diz-se que algumas carpideiras tiveram o cuidado de rasgar suas roupas em uma emenda, de modo que o material poderia ser facilmente costurados para a próxima luto. Ambas as carpideiras profissionais e aqueles que os contratou eram hipócritas, contratação e sendo contratado para colocar em uma tela de luto que foi inteiramente pretensão.

Prosechō ( cuidado ) significa para segurar, ou tomar posse, algo e prestar atenção a ela, especialmente no sentido de estar em guarda. Os escribas, fariseus e outros hipócritas são avisados ​​por Jesus paracuidado das atividades religiosas em que tinham tanto orgulho e confiança. Ele estava prestes a mostrar-lhes mais uma vez como inútil, sem sentido, e inaceitável a Deus essas atividades eram.

Theaomai ( para ser notado ) está relacionado com o prazo a partir do qual obtemos teatro. Ele tem em mente um espetáculo para ser olhou. Em outras palavras, Jesus está advertindo sobre praticando uma forma de justiça ( dikaiosune , atos de devoção religiosa em geral), cujo objectivo é mostrar diante dos homens . Tal religião é como um jogo; não é vida real, mas na qualidade. Ele não demonstra o que está nas mentes e corações dos atores, mas é simplesmente um desempenho projetado para fazer uma certa impressão sobre aqueles que estão assistindo.

Tais práticas atingir teatral justiça , realizada para impressionar em vez de servir e para ampliar os atores, em vez de Deus. O objetivo é agradar a homens, não de Deus, e as atividades não são vida real, mas uma exposição. Essa falsa justiça, Jesus nos garante, nunca irá beneficiar uma pessoa para o reino de Deus (Mt 5:20).

Justiça falsa como a que tem uma recompensa-o reconhecimento e aplausos de outros hipócritas e de pessoas ignorantes. Isso, no entanto, é o limite da honra, porque Jesus diz aqueles que praticam tais justiça hipócrita, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu. Deus não recompensar para agradar aos homens (conforme Mt 5:16), porque roubar-lhe glória. É ele deve notar-se que o vosso Pai é usado no mesmo sentido como em 05:16, como uma referência ao sentido do Antigo Testamento em que Deus era o pai de Israel (Is 63:16), não no sentido do Novo Testamento da relação pessoal pela salvação (ver Mt 6:9). Quando israelitas libertou um escravo que foi dito: "Você não deve mandá-lo embora de mãos vazias Você deverá entregar-lhe liberalmente do seu rebanho e da tua eira e do seu lagar;. Darás a ele como o Senhor teu Deus tem abençoou "(13 5:15-14'>Deut. 15: 13-14): o povo de Deus foram constantemente lembrados nos Salmos, Provérbios, e escritos proféticos para ser considerado de e generoso para com os pobres, se co-israelitas ou gentios estranhos.

Jesus e os discípulos tinham o seu próprio saco de dinheiro a partir do qual eles deram ofertas para os pobres (Jo 13:29). É óbvio, portanto, que ele só está dando esmolas no espírito errado que é mau. Os escribas e fariseus lhes deu principalmente para trazer honra para si, não para servir os outros ou para honrar a Deus.

A doação de esmolas tinha sido levada a extremos absurdos pela tradição rabínica. Nos livros apócrifos judaicos lemos coisas como, "É melhor dar a instituições de caridade do que juntar o ouro para a caridade salvará o homem da morte, que irá expiar qualquer pecado." (Tobias 12: 8) e, "Como água vai apagar um fogo flamejante, de modo a caridade vai expiar o pecado "(A Sabedoria de Siraque 03:30).Consequentemente, muitos judeus acreditavam que a salvação era muito mais fácil para os ricos, porque eles poderiam comprar o seu caminho para o céu, dando aos pobres. O mesmo princípio mecanicista e anti-bíblico é visto em dogma católico tradicional romana. Papa Leão Magno declarou: "Pela oração buscamos apaziguar Deus, pelo jejum que extinguir a concupiscência da carne, e por esmolas nós redimir nossos pecados."
Mas, assim como um sentimento de simpatia para alguém em necessidade não ajudá-los a menos que algo é dado para satisfazer as suas necessidades, dando-lhes dinheiro não fornece nenhum benefício ou bênção espiritual a menos que seja dado de coração. Em qualquer caso, nenhum ato de caridade ou qualquer outro bom trabalho pode expiar o pecado.
Não parece haver nenhuma evidência da história ou arqueologia que um literal trompete ou outro instrumento foi usado pelos judeus para anunciar a sua doação. A figura foi usada por Jesus para descrever a atenção nas sinagogas e nas ruas que muitos ricos hipócritas , não apenas escribas e fariseus, propositAdãoente atraiu para si mesmos quando eles apresentaram seus presentes.

A recompensa que eles queriam era o reconhecimento e louvor, para serem glorificados pelos homens , e que tornou-se sua plena recompensa. Eles têm a sua recompensa foi uma forma de expressão técnica usada na conclusão de uma transação comercial, e levou a idéia de algo a ser pagos na totalidade e liquidada: Nada mais foi devido ou seria pago. Aqueles que dão para o propósito de impressionar os outros com sua generosidade e espiritualidade receberá nenhuma outra recompensa, especialmente da parte de Deus. O Senhor lhes deve nada. Quando damos para agradar aos homens, a nossa únicarecompensa será aquela que os homens podem dar. Buscando bênçãos dos homens perde Deus.

Há muitas trombetas mais sutis pessoas podem usar para chamar a atenção para as suas boas obras. Quando eles fazem questão de fazer publicamente o que eles poderiam facilmente fazer em privado, eles se comportam como os hipócritas , não como filhos de Deus.

Um homem entrou em meu escritório um domingo e me disse que era a primeira vez dele para adorar com a gente e que tinha a intenção de fazer a nossa igreja de sua casa igreja. Ele, então, me entregou um cheque generoso, com a promessa de que eu iria receber um igualzinho a cada semana. Eu lhe disse que não queria receber seus cheques pessoalmente e sugeriu que ele deveria dar anonimamente como o resto da família da igreja fez. Se ele tivesse continuado a dar uma grande quantidade todos os domingos, não havia nenhuma boa razão para ele ter anunciado a sua generosidade para mim ou para qualquer outra pessoa. Quanto melhor para ele simplesmente ter colocado a seleção na oferta durante um culto.
Às vezes, é claro, a pretensão não mostra. Sabendo que é errado dar ostensivamente e que os irmãos cristãos tendem a se ressentir-lo, às vezes tentamos fazer nossas boas obras "acidentalmente" notado. Mas mesmo se nós só queremos que as pessoas percebam, e não fazer nada para atrair a sua atenção, o nosso coração motivo é serem honrados pelos outros . O sopro trombeta real, a hipocrisia de base, é sempre no interior, e é aí que Deus julga. Justiça hipócrita, assim como a verdadeira justiça, começa no coração.

Infelizmente, muitas organizações cristãs usar métodos não-cristãos para motivar o apoio de seus ministérios. Quando os certificados emoldurados, nomes publicados de apoiantes generosos, e outros reconhecimentos são oferecidos para estimular a doação, a hipocrisia é promovido em nome de Cristo. É tão errado para apelar aos motivos errados como ter motivos errados. "É inevitável que tropeços vir", disse Jesus; "Mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!" (Mt 18:7).

No começo do Sermão da Montanha, Jesus tinha especificamente ordenou: "Brilhe a vossa luz diante dos homens, de tal forma que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mt 5:16). A questão não é se deve ou não as nossas boas obras que ele deveria visto pelos outros, mas se elas são feitas para esse fim. Quando são feitos "de tal maneira" que a atenção e glória estão focados em nosso "Pai que está nos céus", e não em nós mesmos, Deus se agrada. Mas se eles são feitos para ser notado por homens (6: 1), eles são feitos de auto-retidão e hipocritamente e são rejeitados por Deus. A diferença está no propósito e motivação. Quando o que fazemos é feito com o espírito certo e para a Proposito correta, quase inevitavelmente ser feito da maneira certa.

Os ensinamentos de Mt 5:16 e 6: 1 são muitas vezes pensou em conflito uns com os outros, porque não é reconhecido que eles se relacionam com diferentes pecados. A discrepância é apenas imaginário.Na primeira passagem Jesus está lidando com a covardia, enquanto que na segunda ele está lidando com a hipocrisia. AB Bruce dá a explicação útil, "Estamos a mostrar quando tentado se esconder e se esconder quando tentados a mostrar"

Nunca na história da igreja têm sido cristãos tão bombardeados com apelos para dar dinheiro, muitos deles a causas legítimas e que valem a pena. Saber como e onde dar é, por vezes extremamente difícil. Os cristãos devem dar forma regular e sistemática ao trabalho de sua igreja local. "No primeiro dia de cada semana, cada um de vós ponha de lado e salvar, conforme a sua prosperidade" (1Co 16:2).

Doar é descrito no Antigo Testamento como parte do ciclo da bênção de Deus. "O homem generoso será próspero, e o que rega vai ser regada a si mesmo" (Pv 11:25). Como damos, Deus abençoa, e quando Deus nos abençoa damos novamente para fora do que Ele nos deu. "Você deve celebrar a festa das semanas ao Senhor teu Deus com uma homenagem de uma oferta voluntária de sua mão, o que lhe dará exatamente como o Senhor teu Deus te abençoe" (Dt 16:10). Estamos a dar livremente para fora do que Deus tem dado gratuitamente.

O ciclo não se aplica apenas ao material que dá, mas a todas as formas de dar o que é feito com sinceridade para honrar a Deus e para atender à necessidade. O caminho do povo de Deus sempre foi a maneira de dar.

De Escritura que aprendemos de pelo menos sete princípios para guiar-nos em dar nonhypocritical. Em primeiro lugar, dar de coração está investindo com Deus. "Dai, e dar-se-á dado; boa medida, recalcada, sacudida, atropelamento, eles vão deitar em seu colo por pelo seu padrão de medida que será usada para medir vocês em troca." (Lc 6:38 ). Paulo ecoa as palavras de Jesus: "E agora digo isto, aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; eo que semeia com fartura com abundância também ceifará com fartura" (2Co 9:6). Generosidade não é medida pelo tamanho do presente em si, mas pelo seu tamanho em comparação com o que é possuído. A viúva que deu "duas pequenas moedas de cobre" para o tesouro do Templo deu mais do que todos os "muitas pessoas ricas [que] foram colocando em grandes somas", porque "todos eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua pobreza , deu tudo o que possuía, tudo o que tinha para viver »(Mc 12:41-44).

Em terceiro lugar, a responsabilidade para a doação não tem nenhuma relação com o quanto uma pessoa tem. Uma pessoa que não é generoso quando ele é pobre não vai ser generoso se ele se tornar rico. Ele pode, então, dar uma quantidade maior, mas ele não vai dar uma proporção maior. "Quem é fiel no pouco, coisa que também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco, também é fiel no muito" (Lc 16:10). É extremamente importante ensinar as crianças a dar generosamente ao Senhor com o que quer que pequenas quantidades de dinheiro que recebem, porque as atitudes e padrões que se desenvolvem como as crianças tendem a ser os que se seguem quando eles são cultivados. Dar não é uma questão de quanto dinheiro se tem, mas de quanto amor e cuidado está no coração.

Em quarto lugar, a doação de material se correlaciona com as bênçãos espirituais. Para aqueles que não são fiéis com coisas mundanas, como dinheiro e outros bens, o Senhor não vai confiar coisas que são de muito maior valor. "Se, portanto, você não fostes fiéis no uso das riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras riquezas para você? E se não fostes fiéis no uso do que é do outro, quem vos dará o que é vosso? " (Lucas 16:11-12).

Muitos jovens abandonaram seminário porque não conseguia lidar com o dinheiro, e que o Senhor não queria que eles em seu ministério. Outros começaram no ministério, mas depois desistiu, pelo mesmo motivo. Outros, ainda, permanecer no ministério, mas produzem poucos frutos porque Deus não vai cometer o cuidado das almas eternas para eles quando não pode mesmo controlar suas próprias finanças.Influências espirituais e eficácia tem muito a ver com a forma como as finanças são manipulados.

Em quinto lugar, a doação deve ser determinado pessoalmente. "Que cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria" (2Co 9:7). Os crentes filipenses deram, da generosidade espontânea de seus corações, não porque sentiu-se compelido (Fp 4:15-18.).

Em sexto lugar, estamos a dar em resposta à necessidade. Os primeiros cristãos em Jerusalém compartilhou seus recursos sem reservas. Muitos de seus companheiros crentes tinham se tornado destituídos quando esperamos em Cristo e foram condenados ao ostracismo de suas famílias e perdeu o emprego por causa de sua fé. Anos mais tarde, Paulo recolhido dinheiro das igrejas da Galácia para ajudar a atender as grandes necessidades que continuaram a existir entre os santos em Jerusalém e que tinha sido intensificadas pela fome.

Sempre houve charlatães que fabricam necessidades e jogar com a simpatia dos outros. E sempre houve mendigos profissionais, que são capazes de trabalhar, mas prefiro não. Um cristão não tem responsabilidade de apoiar essas pessoas e deve tomar cuidados razoáveis ​​para determinar se e quando existe necessidade real antes de dar seu dinheiro. "Se alguém não vai funcionar", diz Paulo, "não coma" (2Ts 3:10). Indolência encorajador enfraquece o caráter daquele que é indolente e também desperdiça o dinheiro do Senhor. Mas onde necessidade real não existe, a nossa obrigação de ajudar a atender também existe.

Em sétimo lugar, a doação demonstra amor, não a lei. O Novo Testamento não contém comandos para montantes ou percentagens de dar especificados. O percentual damos será determinado pelo amor de nossos próprios corações e as necessidades dos outros.
Todos os princípios anteriores apontam para a obrigação de dar generosamente porque estamos investindo na obra de Deus, porque estamos dispostos a sacrificar para aquele que se sacrificou por nós, porque não tem nenhuma influência sobre o quanto temos, porque queremos riquezas espirituais mais do que riquezas financeiras, porque temos pessoalmente determinado a dar, porque queremos atender tanta necessidade quanto pudermos, e porque o nosso amor nos obriga a dar.

Como em todas as áreas da justiça, a chave é o coração, a atitude interior que motiva o que dizemos e fazemos. Justiça pública não deve ser rejeitada, mas é para ser feito no espírito de humildade, amor e sinceridade. "Pois somos feitura [de Deus]", Paulo nos lembra, "criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Ef 2:10).

Além disso, como em todas as áreas da justiça, o próprio Jesus é o nosso exemplo supremo e perfeito. Ele pregou Suas mensagens no público, Ele realizou Seus milagres de cura, compaixão e poder sobre a natureza em público. No entanto, Ele continuamente a atenção para Seu Pai celestial, cuja vontade sozinho Ele veio fazer (Jo 5:30; conforme Jo 4:34; Jo 6:38). Mesmo que Ele era um com o Pai, enquanto viveu na terra como homem Jesus não buscou sua própria glória, mas a de Seu Pai (João 8:49-50).

Quando damos nossas esmolas ... em segredo , amorosamente, despretensiosamente, e sem qualquer pensamento para o reconhecimento ou agradecimento, nosso Pai, que vê em secreto, te recompensaránós. O princípio é o seguinte: se a lembrar que, Deus vai esquecer; mas se esquecermos, Deus vai se lembrar. Nosso objetivo deve ser o de satisfazer todas as necessidades, somos capazes de atender e deixar a contabilidade a Deus, percebendo que "nós fizemos apenas o que devíamos ter feito" (Lc 17:10).

Deus não vai perder dando uma única recompensa. "E não há criatura alguma encoberta diante dele, mas todas as coisas estão abertas e exposto aos olhos daquele com quem temos de prestar contas" (He 4:13). O Senhor conhece os nossos corações, nossas atitudes e nossos motivos, e cada recompensa que nos é devido, será dada.

É o plano perfeito de Deus e vontade de dar recompensas para aqueles que fielmente confiar e obedecer-Lhe. E não é unspiritual que esperar e antecipar essas recompensas, se fizermos isso, num espírito de humildade e que as recompensas de Deus manifestar Sua graça para os que não merecem-saber gratidão. Nós podemos cumprir Suas exigências misericordiosas de recompensas, mas nunca pode realmente ganhar deles.

A maior recompensa um crente pode ter é o conhecimento que ele tem agradado o seu Senhor. Nossa motivação para olhar para a frente a suas recompensas deve ser a antecipação de lançá-los como uma oferenda aos seus pés, assim como os vinte e quatro anciãos um dia "vai lançar suas coroas diante do trono, dizendo: Digno és, Senhor nosso e nosso Deus, de receber glória, honra e poder "(Ap 4:10-11).

34. Orar sem hipocrisia (Mateus 6:5-8)

E, quando orardes, não está a ser como os hipócritas; pois gostam de ficar em pé e Oração nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam sua plena recompensa: Mas tu, quando orares, entra no teu quarto interior, e quando você fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto , o recompensará. E quando você está orando, não use a repetição sem sentido, como os gentios, para eles supõem que elas serão ouvidas por suas muitas palavras.Portanto, não ser como eles; porque vosso Pai sabe o que você precisa, antes de vós lho pedirdes. (6: 5-8)

Nenhum de nós pode compreender exatamente como funciona a oração dentro da mente infinita e plano de Deus. A visão calvinista enfatiza a soberania de Deus, e na sua aplicação extrema sustenta que Deus irá trabalhar de acordo com a Sua perfeita vontade, independentemente da forma como os homens orar ou mesmo se eles rezam ou não. A oração é nada mais do que em sintonia com a vontade de Deus. No extremo oposto, a visão arminiana sustenta que as ações de Deus que pertencem a nós são determinados, em grande parte, com base em nossas orações. Por um lado, a oração é visto simplesmente como uma forma de alinhar com Deus sobre o que Ele já determinou que fazer, e por outro lado, é suplicar a Deus para fazer o que Ele de outra forma não faria.
Escritura suporta ambos os pontos de vista e prende-los, por assim dizer, em tensão. A Bíblia é inequívoca sobre a soberania absoluta de Deus: Mas é igualmente inequívoca em declarar que, dentro de sua soberania Deus convida Seu povo a rogar-lhe em oração para implorar a Sua ajuda na orientação, a provisão, proteção, misericórdia, perdão, e outras necessidades incontáveis .
Nem necessária nem É possível imaginar o trabalho divino que faz oração eficaz. Deus simplesmente nos manda obedecer aos princípios da oração que dá a Sua Palavra. O ensinamento de Nosso Senhor na presente passagem contém alguns desses princípios.

Jesus continua a sua contraste de verdadeiro e falso justiça, em particular, a falsa justiça tipificado pelos escribas e fariseus. Como 6: 2-4 expõe suas doações hipócrita e os versículos 16:18 a sua hipócrita duradoura, versículos 5:8 expor suas orações igualmente hipócrita. As orações estavam com defeito em seu público-alvo e em seu conteúdo.

A Audiência de Oração

A Audiência Falsa: Outros Homens

E, quando orardes, não está a ser como os hipócritas; pois gostam de ficar em pé e Oração nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam sua plena recompensa. (6: 5)

Nenhuma religião jamais teve um padrão mais elevado e prioridade para a oração que o judaísmo. Como povo escolhido de Deus os judeus foram as vítimas da Sua Palavra escrita, "confiados os oráculos de Deus" (Rm 3:2, 11: 13 5:6-21'>13-21 e Números 15:37-41. Muitas vezes, uma versão abreviada (Dt 6:4) usado naqueles tempos como lembretes para abrir seus corações para o Senhor. Mesmo na igreja primitiva, porque a maioria dos cristãos eram judeus e ainda adorado no templo e nas sinagogas, as horas de oração tradicionais foram frequentemente observados (ver At 3:1).

Uma quarta falha foi em estimando longas orações, acreditando que a santidade e eficácia de uma oração estavam em proporção direta ao seu comprimento. Jesus alertou para os escribas que, "por causa da aparência oferecem longas orações" (Marcos 0:40). A longa oração, é claro, não é necessariamente uma oração insincero. Mas uma longa oração pública presta-se a pretensão, a repetição, rote, e muitas outras tais perigos. A culpa é na oração "por amor aparência s", para impressionar os outros com a nossa religiosidade.
Rabinos antigos sustentou que quanto mais tempo a oração, o mais provável seria ouvida e atendida por Deus. Verbosity foi confundido com significado, e do comprimento foi confundido com sinceridade.

Um quinto falha, apontada por Jesus em Mt 6:7, 1Rs 18:29 ). Hora após hora eles repetiram a mesma frase, tentando pela própria quantidade de suas palavras para fazer seu deus ouvir e responder.

Através dos séculos, os judeus tinham sido influenciado por tais práticas pagãs. Eles muitas vezes adicionados adjetivo após adjetivo antes de o nome de Deus em suas orações, aparentemente tentando superar o outro nas mencionando seus atributos divinos.

De longe o pior defeito, no entanto, foi a de querer ser visto e ouvido por outras pessoas, especialmente os seus companheiros judeus. A maioria dos outros defeitos não foram necessariamente errado em si mesmos, mas foram transportados para os extremos e utilizado em formas sem sentido. Mas essa falha foi intrinsecamente mau, porque ambos vieram e destinava-se a satisfazer o orgulho.Independentemente da forma a oração pode ter tomado, o motivo era auto-glória pecaminosa, a perversão final deste meio sagrados de glorificar a Deus (Jo 14:13).

É que a culpa desprezível que zeros Jesus em diante. E, quando orardes, não devem ser como os hipócritas. A oração que se concentra em si mesmo é sempre hipócrita, porque, por definição, o foco de todas as orações devem ser em Deus. Como mencionado no capítulo anterior, o termo hipócrita referiu original atores que usam grandes máscaras para retratar os papéis que estavam jogando. Hipócritas são atores, pretendentes, pessoas que desempenham um papel. O que eles dizem e fazem não representa o que eles próprios se sentem ou acreditam, mas apenas a imagem que eles esperam criar.

Os escribas e fariseus hipócritas orou para o mesmo fim que eles fizeram de tudo para atrair a atenção e trazer honra para si mesmos. Essa foi a essência de sua "justiça", o que Jesus disse que não teve parte no Seu reino (5:20).
Um velho comentarista observou que o maior perigo para a religião é que o velho eu simplesmente se torna religioso. Os hipócritas de quem Jesus fala tinha se convencido de que através da realização de certos atos religiosos, incluindo vários tipos de oração, eles se tornaram aceitável a Deus. As pessoas hoje ainda se enganam em pensar que eles são cristãos, quando tudo o que tenho feito é vestir sua velha natureza em armadilhas religiosas.

Nada é tão sagrado que Satanás não vai invadi-lo. Na verdade, a coisa mais sagrada, mais ele deseja para o profanarem. Certamente algumas coisas agradá-lo mais do que vir entre crentes e seu Senhor na intimidade sagrada de oração. Pecado nos seguirá na própria presença de Deus; e nenhum pecado é mais poderoso ou destrutivo do que o orgulho. Naqueles momentos em que viria antes do Senhor em adoração e pureza de coração, podemos ser tentados a nos adorar.
Martyn Lloyd-Jones escreve:
Nós tendemos a pensar do pecado como o vemos em trapos e nas sarjetas da vida. Nós olhamos para um bêbado, coitado; e dizemos, não é pecado. Mas essa não é a essência do pecado. Para ter uma imagem real e uma verdadeira compreensão do pecado, você deve olhar para algum grande santo, um homem extraordinariamente devoto e dedicado, olhar para ele lá de joelhos na própria presença de Deus. Mesmo lá eu se intrometendo em si, ea tentação é para ele pensar sobre si mesmo, para pensar agradavelmente e prazerosamente sobre si mesmo e para realmente estar adorando a si mesmo, em vez de Deus. Isso, e não o outro, é a verdadeira imagem do pecado. O outro é o pecado, é claro, mas lá você não vê-lo em seu auge, você não vê-lo em sua essência. Ou, dito de outra forma, se você realmente quer entender algo sobre a natureza de Satanás e as suas actividades, a única coisa a fazer é não ir para os resíduos ou as calhas da vida. Se você realmente quer saber algo sobre Satanás, ir embora para que deserto, onde nosso Senhor passou quarenta dias e quarenta noites. Essa é a verdadeira imagem de Satanás, onde você vê-lo tentando o próprio Filho de Deus. ( Estudos no Sermão da Montanha [Grand Rapids: Eerdmans, 1977], 2: 22-23)

Pelo que sabemos, no registro bíblico, duas vezes mais intensos de Jesus de oposição espiritual eram Durante seus 40 dias de solidão no deserto, e durante a sua oração no Jardim do Getsêmani, na noite em que foi traído e preso. Em ambas as ocasiões ele estava sozinho orando ao Seu Pai. Ele estava no lugar mais privado e sagrado de comunhão que Satanás apresentou suas tentações mais fortes diante do Filho de Deus.

Os hipócritas amei ficar de pé e Oração. Standing era uma posição normal para a oração entre os judeus. No Antigo Testamento, vemos de Deus fiéis orando de joelhos, enquanto prostrado, e em pé. No Novo Testamento vezes em pé foi a posição mais comum e não necessariamente indica um desejo de ser notado.

As sinagogas eram os lugares mais adequados e prováveis ​​para orações públicas a serem oferecidos. Era o lugar onde os judeus adoravam na maioria das vezes, especialmente aqueles que viveram grandes distâncias do Templo. A sinagoga era o lugar locais de reunião, não só para o culto, mas para vários encontros cívicos e sociais. Se feito com sinceridade, a oração, a qualquer dessas funções era apropriado.

As esquinas eram também um lugar normal para a oração, porque os judeus devotos iria parar onde quer que estivessem na hora marcada para a oração, mesmo se eles foram andando na rua ou visitar no canto. Mas a palavra usada aqui para rua não é a mesma que no verso 2, que remete para uma rua estreita ( Rhume ). A palavra usada aqui ( plateia ) refere-se a uma ampla rua principal, e, portanto, a uma grande esquina, onde uma multidão era mais provável que seja. A culpa implícita aqui é que os hipócritas gostava de Oração onde teriam a maior audiência. Não havia nada de errado com o que ora a um cruzamento importante se esse era o lugar onde você passou a ser no tempo para a oração. Mas havia algo de muito errado se você planejou para estar lá na hora de orar com a Proposito específica de Oração, onde a maioria das pessoas poderia vê-lo.

O verdadeiro mal desses adoradores hipócritas, seja em sinagogas ou nas esquinas das ruas , era o desejo de exibir-se , a fim de serem vistos pelos homens . Não era errado orar nesses lugares, mas aconteceu de arcar com os maiores audiências, e, portanto, os lugares onde os hipócritas preferidos para orar.

Como sempre, o pecado começou no coração. Foi o orgulho, o desejo de exaltar-se diante de seus compatriotas judeus, que era a raiz do pecado. Como o fariseu da parábola de Jesus, esses hipócritas acabou orando a si mesmos (ver Lc 18:11) e antes de outras pessoas. Deus não tinha parte.

Alguns crentes excessivamente reacionários têm usado estas advertências de Jesus como uma razão para renunciar a toda oração pública. Mas o Senhor ensinou tal coisa. Ele próprio, muitas vezes orou na presença de seus discípulos (Lc 11:1.). Escritura registra muitas orações públicas que eram totalmente adequado e sincero. Na dedicação do Templo, Salomão orou, uma oração detalhada estendida antes de todos os sacerdotes, os levitas, e os líderes de Israel (2 Cr. 6: 1-42; conforme 5: 2-7). Quando, sob a liderança de Esdras, o convênio foi renovado após o Exílio, um grupo de oito levitas ofereceu um sincero, oração de arrependimento em movimento antes de todas as pessoas (9 Neh:. 5-38). Depois de Pedro e João foram presos, interrogados e depois liberados pelo Sinédrio pouco depois de Pentecostes, todo o grupo de seus companheiros e se alegrou "levantaram suas vozes a Deus com um acordo" (At 4:24).

Mas as orações públicas do escriba típico ou fariseu foram ritualística, mecânico, excessivamente longo, repetitivo, e acima de tudo sem ostentação. Como os hipócritas que deram para o bem de louvor dos homens (Mt 6:2). Seu propósito aqui parece ter sido para fazer como um grande contraste possível com as práticas dos escribas, fariseus e outros religiosos hipócritas. O principal ponto Jesus faz não tem a ver com a localização, mas com atitude. Se necessário, Jesus diz, vá para o mais isolado, lugar privado pode encontrar para que você não será tentado a se mostrar. Vá até lá e fechou a porta. Feche tudo o mais para que você possa concentrar-se em Deus e ora ao teu Pai . Faça o que tiver que fazer para obter a sua atenção para longe de si mesmo e aos outros e sobre ele e ele só.

Grande parte da nossa vida de oração deve ser, literalmente, em segredo . Jesus ia regularmente longe de seus discípulos a orar completamente sozinho. Nossos membros da família ou amigos saibam que estamos orando, mas o que dizemos não é para eles ouvirem. Crisóstomo comentou que em sua época (século IV AD ) muitos cristãos oraram tão alto em seus quartos que toda a gente pelo corredor ouvi o que eles disseram. Se as pessoas às vezes acontecem para ouvir as nossas orações particulares, ele não deve ser por nossa intenção. (Conforme João A. Broadus, Mateus [Valley Forge, Pa .: Judson, 1886], p. 140.)

Mas o Pai estar em segredo não significa que Ele não está presente quando oramos em público, ou com nossas famílias ou outros pequenos grupos de crentes. Ele está muito presente quando e onde seus filhos invocá-Lo. A lição de Jesus tem a ver com a singeleza de intenção. A verdadeira oração é sempre íntima. Mesmo oração em público, se o coração não é reto e concentrou-se em Deus, de uma forma real e profunda fechou um up sozinho na presença de Deus.

No padrão de oração que Jesus ensinou seus discípulos, Ele começa com "Pai Nosso" (Mt 6:9). Esses segredos, por vezes, estão escondidos até de nós mesmos, porque é tão fácil de ser enganado sobre os nossos próprios motivos.

Quando Deus é verdadeiramente o público da nossa oração, teremos a recompensa só Ele pode dar. Jesus não dá nenhuma idéia nesta passagem, como o que a recompensa de Deus, ou de reembolso, será. A verdade importante é que Deus fielmente e infalivelmente abençoar aqueles que vêm a Ele com sinceridade. Sem dúvida, o Senhor recompensará. Aqueles que rezam sem sinceridade e hipocritamente, receberá a recompensa do mundo, e os que oram com sinceridade e humildade receberá de Deus.

O conteúdo da Oração

Uma segunda área em que muita oração dos dias de Jesus ficou aquém foi a de conteúdo. As orações hipócritas dos escribas e fariseus, não só foi dada no espírito errado, mas foram dadas em palavras sem sentido. Eles não tinham nenhuma substância, sem conteúdo significativo. Para ser aceitável a Deus, Jesus declarou: orações devem ser genuínas expressões de culto e de pedidos e petições sinceras.

Conteúdo Falsa: a repetição sem sentido

E quando você está orando, não use a repetição sem sentido, como os gentios, para eles supõem que elas serão ouvidas por suas muitas palavras. (6, 7)

Os particulares culpa Jesus destaca é a da repetição sem sentido , o que já foi discutido. Esta prática era comum em muitas religiões pagãs daquele dia, como é em muitas religiões hoje, incluindo alguns ramos da cristandade.

Use a repetição sem sentido é uma palavra (de battalogeō ) no grego e refere-se à marcha lenta, vibração impensado. Foi provavelmente onomatopoetic, imitando os sons de jabber sentido.

Aqueles que usaram orações repetitivas não eram necessariamente hipócritas, pelo menos não do tipo de ostentação. Os escribas e fariseus usado uma grande quantidade de repetição em suas demonstrações públicas de piedade; mas muitos outros judeus usou mesmo em orações privadas. Alguns podem ter usado a repetição porque seus líderes lhes havia ensinado a usá-lo. Outros, no entanto, recorreu à repetição, porque foi fácil e exigiu pouco de concentração. Para essas pessoas, a oração era simplesmente uma questão de cerimônia religiosa necessária, e eles poderiam ser totalmente indiferente ao seu conteúdo. Enquanto ele foi oficialmente aprovado, um padrão era tão bom quanto outro.
Embora este problema não envolvem sempre hipocrisia, ele sempre envolveu uma atitude errada, um coração errado. Os hipócritas orgulhosos tentou usar a Deus para glorificar a si mesmos, ao passo que aqueles que usaram a repetição sem sentido eram simplesmente indiferente a verdadeira comunhão com Deus.

Os judeus haviam pego a prática de os gentios , que acreditavam que o valor da oração foi em grande parte uma questão de quantidade. Quanto mais, melhor. Eles supõem que serão ouvidos por suas muitas palavras , Jesus explicou. Aqueles que orou a deuses pagãos achavam que suas divindades primeiro teve de ser despertado, então persuadidos, intimidados e atormentado em ouvir e responder, exatamente como os profetas de Baal fez em Mt. Carmelo (I Reis 18:26-29). No Novo Testamento, vemos uma prática similar. Despertada contra Paulo e seus companheiros por Demétrio e outros ourives de Éfeso, uma grande multidão começou a cantar: "Grande é a Diana dos efésios!" e continuou incessantemente durante duas horas (Atos 19:24-34).

Muitos budistas girar rodas contendo orações escritas, acreditando que cada volta da roda envia essa oração ao seu deus. Os católicos romanos acender velas votivas, na crença de que os seus pedidos continuará a subir repetitiously a Deus, desde que a vela é acesa Rosários são usados ​​para contar off orações repetidas de Ave Maria e Pai Nosso, o próprio rosário vindo ao catolicismo do budismo por meio dos muçulmanos espanhóis durante a Idade Média. Certos grupos carismáticos em nossos dias repetir as mesmas palavras ou frases mais e mais até o falar degenera em confusão ininteligível (João A. Broadus, Mateus [Valley Forge, Pa .: Judson, 1886], p. 130).

Todos nós, é claro, têm sido culpados de repetir a refeição mesmas orações após reunião refeição e oração depois da oração reunião, com pouco ou nenhum pensamento de que estamos dizendo ou de Aquele a quem estamos supostamente falando. Oração que é impensada e indiferente é ofensivo a Deus, e também deve ser ofensivo para nós.

Novamente nós não devemos tirar conclusões erradas. Jesus não proibiu a repetição de pedidos reais. Na parábola sobre a visita da meia-noite com o seu próximo, o homem persistente foi elogiado por Jesus como um modelo de nossa persistência diante de Deus. Em Sua parábola da viúva importuna Jesus elogiou sua persistência perante o juiz ímpio, dizendo: "Agora, Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite, e Ele vai atrasar muito tempo com eles?" (Lucas 18:2-7). Paulo "suplicou ao Senhor três vezes" que o espinho na carne pode ser removido (2 Cor. 12: 7-8). No Jardim do Getsêmani, ao enfrentar a agonia da cruz, Jesus clamou: "Meu Pai, se é possível, deixe este cálice de mim;. Ainda não seja como eu quero, mas como tu queres" Depois de repreender os discípulos para seu sono, Ele fez a oração novamente, e então, depois de um curto período de tempo, Ele "orou pela terceira vez, dizendo a mesma coisa, uma vez mais" (Mt 26:1).

Orar com razão é orar com um coração devoto e com motivos puros. É orar com único atenção a Deus e não a outros homens. E é para orar com confiança sincera que nosso Pai celestial ambos ouve e responde cada solicitação feita a Ele com fé. Ele sempre paga a nossa devoção sincera com a resposta graciosa. Se o nosso pedido é sincero, mas não de acordo com a sua vontade, ele vai responder de uma forma melhor do que queremos ou esperamos. Mas ele sempre vai responder.
É relatado que DL Moody uma vez me senti tão farto com as bênçãos de Deus que ele orou: "Deus, pare." Isso é o que Deus vai fazer com todo crente fiel que vem a Ele como uma criança espera de seu pai-sufocá-lo em mais bênçãos do que pode ser contado ou nomeado.

35. A oração dos discípulos — Parte 1 (Mateus 6:9-15)

Pray, então, da seguinte maneira: "Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome Venha o teu reino Seja feita vossa vontade, assim na terra como no céu Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia e perdoa-nos o nosso.... dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores. E não nos levam em tentação, mas livrai-nos do mal. [Porque teu é o reino, o poder ea glória, para sempre. Amém.] "Porque, se perdoardes aos homens por suas transgressões, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Mas se não perdoardes aos homens, então o vosso Pai não perdoará as vossas ofensas. (6: 9-15) (Para um estudo mais detalhado dos Discípulos 'Oração, consulte o autor do livro Jesus' Padrão da Oração. [Chicago: Moody Press, 1981])

Ministério terrestre de Jesus foi notavelmente breve, apenas três anos. No entanto, nesses três anos, como deve ter sido verdade em sua vida anterior, uma grande quantidade de tempo foi gasto em oração. Os evangelhos relatam que Jesus levantou-se habitualmente no início da manhã, muitas vezes antes do amanhecer, para comungar com o Pai. À noite, ele freqüentemente ir para o Monte das Oliveiras ou algum outro local tranquilo para orar, geralmente sozinho. A oração era o ar espiritual que Jesus soprou a cada momento de sua vida.
Alguém já disse que muitos cristãos oferecem suas orações como marinheiros usar suas bombas-somente quando os vazamentos de navios. Mas, para ser discípulos obedientes de Cristo, para experimentar a plenitude da comunhão com Deus, e de abrir as comportas de as bênçãos do céu, os crentes devem orar como Jesus orou. Além disso, é preciso saber como a Oração. Se não sabemos como orar e pelo que orar, faz pouco bom para ir com a maré. Mas se nós sabemos como orar, e então orar dessa forma, todas as outras partes de nossas vidas será reforçado e colocar na devida perspectiva. Como Martyn Lloyd-Jones foi lindamente expressou Estudos no Sermão da Montanha : "O homem é a sua maior e mais alto quando de joelhos, ele fica cara a cara com Deus" (2 vols [Grand Rapids: Eerdmans, 1977]., 02:45).

A Bíblia ensina muito sobre a importância eo poder da oração. A oração é eficaz; ele faz a diferença. "A oração eficaz de um homem justo", Tiago diz, "pode ​​realizar muito" (Jc 5:16). O servo de Abraão orou, e Rebekah apareceu. Jacó lutou e orou, e na mente de Esaú foi transformada a partir de 20 anos de vingança. Moisés orou, e os amalequitas foi atingido. Ana orou, Samuel nasceu. Isaías e Ezequias orou, e em 12 horas 185 mil assírios foram mortos. Elias orou, e foram três anos de seca; orou outra vez, e chuva veio. Aqueles são apenas uma pequena amostra da oração respondida apenas a partir do Antigo Testamento. Os judeus, a quem Jesus pregou deveria ter tido uma confiança ilimitada no poder da oração.

A oração é vital para todos os outros aspectos da vida do reino. Não podemos, por exemplo, dar (ver Mateus 6:2-4.) Ou rápida (ver 6: 16-18) corretamente a menos que estejamos em constante comunhão com Deus. A única doação que Deus quer é que o que é sincero, disposto e feito para Sua glória-dando que vem de uma vida de comunhão pessoal com Ele. O jejum é sem sentido para além da oração, porque para além de oração é parte de Deus. Vai ser um ritual religioso sem sentido. A maior ênfase nesta passagem (6: 1-18), portanto, é dada à oração.

O Propósito de Deus

O supremo propósito de Deus para a oração, o propósito além de todos os outros fins, é glorificar a Si mesmo. Embora nada beneficia um crente mais de oração, o propósito de orar deve antes de tudo ser para o bem de Deus, e não eu. A oração é, acima de tudo, uma oportunidade para Deus manifestar sua bondade e glória. Um velho santo disse: "A verdadeira oração traz a mente à contemplação imediata do caráter de Deus e prende-lo lá até que a alma do crente está devidamente impressionado" Jesus afirmou a propósito da oração, quando disse: "E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso eu o farei, para que o Pai seja glorificado "(Jo 14:13).

Ao contrário do que muita ênfase na igreja evangélica de hoje, a verdadeira oração, como a verdadeira adoração, centra-se a glória de Deus, e não sobre as necessidades do homem. Não se trata simplesmente de reivindicar nas promessas de Deus, e muito menos fazer exigências dele, mas de reconhecer sua soberania, para ver a exibição de sua glória, e obedecer a Sua vontade.

Porque a oração é tão absolutamente importante e porque muitas vezes não têm a sabedoria para orar como convém, ou para o que devemos, Deus encomendou Seu próprio Espírito Santo para nos ajudar."Nós não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos muito profundos para palavras" (Rm 8:26). Essa é sem dúvida o que Paulo quer dizer quando ele exorta os crentes a "orar em todo tempo no Espírito" (Ef 6:18).

Nas poucas palavras de Mateus 6:9-15 nosso Senhor dá um esboço sucinto mas maravilhosamente abrangente do que a verdadeira oração deve ser. Como discutiremos mais tarde, a segunda parte do versículo 13, uma doxologia, possivelmente, não fazia parte do texto original. A oração própria tem duas seções; A primeira seção lida com a glória de Deus (vv. 9-10) e o segundo com a necessidade do homem (vv. 11-13a). Cada seção é composta por três petições. Os três primeiros são petições em nome do nome de Deus, o Seu reino e Sua vontade. O segundo três são petições para pão de cada dia, o perdão, e proteção contra a tentação.

É significativo que Jesus não faz menção de onde a oração deve ter lugar. Como apontado no capítulo anterior, a instrução de Jesus para "ir para o seu quarto interior" (6:
6) foi enfatizar a obstinação de oração, a necessidade de bloquear qualquer outra preocupação senão Deus. O próprio Jesus não tinha espaço interior para chamar de Seu durante Seu ministério terreno, e nós vê-lo Orando em muitos lugares e em muitas situações, tanto públicas como privadas. O desejo de Paulo foi para os fiéis a orar "em todo lugar" (1Tm 2:8;.. 1Ts 5:171Ts 5:17). Porque é para ser um modo de vida, precisamos entender como orar; e que é precisamente por isso que Jesus deu a seus seguidores este modelo de oração.

Tal como acontece com todos do Sermão da Montanha, o que Jesus diz sobre a oração não era essencialmente novo. O Antigo Testamento, e até mesmo a tradição judaica, ensinou a todos os princípios básicos que Jesus apresenta aqui. Muitas falhas e perversões-como orar para serem vistos pelos homens e repetições sem sentido (6: 5,
7) —teve penetrou em vida de oração judaica. Mas a tradição rabínica era mais fiel à Escritura em seu ensino sobre a oração do que talvez qualquer outra coisa. Tanto o Talmud e do Midrash contêm muitos ensinamentos nobres e úteis sobre a oração.
A partir de seu conhecimento das Escrituras, os judeus, com razão, acreditava que Deus queria que eles orai, para que Ele ouviu e respondeu a suas orações, e que a oração deve ser contínua. Das Escrituras também sabiam que a oração deve incorporar certos elementos-tais como adoração, louvor, agradecimento, um sentimento de temor em santidade de Deus, o desejo de obedecer aos Seus mandamentos, a confissão do pecado, preocupação com os outros, perseverança e humildade.
Mas algo tinha dado errado, e por dias de Jesus a maioria dos judeus tinha esquecido os ensinamentos das Escrituras e até mesmo o som, os ensinamentos bíblicos de sua tradição. A maioria oração tornou-se formalizado, mecânica, mecânica, e hipócrita.
Depois de alertar contra essas perversões que tinha tão corrompidos vida de oração judaica, nosso Senhor agora dá um padrão divino pelo qual os cidadãos do reino pode orar de uma forma que é agradável a Deus.
Que a oração de Jesus está prestes a dar não era para ser repetido em si uma oração está claro por várias razões. Em primeiro lugar, na presente passagem é introduzido com as palavras, Pray, então, desta maneira. No relato de Lucas, os discípulos não pedir a Jesus para ensinar-lhes uma oração, mas para ensinar-lhes como a orar (Lc 11:1), e Paulo disse aos filósofos gregos sobre Mars Hill "Como até mesmo alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua prole" (At 17:28). Mas a Escritura torna inequivocamente claro que a paternidade dos incrédulos de Deus é apenas no sentido de ser o seu Criador. Espiritualmente, incrédulos ter outro pai. Em sua mais severa condenação dos líderes judeus que se opuseram e rejeitaram, Jesus disse: "Vós tendes por pai ao diabo" (Jo 8:44). É somente para aqueles que recebem Jesus que dá "o direito de se tornarem filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome" (Jo 1:12;. Conforme Rm 8:14; Gl 3:26; Hb. . 2: 11-14; 2Pe 1:4; conforme Ex 4:22; Jr 31:1). Eles também viu em uma maneira ainda mais íntimo e pessoal como seu pai espiritual e Salvador (Sl 89:26; 103:. Sl 103:13).

Mas ao longo dos séculos, por causa de sua desobediência ao Senhor e seu repetido flertando com os deuses pagãos dos povos ao seu redor, a maioria dos judeus haviam perdido o sentido da paternidade íntima de Deus. Eles viam Deus como Pai somente em um controle remoto, distante figura, desbotado que já havia guiado seus antepassados.
Jesus reafirmou a eles que suas Escrituras ensinado eo que fiéis, os judeus piedosos sempre acreditou: Deus é o Pai no céu ... daqueles que confiam nEle. Ele usou o título de Pai em todas as Suas orações, exceto o na cruz, quando Ele clamou: "Meu Deus, Meu Deus" (Mt 27:46), enfatizando a separação Ele experimentou em suportar o pecado da humanidade. Embora o texto usa o grego Pater ; é provável que Jesus usou o aramaico Abba quando deu esta oração. Não só era o aramaico a língua em que ele ea maioria dos outros judeus palestinos comumente falou, mas Abba (equivalente ao nosso "papai") carregava uma conotação mais íntimo e pessoal de Pater . Em um número de passagens, o termo Abba é utilizado até mesmo no texto grego, e normalmente é simplesmente transliterados nas versões em inglês (ver Mc 14:36; Rm 8:15; Gl 4:6;. Jo 10:29; Jo 14:21)?

Em terceiro lugar, conhecer a Deus como nosso Pai resolve a questão da solidão. Mesmo que somos rejeitados e abandonados pela nossa família, amigos, companheiros de fé, e no resto do mundo, sabemos que nosso Pai celestial nunca nos deixará ou nos abandonará. "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei, e divulgará-me a ele" (Jo 14:21; conforme Ps 68: 5-6.).

Em quarto lugar, sabendo paternidade de Deus deve resolver a questão do egoísmo. Jesus nos ensinou a orar, Nosso Pai , usando o pronome no plural porque somos companheiros de crianças com todo o resto da família de Deus. Não há pronome pessoal singular em toda a oração. Oramos segurando a Deus o que é melhor para todos, não apenas para um.

Em quinto lugar, conhecer a Deus como nosso Pai resolve a questão de recursos. Ele é nosso Pai, que [é] no céu . Todos os recursos do céu estão disponíveis para nós quando nós confio a Deus como nosso Fornecedor celeste. Pai Nosso "nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo" (Ef 1:3), quanto mais somos nós, como filhos adotivos, para fazer apenas a vontade Dele. A obediência a Deus é uma das marcas supremos de nosso relacionamento com Ele como Seus filhos. "Pois quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Mt 12:50).

No entanto, em sua graça, Deus ama e cuida até mesmo para seus filhos que são desobedientes. A história de Lucas 15 deve ser chamado a parábola do pai amoroso, em vez de o filho pródigo. É antes de tudo um retrato de nosso Pai celestial, que pode perdoar uma criança auto-justos que permanece moral e vertical e também perdoar aquele que se torna dissoluto, se afasta e volta.

Nosso Pai , então, indica ânsia de Deus para emprestar sua orelha, Seu poder e Sua bênção eterna às petições de Seus filhos se lhes serve melhor e mais revela o Seu propósito e glória.

Prioridade de Deus

santificado seja o vosso nome. (6: 9-C)

No início Jesus dá um aviso contra a oração egoísta. Deus é ter prioridade em todos os aspectos de nossas vidas, e, certamente, em nossos momentos de profunda comunhão com Ele. Oração não é para ser uma rotina casual que dá passagem homenagem a Deus, mas deve abrir grandes dimensões de reverência, admiração, apreço, honra e adoração. Esta frase introduz uma proteção contra qualquer sentimentalismo ou o uso excessivo e abuso do Pai , que é propenso a ser sentimentalizadas.

De Deus nome significa infinitamente mais do que Seus títulos ou nomes. Ele representa tudo o que Ele é, Seu caráter, planejar e vontade. Quando Moisés subiu ao monte Sinai para receber os mandamentos pela segunda vez, ele "invocou o nome do Senhor. Então, o Senhor passou por diante dele e proclamou:" O Senhor, o Senhor Deus, misericordioso e piedoso, longânimo e grande em benignidade e em verdade; que guarda a beneficência em milhares, que perdoa a iniqüidade, a transgressão eo pecado "(Ex 34:5-7.). As características de Deus dadas nos versículos 6:7 são o equivalente de "o nome do Senhor" mencionado no versículo 5.

Não é porque nós simplesmente saber títulos de Deus que nos ama e confia nele, mas porque sabemos que o Seu caráter. "Aqueles que conhecem o teu nome confiam em ti", disse Davi, "Porque tu, ó Senhor, não abandonas aqueles que te buscam" (Sl 9:10). O nome de Deus é visto em Sua fidelidade. Em outro salmo Davi declarou: "Eu te darei graças ao Senhor segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao nome do Senhor, o Altíssimo" (Sl 7:17; conforme 13 1:19-113:4'>113 1:4.). Na forma típica da poesia hebraica, a justiça de Deus e Seu nome são paralelo, mostrando a sua equivalência. Quando o salmista disse: "Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos se vangloriar em nome do Senhor, nosso Deus" (20: 7), ele tinha muito mais em conta do que o título pelo qual Deus é chamado . Ele falou sobre a plenitude da pessoa de Deus.

Cada um dos nomes do Velho Testamento muitas e títulos de Deus mostra uma faceta diferente de Seu caráter e vontade. Ele é chamado, por exemplo, Elohim , o Deus Criador; El Elyon ", o Criador dos céus e da terra"; Jeová Jiré , "o Senhor proverá"; Jeová Shalom , "o Senhor nossa paz"; Jeová Tsidkenu , "o Senhor nossa justiça "; e muitos outros. Todos esses nomes falar dos atributos de Deus. Seus nomes não só dizer quem ele é, mas como Ele é.

Mas o próprio Jesus dá o ensinamento mais claro sobre o que significa o nome de Deus, porque Jesus Cristo é o maior nome de Deus. "Manifestei o teu nome aos homens que me deste para fora do mundo" (Jo 17:6) de Deus, Jesus foi a manifestação perfeita do nome de Deus.

Hallowed é uma palavra em Inglês arcaico usado para traduzir uma forma de hagiazo , o que significa tornar santo. Palavras da mesma raiz são traduzidas "santo, santo, santificar santificação", etc. povo de Deus são ordenados a ser santo (1Pe 1:16), mas Deus é reconhecido como sendo santo. Esse é o significado de Oração , santificado seja o teu nome : atribuir a Deus a santidade que já é, e sempre foi, acima de tudo e exclusivamente Seu. Para santificar o nome de Deus é a reverenciar, honra, glorificar, e obedecê-Lo como singularmente perfeito. Como João Calvin observado, que o nome de Deus deve ser santificado não era nada além de dizer que Deus deve ter sua própria honra, da qual ele era tão digno, que os homens nunca deveriam pensar ou falar dele sem a maior veneração (citado em uma harmonia dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas [Grand Rapids: Baker, 1979], p 318)..

O nome de consagração a Deus, como qualquer outra manifestação da justiça, começa no coração. "Santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações" Pedro nós (1Pe 3:15) diz, usando uma forma de a palavra que santificadas traduz.

Quando nos santificar Cristo em nossos corações vamos também santificá-lo em nossas vidas. Nós santificar o nome quando reconhecemos que Ele existe. "Aquele que vem de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que o buscam" (He 11:6.).Quando comer, beber, e fazer tudo para a glória de Deus (1Co 10:31), que é santificar o Seu nome. Finalmente, para santificar o nome de Deus é atrair outros a ele pelo nosso compromisso, para "deixar o [nosso] luz diante dos homens, de tal forma que vejam as [nossas] boas obras e glorifiquem a [nosso] Pai que está nos céus "(Mt 5:16). Sl 34:3). No reino humano poderia se encaixar com o reino de Deus, mesmo parcialmente homem pecador não poderia ser uma parte de um reino divino. É por isso que nós não avançar o reino de Deus, tentando melhorar a sociedade humana. Muitas causas boas e dignas merecem o apoio dos cristãos, mas no apoio a essas causas que nem construir o reino terrestre de Jesus Cristo, ou trazê-lo para mais perto. Mesmo o melhor dos tais coisas são, mas segurando ações que ajudam a retardar a corrupção que sempre e inevitavelmente vai caracterizar as sociedades humanas e humanos reinos, até à vinda do Senhor para estabelecer sua própria perfeito reino .

O reino de Deus, ou do céu, era o coração da mensagem de Jesus. Ele veio para "pregar o reino de Deus" (Lc 4:43). Não há outro evangelho, mas a boa notícia do reino de nosso Senhor e do Seu Cristo.Sempre e onde quer que fosse, Jesus pregou a mensagem da salvação, como entrada para o reino. Ele ainda afirmou que ele "deve pregar o reino ... para eu fui enviado para este fim" (Lc 4:43). Para os quarenta dias que Jesus permaneceram na terra entre Sua ressurreição e ascensão Ele falou aos discípulos "das coisas a respeito do reino de Deus" (At 1:3). Ele estava presente no momento do ministério terrestre de Jesus, no sentido de que o verdadeiro Rei divina estava presente "no meio de vós" (Lc 17:21, lit.). Mas o foco particular de nossa oração é para estar no reino que ainda está por vir .

Deus agora e sempre governou o reino do universo. Ele a criou, e Ele controla, ordens dele, e prende-lo em conjunto. Como comenta Tiago Orr: "Não é, portanto, reconhecida nas Escrituras ... um reino natural e universal ou domínio de Deus abraçando todos os objetos, pessoas e eventos, todas as ações de indivíduos e nações, todas as operações e mudanças de natureza e história, absolutamente sem exceção . "... (citado por Alva J. McClain, A Grandeza do Reino [Winona Lake, Ind .: BMH Books, 1980], p. 22). Deus é um "reino eterno" (Sl 145:13; 13 29:12'>113 29:12'> Crônicas 29: 11-12.; Etc.) .

Mas o fato mais óbvio da vida é que Deus não está agora no poder na terra como Ele governa no céu (Mt 6:10 c ) —e é o divino terrena reino devemos orar vai vir . Nossa oração deve ser para Cristo voltar e para estabelecer o Seu reino terrestre, para acabar com o pecado e impor a obediência à vontade de Deus. O Senhor, então, "regerá com vara de ferro" (Ap 2:27; conforme Is 30:14;.. Jr 19:11). Depois de mil anos Seu reino terreno irá misturar em seu reino eterno, e não haverá distinção entre Seu governo na Terra e Seu governo no céu (veja Ap 20:21).

O grego deste versículo poderia ser traduzida como "Vamos Venha o teu reino agora "Há, portanto, um sentido em que oramos para o reino de Deus venha atualmente. De certa forma presente e limitado, mas real e milagrosa, o reino de Deus está vindo para a terra cada vez que uma nova alma é trazido para o reino.

Em primeiro lugar, o reino vem desta forma por conversão (Matt. 18: 1-4). Assim, a oração deve ser evangelístico e missionário de para os novos convertidos, novos filhos de Deus, novos cidadãos do reino.Conversão para o reino envolve um convite (Mt 22:1-14.), Arrependimento (Marcos 1:14-15), e uma resposta dispostos (Marcos 12:28-34; Lucas 9:61-62). O presente existência do reino na Terra é interna, nos corações e mentes daqueles que pertencem a Jesus Cristo, o Rei. Devemos orar para que o seu número para poderosamente aumentar. Orando para o reino vindouro, nesse sentido, está orando pela salvação das almas. Cada crente deve procurar outros que podem cantar, "Rei da minha vida, eu coroar Ti agora, Tua deve ser a glória" ("Lead Me para o Calvário," por Jennie Evelyn Hussey).

reino para o qual estamos a Oração, e de que agora temos um gosto, é de valor infinito. "O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo" ou uma "pérola de grande valor" que uma pessoa vende todos os seus bens para comprar (13 44:40-13:46'>Mat. 13 44:46). O seu valor é tão grande que cada uma dessas parábolas enfatiza que o procurador vendeu tudo o que tinha para comprar a salvação (conforme Mt 10:37).

Em segundo lugar, o reino vem agora através do compromisso. O desejo dos que já convertido deve ser o de responder à regra do Senhor em suas vidas agora para que Ele governa neles como Ele governa no céu. Quando oramos como Jesus ensina que continuamente vai orar para que a nossa vida vai honrar e glorificar nosso Pai no céu.
A chamada para o reino vir também está relacionada com a segunda vinda do Senhor. João diz no último capítulo do Apocalipse: "Aquele que dá testemunho destas coisas diz:" Sim, venho sem demora. "Amém. Vem, Senhor Jesus "(22:20).

Naquele dia, nossas orações serão finalmente respondidas. Como o hino de Isaque Watts começa assim: "Jesus reinará onde 'antes que o sol faz as suas sucessivas viagens que correr. Sua propagação reino de costa a costa,' til lua deve cera e não mais minguar. Paulo enfatiza que esperava o reino para vir em sua forma final não é tanto à procura de um evento como uma pessoa-próprio Rei (1Ts 1:10).

Plano de Deus

Seja feita vossa vontade, assim na terra como no céu. (6: 10b)

Muitas pessoas perguntam como a soberania de Deus pode estar relacionado à oração pela Sua vontade seja feita. Se Ele é soberano, não é a Sua vontade inevitavelmente feito? Será que a nossa vai substituir a Sua vontade quando oramos sinceramente e sinceramente? Esse é um dos grandes paradoxos da Escritura, um paradoxo sobre o qual os calvinistas e arminianos têm debatido por séculos. Deve ser evidente que este paradoxo, como os de Deus ser três em um e Jesus sendo totalmente Deus e totalmente homem, deve ser deixado para a mente infinita de Deus, porque é muito além da mente humana finita de compreender. Mas o que parece uma contradição impossível para nós não é dilema para Deus. Nós prendemos duas verdades, aparentemente paradoxal, em tensão perfeito com a fé na mente infinita de Deus, que resolve todas as coisas em perfeita, a verdade não-contraditória (Dt 29:29).

É absolutamente claro nas Escrituras que Deus é soberano e não apenas permite, mas ordena que o homem exercício vontade própria em determinadas áreas. Se o homem não foi capaz de fazer suas próprias escolhas, os mandamentos de Deus seria inútil e sem sentido e seus castigos cruéis e injustas. Se Deus não agiu em resposta a oração, o ensinamento de Jesus sobre a oração também seria inútil e sem sentido.Nossa responsabilidade não é resolver o dilema, mas a acreditar e agir sobre as verdades de Deus, se alguns deles parecem conflito ou não. Para comprometer uma das verdades de Deus em um esforço para defender outro é o material de que é feita a heresia. Estamos a aceitar cada parte de toda a verdade da Palavra de Deus, deixando a resolução de eventuais conflitos aparentes para ele. Tentativa em um nível humano para resolver todos os aparentes paradoxos nas Escrituras é um ato de arrogância e um ataque à verdade e intenção da revelação de Deus.
Quando oramos Tua será feito , estamos orando primeiro lugar, que a vontade de Deus tornar-se nossa própria vontade. Em segundo lugar, estamos orando para que Sua vontade prevaleça em todo omundo, uma vez que [faz] no céu .

Compreensão equivocada da Vontade de Deus

Muitas pessoas, incluindo muitos crentes, entendem erroneamente esta parte da oração dos discípulos. Vendo a soberania de Deus simplesmente como a imposição absoluta da vontade de um ditador, alguns crentes são ressentido. Quando, ou se, eles rezam para que Sua vontade seja feita, eles rezam para fora de um sentimento de compulsão. A vontade de Deus tem que ser feito, e Ele é muito forte para resistir;Então, o que seria o ponto de Oração o contrário? A conclusão lógica da maioria das pessoas que olham para Deus em que maneira é que não há nenhum ponto a oração certamente não às petições. Por que perguntar para o inevitável?
Outras pessoas são mais caridosos em seus sentimentos a respeito de Deus. Mas porque, também, acreditar Sua vontade é inevitável, eles rezam fora de resignação passiva. Eles rezam para que a vontade de Deus seja feita simplesmente porque é isso que o Senhor lhes diz para fazer. Eles são resignAdãoente obediente. Eles não rezam tanto de fé como de capitulação. Eles não tentam colocar suas vontades em acordo com a vontade divina, mas sim mudar suas próprias vontades em ponto morto, deixando a vontade de Deus o seu curso.

É fácil para os cristãos a cair em orando dessa forma. Mesmo nos primeiros dias da igreja, quando a fé em geral, era forte e vital, a oração pode ser passiva e unexpectant. Um grupo de discípulos em causa estava orando na casa de Maria, mãe de João Marcos, para a libertação de Pedro da prisão. Enquanto eles estavam orando, Pedro foi libertado por um anjo e veio para a casa e bateu na porta. Quando uma criada chamada Rode veio até a porta e reconheceu a voz de Pedro, ela correu para dentro de dizer aos outros, esquecendo-se de deixá-Pedro. Mas o grupo de oração não acreditava nela, e pensei que tinha ouvido um anjo. Quando Pedro foi finalmente admitiu, "o viram e ficaram maravilhados" (At 12:16). Eles aparentemente estava orando para o que eles realmente não acreditava que iria acontecer.

A nossa própria oração vive muitas vezes são fracos porque não oramos com fé; não esperamos que a oração mudar nada. Oramos por um senso de dever e obrigação, inconscientemente pensando que Deus vai fazer exatamente como Ele quer fazer de qualquer maneira Jesus contou a parábola da viúva importuna-que se recusou a aceitar o status quo e persistiu na mendicidade, apesar de ter recebido nenhuma —resposta com o propósito de nos proteger contra esse tipo de resignação passiva e não espiritual. "Agora ele estava dizendo a eles uma parábola para mostrar que em todas as vezes que eles devem orar e não desanimar" (Lc 18:1; conforme Mt 21:12-13).

Para orar para que a vontade de Deus seja feita na terra é rebelar-se contra a idéia, ouvido hoje mesmo entre os evangélicos, que praticamente todos, coisa corrupto mau que fazemos ou o que é feito para nós é de alguma forma santa vontade de Deus e deve ser aceito de Sua mão com ações de graças. Nada mau ou pecaminoso vem da mão de Deus, mas somente a partir do lado de Satanás. Para orar por justiça é orar contra a maldade. Para orar pela vontade de Deus seja feita é orar para que a vontade de Satanás de ser desfeita.

Para orar pela vontade de Deus seja feita é chorar com Davi, "Levante-se Deus, deixe os seus inimigos sejam dispersos, e deixar que aqueles que O odeiam fugir diante dele" (Sl 68:1).

Orar é justamente a orar com fé, crendo que Deus vai ouvir e responder as nossas orações. Eu acho que o maior obstáculo para a oração não é a falta de técnica, a falta de conhecimento bíblico, ou até mesmo a falta de entusiasmo para a obra do Senhor, mas a falta de fé. Nós simplesmente não orar com a expectativa de que nossas orações vão fazer a diferença em nossas vidas, em outras vidas das pessoas, na igreja, ou no mundo.

Há três aspectos distintos da vontade de Deus como Ele revela para nós em Sua Palavra. Em primeiro lugar, é o que pode ser chamado de Sua vontade de propósito, o vasto, abrangente e tolerar vontade de Deus expressa na revelação de Seu plano soberano que encarna todo o universo, incluindo o céu, inferno, ea terra. Esta é a vontade suprema de Deus, da qual Isaías escreveu: "O Senhor dos Exércitos jurou dizendo:" Certamente, assim como eu ter pretendido por isso que aconteceu, e assim como eu planejei por isso vai ficar '"(Is 14:24. ...; conforme Jr 51:29; Rm 8:28; Efésios 1:9-11; etc.). Esta é a vontade de Deus que permite que o pecado para o seu curso e que Satanás tem o seu caminho por uma temporada. Mas com o passar do pecado tempo designado por Deus e o caminho de Satanás vai acabar exatamente conforme o planejado e presciência de Deus.

Em segundo lugar, é o que pode ser chamado de vontade do desejo de Deus. Isso está dentro de Sua vontade de propósito e completamente coerente com ela. Mas é mais específico e focado. Ao contrário de vontade do propósito de Deus, a Sua vontade de desejo nem sempre é cumprido; na verdade, é muito insatisfeito em relação à vontade de Satanás na presente época.

Jesus desejava muito que Jerusalém será salvo, e Ele orou, pregou, curados, e ministrou entre os seus povos para o efeito. Mas poucos acreditaram nele; mais rejeitado, e alguns até crucificaram. "Jerusalém, Jerusalém," Ele orou. "Eu queria reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e você não iria tê-lo!" (Lc 13:34). Essa foi a experiência repetida do Filho de Deus, que veio à terra para que os homens tenham vida, ea tenham em abundância. Como os judeus incrédulos em Jerusalém, a maioria das pessoas não estavam dispostos a vir a Jesus para que a vida abundante (Jo 5:40; conforme 1 Tim. 2:. 1Tm 2:4; 2Pe 3:92Pe 3:9).

Vontade do propósito de Deus abraça o fim último deste mundo, segunda vinda de Cristo eo estabelecimento de Seu reino eterno. Sua vontade de desejo abraça conversão; e Sua vontade de comando abraça o compromisso e obediência de Seus filhos.

O grande inimigo da vontade de Deus é o orgulho. O orgulho fez com que Satanás se rebelar contra Deus, e orgulho faz com que os incrédulos rejeitar a Deus e crentes desobedecer-lhe. Porque a vontade de Deus para ser aceito e para receber oração com sinceridade e com a fé, a auto-vontade deve ser abandonado no poder do Espírito Santo. "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, para apresentar os vossos corpos em sacrifício vivo e santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a vontade de Deus é, o que é bom, agradável e perfeita "(Rom. 12: 1-2).

Quando oramos com fé e em conformidade com a vontade de Deus, a oração é uma graça santificante que muda nossas vidas drasticamente. A oração é um meio de santificação progressiva. João Hannah disse: "O fim da oração não é respostas tanto tangíveis como uma vida aprofundamento da dependência ... A chamada para a oração é um chamado ao amor, submissão e obediência, ... a avenida de doce, intimista e intensa comunhão do alma com o Criador infinito. "
A chamada do crente é trazer o céu à terra Ao santificar o nome do Senhor, deixando que Seu reino venha, e procurar fazer a Sua vontade.
Nos versículos 11:13 a Jesus dá três petições. O primeiro refere-se a nossa vida física e do presente ( pão de cada dia ), a segunda para a nossa vida mental e emocional e do passado ( dívidas ), ea terceira para a nossa vida espiritual e para o futuro ( tentação e do mal ).

36. A oração dos discípulos — Parte 2 (Mateus 6:9-15)

Pray, então, da seguinte maneira: "Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome Venha o teu reino Seja feita vossa vontade, assim na terra como no céu Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia e perdoa-nos o nosso.... dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores. E não nos levam em tentação, mas livrai-nos do mal. [Porque teu é o reino, o poder ea glória, para sempre. Amém.] "Porque, se perdoardes aos homens por suas transgressões, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Mas se não perdoardes aos homens, então o vosso Pai não perdoará as vossas ofensas. (6: 9-15)

Provisão de Deus

Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. (06:11)

Embora possa ter sido uma verdadeira preocupação nos tempos do Novo Testamento, para muitos cristãos no mundo ocidental hoje, esse pedido pode parecer desnecessária e inadequada. Por que devemos pedir a Deus por aquilo que já temos em abundância? Por que, quando muitos de nós precisa consumir menos comida do que nós, peça a Deus para suprir nosso pão de cada dia ? O que seria um pedido totalmente compreensível de um cristão na Etiópia ou o Camboja, parece irrelevante na boca de um americano bem alimentados.

Mas essa parte da oração dos discípulos, como qualquer outro, se estende para além do primeiro século a todos os crentes, em todas as épocas e em todas as situações. Neste padrão para a oração, nosso Senhor dá todos os ingredientes necessários para Oração. Podemos ver cinco elementos-chave neste pedido de provisão de Deus: a substância, a fonte, a súplica, as requerentes, bem como o calendário.

A Substância

Pão representa não só alimentos, mas é simbólico de todas as nossas necessidades físicas. João Stott observou que a Martin Luther, "tudo que é necessário para a preservação da vida é pão, incluindo alimentos, um corpo saudável, tempo bom, casa, casa, esposa, filhos, um bom governo, e paz" ( Cristão Counter-Cultura : A Mensagem do Sermão da Montanha [Downers Grove, Ill .: InterVarsity de 1978], p 149)..

É maravilhoso para entender que o Deus que criou todo o universo, que é o Deus de todo o espaço e tempo e da eternidade, que é infinitamente santo e completamente auto-suficiente, deve se preocupar com fornecimento de nossos necessidades físicas e deve estar preocupado que nós receber comida suficiente para comer, roupas para vestir, e um lugar para descansar. Deus obriga-se para suprir nossas necessidades.

Esta parte da oração é na forma de uma Pedido, mas é também uma afirmação-é por isso que é tão apropriado para aqueles que estão bem alimentados, como para aqueles que têm pouco para comer. Acima de tudo é uma afirmação de que todas as coisas boas que temos vem da mão da graça de Deus (Jc 1:17).

A fonte

Isso nos conduz à fonte, que é Deus. O Pai é aquele abordadas ao longo de oração, Aquele que é elogiado e peticionou.

Quando todas as nossas necessidades sejam atendidas e tudo está indo bem em nossas vidas, somos inclinados a pensar que estamos levando nossa própria carga. Conquistamos nosso próprio dinheiro, comprar nossa própria comida e roupas, para pagar nossas próprias casas. No entanto, mesmo a pessoa que mais trabalhava deve a tudo o que ele ganha para a provisão de Deus (conforme Dt 8:18). A nossa vida, respiração, saúde, bens, talentos e oportunidades de tudo, provenientes de recursos que Deus criou e disponibilizados para o homem (ver Atos 17:24-28). Depois os cientistas fizeram todas as suas observações e cálculos, ainda há o elemento inexplicável do projeto, a origem eo funcionamento do universo. É inexplicável, ou seja, além de Deus, que mantém todos juntos (Heb. 1: 2-3).

Deus providenciou para o homem antes mesmo de criar o homem. Man foi a criação final de Deus, e depois que Ele fez e abençoou Adão e Eva Ele disse: "Eis que vos tenho dado todas as plantas dão semente que está na superfície de toda a terra, e toda árvore que tem fruto que dê semente, que deve de alimento para vocês "(Gn 1:29). Desde aquela época Deus continuou a fornecer uma abundância de alimento para a humanidade, em uma variedade quase ilimitada.

No entanto, Paulo nos diz que "o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, ... e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos compartilhada por aqueles que crêem e conhecem a verdade. Por tudo que foi criado por Deus é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com gratidão, pois é santificado por meio da palavra de Deus e pela oração "(1Tm 4:1, 10-11).

Deus não se obrigar a satisfazer as necessidades físicas de cada um, mas apenas daqueles que confiam nEle. No Salmo 37 Davi fala aos crentes que "confiança no Senhor" (v. 3), "delícia ... no Senhor" (v. 4), "cometem [seu] caminho ao Senhor" (v. 5), "Descansa no Senhor e espera nele" (v. 7), "Deixa a ira, e" não se preocupe "(v. 8) Ele diz:." Fui moço, e agora sou velho; Ainda não vi o justo desamparado, ou sua descendência a mendigar o pão "(v. 25).

Os Seekers

nos da oração-modelo de Jesus são aqueles que pertencem a Ele. Falando aos crentes, Paulo escreveu: "Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também dará e multiplicará a vossa sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça, você será enriquecido em tudo para toda a liberalidade, a qual por meio de nós é a produção de agradecimento a Deus "(2 Cor. 9: 10-11).

Jesus disse: "Em verdade eu vos digo, não há ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos ou pais, ou filhos, por amor do reino de Deus, que não receba muitas vezes mais neste momento e no era por vir, a vida eterna "(Lucas 18:29-30). Deus irrevogavelmente compromete-se a satisfazer as necessidades essenciais de sua autoria.

A maior causa de fome e as doenças concomitantes no mundo não é pobre práticas agrícolas ou políticas econômicas e políticas pobres. Também não é a raiz do problema da falta de recursos científicos e tecnológicos ou mesmo superpopulação. Esses problemas só agravam o problema básico, que é espiritual. Apenas cerca de quinze por cento da terra arável no mundo é utilizada para a agricultura, e que apenas a metade do ano. Não há maior área do mundo que com a tecnologia adequada não é capaz de suportar a sua própria população e muito mais.
Essas partes do mundo que não têm raízes cristãs invariavelmente colocar um valor baixo na vida humana. A pobreza na Índia, por exemplo, pode ser colocada nos pés do hinduísmo, a religião pagã que gerou uma série de outras religiões. De acordo com a Encyclopaedia Britannica e Manual do Eerdman de Religiões do Mundo , budismo, jainismo, sikhismo e vir do hinduísmo. Xintoísmo, o zoroastrismo, o confucionismo, taoísmo e não o fazem.

Para os hindus, o homem é, mas a encarnação de uma alma no seu caminho para moksha , uma espécie de "emancipação final", durante o qual viagem ele passa por incontáveis, talvez intermináveis, ciclos de reencarnação, tanto em animais e forma humana. Ele trabalha o seu caminho até formas mais elevadas de boas ações e regride para diminuir formas por pecar. A pobreza, a doença, a fome e são, portanto, vistas como castigos divinos para que as pessoas envolvidas devem fazer penitência, a fim de ter nascido em uma forma mais elevada. Para ajudar uma pessoa em situação de pobreza ou doença é interferir com o seu karma e, portanto, fazer-lhe mal espiritual. (Para uma discussão de moksha , consulte Encyclopedia Britannica , Micropédia, VI, p 972;. Para uma discussão mais geral, veja Encyclopaedia Britannica ..., Macropædia, vol 8, pp 888-908 Consult, também, o Manual do Eerdman de Religiões do Mundo [Grand Rapids: Eerdmans, 1982]).

Todos os animais são considerados encarnações ou de homens ou divindades. As vacas são consideradas sagradas especialmente porque eles são divindades-de que o hinduísmo tem algum 330 milhões encarnado. As vacas não apenas não são para ser comido, mas também para o problema alimentar, consumindo 20 por cento da oferta total de alimentos da Índia. Mesmo ratos e camundongos, que comem 15 por cento do fornecimento de alimentos, não são mortos, porque eles podem ser seus parentes reencarnados.
Assim como o paganismo é a grande praga da Índia, da África, e muitas outras partes do mundo, o cristianismo tem sido a bênção do Ocidente. Europa e os Estados Unidos, embora nunca totalmente cristã, em qualquer sentido bíblico, têm sido imensamente abençoado por causa da influência cristã sobre filosofia e política político, social e econômico. As grandes preocupações com os direitos humanos, o cuidado com os pobres, orfanatos, hospitais, reforma do sistema prisional, a reforma racial e escravos, e uma série de outras preocupações não veio do paganismo ou humanismo, mas do cristianismo bíblico.Por outro lado, a visão degradada atual da vida humana reflete na baixa vista da família e crescente aprovação legal e social do aborto, infanticídio, ea eutanásia são o legado do humanismo e ateísmo prático.
Sem uma visão correta de Deus, não pode haver uma visão própria do homem. Aqueles que têm uma visão correta de Deus e também um relacionamento correto com Ele através de Jesus Cristo são prometidas a prestação de seu Pai celestial. "Por esta razão," Jesus diz: "Eu vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou pelo que haveis de beber;., Nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir é não a vida mais do que a comida, eo corpo mais do que roupa ... Por todas estas coisas os gentios procuram avidamente;? pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas estas coisas Mas buscai primeiro o seu reino ea sua justiça,. e é aditado todas estas coisas a vós "(6:25 Matt., 32-33).
Às vezes, Deus providenciou para Seus filhos através de meios milagrosos, mas Sua principal forma de disposição é através do trabalho, para o qual Ele deu a vida, energia, recursos e oportunidades. Sua principal forma de cuidar daqueles que não podem trabalhar é através da generosidade daqueles que são capazes de trabalhar. Se ele faz isso, direta ou indiretamente, Deus é sempre a fonte de nosso bem-estar físico. Ele faz a terra para produzir o que precisamos, e Ele nos dá a capacidade de consegui-lo.

O Cronograma

O cronograma de provisão de Deus para Seus filhos é diária. O significado aqui é simplesmente o de fornecimento regular, o dia-a-dia das nossas necessidades. Estamos a contar com o Senhor, um dia de cada vez. Ele pode nos dar visão para a obra que Ele nos chama a fazer no futuro, mas Sua provisão para as nossas necessidades é diária, não semanal, mensal ou anual. Para aceitar a provisão do Senhor para os dias atuais, sem se preocupar com as nossas necessidades ou bem-estar amanhã, é um testemunho do nosso contentamento na sua bondade e fidelidade.

Perdão de Deus

E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores. (6:12)

Opheilēma ( dívidas ) é um dos cinco do Novo Testamento termos gregos para o pecado. Hamartia é o mais comum e carrega a idéia raiz de errar o alvo. Pecado erra o alvo da norma de justiça. De DeusParaptōma , muitas vezes traduzida como "transgressão", é o pecado de escorregar ou cair, e resulta mais do descuido que de desobediência intencional. parábase refere-se a pisar em toda a linha, indo além dos limites prescritos pela Deus, e é muitas vezes traduzida como "transgressão". Este pecado é mais consciente e intencional de hamartia e paraptōma . Anomia significa ilegalidade, e é um pecado ainda mais intencional e flagrante. É rebelião direta e aberta contra Deus e Seus caminhos.

O substantivo opheilēma é usado apenas algumas vezes no Novo Testamento, mas a sua forma verbal é encontrado com freqüência. Dos cerca de trinta vezes ele é usado em sua forma verbal, vinte e cinco vezes refere-se a dívidas morais ou espirituais. O pecado é uma dívida moral e espiritual de Deus que deve ser pago. Em seu relato desta oração, Lucas usa hamartia ("pecados", Lc 11:4). O homem natural não quer seu pecado curada, porque ele ama mais as trevas do que a luz (Jo 3:19).

Os que confiam no Senhor Jesus Cristo, receberam o perdão de Deus pelo pecado e são salvos do inferno eterno. E uma vez que, como já vimos, esta oração é dada aos crentes, os débitos referidos aqui são os incorridos pelos cristãos quando eles pecado. Infinitamente mais importante do que a nossa necessidade de pão de cada dia é a nossa necessidade de perdão contínuo de pecado.

Arthur Rosa escreve em uma exposição de o Sermão da Montanha (Grand Rapids: Baker, 1974), pp. 163-64:

Como ele é contrário à santidade de Deus, o pecado é uma profanação, uma desonra e uma vergonha para nós, pois é uma violação de Sua lei. É um crime, e quanto à culpa que entramos em contato, assim, é uma dívida. Como criaturas temos uma dívida da obediência para nosso criador e governador, e pela não rendem o mesmo por conta de nossa desobediência posto, o que implicou uma dívida de castigo; e é por isso que nós imploramos o perdão divino.

A Provisão

Porque maior problema do homem é o pecado, sua maior necessidade é o perdão, e isso é o que Deus oferece. Apesar de ter sido perdoado da pena final do pecado, como cristãos devemos perdão constante de Deus para os pecados que continuam a cometer. Devemos orar, portanto, perdoe-nos . O perdão é o tema central de toda esta passagem (vv. 9-15), sendo mencionada seis vezes em oito versos. Tudo leva a ou questões de perdão.

Os crentes têm experimentado uma vez por todas o perdão judicial de Deus, que eles receberam o momento em que Cristo foi confiado como Salvador. Nós já não estão condenados, não mais sob julgamento, não mais destinados ao inferno (Rm 8:1).

Mas porque ainda cair em pecado, que frequentemente exigem gracioso perdão de Deus, o Seu perdão não agora como juiz, mas como Pai. "Se dissermos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos, ea verdade não está em nós", João avisa os crentes. Mas, ele continua a garantir-nos: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (I João 1:8-9).

Durante a Última Ceia, Jesus começou a lavar os pés aos discípulos como uma demonstração do humilde, servindo espírito que devem ter como Seus seguidores. A princípio Pedro recusou, mas quando Jesus disse: "Se eu não te lavar, não terás parte comigo", Pedro foi para o outro extremo, querendo ser banhado todo. Jesus respondeu: "Aquele que se banhou não necessita de lavar os pés, pois está todo limpo;. E vós estais limpos, mas não todos vocês ' Para Ele sabia o que o traía, por esta razão Ele disse: 'Nem todos estais limpos "(13 5:43-13:11'>João 13:5-11).

Ato de lava-pés de Jesus foi, portanto, mais do que um exemplo de humildade; era também uma figura do perdão que Deus dá em Sua limpeza repetida daqueles que já estão salvos. Sujeira nos pés simboliza a contaminação diária superfície do pecado que nós experimentamos como nós caminhamos pela vida. Não se trata, e não pode, fazer-nos inteiramente sujo, porque temos sido permanentemente limpos do que isso. A purga posicional da salvação que ocorre a regeneração não precisa de repetição, mas a purga prática é necessária a cada dia, pois a cada dia estamos aquém da santidade perfeita de Deus.

Como juiz, Deus está ansioso para perdoar os pecadores, e como Pai Ele é ainda mais ansioso para continuar a perdoar Seus filhos. Centenas de anos antes de Cristo, Neemias escreveu: "Tu és um Deus de perdão, clemente e compassivo, lento para a cólera, e abundante em benignidade" (Ne 9:17). Tão vasto e penetrante como o pecado do homem é, Deus o perdão é mais vasto e maior. Onde abunda o pecado, a graça de Deus abunda ainda mais (Rm 5:20).

Um apelo

Pedir perdão implica confissão. Pés que não são apresentados a Cristo não podem ser lavados por Ele. Pecado que não é confessado não pode ser perdoado. Essa é a condição João deixa claro no texto que acabamos de citar acima: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1Jo 1:9). João Stott diz: "Um dos antídotos mais corretos para o processo de endurecimento moral é a prática disciplinada de descobrir nossos pecados de pensamento e perspectivas, bem como da palavra e da ação, e o abandono arrependido deles" ( confessar seus pecados [ Waco, Tex .: Palavra, 1974], p. 19).

O verdadeiro cristão não ver promessa do perdão de Deus como uma licença para pecar, uma maneira de abusar de seu amor e abusar da sua graça. Ao contrário, ele vê gracioso perdão de Deus como meio de crescimento espiritual e santificação e continuamente dá graças a Deus por Seu grande amor e vontade de perdoar e perdoar e perdoar. Também é importante perceber que a confessar o pecado dá glória a Deus quando Ele castiga o cristão desobediente porque remove qualquer queixa de que Deus é injusto quando Ele disciplina.
Um santo Puritan de muitas gerações atrás orou: "Concedei-me a nunca perder de vista a excessiva malignidade do pecado, a justiça superior da salvação, a glória superior de Cristo, a beleza da santidade superior, ea maravilha superior de graça." Em outra ocasião, ele orou: "Eu sou culpado, mas perdoado. Eu estou perdido, mas salvo. Estou vagando, mas encontrou. Eu estou pecando, mas limpo. Dá-me o coração contrito perpétua. Mantenha-me sempre agarrado a Tua cruz" (Arthur Bennett, ed,. O Valley da Vision: A Collection dUma Oraçãos puritanos e Devoções [Edinburgh: Banner da Verdade, 1975], pp 76, 83)..

O pré-requisito

Jesus dá a pré-requisito para receber o perdão nas palavras, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores . O princípio é simples, mas preocupante: se nós temos perdoado, seremos perdoados; se não tivermos perdoado, não será perdoado.

Devemos perdoar porque é o caráter de justiça, e, portanto, da vida de fé cristã, a perdoar. Os cidadãos do reino de Deus são abençoados e receber misericórdia porque eles próprios são misericordiosos (Mt 5:7).

Estamos também a ser motivados a perdoar por causa do exemplo de Cristo. "Seja gentil com o outro", diz Paulo, "compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou" (Ef 4:32). João nos diz: "Aquele que diz que permanece nele, esse deve-se a caminhar na mesma maneira como Ele andou" (1Jo 2:6).

Perdoar os outros também libera a consciência de culpa. A falta de perdão não só se destaca como uma barreira para o perdão de Deus, mas também interfere com a paz de espírito, felicidade, satisfação, e até mesmo o bom funcionamento do corpo.

Perdoar os outros é de grande benefício para toda a congregação dos crentes. Provavelmente, algumas coisas têm tão curto-circuito no poder da igreja como os conflitos não resolvidos entre seus membros."Se eu atender à iniqüidade no meu coração", o salmista adverte a si mesmo e todos os crentes ", o Senhor não me ouvirá" (Sl 66:18). O Espírito Santo não pode trabalhar livremente entre aqueles que carregam rancores e ressentimentos porto (ver Mateus 5:23-24; 1 Cor. 1: 10-13; 3: 1-9.).

Perdoar os outros também nos livra da disciplina de Deus. Onde há um espírito que não perdoa, não é pecado; e onde há pecado, não haverá castigo (Heb. 12: 5-13). Pecados sem arrependimento na igreja em Corinto causado muitos crentes a ser fraco, doente, e até mesmo a morrer (1Co 11:30).

Mas a razão mais importante por ser indulgente é que traz o perdão de Deus para o crente. Essa verdade é tão importante que Jesus reforça-lo após o encerramento da oração (vv. 14-15). Nada na vida cristã é mais importante do que o perdão-nosso perdão aos outros e perdão de nós de Deus.
Na questão do perdão, Deus nos trata como lidamos com os outros. Devemos perdoar aos outros como livremente e graciosamente como Deus nos perdoa. O Puritan escritor Tomé Manton disse: "Não há ninguém tão suave para os outros como eles, que têm recebido misericórdia si mesmos, para que eles sabem como suavemente Deus repartiu com eles."

Proteção de Deus

E não nos induzas à tentação, mas livrai-nos do mal. (6: 13a)

Peirasmos ( tentação ) é basicamente uma palavra neutra no grego, não tendo nenhuma conotação ou do bem ou do mal necessário, como faz o nosso Inglês tentação , que se refere ao incentivo para o mal.O significado da raiz tem a ver com um teste ou prova, ea partir desse significado derivam os significados relacionados de provação e tentação. Aqui parece paralelo o termo mal, indicando que ele tem em vista sedução do pecado.

Santidade e bondade de Deus não vai permitir que o Seu líder ninguém, nem, certamente, um de seus filhos, em um lugar ou experiência em que eles iriam propositalmente ser induzido a cometer o pecado."Que ninguém diga quando é tentado", diz Tiago, "" Estou sendo tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo não tenta ninguém "(Jc 1:13).

No entanto, Tiago tinha apenas disse: "Considerai tudo com alegria, meus irmãos, quando se deparar com várias provações ( peirasmos ), sabendo que a provação da vossa fé produz perseverança "(vv. 2-3).Há um problema de interpretação, portanto, quanto a saber se peirasmos em Mt 6:13 é traduzido tentação ou prova. Como Tiago nos diz: Deus não tenta. Então, por que não pedir-lhe para fazer o que Ele nunca faria de qualquer maneira? No entanto, Tiago também nos diz que devemos alegrar quando provações e não tentar evitá-los. Então, por que devemos orar, não nos induzas à tentação?

Afirmo com Crisóstomo, o Pai da igreja primitiva, que a solução para este problema é que Jesus não está aqui falando de lógica ou teologia, mas de um desejo do coração e inclinação que causam um crente querer evitar o perigo e dificuldade pecado cria. É a expressão da alma redimida que tanto despreza e teme o pecado que quer escapar de todas as perspectivas de queda para ele, escolhendo para evitar invés de ter que derrotar a tentação.
Aqui é outro paradoxo da Escritura. Sabemos que os ensaios são um meio para o nosso crescimento espiritual, moral e emocionalmente. No entanto, nós não temos nenhum desejo de estar em um lugar onde até mesmo a possibilidade do pecado é aumentada. Mesmo Jesus, quando Ele orou no Jardim do Getsêmani, pediu em primeiro lugar, "Meu Pai, se é possível, este cálice passe de mim", antes que Ele disse: "ainda não seja como eu quero, mas como tu queres" (Mt . 26:39). Ele ficou horrorizado com a perspectiva de tomar sobre si o pecado, mas Ele estava disposto a suportá-la, a fim de cumprir a vontade de seu Pai, para tornar possível a redenção do homem.
Nossa reação adequada aos tempos de tentação é semelhante à de Cristo, mas para nós é principalmente uma questão de auto-desconfiança. Quando olhar honestamente para o poder do pecado e em nossa própria fraqueza e propensões pecaminosas, nós estremecer com o perigo de tentação ou mesmo julgamento. Esta Pedido é outro argumento para Deus para prover o que em nós mesmos não temos. É um apelo a Deus para colocar um relógio sobre os nossos olhos, nossos ouvidos, a nossa boca, nossos pés e nossas mãos-que em tudo o que vemos, ouvimos, ou dizer, e em qualquer lugar que vá e em tudo o que fazemos, Ele vai nos proteger do pecado.

Como José, nós sabemos que homens e Satanás significa para Deus mal se voltarão para o bem de seus filhos (conforme Gn 50:20); mas não estamos certos de que, como José, seremos completamente submissa e dependente de Deus em nossas provações. A implicação dessa parte da oração parece ser: ". Senhor, não nunca nos levar a um julgamento que irá apresentar uma tal tentação que não será capaz de resistir a ela" Ele está colocando a promessa de que "Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além do que você é capaz, mas com a tentação, vos proverá livramento, de que você pode ser capaz de suportar" (1Co 10:13).

Esta Pedido é uma salvaguarda contra a presunção e uma falsa sensação de segurança e auto-suficiência. Sabemos que nunca vamos ter chegado espiritualmente, e que nós nunca estará livre do perigo do pecado, até que estejamos com o Senhor. Com Martin Luther dizemos: "Não podemos deixar de ser exposto aos assaltos, mas oramos que não pode cair e morrer sob eles." Como o nosso querido Senhor orou por nós em Sua grande oração de intercessão, queremos que, a todo o custo, para ser guardado do mal (Jo 17:15).

Quando nós oramos sinceramente, não nos levam em tentação, mas livrai-nos do mal, nós também declaram que nos submetemos a Sua Palavra, que é a nossa proteção contra o pecado. "Submeter portanto, a Deus", diz Tiago. "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Jc 4:7 e, para as mentes e os corações dos leitores judeus de Mateus, teria sido um movimento e clímax apropriado.

Postscript de Deus

Porque, se perdoardes aos homens as suas transgressões, para, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Mas se não perdoardes aos homens, então o vosso Pai não perdoará as vossas ofensas. (6: 14-15)

A lição da oração termina com um lembrete de que segue o ensinamento do perdão no versículo 12. Esta visão é próprio comentário do Salvador em nossa Pedido a Deus pelo perdão, e é o único das petições a que ele dá acrescentou. Assim, a sua importância é ampliada .

Porque, se perdoardes aos homens as suas transgressões para coloca o princípio de um modo positivo. Os crentes devem perdoar como aqueles que receberam o perdão judicial (conforme Ef 1:7) de Deus. Quando o coração está cheio de um espírito tão indulgente, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós . Os crentes não podem conhecer o perdão dos pais, o que mantém a comunhão com o Senhor rico e bênçãos do Senhor profusa, além de perdoar os outros em coração e palavra. Perdoe ( aphiēmi ) significa literalmente "para arremessar longe"

Paulo tinha isso em mente quando escreveu: "Eu encontrei misericórdia, para que em mim, o principal [dos pecadores], Jesus Cristo pudesse demonstrar sua paciência perfeito" (1Tm 1:16;.. Mt 7:11 ). Um espírito que não perdoa, não só é incoerente que alguém que foi totalmente perdoados por Deus, mas também traz a correção de Deus, em vez de Sua misericórdia Nosso Senhor ilustra a resposta unmerciful na parábola de Mateus 18:21-35. Há um homem é perdoado a dívida impagável representar o pecado e é dada à mercê de salvação. Em seguida, ele se recusa a perdoar o outro e é imediatamente e severamente castigado por Deus.

Mas se não perdoardes aos homens, então o vosso Pai não perdoará as vossas ofensas . Que afirma a verdade do versículo 14 de uma forma negativa para dar ênfase. O pecado de um coração rancoroso e um espírito amargo (He 12:15) perde bênção e convida julgamento. Até mesmo o Talmud ensina que aquele que é indulgente para com as falhas dos outros será misericordiosamente tratado pelo Supremo Juiz ( Shabbath 151 b ).

Cada crente deve buscar para manifestar o espírito de perdão de José (Gn 50:19-21) e de Estevão (At 7:60) quantas vezes for necessário (Lucas 17:3-4). Para receber o perdão de Deus perfeitamente santo e depois de se recusar a perdoar os outros quando estamos homens pecadores é o epítome do abuso de misericórdia. E o "julgamento será implacável para aquele que não usou de misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo" (Jc 2:13).

Há petições para o crente que pedir de Deus, mas também há condições para que as respostas a serem recebidos. Ainda mais, as nossas orações são para ser principalmente preocupado com a exaltação do nome, reino, ea vontade do Senhor Jesus Cristo. A oração é principalmente adoração que inspira graças e pureza pessoal.

37. O jejum sem hipocrisia (Mateus 6:16-18)

E sempre que você rápido, não colocar um rosto triste como os hipócritas, pois eles negligenciam a sua aparência, a fim de ser jejuando. Em verdade vos digo que eles já receberam sua plena recompensa. Mas tu, quando jejuardes, unge a tua cabeça, e lava o rosto, para que você não pode ser jejuando, mas a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (6: 16-18)

O jejum é a área da terceira após aqueles de dar (6: 2-4) e orando (vv 5-15.) —para Que Jesus dá um corretivo para as práticas religiosas hipócritas tipificados pelos escribas e fariseus. Em cada caso, a perversão do padrão de Deus foi causada pelo desejo primordial de ser visto e elogiado pelos homens (v. 1).
O jejum tem sido praticada por diversos motivos ao longo da história. Muitos pagãos antigos acreditavam que os demônios possam entrar no corpo através dos alimentos. Quando eles sentiram que estavam sob ataque demoníaco eles rápido para evitar que os espíritos mais malignos de ter acesso a seus corpos. Os iogues da maioria das religiões orientais e cultos foram sempre empenhada em jejum, muitas vezes por longos períodos de tempo, em que visões místicas e insights são requeridas para ser recebido. Na sociedade ocidental moderna jejum tornou-se popular por razões puramente físicos e cosméticos, e é recomendado em alguns programas de dieta. A Bíblia registra nenhum ensinamento ou a prática do jejum por motivos práticos. Jejum legítimo sempre teve um propósito espiritual e nunca é apresentado como tendo qualquer valor em si mesmo.

Durante os tempos do Velho Testamento muitos crentes fiéis jejum-Moisés, Sansão, Samuel, Hannah, Davi, Elias, Esdras, Neemias, Ester, Daniel, e muitos outros. E o Novo Testamento nos diz do jejum de Anna, João Batista e os seus discípulos, Jesus, Paulo e muitos outros. Sabemos que muitos dos Padres da igreja primitiva em jejum, e que Lutero, Calvino, Wesley, Whitefield, e muitos outros líderes cristãos em circulação ter jejuado.

Mas a única rápido ordenado nas Escrituras é o ligado com o Dia da Expiação. Nesse dia, todas as pessoas foram a "humilhar [suas] almas" (Lv 16:29;. Conforme 23:27), uma expressão hebraica que incluiu abandonando o alimento como um ato de auto-negação. Isso foi um jejum nacional, envolvendo cada homem, mulher e criança em Israel. Mas ocorreu apenas uma vez por ano, e, em seguida, apenas como parte integrante do Dia da Expiação.

Porque não é em outro lugar ordenado por Deus, o jejum é diferente de dar e orando, para a qual existem muitos comandos em ambos os testamentos. Tanto o Antigo eo Novo Testamento falam favoravelmente de jejum e gravar muitos casos de jejum pelos crentes. Mas, exceto para o anual rápido que acabamos de mencionar, em nenhum lugar está necessário. Além disso, o jejum é mostrado para ser um ato voluntário inteiramente não obrigatórias, e não um dever espiritual de ser observado regularmente.

Jejum pretensioso

E sempre que você rápido, não colocar um rosto triste como os hipócritas, pois eles negligenciam a sua aparência, a fim de ser jejuando. Em verdade vos digo que eles já receberam sua plena recompensa. (6:16)

A frase e sempre que você rápido apoia o entendimento de que o jejum não é ordenado. Mas quando ela é praticada deve ser regulada de acordo com os princípios Jesus dá aqui.

Nēsteia ( rápido ) significa, literalmente, não para comer, de se abster de alimentos. Jejuns às vezes eram total e, por vezes, parcial, e normalmente apenas água estava bêbado.

Duas visões extremas de comer foram realizadas entre os judeus da época de Jesus. Muitos, como os mencionados nesta passagem, fez uma óbvia exibição de jejum. Outros acreditavam que, porque a alimentação é um dom de Deus, cada pessoa teria de prestar contas a ele no dia do juízo para todas as coisas boas que ele não tinha comido. O primeiro grupo não era apenas mais prevalente, mas foi mais hipócrita e orgulhoso. O seu jejum não era uma questão de convicção espiritual, mas um meio de auto-gratificação.
Na época de Cristo, o jejum, como quase todos os outros aspectos da vida religiosa judaica, tinha sido pervertido e torceu para além do que era bíblica e sincero. O jejum havia se tornado um ritual para ganhar mérito diante de Deus e diante dos homens atenção. Como oração e esmola, foi em grande parte um show religioso hipócrita

Muitos fariseus jejuavam duas vezes por semana (Lc 18:12), geralmente no segundo e quinto dias da semana. Eles alegaram esses dias foram escolhidos porque eram os dias Moisés fez duas viagens separadas para receber as tábuas da lei de Deus no Monte Sinai. Mas esses dois dias também passou a ser os principais dias de mercado judeus, quando as cidades estavam cheias de agricultores, comerciantes e compradores. Eram, portanto, os dois dias em que o jejum público teriam as maiores audiências.

Aqueles que querem chamar a atenção para o seu jejum seria colocar um rosto sombrio , e negligenciar a sua aparência, a fim de ser jejuando . Eles usavam roupas velhas, às vezes propositAdãoente rasgadas e sujas, por desalinhar o cabelo, se cobrir com terra e cinzas, e até mesmo usar maquiagem, a fim de olhar pálido e doente. Como vimos nos capítulos anteriores, hipócritas vem de uma palavra grega para a máscara usada pelos atores para retratar um determinado personagem ou humor. Em relação ao jejum, alguns judeus hipócritas , literalmente, recorreu a teatralidade.

Quando o coração não é reto, o jejum é uma farsa e uma zombaria. Aqueles a quem Jesus condenado para o jejum , a fim de serem vistos pelos homens eram pretensiosamente hipócrita. Tudo o que fizeram centrada em torno de si mesmos. Deus não tinha lugar em seus motivos e sua maneira de pensar, e Ele não participou da sua recompensa. A recompensa que eles queriam era o reconhecimento por homens, e que a recompensa, e só essa recompensa, receberam na íntegra .

Infelizmente, ao longo da história da igreja jejum tem sido mais freqüentemente vistos nos dois extremos que eram comuns no judaísmo. João Calvin disse: "Muitos, por falta de saber a sua utilidade subestimar sua necessidade. E alguns rejeitá-lo todos juntos, como supérfluo, enquanto, por outro lado, onde o uso adequado do jejum não é bem compreendida, é facilmente degenera em superstição."

Jejum Adequada

Mas tu, quando jejuardes, unge a tua cabeça, e lava o rosto, para que você não pode ser jejuando, mas a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.(6: 17-18)

O jejum é mencionado cerca de trinta vezes no Novo Testamento, quase sempre favorável. É possível que o jejum foi subestimada mesmo em algumas partes da igreja primitiva. Pelo menos quatro vezes por referência ao jejum parece ter sido inserido no texto original em que não é encontrada em mais antigos e melhores manuscritos (Mt 17:21; Mc 9:29; At 10:30; 1Co 7:51Co 7:5), a ocasião única para o jejum prescrito deixou de existir.

Os discípulos de Jesus não se rapidamente enquanto estava com eles, porque o jejum é principalmente associado com o luto ou outros tempos de consumir necessidade ou ansiedade espiritual. Quando os discípulos de João Batista perguntaram a Jesus por seus discípulos não rápido como eles e os fariseus fez, ele respondeu: "Os atendentes do noivo pode não chorar enquanto o esposo está com eles, podem? Mas dias virão que o noivo será tirado do meio deles, e então jejuarão "(Mat. 9: 14-15). O jejum é não associado com o luto.

O jejum nunca é mostrado na Escritura para ser o meio para a experiência espiritual elevada, visões, ou insight especial ou místicos de sensibilização, como muitos, incluindo alguns místicos cristãos, reivindicação. O jejum é apropriado nesta idade, porque Cristo é fisicamente ausente da terra. Mas é apropriado apenas como uma resposta aos tempos especiais de teste, julgamento, ou luta.

O jejum é apropriado durante momentos de tristeza. Quando Deus fez a primeira criança nascida de Bathsheba por Davi de ser doente, jejuou Davi enquanto ele implorou pela vida da criança (2Sm 12:16). Ele também jejuou quando Abner morreu (2Sm 3:35). Davi ainda em jejum, em nome de seus inimigos. "Quando eles estavam doentes, minhas roupas eram o saco; humilhava a minha alma com o jejum, e minha oração voltava para o meu seio" (Sl 35:13)..

Em tais ocasiões de profundo pesar, o jejum é uma resposta humana natural. A maioria das pessoas não se então sentir vontade de comer. Seu apetite se foi, e comida é a última coisa que eles estão preocupados. A menos que uma pessoa está ficando sério fraco de fome ou tem alguma razão médica específica para a necessidade de comer, o que fazemos nenhum favor, insistindo que eles comem.

Perigo esmagadora frequentemente solicitado jejum. O rei Josafá proclamaram um jejum nacional em Judá quando eles foram ameaçados de ataque dos moabitas e amonitas (2Cr 20:3).

Como os exilados estavam prestes a sair Babylon para o retorno aventureiro a Jerusalém, Esdras declarou um rápido ", para que possamos nos humilhar diante de nosso Deus para buscar dEle uma viagem segura para nós, para nossos filhos, e todas as nossas posses" (Ed 8:21). Ezra continua: "Pois tive vergonha de pedir ao rei soldados e cavaleiros para nos proteger do inimigo no caminho, porquanto havíamos dito ao rei:" A mão do nosso Deus é favorável a todos aqueles que o buscam, mas Seu poder e Sua ira estão contra todos os que deixarem-Lo. " Por isso, jejuou e buscou nosso Deus sobre esse assunto, e ele ouviu a nossa súplica "(vv. 22-23).

Penitência foi muitas vezes acompanhada de jejum. Davi jejum após seu duplo pecado de adultério com Bate-Seba e depois ter seu marido Urias enviado para a frente de batalha para ser morto. Daniel jejuou como ele orou a Deus para perdoar os pecados de seu povo. Quando Elias confrontou Acabe com o julgamento de Deus por sua grande maldade, o rei "rasgou as suas roupas e colocar-se de saco e jejuou, e ele se deitou com pano de saco e andava desanimado" (1Rs 21:27). Por causa da sinceridade de Acabe, o Senhor adiou o julgamento (v. 29). Séculos mais tarde, depois que os exilados tinham voltado com segurança a Jerusalém, os israelitas foram condenados por sua casando com gentios incrédulos. Como Esdras confessou que o pecado em favor de seu povo ", ele não comeu pão, nem bebeu água, pois ele estava de luto sobre a infidelidade dos exilados" (Ed 10:6.). Como ele continuou "falando na oração", relata ele, "então o homem Gabriel, que eu tinha visto na minha visão anteriormente, veio a mim em meu cansaço extremo sobre a hora de se oferecer à noite. E ele me deu instruções e conversou com me, e disse: 'O Daniel, agora vim para frente para lhe dar uma visão com a compreensão' "(21-22 vv.). Pouco tempo depois, pouco antes de receber uma outra visão, Daniel fez um parcial fast-abandonando "qualquer comida saborosa, ... carne e vinho" —para três semanas (10: 3). É importante notar que, embora o jejum foi relacionada com as revelações, não era um meio de atingi-los. Jejum de Daniel era simplesmente um acompanhamento natural da sua busca profunda e desesperada da vontade de Deus.

Nós muitas vezes não conseguem entender a Palavra de Deus, tanto quanto nós devemos simplesmente porque, ao contrário dos grandes povo de Deus, que não procuram compreendê-lo com o seu grau de intensidade e determinação. Ignorando algumas refeições pode ser o pequeno preço que estão dispostas a pagar para ficar na Palavra até que o entendimento vem.
O jejum muitas vezes acompanhou o início de uma tarefa ou ministério importante. Jesus jejuou quarenta dias e noites antes que Ele foi tentado no deserto e, em seguida, começou seu ministério de pregação.Intensidade e zelo sobre proclamar a Palavra de Deus pode assim que consomem a mente eo coração que os alimentos não tem recurso e nenhum lugar. Embora a abstenção de comida não tem absolutamente nenhum valor espiritual em si, quando comer é uma intrusão no que é infinitamente mais importante, será de bom grado, de bom grado, e discretamente abandonado.

Tanto antes como depois o Espírito Santo dirigiu a igreja de Antioquia para separar Barnabé e Saulo para um ministério especial, as pessoas estavam orando e jejuando (13 2:44-13:3'>Atos 13:2-3). Como esses dois homens de Deus ministrou a Palavra de Deus, orando e jejuando como eles nomeados anciãos nas igrejas, eles fundaram (14:23).

Só o Senhor sabe o quanto a liderança da igreja de hoje poderia ser reforçada se congregações eram de que determinado a encontrar e seguir a vontade do Senhor. A igreja primitiva não escolheu ou enviar líderes descuidAdãoente ou por voto popular. Acima de tudo eles procuraram e seguiu a vontade de Deus. O jejum não tem mais poder para assegurar a liderança piedosa do que tem que assegurar o perdão, proteção, ou qualquer outra coisa boa de Deus. Mas é provável que seja uma parte de dedicação sincera que está determinado a conhecer a vontade do Senhor e ter seu poder antes de as decisões são tomadas, os planos são postos, ou ações são tomadas. As pessoas que são consumidos com preocupação diante de Deus não tomar uma pausa para o almoço.
Em cada relato bíblico jejum genuína está ligada com a oração. Você pode orar sem jejum, mas você não pode jejuar biblicamente sem orar. O jejum é uma afirmação de intensa oração, um corolário da profunda luta espiritual diante de Deus. Nunca é um ato isolado ou uma cerimônia ou ritual que tem alguma eficácia inerente ou mérito. Não tem nenhum valor em all-in fato torna-se um obstáculo espiritual e um pecado, quando feito por qualquer motivo, além de conhecer e seguir a vontade do Senhor.

O jejum também está sempre ligada com um coração puro e deve ser associado a obediente, viver piedoso. O Senhor disse a Zacarias para declarar ao povo: "Quando você jejuou e lamentou no quinto e sétimo meses esses 70 anos, era, na verdade, para mim que você jejuou? .... Assim, tem o Senhor dos Exércitos disse:" Dispensar a verdadeira justiça, e bondade e compaixão praticar cada um ao seu irmão, e não oprimir a viúva, nem o órfão, o estrangeiro ou os pobres, e não maquinam o mal em seus corações um contra o outro "" (Zc 7:5)

Não pode haver direito jejum além de um coração reto, bem viver, e uma atitude correta.

Mas você, quando você rápido , Jesus diz aqueles que pertencem a Ele, arrume o cabelo e lave o rosto, para que você não pode ser jejuando. Para ungir a cabeça com óleo era comumente feito por uma questão de boa aparência. O óleo foi usado frequentemente perfumado e, em parte, como um perfume. Como lavar o rosto , foi associado com o dia-a-dia de vida, mas especialmente com ocasiões mais formais ou importantes. Ponto de Jesus era que uma pessoa que jejua deve fazer de tudo para se fazer parecer normal e não fazem nada para atrair a atenção para sua privação e luta espiritual.

Aquele que sinceramente quer agradar a Deus cuidadosamente evitam tentar impressionar os homens. Ele irá determinar não [a] ser jejuando, mas por Deus, o Pai que está em secreto . Jesus não diz que devemos jejuar com o propósito de ser visto até mesmo por Deus. O jejum não é para ser uma exibição para ninguém, incluindo Deus. O jejum verdadeiro é simplesmente uma parte do concentrado, oração intensa e preocupação com o Senhor, a Sua vontade, e sua obra. A lição de Jesus é que o Pai nunca deixa de notar que o jejum é de coração sentiu e genuíno, e que Ele nunca deixa de recompensá-lo. O seu Pai, que vê em secreto, te recompensará .

38. Tesouro no Céu (Mateus 6:19-24)

Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça ea ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não arrombam nem roubam; para onde o seu tesouro, aí estará o seu coração também. A candeia do corpo são os olhos; se, portanto, o seu olho é claro, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas, se os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se dedicará um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus ea Mamom. (6: 19-24)

Os seres humanos são naturalmente orientada a coisa. Estamos fortemente inclinado a ser embrulhado em buscar, adquirindo, desfrutando, e proteger os bens materiais. Em culturas prósperas, como aqueles em que a maioria dos ocidentais viver, a propensão para construir nossas vidas em torno de coisas é especialmente grande.

Os líderes religiosos do tempo de Jesus estavam preocupados com as coisas. Eles eram materialistas, ganancioso, avarento, cobiçoso, agarrando, e manipuladora. Que "os fariseus ... eram amantes do dinheiro" (Lc 16:14) não foi incidental para os outros pecados para os quais Jesus os repreendeu. Porque eles não têm uma visão correta de si mesmos (ver Mat. 5: 3-12), de sua relação com o mundo (5: 13-16), da Palavra de Deus 17-20), da moralidade (5: 21-48), e dos deveres religiosos (6: 1-18), era inevitável que eles não têm uma visão correta das coisas materiais.

Jesus primeiro mostra como a sua visão das coisas materiais não essenciais foi pervertido (vv. 4-24) e, em seguida, como a sua visão das coisas materiais essenciais também foi pervertido (vv. 25-34). Seus pontos de vista tanto de luxos e necessidades foram deformado.

A falsa doutrina leva a falsos padrões, comportamento falso, e falsos valores e religião hipócrita parece sempre ser acompanhado pela cobiça e imoralidade (conforme 2 Ped. 2: 1-3, 14-15). Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli, o sumo sacerdote, não teve em conta para as coisas de Deus, mas eles ansiosamente aproveitou escritório exaltado de seu pai, bem como as suas próprias posições sacerdotais. Eles "eram homens inúteis, pois eles não conhecem o Senhor" (1Sm 2:12.). Eles levaram mais do que sua parte prescrito da carne de sacrifício para si mesmos, e eles cometeram adultério "com as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação" (13-17 vv., 22).

Anás e Caifás, que eram sumos sacerdotes durante o ministério de Jesus, tornou-se extremamente rico de muitas concessões que corriam ou licenciados no Templo. Foi dessas concessões que Jesus limpou duas vezes a casa de Seu Pai (João 2:14-16; Mateus 21:12-13.).

Ao longo da história da igreja até os dias atuais, charlatões religiosos usaram o ministério como um meio de angariar riqueza e proporcionar oportunidade de saciar seus desejos sexuais.

Muitas vezes, essas pessoas, como os escribas e fariseus, têm usado a sua prosperidade material como prova imaginada de sua espiritualidade, proclamando sem vergonha que eles são materialmente abençoados porque eles são espiritualmente superior. Eles transformam ensinamentos de cabeça para baixo, como aqueles em Deuteronômio 28: "Agora será que, se diligentemente obedecer ao Senhor, teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará acima todas as nações da terra. E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, se você obedecer ao Senhor, teu Deus. Bendito serás na cidade, e bendito serás no país "(vv. 1 3). Essas bênçãos são claramente e repetidamente contingente em obediência ao Senhor. Material ou outros benefícios terrenos que são acumulados pela ganância, desonestidade, fraude, ou de qualquer outra forma imoral não devem ser concebidas como bênçãos do Senhor. Para reivindicar a aprovação de Deus, simplesmente na base de sua riqueza, saúde, prestígio, ou qualquer outra coisa é perverter a Sua Palavra e usar seu nome em vão.

O Antigo Testamento dá muitas advertências contra a acumulação de riqueza para seu próprio bem. "Não se cansar-se para ganhar riqueza, cessar de sua consideração dele" (Pv 23:4).

No presente passagem, Jesus olha para o materialismo, particularmente no que diz respeito aos luxos-das três perspectivas de tesouro, visão e master.

A Tesouro Individual

Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça ea ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não arrombam nem roubam; para onde o seu tesouro, aí estará o seu coração também. (6: 19-21)

Lay up ( thēsaurizō ) e tesouros ( thēsauros ) vêm da mesma termo grego básico, que também é a fonte de nossa Inglês thesaurus , um tesouro de palavras. A tradução literal dessa frase seria, portanto, "não entesourar tesouros para vós."

O grego também carrega a conotação de empilhamento ou colocar para fora horizontalmente, como um pilhas de moedas. No contexto desta passagem, a idéia é a de estocagem ou acumulação, e, portanto, imagens de riqueza que não está sendo usado. O dinheiro ou outra riqueza é simplesmente armazenado por questões de segurança; ele é mantido por causa do guarda para fazer uma demonstração de riqueza ou de criar um ambiente de excessos preguiçoso (conforme Lucas 12:16-21).

É evidente a partir desta passagem, assim como a de muitos outros nas Escrituras, que Jesus não está defendendo a pobreza como um meio para a espiritualidade. Em todos os Seus muitas instruções diferentes, Ele só disse uma vez uma pessoa para "vender seus bens e dar aos pobres" (Mt 19:21). Nesse caso particular, a riqueza do jovem era seu ídolo, e, portanto, uma barreira especial entre ele e o senhorio de Jesus Cristo. Ele forneceu uma excelente oportunidade para testar se ou não que o homem foi totalmente empenhados em transformar sobre o controle de sua vida a Cristo. Sua resposta provou que ele não era. O problema não era na própria riqueza, mas falta de vontade do homem a participar com ele. O Senhor não exigiu especificamente Seus discípulos a desistir de todo o seu dinheiro e outros pertences para segui-Lo, embora possa ser que alguns deles o fizeram voluntariamente. Ele fez exigem obediência aos Seus mandamentos, não importa o que esse custo. O preço era alto demais para o rico jovem príncipe, a quem posses eram a primeira prioridade.

Ambos os testamentos reconhecem o direito aos bens materiais, incluindo dinheiro, terras, animais, casas, roupas e todas as outras coisas que é honestamente adquirida. Deus tem feito muitas promessas de bênçãos materiais para aqueles que pertencem e são fiéis a Ele. A verdade fundamental que subjaz os mandamentos não roubar ou cobiçar é o direito de propriedade pessoal. Roubos e cobiça estão errados, porque o que é roubado ou cobiçado por direito pertence a outra pessoa. Ananias e Safira não perder suas vidas porque reteve alguns dos recursos obtidos com a venda de sua propriedade, mas porque eles mentiram ao Espírito Santo (At 5:3). Esse versículo é especificamente direcionado para "aqueles que são ricos deste mundo" e ainda não faz de comando, ou mesmo sugerir, que despojar-se de sua riqueza, mas adverte-os a não ser vaidoso sobre ele ou a confiar nele .

Abraão foi extremamente rico para a sua época, uma pessoa que disputaram na riqueza, influência e poder militar com muitos dos reis em Canaã. Quando vimos pela primeira vez Job ele é muito rico, e quando nós deixá-lo-após o teste que lhe custou tudo o que ele possuía fora de seu próprio Deus da vida tornou-o ainda mais ricos, em rebanhos e manadas, em filhos e filhas, e em uma vida longa e saudável. "E o Senhor abençoou o último estado de Jó mais do que o primeiro" (42:12-17).

A Bíblia dá conselhos considerável para trabalhar duro e seguir as boas práticas empresariais (conforme Mt 25:27). A formiga é mostrado como um modelo do bom trabalhador, que "prepara sua comida no verão, e ajunta a sua disposição na messe" (Prov. 6: 6-8). Somos informados de que "em todo trabalho há proveito, mas só em palavras leva à pobreza" (14:
23) e "pela sabedoria se edifica a casa, e com o entendimento ela se estabelece; e pelo conhecimento se encherão as câmaras com todos preciosos e agradáveis ​​riquezas "(24: 3-4). "O que lavra a sua terra terá a abundância de comida, mas o que segue buscas vazias terá a pobreza em abundância" (28:19).

Paulo nos diz que os pais são responsáveis ​​por salvar-se para os seus filhos (2 Cor. 0:14), que "se alguém não quer trabalhar, também não coma" (2Ts 3:10), e que "se alguém não cuida dos seus, e principalmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo "(1Tm 5:8 .) Brosis ( ferrugem ) significa literalmente "um comer", e é traduzida com esse significado em todo o Novo Testamento, mas aqui (conforme Rm 14:17; 1Co 8:41Co 8:4, "refeição"). Parece melhor para levar o mesmo significado aqui, em referência aos grãos que é comido por ratos, ratos, vermes e insetos.

Quase qualquer tipo de riqueza, é claro, está sujeita a ladrões , razão pela qual muitas pessoas enterraram seus objetos de valor não perecíveis no chão longe da casa, muitas vezes em um campo (ver Mt 13:44.). Quebrar em é, literalmente, "dig através de ", e poderia se referir a cavar através das paredes de barro de uma casa ou cavando a sujeira em um campo.

Nada possuímos é completamente seguro da destruição ou roubo. E mesmo se mantivermos nossas posses perfeitamente seguro durante toda a nossa vida, certamente estamos separados deles no momento da morte. Muitos milionários será paupers celestiais, e muitos indigentes será milionários celestiais.
Mas quando nosso tempo, energia e bens são usados ​​para servir os outros e para promover a obra do Senhor, eles constroem recursos celestiais que estão completamente livres de destruição ou roubo. Hánem a traça nem a ferrugem destroem, e ... os ladrões não arrombam nem furtam . Segurança Celestial é a única segurança absoluta.

Jesus continua a salientar que as posses mais queridas de uma pessoa e suas mais profundas motivações e desejos são inseparáveis, porque onde está o teu tesouro, aí estará o seu coração também . Eles vão quer tanto ser terrestre ou ambos ser celestial. É impossível ter um em terra e outro no céu (conforme Jc 4:4.). Através de ouvir a palavra do povo de Deus passou a ser condenado por seu pecado, começou a louvar a Deus, e determinado a começar obedecê-lo e apoiar fielmente a obra do Templo (caps. 9-10).

Revival, que não afecta o uso de dinheiro e posses é um revival questionável. Como o Tabernáculo estava sendo construída, "todo aquele cujo coração o moveu e todo aquele cujo espírito o levou veio e trouxe a contribuição do Senhor para a obra da tenda da congregação, e para todo o seu serviço e para as vestes sagradas" (Ex 35:21. ). Como os planos estavam sendo feitos para a construção do Templo, o próprio Davi deu generosamente para o trabalho, e "os governantes de casas paternas, os príncipes das tribos de Israel, e os comandantes de mil e de cem, juntamente com os supervisores mais obra do rei, voluntariamente ... Então o povo se alegrou porque tinham oferecido de bom grado, pois eles fizeram a sua oferta ao Senhor com todo o coração, e Rei Davi também se alegrou muito "(1Cr 29:1 ).

G. Campbell Morgan escreveu:
Você deve se lembrar com a paixão queimando dentro de você que você não é a criança de hoje. Você não é da terra, você é mais do que pó; você é o filho de amanhã você é das eternidades, você é a prole da Divindade. As medições de suas vidas não pode ser restringido pelo ponto onde o céu azul beija a terra verde. Tudo o fato de sua vida não pode ser compreendido no uma pequena esfera sobre a qual você vive. Você pertence ao infinito. Se você fazer a sua fortuna na terra dos pobres, desculpe, soul-lhe parvo fizeram uma fortuna, e é armazenado em um lugar onde você não pode segurá-la. Faça sua fortuna, mas armazená-lo onde ele vai cumprimentá-lo no alvorecer da nova manhã. ( O Evangelho Segundo Mateus . [New York: Revell, 1929], pp 64-65)

Quando milhares de pessoas, a maioria judeus, foram ganhas para Cristo durante e logo após o Pentecostes, a Igreja de Jerusalém foi inundada com muitos convertidos que vieram de terras distantes e que decidiu ficar na cidade. Muitos deles, sem dúvida, eram pobres, e muitos outros, provavelmente, deixou a maior parte de suas riquezas e posses em sua terra natal. Para atender a grande encargo financeiro de repente colocado sobre a igreja, os crentes locais "começou a vender suas propriedades e bens e os repartiam por todos, como que alguém tinha necessidade" (At 2:45).

Muitos anos mais tarde, durante uma das muitas perseguições romanas, os soldados invadiram uma certa igreja para confiscar seus tesouros presumidas. Um ancião disse ter apontou para um grupo de viúvas e órfãos que estavam sendo alimentados e disse: "Não são os tesouros da Igreja."

Princípio de Deus para o seu povo sempre foi, "Honra ao Senhor de sua riqueza, e desde o primeiro de todos os seus produtos, assim teus celeiros se encherão de fartura, e os seus barris transbordarão de vinho novo" (Pv 3:9). Paulo nos assegura que "aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; eo que semeia com fartura com abundância também ceifará com fartura" (2Co 9:6) e "generosamente" (Jc 1:5).

olho que é mau é o coração que é egoisticamente indulgente. A pessoa que é materialista e ganancioso é cego espiritualmente. Porque ele não tem forma de reconhecer a verdadeira luz, ele acha que tem luz quando ele não faz. O que é pensado para ser luz é, portanto, realmente escuridão , e por causa do auto-engano, o quão grande é a escuridão!

O princípio é simples e sóbria: a forma como olhamos e usar o nosso dinheiro é um barómetro certeza da nossa condição espiritual.

A Single Mestre

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se dedicará um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus ea Mamom. (06:24)

A terceira opção refere-se a fidelidade, para mestres . Assim como não podemos ter os nossos tesouros, tanto em terra e no céu ou nossos corpos, tanto na luz e nas trevas, não podemos servir a dois senhores.

Kurios ( mestres ) é muitas vezes traduzido senhor, e refere-se a um dono de escravos. A idéia não é simplesmente o de um empregador, de que uma pessoa pode ter vários ao mesmo tempo e trabalho para cada um deles de forma satisfatória. Muitas pessoas hoje realizar dois ou mais empregos. Se eles trabalham o número de horas que deveriam e realizam seu trabalho conforme o esperado, eles cumpriram a sua obrigação para com seus empregadores, não importa quantos eles podem ter. A idéia é de mestres de escravos.

Mas, por definição, um dono de escravos tem total controle do escravo. Para um escravo não existe tal coisa como obrigação parcial ou a tempo parcial a seu mestre. Ele deve a serviço de tempo integral a um mestre em tempo integral. Ele pertence e é totalmente controlado por e obrigado a seu mestre. Ele não tem mais nada para ninguém. Para dar nada a ninguém mais faria seu mestre menos de mestre. Não é simplesmente difícil, mas absolutamente impossível, para servir a dois senhores e totalmente ou fielmente ser escravo obediente de cada um.

Mais e mais o Novo Testamento fala de Cristo como Senhor e Mestre e dos cristãos como Seus bondslaves. Paulo nos diz que antes de sermos salvos, fomos escravos do pecado, que era o nosso mestre. Mas quando nós esperamos em Cristo, nos tornamos escravos de Deus e de justiça (Rom. 6: 16-22).

Não podemos afirmar Cristo como Senhor, se a nossa lealdade é para qualquer coisa ou qualquer outra pessoa, incluindo nós mesmos. E quando a gente conhecer a vontade de Deus, mas resistir a obedecê-la, damos provas de que a nossa lealdade é outro que não a Ele. Não podemos mais servir a dois senhores ao mesmo tempo do que podemos caminhar em duas direções ao mesmo tempo. Nós também ... odiar a um e amar o outro, ou ... a um e desprezará o outro.

João Calvin disse: "Onde riquezas manter o domínio do coração, Deus perdeu sua autoridade" ( A Harmonia do evangelistas Mateus, Marcos e Lucas , vol 1. [Grand Rapids: Baker, 1979], 337 p.). O nosso tesouro está tanto na terra como no céu, a nossa vida espiritual ou é cheio de luz ou das trevas, e nosso mestre ou é Deus ou a Mamon (posses, bens terrenos).

As encomendas desses dois mestres são diametralmente opostas e não podem coexistir. A única nos ordena a andar pela fé e as outras exigências que andam pela vista. A única chama-nos a ser humilde e outro para se orgulhar, o único a definir nossas mentes nas coisas de cima e outro para defini-los em coisas abaixo. Um chama-nos a amar a luz, o outro a amar a escuridão. O diz-nos a olhar para as coisas invisíveis e eternas e outros a olhar para as coisas visíveis e temporais.

A pessoa cujo mestre é Jesus Cristo pode dizer que, quando ele come ou bebe ou faz qualquer outra coisa, ele faz "tudo para a glória de Deus" (1Co 10:31). Ele pode dizer com Davi: "Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim" (Sl 16:8)

Por esta razão eu vos digo, não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que a comida, eo corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à extensão da sua vida? E por que você está ansioso sobre a roupa? Observe como os lírios do campo, como crescem; Eles não trabalham nem fiam, mas eu digo que nem Salomão, em toda a sua glória não vestir-se como um deles. Mas, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, vai Ele não muito mais fazê-lo para você, Omen de pouca fé? Não fique ansioso, então, dizendo: "O que vamos comer?" ou "O que vamos beber?" ou "Com o que devemos nos vestir?" Por todas estas coisas os gentios procuram avidamente; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas estas coisas. Mas buscai primeiro o seu reino ea sua justiça; e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos inquieteis para amanhã; para amanhã cuidará de si mesmo. Cada dia tem problemas suficientes própria. (6: 25-34)

Em Mateus 6:19-24 Jesus incide sobre a atitude em relação ao luxo, o desnecessário posses físicas homens loja e estoque por razões egoístas. Nos versículos 25:34 Ele enfoca a atitude para com o que os homens comer, beber e vestir, as necessidades da vida que eles absolutamente deve ter de existir. A primeira passagem é dirigida particularmente com o rico eo segundo particularmente para os pobres. Tanto ser rico e ser pobre tem seus problemas espirituais especiais. Os ricos são tentados a confiar em suas posses, e os pobres são tentados a duvidar de provisão de Deus. Os ricos são tentados a se tornar auto-satisfeito com a falsa segurança de suas riquezas, e os pobres são tentados a preocupação eo medo na falsa insegurança de sua pobreza.

Se os homens são ricos ou pobres, ou algures no meio-sua atitude para com os bens materiais é uma das marcas mais confiáveis ​​de sua condição espiritual. O homem como uma criatura terrestre é naturalmente preocupados com as coisas terrenas. Em Cristo somos recriados como seres celestiais e, como filhos de nosso Pai Celestial, as nossas preocupações devem agora concentrar-se principalmente em coisas celestiais, mesmo enquanto ainda vivemos na terra. Cristo nos envia ao mundo para fazer a Sua obra, assim como o Pai O enviou ao mundo para fazer a obra do Pai. Mas não estamos a ser "do mundo", mesmo que o próprio Jesus, enquanto na terra, foi "não são do mundo" (João 17:15-18). Um dos testes supremos de nossa vida espiritual, então, é como nós agora referem-se a esses dois mundos.Dezesseis das trinta e oito parábolas de Jesus lidar com o dinheiro. Um em cada dez versículos do Novo Testamento lida com esse assunto. Escritura oferece cerca de quinhentos versos sobre a oração, menos de quinhentos sobre a fé, e mais de dois mil em dinheiro. A atitude do crente em relação ao dinheiro e posses é determinante.

A nossa é uma época de materialismo ousado, uma era guiado pela ganância, ambição, sucesso, prestígio, auto-indulgência, e consumo conspícuo. Em seu livro O Emerging Order: Deus na era de escassez, Jeremy Rifkin diz: "A ênfase no crescimento econômico contínuo é um buraco negro que já sugou a maioria dos críticos, recursos não-renováveis ​​do mundo." O autor, que não é um cristão, faz a observação de encerramento que "a única solução para a nossa abordagem à vida é o ressurgimento da ética cristã evangélica, que é uma ética de altruísmo e de baixo consumo." A única alternativa, Rifkin diz, é uma ditadura constritiva, totalitário que irá controlar nossa sociedade e nossas vidas pessoais para nós.

Infelizmente, há pouca evidência de que mesmo os mais modernos próprios evangélicos são mais tempo comprometidos com tal ética. Nós damos muito mais evidências de seguir as tendências do mundo dos nossos dias do que de definir, confrontando, ou modificá-los. Diante desse fato, é difícil para a maioria de nós a se identificar com a advertência de Jesus não se preocupar com as necessidades básicas.Estamos bem alimentados, bem vestidos, e bem fixo em todas as outras coisas necessárias, e em muitas coisas que são totalmente desnecessários.
O coração da mensagem de Jesus em nossa passagem atual é: Não se preocupe, nem mesmo sobre as necessidades. Ele dá o comando, Não andem ansiosos por três vezes (vv 25, 31, 34.) e dá quatro razões por que se preocupar, sendo ansioso , está errado: é infiel por causa do nosso Mestre; não é necessário por causa do nosso Pai; não é razoável por causa da nossa fé; e não é sábio por causa do nosso futuro.

A preocupação é infiel por causa do nosso Mestre

Por esta razão eu vos digo, não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que haveis de vestir Não é a vida mais do que a comida, eo corpo mais do que o vestuário? (06:25)

Por esta razão, remete para o verso anterior, em que Jesus declara que só Mestre de um cristão é Deus. Ele é, portanto, dizendo: "Porque Deus é o vosso Mestre, eu digo a você, não fique ansioso . "Apenas responsabilidade de um escravo é a seu mestre, e para os crentes a preocupar-se é ser rebelde e infiel a seu Mestre, que é Deus. Para os cristãos, preocupação e ansiedade são proibidos, insensato, e pecaminoso.

No grego, o comando não estar ansioso inclui a idéia de parar o que já está sendo feito. Em outras palavras, temos de parar de se preocupar e nunca iniciá-lo novamente. Para a sua vida faz com que o comando all-inclusive. PSUCHE ( vida ) é um termo abrangente que engloba todas de uma pessoa estar físico, mental, emocional e espiritual. Jesus está se referindo a vida em sua plenitude sentido possível.Absolutamente nada, em qualquer aspecto de nossas vidas, internos ou externos, justifica estarmos ansiosos quando temos o Mestre que fazemos.

A preocupação é o pecado de não confiar na promessa e na providência de Deus, e ainda assim é um pecado que os cristãos cometem, talvez com mais freqüência do que qualquer outro. O Inglês prazopreocupação vem de uma antiga palavra alemã que significa estrangular ou sufocar. Isso é exatamente o que se preocupar faz; é uma espécie de estrangulamento mental e emocional, o que provavelmente faz com que mais aflições mentais e físicos do que qualquer outra causa.

Tem sido relatado que uma névoa densa grande o suficiente para cobrir sete quarteirões da cidade uma centena de metros de profundidade é composto de menos de um copo de água-dividido em sessenta mil milhões de gotículas. Na forma certa, alguns galões de água pode inviabilizar uma grande cidade.
De forma semelhante, a substância de preocupação é quase sempre extremamente pequeno comparado ao tamanho formar em nossas mentes e os danos que ele faz em nossas vidas. Alguém já disse: "A preocupação é uma fina corrente de medo que escorre através da mente, o que, se incentivado, vai cortar um canal tão grande que todos os outros pensamentos será drenada para fora."

A preocupação é o oposto de contentamento, que deve ser o estado normal e consistente de um crente de espírito. Cada crente deve ser capaz de dizer com Paulo: "Eu aprendi a viver contente em qualquer circunstância eu sou Eu sei como se dar bem com os meios humildes, e eu também sei como viver em prosperidade;. Em toda e qualquer circunstância eu tenho Aprendi o segredo de ser preenchido e passando fome, tanto de ter abundância e sofrer necessidade "(Filipenses 4:11-12; conforme 1 Tim. 6: 6-8.).

Contentamento do cristão é encontrada em Deus, e somente em Deus-in Sua propriedade, controle e prestação de tudo que possuímos e vai precisar. Primeiro, Deus é dono de tudo, inclusive o universo inteiro. Davi proclamou: "A terra é do Senhor, e tudo o que ela contém, o mundo e aqueles que nele habitam" (Sl 24:1).

Tudo agora temos pertence ao Senhor, e tudo o que sempre terá pertence a Ele. Por que, então, não é se preocupar com a sua tomada de nós o que realmente pertence a Ele?
Um dia, quando ele estava longe de casa, alguém veio correndo até João Wesley, dizendo: "Sua casa pegou fogo! Sua casa pegou fogo!" Para que Wesley respondeu: "Não, não tem, porque eu não possuo uma casa. O que eu tenho vivido em pertence ao Senhor, e se queimou para baixo, que é um a menos responsabilidade para mim que se preocupar com . "
Em segundo lugar, o cristão deve estar contente porque Deus controla tudo. Novamente Davi nos dá a perspectiva correta: "Tu és regra sobre tudo, e na tua mão há força e poder; e que se situa em Tua mão para engrandecer e fortalecer todos" (1Cr 29:12.). Daniel declarou: "Que o nome de Deus seja bendito para todo o sempre, sabedoria e poder pertencem a Ele e que é Ele quem muda os tempos e as épocas;. Ele remove reis e estabelece reis; Ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento para os homens de entendimento "(Dan. 2: 20-21).

Aqueles que não foram palavras vãs para Daniel. Os acontecimentos de Daniel 2 e 6 foram separados por muitos anos. Quando os comissários ciumento e sátrapas enganou o rei Dario na pedidos Daniel jogado na cova dos leões, que era o rei, e não Daniel, que estava preocupado. "Dormi fugiu de" o rei durante a noite, mas Daniel aparentemente dormia profundamente ao lado dos leões, cuja boca tinha sido fechado por um anjo (6: 18-23).

Em terceiro lugar, os crentes devem estar contente porque o Senhor fornece tudo. O proprietário supremo e controlador é também o provedor de como supremo indicado em um de Seus nomes antigos, Jeová-Jireh, que significa "o Senhor que fornece." Esse é o nome Abraão atribuída a Deus quando Ele forneceu um cordeiro para ser sacrificado no lugar de Isaque (Gn 22:14). Se Abraão, com o seu conhecimento limitado de Deus, poderia ser tão confiante e conteúdo, quanto mais devemos que conhecem Cristo e que têm toda a Sua Palavra escrita? Como o apóstolo nos assegura, Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus "(Fm 1:4; Sl 147:9 ; Mt 14:31; Mt 16:8). "Você crê que Deus pode resgatar você, te salvar do pecado, quebrar os grilhões de Satanás, levá-lo ao céu, onde Ele tem preparado um lugar para você, e mantê-lo por toda a eternidade", Jesus está dizendo; "E ainda assim você não confiar nele para suprir suas necessidades diárias?" Nós livremente colocar o nosso destino eterno nas mãos de Deus, mas, por vezes, se recusam a acreditar Ele proverá o que precisamos para comer, beber e vestir.

A preocupação não é um pecado trivial, porque ele dá um golpe, tanto no amor de Deus e na integridade de Deus. Worry declara nosso Pai celestial para ser indigno de confiança em Sua Palavra e Suas promessas. Para confessar a crença na infalibilidade das Escrituras e no momento seguinte para expressar preocupação é para falar de ambos os lados de nossas bocas. Preocupação mostra que estamos dominados por nossas circunstâncias e por nossas próprias perspectivas finitos e compreensão e não pela Palavra de Deus. A preocupação é, por conseguinte, não só debilitante e destrutivo, mas calunia e uma ofensa a Deus.
Quando um crente não é fresco na Palavra todos os dias, a fim de que Deus está em sua mente e coração, então Satanás se move para o vácuo e as plantas se preocupe. A preocupação em seguida, empurra o Senhor ainda mais de nossas mentes.

Paulo nos aconselha como fez com os Efésios: "Eu oro para que os olhos do vosso coração seja iluminado, de modo que você pode saber o que é a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos, e . o que é a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos Estes são, de acordo com a operação da força do seu poder "(Ef. 1: 18-19).

A preocupação é razoável causa da nossa fé

Não fique ansioso, então, dizendo: "O que vamos comer?" ou "O que vamos beber?" ou "Com o que devemos nos vestir?" Por todas estas coisas os gentios procuram avidamente; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas estas coisas. Mas buscai primeiro o seu reino ea sua justiça; e todas estas coisas vos serão acrescentadas. (6: 31-33)

A preocupação é inconsistente com a nossa fé em Deus e é, portanto, razoável, bem como pecaminoso. A preocupação é característica da incredulidade. Ethnoi ( gentios ) literalmente significa simplesmente "povos", ou "uma multidão". Na forma plural, como aqui, ele geralmente se refere aos não-judeus, ou seja, para os gentios e, por extensão, para os descrentes ou pagãos. Preocupar-se com o que para comer, beber e vestir -se com são as coisas os gentios procuram avidamente. Aqueles que não têm esperança em Deus, naturalmente, colocar a sua esperança e expectativas em coisas que podem desfrutar agora.Eles não têm nada para viver, mas o presente, e seu materialismo é perfeitamente coerente com a sua religião. Eles não têm Deus para suprir suas características físicas ou as suas necessidades espirituais, seu presente ou suas necessidades eternas, então qualquer coisa que recebem eles devem obter para si próprios. Eles são ignorantes da oferta de Deus e não tenho nenhuma reclamação sobre ele. No Pai celestial se preocupa com eles, então não há razão para se preocupar.

Os deuses dos gentios eram deuses feitos pelo homem inspirados por Satanás. Eram deuses do medo, temor, e apaziguamento que exigiram muito, prometidas pouco, e fornecidos nada. Era natural que aqueles que serviram esses deuses procuram avidamente quaisquer satisfações e prazeres que podiam enquanto podiam. Sua filosofia é ainda popular em nossos dias entre aqueles que estão determinados a agarrar todo o gusto eles podem chegar. "Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos" é uma perspectiva compreensível para aqueles que não têm esperança na ressurreição (1Co 15:32).

Mas isso é uma filosofia completamente insensato e irracional para aqueles que não têm esperança na ressurreição, para aqueles cujo Pai celestial sabe que [eles] precisam de todas essas coisas . Para se preocupar com o nosso bem-estar físico e nossa roupa é a marca de uma mente mundana, sejam eles cristãos ou não. Quando pensamos como o mundo e anseiam como o mundo, vamos se preocupar como o mundo, porque uma mente que não está centrada em Deus é uma mente que tem motivos para se preocupar. Os fiéis, confiantes e razoável Cristão está "ansioso para nada, mas em tudo, pela oração e súplica com ações de graças [seus] permite que pedidos que conhecidas diante de Deus" (Fp 4:6). Para buscar o reino de Deus em primeiro lugar é a derramar nossas vidas no trabalho eterno de nosso Pai celestial.

Para buscar o reino de Deus é procurar ganhar as pessoas para que o reino, para que pudessem ser salvos e Deus seja glorificado. É ter própria verdade, amor e justiça manifesto nosso Pai celestial s em nossas vidas, e para ter "paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14:17). Nós também buscar o reino de Deus, quando nós ansiamos para o retorno do Rei em Sua glória milenar para estabelecer o Seu reino na Terra e inaugurar Seu reino eterno.

Estamos também a procurar ... Sua justiça . Em vez de saudade depois as coisas deste mundo, estamos a fome e sede para as coisas do mundo para vir, que são caracterizados sobretudo pela perfeita de Deus justiça e santidade. É mais do que anseio por algo etéreo e futuro; também é anseio por algo presente e prático. Nós não só devem ter expectativas celestiais, mas uma vida santa (ver Colossenses 3:2-3). "Uma vez que todas estas coisas [a terra e as suas obras, v. 10] estão a ser destruídas desta forma", Pedro diz: "que tipo de pessoas não deveis ser em conduta e piedade sagrado, esperando e apressando a vinda do o dia de Deus "(2Pe 3:11).

A preocupação é desaconselhável por causa do nosso futuro

Portanto, não vos inquieteis para amanhã; para amanhã cuidará de si mesmo. Cada dia tem problemas suficientes própria. (06:34)

Fazendo disposições razoáveis ​​para amanhã é sensível, mas para estar ansioso para amanhã é tola e infiel. Deus é o Deus de amanhã, bem como o Deus de hoje e da eternidade. "Misericórdias do Senhor, na verdade nunca cessam, porque as suas misericórdias nunca falham renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade." (Lm 3:22-23.).

Parece que algumas pessoas estão tão empenhados em se preocupar que, se eles não conseguem encontrar nada no presente para se preocupar, eles pensam sobre possíveis problemas no futuro . Amanhã vai cuidar de si mesmo , Jesus nos assegura. Essa não é a filosofia descuidado do hedonista que vive somente para seu prazer presente. É a convicção do filho de Deus, que sabe que amanhã vai cuidar de si mesmo , pois está nas mãos de seu Pai celestial.

Que a cada dia tem bastante problema de sua própria não é um apelo que se preocupar com esse problema, mas se concentrar em atender as tentações, provações, oportunidades, e as lutas que temos hoje, contando com nosso Pai para proteger e fornecer como temos necessidade. Há problemas suficientes em cada dia, sem acrescentar a angústia de preocupação para ele.

Deus promete a Sua graça para amanhã e para todos os dias depois e por toda a eternidade. Mas Ele não nos dá graça para amanhã agora Ele apenas dá a Sua graça um dia de cada vez que for necessário, e não como ele pode ser antecipado.

"A constante da mente Tu conservarás em perfeita paz", Isaías diz: "porque ele confia em Ti Confia no Senhor para sempre, pois em Deus, o Senhor, temos uma rocha eterna." (Is. 26: 3-4) .


Barclay

O NOVO TESTAMENTO Comentado por William Barclay, pastor da Igreja da Escócia
Barclay - Comentários de Mateus Capítulo 6 do versículo 1 até o 34

Mateus 6

A recompensa como motivação na vida cristã

  1. A recompensa do ponto de vista cristão
    1. As recompensas cristãs

Mt 6:1 A maneira errada de dar — Mat. 6:2-4

As motivações da ação de dar — Mat. 6:2-4 (cont.) A maneira errada de orar — Mat. 6:5-8

A maneira errada de orar — Mat. 6:5-8 (cont.)

A maneira errada de orar — Mat. 6:5-8 (cont.) A oração do discípulo — Mat. 6:9-15

Mt 6:9

Mt 6:9 (cont.) Mt 6:9 (cont.)

Mt 6:9 (cont.)

A oração em que pedimos para sermos reverentes Mt 6:9 (cont.) Mt 6:10

Mt 6:10 (cont.) Mt 6:11

Mt 6:11 (cont.)

Mt 6:12, 14-15

O perdão humano Mt 6:12, 14-15 (cont.) Mt 6:13

Mt 6:13 (cont.)

Mt 6:13 (cont.)

Mt 6:13 (cont.) A maneira incorreta de jejuar — Mat. 6:16-18

A maneira incorreta de jejuar — Mat. 6:16-18 (cont.) O verdadeiro jejum — Mat. 6:16-18 (cont.)

O verdadeiro tesouro — Mat. 6:19-21

Tesouros no céu — Mat. 6:19-21 (cont.) A visão distorcida — Mat. 6:22-23

A necessidade de olhos generosos — Mat. 6:22-23 (cont.) Mt 6:24

Mt 6:24 (cont.)

Mt 6:24 (cont.) A preocupação proibida — Mat. 6:25-34

A ansiedade e como se cura — Mat. 6:25-34 (cont.) A insensatez da ansiedade — Mat. 6:25-34 (cont.)

A RECOMPENSA COMO MOTIVAÇÃO NA 6DA CRISTÃ

Quando estudamos os versículos introdutórios de Mateus 6, imediatamente nos deparamos com uma pergunta de suprema importância: Qual é o lugar da recompensa como motivação na vida cristã? Nesta seção, Jesus fala em três oportunidades de recompensa que Deus outorga a quem tem servido da maneira em que Ele queria. (Mt 6:4, Mt 6:6, Mt 6:18). Esta questão é tão importante que será bom nos determos para examiná-la antes de continuar o estudo detalhado do capítulo.

Tem-se dito com muita freqüência que a recompensa não tem lugar entre as motivações da vida cristã. Afirmou-se que devemos fazer o bem por amor do bem em si, que a virtude inclui sua própria recompensa, e

que até deve eliminar-se da vida cristã a mera idéia de uma recompensa, qualquer que ela seja. Havia um santo, na antiguidade, que segundo se dizia, queria poder apagar todos os fogos do inferno e queimar todas as

alegrias do céu, para que os homens procurassem o bem pelo bem em si mesmo, e não como meio de obter o céu ou evitar o inferno, e para que a

idéia de uma recompensa ou um castigo desaparecesse da vida por completo.

Aparentemente esta atitude é muito elevada e nobre, mas não pensava do mesmo modo nosso Senhor Jesus Cristo. Já notamos que

nesta passagem Jesus fala três vezes da recompensa, A forma correta de dar esmola, a forma correta de orar e a forma correta de jejuar incluem suas próprias formas de recompensa, E se trata de uma menção isolada do tema da recompensa, no conjunto dos ensinos de Jesus. Diz, também,

que quem suporte fielmente a perseguição e quem receba insultos sem responder com o rancor, serão grandes no céu (Mt 5:12). Diz que qualquer que dê a um de seus pequeninos irmãos um copo de água não

ficará sem recompensa (Mt 10:41). Pelo menos, parte do ensino da parábola dos talentos é que o serviço fiel receberá uma recompensa (Mat. 25:14-30).

Na parábola do juízo final o ensino mais direto é que há uma recompensa ou um castigo, conforme tenha sido nossa reação frente às necessidades de nosso próximo (Mateus 25:31-46). É muito evidente que

Jesus não vacilou em referir-se à recompensa ou ao castigo que pode merecer nossa forma de vida. E bem poderia nos convir não tratar de ser mais espirituais que Jesus quando pensamos a respeito deste tema da

recompensa. Há alguns fatos muito óbvios que se devem levar em conta.

  1. É uma regra óbvia da vida que qualquer ação que não obtém um resultado positivo é totalmente inútil. A bondade que não alcança um certo fim é uma bondade inútil e carente de significado. Como foi dito,

de maneira muito acertada: "A menos que algo sirva para alguma coisa, não serve para nada." A menos que a vida cristã tenha um fim e uma meta a ser alcançada, porque corresponde ao prazer que desejamos, em

grande medida será uma vida sem significado. Quem acredita no caminho cristão e na promessa cristã não pode acreditar que a bondade não tenha objetivo algum fora de si mesma.

  1. Eliminar toda recompensa ou castigo de nossa forma de compreender a religião equivale, com efeito, a dizer que a injustiça

sempre tem a última palavra. Não pode sustentar-se de maneira razoável que o fim do homem bom seja exatamente o mesmo que o do homem mau. Isto significaria que Deus não Se importa que os homens sejam bons ou maus. Significaria, para dizê-lo de maneira mais direta e mesmo dura, que não tem objetivo ser bom e que não há razão para viver de uma maneira e não de outra. Eliminar toda recompensa ou castigo é realmente afirmar que em Deus não há nem justiça nem amor. Prêmios e castigos são necessários se se quer dar algum sentido à vida.

  1. A recompensa do ponto de vista cristão

Mas tendo chegado até aqui com o conceito de recompensa na vida

cristã, há certos elementos dela que devem ser esclarecidos.

  1. Quando

    Jesus

    falou

    de

    recompensa,

    não

    pensava exclusivamente em termos de um prêmio material. É evidente que no

Antigo Testamento a bondade e a prosperidade estão intimamente relacionadas. Se um homem prosperava, se seus campos eram férteis e sua colheita abundante, se tinha muitos filhos e sua fortuna aumentava,

supunha-se que tudo isto demonstrava a bondade de seu caráter.

Este é, precisamente, o problema que subjaz na exposição do livro do Jó. Jó está atravessando um momento de má sorte e seus amigos vão

dizer-lhe que sua má sorte deve ser o resultado de algum pecado que cometeu. Jó rechaça veementemente tal acusação. "Lembra-te:" – diz-lhe Elifaz, um de seus visitantes – "acaso, já pereceu algum inocente? E onde foram os retos destruídos?" (4:7). E Bildade acrescenta: "Se

fores puro e reto, ele (Deus), sem demora, despertará em teu favor e restaurará a justiça da tua morada" (8:6). E Zofar, o terceiro, conclui: "Pois dizes: A minha doutrina é pura, e sou limpo aos teus olhos. Oh!

Falasse Deus, e abrisse os seus lábios contra ti, e te revelasse os segredos da sabedoria, da verdadeira sabedoria, que é multiforme! Sabe, portanto, que Deus permite seja esquecida parte da tua iniqüidade" ( 11:4-6). O

livro de Jó foi escrito como uma tese oposta ao conceito de que o bem e a prosperidade sempre são paralelos.

"Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão" (Sl 37:25). E em outro lugar diz o salmista: "Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás atingido. Somente com os teus olhos contemplarás e verás o castigo dos ímpios. Pois disseste: O SENHOR é o meu refúgio. Fizeste do Altíssimo a tua morada. Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda" (Salmo 91:7-10). Estas são palavras que Jesus nunca teria pronunciado. Nunca prometeu prosperidade material a seus discípulos. De fato, prometeu-lhes julgamentos e tribulações, provas e angústias, sofrimento, perseguição e morte. É evidente que Jesus ao falar de recompensa não pensava em termos materiais.

  1. A segunda coisa que é preciso lembrar, é que a recompensa mais alta nunca é recebido por quem a procura. Se alguém se esforçar por obter o reconhecimento que crê merecer por suas ações, se está avaliando todo o tempo a magnitude de seus trabalhos e contabilizando os méritos que está acumulando, jamais receberá a recompensa que busca e pela que tanto trabalha em excesso. E isto ocorrerá porque considera a Deus e à vida de maneira incorreta. O homem que está sempre calculando o montante de sua recompensa acredita que Deus é um juiz ou um contador, e concebe a vida em termos legalistas. Pensa em fazer tanto e ganhar tanto. Suas idéias se movem entre a coluna do débito e a do dever. Imagina que no tempo futuro se apresentará ante Deus com seu balanço e lhe dirá: "Isto é o que eu tenho feito, exijo minha recompensa."

O engano básico desta atitude é conceber a vida em termos legalistas, esquecendo o amor. Se amarmos a alguém de maneira profunda e apaixonada, humildemente e sem egoísmos, teremos a certeza de que mesmo que entreguemos a essa pessoa tudo o que é nosso, não teremos feito o suficiente; que se conseguimos pôr em suas mãos o Sol, a Lua e as estrelas, seguiremos sendo seus devedores. Quem ama sempre está em dívida; a última coisa que pensará é que de algum modo não foi merecedor de alguma recompensa. Mas se concebermos a vida em forma

legalista sempre estaremos pensando em lucros e recompensas. Por outro lado, se nosso enfoque da vida se apóia no amor, a idéia de recompensa jamais penetrará em nossa mente.

O grande paradoxo da vida cristã é que quem procura recompensa, quem está sempre calculando quanto receberá, jamais se torna credor de

nada; mas aquele cujo único motivo é o amor, e que jamais pensa que é merecedor de nada, recebe, entretanto, a mais rica retribuição. O mais estranho de tudo é que a recompensa é ao mesmo tempo o subproduto e

o fim último da vida cristã.

  1. As recompensas cristãs

Passemos a nos perguntar agora: Quais são as recompensas de uma vida cristã?

  1. Devemos iniciar colocando uma verdade básica e geral. Já

vimos que Jesus não pensa em recompensas materiais. As recompensas da vida cristã se constituem recompensas apenas para quem possui uma mentalidade espiritual. Os materialistas não as considerariam recompensas. As recompensas cristãs são tais somente para os cristãos.

  1. A primeira entre as recompensas cristãs é a satisfação. Fazer o que é justo, obedecer a Jesus Cristo, aceitar seu caminho, conduzam ou

não a outras formas de recompensa, sempre produzem satisfação. Bem pode ser que se alguém fizer o que deve fazer, obedecendo a Jesus Cristo, perca sua fortuna ou sua posição social, ou ambas; pode ser que termine no cárcere ou no patíbulo, ou que perca popularidade, fique

sozinho e se fale mal dele. Entretanto, apesar de tudo, sempre possuirá a satisfação interior de ter seguido a Jesus Cristo, uma satisfação que vale muito mais que o valor de tudo o que perdeu. É algo que não se pode pôr

preço; não se pode avaliar monetariamente, porque não há nada no mundo que se compare a tal satisfação. Produz um contentamento que é a verdadeira coroa da vida.

O poeta George Herbert pertencia a um grupo de amigos que costumavam reunir-se para tocar seus instrumentos musicais, formando

uma pequena orquestra. Em certa oportunidade se dirigia para o lugar de reunião do grupo quando cruzou com um carroceiro cujo veículo se afundou no barro. George Herbert deixou de lado o instrumento musical e ficou ajudando o pobre homem a desatolar as rodas. Ficou coberto de barro. Quando chegou à casa de seus amigos era muito tarde para a música. Disse-lhes qual tinha sido a causa de seu atraso, e um deles lhe replicou: "Bem, você perdeu a música." "Sim," respondeu Herbert, "mas ouvirei cantos à meia-noite." Tinha a satisfação de ter feito o que se espera de um cristão.

Godfrey Winn nos conta de um homem que era o cirurgião plástico mais importante da Grã-Bretanha. Durante a Segunda Guerra Mundial

abandonou seu trabalho como profissional independente, que lhe rendia uma renda anual de 25:000 dólares, para dedicar todo o seu tempo à cirurgia plástica dos rostos de pilotos de aviões queimados e mutilados

em combate. Winn lhe perguntou: "Qual é sua maior ambição, Mac?" O médico lhe respondeu: "Chegar a ser um bom artesão." Os 25:1, Mt 6:5,

16). Seria melhor traduzir: "Já receberam a totalidade de seu

pagamento." No original se utiliza o verbo grego apechein que significa, na terminologia técnica dos negócios, receber a totalidade do pagamento. Era a palavra que se escrevia nas faturas uma vez que já se efetuou o pagamento correspondente. Por exemplo, se alguém recebia uma soma e dava um recibo provavelmente dissesse: "Recebi apecho de Fulano o aluguel pela prensa de azeitonas que me aluga." O coletor de impostos assinava recibos dizendo: "Recebi apecho de Zutano a taxa impositiva que devia." Se alguém vendia um escravo, entregava ao comprador um recibo estabelecendo: "Recebi apecho a totalidade do preço convencionado."

Jesus, portanto, quer dizer o seguinte: "Se você der esmolas para demonstrar

sua

generosidade,

você

obterá

a

admiração

de

seus

semelhantes – mas isso é tudo o que você receberá como recompensa. Se você ora para esfregar sua piedade na cara de outros, você obterá a

reputação de ser um homem extraordinariamente religioso – mas isso será tudo o que você receberá. Esse será seu pagamento. Se você jejua para que todos saibam que você está jejuando, você receberá a fama de

ser todo um asceta – mas isso é tudo que você conseguirá. Esse será seu pagamento."

Em outras palavras, Jesus está dizendo: "Se seu único fim é obter as

recompensas que o mundo pode dar, não há dúvida de que o conseguirá

  1. mas então não deve esperar as recompensas que somente Deus pode dar." E seria singularmente cega a criatura disposta a apegar-se às recompensas temporárias, enquanto deixa escapar as recompensas da

eternidade.

A MANEIRA ERRADA DE DAR

Mateus 6:2-4

Para o judeu a esmola era o mais sagrado de todos os deveres religiosos. Até onde era considerada uma obrigação de primeiríssima

importância pode deduzir-se do uso que faziam do termo esmola –

tzedakah – para denotar também um conceito tão fundamental como justiça. Dar esmola e ser justo eram uma e a mesma coisa. Dar esmola era ganhar méritos ante Deus, e podia inclusive significar a expiação e o perdão pelos pecados cometidos no passado. "Melhor é dar esmola que acumular tesouros, pois a esmola livra da morte e poda de tudo pecado" (Tobias 12:8).

"A piedade com o Pai não será lançado ao esquecimento. E em vez do castigo pelos pecados terá prosperidade. No dia da tribulação, o Senhor se lembrará de ti, e como se derrete o gelo em dia quente, assim se derreterão os teus pecados." (Eclesiástico Mt 3:15). Somente quem for capaz pode estender o suficiente para cantar todo o seu louvor, mas ninguém pode". "Que as palavras do homem perante Deus sejam breves, tal como está escrito: 'Não te precipites com a tua boca, nem o teu

coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras' (Eclesiastes 5:1-2). A melhor adoração consiste em guardar

silêncio." É muito fácil contundir a verbosidade com a devoção, e nesse engano caíam muitos dos judeus.

A MANEIRA ERRADA DE ORAR

Mateus 8:5-8 (continuação)

  1. Havia outras formas de repetição que os judeus, como todos os

povos orientais, sentiam-se inclinados a utilizar e às vezes em demasia. Os povos orientais têm o costume de hipnotizar-se a si mesmos mediante a repetição interminável de uma frase ou até de uma palavra. Em 1Rs 18:261Rs 18:26 lemos como os profetas do Baal gritavam: "Baal, responde-nos!", e o fizeram durante toda a metade de um dia. Em At 19:34 lemos como a multidão de Éfeso gritou durante quase duas horas: "Grande é Diana dos efésios". Os muçulmanos podem estar muitas horas repetindo a sílaba sagrada HEI, enquanto correm descrevendo círculos, até que finalmente entram em êxtase e caem, inconscientes, totalmente exaustos. Os judeus faziam o mesmo com o Shema. Trata-se da substituição da autêntica oração pelo auto-hipnotismo.

A oração judia usava outra forma de repetição: Ao dirigir-se a Deus em oração procurava-se acumular todos os adjetivos e títulos possíveis

atribuíveis ao Senhor. Há uma oração famosa que começa dizendo:

"Bendito, louvado, glorificado, exaltado, enaltecido e honrado, engrandecido e louvado seja o nome do Santo." Há outra oração judia que começa atribuindo dezesseis adjetivos a Deus. Era uma espécie de embriaguez de palavras. Quando se começa a pensar mais em como se está orando que no que se está comunicando a Deus, a oração morre nos lábios e se converte em vã retórica.

  1. O último defeito que Jesus achava em alguns dos judeus, era que oravam para serem vistos pelos homens. O sistema de oração judia

fazia com que a ostentação fosse muito fácil. Os judeus oravam de pé, com os braços estendidos para cima, as palmas das mãos abertas para o céu e a cabeça agachada. A oração devia fazer-se às nove da manhã, às

doze e às três da tarde. Devia orar-se, chegada a hora, em qualquer lugar onde o judeu piedoso se encontrasse, e era muito fácil para aquele que desejava ostentar sua religiosidade estar, a essas horas, em alguma rua

central, ou em uma praça cheia de gente.

Era possível que qualquer vaidoso ficasse de pé na escalinata da sinagoga, e estendendo seus braços orasse longamente, para demonstrar

sua fidelidade ao preceito divino. Era muito fácil fingir piedade quando outros estavam olhando. O mais sábio de todos os rabinos judeus compreendeu perfeitamente bem este perigo, e condenou sem rodeios a

atitude hipócrita dos que oravam para serem vistos pelos homens: "O homem que está cheio de hipocrisia atrai a ira de Deus sobre o mundo, e sua oração jamais será ouvida." "Há quatro classes de homens que não recebem a face da glória de Deus – os zombadores, os hipócritas, os

mentirosos e os caluniadores."

Os rabinos diziam que era impossível orar se o coração não estava em atitude de oração. Estabeleciam que para uma autêntica oração era

necessária pelo menos uma hora de preparação silenciosa e particular, e uma hora de meditação depois. Mas o sistema judeu de oração se prestava à ostentação e a hipocrisia, quando o coração do homem estava

cheio de vaidade.

Jesus estabelece dois grandes regras para a oração:

  1. Insiste em que toda autêntica oração deve ser oferecida a Deus. A falha das orações dos judeus que Jesus criticava era que estavam dirigidas aos homens e não a Deus. Certo pregador popular em Boston, falando de uma oração que alguém ofereceu em sua igreja, descrevia-a como "a oração mais eloqüente que jamais se ofereceu ante o público de Boston". Quem tinha feito essa oração, é obvio, deve ter estado muito mais interessado em impressionar a congregação que em alcançar o trono da graça divina. Seja na oração pública ou na particular, o crente não deveria ter outro desejo, nem outra preocupação, que o querer de todo o coração ser ouvido por Deus.
  2. Insiste na afirmação de que sempre devemos recordar que o Deus a quem oramos é um Deus de amor, que está mais disposto a nos

ouvir do que nós a orar. Não é necessário extrair pela força os dons de sua graça. Não nos chegamos até um Deus que precisa ser coagido a nos

dar o que lhe pedimos. Vamos a alguém cujo principal desejo é dar. Quando lembramos disso, é suficiente que ao orar nosso coração exale o suspiro do desejo, e que nossos lábios pronunciem as palavras "Seja feita

a Tua vontade."

A ORAÇÃO DO DISCÍPULO

Mateus 6:9-15

Antes de começar o exame detalhado do Pai Nosso, será conveniente que recordemos algumas questões gerais.

Devemos assinalar, acima de tudo, que esta é uma oração que Jesus ensinou a seus discípulos. Mateus localiza a totalidade do Sermão da Montanha no contexto social da comunidade dos discípulos (Mateus

Mt 5:1), e Lucas diz que Jesus ensinou esta oração em resposta ao pedido de um de seus discípulos (Lc 11:1). A primeira coisa que devemos recordar sobre o Pai Nosso é que somente um discípulo de Jesus Cristo pode repetir significativamente suas palavras. O Pai Nosso não é uma

oração para meninos, como muitos a consideram hoje em dia, porque

para o menino carece de sentido. O Pai Nosso não é a oração devocional da família, como às vezes a entende, a menos que quando dizemos "família" entendamos a família da Igreja. O Pai Nosso é especifica e definitivamente a oração do discípulo. Para dizê-lo de outra maneira, somente se pode orar o Pai Nosso quando aquele que ora, usando suas palavras, sabe o significado do que está dizendo, e ninguém pode sabê-lo a menos que haja ingressado no discipulado cristão.

Devemos, em segundo lugar, tomar nota da ordem das petições do Pai Nosso. As primeiras três têm que ver com Deus e com a glória de

Deus; as últimas petições (três também) têm que ver conosco e nossas necessidades. Quer dizer, Deus recebe, em primeiro lugar, o lugar

supremo, e só então nos voltamos para nossas necessidades e desejos. Somente quando se dá a Deus seu lugar próprio todo o resto passa a ocupar o lugar que lhe corresponde. A oração nunca deve ser um intento

de mudar a vontade de Deus para adequá-la aos nossos desejos. A oração, quando é autêntica, sempre é um intento de submeter nossa vontade à vontade de Deus.

A segunda parte de nossa oração, que se ocupa com as nossas necessidades e carências, é uma unidade obtida de maneira maravilhosa. Ocupa-se das três necessidades essenciais do ser humano, e das três

esferas do tempo nas quais o homem se move. Em primeiro lugar, pede pão, ou seja aquilo que se necessita para o sustento material da vida, elevando ao trono de Deus, deste modo, as necessidades do presente. Em segundo lugar, pede perdão, pondo deste modo o passado ante os olhos

de Deus, e da graça perdoadora do Pai. Em terceiro lugar, pede ajuda nas tentações, colocando assim o futuro nas mãos de Deus. Nestas três breves petições nos ensina a colocar o presente, o passado e o futuro ao

pé do trono da graça divina.

Mas esta oração tão cuidadosamente elaborada não somente coloca a totalidade da vida humana ante a misericórdia divina; também procura

trazer a totalidade de Deus a nossas vidas. Quando pedimos pão para o sustento de nossas vidas terrestres, este pensamento imediatamente

dirigirá a Deus o Pai, Criador e Sustentador da vida. Quando pedimos perdão, esta petição imediatamente leva nossos pensamentos a Deus o Filho, Jesus Cristo, o Salvador e Redentor. Quando pedimos ajuda nas tentações futuras, essa solicitude imediatamente nos leva a pensar em Deus o Espírito Santo, o Consolador, Fortalecedor, Iluminador, Guia e Guardião de nosso caminho.

Do modo mais maravilhoso esta breve segunda parte do Pai Nosso toma o presente, o passado e o futuro do homem e os oferece a Deus, o

Pai, e o Filho, e o Espírito Santo, a Deus em sua plenitude. No Pai Nosso Jesus nos ensina a levar a totalidade de nossa vida a Deus em sua totalidade, e a trazer Deus, em sua totalidade, Pai, Filho e Espírito Santo,

à totalidade de nossas vidas.

O PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS

Mt 6:9

Pode-se muito bem dizer que a palavra Pai, referida a Deus, é um resumo compacto do conteúdo da fé cristã. O grande valor desta palavra,

Pai, é que organiza a totalidade das relações desta vida.

  1. Organiza

    nossas

    relações

    com

    o

    mundo

    invisível.

    Os missionários dizem que um dos grandes alívios que o cristianismo leva

aos pagãos é a certeza de que há somente um Deus. Eles acreditam que existem multidões de deuses, que cada correnteza ou rio, cada árvore ou vale, cada montanha ou bosque, cada força da natureza tem seu próprio

deus. O pagão vive em um mundo superpovoado de deuses. Estes, além disso, são ciumentos, egoístas e hostis. Constantemente devem ser aplacados, e o adorador nunca pode estar seguro de ter honrado a todos.

A conseqüência é que o pagão vive no terror dos deuses; sua religião não o ajuda, mas sim o acossa.

A lenda mais significativa da mitologia grega é a do Prometeu. Prometeu era um deus. A história se desenvolve quando o homem ainda

não possuía o fogo. Em sua misericórdia, Prometeu roubou o fogo do

céu e o deu aos homens. Sem fogo a vida era triste e extremamente incômoda. Zeus, o rei dos deuses, zangou-se muitíssimo ao saber que os homens tinham recebido o dom do fogo. Aprisionou Prometeu, e o encadeou a uma rocha no meio do Mar Adriático, onde o calor e a sede o torturavam durante o dia, e o frio durante a noite.

Mais ainda, Zeus preparou um ave de rapina para que comesse constantemente o fígado do Prometeu, que sempre voltava a crescer, para que o ave de rapina pudesse voltar a torturá-lo, comendo-lhe outra

vez. Isso é o que ocorreu com o deus que buscou ajudar aos homens.

A concepção geral dos deuses entre os pagãos, pinta-os como seres ciumentos, vingativos e egoístas; a última coisa que ocorreria a um deus

pagão seria ajudar os homens. Essa é a concepção pagã da atitude que se pode esperar do mundo invisível com respeito ao mundo dos homens. O pagão se sente acossado por uma multidão de deuses ciumentos e

egoístas.

Por isso, quando descobrimos que o Deus a quem dirigimos nossa oração tem o nome e o coração de um Pai, a coisa muda totalmente. Já

não precisamos tremer de medo ante uma horda de deuses iracundos; podemos descansar no amor de um pai.

  1. Organiza nossas relações com o mundo visível, este mundo do

tempo e o espaço em que vivemos. É muito fácil conceber este mundo como uma realidade hostil. Temos as oportunidades e as mutações da vida, temos as leis de ferro do universo que somente podemos transgredir por nosso próprio risco; temos o sofrimento e a morte; mas podemos estar seguros de que por detrás deste mundo não há uma deidade caprichosa egoísta, zombadora, mas sim um Deus cujo nome é Pai, embora muito dele continua desconhecido, é suportável para nós, porque no fundo de todas as coisas está o amor. Sempre nos ajudará conceber este mundo como um todo organizado, nem tanto para nossa comodidade como para nossa formação.

Tomemos, por exemplo, a dor. A dor poderá parecer algo mau, negativo, mas tem o seu lugar dentro da ordem estabelecida por Deus.

Ocorre, às vezes, que alguém está constituído de maneira tão anormal que é incapaz de experimentar dor. Tal pessoa é um perigo para si mesmo e um problema para todos outros. Se não existisse a dor, nunca saberíamos quando estamos doentes, e provavelmente morreríamos antes que pudessem tomar-se medidas para nos curar. Isto não quer dizer que o mal não possa transformar-se em algo negativo, mau; significa que muitas vezes, talvez a maioria das vezes, que a dor é a luz vermelha que Deus acende para nos advertir que um perigo nos ameaça.

Lessing declara que se tivesse a oportunidade de fazer uma única pergunta à Esfinge, seria esta: "Vivemos em um universo amigável?" Se podemos estar seguros de que o nome do Deus que criou o universo é Pai, também podemos estar seguros de que, fundamentalmente, o universo é amigável. Chamar Pai a Deus é organizar nossas relações com o mundo no que vivemos.

O PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS

Mt 8:9 (continuação)

  1. Se cremos que Deus é nosso Pai, organizam-se nossas relações com o próximo. Se Deus for Pai, é o Pai de todos os homens. O Pai Nosso não nos ensina a dizer meu Pai; obriga-nos a dizer "Nosso pai". É

significativo que no Pai Nosso não apareçam as palavras "eu", "meu", ou "meu". Isto nos autoriza a dizer que Jesus veio para eliminar estas palavras da vida, substituindo-as por "nós" e "nosso". Deus não é posse

exclusiva de nenhum homem. A expressão "Nosso pai" elimina o eu egoísta, A paternidade de Deus é a única base possível da fraternidade de todos os homens.

  1. Se cremos que Deus é nosso Pai, organizam-se nossas relações conosco mesmos. Há momentos na vida em que todos nos odiamos e desprezamos a nós mesmos. Sabemos que estamos por debaixo até das coisas mais asquerosas que se arrastam sobre a Terra. O coração conhece

suas próprias amarguras, e ninguém conhece nossa indignidade melhor que nós mesmos.

Mark Rutherford queria acrescentar uma nova bem-aventurança: "Bem-aventurados os que nos curam do desprezo que sentimos por nós

mesmos." "Bem-aventurados os que nos devolvem o respeito por nós mesmos e nossa auto-estima." Isto é precisamente o que Deus faz . Nos momentos mais negros, terríveis e áridos de nossa vida, sempre podemos lembrar que, embora ninguém se importa conosco, Deus nos ama; que na

infinita misericórdia de Deus somos de linhagem real, filhos do Rei dos Reis.

  1. Se cremos que Deus é nosso Pai, organizam-se nossas relações

com Deus. Não se trata de eliminar a majestade, o poder ou a glória divinos, mas de fazer com que estes atributos divinos não impeçam que nos aproximemos dEle.

Uma história da antiga Roma conta como um imperador celebrou um triunfo. Desfrutava do privilégio que Roma concedia somente a seus mais ilustres paladinos de partir com suas tropas através das ruas da

cidade, levando em seu séquito os troféus de suas vitórias guerreiras e os soberanos inimigos, agora convertidos em escravos deles. De modo que nesta celebração se encontrava o imperador, e as ruas estavam repletas

de uma vitoriosa multidão. Os altos e robustos legionários estavam formados em duas filas paralelas ao longo das ruas, para manter o povo em seu lugar.

Em um lugar da rota triunfal, havia um estrado onde a imperatriz e

a família imperial se instalaram para presenciar o desfile. Sobre a plataforma, junto à sua mãe, estava o filho mais novo do imperador, que era apenas um menino. Quando o imperador se aproximou desse lugar o menino saltou do estrado, abriu caminho entre a multidão, e procurou atravessar a fila de legionários, passando entre suas pernas, para sair ao encontro do carro de seu pai.

Um dos legionários se agachou e o deteve. levantou-o nos braços, e lhe disse: "Você por acaso não sabe, garoto, quem é que vem nesse

carro? É o imperador, você não pode ir correndo até ele." E o pequeno lhe respondeu rindo: "Será seu imperador, mas é meu pai."

Este é exatamente o sentimento do cristão com respeito a Deus. O poder, a majestade e a glória de Deus são o poder, a majestade e a glória

de alguém a quem Jesus nos ensinou a chamar "Nosso pai".

O PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS

Mt 6:9 (continuação)

Até aqui estivemos pensando nas duas primeiras palavras desta invocação de Deus: "nosso pai". Mas Deus não é somente nosso Pai, mas

sim nosso Pai que está nos céus. As últimas palavras são de importância primitiva. Encerram duas grandes verdades.

  1. Lembram-nos da santidade de Deus. É muito fácil baratear e sentimentalizar a idéia da paternidade de Deus, convindo-a na desculpa

de uma religião fácil e pouco exigente. "É um bom tipo, e tudo sairá bem." Tal como diria Heine com respeito a Deus: "Deus perdoará, é seu trabalho." Se disséssemos "Nosso pai..." e nos detivéssemos aí,

possivelmente poderíamos ter uma boa desculpa para pensar dessa maneira. Mas o Deus a quem oramos é nosso Pai que está nos céus. É um Deus de amor, certo, mas também é um Deus santo.

Uma das coisas extraordinárias é a pouca freqüência com que Jesus usou o nome Pai para referir-se a Deus. O evangelho de Marcos é o mais antigo dos quatro evangelhos, e provavelmente constitui a fonte mais

próxima da vida de Jesus de que jamais disporemos, como testemunho de tudo o que Ele fez ou disse. No evangelho de Marcos Jesus chama a Deus de Pai apenas seis vezes, e nunca fora do círculo de seus discípulos

mais íntimos. Para Jesus a palavra Pai era tão sagrada que tão só se atrevia a usá-la, exceto entre quem possuía os elementos de julgamento necessários para captar a plenitude de seu significado. Nunca devemos usar a palavra Pai para nos referir a Deus se tivermos que fazê-lo de

maneira mutável, fácil e sentimental. Este Deus, a quem nós chamamos

Pai, não é um progenitor abrandado, que fecha tolerantemente os olhos para não ver nossas faltas e enganos. Este Deus, a quem chamamos Pai, é o Deus a quem devemos nos aproximar com reverência e adoração, com temor e admiração. Deus é nosso Pai que está nos céus, e nele se combinam o amor e a santidade.

  1. Estas palavras nos lembram do poder de Deus. No amor humano muito freqüentemente experimentamos a tragédia da frustração. Podemos amar a uma pessoa e entretanto ser impotentes para ajudá-lo a

alcançar algo, ou impedi-lo de fazer algo. O amor humano pode ser muito intenso – mas muito impotente. Todo pai cujo filho tomou um mau caminho sabe disso como também sabe disso todo namorado cuja

amada não retribui seus sentimentos e vice-versa. Mas quando dizemos Pai nosso que estás nos céus colocamos duas coisas uma junto à outra. Colocamos lado a lado o amor de Deus e o poder de Deus. Estamos-nos

dizendo que o poder de Deus sempre age motivado por seu amor, e que jamais terá que exercer-se para nada que não seja nosso próprio bem. E nos estamos dizendo que o amor de Deus sempre vai respaldado por seu

poder, e que portanto seus propósitos nunca podem ser finalmente frustrados ou derrotados.

Quando oramos dizendo Pai nosso que estás nos céus devemos

sempre ter presente a santidade de Deus, e sempre lembrar do seu poder que manifesta os impulsos de seu amor, e seu amor, respaldado sempre pelo invencível poder de Deus.

A SANTIFICAÇÃO DO NOME

Mt 6:9 (continuação)

"Santificado seja o teu nome" – é provável que entre todas as petições do Pai Nosso esta seja a que possui um significado mais difícil de expressar em outras palavras. Se nos fosse perguntado o que significa, concretamente, esta petição, muito poucos achariam fácil dar uma

resposta direta. Em primeiro lugar, então, nos concentremos no significado das palavras:

A palavra que se traduz santificado pertence a um verbo grego relacionado com o adjetivo hagios, no mesmo idioma, e que significa

tratar a uma pessoa ou coisa como santa. Mas o significado fundamental de santo é diferente ou separado. Uma coisa santa (hagios) é diferente de outras coisas. A pessoa santa (hagios) é a que está separada do resto de seus semelhantes. Por isso um templo é santo, por

ser diferente de outros edifícios. O altar é santo porque existe para um propósito diferente ao de outras coisas comuns. O dia do Senhor é santo porque é diferente de outros dias. Um sacerdote é santo, porque está

separado de outros homens. Portanto, esta petição significa: "Que o nome de Deus seja tratado de maneira diferente de todos os outros nomes, que lhe seja dada uma posição absolutamente única entre todos

os nomes."

Mas há algo mais a acrescentar. Entre os hebreus o nome não é somente um vocábulo que se pode utilizar para denominar a uma pessoa

  1. João ou Tiago, ou qualquer outro que seja. Entre os hebreus o nome significa, além disso, e fundamentalmente, a natureza, o caráter, a personalidade do indivíduo, na medida em que estes nos são conhecidos

ou revelados. Compreenderemos isto claramente ao ver como os escritores bíblicos usavam a palavra nome. O salmista diz: "Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome" (Sl 9:10).

Isto não significa, evidentemente, que confiarão em Deus quem

saiba que seu nome é Jeová. Significa que quem saiba como é Deus, quem conheça sua natureza e caráter, porão sua confiança nEle. O salmista diz: "Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do SENHOR, nosso Deus" (Sl 20:7). É óbvio que aqui não se diz que nos tempos de dificuldade o salmista recordará que o nome de Deus é Jeová. Significa que em tais momentos alguns porão sua confiança nos recursos e nas ajudas materiais ou humanas, mas o salmista recordará a natureza e o caráter de Deus, e

confiará nEle. Recordará como é Deus, e essa lembrança lhe inspirará confiança.

Reunamos, agora, estas duas coisas, fazendo de ambas uma só. "Santificar" significa considerar diferente, outorgar um lugar único,

especial. O nome é a natureza, o caráter de uma pessoa, na medida em que chegamos a conhecê-la. Portanto, quando dizemos "Santificado seja o teu nome", queremos significar "faze-nos capazes de dar a Ti o lugar único que Tua natureza e caráter merecem e exigem." A petição que

elevamos a Deus é para que Ele nos capacite a lhe dar o lugar único que por sua natureza deve ocupar.

A ORAÇÃO EM QUE PEDIMOS PARA SERMOS REVERENTES

Mt 6:9 (continuação)

Existe, pois, uma palavra que resuma o significado desta petição de

reconhecimento que a natureza de Deus nos impõe? Sem dúvida existe, é a palavra reverência. Esta petição consiste em pedir a Deus que nos faça reverentes para que possamos reverenciá-lo tal como Ele merece. Há quatro elementos essenciais de toda verdadeira reverência para com Deus:

  1. Para reverenciar a Deus devemos acreditar que Ele existe. Não podemos reverenciar a alguém que não existe. Devemos começar

estando seguros da existência de Deus. É estranho, para a mentalidade moderna, que em nenhum lugar da Bíblia tente demonstrar a existência

de Deus. Para a Bíblia Deus é um axioma. Um axioma é uma verdade evidente por si mesmo que não precisa ser demonstrada, mas sim constitui o fundamento de outras demonstrações.

Por exemplo, uma linha reta é a distância mais curta entre dois pontos. As paralelas, por mais que se prolonguem, nunca se encontram. Estes são axiomas geométricos. Os escritores bíblicos teriam dito que era inútil demonstrar a existência de Deus, porque Deus formava parte de

sua experiência cotidiana. Teriam dito que era tão desnecessário que um

homem demonstrasse a existência de Deus quanto demonstrasse a existência de sua esposa. Encontra-se com ela todos os dias, e se encontra com Deus todos os dias.

Mas suponhamos que precisássemos demonstrar que Deus existe. A única ferramenta de que dispomos para tal tarefa é nossa mente humana.

Por onde começaríamos? Poderíamos começar a partir do mundo em que vivemos. O antigo raciocínio de Paley ainda não perdeu de todo sua atualidade. Suponhamos que alguém está caminhando por um atalho. De

repente tropeça com um relógio que está entre o pó. Nunca antes em sua vida viu um relógio; não sabe o que é. Recolhe-o, percebe que consiste de uma caixa metálica, e que no interior dessa caixa há uma complicada

estrutura de rodas, balancins, alavancas, molas e rubis. Vê que esse conjunto de peças se move de maneira extremamente organizada. Olhando a caixa pelo outro lado, percebe que os ponteiros do relógio

também se movem, e que o fazem segundo um esquema predeterminado.

O que dirá, então? Dirá: "Todos estes pedacinhos de metal e pedras preciosas se reuniram aqui, dentro desta caixa, por pura casualidade, e

por pura casualidade também se converteram chocando-se em rodinhas e alavancas e molas, por acaso se reuniram para formar este mecanismo, e por acaso, do mesmo modo, se puseram a funcionar"? Não. O mais

provável é que diga: "Achei um relógio, em algum lugar deve haver um relojoeiro."

A ordem pressupõe uma mente ordenadora. Se olharmos o universo contemplamos uma vasta maquinaria que funciona ordenadamente. O

Sol sai e permanece com invariável regularidade. As marés sobem e baixam segundo um programa preestabelecido. As estações se seguem, em uma sucessão ordenada. Olhando ao universo, estamos obrigados a

afirmar: "Em algum lugar deve haver um construtor de universos." A realidade do universo conduz a Deus. Tal como o afirmou Sir James Jeans, "Nenhum astrônomo pode ser ateu." A ordem do universo exige o

respaldo da inteligência divina.

Também podemos começar a partir de nós mesmos. A única coisa que o homem jamais conseguiu criar é a vida. O homem pode alterar e reordenar e mudar as coisas, mas não pode fabricar um ser vivo. De onde, então, tiramos nossa vida? De nossos pais. Sim, mas de onde a tiraram nossos pais? Dos seus. Mas onde começou tudo? Em algum momento a vida deve ter aparecido sobre a Terra, e ter vindo de fora do mundo, porque o homem não pode criar a vida. E novamente somos levados até Deus.

Quando olhamos a nós mesmos, e quando olhamos o universo, somos levados a Deus. Kant disse há muito tempo: "A lei moral, em nosso interior, e o céu estrelado, fora de nós, conduzem a Deus."

  1. Antes de poder reverenciar a Deus não somente devemos crer Ele que existe, mas devemos saber que tipo de Deus se trata. Ninguém poderia reverenciar os deuses gregos, com seus amores e suas guerras,

seus ódios e seus adultérios, seus enganos e picardias. Ninguém pode reverenciar deuses imorais, caprichosos, impuros. Mas em Deus, tal como nós o conhecemos, há três grandes qualidades: Há santidade, há

justiça e há amor. Devemos reverenciar a Deus não somente porque Ele existe, mas porque é o tipo de Deus que nós conhecemos.

  1. Contudo, se pode saber que Deus existe, e se pode estar

convencido intelectualmente de que Deus é santo, justo e puro amor, e mesmo assim não experimentar reverência. Para que haja reverência deve haver uma permanente percepção da realidade de Deus. Reverenciar a Deus significa viver em um mundo que está cheio de Deus, viver de tal maneira que nunca seja possível esquecer-se dEle. Esta consciência permanente da realidade de Deus certamente não está confinada à igreja ou os assim chamados lugares santos. Deve ser uma consciência que aja sempre, e em qualquer lugar.

Deus no beco de um bairro, Deus em um parque, Deus no quiosque de peixe frito. Isto é reverência. O problema de muitos é que

experimentam a presença de Deus de maneira espasmódica. Em certos

lugares e momentos é intensa, em outros brilha por sua ausência. A reverência é estar constantemente conscientes da presença de Deus.

  1. Resta um quarto ingrediente da reverência. Devemos crer que Deus existe; devemos saber que tipo de Deus é; devemos ser conscientes

todo o tempo de sua presença. Mas é possível ter todas estas coisas e não experimentar reverência. A todas estas coisas devemos acrescentar a submissão e a obediência a Deus. Reverência é conhecimento mais obediência.

Em seu catecismo Lutero pergunta: "Como é santificado entre nós o nome de Deus?" E sua resposta é: "Quando tanto nossa vida como nossa doutrina são verdadeiramente cristãs", quer dizer, quando nossas

convicções intelectuais e nossas ações práticas são a expressão de uma submissão total à vontade de Deus.

Saber que Deus existe, saber que tipo de Deus é, ser constantemente

conscientes de sua presença e obedecê-Lo em todo o tempo – isto é reverência. Pelo menos é por isso que oramos ao dizermos: "Santificado seja o Teu nome."

Receba Deus a reverência que sua natureza e caráter merecem.

O REINO DE DEUS E SUA VONTADE

Mt 6:10

A frase o Reino de Deus é característica do Novo Testamento. Não há outra expressão que se use com mais freqüência na oração, na

pregação e na literatura cristãs. Portanto, é de primordial importância que tenhamos bem claro qual é o seu significado.

É bem evidente que o Reino de Deus ocupava uma posição central

na mensagem de Jesus. A primeira aparição de Jesus no cenário da história é quando Ele vai a Galiléia pregando as boas novas do Reino de Deus (Mc 1:14). Jesus mesmo descreveu a pregação do Reino como uma obrigação que lhe tinha sido imposta: "É necessário que também a outras cidades anuncie o evangelho do Reino de Deus, porque para isto

fui enviado" (Lc 4:43; Mc 1:38). Segundo a descrição da atividade de Jesus que Lucas nos oferece, Jesus dedicava todo seu tempo percorrendo as cidades e povoados, pregando e pondo de manifesto as boas novas do Reino de Deus (Lc 8:1). Evidentemente o significado da expressão "o Reino de Deus" ou "dos céus" é algo que devemos procurar compreender.

Quando tentamos fazê-lo, tropeçamos imediatamente com alguns fatos que dificultam a compreensão e despertam nossa curiosidade. Jesus

falou do Reino de três maneiras diferentes. Falou do Reino que existia no passado. Disse que Abraão, Isaque, Jacó e os profetas estavam no Reino (Lc 13:28; Mt 8:11). É evidente, a partir desta informação, que o

Reino existia em uma época muito remota do passado. Também disse que o Reino era uma realidade presente. "o reino de Deus está", disse, "dentro de vós" (ou possivelmente seja "no meio de vós") (Lc 17:21).

O Reino de Deus, portanto, é uma realidade presente, aqui e agora. Mas também disse que o Reino se daria no futuro, porque ensinou a seus discípulos a orar pedindo que viesse o Reino, nesta, sua própria oração.

Como é possível que o Reino seja uma realidade passada, presente e futura,

ao mesmo tempo? Como pode ser que o Reino seja simultaneamente algo do passado, um fato presente e algo pelo que

devemos orar, para que venha, no futuro?

Encontraremos a chave deste problema nesta dupla petição do Pai Nosso. Uma das características mais comuns do estilo poético hebreu é o que tecnicamente se conhece como paralelismo. Os hebreus tendiam a

dizer todas as coisas duas vezes. Diziam algo de uma maneira, e imediatamente depois voltavam a dizer o mesmo de outra maneira, que interpretava, ampliava ou simplesmente repetia o que haviam dito

primeiro. Quase todos os versículos dos salmos poderiam servir como exemplos desta modalidade. Em geral estão divididos pela metade, e a segunda metade amplia, explica ou repete a idéia da primeira metade.

Vejamos alguns exemplos, que esclarecerão isto:

"Deus é nosso refúgio e fortaleza

auxílio presente nas tribulações." (Sl 46:1).

"O Senhor dos Exércitos está conosco – O Deus de Jacó é o nosso refúgio." (Sl 46:7).

"O Senhor é o meu pastor – Nada me faltará" (Sl 23:1). "Em lugares de delicados pastos me fará descansar – junto a águas de repouso me pastoreará" (Sl 23:2).

Apliquemos este principio às duas petições do Pai Nosso que estamos examinando. as coloquemos em uma mesma linha, lado a lado:

"Venha o teu Reino – Seja feita a tua vontade assim na terra, como no céu."

Suponhamos que a segunda petição explica, amplia e define a primeira. Temos então a definição perfeita do Reino de Deus: O Reino de Deus é uma sociedade, na Terra, onde a vontade de Deus se faz de maneira tão perfeita como no céu. Aqui temos a explicação de como o Reino pode ser uma realidade passada, presente e também futura, ao mesmo tempo. Todo aquele que obedeça de maneira perfeita a vontade de Deus está dentro do Reino. Mas desde que o mundo dista muito de ser um lugar onde a vontade de Deus se faça de maneira perfeita e universal, a consumação do Reino é ainda um fato futuro, algo pelo que devemos orar.

Estar no Reino é obedecer a vontade de Deus. Imediatamente percebemos que o Reino de Deus não tem que ver primordialmente com as nações, os reino e os países deste mundo. É algo que tem que ver com cada um de nós. O Reino é o mais pessoal que há sobre a Terra. O Reino exige a submissão de minha vontade, de meu coração, de minha vida. Só quando cada um de nós tomou a decisão pessoal de submeter-se à vontade de Deus, vem o Reino.

Os cristãos chineses repetiam freqüentemente uma oração que chegou a ser bem conhecida de muitos: "Senhor, reavive Tua Igreja.começando por mim." E poderíamos parafrasear estas palavras dizendo:

"Senhor, traz o Teu Reino, começando por mim." Orar pelo Reino de Deus é orar pela submissão total de nossa vontade à vontade de Deus.

O REINO DE DEUS E SUA VONTADE

Mt 6:10 (continuação)

A partir do que já vimos, damo-nos conta de que o mais importante de tudo é obedecer a vontade de Deus. As palavras mais importantes do

mundo são "Seja feita a Tua vontade". Mas também é evidente que a atitude e o tom de voz com que se digam estas palavras podem determinar, em grande medida, o significado que tenham para nós.

  1. A pessoa pode dizer: "Seja feita a Tua vontade" em um tom de derrotada resignação. Pode dizê-lo, não porque o deseje dizer, mas sim porque aceitou o fato iniludível de que não é possível dizer outra coisa. Pode dizê-lo por ter aceito que Deus é muito poderoso para se fazer

oposição a Ele e que é inútil dar cabaçadas contra as paredes do Universo. Pode dizê-lo pensando nada mais que no inescrutável poder de Deus que tem apanhado o homem. Pode-se aceitar a vontade de Deus

porque não resta outro remédio.

  1. A pessoa pode dizer "Seja feita a Tua vontade" em um tom de amargo ressentimento. Swinburne, o poeta inglês, dizia que os homens

sentem sobre suas costas o pisar dos pés de ferro de Deus. E falava do supremo mal, Deus; Beethoven morreu na mais absoluta solidão; e se conta que quando encontraram seu corpo seus lábios estavam crispados

em um gesto de ira, e seus punhos estavam fechados, como se tivesse querido sacudi-los perante o rosto de Deus e do céu. Pode-se pensar que Deus é o inimigo, mas um inimigo tão poderoso que é inútil resistir.

Pode-se aceitar a vontade de Deus, mas com amargo ressentimento e com ira consumidora.

  1. Mas também se pode dizer "Seja feita a Tua vontade" em perfeito amor e confiança. Pode-se dizer isso com alegria e disposição

favorável, seja qual for a vontade que assim se aceita. Deveria ser fácil

para o cristão dizer desta maneira "Seja feita a Tua vontade", porque o cristão pode estar bem seguro de duas coisas com respeito a Deus.

  1. Pode estar seguro da sabedoria de Deus. Às vezes, quando queremos fabricar ou construir algo, ou modificar ou reparar algo, vamos

ao artesão e o consultamos. Ele sugere o que terá que fazer, em geral terminamos dizendo: "Está bem. Faça como for melhor. Você é o especialista." Deus é o especialista em tudo o que concerne à vida, e sua guia nunca nos deixará separar-nos do caminho correto.

Quando Richard Cameron, que foi um dos líderes da reforma religiosa em Escócia, foi morto, um tal Murray lhe cortou a cabeça e as mãos e as levou a Edimburgo. "Estando seu pai no cárcere pela mesma

causa, e para acrescentar tristeza a suas preocupações, foram-lhe levados os membros amputados de seu filho, e lhe foi perguntado se os conhecia. Tomando a cabeça e as mãos de seu filho, que eram muito brancas

(sendo ele mesmo um homem de pele branquíssima) beijou-as e disse: Conheço-as, conheço-as. São de meu filho, de meu filho amado. É o Senhor. Boa é a vontade de Deus, que não pode me fazer mal a mim ou

aos meus, mas dispôs que a misericórdia e a graça nos sigam todos os dias de nossa vida'." Quando um homem puder falar deste modo, quando tem plena certeza de que seus dias estão nas mãos da infinita

sabedoria divina, é fácil dizer: "Seja feita a Tua vontade".

  1. Pode estar seguro do amor de Deus. Não acreditam em um deus zombador ou caprichoso, nem em um cego e férreo determinismo.

Thomas Hardy conclui sua novela Tess com palavras amargas: "O

Presidente dos imortais tinha terminado de divertir-se com o Tess." Nós acreditamos em um Deus cujo nome é amor.

Tal como o afirma o apóstolo Paulo: "Aquele que não poupou o seu

próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?" (Rm 8:32). Ninguém pode contemplar a cruz e duvidar do amor de Deus, e quando temos a certeza do amor de Deus, é fácil dizer: "Seja feita a Tua vontade."

NOSSO PÃO QUOTIDIANO

Mt 6:11

Poderia pensar-se que esta é a petição do Pai Nosso sobre cujo significado não haverá dúvida alguma. Aparentemente é a mais simples e

direta de todas. Mas a realidade é que distintos intérpretes ofereceram diversas interpretações destas palavras. Antes de pensar em seu significado mais direto e evidente examinemos algumas das outras

explicações propostas.

  1. O pão foi identificado com o pão da Santa Ceia. Desde época muito antiga a oração de Jesus esteve intimamente ligada com a Ceia.

Nas primeiros ordens de culto que possuímos se estabelece que o Pai Nosso deve orar-se durante a celebração da Santa Ceia, e alguns interpretaram que esta petição indica o desejo do crente de desfrutar quotidianamente do privilégio que significa participar da comunhão, e de

receber o pão espiritual que ali nos é oferecido.

  1. O pão foi identificado com o alimento espiritual da Palavra de Deus. Às vezes alguns cristãos cantam um hino que diz:

Parte o pão de vida, dêem-me isso Senhor,

tal como partiste o pão junto ao mar, Por trás da página santa,

busco a ti, Senhor, meu espírito te deseja,

Ó palavra viva.

De maneira que esta petição foi interpretada como uma petição pelo ensino correto, a verdadeira doutrina, a verdade essencial que estão nas Escrituras, a Palavra de Deus, e que são autenticamente pão para a mente, o coração e a alma do homem.

  1. Interpretou-se que o "pão" representa ao próprio Jesus Cristo. Jesus se denominou a si mesmo o pão de vida (João 6:33-35), e a petição

que roga pelo pão seria, então, o pedido de que diariamente possamos nos alimentar de Jesus, que é o pão vivo.

Esta petição, pois, foi interpretada como uma oração para que Jesus Cristo, o pão de vida, alegre e fortaleça nossas almas.

  1. Interpretou-se esta petição em um sentido puramente judeu. O pão seria, neste caso, o pão do reino dos céus. Lucas nos narra como um dos que viram passar a Jesus disse: "Bem-aventurado aquele que comer pão no reino de Deus" (Lc 14:15). Os judeus tinham uma idéia muito

estranha mas bem vívida. Sustentavam que quando viesse o Messias, e quando a idade dourada descesse sobre a Terra, haveria o que eles denominavam o Banquete Messiânico, no qual se sentariam a comer os

escolhidos de Deus. Os corpos destroçados dos monstros Beemote e Leviatã seriam o primeiro prato desse banquete. Seria como uma espécie de comilança de inauguração oferecida por Deus a seu povo. Segundo

este conceito, a petição que estamos estudando seria a de um lugar no Banquete Messiânico final que se ofereceria ao povo de Deus.

Embora não estamos obrigados a estar de acordo com nenhuma

destas interpretações como expressão do único significado da petição, tampouco é necessário rechaçá-las ou considerá-las equivocadas. Todas possuem alguma medida de verdade, e são de algum modo pertinentes.

A dificuldade na interpretação aumenta quando consultando os especialistas percebemos que o significado da palavra grega epiousios (que em uma versões se traduz "cada dia" e em outras "cotidiano") dista muito de possuir um significado unívoco. O fato fora do comum é que,

até há pouco tempo, a palavra não aparecia em nenhum dos textos gregos conhecidos.

Orígenes, um teólogo cristão do século III, conhecia este fato, e em

sua opinião Mateus teria inventado a palavra. Portanto era impossível saber exatamente o que significava. Mas faz alguns anos descobriu-se um fragmento de papiro, no qual aparecia a palavra. O papiro era uma lista de compras de um dona-de-casa. Junto a um dos termos dessa lista estava a palavra epiousios. A nota tinha o objeto de fazê-la lembrar a

necessidade de comprar um alimento em particular para esse mesmo dia. De modo que este é o significado, muito simples, da petição:

"Dê-me as coisas que necessitamos para comer hoje. Ajude-me a conseguir o que necessito quando for hoje ao mercado. Dê-me as coisas que necessitamos para comer quando os meninos voltem da escola e os homens voltem do trabalho. Faça com que nossa mesa não esteja vazia quando nos sentarmos hoje ao redor dela."

É uma oração muito singela, para que Deus nos supra das coisas que necessitamos cada dia de nossa vida.

NOSSO PÃO QUOTIDIANO

Mt 6:11 (continuação)

Quando advertimos que esta petição é simplesmente um rogo pelas necessidades materiais cotidianas, desprendem-se dela certas verdades de tremenda magnitude.

  1. Diz-nos que Deus tem interesse em nosso corpo. Jesus nos mostrou isso; dedicou muito de seu tempo à cura das enfermidades físicas dos homens de seu tempo, e satisfez a fome física de seus

seguidores, em várias oportunidades. Preocupou-se quando uma quantidade considerável de pessoas tinha saído a ouvi-lo pregar em um lugar solitário, e tendo estado todo o dia com Ele não tinham nada para

comer e seus lares estavam distantes. Faz-nos bem recordar que Deus está interessado em nosso corpo. Qualquer ensino que despreze, diminua ou denigra o corpo é mau. Podemos nos dar conta da importância que

Deus dá ao corpo, além disso, quando pensamos que Jesus Cristo, seu Filho, teve um corpo como o nosso. O cristianismo tem como meta não somente a salvação da alma, mas também a salvação do homem inteiro:

corpo, mente e espírito.

  1. Esta petição nos ensina a orar por nosso pão do dia presente. Ensina-nos a viver dia a dia, e não estar ansiosos pelo futuro distante e desconhecido. Quando Jesus ensinou a seus discípulos a orar nos termos

desta petição, não cabe dúvida de que sua mente evocava a situação dos judeus no deserto, durante o êxodo, quando diariamente recebiam o maná (Êxodo 16:1-21).

Os filhos de Israel morriam de fome no deserto e Deus lhes enviou o maná, o pão do céu; mas ao mesmo tempo lhes impôs uma condição –

somente recolheriam o que necessitavam para satisfazer suas necessidades mais imediatas. Se procuravam juntar mais do que o necessário, e guardá-lo, decompunha-se e deviam jogar fora. Deviam

satisfazer-se com o que necessitavam dia a dia. Como disse um rabino: "Cada dia a porção do dia, porque o Criador do dia também tinha criado o sustento de cada dia." E outro rabino declara: “Quem tem para comer

hoje e se pergunta ‘o que comerei amanhã?’, é um homem de pouca fé.”

Esta petição nos ensina a viver dia a dia. Proíbe a preocupação ansiosa que é tão característica da vida que não aprendeu a confiar em

Deus.

  1. Por implicação, esta cláusula do Pai Nosso dá a Deus o lugar que lhe corresponde. Admite que de Deus é de quem recebemos o

alimento necessário para manter a vida. Ninguém jamais conseguiu criar uma semente e fazê-la crescer. O cientista pode analisar a semente em suas partes constituintes, mas nenhuma semente sintética conseguirá

germinar jamais. Todas as coisas vivas provêm de Deus. O alimento que consumimos é um dom direto de Deus.

  1. Esta petição nos recorda, de maneira extremamente sábia, como opera a oração. Se alguém proferisse esta oração, e depois ficasse

sentado esperando que o pão lhe caísse do céu, certamente morreria de fome. A oração e o trabalho devem ir de mãos dadas, que quando oramos devemos nos pôr a trabalhar para que nossas orações se tornem

realidade. É certo que a semente viva é um dom de Deus, mas também o é que o homem deve semeá-la e cultivá-la.

Dick Sheppard contava freqüentemente certa história, muito cara a

seu coração. Havia um homem que tinha um campo. Com enorme trabalho, havia limpado as pedras de uma parcela desse campo, e a tinha

limpo de sujeiras, até que, semeando e cuidando a terra, conseguiu ter um belo jardim e um pomar. Um amigo dele, pessoa piedosa em extremo, disse-lhe um dia: "É maravilhoso o que Deus pode fazer em uma parcela de terra como esta, não é certo?" "Sim", disse o homem que tinha trabalhado tanto, "mas teria que ter visto esta parcela quando Deus fazia o trabalho sozinho."

A generosidade de Deus e o trabalho humano devem combinar-se. Quando dizemos as palavras desta petição estamos reconhecendo duas

verdades fundamentais: que sem Deus não podemos fazer nada, e que sem nosso esforço e cooperação Deus não pode fazer nada por nós.

  1. Deve notar-se que Jesus não nos ensina a dizer "o pão meu de

cada dia me dá hoje". Nossa oração deve ser: "o pão nosso de cada dia nos dá hoje." O problema do mundo não é que não haja suficiente para que alcance para todos; há bastante e de sobra.

Nos Estados Unidos os celeiros transbordam de cereais. No Brasil se queimava café nas locomotivas, quando não se sabia o que fazer com os excedentes. O problema não é a produção do essencial para a vida, a

mas a sua distribuição.

Esta oração nos ensina a não ser egoístas em nossas orações. É uma oração que nós podemos cumprir em parte, colaborando com Deus,

compartilhando o que nos sobra com aqueles que não têm. Esta oração não somente roga por que nós recebamos o que nos é necessário diariamente; também roga que sejamos capazes de compartilhar com outros o que recebemos.

O PERDÃO HUMANO E O DIVINO

Mt 6:12, 14-15

Antes de poder repetir esta petição, que forma parte do Pai Nosso, devemos nos dar conta da necessidade que temos de repeti-la. Quer dizer, antes de repetir estas palavras, devemos ser conscientes de nosso

pecado. A palavra "pecado" não é muito popular em nossos dias. A

maioria não quer ser tratada como pecadores merecedores do inferno. O problema é que a maioria tem um conceito equivocado do que significa ser pecador. Estariam perfeitamente de acordo em que o ladrão, o bêbado, o assassino, o adúltero, o blasfemo são pecadores; mas eles não são culpados de nenhum destes pecados; vivem decentemente, têm vidas respeitáveis, nunca foram levados ante os tribunais, nem foram encarcerados, nem apareceram na página de notícias policiais. Portanto, sentem que o pecado não tem muito a ver com eles.

No Novo Testamento há cinco palavras distintas que significam pecado.

  1. A palavra mais comum é hamartia. Este termo significava

originalmente errar o alvo. Não acertar o alvo era hamartia. Portanto,

pecado é não ser, o que deveríamos e tivéssemos podido ser.

Charles Lamb tem um retrato de um homem que se chamava Samuel Grice. Grice era um jovem extraordinário, que nunca pôde

realizar em sua vida o que seus dons extraordinárias prometiam. Lamb diz que em sua carreira houve três etapas: Uma época em que se dizia:

"Farei algo." Depois veio a época em que se dizia: "Farei algo, se eu quiser." E por fim se dizia: "Poderia ter feito algo, se tivesse querido."

Edwin Muir, em sua autobiografia, diz: "Depois de certa idade

todos nós, tanto os bons como os maus, somos assaltados pelo sentimento de ter tido poderes que nunca pusemos em prática: quer dizer, sentimos que não chegamos a ser o que poderíamos ter sido." Isso, exatamente, é hamartia, pecado; e esta é uma situação na qual todos nós participamos. Somos um marido, uma esposa, tão bom como poderíamos ser? Somos tão boa filha ou filho, como poderíamos ser? Somos tão bons operários ou patrões, como poderíamos ser? Existe alguém que se atreva a pretender que é tudo o que pôde ser, ou que tem feito tudo o que estava ao alcance de suas possibilidades?

Quando nos damos conta de que "pecado" significa não ter atingido o alvo, não ter chegado a ser tudo o que poderíamos ter sido, fica

evidente que todos somos pecadores.

  1. A segunda palavra que significa "pecado" é parabasis, que literalmente quer dizer "cruzar ao outro lado." Pecar é cruzar a linha que separa o bem do mal. Ficamos sempre do lado de cá da linha que separa a honestidade da desonestidade? É possível que não haja alguma vez em nós nem sequer o menor gesto, a menor atitude desonesta? Estamos sempre no lado correto da linha que separa a verdade da mentira? Alguma vez não temos, com palavra ou com nosso silêncio, distorcido embora seja um pouco, ou evitado em alguma medida a verdade? Estamos sempre bem localizados com respeito à linha divisória entre a amabilidade e a cortesia, por um lado, e o egoísmo e a brutalidade, pelo outro? Alguma vez pronunciamos alguma palavra descortês ou agido de maneira pouco bondosa?

Quando pensamos deste modo, não pode haver ninguém que pretenda ter-se mantido sempre no lado correto da linha divisória.

  1. A terceira palavra que significa "pecado" é paraptoma, que significa escorregão. Trata-se do tipo de escorregão que podemos sofrer em um caminho molhado, ou sobre o gelo. Diferente do termo anterior é

neste caso que o movimento não é tão deliberado. Às vezes dizemos que "nos escapou" uma palavra, um gesto, uma ação ou reação. Muitas vezes nos sentimos arrastados por um impulso, ou uma paixão que se apossou

momentaneamente de nós e nos fez perder nosso domínio próprio. Até os melhores dentre nós podem "escorregar" para o pecado quando não estamos em guarda.

  1. A quarta palavra que significa "pecado" é anomia, ou seja agir

fora da lei. Trata-se do pecado de quem conhece o bem e entretanto faz o mal; o pecado de quem conhece a lei, mas deliberadamente a ignora em sua ação.

O primeiro de todos os instintos humanos é o de fazer o que queremos muito. Portanto, sempre há momentos na vida de qualquer homem em que decide desafiar a lei e agir por conta própria e

responsabilidade. Decidimos conscientemente tomar o que nos está

proibido ou fazer aquilo que a lei condena. No Mandalay Kipling põe na boca de um velho soldado as seguintes palavras:

Embarquem-me para o leste do Suez, onde o melhor é igual ao pior,

Onde não existem os Dez Mandamentos, e se pode aplacar a sede.

Embora haja pessoas que possam dizer que nunca transgrediram os

Dez Mandamentos, não existe quem possa sustentar que jamais desejou fazê-lo.

  1. A quinta palavra que significa "pecado" no Novo Testamento é

ofeilema, a palavra que aparece no Pai Nosso e que significa literalmente "dívida". Significa não pagar o que se deve, deixar de cumprir um dever.

Não há quem possa dizer que em sua vida cumpriu de maneira perfeita todos os deveres para com o seu próximo e para com Deus. Tal perfeição

não existe entre os seres humanos.

Em conclusão, quando examinamos de perto o significado da palavra "pecado", damo-nos conta de que é uma enfermidade universal,

da qual participam todos os homens. É muito possível que na mesma pessoa se dêem a respeitabilidade exterior, aos olhos dos homens, e a pecaminosidade interior, perante Deus. Todos os seres humanos, sem

exceção, precisam repetir esta petição do Pai Nosso.

O PERDÃO HUMANO E O DIVINO

Mt 6:12, 14-15 (continuação)

Não somente precisamos dar-nos conta de que precisamos repetir esta petição do Pai Nosso, mas também devemos estar conscientes do

que estamos dizendo ao fazê-lo. Entre todas as petições dos Pai Nosso esta é a mais temível. "Perdoa as nossas dívidas, como também perdoamos aos nossos devedores."

Mateus seguirá com este tema nos dois versículos seguintes,

explicando da maneira mais clara possível que, segundo Jesus, se nós

perdoarmos a outros Deus nos perdoará, mas se não perdoarmos, Deus não nos perdoará. É bem evidente, então, que se repetirmos esta petição quando há algo que nos separa de nosso próximo, quando ficam disputas sem resolver em nossas vidas, o que estamos dizendo a Deus é: "Não nos perdoes". Se dissermos: "Nunca perdoarei a Fulano de Tal pelo que me tem feito", se dissermos "Nunca esquecerei o que Beltrano me tem feito", e contudo fazemos uso desta petição ao repetir o Pai Nosso, estamos deliberadamente pedindo a Deus que não nos perdoe.

Alguém disse: "O perdão, como a paz, é uno e indivisível." O perdão humano, e o divino estão inextricavelmente relacionados entre si. Não é possível separar nosso perdão ao próximo e o perdão que esperamos receber de Deus; ambos estão ligados e são interdependentes. Se tivéssemos presente o significado desta petição, muitas vezes, ao repetir o Pai Nosso, nossos lábios silenciariam ao chegar a "perdoa— nos..."

Quando Robert Louis Stevenson vivia nas ilhas do Pacífico Sul costumava celebrar um breve culto matutino, diariamente, para os

membros de sua família e seus servos. Uma manhã, no meio do Pai Nosso, levantou-se e abandonou a habitação. Sua saúde sempre tinha sido precária, e sua esposa o seguiu, pensando que se havia sentido

repentinamente doente. "Sente alguma coisa?", perguntou-lhe ao encontrá-lo. "Nada, somente que hoje não posso repetir o Pai Nosso."

Ninguém está em condições de repetir o Pai Nosso quando não se sente disposto a perdoar. Se não se viver em boas relações com o

próximo não se pode viver em boas relações com Deus.

Três coisas são necessárias para possuir o espírito cristão do perdão.

  1. Devemos aprender a compreender os outros. Sempre há alguma razão que leva as pessoas a agir da maneira como o fazem. Se alguém se

comportar de maneira rústica, ou pouco amável, ou irascível, possivelmente esteja atravessando por algum sofrimento ou

preocupação. Se alguém nos tratar com suspeita e desagrado, possivelmente não tenha compreendido bem nossas intenções, ou tenha

sido mal informado em relação a nosso caráter. Possivelmente seja uma vitima de seu meio ambiente, ou tenha sido deformado por sua situação familiar. Possivelmente seu temperamento seja tal que as relações humanas lhe sejam difíceis, e a vida uma carga dura de levar. Seria-nos muito mais fácil perdoar se buscássemos compreender em vez de condenar.

  1. Devemos aprender a esquecer. Na medida em que recordemos, e voltemos a trazer à nossa mente alguma ofensa ou ferida que nos tenha

infligido, não seremos capazes de perdoar. Muito freqüentemente dizemos: "Não posso esquecer o que Fulano me tem feito." "Nunca esquecerei como me tratou Zutano naquela ocasião." É muito perigoso

dizer coisas como estas, porque no final pode ser-nos humanamente impossível perdoar.

Em certa oportunidade o famoso literato escocês Andrew Lang,

escreveu e publicou um comentário muito benévolo de um livro que tinha aparecido, obra de um escritor jovem. O jovem lhe replicou com um ataque amargo, insolente e completamente infundado. Uns três anos depois Lang estava passando uns dias na casa do Robert Bridges, o grande poeta. Este o viu lendo um livro e ao notar quem era o autor observou: "Vá, é outro livro daquele ingrato que se comportou de maneira tão vergonhosa contigo!" Para sua grande surpresa, descobriu que Lang não recordava sequer o incidente. Não guardava memória alguma dos ataques insultantes e ácidos do jovem. Perdoar, observou Bridges, é característico de qualquer grande homem, mas esquecer totalmente é sublime. Somente o espírito purificador de Cristo pode limpar de nossas memórias toda a amargura e o ressentimento que devemos esquecer.

  1. Em terceiro lugar, devemos amar. Já vimos que o amor cristão, o ágape, é essa indescritível benevolência, essa invencível boa vontade, que nunca procura senão o maior bem para o próximo, sem ter em conta o que este nos tenha feito ou pense de nós. Esse amor somente é nosso quando Cristo, que é esse amor, deve habitar em nossos corações e não

pode vir a menos que nós o convidemos. Para ser perdoados devemos perdoar, e esta é uma condição do perdão que somente Cristo pode nos ajudar a cumprir.

A PROVA DE FOGO DA TENTAÇÃO

Mt 6:13

Antes de começar o estudo detalhado desta petição devemos

examinar dois problemas com relação ao significado das palavras:

  1. Para os ouvidos modernos a palavra tentação soa muito mal. Sempre significa "tentar seduzir ao mal". E isto não poderia interpretar-

se senão de maneira negativa. Mas nos tempos bíblicos a idéia era antes pôr à prova que tentar. No Novo Testamento, tentar significa antes pôr à prova para demonstrar a medida de fortaleza espiritual que alguém possui, que seduzir ou induzir ao pecado.

No Antigo Testamento encontramos a história de como Deus pôs à prova a lealdade do Abraão, pedindo que sacrificasse a seu próprio filho, Isaque. A história começa dizendo: "Depois dessas coisas, pôs Deus

Abraão à prova..." (Gn 22:1). É evidente que neste caso a palavra "provar" não significa tentar, no sentido de induzir ao mal, porque isto é algo que Deus nunca faria. Significa, antes, submeter à prova a lealdade

e a obediência de Abraão.

A história das tentações de Jesus começa dizendo: "Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mateus

Mt 4:1). Se aí interpretarmos a palavra tentar como um intento de sedução, o Espírito Santo seria cúmplice do demônio no intento de induzir Jesus a pecar. Em todas as ocasiões em que aparece na Bíblia a palavra tentar ou

provar, a idéia é a de submeter à prova, embora às vezes também envolve, em segundo lugar, o perigo de fazer cair no pecado.

Aqui achamos, pois, uma verdade grande e preciosa com respeito à tentação. A tentação não tem como objeto nos fazer cair no pecado, mas

sim nos fortalecer para que possamos ser melhores homens e mulheres.

A tentação não tem como objetivo transformar-nos em pecadores. Possivelmente sucumbamos à prova, mas isso não era o que se buscava. Buscava-se que saíssemos dela garbosamente, mais fortes e melhores. Neste sentido a prova, ou tentação, não é um castigo de nossa condição humana, mas a glória de ser humano. Se um projeto de engenharia de alto nível requer o uso de um determinado metal, este será provado, quanto à sua capacidade de resistência às tensões e o desgaste, aumentando, inclusive, o rigor das condições sob as quais deverá trabalhar. Do mesmo modo, o homem deve ser posto à prova antes de Deus poder usá-lo em seu maravilhoso serviço.

  1. Tudo isto é verdade; mas também é certo que na Bíblia nunca se duvida de que neste mundo opera um poder do mal. A Bíblia não é um

livro especulativo, e não se ocupa de desentranhar a origem desse poder do mal. Mas sabe que existe, e que age. É evidente que esta petição não

deveria traduzir-se: "Livra-nos do mal", mas sim como na versão Hispano-americana, "Livra-nos do Maligno". A Bíblia não concebe o mal como um princípio abstrato, como uma força imaterial, mas sim

como um poder ativo e pessoal, que se opõe a Deus.

É muito interessante repassar o desenvolvimento da idéia de Satanás na Bíblia. Em hebreu a palavra Satanás significa simplesmente

adversário. Pode ser aplicada aos seres humanos. O adversário de alguém é seu satanás. Os filisteus, por exemplo, têm medo de que Davi se converta em seu satanás (1Sm 29:41Sm 29:4). Salomão declara que Deus lhe deu tanta prosperidade e paz que não resta satanás algum (I Reis

Mt 5:4). Davi considera que os filhos de Zeruia são seus "satanases" (2Sm 19:222Sm 19:22). Em todos estes casos nossas Bíblias traduzem Satanás por adversário ou inimigo. Posteriormente, a palavra "Satanás" passou a

significar "aquele que acusa a alguém ante os tribunais". Só então a palavra, por dizê-lo de uma maneira gráfica, levanta vôo, e passa ao céu. Os judeus acreditavam que no céu havia um anjo cuja tarefa era acusar

aos homens ante Deus, agindo como promotor do tribunal eterno; e esse anjo era Satanás, porque cumpria a função de um "satanás" (acusador).

Aqui Satanás não é ainda um poder maléfico, mas sim parte da organização jurídica do céu

Em 1:6 Satanás é um dos filhos de Deus: "Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também

Satanás entre eles". Nesta etapa Satanás é o promotor celestial, que se ocupa em acusar ao homem.

Mas não há uma distância muito grande entre apresentar uma acusação contra o homem e fabricá-la. E este é o próximo passo. O outro

nome de Satanás é Diabo; e a palavra Diabo provém do grego diábolos, termo que designa caluniador. Satanás, transforma-se então no Diabo, o caluniador por excelência, o adversário principal do homem, aquele que

se propôs a frustrar os propósitos divinos e arruinar a humanidade. Satanás significará, a partir deste momento, tudo o que é anti-humano e anti-divino.

Jesus nos ensina que peçamos a Deus ser sacados deste poder destruidor. Não se discute qual seria a origem deste poder. Na Bíblia não há especulação. Tal como alguém disse: "Se uma pessoa acordada à

meia-noite e sua casa está incendiando, não se senta em uma cadeira a escrever ou ler um livro sobre a origem dos incêndios em casas particulares, mas faz todo o possível para apagar o incêndio e salvar sua

casa."

A Bíblia não perde tempo em especulações sobre a origem do mal, antes equipa o homem para poder combatê-lo, visto que, indubitavelmente, o mal existe.

O ATAQUE DA TENTAÇÃO

Mt 6:13 (continuação)

A vida sempre está sob o ataque da tentação. Mas nenhum inimigo pode lançar uma invasão até encontrar uma brecha em nossas defesas. Onde a tentação encontrará essa brecha? De onde vêm nossas tentações?

Estar prevenido é possuir antecipadamente as armas que nos ajudarão a

resistir o ataque, e se soubermos por onde virá o ataque, nossa probabilidade de vencer será maior.

  1. Às vezes o ataque da tentação vem de fora de nós. Há pessoas cuja influência sobre nós é má. Por outro lado, há outras pessoas junto às

quais seria improvável que ninguém sequer sugerisse uma ação desonrosa. Ainda outros convidam a tais sugestões e é muito fácil, com eles, fazer o mal.

Quando Robert Burns era jovem, foi a Irvine para aprender a

elaborar o linho. Ali teve a má sorte de encontrar-se com um tal Robert Brown, homem que tinha viajado muito e deslocado mundo, e cuja personalidade era fascinante e dominadora. Burns nos conta como o admirava e procurava imitá-lo. E segue dizendo: "Era o único homem que conheci mais parvo que eu quando se tratava de mulheres... Falava das relações promíscuas com uma leviandade que eu, desde então, considerei com horror... Nisto sua amizade resultou em meu prejuízo."

Há amizades e relações que podem nos ser prejudiciais. Em um mundo tentador, o indivíduo deveria ser muito cuidadoso na escolha de

seus amigos e dos círculos sociais onde tem que mover-se. Deve-se dar a menor ajuda possível às tentações que nos vêm de fora.

  1. Um dos fatos trágicos da vida é que as tentações podem provir

das pessoas que nos amam; de todas as classes de tentações, estas são as mais difíceis de combater. Provêm de pessoas que nos amam e que não têm intenção de nos fazer dano. Ocorrerá, por exemplo, o seguinte. Alguém sabe que deve adotar um determinado curso de ação. Pode ser que se sinta chamado por Deus para dedicar-se a certa carreira. Mas seguir o curso que lhe determina seu impulso possivelmente signifique para ele impopularidade e risco. Aceitar essa vocação pode significar rechaçar tudo o que o mundo chama "uma boa carreira". É muito possível que em tais circunstâncias as pessoas que mais o amam procurem dissuadi-lo de seguir o curso de seu chamado, e o farão precisamente porque o amam. Eles o aconselharão a ser precavido, tomar cuidado, ser prudente, usar a sabedoria do mundo: querem que aquele a

quem eles amam se muna de uma posição sólida e respeitável na sociedade. Não querem que desperdice suas oportunidades e dons. E por tudo isto, procuram que aquele a quem eles amam não faça o que ele sabe que deve fazer.

No Gareth and Linette, um poema do Tennyson, nos conta a história do Gareth, o filho menor de Lot e Bellicent. Gareth deseja unir— se a seus irmãos no serviço do Rei Arturo. Bellicent, sua mãe, não quer que vá. Por acaso, você não tem piedade de minha solidão?", pergunta— lhe. Seu pai, Lot, é muito ancião, e está atirado em um rincão, como "um lenho fumegante, virtualmente apagado". Seus dois irmãos estão na corte do Rei Arturo. Deve partir também ele? Se seu filho ficar em casa, a mãe lhe encontrará uma princesa para casar-se, o rodeará de um séquito que o acompanhe em suas excursões de caça, e será feliz. Bellicent queria que seu filho ficasse com ela, porque o amava. O tentador usava, para seu encantamento, a mesma voz do amor. Mas Gareth responde:

Oh mãe,

Como pode guardar-me para si? – envergonhe-se.

Sou um homem crescido, e devo agir como um homem. Correr após os cervos? Ou seguir a Cristo, o Rei?

Viver na pureza, dizer a verdade, corrigir os males,

seguir ao Rei

De outro modo, para que teria nascido?

O moço seguiu seu destino, mas a voz do amor o tentava para que ficasse em casa.

Isto mesmo foi o que ocorreu com Jesus. "Os inimigos do homem"

  1. disse – "serão os da própria casa" (Mt 10:36). Seus parentes tinham saído, buscando-o para levá-lo porque se dizia dele que estava

louco (Mc 3:21). Segundo o ponto de vista deles, Jesus estava desperdiçando sua vida e arruinando suas possibilidades de "fazer carreira". Segundo eles, estava convertendo-se no bobo de todos. E

procuraram detê-lo. Às vezes a mais dura de todas as tentações é a que provém da voz daqueles que nos amam.

  1. Há uma forma muito curiosa de tentação, que ataca principalmente os mais jovens. Há em nós uma nervura muito estranha, que em certas companhias nos leva a aparentar ser piores do que somos. Não queremos que os outros pensem de nós que somos "mansos" ou "piedosos", "beatos" ou "santos". Preferimos mil vezes que se opine o pior do que somos, terríveis aventureiros, homens do mundo, um pouco pervertidos; nunca, jamais, inocentes.

Agostinho tem uma passagem, em suas Confissões, que é muito famosa.

"Entre meus iguais, envergonhava-me de ser menos descarado que outros, quando os ouvia exaltarem-se das maldades que eles tinham cometido. E me agradava não somente na ação, mas também nos louvores que as ações mereciam ... Fazia que minha imagem aparecesse muito pior do que era em realidade, para que fossem maiores os louvores. E quando em algo não havia pecado na mesma medida que os mais libertinos, dizia que o tinha feito, embora não fosse certo, para não aparecer ante eles como um ser desprezível."

Há muitos homens e mulheres que se iniciaram em algum pecado,

ou se introduziram em algum hábito prejudicial somente por não parecer menos experimentados, com menos "mundo" que seus amigos ou

companheiros. Uma das grandes defesas contra a tentação é a simples coragem de estar dispostos a ser bons.

O ATAQUE DA TENTAÇÃO

Mt 6:13 (continuação)

  1. Mas a tentação não somente provém de fora, mas também de dentro. Se não houvesse nada em nós em que a tentação pudesse apoiar— se, não poderia nos afetar nem nos vencer. Em todos nós há algum ponto

fraco. E é nesse ponto fraco que a tentação lança seu ataque. Em cada um de nós o vulnerável pode ser algo distinto. O que para um pode ser uma violenta tentação, para outro o deixa imutável. O que não comove a um pode ser absolutamente irresistível para outro.

Sir James Barrie tem uma peça teatral chamada O Testamento. O Dr. Devizes, um advogado, nota que um empregado dele, que esteve em sua casa durante muitos anos, parece muito doente. Pergunta-lhe o que passa com ele e o ancião lhe diz que um médico diagnosticou nele um mal fatal e incurável.

Dr. Devizes (incômodo) – Estou seguro que não é o que você teme. Qualquer especialista o diria.

Surtees (sem olhá-lo) – Senhor, ontem estive com um especialista. Dr. Devizes – E então?

Surtees – É... precisamente essa, senhor. Dr. Devizes – Não pode estar tão seguro. Surtees – Estava, sim senhor.

Dr. Devizes – Mas... uma operação.

Surtees – Muito tarde para operar – disse. Se me tivessem operado faz tempo, poderia ter uma oportunidade de me salvar.

Dr. Devizes – Mas você não o tinha faz tempo.

Surtees – Não senhor, eu sabia; mas diz que já estava em mim, faz muito, uma mancha negra, possivelmente não tão grande como a cabeça de um alfinete, mas à espera para estender-se e me destruir, no seu devido tempo.

Dr. Devizes (desolado) – É infelizmente injusto.

Surtees (humildemente) – Não sei, senhor. Ele diz que quase todos nós temos essa mesma mancha, e que se não nos cuidarmos, cedo ou tarde termina conosco.

Dr. Devizes – Não. Não. Não.

Surtees – Chamou-a de maldita mancha. Acredito que seu propósito era me advertir que deveríamos sabê-lo, e estar alerta.

Em todo ser humano há um ponto fraco. Se não o vigia pode terminar condenando-o. Em algum lugar, em todo ser humano, há um defeito, alguma falha do temperamento, que pode arruinar sua vida, algum instinto ou paixão tão forte que no momento menos pensado pode dar um puxão e romper as rédeas, alguma peculiaridade de nossa constituição que converte o que para outros possivelmente seja um

prazer legitimo em uma verdadeira ameaça. Deveríamos nos dar conta deste fator, e estar em guarda todo o tempo.

  1. Mas, mesmo que possa parecer muito estranho, a tentação nem sempre provém de nossa maior fraqueza, mas sim de nossa fortaleza. Se

houver algo que todos temos o costume de dizer é: "Isso eu jamais o faria. Não creio que poderia rebaixar-me a uma tal ação." E é precisamente ali onde devemos manter a vigilância mais estrita. A história está cheia de episódios em que verdadeiras fortalezas foram

tomadas por aqueles lugares onde seus defensores pensavam que estavam tão bem protegidos que não era necessário manter guarda alguma. A melhor oportunidade da tentação é o excesso de confiança em

si mesmo. Devemos vigiar nossos pontos fracos e nossos pontos fortes.

A DEFESA CONTRA A TENTAÇÃO

Mt 6:13 (continuação)

Pensamos no ataque da tentação: reunamos agora as armas de que dispomos para nos defender contra a tentação.

  1. Temos a simples defesa do respeito por nós mesmos. Quando a vida de Neemias corria perigo, alguém lhe sugeriu que se encerrasse no templo e ficasse ali até haver passado o perigo. Sua resposta foi: "Porém

eu disse: homem como eu fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo para que viva? De maneira nenhuma entrarei" (Ne 6:11). Pode-se escapar de muitas coisas, mas não se pode escapar de si mesmo.

Todos devemos viver com nossas lembranças, e se tivermos perdido o respeito por nós mesmos; a vida pode chegar a tornar-se intolerável.

Em certa oportunidade se insistiu com o presidente Garfield, dos

Estados Unidos a adotar uma resolução proveitosa mas desonrosa. "Ninguém saberá", disseram-lhe. Sua resposta foi: "O Presidente Garfield saberá – e tenho que dormir com ele todas as noites." Quando somos tentados uma das defesas que temos é nos perguntar: "Alguém como eu faria tal coisa?"

  1. Temos a defesa da tradição. Ninguém pode trair com leviandade as tradições e heranças nas quais foi educado, e que vieram sendo construídas durante gerações.

Quando Péricles, o maior de todos os estadistas atenienses, estava a ponto de dirigir a palavra à Assembléia de seus concidadãos, sempre se

dizia em seu interior: "Péricles, lembra que és ateniense, e que vais falar com atenienses."

Uma das façanhas da Segunda Guerra Mundial foi a defesa do

Tobruk. Os Coldstream Guards conseguiram romper o cerco e evitar a seus atacantes, mas somente uns poucos sobreviveram, e eram apenas sombras do que tinham sido. Duzentos sobreviventes, parte de um grupo de dois batalhões, estavam debaixo do cuidado das Reais Forças Aéreas (R.A.F.). Um dos oficiais da aviação estava conversando com um dos oficiais dos Guards, e lhe disse: "Depois de tudo, como tropas de infantaria, não tiveram mais remédio que tentar o que fizeram."

E outro oficial de aviação, que ouviu estas palavras, aproximou-se e disse: "Deve ser muito difícil estar na infantaria, porque a tradição obriga

o soldado a seguir lutando, sem ter em conta as circunstâncias."

O poder da tradição é um dos mais potentes na vida. Pertencemos a uma nação, a uma Igreja, a uma família, somos ex-alunos de uma escola.

O que fazemos afeta a honra do grupo ao qual pertencemos. Não podemos trair com leviandade as tradições em que fomos educados.

  1. Temos, além disso, a defesa daqueles que amamos e nos amam. Mais de uma pessoa pecaria se o único castigo que deveria suportar fosse

o que ele mesmo espera receber. Mas se salva do pecado porque não poderia suportar o olhar de sofrimento que veria nos olhos de quem o ama se arruinasse sua vida.

Laura Richards escreveu uma parábola que copiamos a seguir:

“Um homem estava sentado à porta de sua casa fumando seu cachimbo, e seu vizinho, sentado a seu lado, tentou-o. ‘Você é pobre’, disse— lhe, ‘você não tem trabalho, e há um modo de melhorar sua situação. Será fácil e você conseguirá bastante dinheiro. Além disso, não é menos desonesto do que você vê fazerem todos os dias as pessoas respeitáveis.

Você seria um tolo se desperdiçasse uma oportunidade como esta. Venha comigo, e despacharemos o assunto em um instante.’ Nesse mesmo momento apareceu na porta do barracão sua jovem esposa com seu filho nos braços. ‘Por favor, segure ao menino um momento. Ele tem medo, e tenho que ir pendurar a roupa.’

O homem tomou ao menino e o pôs sobre seus joelhos. E enquanto o sustentava deste modo os olhos do menino se encontraram com os seus, e o olhar lhe falou: ‘Sou carne de sua carne’, disseram os olhinhos do menino, ‘alma de sua alma. Aonde você me guie, ali o seguirei. Conduza-me pela mão, pai. Meus pés irão atrás dos seus.’ Então, voltando-se para seu vizinho, o homem lhe disse: ‘Vá, e não volte nunca mais a minha casa’.”

Poderíamos estar perfeitamente dispostos a pagar o preço do pecado, se este afetasse apenas a nós. Mas se lembrarmos que nosso pecado fará em pedaços o coração de outros, que nos amam, nossa defesa contra a tentação será mais poderosa.

  1. E temos a defesa da presença de Jesus Cristo. Jesus não é uma bela imagem que aparece nos livros. É uma presença viva. Às vezes perguntamos: "O que você faria se de repente Jesus estivesse de pé ao seu lado?" ou "Como você viveria se Cristo se hospedasse em sua casa?" Mas o que a fé cristã afirma é, precisamente, que Jesus Cristo está junto a nós, que é hóspede de cada lar cristão. Ele é a presença iniludível e portanto toda nossa vida a vivemos diante dEle e devemos buscar que seja uma vida que Ele possa ver. Uma poderosa defesa contra a tentação, que está a nosso alcance, é a lembrança da presença constante de Jesus

Cristo em nossa vida.

A MANEIRA INCORRETA DE JEJUAR

Mateus 6:16-18

Até nossos tempos o jejum é uma parte essencial da vida religiosa no Oriente. Os muçulmanos observam de maneira estrita o jejum do Ramadam, o nono mês do calendário islâmico, durante o qual se

comemora a primeira das revelações que Maomé recebeu. O jejum dura do nascer do sol – do momento em que se podem distinguir um fio branco de um negro – até seu ocaso. Está proibido, além da comida, tomar banho, beber, fumar, cheirar perfumes e qualquer outra forma de alegria carnal desnecessária, com exceção das enfermeiras e as mulheres grávidas. Os soldados e os que estão viajando podem não observá-lo, mas devem compensar sua isenção jejuando uma quantidade equivalente de dias em outro momento do ano. Se alguém deve quebrantar o jejum por razões de saúde, é obrigado a compensar sua falta oferecendo esmolas aos pobres.

Os costumes dos judeus no que concerne ao jejum eram exatamente iguais. Deve notar-se que, tal como se disse, o jejum durava da alvorada

até o pôr-do-sol; fora deste período diário, podia comer-se normalmente. Para os judeus nos tempos de Jesus havia somente um jejum obrigatório,

o do Dia da Expiação. Nesse dia, da alvorada até o pôr-do-sol, todos os homens estavam obrigados a "afligir suas almas" (Lv 16:31). A lei talmúdica dos judeus estabelece que, "No Dia da Expiação está proibido

comer, beber, banhar-se, ungir-se, levar sandálias, ou praticar relações conjugais." Até os meninos deviam ser educados em alguma forma de sacrifício durante esse dia, de modo que quando fossem mais velhos

estivessem preparados para aceitar o jejum nacional.

Mas, mesmo que somente um dia por ano era obrigatório jejuar, os judeus faziam uso do jejum particular como uma forma muito generalizada de piedade. Havia um jejum relacionado com a morte de

algum ser querido. Entre a morte e o enterro dessa pessoa, os parentes estavam obrigados a abster-se de carne e vinho. Havia um jejum expiatório. Dizia-se, por exemplo, que Rubén tinha jejuado durante sete

anos para expiar seu pecado pela parte que lhe coube desempenhar na venda do José: "Não bebeu vinho nem outro licor algum nem passou carne por seus lábios, nem comeu nada apetecível" (Testamento do

Rubén Mt 1:10). "Pela mesma razão, Simeão afligiu sua alma jejuando durante dois anos, por ter odiado a José" (O Testamento do Simeão, Mt 3:4).

Judá, por ter pecado com Tamar, "absteve-se de comer carne, beber vinho e participar de qualquer outra forma de prazer carnal, até o dia de sua morte" (O Testamento do Judá, Mt 15:4). Os judeus, é obvio, não acreditavam que o jejum em si tivesse valor algum, independentemente do arrependimento. Jejuar era somente uma forma de dar expressão exterior à tristeza interior pelo pecado cometido. O autor do Eclesiástico (34:
31) diz: "Se alguém jejua por seus pecados, e logo volta a cometê— los, quem ouvirá sua oração e o que proveito terá o ter jejuado?"

Em muitos casos o jejum era um ato de penitência nacional. Assim, por exemplo, todo o povo judeu jejuou depois do desastre da guerra civil contra Benjamim (Jz 20:26). Samuel fez o povo jejuar por ter-se afastado de Deus seguindo a Baal (1Sm 7:61Sm 7:6). Neemias fez com que o povo jejuasse e confessasse seus pecados (Ne 9:1). Uma e outra vez a nação judia inteira jejuou como manifestação de seu arrependimento perante Deus.

Às vezes o jejum era uma preparação para o encontro com Deus. Moisés, no Monte Sinai, jejuou durante quarenta dias e quarenta noites

(Ex 24:18). Daniel jejuou enquanto esperava receber palavra de Deus (Dn 9:3). Jesus mesmo jejuou enquanto esperava a prova da tentação (Mt 4:2). Esta era uma medida muito sábia, porque quando o corpo

está submetido à dura disciplina do jejum, o espírito se mantém mais acordado e alerta.

Às vezes o jejum era um chamado dirigido a Deus. Se, por exemplo, havia seca e a colheita corria perigo, convocava-se um jejum

nacional para pedir a Deus que enviasse as chuvas.

No jejum dos judeus havia, em realidade, três idéias principais.

  1. O jejum era um intento deliberado de chamar a atenção de Deus

para a pessoa que jejuava. Esta é uma idéia muito primitiva. Esperava-se atrair a atenção de Deus e obrigá-lo a ter em conta a pessoa que dessa maneira se afligia.

  1. O jejum era uma forma deliberada de demonstrar a sinceridade do arrependimento. Era uma garantia, por assim dizer, da sinceridade

das palavras e as orações do crente; uma prova da verdade do arrependimento. Evidentemente, aqui há um perigo latente que devemos ter em conta, porque é muito fácil que uma ação, concebida como prova da sinceridade do penitente, convertesse-se em substituto da penitência.

  1. Em grande parte o jejum era vicário. Não estava destinado a salvar o indivíduo no julgamento, mas motivar a Deus para que liberasse a nação de suas desgraças. Era como se as pessoas particularmente piedosas dissessem: "A pessoa comum não pode fazer isto. Estão muito comprometidas em seu trabalho e nos assuntos do mundo. Nós faremos algo mais do que somos obrigados a fazer, para equilibrar a inevitável deficiência da piedade de outros."

Tal era a teoria dos judeus em relação à prática do jejum.

A MANEIRA INCORRETA DE JEJUAR

Mateus 6:16-18 (continuação)

Por mais elevado que fosse o ideal do jejum, sua prática, inevitavelmente, envolvia alguns perigos inevitáveis. O grande perigo

era que se jejuasse como sinal de uma piedade superior, em uma ação que não ia dirigida a Deus, mas aos homens. Ante tal manifestação de piedade, ninguém poderia deixar de pensar quão disciplinada e piedosa

era a pessoa que jejuava. Os dias de jejum, para o judeu, eram na segunda-feira e na quinta-feira. Estes também eram os dias de mercado, e em todos os povos e vilarejos, e principalmente na cidade de

Jerusalém, congregavam-se enormes multidões de pessoas que vinham do campo; os que jejuavam durante esses dias, fazendo-o de maneira ostentosa, contavam com mais testemunhas que de costume.

Ali se juntavam muitos para ver e admirar sua piedade. Alguns se encarregavam deliberadamente de que outros não deixassem de dar-se conta de que estavam jejuando. Caminhavam pelas ruas com o cabelo deliberadamente despenteado e desordenado, com a roupa suja e rasgada.

Até chegavam ao extremo de pôr pó branco na cara, para acentuar sua

palidez. Este não era um ato de humildade: era um ato de orgulho e ostentação espiritual.

Os rabinos mais sábios condenavam esta atitude com a mesma energia que Jesus. Tinham bem claro que o jejuar por jejuar carecia

totalmente de valor espiritual. Diziam que um voto de abstinência era como um colar de aço dos que tinham que levar os detentos. Quem se comprometia a tal voto podia comparar-se, então, ao homem que encontrava um desses colares atirado pela rua, e sem dar-se conta metia

nele a cabeça, aceitando voluntariamente uma escravidão inútil. Um dos ditos mais bonitos que jamais se pronunciou é a declaração rabínica: "No dia do julgamento deverá prestar conta de todas as coisas boas que se

puderam desfrutar mas se desprezaram."

O doutor Boreham conta uma história que serve para exemplificar esta idéia equivocada com respeito ao jejum. Nas Montanhas Rochosas,

dos Estados Unidos, um viajante se encontrou com um ancião sacerdote católico romano. Surpreendeu-se ao ver um homem de idade tão avançada escalando as costas, cruzando os abismos e atravessando os

atalhos das montanhas. "O que você está fazendo neste lugar?", perguntou-lhe o viajante. E o sacerdote lhe respondeu: "Estou procurando a beleza do mundo." "Mas" voltou a perguntar o viajante,

"lançou-se a essa busca numa idade avançada." E então o sacerdote lhe contou sua história. Quase toda sua vida ele a passou encerrado em um mosteiro, nunca tinha saído do claustro. Então se sentiu muito doente, e em sua enfermidade teve uma visão. Viu um anjo de pé junto à sua

cama. "Para que vieste?", perguntou ao anjo. "Para te levar ao teu lar", respondeu-lhe o anjo. "E o mundo ao qual me levas, é verdadeiramente bonito?", voltou a lhe perguntar o sacerdote. "É belo o mundo que deixa

atrás", disse-lhe o anjo. E então o ancião lembrou que nunca tinha visto muito deste mundo, fora dos jardins do monastério e alguns dos campos que o rodeavam. E então lhe disse ao anjo: "Mas não pude ver muita

beleza no mundo que estou deixando." "Nesse caso", replicou o anjo, "temo que tampouco verás muita beleza no mundo aonde vais." Isso

preocupou muito o velho sacerdote, e pediu ao anjo que lhe permitisse viver mais dois anos. "Concedeu-me o pedido, e aqui estou, gastando o pouco dinheiro que tenho e o tempo que me resta de vida em explorar as maravilhas deste mundo, e te digo que certamente o encontro belo de modo supremo."

O dever de todo ser humano é aceitar e desfrutar da beleza do mundo, e nunca rechaçá-la e apartá-la de si. Não tem valor algum jejuarmos como uma ostentosa demonstração de piedade superior, para

acrescentar nossa fama de ascetas.

O VERDADEIRO JEJUM

Mateus 6:16-18 (continuação)

Embora Jesus condene a forma equivocada de jejuar, suas palavras implicam que há uma forma correta de fazê-lo, e que Ele espera de seus

seguidores que pratiquem o jejum dessa maneira. Isto é algo em que muito poucos de nós jamais pensamos. Há muito poucas pessoas comuns em cujas vidas o jejum joga algum papel. E, entretanto, há muitas razões

que fazem com que o jejum, interpretado de maneira correta, seja uma prática recomendável.

  1. Jejuar é bom para a saúde. Muitos de nós vivemos existências

que abrandam nossos corpos e nos engordam. É possível, inclusive, viver para comer e não comer para viver. Seria um excelente remédio para muitos dos males que nos afligem o praticar periodicamente alguma forma de jejum.

  1. O jejum é bom para a disciplina de nós mesmos. É muito fácil satisfazer espontaneamente todos os nossos impulsos. É muito fácil

chegar ao ponto de não nos negar nada que possamos possuir ou comprar. Para muitos seria excelente deixar de fazer tudo o mais querem, pelo menos uma vez por semana, e dominar seus desejos, exercendo deste modo uma auto-disciplina rigorosa e "anti-séptica".

  1. O jejum nos liberta de nos transformar em escravos do hábito. Há muito poucos entre nós que não sejam escravos de algum hábito, devido a que acham impossível superá-lo. Os hábitos se convertem em uma parte tão fundamental de nossa vida que não podemos rompê-los. Desenvolvemos uma ansiedade tal por certas coisas, que aquilo que deveria ser um prazer se transforma em uma necessidade, e o separar-nos daquilo que chegamos a ansiar assim, parece ser um verdadeiro purgatório.

Se praticássemos com sabedoria alguma forma de jejum, nenhum dos prazeres se converteria em uma cadeia e nenhum hábito seria nosso amo. Seríamos nós os amos de nossos prazeres e não nossos prazeres os que dominam sobre nossa vontade.

  1. O jejum preserva a capacidade de prescindir das coisas. Uma das principais provas da vida são as coisas que com o correr do tempo a

pessoa chegou a considerar, como essenciais. Evidentemente, quanto menos sejam estas, maior será nossa independência. Quando toda classe de coisas se convertem em uma parte fundamental de nossa vida,

estamos à mercê dos luxos que podemos custear. Não é mau, de vez em quando, caminhar por uma rua comercial e olhar as vitrines, pensando em todas as coisas de que alguém é capaz de prescindir. Alguma forma

de jejum, pode nos ajudar a prescindir daquelas coisas que jamais deveriam ser essenciais em nossa vida.

  1. O jejum nos ajuda a apreciar mais o que temos. Talvez tenha havido algum momento em nossa vida em que os prazeres mais

elementares tenham sido tão escassos que quando tínhamos oportunidade de vivê-los realmente usufruíamos e desfrutávamos. Talvez agora o apetite se apagou, nosso paladar esteja estragado, tenhamos perdido o fio

cortante de nossa capacidade de desfrutar os dons de Deus. O que em uma época foi um prazer intenso se transformou simplesmente em uma droga da que não podemos prescindir. O jejum faz com que os prazeres

sigam sendo prazeres, ao experimentá-los sempre como uma forma renovada de autêntica alegria humana.

Em nossos dias o jejum não forma parte da vida normal do homem comum. Jesus condenou a maneira equivocada de jejuar, mas não quis dizer que deva eliminar-se essa prática tão proveitosa. Faríamos muito bem em escolher a forma de jejum que mais nos convenha e praticá-la na medida de nossa necessidade. E a razão que deve nos mover a fazê-lo é,

"Que o deleite seja nosso guia, e não nossa cadeia..."

O VERDADEIRO TESOURO

Mateus 6:19-21

No ordenamento quotidiano de nossas vidas, a verdadeira sabedoria consiste em buscar obter somente aquelas coisas que duram. Quer

compremos um traje ou um vestido ou um automóvel ou um tapete ou um jogo de móveis, o sentido comum nos recomenda evitar a aquisição de produtos mal feitos e perecíveis a curto prazo, e comprar aquelas

coisas que possuem solidez e permanência e estão bem feitas. Isto é, exatamente, o que Jesus nos está dizendo nesta passagem: que devemos nos concentrar nas coisas que duram.

Jesus recorre a três imagens, que correspondem às três grandes fontes de riqueza na Palestina.

  1. Diz-nos que evitemos tudo o que a traça pode destruir.

No Oriente, parte da riqueza de qualquer homem consistia em roupas custosas e luxuosas. Quando Geazi, o servo de Eliseu, quis obter

clandestinamente algum proveito da cura que seu amo tinha efetuado na pessoa de Naamã, pediu-lhe um talento de prata e duas mudas de roupa

(2Rs 5:222Rs 5:22). Uma das coisas que tentou Acã a pecar foi um manto babilônico de boa qualidade (Js 7:21). Mas, segundo Jesus, era insensato pôr o coração em tais coisas, pois quando estavam guardadas,

as traças as atacavam, destruindo toda sua beleza e valor. As posses deste tipo careciam de permanência.

  1. Também aconselha que se evitem aquelas coisas que a ferrugem corrompe. A palavra traduzida por "ferrugem" ou "mofo" (H. A.) significa literalmente "o que come". Em nenhum outro lugar se encontra essa palavra, brosis, com o significado de "ferrugem" (óxido de ferro). É muito mais provável que a idéia fosse a seguinte: No Oriente a riqueza de muitos homens enriquecidos consistia no grão de uma colheita abundante, e que acumulavam em enormes celeiros. Mas nesses grãos armazenados podiam entrar carunchos ou roedores, e deste modo se perdia o tesouro. É muito provável que Jesus esteja fazendo referência à facilidade com que os ratões, os ratos, e distintos tipos de insetos podem acabar com uma colheita armazenada durante muito tempo. Posses deste tipo careciam de permanência.
    1. Em terceiro lugar, Jesus diz que não se deve acumular tesouros que os ladrões possam furtar mediante uma escavação. Na Palestina a

maioria das casas era feita de barro ou tijolo cru, e os ladrões podiam entrar fazendo um buraco na parede. Esta referência, evoca a imagem do homem que guardou em sua casa um pequeno tesouro e um dia, ao

ingressar nela, descobre que os ladrões furaram o parede e, entrando, levaram o ele que tinha. Não é permanente o tesouro que está à mercê de qualquer ladrão engenhoso.

De modo que Jesus alerta aos homens contra três classes de prazeres e posses:

  1. Sua advertência se dirige contra os prazeres que podem esfumar-se como um vestido velho. A roupa mais bonita do mundo, com

traças ou sem traças, termina por desintegrar-se. Todos os prazeres puramente físicos, cada um a sua maneira, terminam perdendo o encanto que nos incitou a buscá-los.

Cada vez que desfrutamos de alguma coisa, a excitação é menor. Necessita-se maior quantidade para que o efeito siga sendo o mesmo. É como uma droga, que perde seu poder quando consumida normalmente,

e se impõe aumentar gradualmente a dose se tiver que ser efetiva do mesmo modo que no princípio. Somos insensatos se fizermos com que

nosso prazer consista naquelas coisas que nos oferecerão cada vez menor compensa.

  1. Também nos adverte contra os prazeres que podem ser corroídos. O silo cheio de cereais é inevitavelmente o objeto do

interesse

de roedores que nunca faltam. Há certos prazeres que inevitavelmente perdem atração para o homem à medida que envelhece. Possivelmente já não esteja em condições físicas de desfrutá-los; ou pode ser que, ao maturar sua personalidade, já não encontre neles a

alegria que lhe produziam quando era mais jovem. Na vida ninguém deveria pôr seu coração naqueles prazeres que podem desaparecer com a idade. Deveríamos ser capazes de encontrar nosso deleite naquelas

coisas diante das quais o tempo, e sua capacidade de erosão, é totalmente impotente.

  1. Também somos advertidos contra os prazeres que nos podem

ser roubados. Todas as coisas materiais pertencem a esta categoria; não há nada material que possamos possuir de maneira totalmente segura. Se construirmos nossa felicidade sobre o fato de sua posse, estamos edificando sobre alicerces muito frágeis. Suponhamos que alguém organize sua vida de tal maneira que sua felicidade consiste no dinheiro que tem; no dia menos imaginado se produz uma crise financeira e nosso amigo fica completamente arruinado. Junto com sua riqueza, também se esfumou sua alegria. O homem verdadeiramente sábio é o que constrói sua felicidade sobre aquelas coisas que nada nem ninguém lhe pode tirar, cuja posse é independente dos azares e mudanças da vida.

Tudo o que faz com que seu prazer dependa de coisas falazes, está condenado à frustração. Todo homem cujo tesouro está nas coisas, mais cedo ou mais tarde o perderá, porque as coisas não estão dotadas de permanência, e não há nada que dure para sempre.

TESOUROS NO CÉU

Mateus 6:19-21 (continuação)

Os judeus conheciam muito bem a frase tesouros no céu. Identificavam esses tesouros principalmente com duas coisas.

  1. Diziam que as ações bondosas que alguém fazia no mundo, transformavam-se em seu tesouro no céu.

Contavam uma famosa lenda sobre um tal rei Monobaz, de

Adiabene, que se converteu ao judaísmo.

“Um ano de fome Monobaz distribuiu seu tesouro entre os pobres. Suas irmãs enviaram mensageiros para lhe dizer: ‘Seus pais reuniram tesouros, e os acrescentaram aos de seus pais, mas você dissipou os seus e os deles.’ Monobaz respondeu: ‘Meus pais reuniram tesouros para esta vida, eu estou acumulando tesouros para a vida eterna; eles armazenaram sua riqueza em lugares onde a vontade humana pode governar, mas eu os tenho, agora, em um lugar onde ninguém pode já dispor deles. Meus pais acumularam tesouros que não dão interesse, os meus sim dão. Meus pais acumularam tesouros de dinheiro, eu acumulei tesouros de almas. Meus pais acumularam tesouros para outros, eu os acumulei para mim. Meus pais acumularam tesouros neste mundo, eu os tenho guardados no mundo vindouro’.”

Tanto Jesus como os rabinos judeus sabiam que tudo o que se acumula egoisticamente mais cedo ou mais tarde se perde. Mas o que se oferece a outros com generosidade acumula tesouros no céu.

Esse mesmo princípio seria o que teria que seguir a igreja cristã, depois de seu Mestre. A Igreja Primitiva sempre cuidou carinhosamente

dos pobres, dos doentes, dos desgraçados e de todos aqueles de quem ninguém se ocupava. Nos dias da terrível perseguição de Décio, em Roma, as autoridades arrasaram uma igreja cristã. Sua intenção era

apoderar-se dos tesouros que imaginavam estariam armazenados nesse lugar. O prefeito romano ordenou a Laurêncio, o diácono: "Mostre-me imediatamente o lugar onde vocês guardam seu tesouro." Laurêncio assinalou as viúvas e os órfãos que estavam comendo, os doentes que

estavam sendo curados, os pobres, cujas necessidades estavam sendo satisfeitas, e disse: "Estes são os tesouros da Igreja." A Igreja sempre acreditou que "perdemos o que guardamos, e ganhamos o que gastamos".

  1. Os judeus sempre relacionaram a expressão tesouros no céu com o caráter.

Quando foi perguntado ao rabino Yose Ben Kisma se aceitaria viver em uma cidade pagã em troca de um salário muito elevado por seus serviços, respondeu que nunca viveria em lugar algum que não fosse

morada da Lei, "porque no dia em que deva ir deste mundo", disse, "nem o ouro nem a prata nem as pedras preciosas irão comigo, mas apenas o conhecimento que tenha da Lei, e minhas boas obras."

Como afirma o bom provérbio espanhol, "as mortalhas não têm bolsos". A única coisa que podemos levar deste mundo é nosso caráter, o que somos; quanto melhor seja a personalidade, o caráter que levemos,

maior será nosso tesouro no céu.

  1. Jesus conclui esta passagem dizendo que onde estiver nosso tesouro ali estará nosso coração. Se tudo o que valorizamos está na

Terra, se nosso coração também está preso à Terra, não teremos interesse em nenhum outro mundo a não ser este. Se durante toda nossa vida o nosso olhar está nas coisas eternas, as coisas deste mundo serão de pouco

valor para nós. Se tudo o que verdadeiramente valer para nós está nesta Terra, no momento de abandoná-la nos sentiremos defraudados e nos desesperaremos. Se durante a vida pensamos nas coisas celestiais e as desejamos, abandonaremos este mundo com alegria, porque finalmente

podemos ir para Deus.

Em certa oportunidade o Dr. Johnson estava passeando por um maravilhoso castelo e os parques que o rodeavam. Quando acabou de ver

tudo, voltou-se para seus acompanhantes e lhes disse: "Estas são as coisas que nos fazem tão difícil morrer."

Jesus nunca afirmou que este mundo carecesse de importância: mas

disse e repetiu, uma e outra vez, que a importância deste mundo não está nele mesmo, mas sim naquilo para o qual nos conduz. Este mundo não é

o fim de nossas vidas, é somente uma estação no caminho. Portanto ninguém deve entregar o seu coração a este mundo e a às coisas que a ele pertencem, pois seus olhos devem estar fixos permanentemente na meta que nos espera mais além.

A VISÃO DISTORCIDA

Mateus 6:22-23

A idéia que está por trás desta passagem é de uma simplicidade infantil. O olho é considerado como a janela por onde entra a luz que ilumina a totalidade do corpo. A cor e o estado da janela são os que

decidem quanta luz receberá uma habitação. Se a janela estiver limpa, é de cor clara e o vidro não distorce as imagens, a habitação será inundada por uma luz pura e abundante, que iluminará todos os cantos. Se o vidro da janela está sujo, ou é de cor escura, ou está chamuscado, ou coberto

pela geada, a luz encontrará obstáculos, entrará distorcida, suja, e a habitação ficará escura.

A qualidade da luz que entra em uma habitação depende do estado

da janela que deva atravessar para fazê-lo. É assim, diz Jesus, como a luz que penetra no coração e a alma de cada homem depende do estado espiritual dos olhos que deva atravessar, porque os olhos são a janela do corpo. O conceito que fazemos das pessoas depende dos olhos com que as olhemos. Há certos fatores muito evidentes que nos podem cegar e distorcer a nossa visão.

  1. O preconceito pode alterar nossa visão. Não há nada que seja tão capaz de destruir nossa capacidade de julgamento como os preconceitos que tenhamos. Nos impedem de formar as opiniões claras, razoáveis e lógicas, que são nosso dever. Cega-nos por igual ante os fatos e o significado destes. Quase todos os novos descobrimentos tiveram que abrir caminho, lutando contra irracionais preconceitos estabelecidos.

Quando James Simpson descobriu as virtudes do clorofórmio teve que lutar contra os preconceitos religiosos e médicos de sua época. Um de seus biógrafos escreve: "O preconceito, a paralisante determinação de percorrer somente os caminhos conhecidos, levantou-se contra ele e fez todo o possível para neutralizar os efeitos dessa nova bênção." "Muitos clérigos sustentaram que o intento de liberar a mulher de sua maldição primitiva era lutar contra a lei divina."

Uma das coisas mais necessárias na vida é o exame ousado que seja capaz de nos demonstrar quando atuamos a partir de princípios válidos e

quando somos vítimas de nossos preconceitos irracionais. Qualquer homem que seja miserável por seus preconceitos tem olhos que

obscurecem e distorcem sua visão da realidade.

  1. O ciúme pode alterar nossa visão. Shakespeare nos deu uma expressão clássica desta paixão na tragédia de Otelo. Otelo, um mouro,

que se tornou famoso por seus atos de valentia, casa-se com Desdémona. Esta o ama com total dedicação e completa fidelidade. Como general do exército de Veneza, Otelo promove a Cássio em lugar de promover a

Lago. Este é consumido pelo ciúme, e mediante uma meticulosa tramóia, e distorcendo os fatos para seu próprio benefício, semeia na mente de Otelo suspeita com respeito à fidelidade de Desdémona. Inventando

evidências para demonstrar suas afirmações, acende em Otelo uma paixão de ciúme tão desmedida que este termina assassinando a Desdémona, afogando-a com um travesseiro.

A. C. Bradley escreve: "Ciúme como o de Otelo transformam a

natureza humana em um caos, e liberam a besta que todo homem encerra." Muitos casamentos, muitas amizades, foram destroçados pelo ciúme, que é capaz de fazer aparecer circunstâncias perfeitamente inocentes como ações culpadas, e que nos cegam à verdade e à realidade.

  1. O orgulho pode alterar nossa visão. Em sua biografia de Mark Rutherford, Catherine Macdonald MacLean inclui uma observação

particularmente cáustica com respeito ao John Chapman, o editor e livreiro de quem em uma época Rutherford fora empregado: "Belo como

um Lorde Byron, de maneiras amáveis, era extremamente atrativo para as mulheres, e ele se acreditava ainda mais atrativo do que em realidade era."

O orgulho afeta de duas maneiras a visão de qualquer homem, porque nos torna incapazes de ver a nós mesmos tal como somos em

realidade e de ver a outros como em realidade são. Se estamos convencidos de nossa extraordinária sabedoria, nunca seremos capazes de perceber nossas tolices; e se formos cegos para tudo o que não sejam

nossas virtudes, nunca perceberemos nossos defeitos. Sempre que nos comparemos com outros, suporemos uma vantagem em nós. Jamais estaremos em condições de nos criticar a nós mesmos, e portanto jamais

seremos capazes de melhorar. A luz em que deveríamos ver a nós mesmos e a outros será total escuridão.

A NECESSIDADE DE OLHOS GENEROSOS

Mateus 6:22-23 (continuação)

Mas aqui Jesus fala de uma virtude em particular que enche de luz

os olhos, e de um defeito que os obscurece. Em nossas versões se qualifica o olho como bom, são ou simples e mau. E este é o significado literal do grego, mas as palavras bom e mau são aqui empregadas, em um sentido muito comum no grego do Novo Testamento, como generoso e generosidade. Tiago diz, com respeito a Deus, que ele dá a todos abundantemente (Jc 1:5), e o advérbio que usa, em grego, é o mesmo que aparece em nosso texto como adjetivo. Paulo exorta a seus amigos a ofertar liberalmente. Temos aqui, outra vez, o mesmo vocábulo (Rm 12:8). Paulo, também, lembra aos cristãos de Corinto da liberalidade ou generosidade das Iglesias da Macedônia, e fala de sua própria generosa beneficência com todos os necessitados (2Co 9:31). Para obter um texto mais fiel ao original devemos traduzir aqui generoso em lugar de bom ou simples. Jesus elogia o olho generoso.

Por oposição, prestemos atenção ao nome do defeito que Jesus condena. Nossas versões dizem mau ou maligno. E este é, certamente, o significado mais comum da palavra grega que aparece neste lugar no texto original. Contudo, tanto no Novo Testamento como na Septuaginta, este vocábulo também significa normalmente miserável ou avaro ou mesquinho. Deuteronômio nos fala do dever de emprestar ao irmão que necessita. Mas esta disposição se complica com a lei de que cada sete anos deviam considerar-se todas as dívidas perdoadas. Era muito provável que se estivesse perto o "sétimo ano", o avaro se negasse a emprestar, por temor a que seu devedor se acolhesse ao cancelamento de dívidas com que podia beneficiar-se ao chegar o momento, e deste modo jamais lhe devolvesse o que tinha recebido. Por isso a lei estabelece: "Guarda-te não haja pensamento vil no teu coração, nem digas: Está próximo o sétimo ano, o ano da remissão, de sorte que os teus olhos sejam malignos para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada, e ele clame contra ti ao SENHOR, e haja em ti pecado" (Dt 15:9).

As palavras sublinhadas são exatamente as mesmas que aparecem no ensino de Jesus. É evidente que aqui olhos maus significa com

mesquinhez, de modo avaro, com má vontade. Voltamos a encontrar a expressão em Pv 23:6, onde a V.M. diz literalmente: "Não coma

o pão daquele que tem olho mau." Quer dizer "Não seja hóspede daquele que grunhe por cada bocado que você come."

Assim também em Pv 28:22, onde lemos: "O homem que se apressa em busca da riqueza tem olho maligno" (V.M.), e significa:

"O avaro, que sempre desconfia de outros, busca apropriar-se de tudo o que pode." Para chegar ao significado exato das palavras de Jesus em vez de "olho mau" deveríamos traduzir olho avarento.

De modo que Jesus afirma: "Não há nada como a generosidade para nos permitir ver a vida e as pessoas de maneira correta: e não há nada como a avareza para fazer com que nossa visão das coisas e das pessoas

seja incorreta."

  1. Devemos ser generosos em nossos julgamentos com respeito a outros. Uma das características da natureza humana é pensar sempre o pior, e encontrar um prazer maligno em repetir o pior. Todos os dias vemos assassinar a boa reputação de pessoas perfeitamente inocentes na fofoca de pessoas cujos juízos estão impregnados de veneno. O mundo se veria livre de muito sofrimento se buscássemos pensar o melhor e não o pior com respeito a nosso próximo, e se nossa interpretação de suas ações fosse sempre "generosa".
  2. Devemos ser generosos em nossas ações. Em sua biografia de Mark Rutherford, Catherine Macdonald MacLean nos conta a respeito dos dias em que Rutherford foi trabalhar em Londres: "Desde essa época pode perceber-se nele o começo de sua carinhosa piedade pelas almas dos homens que haveria de converter-se em um de seus hábitos... A pergunta que o queimava, preocupado como estava pelo destino de muitos de seus vizinhos no subúrbio onde iria trabalhar, era, ‘O que eu posso fazer? Como posso ajudá-los?’ Parecia-lhe, naquele tempo, como sempre, que até a ação mais simples possuía maior valor que a mais veemente indignação que só se expressa em palavras.”

Quando Mark Rutherford trabalhava com Chapman, ele editor, vivia e trabalhava no mesmo lugar que George Eliot – ou Maria Evans,

que tal era seu verdadeiro nome. Uma coisa lhe impressionou de maneira particular com respeito a esta mulher: "Era pobre. Possuía uma pequena renda, e mesmo que esperava poder ganhar a vida como escritora, seu futuro era incerto. Mas era fantasticamente generosa. Sempre estava

ajudando aos cães coxos a subir as soleiras, e a pobreza de outros a fazia sofrer mais que a sua própria. Chorava com mais amargura por não poder ajudar a alguma irmã necessitada, que por qualquer de suas

próprias privações."

Quando começamos a nos sentir assim, é quando podemos ver a outros, e às coisas, em uma perspectiva correta. É então quando nossos

olhos se enchem de luz.

Há três grandes males do espírito pouco generoso, do "olho maligno".

  1. Faz com que nos seja impossível viver conosco mesmos. Quem inveja permanentemente o êxito de outros, diminuindo o seu, apesar de

que um pouco de generosidade poderia repartir felicidade a outros, fechando seu coração frente às necessidades imperiosas de outros, transforma-se em uma das mais tristes criaturas da Terra – o homem avarento. Em seu interior crescem uma amargura e um ressentimento que

lhe priva de toda felicidade, que roubam sua paz e destroem sua alegria.

  1. Faz com que nos seja impossível viver com os demais. O avaro é aborrecido por todos: não há indivíduo mais desprezado que o de

coração miserável. A caridade cobre multidão de pecados, mas o espírito ambicioso, por outro lado, torna inúteis uma multidão de virtudes. Por mais mau que seja o homem generoso, sempre haverá quem o ame; por

melhor que seja o avaro, todos o detestarão.

  1. Faz com que nos seja impossível viver com Deus. Não há ninguém tão generoso como Deus; em última análise, não pode haver

comunhão entre dois seres que fundam sua existência em princípios diametralmente opostos. Não pode haver comunhão entre o Deus que vive inflamado por um profundo amor, e o avaro, cujo coração está

congelado pela mesquinharia.

O olho avarento distorce nossa visão; o olho generoso é o único capaz de ver com clareza, porque é o único que vê como Deus vê.

SERVIÇO EXCLUSIVO

Mt 6:24

Para alguém criado no mundo antigo esta afirmação possuía muito mais força e clareza que para nós. Nossas versões dizem: "Ninguém pode servir a dois senhores." O original grego é muito mais contundente. A palavra que se utiliza para "servir" é o verbo duláin, que significa "ser

escravo". Trata-se portanto de ser escravo de dois amos. Além disso, a

palavra traduzida "senhor" é kurios e, em grego, kurios era o amo absoluto, o senhor de vida e morte. Possivelmente seria mais exato traduzir "Ninguém pode ser escravo de dois amos".

Para compreender tudo o que isto significa e implica, devemos lembrar duas coisas com respeito à instituição da escravidão no mundo

antigo. Em primeiro lugar, aos olhos da lei o escravo não era uma pessoa, era uma coisa. Carecia absolutamente de direitos que fossem próprios; seu amo podia fazer dele absolutamente o que bem quisesse.

Para a lei, o escravo era uma ferramenta viva. Seu amo podia vendê-lo, castigá-lo, descartá-lo e até matá-lo. Era sua posse de maneira tão completa como o eram seus bens materiais. Em segundo lugar, o

escravo, na antiguidade, carecia completamente de tempo próprio. Todos os momentos de sua vida pertenciam a seu amo.

Sob as condições de trabalho que regem na atualidade a pessoa

trabalha certo número de horas e fora desse tempo, sua vida lhe pertence e pode fazer o que quiser. De fato, com freqüência é possível que muitos encontrem e desenvolvam seu verdadeiro interesse vital fora das horas de trabalho. Alguém pode estar empregado em um escritório, durante o dia, e ser o primeiro violino em uma orquestra, durante a noite. Pode trabalhar em uma fábrica, ou em uma oficina siderúrgica durante o dia, e dirigir um clube de jovens durante a noite, ou nos fins de semana. E é possível que na Música, ou na liderança do grupo juvenil, estes indivíduos encontrem o verdadeiro deleite e realização de suas vidas. Era muito diferente com os escravos, na antiguidade. O escravo não possuía, literalmente, tempo algum que pudesse considerar dele. Todos os seus momentos pertenciam a seu amo e estava sempre ao seu dispor.

Eis aqui, pois, nossa relação com Deus. Com respeito a Deus não temos direito algum. Deus deve ser o amo indisputado de nossas vidas.

Nunca podemos nos perguntar: "O que eu quero fazer?" Sempre, nossa pergunta deve ser: "O que Deus quer que eu faça?" Não nos pertence

momento algum. Não podemos dizer, às vezes: "Agora farei o que Deus quer que eu faça", e às vezes: "Agora farei o que eu quero fazer." O

cristão não deixa jamais de ser cristão, ele não tem "férias" ou "licença" de cristão. Em nenhum momento pode pôr entre parêntese a exigência de Deus sobre sua vida, como se não estivesse "de serviço". Não basta com uma obediência parcial ou de vez em quando. Ser cristão é um trabalho de tempo integral. Em nenhum outro lugar da Bíblia se expressa de maneira tão clara que Deus exige de nós um serviço exclusivo.

Jesus segue dizendo: "Não podeis servir a Deus e às riquezas." Para os rabinos judeus as riquezas não eram, pelo menos em princípio, uma

coisa moralmente imperdoável. Tinham um dito, por exemplo, que declarava: "Que a riqueza de seu vizinho te seja tão cara a ti como o é para ele." Quer dizer, que a pessoa deve considerar as posses materiais

do próximo tão sacrossantas como as próprias. Mas com o correr do tempo, a palavra que significava "riquezas", em hebreu mamom, foi modificando sutilmente seu significado. Mamom provém de uma raiz

que significa confiar, e a princípio queria dizer aquele dinheiro que confiamos a alguém para tê-lo seguro. Era a riqueza que se confiava aos cuidados de alguém. Mas com o passar do tempo chegou a significar não

aquilo em que se confia, mas aquilo em que alguém põe sua confiança. Finalmente s escreveu com M maiúscula e chegou a ser considerado uma espécie de divindade: Mamom.

A história desta palavra mostra de maneira vívida como as posses materiais podem usurpar um lugar na vida que nunca lhes pertenceu. Originalmente as riquezas eram algo que se confiava a outros para que as cuidassem; no final chegaram a considerar-se como aquilo no qual o homem põe sua confiança. Por certo que não há descrição mais adequada do deus a quem servimos que dizer que é aquilo em que pomos nossa confiança. Quando pomos nossa confiança no poder das coisas materiais, estas deixaram que transformar-se em nosso sustento para passar a ser o nosso deus.

O LUGAR DAS POSSES MATERIAIS

Mt 6:24 (continuação)

Este dito de Jesus nos obriga a refletir sobre o lugar que as posses materiais devem ocupar na vida do homem. Na base do ensino de Jesus

sobre as posses materiais, há três princípios fundamentais:

  1. Em última análise todas as coisas pertencem a Deus. A Escritura o coloca de modo claro. "Do Senhor é a terra e sua plenitude, o

mundo e os que nele habitam" (Sl 24:1). "Pois são meus todos os animais do bosque e as alimárias aos milhares sobre as montanhas.... Se eu tivesse fome, não to diria, pois o mundo é meu e quanto nele se

contém" (Sl 50:10,Sl 50:12). Nos ensinos de Jesus, é o Senhor quem dá aos servos seus talentos (Mt 25:15), e o dono é quem arrenda a vinha aos lavradores (Mt 21:33). Este princípio tem conseqüências de longo alcance. O homem pode vender e comprar as coisas, pode, em

certa medida, modificá-las e reordená-las; mas não pode criar nada. A propriedade última de tudo o que existe é divina. Não há nada neste mundo em que o homem possa dizer de modo absoluto: "Isto é meu."

Com respeito a todas as coisas só pode dizer: "Isto pertence a Deus, e Deus me confiou isso para que eu usar."

Portanto, surge um princípio fundamental da vida. Não há nada

neste mundo que seja minha de maneira absoluta, e portanto com respeito a nada posso dizer: "Isto é meu, e portanto posso fazer com isso o que eu quiser." Com respeito a todas as coisas estão obrigados a dizer: "Isto é de Deus, e portanto devo usá-lo tal como seu proprietário quisesse que fosse usado."

Há a história de um menino criado na cidade que pela primeira vez em sua vida foi levado ao campo e viu um prado coberto de flores

silvestres. Voltando-se para sua professora, disse-lhe: "Você acha que Deus Se importaria se corto algumas de suas flores?" Esta é a atitude correta frente à vida e às coisas neste mundo.

  1. O segundo princípio básico é que as pessoas sempre são mais importantes que as coisas. Se para adquirir posses, para amassar fortunas, para acumular dinheiro, é preciso tratar as pessoas como coisas, toda a riqueza que consigamos adquirir é essencialmente má. Em qualquer lugar e quando for preciso esquecer este princípio ou passar por cima dele, as conseqüências depois serão desastrosas. Na Grã-Bretanha ainda se sofrem as conseqüências de ter-se tratado as pessoas como se fossem coisas nos primeiros dias da era industrial, faz duzentos ou trezentos anos.

Sir Arthur Bryant, em seu livro A Saga Inglesa, conta algumas das coisas que ocorriam naqueles tempos. Meninos de sete e oito anos de

idade (e há até o caso de um que tinha apenas três) eram empregados como operários nas minas de carvão. Alguns tinham que arrastar as bacias carregadas de mineral caminhando sobre as mãos e os joelhos por

galerias intermináveis no túnel subterrâneo; alguns tinham que bombear a água para dragar as minas alagadas, durante doze horas diárias, estando eles mesmos na água até os joelhos; alguns tinham que abrir e fechar as

aberturas de ventilação dos poços, para o qual ficavam encerrados em pequenas câmaras de ventilação até dezesseis horas diárias.

Em 1815 os meninos que trabalhavam nas tecelagens cumpriam um

horário que ia das 5 da manhã às 8 da noite, de segunda-feira à sábado, e com meia hora para o café da manhã e meia hora para o almoço como únicos recreios. Em 1833 havia 84.000 meninos menores de quatorze anos empregados na indústria. Até se registra um caso em que, não necessitando-se mais o trabalho de certo grupo de meninos, os levaram ao campo e os abandonaram à sua própria sorte. Os donos da fábrica disseram que em realidade não os haviam "abandonado", mas os tinham deixado em liberdade. Reconheceram, sim, que provavelmente tivessem que mendigar ou roubar para continuar vivendo.

Em 1842 os operários têxteis de Burnley ganhavam 7½ peniques diários, e os mineiros do Staffordshire 2 xelins 6 peniques. Havia quem

compreendia a loucura criminal do sistema. Carlyle declarou, cheio de

ira: "Se a indústria têxtil está cimentada nos corpos desnutridos dos meninos que exploram como mão de obra barata, que a indústria têxtil desapareça; se o diabo dirigir nossas tecelagens, fechemos nossas tecelagens." Sustentava-se que para manter baixos os custos era necessário contar com mão de obra barata. Coleridge respondeu: "Tinham que reduzir o preço de venda no mercado em uns poucos centavos mantendo o mais baixo possível a mão de obra; mas isto se faz debilitando a força da nação; desmoralizamos a milhares de nossos concidadãos, e semeamos o descontentamento entre as classes sociais. Os produtos industriais que saem de nossas fábricas depois de tudo são muito caros."

É certo que hoje a situação é muito distinta. Mas existe o que se pode chamar memória racial. Lá no fundo, na memória inconsciente do povo, ficou indelével a lembrança daqueles dias. Quando se trata as pessoas como se fossem coisas, como máquinas, como instrumentos para produzir mercadorias e enriquecer assim a seus empregadores, não se podem esperar senão desastres, com tanta segurança como a noite sucede ao dia. A nação que esquece o princípio da importância única e fundamental da pessoa, acima das coisas, está hipotecando seu futuro.

  1. O terceiro princípio é que a riqueza sempre é um bem subordinado. A Bíblia não diz que o dinheiro seja o princípio de todos os

males, mas sim "o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males" (1Tm 6:101Tm 6:10, BJ). É perfeitamente possível encontrar-se na posse de bens materiais o que alguns chamaram um "substituto da salvação". A

pessoa pode pensar que porque é rico pode comprar tudo, que pode livrar-se de qualquer situação. A riqueza pode transformar-se para ele na medida de todas as coisas, em seu único afã, na única arma para

enfrentar a vida. Se alguém deseja possuir bens materiais para obter uma relativa autonomia, para atender a suas necessidades familiares e para poder ajudar ao próximo, está perfeitamente bem; mas se deseja a

riqueza somente para desfrutar de prazeres e luxos, se a riqueza se transformou no objetivo principal de sua vida, a razão pela qual vive,

pode afirmar-se sem vacilação que os bens materiais deixaram que ser um bem subordinado, para usurpar na vida o lugar que corresponde a Deus.

De tudo isto surge uma verdade – a posse de riquezas, de dinheiro ou de objetos materiais não é pecado, mas é uma grave e séria

responsabilidade. Se alguém possuir abundância de dinheiro ou de bens materiais, não deve felicitar-se a si mesmo, antes ajoelhar-se em oração. para poder usar suas riquezas tal como Deus quer que o faça.

DUAS GRANDES PERGUNTAS SOBRE AS POSSES

Mt 6:24 (continuação)

Há duas grandes perguntas com respeito às posses materiais, e da resposta que dermos depende tudo.

  1. Como a pessoa fez para obter as posses de que desfruta? Tem

ela feito de maneira tal que se Jesus Cristo fosse testemunha de seus "negócios" poderia orgulhar-se, ou o tem feito de maneira que queria ocultar-lhe? É possível acumular riquezas à custa da honestidade e da honra.

George Macdonald conta de um comerciante em um povo que tinha chegado a ser muito rico. Ao medir os tecidos que vendia, calculava para

não dar a medida exata. George Macdonald afirmava, sobre esse homem, que "tirava de sua alma e metia em sua bolsa".

É possível engordar a conta bancária emagrecendo a consciência.

Também se pode acumular riquezas esmagando os competidores mais fracos. Há muitos que baseiam seu êxito no fracasso de outros. Muitos conseguiram progredir tirando outros do caminho. É difícil conceber como o que triunfa desse modo pode dormir tranqüilo de noite. Pode-se acumular riquezas descuidando as obrigações superiores.

Robertson Nicoll, o grande editor, era filho de um pastor do nordeste de Escócia. A grande paixão de seu pai era a leitura, e embora

nunca tinha ganho um salário folgado, chegou a ter a maior biblioteca

particular da Escócia, com 17.000 volumes. Não usava seus livros na preparação de seus sermões. Limitava-se a comprá-los, lê-los, e pô-los nas estantes. Quando cumpriu os quarenta anos se casou com uma jovem de vinte e quatro. Oito anos depois das bodas, aquela pobre mulher morria de tuberculose. Tiveram cinco filhos, mas somente dois chegaram à idade adulta. O indiscriminado aumento dos livros ia enchendo pouco a pouco todas as habitações da casa, e até os passadiços estavam abarrotados deles. Seu proprietário se deleitava com eles, mas tal paixão matou a sua esposa e três de seus filhos.

Há posses que se adquirem a muito custo. Todo homem deve perguntar-se: "Como adquiro o que possuo?"

  1. Como se usam as riquezas que se chegaram a adquirir? Há vários modos em que se podem usar as riquezas.

Pode não se dar a elas uso algum. Muitos se caracterizam pelo

instinto aquisitivo do avaro, que se deleita simplesmente na posse. Suas posses podem ser completamente inúteis – e a inutilidade sempre é desastrosa.

Pode dar-se a elas um uso totalmente egoísta. É possível desejar um salário maior simplesmente porque se quer comprar um automóvel maior, ou um novo televisor, ou umas férias mais caras. Pode-se pensar

nas posses somente em termos do que estas podem fazer a favor de si mesmos.

Pode dar-se a elas um uso maligno. Pode-se usar a riqueza para persuadir a alguém de que faça algo que não deve, ou vender coisa que

não se tem direito a vender. Muitos jovens foram subornados ou induzidos ao pecado pelo dinheiro de alguém. A riqueza dá poder, e o homem corrompido pode usar seu dinheiro para corromper a outros. E

isto, aos olhos de Deus, é um terrível pecado.

Mas também se pode usar a riqueza para obter uma medida de independência pessoal e para a felicidade de outros. Não se necessita muito dinheiro para assumir esta atitude, porque uma ação generosa não se mede pelo montante da dádiva. É impossível ser pervertido pelas

riquezas se o seu possuidor as utiliza para fazer outros felizes. Paulo lembra um dito de Jesus que todos os outros apóstolos tinham esquecido: "Mais bem-aventurado é dar que receber" (At 20:35). Uma das características de Deus é sua generosidade, e se dar é para nós mais importante que receber, usaremos de maneira correta o que possuímos, seja muito ou pouco.

A PREOCUPAÇÃO PROIBIDA

Mateus 6:25-34

Devemos começar nosso estudo desta passagem nos assegurando de

que entendemos o que é o que Jesus proíbe e o que autoriza. O que Jesus proíbe não é a prudência que prevê o futuro a fim de tomar medidas necessárias para responder, oportunamente, a suas demandas. Proíbe o afã, o angustiar-se pelo manhã antes de saber o que nos trará o manhã. Jesus não recomenda uma atitude displicente, que não faz provisão para o futuro nem reflete sobre o que o futuro pode significar concretamente em termos de exigências e possibilidades. Proíbe, sim, o temor ansioso, doentio, que é capaz de eliminar toda possibilidade de alegria da vida.

No

original

grego

se

usa

o

termo

merimnan,

que

significa preocupar-se ansiosamente. Em uma carta que se encontrou escrita em

um papiro, a esposa diz a seu marido, que está viajando: "Não posso dormir nem de noite nem de dia, ansiosa (merimnan) como estou por seu bem-estar". Em outra carta, a mãe, ao inteirar-se da boa saúde e

prosperidade de seu filho, responde-lhe: "Tal é minha oração e

ansiedade (merimnan) todo o tempo."

Anacréon,

o

poeta,

escreveu:

"Quando

bebo

vinho,

minhas preocupações

dormem."

Em

grego,

a

palavra

merimnan

denota

ansiedade, preocupação, afã.

Os judeus conheciam perfeitamente esta atitude frente à vida. O ensino dos grandes rabinos era que a atitude de todo crente para com a

vida devia estar constituída principalmente por uma combinação de

prudência e serenidade. Insistiam, por exemplo, em que todo homem devia ensinar um ofício a seus filhos homens, porque, conforme afirmavam, não lhes ensinar um ofício significava ensiná-los a roubar. Quer dizer, acreditavam que era necessário dar todos os passos recomendáveis para um desempenho prudente na vida. Mas, ao mesmo tempo, diziam: "Aquele que tem um pão em sua cesta e diz: 'O que comerei amanhã?' é um homem de pouca fé."

A lição de Jesus era bem conhecida por seus concidadãos que se deve combinar a prudência, a antecipação e a serenidade em nossa

atitude diante da vida.

A ANSIEDADE E COMO SE CURA

Mateus 6:25-34 (continuação)

Nestes dez versículos Jesus apresenta sete argumentos contra a

ansiedade.

  1. Começa assinalando (v. Mt 6:25) que Deus nos deu a vida, e que se tal foi a magnitude de seu dom, bem podemos confiar nEle com respeito

às coisas menores. Se Deus nos deu a vida, certamente também nos dará o alimento que necessitamos para seu sustento. Se nos deu corpos, certamente podemos confiar que terá que nos dar também roupa para que

os cubramos e abriguemos. Se alguém nos der um dom que não tem preço, podemos confiar que sua generosidade será sempre magnânima, que não será mesquinho nem surdo ante nossa necessidade. Portanto, o

primeiro argumento é que se Deus nos deu a vida, podemos confiar em que nos dará todas as coisas que necessitamos para sustentá-la.

  1. Jesus prossegue falando das aves (v. Mt 6:26). Sua vida está

desprovida de preocupação. Nunca armazenam o que podem chegar a necessitar em um futuro imprevisível; e entretanto seguem vivendo.

Mais de um rabino se sentiu fascinado ante o modo de vida dos animais. O Rabino Simeão disse:

"Jamais em minha vida vi um cervo que tirasse figos, nem um leão que transportasse cargas, nem uma raposa que fosse comerciante, e entretanto todos eles se alimentam, sem afã algum. Se eles, que foram criados para me servir, vivem sem preocupações, quanto mais eu, que fui criado para servir a meu Criador, deveria viver sem trabalhar em excesso por meu alimento; mas eu corrompi minha vida, e desse modo, prejudiquei minha substância."

Jesus não quer dar ênfase ao fato de que as aves não trabalham; tem-se dito que provavelmente o pardal seja um dos seres viventes que

mais trabalha para comer; no que insiste é em que estão desprovidos de afã. Não se poderia encontrar nos animais esse afã do homem por vigiar um futuro que não pode ver; nem tampouco é característico deles

acumular bens a fim de desfrutar de uma certa segurança para o futuro.

  1. No versículo 27 Jesus prossegue demonstrando que, de todos os modos, a preocupação é inútil. Este versículo pode interpretar-se de duas

maneiras distintas. Pode significar que ninguém, por mais que se preocupe, pode aumentar de estatura. Mas a medida que Jesus usa como exemplo equivale a uns quarenta centímetros, e nenhum homem, por

mais baixo que seja, quereria acrescentar quarenta centímetros à sua estatura. Também pode significar, por outro lado, que por mais que nos preocupemos não podemos acrescentar nem um dia à nossa vida, e este

significado é mais provável. De todos os modos, o que Jesus quer dizer é que a preocupação é inútil.

  1. Jesus prossegue referindo-se às flores (vs. Mt 6:28-30). Fala delas do modo como o faria alguém capaz das amar.

Os lírios do campo a que faz referência são provavelmente as papoulas e as anêmonas. Floresciam silvestres, durante um só dia, nas serranias da Palestina. E entretanto, durante tão breve vida estavam

vestidas de uma beleza que ultrapassava a dos mantos reais. Quando morriam, não serviam para outra coisa que para ser queimadas. O forno que se usava nos lares palestinenses era feito de barro. Era uma espécie

de cubo de barro que se colocava sobre o fogo. Quando se desejava elevar a temperatura desses fornos de modo rápido, adicionavam-se ao

fogo molhos de ervas e flores silvestres secas e uma vez acesos eram postos dentro do forno. As flores do campo viviam um só dia, e depois somente serviam para ser queimadas e ajudar à mulher que queria assar algo e tinha pressa. E entretanto, Jesus as vestia de uma beleza que o homem, em seus melhores intentos, nem sequer pode imitar. Se Deus outorgar tanta beleza a uma flor, que somente viverá umas poucas horas, quanto mais fará a favor do homem? Certamente uma generosidade que é tão pródiga com uma flor de um dia, não deve esquecer do homem, que é a coroa de toda a criação.

  1. Jesus segue propondo um argumento fundamental contra a ansiedade. A ansiedade, diz Ele, é característica dos pagãos e não de

quem conhece a Deus tal qual Ele é (v. Mt 6:32). A ansiedade é essencialmente desconfiança com respeito a Deus. Tal desconfiança é compreensível em um pagão, que acredita em deuses egoístas,

caprichosos e imprevisíveis, porém não se pode aceitar nos que aprenderam a chamar a Deus com o nome de Pai. O cristão não pode trabalhar em excesso porque aprendeu a acreditar no amor de Deus.

  1. Jesus prossegue sugerindo dois modos de derrotar a ansiedade. O primeiro é concentrar-se acima de tudo na busca do Reino de Deus. Já vimos que procurar o Reino de Deus e fazer a vontade de Deus são a

mesma coisa (Mt 6:10). A aceitação da vontade divina, e o propósito de pô-la em ação em nossas vidas, é a primeira maneira de derrotar a preocupação. Sabemos muito bem, por nossa própria experiência, como um grande amor pode eliminar de nossa mente qualquer outro interesse e

preocupação. Tal amor pode ser capaz de inspirar o trabalho, intensificar o estudo, purificar a vida, dominar a totalidade do ser. A convicção de Jesus é que quando Deus se torna o poder dominante de nossas vidas

desaparece toda ansiedade.

  1. Por último, Jesus afirma que a preocupação pode ser derrotada, aprendendo a arte de viver um dia de cada vez (V. 34). Os judeus tinham

um dito que afirmava: "Não se preocupe com os males de amanhã, porque você não sabe o que lhe pode trazer no dia de hoje. Amanhã

talvez você não esteja vivo, e então você terá ficado preocupado pelos males de um mundo que não lhe pertencerá."

Se vivermos cada dia tal como se nos apresenta, se cumprirmos cada tarefa quando é o momento de fazê-lo, a soma de nossos dias será

necessariamente boa. A recomendação de Jesus é que deveríamos enfrentar cada dia segundo suas próprias exigências, sem preocupar-se com um futuro que não somos capazes de prever e por coisas que provavelmente nem sequer aconteçam.

A INSENSATEZ DA ANSIEDADE

Mateus 6:25-34 (continuação)

Vejamos, agora, se podemos sistematizar os argumentos de Jesus contra a ansiedade.

  1. A ansiedade é desnecessária, inútil e até nociva. Não pode

afetar o passado, porque ninguém pode modificar o que ficou para trás. Omar Khayám tinha razão quando escreveu:

"O dedo que se move escreve e, tendo escrito, continua escrevendo; nem toda a sua piedade e imaginação seriam incapazes de convencê-lo a apagar sequer uma linha. Nem todas as suas lágrimas serão capazes de apagar sequer uma palavra."

O

passado

passou.

Isto

não

quer

dizer

que

alguém

deva

desentender-se de seu passado, mas sim que deveria usá-lo como incentivo e guia para agir melhor no futuro, e não como objeto de uma ansiedade em que se atrasa até ficar totalmente imóvel e incapaz de agir. Do mesmo modo, é inútil trabalhar em excesso pelo futuro.

Alistair MacLean, em um de seus sermões, conta uma história que tinha lido. O herói era um médico londrino. "Tinha ficado paralítico, e

não podia levantar-se da cama, mas todo o tempo o via alegre, e sua alegria era quase ofensiva. Seu sorriso era tão valente e radiante que todos esqueciam de compadecer-se dele. Seus filhos o adoravam, e quando um deles estava por abandonar o ninho e lançar-se à aventura da

vida, o doutor Greatheart ("coração grande") deu-lhe a seguinte recomendação: "Johnny", disse-lhe, "o que deve fazer é manter-se a si mesmo firme em suas obrigações e objetivos, e fazê-lo como um cavalheiro. E lembre, por favor, que a maioria dos problemas que terá que enfrentar são os que jamais se apresentam."

Trabalhar em excesso pelo futuro é um esforço inútil, e o futuro real nunca é tão desastroso como o futuro de nossos temores.

Mas a ansiedade é pior que inútil; muito freqüentemente é direta e

ativamente daninha. As duas enfermidades típicas da vida moderna são a úlcera no estômago e a trombose coronária, e em muitos casos ambas procedem da excessiva preocupação. É um fato comprovado pela medicina que aqueles que riem mais, vivem mais. A ansiedade, que desgasta a mente, também desgasta o corpo, junto com ela. Afeta a capacidade de julgamento do homem, diminui seu poder de decisão e o torna progressivamente cada dia mais incapaz de enfrentar a vida. Que cada qual enfrente o melhor que possa cada situação – não pode fazer mais que isso – e deixe o resto a Deus.

  1. A ansiedade é cega. Nega-se a aprender a lição que lhe oferece a natureza. Jesus nos pede que olhemos às aves, toda a maravilhosa abundância e riqueza que respalda a natureza, e que confiemos no amor que nos fala através dessa riqueza. A ansiedade se nega a aprender a lição que a História lhe oferece.

Um salmista se alegrava recordando os acontecimentos da história de seu povo. "Deus meu", exclama, “Sinto abatida dentro de mim a

minha alma”, e prossegue dizendo: “Lembro-me, portanto, de ti, nas terras do Jordão, e no monte Hermom, e no outeiro de Mizar.” (Sl 42:5, Sl 42:6, conforme com Dt 3:9). Quando tudo se fazia insuportável

ele recebia conforto com a memória do que Deus tinha feito. O homem que alimenta seu coração com a história do que Deus tem feito no passado, nunca temerá pelo futuro. A ansiedade se nega a aprender a

lição que a vida lhe ensina. Seguimos vivendo, e ainda não temos a soga ao pescoço; e entretanto, se alguém nos dissesse alguma vez que

teríamos que passar os maus momentos que passamos, e superado, nós lhe diríamos que seria impossível. A lição da vida é que, de algum jeito, fomos capacitados para suportar o insuportável, e para ir mais à frente do ponto de fratura, sem nos fraturar. A lição da vida é que a ansiedade é desnecessária.

  1. A ansiedade é uma atitude essencialmente irreligiosa. Não é conseqüência de circunstâncias exteriores. Em uma mesma situação um pode sentir-se totalmente sereno e outro, em troca, morrer de

preocupação. Tanto a preocupação como a paz provêm, não das circunstâncias exteriores, mas sim do coração.

Alistair MacLean cita uma história de Tolero, o místico alemão.

Um dia Tolero se encontrou com um mendigo. "Deus lhe dê um bom dia, amigo", disse-lhe. "Dou graças a Deus porque todos os meus dias foram bons", respondeu-lhe o mendigo; "nunca fui infeliz." Surpreso, Tolero lhe perguntou: "O que você quer dizer?" "Quando faz bom tempo", disse o pobre homem, "dou graças a Deus; quando chove, dou graças a Deus; quando tenho abundância, dou graças a Deus. E dou graças a Deus quando passo fome. E desde que a vontade de Deus é minha vontade, e tudo o que agrada a Deus, agrada a mim também, por que teria que dizer que sou infeliz, quando em realidade não o sou?" Surpreso, Tolero voltou a lhe perguntar: "Quem é você?" E o mendigo lhe respondeu: "Sou um rei." "Onde está seu reino?", perguntou Tolero. E o mendigo lhe respondeu, muito tranqüilo: "Em meu coração."

Isaías já o havia dito, muito tempo antes: "Tu, SENHOR, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele

confia em ti" (Is 26:3). Como sustentava aquela mulher nórdica da história: "Sempre sou feliz, e meu segredo é navegar sempre pelos

mares, mas deixar sempre meu coração no porto."

É possível que haja pecados piores que a ansiedade, mas certamente nenhum é tão prejudicial, nenhum tão paralisante.

"Não pensem no manhã com ansiedade", é o mandamento de Jesus, e este é o caminho que há que nos levar não somente à paz, mas também ao poder.


Notas de Estudos jw.org

Disponível no site oficial das Testemunhas de Jeová
Notas de Estudos jw.org - Comentários de Mateus Capítulo 6 versículo 9
orem: Aqui Jesus se dirigiu a seus ouvintes, explicando como agir de modo diferente dos hipócritas mencionados antes. — Mt 6:5.

do seguinte modo: Ou seja, não do mesmo modo que aqueles que diziam “as mesmas coisas vez após vez”. — Mt 6:7.

Pai nosso: Quando dizemos em oração que Deus é “nosso” Pai, reconhecemos que outras pessoas também o encaram como Pai e fazem parte de sua família de adoradores. — Veja a nota de estudo em Mt 5:16.

santificado: Ou: “tido como sagrado; tratado como santo”. Ao pedir isso, os discípulos de Jesus expressam o desejo de que todas as criaturas inteligentes, tanto no céu como na Terra, tratem o nome de Jeová como santo. Também é um pedido para que Deus limpe seu nome, que está sendo manchado desde que Adão e Eva se rebelaram no jardim do Éden.

nome: Refere-se ao nome de Deus, representado pelas quatro letras hebraicas יהוה (YHWH) e geralmente traduzido em português como “Jeová”. Na Tradução do Novo Mundo, o nome de Deus aparece 6.979 vezes nas Escrituras Hebraicas e 237 vezes nas Escrituras Gregas Cristãs. (Para mais informações sobre o uso do nome de Deus nas Escrituras Gregas Cristãs, veja os Apêndices A5 e C1.) Na Bíblia, a palavra “nome” também pode se referir à própria pessoa, à sua reputação e a tudo o que ela afirma ser. — Compare com Ex 34:5-6; Ap 3:4, nota de rodapé.


Dicionário

Assim

advérbio Deste modo, desta forma: assim caminha a humanidade.
Igual a, semelhante a; do mesmo porte ou tamanho de: não me lembro de nenhum terremoto assim.
Em que há excesso; em grande quantidade: havia gente assim!
Do mesmo tamanho; desta altura: o meu filho já está assim.
conjunção Portanto; em suma, assim sendo: você não estudou, assim não conseguiu passar no vestibular.
Gramática Utilizado para dar continuidade ao discurso ou na mudança de pensamento: vou ao cinema amanhã; assim, se você quiser, podemos ir juntos.
locução adverbial De valor concessivo-adversativo. Assim mesmo, mesmo assim ou ainda assim; apesar disso, todavia, entretanto: advertiram-no várias vezes, mesmo assim reincidiu.
locução interjeição Assim seja. Queira Deus, amém; oxalá.
expressão Assim ou assado. De uma maneira ou de outra.
Assim que. Logo que: assim que ele chegar vamos embora!
Assim como. Bem como; da mesma maneira que: os pais, assim como os filhos, também já foram crianças.
Etimologia (origem da palavra assim). Do latim ad sic.

Nome

substantivo masculino Denominação; palavra ou expressão que designa algo ou alguém.
A designação de uma pessoa; nome de batismo: seu nome é Maria.
Sobrenome; denominação que caracteriza a família: ofereceu seu nome.
Família; denominação do grupo de pessoas que vivem sob o mesmo teto ou possuem relação consanguínea: honrava seu nome.
Fama; em que há renome ou boa reputação: tinha nome na universidade.
Apelido; palavra que caracteriza alguém.
Quem se torna proeminente numa certa área: os nomes do cubismo.
Título; palavra ou expressão que identifica algo: o nome de uma pintura.
Gramática Que designa genericamente os substantivos e adjetivos.
Etimologia (origem da palavra nome). Do latim nomen.inis.

Entre os hebreus dava-se o nome auma criança, umas vezes quando nascia (Gn 35:18), e outras quando se circuncidava (Lc 1:59), fazendo a escolha ou o pai, ou a mãe (Gn 30:24Êx 2:22Lc 1:59-63). Algumas vezes o nome tinha referência a certas circunstâncias relacionadas com o nascimento ou o futuro da criança, como no caso de isaque (Gn 21:3-6), de Moisés (Êx 2:10), de Berias (1 Cr 7.23). isto era especialmente assim com os nomes compostos de frases completas, como em is 8:3. Acontecia, também, que certos nomes de pessoas sugeriam as suas qualidades, como no caso de Jacó (Gn 27:36) e Nabal (1 Sm 25.25). Eram por vezes mudados os nomes, ou aumentados, em obediência a certas particularidades, como no caso de Abrão para Abraão (Gn 17:5), de Gideão para Jerubaal (Jz 6:32), de Daniel para Beltessazar (Dn 1:7), e de Simão, Pedro (Mt 16:18). Alem disso, devemos recordar que, segundo a mentalidade antiga, o nome não somente resumia a vida do homem, mas também representava a sua personalidade, com a qual estava quase identificado. E por isso a frase ‘em Meu nome’ sugere uma real comunhão com o orador Divino. Houve lugares que receberam o seu nome em virtude de acontecimentos com eles relacionados, como Babel (Gn 11:9), o Senhor proverá (Gn 22:14), Mara (Êx 15:23), Perez-Uzá (2 Sm 6.8), Aceldama (At l.19). Para o nome de Deus, *veja Jeová, Senhor.

Nome Palavra que designa uma pessoa ou coisa. Nos tempos bíblicos o nome, às vezes, estava relacionado com algum fato relativo ao nascimento (Gn 35:18
v. BENONI); outras vezes expressava uma esperança ou uma profecia (Os 1:6; Mt 1:21-23). Era costume, no tempo de Jesus, o judeu ter dois nomes, um hebraico e outro romano (At 13:9). Partes dos nomes de Deus entravam, às vezes, na composição dos nomes (v. ELIAS, JEREMIAS, JESUS). Na invocação do nome de Deus chama-se a sua pessoa para estar presente, abençoando (Nu 6:22-27; Mt 28:19; Fp 6:24). Tudo o que é feito “em nome” de Jesus é feito pelo seu poder, que está presente (At 3:6; 4:10-12). Na oração feita “em nome de Jesus” ele intercede por nós junto ao Pai (Jo 15:16; Rm 8:34). Em muitas passagens “nome” indica a própria pessoa (Sl 9:10).

Orar

verbo regência múltipla Rezar; fazer uma oração, uma prece aos Deuses e santos de devoção: orou um cântico à Maria; orou pelos necessitados; precisava orar antes do trabalho.
Suplicar ou implorar; pedir insistentemente; solicitar com humildade: orava aos anjos; orou a caridade dos homens; orava com devoção.
verbo transitivo indireto e intransitivo Discursar; falar publicamente: o presidente orou insistentemente sobre a oposição política.
Etimologia (origem da palavra orar). Do latim orare.

e PRECE
Referencia:


Pai

substantivo masculino Aquele que tem ou teve filho(s); genitor, progenitor.
Indivíduo em relação aos seus filhos.
Responsável pela criação de; criador: Corneille é o pai da tragédia francesa.
Quem funda uma instituição, cidade, templo; fundador.
[Zoologia] Animal macho que teve filhotes.
Figurado Algo ou alguém que dá origem a outra coisa ou pessoa: o desconhecimento é o pai da ignorância.
Indivíduo que pratica o bem, que realiza ou possui boas ações; benfeitor.
Religião Primeira pessoa que, juntamente com o Filho e com o Espírito Santo, compõe a Santíssima Trindade.
Religião Título dado aos membros padres de uma congregação religiosa.
substantivo masculino plural Os progenitores de alguém ou os seus antepassados.
expressão Pai Eterno. Deus.
Pai espiritual. Aquele que dirige a consciência de alguém.
Etimologia (origem da palavra pai). Talvez do latim patre-, padre, pade, pai.

substantivo masculino Aquele que tem ou teve filho(s); genitor, progenitor.
Indivíduo em relação aos seus filhos.
Responsável pela criação de; criador: Corneille é o pai da tragédia francesa.
Quem funda uma instituição, cidade, templo; fundador.
[Zoologia] Animal macho que teve filhotes.
Figurado Algo ou alguém que dá origem a outra coisa ou pessoa: o desconhecimento é o pai da ignorância.
Indivíduo que pratica o bem, que realiza ou possui boas ações; benfeitor.
Religião Primeira pessoa que, juntamente com o Filho e com o Espírito Santo, compõe a Santíssima Trindade.
Religião Título dado aos membros padres de uma congregação religiosa.
substantivo masculino plural Os progenitores de alguém ou os seus antepassados.
expressão Pai Eterno. Deus.
Pai espiritual. Aquele que dirige a consciência de alguém.
Etimologia (origem da palavra pai). Talvez do latim patre-, padre, pade, pai.

substantivo masculino Aquele que tem ou teve filho(s); genitor, progenitor.
Indivíduo em relação aos seus filhos.
Responsável pela criação de; criador: Corneille é o pai da tragédia francesa.
Quem funda uma instituição, cidade, templo; fundador.
[Zoologia] Animal macho que teve filhotes.
Figurado Algo ou alguém que dá origem a outra coisa ou pessoa: o desconhecimento é o pai da ignorância.
Indivíduo que pratica o bem, que realiza ou possui boas ações; benfeitor.
Religião Primeira pessoa que, juntamente com o Filho e com o Espírito Santo, compõe a Santíssima Trindade.
Religião Título dado aos membros padres de uma congregação religiosa.
substantivo masculino plural Os progenitores de alguém ou os seus antepassados.
expressão Pai Eterno. Deus.
Pai espiritual. Aquele que dirige a consciência de alguém.
Etimologia (origem da palavra pai). Talvez do latim patre-, padre, pade, pai.

Esta palavra, além da sua significação geral, toma-se também na Escritura no sentido de avô, bisavô, ou fundador de uma família, embora remota. Por isso os judeus no tempo de Jesus Cristo chamavam pais a Abraão, isaque e Jacó. Jesus Cristo é chamado o Filho de Davi, embora este rei estivesse distante dele muitas gerações. Pela palavra ‘pai’ também se compreende o instituidor, o mestre, o primeiro de uma certa profissão. Jabal ‘foi o pai dos que habitam nas tendas e possuem gado’. E Jubal ‘foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta’ (Gn 4:20-21). Também se emprega o termo no sentido de parentesco espiritual bom ou mau – assim, Deus é o Pai da Humanidade. o diabo é cognominado o pai da mentira (Jo 8:44). Abraão é o pai dos crentes. É igualmente chamado ‘o pai de muitas nações’, porque muitos povos tiveram nele a sua origem. Na idade patriarcal a autoridade do pai na família era absoluta, embora não tivesse o poder de dar a morte a seus filhos (Dt 21:18-21).

Os pais não são os construtores da vida, porém, os médiuns dela, plasmando-a, sob a divina diretriz do Senhor. Tornam-se instrumentos da oportunidade para os que sucumbiram nas lutas ou se perderam nos tentames da evolução, algumas vezes se transformando em veículos para os embaixadores da verdade descerem ao mundo em agonia demorada.
Referencia: FRANCO, Divaldo P• Lampadário espírita• Pelo Espírito Joanna de Ângelis• 7a ed• Rio de Janeiro: FEB, 2005• - cap• 17

Os pais humanos têm de ser os primeiros mentores da criatura. De sua missão amorosa decorre a organização do ambiente justo. Meios corrompidos significam maus pais entre os que, a peso P de longos sacrifícios, conseguem manter, na invigilância coletiva, a segurança possível contra a desordem ameaçadora.
Referencia: XAVIER, Francisco Cândido• Caminho, verdade e vida• Pelo Espírito Emmanuel• 26a ed• Rio de Janeiro: FEB, 2006• - cap• 12

Os pais da Terra não são criadores, são zeladores das almas, que Deus lhes confia, no sagrado instituto da família.
Referencia: XAVIER, Francisco Cândido• Dicionário da alma• Autores Diversos; [organização de] Esmeralda Campos Bittencourt• 5a ed• Rio de Janeiro: FEB, 2004• -

Ser pai é ser colaborador efetivo de Deus, na Criação.
Referencia: XAVIER, Francisco Cândido• Luz no lar: seleta para uso no culto do Evangelho no lar• Por diversos Espíritos• 10a ed• Rio de Janeiro: FEB, 2006• - cap• 46

[...] [Os pais são os] primeiros professores [...].
Referencia: XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo• O Espírito da Verdade: estudos e dissertações em torno de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec• Por diversos Espíritos• 8a ed• Rio de Janeiro: FEB, 1992• - cap• 16


Pai Maneira de falar de Deus e com Deus. No AT Deus tratava o povo de Israel como seu filho (Ex 4:22); (Dt 1:31); 8.5; (Os 11:1). Jesus chamava Deus de “Pai” (Jo 5:17). Ele ensinou que todos aqueles que crêem nele são filhos de Deus (Jo 20:17). Ver também (Mt 6:9) e Rm

Pai Ver Abba, Deus, Família, Jesus, Trindade.

Santificado

adjetivo Que conseguiu se tornar santo; característica ou atributo de quem se tornou santo; diz-se dos santos.
Etimologia (origem da palavra santificado). Do latim sanctificatus.a.um.

santificado adj. 1. Que se tornou santo. 2. Di-Zse dos dias consagrados ao culto.

Seja

seja conj. Usa-se repetidamente, como alternativa, e equivale a ou: Seja um seja outro. Interj. Denota consentimento e significa de acordo!, faça-se!, vá!

Strongs

Este capítulo contém uma lista de palavras em hebraico e grego presentes na Bíblia, acompanhadas de sua tradução baseada nos termos de James Strong. Strong foi um teólogo e lexicógrafo que desenvolveu um sistema de numeração que permite identificar as palavras em hebraico e grego usadas na Bíblia e seus significados originais. A lista apresentada neste capítulo é organizada por ordem alfabética e permite que os leitores possam ter acesso rápido e fácil aos significados das palavras originais do texto bíblico. A tradução baseada nos termos de Strong pode ajudar os leitores a ter uma compreensão mais precisa e profunda da mensagem bíblica, permitindo que ela seja aplicada de maneira mais eficaz em suas vidas. James Strong
οὖν ὑμεῖς προσεύχομαι οὕτω πατήρ ἡμῶν ὁ ἔν οὐρανός ἁγιάζω σοῦ ὄνομα
Mateus 6: 9 - Texto em Grego - (BGB) - Bíblia Grega Bereana

Orai, pois, da seguinte maneira: Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome.
Mateus 6: 9 - (ARAi) Almeida Revista e Atualizada Interlinear

Junho de 28
G1473
egṓ
ἐγώ
exilados, exílio, cativeiro
(captive)
Substantivo
G1722
en
ἐν
ouro
(gold)
Substantivo
G3588
ho
para que
(that)
Conjunção
G3686
ónoma
ὄνομα
uma cidade no extremo sul de Judá e a cerca de 24 km (15 milhas) no sudoeste de
(and Chesil)
Substantivo
G37
hagiázō
ἁγιάζω
entregar ou reconhecer, ou ser repeitado ou santificado
(hallowed be)
Verbo - Aoristo (pretérito não qualificado de um verbo sem referência à duração ou conclusão da ação) Imperative Passive - 3ª pessoa do singular
G3767
oûn
οὖν
portanto / por isso
(therefore)
Conjunção
G3772
ouranós
οὐρανός
cortar, cortar fora, derrubar, cortar uma parte do corpo, arrancar, eliminar, matar, fazer
(be cut off)
Verbo
G3779
hoútō
οὕτω
os habitantes da Caldéia, que viviam junto ao baixo Eufrates e Tigre
(to the Chaldeans)
Substantivo
G3962
patḗr
πατήρ
um lugar no sudeste da Palestina junto ao limite do território dos cananeus, próximo a
(unto Lasha)
Substantivo
G4336
proseúchomai
προσεύχομαι
o amigo fiel de Daniel que Nabucodonosor renomeou de Mesaque; um dos três amigos
(Meshach)
Substantivo
G4771
σύ
de você
(of you)
Pronome pessoal / possessivo - 2ª pessoa genitiva singular


ἐγώ


(G1473)
egṓ (eg-o')

1473 εγω ego

um pronome primário da primeira pessoa “Eu” (apenas expresso quando enfático); TDNT - 2:343,196; pron

  1. Eu, me, minha, meu

ἐν


(G1722)
en (en)

1722 εν en

preposição primária denotando posição (fixa) (de lugar, tempo ou estado), e (por implicação) instrumentalidade (mediana ou construtivamente), i.e. uma relação do descanso (intermédia entre 1519 e 1537); TDNT - 2:537,233; prep

  1. em, por, com etc.


(G3588)
ho (ho)

3588 ο ho

que inclue o feminino η he, e o neutro το to

em todos as suas inflexões, o artigo definido; artigo

  1. este, aquela, estes, etc.

    Exceto “o” ou “a”, apenas casos especiais são levados em consideração.


ὄνομα


(G3686)
ónoma (on'-om-ah)

3686 ονομα onoma

de um suposto derivado da raiz de 1097 (cf 3685); TDNT - 5:242,694; n n

nome: univ. de nomes próprios

o nome é usado para tudo que o nome abrange, todos os pensamentos ou sentimentos do que é despertado na mente pelo mencionar, ouvir, lembrar, o nome, i.e., pela posição, autoridade, interesses, satisfação, comando, excelência, ações, etc., de alguém

pessoas reconhecidas pelo nome

a causa ou razão mencionada: por esta causa, porque sofre como um cristão, por esta razão


ἁγιάζω


(G37)
hagiázō (hag-ee-ad'-zo)

37 αγιαζω hagiazo

de 40; TDNT 1:111,14; v

  1. entregar ou reconhecer, ou ser repeitado ou santificado
  2. separar das coisas profanas e dedicar a Deus
    1. consagrar coisas a Deus
    2. dedicar pessoas a Deus
  3. purificar
    1. limpar externamente
    2. purificar por meio de expiação: livrar da culpa do pecado
    3. purificar internamente pela renovação da alma

οὖν


(G3767)
oûn (oon)

3767 ουν oun

aparentemente, palavra raiz; partícula

  1. então, por esta razão, conseqüentemente, conformemente, sendo assim

οὐρανός


(G3772)
ouranós (oo-ran-os')

3772 ουρανος ouranos

talvez do mesmo que 3735 (da idéia de elevação); céu; TDNT - 5:497,736; n m

  1. espaço arqueado do firmamento com todas as coisas nele visíveis
    1. universo, mundo
    2. atmosfera ou firmamento, região onde estão as nuvens e se formam as tempestades, e onde o trovão e relâmpago são produzidos
    3. os céus siderais ou estrelados

      região acima dos céus siderais, a sede da ordem das coisas eternas e consumadamente perfeitas, onde Deus e outras criaturas celestes habitam


οὕτω


(G3779)
hoútō (hoo'-to)

3779 ουτω houto ou (diante de vogal) ουτως houtos

de 3778; adv

  1. deste modo, assim, desta maneira

πατήρ


(G3962)
patḗr (pat-ayr')

3962 πατηρ pater

aparentemente, palavra raiz; TDNT - 5:945,805; n m

  1. gerador ou antepassado masculino
    1. antepassado mais próximo: pai da natureza corporal, pais naturais, tanto pai quanto mãe
    2. antepassado mais remoto, fundador de uma família ou tribo, progenitor de um povo, patriarca: assim Abraão é chamado, Jacó e Davi
      1. pais, i.e., ancestrais, patriarcas, fundadores de uma nação
    3. alguém avançado em anos, o mais velho
  2. metáf.
    1. o originador e transmissor de algo
      1. os autores de uma família ou sociedade de pessoas animadas pelo mesmo espírito do fundador
      2. alguém que tem infundido seu próprio espírito nos outros, que atua e governa suas mentes
    2. alguém que está numa posição de pai e que cuida do outro de um modo paternal
    3. um título de honra
      1. mestres, como aqueles a quem os alunos seguem o conhecimento e treinamento que eles receberam
      2. membros do Sinédrio, cuja prerrogativa era pela virtude da sabedoria e experiência na qual se sobressaíam; cuidar dos interesses dos outros
  3. Deus é chamado o Pai
    1. das estrelas, luminares celeste, porque ele é seu criador, que as mantém e governa
    2. de todos os seres inteligentes e racionais, sejam anjos ou homens, porque ele é seu criador, guardião e protetor
      1. de seres espirituais de todos os homens
    3. de cristãos, como aqueles que através de Cristo tem sido exaltados a uma relação íntima e especialmente familiar com Deus, e que não mais o temem como a um juiz severo de pecadores, mas o respeitam como seu reconciliado e amado Pai
    4. o Pai de Jesus Cristo, aquele a quem Deus uniu a si mesmo com os laços mais estreitos de amor e intimidade, fez conhecer seus propósitos, designou para explicar e propagar entre os homens o plano da salvação, e com quem também compartilhou sua própria natureza divina
      1. por Jesus Cristo mesmo
      2. pelos apóstolos

προσεύχομαι


(G4336)
proseúchomai (pros-yoo'-khom-ahee)

4336 προσευχομαι proseuchomai

de 4314 e 2172; TDNT - 2:807,279; v

  1. oferecer orações, orar

σύ


(G4771)
(soo)

4771 συ su

pronome pessoal da segunda pessoa do singular; pron

  1. tu